Você está na página 1de 15

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA – CEUB

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E SAÚDE


CURSO DE NUTRIÇÃO

MELHORA DA ALIMENTAÇÃO NO BRASIL versus AUMENTO DA OBESIDADE:


UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Thaís Zancanaro de Oliveira


Maria Cláudia da Silva

Brasília, 2023

Data de apresentação:___________________________________

Membros da banca:___________________________________________

1
RESUMO

De acordo com pesquisas recentes, o percentual de obesos da população brasileira vem


aumentando nos últimos anos, apesar da melhora da qualidade da alimentação. Este trabalho
teve como objetivo analisar as possíveis causas desse crescimento, além de avaliar as políticas
públicas para a promoção da saúde e prevenção da obesidade. Também analisou-se a
importância da Educação Alimentar e Nutricional como ação preventiva dessa patologia. Este
trabalho consistiu de uma revisão bibliográfica cuja base de pesquisa foram PubMed, Scielo,
Brazilian Journal of Health Review, Google Acadêmico e Documentos Oficiais. Foi
constatado que nos últimos anos a quantidade de indivíduos obesos a partir de 20 anos de
idade aumentou 14,6%, atingindo 25,9% da população de acordo com a Pesquisa Nacional de
Saúde. Já o excesso de peso está presente em 60,3% de acordo com a mesma pesquisa. As
políticas públicas e outras ações que visam a melhor disponibilidade de alimentos, aplicadas
em todas as camadas sociais, se fazem necessárias para uma intervenção eficaz em prol da
promoção da saúde e prevenção da obesidade.

Palavras-chaves: Obesidade, Transição Nutricional e Educação Alimentar e Nutricional.

2
1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a alimentação da população brasileira tem melhorado


consideravelmente, conforme demonstra a pesquisa realizada pela VIGITEL (Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico). Por outro lado,
apesar dessa melhora, a VIGITEL também observou um aumento significativo da obesidade
nessa mesma população (CASTILHO e MACIEL, 2018).
Segundo dados da VIGITEL, quase 1 em cada 5 (18,9%) indivíduos são obesos e
mais da metade da população das capitais brasileiras (54,0%) estão com excesso de peso.
Contradizendo esses resultados, observou-se que o consumo regular de frutas e hortaliças
cresceu 4,8% (de 2008 a 2017), a prática de atividade física no tempo livre aumentou 24,1%
(de 2009 a 2017) e o consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas caiu 52,8% (de 2007 a
2017). (CASTILHO e MACIEL, 2018). Dados da VIGITEL 2021 mostraram que o aumento
do consumo regular de frutas e hortaliças continuou em aumento em comparação a pesquisa
da VIGITEL 2018, portanto o consumo alimentar tem melhorado nos últimos anos. Mas
mesmo com essa melhoria, a obesidade está em contínuo crescimento de acordo com a
VIGITEL 2021 (VIGITEL, 2021).
Estudo publicado na Revista Brasileira de Nutrição Clínica aborda quatro pontos
principais que são determinantes para o consumo alimentar da população brasileira, sendo
eles fatores biológicos, socioeconômicos, oferta/disponibilidade dos alimentos e fatores
sociais (ESTIMA et. al, 2009).
Em relação ao aspecto socioeconômico, a cesta básica - principal meio de oferta de
alimento para a camada mais pobre da população - oferece excesso calórico para indivíduos
adultos e carece de nutrientes essenciais como cálcio, potássio e vitamina A (SANTANA e
SARTI, 2020). No trabalho realizado por Passos et. al, 2014 também verificou-se a qualidade
nutricional das cestas básicas e conclui-se que apresentam alto teor lipídico de acordo com as
recomendações do EAR (Estimated Average Requirement). A cesta básica, de um modo geral,
oferece poucos alimentos in natura ou minimamente processados. (SANTANA e SARTI,
2020).
No quesito biológico, fala-se sobre as características organolépticas do alimento.
Estudos já demonstraram que as preferências de escolha estão relacionadas ao sabor, a
textura, a crocância e cor/aparência. Quanto à oferta/disponibilidade dos alimentos, podemos
3
citar principalmente duas questões que impactam na escolha ou não do produto.
Primeiramente se há ou não a oferta de alimentos saudáveis no domicílio e o segundo fator
está relacionado ao poder aquisitivo, como mostrou a pesquisa de orçamentos familiares de
1998-1999 (ESTIMA et. al, 2009). A Pesquisa de Orçamento Familiar de 2017/2018
permanece com o apontamento que a renda influencia no tipo de alimento consumido.
No que diz respeito ao fator social, são abordadas a estrutura e influência familiar,
pois, em grande maioria, as crianças repetem os hábitos e comportamentos alimentares de
seus pais (ESTIMA et. al, 2009).
A competência alimentar parece ser uma estratégia interessante para a melhora da
saúde nutricional e a prevenção da obesidade. A competência alimentar consiste em quatro
pontos: Atitude Alimentar, Aceitação Alimentar, Regulação Interna e Habilidade Contextual,
atendendo aos critérios da Organização das Nações Unidas para Agricultura (FAO) e às
recomendações da Organização Mundial da Saúde (QUEIROZ, et. al, 2022).
Apesar desses fatos positivos mencionados sobre a melhora da alimentação, a
tendência da obesidade é só aumentar. Segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de risco e
Proteção para doenças crônicas por Inquérito Telefônico, o excesso de peso subiu 72% nos
últimos treze anos (ABESO, 2019), portanto é um dado preocupante, visto que essa doença
crônica traz consigo muitos malefícios.
Em conjunto, esses quatro fatores são possíveis causas para o aumento da obesidade.
Visto que a obesidade possui associação direta com problemas cardiovasculares e doenças
crônicas não transmissíveis (LIN e LI, 2021), é de extrema importância enfatizar programas
para a prevenção do excesso de peso e a promoção da saúde (ALMEIDA et. al, 2017). O Guia
Alimentar para a população brasileira disponibilizado pelo Ministério da Saúde deve também
ser enfatizado com o intuito da prevenção da obesidade e a promoção da saúde
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).
Diante do exposto, este estudo teve por objetivo analisar razões pelas quais ainda há o
aumento constante da obesidade apesar da melhora da alimentação nos últimos anos, discutir
o impacto da adiposidade no futuro e abordar estratégias eficientes para a prevenção da
obesidade e a promoção da saúde.

4
2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo primário


Levantar razões para o constante crescimento da obesidade apesar da melhora da
alimentação da população brasileira.
2.2 Objetivos secundários
● Apresentar breve histórico sobre a melhoria do acesso à alimentação saudável
● Identificar motivos para o constante aumento da obesidade
● Sugerir ações para promoção de saúde

3. METODOLOGIA

3.1 Desenho do estudo


O presente estudo trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica narrativa.

3.2 Metodologia
Tratou-se de uma revisão de literatura narrativa, sendo a base de dados
utilizada, artigos científicos e Documentos Oficiais. A pesquisa baseou-se em artigos
publicados de 2009 a 2022. Os idiomas utilizados para as buscas de artigos
científicos foram Inglês e Português.
Para a pesquisa de artigos foram utilizadas as bases do PubMed, Scielo,
Brazilian Journal e Google Acadêmico. Os termos empregados para a busca dos
artigos foram identificados nos Descritores em Ciência da Saúde (DECS) e também
seus respectivos termos em Inglês: Obesidade (Obesity), Transição Nutricional
(Nutritional Transition) e Educação Alimentar e Nutricional (Food and Nutrition
Education).
Os artigos foram selecionados a partir dos seguintes critérios: revisão
bibliográfica e estudo experimental, o primeiro critério de exclusão foi a partir da
leitura do resumo e foram excluídos os trabalhos que não relacionavam a obesidade

5
com hábitos alimentares e o estilo de vida. E os artigos que foram incluídos foram
lidos na íntegra.

3.3 Análise de dados


Em seguida, empreendeu-se uma leitura minuciosa e crítica dos manuscritos para
identificação dos núcleos de sentido de cada texto e posterior agrupamento de subtemas que
sintetizassem as produções.

4. REVISÃO DA LITERATURA

Alimentação saudável na população brasileira


A alimentação saudável é baseada no consumo de alimentos in natura ou
minimamente processados, quantidades mínimas de óleos, gorduras, sal e açúcares e na
limitação do consumo de alimentos processados e ultraprocessados (GUIA ALIMENTAR,
2014).
Dito isso, o padrão alimentar da população brasileira se encontra inadequado nos
últimos anos. As mudanças que ocorreram no perfil alimentar dos brasileiros são
determinadas por fatores biológicos, socioeconômicos, oferta/disponibilidade dos alimentos e
sociais. (ESTIMA et. al, 2009). Contudo, é possível traçar estratégias viáveis para melhorar a
ingesta alimentar.
O fator biológico diz respeito às características sensoriais dos alimentos, portanto o
aspecto visual e o sabor influenciam diretamente no consumo ou não da refeição. Sendo
assim, é de grande importância atentar-se a esses quesitos para um bom consumo alimentar;
outro fator é o socioeconômico, onde há os programas sociais como Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), Bolsa Família, Hortas Comunitárias e o Programa de
Alimentação do Trabalhador (PAT) (MEC, 2007) que podem favorecer para uma boa
qualidade da alimentação. Quanto à oferta/disponibilidade de alimentos, é de grande
importância que a família adquira o hábito do consumo de alimentos saudáveis, pois
influencia de forma direta nos hábitos e comportamento dos filhos. Por último, há os fatores
sociais que são relacionados à influência familiar, portanto os pais são modelos para os seus
filhos para a construção de seus hábitos alimentares, preferências e costumes.

6
A competência alimentar tem sido objeto de estudos e parece ter eficácia para a
melhora da saúde nutricional e a prevenção da obesidade, visto que são desenvolvidas as
habilidades alimentares, que não são apenas de abordagem individual, mas da família. A
competência alimentar está ligada à qualidade da dieta que se associa com o consumo de
frutas, verduras e legumes, a dieta mediterrânea como base da alimentação e uma capacidade
maior para decisões alimentares, suprindo assim os critérios da Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS)
que comentam sobre a importância das habilidades alimentares como uma das ferramentas
para a Educação Alimentar e Nutricional. Nela são abordados quatro fatores: Atitude
Alimentar, Aceitação Alimentar, Regulação Interna e Habilidade Contextual. A competência
alimentar também está diretamente relacionada a indicadores de saúde, como menor risco
cardiovascular, menor incidência de sedentarismo e a melhor qualidade do sono. (QUEIROZ,
et. al, 2022)

Breve histórico da Segurança Alimentar e Nutricional


A segurança alimentar é o direito de todos a um acesso regular e definitivo aos
alimentos de boa qualidade e que sejam sustentáveis para com o ambiente, cultura, economia
e social (PINHEIROS, 2008). Com o objetivo de promover a Segurança Alimentar e
Nutricional, o Brasil propôs políticas públicas para o combate à fome e para a melhoria das
condições alimentares.
Em 1980, em meio às várias mobilizações e movimentos sociais, o tema do combate à
fome e à pobreza foi levantado para discussão de políticas públicas (AMARAL e BASSO,
2016). Apesar de que este assunto já foi abordado algumas vezes em outras épocas, o termo
Segurança Alimentar e Nutricional só surgiu a partir da realização da proposta da Política
Nacional de Segurança Alimentar de 1985 (AMARAL e BASSO, 2016). A Política Nacional
de Segurança Alimentar tinha como objetivo o abastecimento alimentar e o atendimento das
necessidades alimentares da sociedade e também alvejar a autossuficiência nacional na
produção de alimentos. (PINHEIRO, 2009).
Na década de 1990, no decorrer dos problemas sociais do período, surge o Movimento
pela Ética. Este movimento, entre outros objetivos, pretendeu dar fim à fome e à miséria,
dando início a ação "Movimento da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela
Vida”, de caráter nacional. Tal ação foi dividida em dois grupos: o Consea e outro grupo que
foi elaborado a partir das atitudes voluntárias relacionadas à Ação da Cidadania (Magalhães,

7
2002). O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), criado em 1993,
é um órgão Nacional e representante da Sociedade Civil que aborda especificamente sobre
Segurança Alimentar e Nutricional (AMARAL e BASSO, 2016).
Ainda na década de 1990, foi elaborado o Mapa de Combate à fome, feito pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Também foi lançado o Plano de Combate à
Fome e à Miséria (AMARAL e BASSO, 2016). E em 1994 realizou-se a I Conferência
Nacional de Alimentação e Nutrição. A Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição,
realizada pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, considerava reconhecer a
alimentação como um direito humano básico (PINHEIRO, 2009).
Nos anos 2000, foi criado o programa Fome Zero, o Ministério Extraordinário da
Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA) e também houve a recriação do Consea que
havia sido revogado em 1995 (AMARAL e BASSO, 2016).
Após 10 anos, foi realizada a II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional que teve como vitória principal a institucionalização da Segurança Alimentar e
Nutricional por meio do feito de uma Lei Orgânica. Na conferência também é confirmado que
a Segurança Alimentar e Nutricional é o direito regular e definitivo de todos a alimentos de
qualidade e em quantidade satisfatória, sem comprometer o acesso a necessidades básicas, e
que respeitem as culturas diversas e também sejam sustentáveis no que tange ao meio
ambiente, e meios cultural, econômico e social. (PINHEIRO, 2009).
Com o aperfeiçoamento das políticas de Segurança Alimentar e Nutricional, foi
aprovada a “Lei da Agricultura Familiar” em 2006 (AMARAL e BASSO, 2016) que
determina as Diretrizes para a formação da Política Nacional de Agricultura Familiar
(BRASIL,2006).
Em julho de 2007 houve a realização da III Conferência Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional que conquistou a criação da Câmara Interministerial de Segurança
Alimentar e Nutricional (AMARAL e BASSO, 2016) que tem como objetivo desenvolver e
aplicar planos de Segurança Alimentar e Nutricional, além de acompanhar, verificar e analisar
a Segurança Alimentar e Nutricional do país (CAISAN, 2011)

Após 4 anos, foi realizada a IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e


Nutricional. No mesmo ano é aprovado o primeiro Plano Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional com ações voltadas à agricultura familiar, o abastecimento de alimentos e à
promoção da alimentação saudável e adequada (AMARAL e BASSO, 2016).

8
Por fim, no ano de 2015, realizou-se a V Conferência Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional que certificou os direitos alcançados, a proteção da soberania
alimentar e a concretização do direito humano à alimentação saudável para todos os povos,
dentre outras discussões (AMARAL e BASSO, 2016).
Então por que o constante aumento da obesidade?

A alimentação inadequada ao longo dos anos, que pode ter sido influenciada por
diversos fatores tais como os biológicos, os socioeconômicos, a oferta e disponibilidade e os
sociais, fez com que as taxas de obesidade começassem a aumentar exponencialmente. Já a
desnutrição vem apresentando redução na população de forma geral.
Mediante a vida corrida do brasileiro, o fast food se torna uma opção rápida e prática
para se alimentar. Porém, já foi constatado que o consumo frequente de refeições
ultraprocessadas está relacionado ao aumento da obesidade (PINTO e COSTA, 2021). Além
disso, a ausência da comensalidade cotidiana também favorece o ganho de peso (GUIA
ALIMENTAR, 2014). Segundo o Guia Alimentar para a população brasileira, a
comensalidade refere-se ao tempo e atenção durante a refeição, ao ambiente apropriado para
se alimentar e à refeição com companhia. Esses são aspectos eficientes para se controlar
melhor a quantidade ingerida, além de benefícios como melhor digestão e ocasiões oportunas
de convivência social.
Já no contexto da pandemia da covid 19 houve o aumento da insegurança alimentar
(MARTINS, et. al, 2022), mas simultaneamente ocorreram muitos casos de ganho de peso
gerados por modificações dos hábitos alimentares, como diminuição de alimentos in natura e
o aumento de consumo de ultraprocessados (DURÃES, et. al,2020).
Pesquisa realizada no período da pandemia da covid 19 revelou que apenas 1,5% da
população brasileira não apresentou mudança no estilo de vida, 35,5% da população
revelaram sentimentos de tristeza ou depressão, 41,2% de isolamento e 41,3% relataram
ansiedade. Também verificou-se que 17% aumentaram o consumo alcoólico e 34% dos
fumantes aumentaram a quantidade de fumo. Foi observado o consumo excessivo de
alimentos ultraprocessados e a redução da prática de atividade física (MALTA et al, 2021).
A Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por
Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2017 mostrou que 54% dos brasileiros possuem excesso de
peso. Apesar desse desequilíbrio nutricional, essa mesma pesquisa observou diminuição do
consumo de refrigerantes, uma queda de 52,8% desde 2007 até 2018, e um consumo regular
9
de frutas e hortaliças na população brasileira. Já em 2020, a Pesquisa Nacional de Saúde
revelou que este percentual aumentou para 60,3% (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).
Além dos determinantes mencionados anteriormente, as falhas nas políticas públicas
para a prevenção da obesidade e promoção da saúde contribuíram para os aumentos das taxas
de excesso de peso. As principais barreiras para uma implementação eficaz dos programas
são: o lobby desenvolvido pelo setor privado comercial, ausência de habilidade e/ou
disposição política dos governos para uma aplicação efetiva e a falta de cobrança por parte da
sociedade civil para a ação governamental, além da ineficácia de avaliação das medidas
postas em práticas (CASTRO, 2017).

Ações de promoção de saúde e prevenção da obesidade


Considerando que a obesidade possui impacto direto na saúde cardiovascular e
relações com as doenças crônicas não transmissíveis (LIN e LI, 2021) é necessário enfatizar
políticas públicas para a prevenção da obesidade e a promoção da saúde (ALMEIDA et.al,
2017).
A promoção da saúde consiste em ações intersetoriais com o objetivo de promover
uma melhor qualidade de vida para a população (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2023).
Diversas ações podem ser implementadas com o propósito de estimular hábitos saudáveis e
prevenir a obesidade. Entre as principais ações estão a educação nutricional, as normas de
propagandas, o incentivo à alimentação saudável, o estímulo à atividade física e o acesso à
informação nutricional.
A educação nutricional desempenha um papel muito importante na promoção da
saúde. Estudo realizado por Lima, 2004 em um grupo de diabéticos revelou que a educação
nutricional cumpriu o seu objetivo ao conseguir desenvolver entendimentos acerca da
alimentação em diabetes (LIMA, 2004). Portanto, a educação nutricional pode contribuir para
uma maior autonomia das pessoas quanto às escolhas alimentares e consequentemente
prevenir maus hábitos que prejudicam a qualidade de vida.
Quanto à regulamentação de propagandas, Borzekowski e Robinson, 2001 afirmaram
que a publicidade de alimentos em crianças de 2 a 6 anos resultou em uma preferência das
suas escolhas alimentares daqueles expostos à propaganda. Portanto, a normatização quanto à
exposição de marketing alimentar é necessária para evitar a interferência na formação dos
hábitos alimentares.

10
O incentivo à alimentação saudável é também imprescindível na promoção da saúde.
É necessário a divulgação do Guia Alimentar para a população brasileira, o qual aborda sobre
as recomendações e princípios para uma alimentação saudável e adequada (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2014).
A prática de atividades físicas desde a infância e sua constância até a terceira idade
contribui fortemente para o controle do excesso de peso (MATSUDO, 2006). O Ministério da
Saúde elaborou a Política Nacional de Promoção de Saúde onde é citado sobre as ações que
podem ser aplicadas na rede básica de saúde e na comunidade. São elas o mapeamento e
apoio da atividade física na atenção básica e na Estratégia Saúde da Família e também
fornecer práticas de exercícios na rede básica de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Por fim, é importante disponibilizar e divulgar materiais educativos que ensinam a
interpretar a informação nutricional, permitindo assim que os consumidores tenham
conhecimento da composição nutricional dos produtos.
Além dessas ações, a aplicação de medidas fiscais que não estimulem a compra de
ultraprocessados e incentivem a aquisição de alimentos in natura e minimamente processados,
e o incremento de ambientes alimentares saudáveis ajuda na promoção da saúde e prevenção
da obesidade (CASTRO, 2017).

11
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresentado analisou artigos científicos e documentos oficiais sobre o


contínuo aumento de indivíduos em excesso de peso, suas causas, ações e estratégias que
podem ser realizadas em prol da promoção da saúde, consequentemente a prevenção da
obesidade.
Como constatado, os hábitos e estilo de vida saudáveis são imprescindíveis para se
evitar o aparecimento do excesso de adiposidade e as doenças crônicas por conseguinte. A má
alimentação do brasileiro conjuntamente com o sedentarismo nos últimos anos tem impactado
significativamente nas taxas de indivíduos obesos. Os fatores biológicos, socioeconômicos,
oferta/disponibilidade de alimentos e fatores sociais são determinantes do consumo alimentar.
Além desses mencionados, as falhas nas políticas públicas também interferem na alimentação
da população brasileira, principalmente nas camadas de menor poder aquisitivo.
A vida corrida do brasileiro, do mesmo modo, se encontra como um impedimento para
uma boa alimentação, visto que o fast food se torna uma primeira opção. Concomitante a isso,
há a ausência da comensalidade, citada no Guia Alimentar como uma das estratégias para a
promoção de saúde. Dado que o consumo frequente de ultraprocessados está relacionado ao
excesso de peso, a organização é primordial. E quanto à prática da comensalidade, é
importante que procure realizar as refeições em ambientes calmos, acompanhado quando
possível e com atenção e regularidade.
Portanto, é necessário implementar ações intersetoriais, de modo que atinja todas as
classes sociais, para que as políticas públicas sejam eficientes, cumprindo o objetivo de
promover a saúde e prevenir a obesidade.

12
6. REFERÊNCIAS

BORZEKOWSKI, Dina LG; ROBINSON, Thomas N. O efeito de 30 segundos: um


experimento revelando o impacto dos comerciais de televisão nas preferências alimentares de
pré-escolares. Journal of the American Dietetic Association, v. 101, n. 1, pág. 42-46, 2001.
Disponível em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0002822301000128>. Acesso em 10
mai. 2023.

BRASIL. Lei nº 11.326 de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da


Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Diário
Oficial da União, Brasília, 24 jul. 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília:
Ministério da Saúde, 2014. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf>.
Acesso em: 5 mai. 2023
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2002a. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude_3ed.pdf>.
Acesso em: 05 jun. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Promoção da Saúde e da Alimentação Adequada e Saudável.
[Brasília]: Ministério da Saúde. Disponível em: <
https://aps.saude.gov.br/ape/promocaosaude>. Acesso em: 04 mai. 2023.
Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. Plano Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional: 2012/2015. -- Brasília, DF: CAISAN, 2011. Disponível em: <
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/seguranca_alimentar/Plano_Caisan.pdf>.
Acesso em: 13 mai. 2023.
CASTILHO, I; MACIEL, M. Com obesidade em alta, pesquisa mostra brasileiros iniciando
vida mais saudável. Ministério da Saúde, Brasil, 2018. Disponível em:
<https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2018/junho/apesar-de-obesidade-em-alta-p
esquisa-mostra-brasileiros-mais-saudaveis>. Acesso em: 15 mar. 2023
CASTRO, Inês Rugani Ribeiro. Obesidade: urge fazer avançar políticas públicas para sua
prevenção e controle. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 33, n. 7, 2017.

13
DE ALMEIDA, Luana Mirelle et al. Estratégias e desafios da gestão da atenção primária à
saúde no controle e prevenção da obesidade. Revista Gestão & Saúde, Brasília, v. 8, n. 1, p.
114-139, 2017.
DE OLIVEIRA PINHEIRO, Anelise Rizzolo. Reflexões sobre o processo histórico/político
de construção da lei orgânica de segurança alimentar e nutricional. Segurança Alimentar e
Nutricional, Campinas, v. 15, n. 2, p. 1-15, 2008. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/323739966_Reflexoes_sobre_o_processo_historic
o_politico_de_construcao_da_Lei_Organica_de_Seguranca_Alimentar_e_Nutricional>.
Acesso em: 07 abr. 2023.
DE QUEIROZ, Fabiana Lopes Nalon. Avaliação da Competência Alimentar de adultos
brasileiros e sua relação com dados de saúde e consumo de alimentos. 2022. 104 f. Tese
(Doutorado) - Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana,
Brasília, 2022.
DOS SANTOS MARTINS, Ketlen Pinheiro et al. Transição nutricional no Brasil de 2000 a
2016, com ênfase na desnutrição e obesidade. ASKLEPION: Informação em Saúde, Rio de
Janeiro, v. 1, n. 2, p. 113-132, 2021. Disponível em:
<https://asklepionrevista.info/asklepion/article/view/22>. Acesso em 01 jun. 2023.
DURÃES, Sabrina Alves et al. Implicações da pandemia da covid-19 nos hábitos alimentares.
Revista Unimontes Científica, Montes Claros, v. 22, n. 2, p. 1-20, 2020. Disponível em:
<https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/unicientifica/article/view/3333>. Acesso em
14 jun. 2023.
ESTIMA, Camilla de Chermont Prochnik et al. Fatores determinantes de consumo alimentar:
por que os indivíduos comem o que comem. Rev. bras. nutr. clín, São Paulo, p. 263-268,
2009. Disponível em:
<https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-549042#:~:text=Foram%20criadas%20qua
tro%20categorias%20de,como%20um%20dos%20principais%20determinantes.> Acesso em:
16 mai. 2023.
LIMA, Keite Azevedo. Análise do processo de construção do conhecimento dietoterápico de
pacientes diabéticos atendidos no programa saúde da família do município de Araras. 2004.
272 f. Dissertação (Mestrado), Programa de pós-graduação em Alimentos e Nutrição,
‌ IN, Xihua; LI, Hong. Obesidade: epidemiologia, fisiopatologia e terapêutica. Fronteiras em
L
endocrinologia, v. 12, p. 706978, 2021.
MAGALHÃES, Rosana. Enfrentando a pobreza, reconstruindo vínculos sociais: as lições da
Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Cadernos de Saúde Pública, v. 18, p.
S121-S137, 2002.
MALTA, Deborah Carvalho et al. Distanciamento social, sentimento de tristeza e estilos de
vida da população brasileira durante a pandemia de Covid-19. Saúde em debate, Rio de
Janeiro, v. 44, p. 177-190, 2021. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/sdeb/a/8YsdKcVzwf3yYVZqWMnbnXs/?lang=pt>. Acesso em: 06
jun. 2023.
MAPA da Obesidade - Abeso. Disponível em:
<https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/>. Acesso em: 15
mar.2023.

14
MATSUDO, Victor Keihan Rodrigues; MATSUDO, Sandra Marcela Mahecha. Atividade
física no tratamento da obesidade. Biblioteca Virtual em Saúde, São Paulo, p. S29-S43, 2006.
Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-455905>. Acesso em: 11
jun. 2023.
PASSOS, Kelly Estarla dos; BERNARDI, Juliana Rombaldi; MENDES, Karina Giane.
Análise da composição nutricional da Cesta Básica brasileira. Ciência & Saúde Coletiva, Rio
de Janeiro, v. 19, p. 1623-1630, 2014. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/csc/a/zVk6W6VYz56wVYMBV8Dw8gN/#:~:text=A%20Cesta%20
B%C3%A1sica%20est%C3%A1%20composta,(20%25%20a%2035%25)>. Acesso em: 09
jun. 2023.
PINHEIRO, Anelise Rizzolo de Oliveira. Análise histórica do processo de formulação da
política nacional de segurança alimentar e nutricional (2003-2006): atores, idéias, interesses e
instituições na construção de consenso político. 2009. 236 f. Tese (Doutorado) - Universidade
de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Política Social, Brasília, 2009.
PINTO, Juliana Rosa Ribeiro; COSTA, Flávia Nunes. Consumo de produtos processados e
ultraprocessados e o seu impacto na saúde dos adultos. Research, Society and Development,
Carajás, v. 10, n. 14, p. e568101422222-e568101422222, 2021. Disponível em:
<https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/22222/19907/270602>. Acesso em 01
jun. 2023.
RODRIGUES, Maria de Lourdes Carlos. Alimentação e Nutrição no Brasil. Universidade de
Brasília, Brasília, 2007.
SANTANA, André Bento Chaves; SARTI, Flávia Mori. Avaliação dos indicadores de
aquisição, disponibilidade e adequação nutricional da cesta básica de alimentos brasileira.
Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, p. 4001-4012, 2020. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/csc/a/gLy7HRqmYzjHJLtnDbftfJq/abstract/?lang=pt>. Acesso em 04
mar. 2023. São Paulo, 2004.
Sobrepeso e obesidade como problemas de saúde pública. Ministério da Saúde, 2022.
Disponível
em:<https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-ter-peso-saudavel/noticia
s/2022/sobrepeso-e-obesidade-como-problemas-de-saude-publica>. Acesso em: 05 abr. 2023.

15

Você também pode gostar