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ABSTRACT
The Bolsa Família Program (PBF) was created by the Federal Government with the purpose of combating hunger and promoting
an income for families living in extreme poverty. The objective of this research was to evaluate the nutritional condition of
schoolchildren beneficiaries of the Bolsa Família Program of the Palmeirinha community, in Juazeiro do Norte, Ceará. The
research was of a cross-sectional type, carried out in 2017. Data collection was maded through a food frequency questionnaire
to evaluate food consumption and weight and height measurement with calculation of the Body Mass Index for nutritional
status evaluation. Thirty-four schoolchildren were evaluated, 58.8% female (58.8%), responsible with an average of 4.5 years of
study and a family with an average income of $ 734.20 reais a month. The results indicate that the beneficiary students of the
PBF presented higher averages in the consumption of foods like saltiness, yogurt, box juice, fried potato chips and salted.
Regarding healthy foods, higher averages were found for rice and beans among beneficiaries than non-recipients (p <0.05). It
was concluded that the nutritional condition of children and adolescents benefiting from BFG is adequate, however, there were
worrisome data regarding the consumption of processed foods, which could lead to future chronic diseases such as obesity
and diabetes mellitus in this vulnerable population group.
Key words: Bolsa Família Program. Nutritional condition. Schoolchildren.
1 Graduada em Nutrição- Faculdade de Juazeiro do Norte, Juazeiro do Norte, CE, Brasil. Contato para correspondência:
sinarafigueiredo.nutri@gmail.com
2 Graduada em Nutrição- Faculdade de Juazeiro do Norte, Juazeiro do Norte, CE, Brasil.
3 Graduado em Enfermagem – Faculdade de Juazeiro do Norte, CE, Brasil.
4 Doutorado em Ciências Biológicas- Universidade Federal de Pernambuco, docente da Faculdade de Juazeiro do Norte, Juazeiro do Norte. CE, Brasil.
5 Doutorado em Nutrição em Saúde Pública/USP, docente da Faculdade de Juazeiro do Norte, Juazeiro do Norte, CE, Brasil
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anos de estudo, os mesmos possuem baixa renda e indicativa de inadequação do estado nutricional para os
recebem em média 734,2 reais por mês. Quanto ao beneficiários do PBF. Tal divergência pode ser
perfil familiar indica que na residência moram em justificada pelo fato de a autora ter avaliado a
média 4,7 pessoas, sendo que em média 2,1 são população por meio de parâmetros diferentes dos que
menores de 18 anos, de acordo com a Tabela 1. foram utilizados no presente estudo, haja vista que a
mesma considerou altura/idade nas crianças.
Tabela 1- Caracterização socioeconômica de crianças e
adolescentes de uma escola pública do município de
Tabela 2– Caracterização das condições de saneamento
Juazeiro do Norte, CE, 2017.
básico de crianças e adolescentes de uma escola pública
Variável Média Desvio padrão do município de Juazeiro do Norte, CE, 2017.
Variável N %
Idade do adolescente 12,44 1,418
Luz elétrica
Escolaridade do responsável 4,50 4,412 SIM 33 97,1
NÃO 1 2,9
Renda familiar 734,21 295,069 Água
Número de moradores 4,76 1,519 Rede Pública 25 73,5
Poço 4 11,8
Número de menores de 18 anos 2,15 0,989 Chafariz 1 2,9
Nota: Dados da pesquisa. Outro 4 11,8
Trata água
SIM 17 50,0
Nas condições de moradia, a maioria tem luz NÃO 17 50,0
elétrica (97,1%) e a distribuição de água é feita pela Lixo
Coleta municipal 30 88,2
rede pública (73,5%), sendo que metade realiza o
Incinerado 3 8,8
tratamento da água, o sistema de coleta de lixo é feito Outro 1 2,9
pelo serviço público municipal (88,2%), o esgoto das Esgoto
Rede Pública 10 29,4
residências é dispensado em fossa séptica (67,6%) e a
Fossa 23 67,6
quase totalidade das famílias recebem assistência da A céu aberto 1 2,9
Estratégia de Saúde da Família (94,1%), como ESF
SIM 32 94,1
apresentado na Tabela 2.
NÃO 2 5,9
Quanto ao estado nutricional das crianças e ESF: Estratégia Saúde da Família
dos adolescentes pode-se perceber, na Figura 1, que a
As poucas pesquisas que já foram realizadas
prevalência maior foi de eutrofia (73,5%). Mesmo que
sobre essa temática foram discutidas por Wolf e Barros-
no grupo de escolares beneficiários do PBF houvesse
Filho (2014), que apontam impactos não esperados do
maior predominância de excesso de peso (30,8%) do
PBF sobre o estado nutricional dos beneficiários, seja
que os não beneficiários (12,5%) essa diferença não foi
quando envolve crianças ou adultos, demonstrando
significativa (p> 0,05).
contradições com os objetivos esperados pelo PBF.
Assemelham-se a esses dados os achados de
Oliveira et al. (2011), em seu estudo realizado em uma
Em relação ao IMC/idade da amostra observou-
cidade de Minas Gerais, os quais demonstram não
se uma preocupante prevalência de 26,5% de excesso
haver diferenças significativas entre o estado
de peso nas crianças e nos adolescentes de uma forma
nutricional de escolares beneficiários e não
geral. Esses dados assemelham-se aos achados de
beneficiários do PBF. Todavia, o apanhado de
Ramires et al. (2014) e Carmo et al. (2016) onde os
Monestrel (2011), na cidade de Itajaí/SC, com crianças
menores de cinco anos, denota uma maior prevalência
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mesmos encontraram valores semelhantes em seus escolares, sendo observados maiores médias de
estudos. consumo de alimentos não saudáveis para os
Figura 1– Estado nutricional de crianças e adolescentes de uma escola pública do município de Juazeiro do
Norte, segundo recebimento do benefício social Programa Bolsa Família, 2017.
O Brasil assim como outros países em beneficiários do PBF do que para os que não recebem
desenvolvimento passa por um período de transição este benefício, com significância estatística (p < 0,05)
nutricional, onde se pode perceber um aumento para alimentos como salgadinho, iogurte, suco de caixa,
significativo do consumo de alimentos industrializados, batata frita e salgado frito.
isso se deve também a correria do dia a dia onde as Nesse sentido, a transferência de renda parece
pessoas estão cada vez mais buscando meios para não garantir todos os aspectos esperados para o
ganhar tempo até na hora de se alimentar. Nos últimos consumo adequado, talvez por falta de orientação
cinquenta anos são observados alterações na nutricional essas famílias escolhem de maneira errônea
qualidade e na quantidade da dieta, e, associadas a os alimentos a serem consumidos pelas crianças e
mudanças no estilo de vida, com repercussões adolescentes.
negativas na saúde populacional desses países Os resultados do presente estudo corroboram
(BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). Soma-se a isso o estilo com os de Ennes e Lucchini (2016) e Saldiva et al.
de vida sedentário dos escolares, cada vez mais (2010), que ao analisarem o hábito alimentar de
frequentes, propiciando um aumento de doenças crianças e adolescentes com faixas etárias
crônicas não transmissíveis e também podendo levar a semelhantes ao deste estudo, encontraram valores
possibilidade de uma desnutrição proteica calórica com importância estatística relevante para os alimentos
ocasionada pela inadequação qualitativa da dieta não saudáveis.
(ENES; LUCCHINI, 2016). Com relação ao consumo de alimentos não
Os resultados apresentados na Tabela 3 saudáveis Uchimura (2012), verificou que famílias
indicam diferenças de consumo alimentar entre os beneficiárias estão mais propensas a comprar
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alimentos não saudáveis para seus filhos devido a uma os escolares que consumiram maiores médias desses
insegurança alimentar existente, onde os mesmos alimentos básicos e tradicionais da cultura brasileira.
alegam não ter o conhecimento necessário sobre o que Os resultados estão de acordo com os dados
compõe uma alimentação saudável. da Pesquisa de Orçamento Familiar - POF, realizada em
Assemelha-se a esse achado o estudo feito por 2008, que indicam uma relação inversa entre renda e
Drewnowski e Darmon (2005) que verificaram a consumo de arroz e feijão a nível nacional (LEVY et al.,
existência de vulnerabilidade nutricional em crianças 2012).
que pertencem a famílias de baixa renda, devido a uma
maior inserção na dieta de alimentos com excesso de Tabela 4- Consumo diário médio de alimentos saudáveis
entre crianças e adolescentes de uma escola pública do
calorias e de baixo teor nutricional.
município de Juazeiro do Norte, de acordo com
recebimento do benefício social Programa Bolsa Família,
Tabela 3- Consumo diário médio de alimentos não 2017.
saudáveis entre crianças e adolescentes de uma escola ALIMENTOS Beneficiário PBF
P
pública do município de Juazeiro do Norte, de acordo com SAUDÁVEIS Sim média Não média
recebimento do benefício social Programa Bolsa Família, Fruta 0,92 1,03 0,66
2017.
Suco de fruta 1,02 0,50 0,11
ALIMENTOS NÃO Beneficiário PBF
P Arroz 1,37 1,10 0,02
SAUDÁVEIS Sim média Não média
Feijão 1,30 0,85 0,01
Salgadinho 0,85 0,25 0,01
Pão 0,90 0,75 0,45
Biscoito recheado 0,83 0,55 0,98
Verduras 0,71 0,65 0,24
Iogurte 0,32 0,01 0,03
Legumes 0,62 0,85 0,95
Refrigerante 0,60 0,71 0,33
In natura 6,83 5,72 0,37
Suco de caixa 0,35 0,01 0,02 Teste t
Suco em pó 0,76 0,81 0,55
Bala 1,29 0,66 0,26 Com relação a esse aspecto, Cutchma et al.
Batata frita 0,25 0,01 0,05 (2012) encontraram em estudo com crianças da rede
Hambúrguer 0,08 0,03 0,08
pública de ensino no município de Colombo/PR,
Danoninho 0,26 0,26 0,73
maiores médias de consumo de alimentos saudáveis
Chocolate 1,06 0,68 0,58
Achocolatado 0,29 0,39 0,09 para escolares que recebiam o Bolsa Família, porém
Pizza 0,05 0,04 0,54 comparando aos que não são contemplados pelo PBF
Salgado frito 0,52 0,06 0,02 não houve significância estatística.
Bolo 0,35 0,01 0,18
Além disso, Paula et al. (2012) em estudo
Ultraprocessados 7,84 4,48 0,82
Teste t
realizado em escola da rede pública da cidade de Belo
Horizonte/MG, também encontraram maior preferência
Já ao investigar o consumo médio diário de de alimentos saudáveis no grupo estudado.
alimentos saudáveis, as crianças e adolescentes Levy et al. (2012) demonstram que o consumo
beneficiários do PBF consumiram médias maiores de alimentar dos brasileiros tem passado por
quase todos os alimentos citados na Tabela 4. Contudo, transformações, onde observou-se que a ingestão de
foram os escolares não beneficiários que tiveram alimentos ricos em gorduras está aumentando de
maiores médias para o consumo de frutas e legumes. acordo com a renda familiar, já em relação as proteínas
A análise estatística demonstrou que apenas percebeu-se que há uma adequação e um elevado
para o consumo de arroz e feijão houve diferença consumo de carboidratos simples na dieta.
estatística (p< 0,05), sendo que os beneficiários foram De acordo com uma pesquisa feita pelo
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
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(IBASE), verificou-se que houve uma remodelação no BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Departamento de Atenção Básica. Protocolos do
padrão alimentar das famílias de baixa renda que são
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN
beneficiárias do PBF e que vão se distinguir das na assistência à saúde / Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde.Departamento de
famílias não beneficiárias quando comparado ao
Atenção Básica.– Brasília : Ministério da Saúde, 2008.
consumo de cereais, particularmente o arroz e o feijão Disponível em:<
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicaco
que são alimentos tradicionais na mesa do brasileiro
es/protocolo_sisvan.pdf> Acesso em: 10 maio 2016.
(IBASE 2008).
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Contudo, Wolf e Barros-Filho (2014)
Saúde. Departamento de Atenção Básica. Corodenação-
constataram dados pouco significativos e conclusivos Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Manual de
orientações sobre o Bolsa Família na saúde. 3. ed.
em relação do impacto sobre o perfil nutricional da
Brasília, DF, 2009. Disponível em:
população de beneficiários do PBF, haja vista que <http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/manual_
orientacoes_bf_3a_edicao.pdf>. Acesso em: 27 ago.
dentre as evidências que faziam parte da sua revisão
2016.
de literatura sistemática os dados achados de famílias
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
beneficiárias e de não beneficiários do PBF não
Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual de
possuem diferenças significativas em relação ao estado orientações sobre o Bolsa Família na Saúde / Ministério
da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
nutricional e consumo alimentar, tanto em pesquisas
Departamento de Atenção Básica. – 3. ed. – Brasília :
de desenho transversal como do tipo longitudinal. Ministério da Saúde, 2010.68 p. : il. – (Série A. Normas
e Manuais Técnicos). Disponível em: <
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicaco
CONCLUSÃO es/manual_orientacoes_bfa2010.pdf>>. Acesso em: 15
set.2016.
Conclui-se que o estado nutricional das crianças
e dos adolescentes beneficiárias do Programa Bolsa ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações
Família encontra-se adequado, contudo foi observado para a coleta e análise de dados antropométricos em
um consumo preocupante de alimentos não saudáveis serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de
Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN / Ministério
que podem ser responsáveis pelo aparecimento de da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
doenças crônicas não transmissíveis como a Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério
da Saúde, 2011. 76 p.: il. – (Série G. Estatística e
obesidade, diabetes e hipertensão na vida adulta. Informação em Saúde). Disponível em:
Portanto, é de suma importância a atuação do <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicac
oes/orientacoes_coleta_analise_dados_antropometrico
profissional nutricionista nas escolas e unidades s.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2016.
básicas de saúde visando à promoção de hábitos
CARMO, A.S.; ALMEIDA, L.M.; OLIVEIRA D.R.; SANTOS,
alimentares saudáveis por meio do desenvolvimento de L.C. Influence of the Bolsa Família program on
atividades de educação alimentar e nutricional no nutritional status and food frequency of
schoolchildren. Jornal de pediatria, v. 92, n. 4, p. 381-
âmbito escolar, garantindo uma melhoria do consumo 387, 2016. DOI:
alimentar, principalmente com ações voltadas para as http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2015.10.008
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DOI: dx.doi.org/10.19095/rec.v5i1.274
C. S. L. FIGUEIREDO et al.
Rev. e-ciência, 5(1): 78-85, 2017
85
DOI: dx.doi.org/10.19095/rec.v5i1.274