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alimentar e nutricional
da população brasileira
Denise Cavalcante de Barros, Mirian Ribeiro Baião e Denise Oliveira e Silva
Neste curso, você e seu grupo estão sendo convidados a pensar uma ação de
Educação Alimentar e Nutricional e, para isso, uma série de investigações
sobre o seu território foi realizada. Neste momento, em que você está
mapeando o perfil nutricional e alimentar do seu território, entendemos que
é importante que você tenha informações sobre como é o perfil da população
brasileira como um todo, de forma a identificar aquelas características que
são uma realidade no seu território.
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É importante ressaltar que o perfil em arroz e feijão, com alimentos que
nutricional e alimentar de uma têm baixo teor de nutrientes e alto
população envolve a determinação conteúdo calórico, em que o crescente
causal múltipla e heterogênea (fatores consumo de produtos ricos em açúcares
biológicos, históricos, ecológicos, (sucos, refrigerantes e refrescos) e
econômicos, sociais, culturais e políticos). gordura (alimentos industrializados)
As causas não são apenas individuais, alia-se ao baixo consumo de frutas
mas também ambientais e sociais, e hortaliças, muito aquém do
sobre as quais o indivíduo tem pouca ou recomendado pela OMS e pelo Guia
nenhuma capacidade de interferência Alimentar para a População Brasileira
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008). (IBGE, 2006, 2012a, 2012b).
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alimentar que estão relacionadas entre sociedade, setor produtivo privado
com o perfil nutricional e alimentar e setor público é o caminho para a
da população brasileira. A transição construção de modos de vida que tenham
demográfica, epidemiológica e nutricional como objetivo central a promoção da
que vem ocorrendo nas últimas décadas saúde e a prevenção de doenças.
no mundo, e também no Brasil, tem
relação direta com o perfil de consumo O perfil nutricional da
alimentar e de morbimortalidade, população brasileira
marcado por mudanças sem precedentes
O perfil nutricional e alimentar da
no que diz respeito ao sistema alimentar e
população brasileira é considerado
com consequências drásticas nas práticas
bastante complexo e heterogêneo. Para
alimentares (SICHIERI et al., 1997).
realizarmos afirmações sobre prevalência
Nesse sentido, é fundamental que as de problemas nutricionais, insegurança
políticas públicas de SAN efetivamente alimentar e tendências de tais problemas,
vinculem a discussão do acesso aos é necessário analisarmos informações
alimentos com a adequação de toda representativas de toda a população
a cadeia alimentar. Isto é, os modos ou de seus grupos etários (crianças e
de produzir, abastecer, comercializar adultos, por exemplo).
e consumir alimentos precisam estar
Estudos populacionais realizados
pautados na sustentabilidade, do ponto
por meio de censos, ou estudos com
de vista socioeconômico e ambiental;
amostras são as melhores fontes de
no respeito às singularidades de povos
dados e informações do perfil nutricional
e comunidades específicas, como
e de segurança alimentar das populações.
os quilombolas e os indígenas, e à
Tendo como base alguns desses estudos,
diversidade cultural; e na promoção da
gostaríamos de realizar uma breve
saúde, com vistas à garantia do direito
reflexão sobre o perfil nutricional em
humano à alimentação adequada e
dois grupos etários: crianças e adultos.
saudável.
CENSOS
O papel do Estado, no que se refere à são estudos nos quais todos os indivíduos de uma
proteção da saúde da população, deve população são incluídos no universo pesquisado.
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Iniciaremos a conversa destacando os (RCIU) e o Baixo Peso ao Nascer (BPN).
problemas nutricionais que mais afetam As crianças com BPN têm maiores riscos
as crianças menores de 5 anos no Brasil. de sofrer infecções e apresentar déficits
nutricionais na infância, justificando a
abordagem integrada e precoce das ações
Os estudos levados em consideração são: de saúde voltadas à criança e à mulher.
Estudo Nacional de Despesas Familiares
(IBGE, 1992), Pesquisa Nacional sobre Ao compararmos os inquéritos
Saúde e Nutrição (BRASIL, 1990), Pesquisa nutricionais de estudos realizados nos
Nacional sobre Demografia em Saúde últimos trinta anos, podemos concluir
(BRASIL, 2009), Pesquisa de Orçamento que houve uma enorme diminuição da
Familiar (IBGE, 2006, 2010a, 2010b).
prevalência de desnutrição em todos os
indicadores apresentados.
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Hoje, a desnutrição infantil tende praticamente inalterada nas últimas
a se constituir em um problema décadas no Brasil, ficando em torno de
eminentemente rural ou concentrado 9%. Possivelmente, as causas do BPN
em áreas delimitadas, como favelas estão relacionadas com a prematuridade,
urbanas, comunidades tradicionais e a desnutrição intrauterina ou outros
assentamentos rurais. fatores, como tabagismo, gravidez na
adolescência, encurtamento do tempo
Embora a DEP entre crianças da gestação, geralmente associado a
brasileiras apresente uma trajetória partos cirúrgicos programados com
descendente, delimitando-se cada antecedência (MONTEIRO, 1997; LEAL;
vez mais a áreas/grupos/famílias de GAMA; CUNHA, 2006).
maior risco, isso não significa pouca
importância clínica ou individual.
As crianças ainda são um grupo Esse valor pode estar subestimado,
mais vulnerável à desnutrição e à especialmente em áreas de registros
anemia. Para o seu enfrentamento, precários: crianças com peso desconhecido,
são necessários diagnósticos locais medidas em instrumentos incorretos, ou,
e identificação de grupos de risco, ainda, nascidas fora do ambiente hospitalar
priorizando o atendimento dos casos. (BRASIL, 2004).
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A anemia ferropriva ocorre quando a X alterações no metabolismo de gorduras
ingestão de ferro não é suficiente para no sangue (também chamadas
manter as necessidades normais do dislipidemias);
organismo. Os casos de perdas anormais X doenças cardiovasculares (hipertensão
acontecem em decorrência de diarreias arterial, doença coronariana, acidentes
intensas, parasitoses intestinais e em vasculares cerebrais);
mulheres durante a gravidez, o parto, X diabetes tipo II;
ou menstruações abundantes. No
X apneia do sono (que é um fator de risco
caso de crianças menores de 2 anos,
independente para doenças cardíacas);
uma alimentação pobre em termos de
X certos tipos de câncer, como o de
consumo das fontes desse nutriente
mama, endométrio (hormônio-
é um dos determinantes da anemia, dependentes) e de cólon;
especialmente associado ao abandono
X osteoartrite;
precoce do aleitamento materno e à
transição inadequada para alimentos X doenças da vesícula biliar.
complementares.
Sobrepeso e obesidade
A obesidade tem sido descrita como um
importante problema de saúde pública
da atualidade e vem ganhando destaque
no cenário epidemiológico mundial.
Nas últimas décadas, sua prevalência
vem aumentando em todo o mundo,
inclusive nos países em desenvolvimento,
como o Brasil, onde anteriormente
predominavam os problemas
relacionados à desnutrição.
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Atualmente, cerca de metade da
PARA REFLETIR
população adulta brasileira apresenta
Você detecta algum desses problemas
excesso de peso (49%) e 14,8% têm no seu território? Qual é o mais
obesidade. Em ambos os sexos as frequente? Há outros problemas? A
prevalências de excesso de peso e de que você os atribui?
obesidade aumentaram continuamente
ao longo dos últimos anos.
Perfil alimentar da
A obesidade também vem crescendo
de forma alarmante entre crianças e
população brasileira
adolescentes brasileiros. O excesso de Depois de conhecer um pouco sobre
peso atingiu 33,5%, e a obesidade 14,3% o perfil nutricional da população, é
das crianças de 5 a 9 anos, ambos com interessante que você conheça também
maior prevalência no sudeste, centro- os poucos estudos que existem sobre o
oeste e sul do país (IBGE, 2010a). Os dados consumo de alimentos dessa população.
mais recentes da Pesquisa de Orçamentos Algumas conclusões a partir desses
Familiares (POF) realizada nos anos 2008 estudos estão apresentadas na figura a
e 2009 revelaram que o excesso de peso seguir.
continua aumentando nessa faixa etária
(20,5%), atingindo 21,5% dos meninos
Os estudos nos quais nos baseamos foram:
e 19,4% das meninas. Observamos que
“Estudo multicêntrico sobre consumo
o problema do excesso de peso e da alimentar” (GALEAZZI; DOMENE; SICHIERI,
obesidade cresceu com mais intensidade 1997), “Pesquisa de Orçamento Familiar
particularmente em adolescentes do sexo 2002/2003” (IBGE, 2006); 2008/2009
masculino. (IBGE, 2010),; “Pesquisa de Orçamento
Familiar 2008/2009” (IBGE, 2010b),
O fato é preocupante, pois, conforme “Pesquisa Nacional por Amostragem de
já vimos anteriormente, encontramos Domicílio” (IBGE, 2004), “Vigilância de
fatores de risco e proteção para doenças
associada à obesidade uma série de
crônicas por inquérito telefônico” (VIGITEL/
doenças metabólicas e cardiovasculares
MS) realizada nos anos de 2006 a 2010
que prejudicam ainda mais a saúde pelo Ministério da Saúde em parceria com
desses jovens. o IBGE.
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Quantidade de calorias ingeridas muito mais alta do que Inadequação do consumo de nutrientes como cálcio,
a preconizada pelas recomendações internacionais ferro, vitamina A e vitamina B12
Alto consumo, nas grandes cidades, de alimentos Alto consumo de refeições prontas, de alimentos
altamente energéticos, como biscoitos e refrigerantes, industrializados com ingredientes de baixo valor
ricos em açúcares e gorduras. nutricional, tais como: gorduras, óleos, açúcar e sal.
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Além dessas informações, em 2010 diversidade dos problemas da realidade
o Conselho Nacional de Segurança de cada local.
Alimentar e Nutricional (2010) realizou
um estudo de monitoramento para Aprofundando seus
acompanhar a evolução, no país, da conhecimentos
realização progressiva do direito humano
Neste texto, apresentamos em linhas
à alimentação adequada (DHAA) e da
gerais o perfil da população brasileira,
promoção da Soberania e Segurança
tanto do ponto de vista nutricional
Alimentar e Nutricional, no período de
quanto alimentar. Se você sentir
1988 a 2010.
necessidade de aprofundar a leitura
Os resultados do estudo mostram sobre essa temática, sugerimos a leitura
que, de um modo geral, a insegurança do texto no qual nos baseamos para
alimentar no Brasil vem diminuindo estruturar este que você acabou de ler:
progressivamente, apontando que “Os determinantes sociais no contexto
escolhas adequadas foram feitas no plano da alimentação e nutrição no Brasil”
das políticas públicas e dos arranjos (BARROS; BAIÃO, 2014), disponível na
institucionais na luta contra a fome e a biblioteca do curso.
pobreza. Apesar disso, persistem alguns
Referências
desafios históricos, como a concentração
ASSIS, L.; ROMEIRO, A. R. Agroecologia e agricultura
de terra, as desigualdades (de renda,
orgânica: controvérsias e tendências. Desenvolvimento e
étnica, racial e de gênero), a insegurança Meio Ambiente, Curitiba, n. 6, p. 67-80, jul./dez. 2002.
alimentar e nutricional dos povos BARROS, D.C.; BAIÃO, M.R. "Os determinantes sociais
indígenas e comunidades tradicionais, no contexto da alimentação e nutrição no Brasil". Rio de
entre outros. Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, Educação a distância,
2014. (Programa de Formação em Alimentação e Nutrição
Todos esses estudos são fundamentais, – Profan).
pois conhecer o perfil nutricional e BATISTA FILHO, M.; RISSIN, A. Deficiências nutricionais:
alimentar, bem como os determinantes ações específicas do setor saúde para seu controle.
Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p.
sociais, é o primeiro passo para pensar
130-135, 1993.
e propor soluções. Conhecer a realidade
BATISTA FILHO, M.; RISSIN, A. A transição nutricional
socioeconômica e cultural de cada no Brasil: tendências regionais e temporais. Cadernos de
local certamente tornará as ações e Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, p. S181-S191, 2003.
intervenções mais oportunas, e seus Suplemento 1
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BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa nacional de MONTEIRO, C. A. et al. Causas do declínio da
demografia e saúde da criança e da mulher, PNDS 2006: desnutrição infantil no Brasil, 1996-2007. Revista de Saúde
dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança. Publica, São Paulo, v. 43, n. 1, p. 35-43, 2009.
Brasília, DF, 2009.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. 4. reimpr.
BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa nacional sobre Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
saúde e nutrição: resultados preliminares e condições
SICHIERI, R. et al. Variações temporais do estado nutricional
nutricionais da população brasileira: adultos e idosos.
e do consumo alimentar no Brasil. Physis, Rio de Janeiro, v.
Brasília, DF: IPED: IBGE: Inan, 1990.
7, p. 31-35, 1997.
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2004: uma
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Worldwide prevalence
análise da situação de saúde. Brasília, DF, 2004.
of anaemia 1993–2005: WHO global database on
CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E anaemia. Geneva, 2008.
NUTRICIONAL (Brasil). A segurança alimentar e nutricional
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Department of
e o direito humano à alimentação adequada no Brasil:
Nutrition for Health and Development.Turning the tide of
indicadores e monitoramento da Constituição de 1988 aos
malnutrition: responding to the challenge of the 21st. Century.
dias atuais. Brasília, DF, 2010.
Geneva, 2002.
GALEAZZI, M. M. A.; DOMENE, S. M. A.; SICHIERI, R.
Estudo multicêntrico sobre consumo alimentar. Cadernos de
Debate, Campinas, 1997. Número especial.
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