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Artigo publicado na Revista do CEBES : Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v.29, n. 70, p.125 – 139,
mai/ago.2005.
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Nutricionista e Sanitarista, Mestre em Saúde Pública (UFSC), Ex- assessora técnica da Coordenação
Geral da Política de Alimentação e Nutrição/SAS/DAB/MS; Pesquisadora Associada do Observatório de
Políticas em Segurança Alimentar e Nutrição NP3/UNB;Professora Visitante do Departamento de
Nutri~ção FS/UNB e Doutoranda em Política Social SER/UNB.
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na população estudada, as pessoas se identificam com o consumo de “comida” e não
propriamente “alimentos”. A comida é o alimento adequado para o consumo e assim
quando questionadas as mães referiam que as crianças não tomavam leite pois
“tomavam mingau”. O alimento cozido foi a opção preferida para o consumo.
Sob o ponto de vista da historia, as práticas alimentares também sofrem alterações a
luz dos modelos de desenvolvimento sócio – econômico dos paises. A Transição
Nutricional é um processo de modificações seqüenciais de perfil nutricional,
condicionado pelas possibilidades de escolha e seleção de alimentos que determinam o
padrão alimentar de grupos populacionais. Assim, as mudanças sócio-econômicas e
demográficas, influenciam no modo de viver, adoecer e morrer (processo saúde-
doença) das populações (PINHEIRO, 2004).
O Brasil também vem apresentando, nas últimas décadas, transformações sócio-
econômicas rápidas e profundas (urbanização acelerada e globalização), com reflexos
no perfil de saúde de sua população. No campo da saúde, a transição nutricional (e
epidemiológica) apresenta-se complexa e polarizada, na qual diferentes segmentos
sócio-econômicos e territórios apresentam perfis nutricionais substancialmente
diferentes e contraditórios (PINHEIRO, 2004).
Sob este enfoque, alguns aspectos merecem destaque e análise como: (1) o
papel do gênero neste processo quando a mulher assume uma vida profissional
extradomicilio, porém continua acumulando a responsabilidade sobre a alimentação da
família. A atribuição feminina transita entre o ambiente do trabalho e doméstico e assim
se coloca como um novo paradigma da sociedade moderna que não tem criado
mecanismos de suporte social para a desconcentração desta atribuição enquanto
exclusivamente feminina; (2) a modificação dos espaços físicos para o
compartilhamento das refeições e nas práticas cotidianas para a preparação dos
alimentos; (3)as mudanças ocorridas nas relações familiares e pessoais com a
diminuição da freqüência de compartilhamento das refeições em família (ou grupos de
convívio); (4) a perda da identidade cultural das preparações e receitas com a chegada
do “evento social” da urbanização/globalização e com isto o crescente consumo de
alimentos industrializados, pré-preparados ou prontos que respondem a uma demanda
de identidade e praticidade e; (5) a evidente desagregação de valores sociais e
coletivos que vem culturalmente sendo perdidos em função das modificações acima
referidas.
De acordo com Araújo et al (2005) o ato de comer revela aspectos sociais
importantes. “Come-se conforme as normas da sociedade. Hábitos interiorizam
costumes. Todos preferem sabores que suas mães lhe fizeram apreciar”. Nesta
perspectiva a “mesa” simboliza o centro das relações sendo o “palco” da organização,
critica familiar, alegrias, dissabores e novidades.
Assim, em síntese, uma alimentação saudável deve ser entendida enquanto um
direito humano que compreende um padrão alimentar adequado às necessidades
biológicas e sociais dos indivíduos de acordo com as fases do curso da vida. Além disso,
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deve ser baseada em práticas alimentares assumindo os significados sócio-culturais dos
alimentos como fundamento básico conceitual.
Sob o ponto de vista coletivo, uma alimentação saudável torna-se adequada
quando também compreende aspectos relativos a percepção dos sujeitos sobre os
modos de vida adequados, ou seja, quando se identifica com as expectativas dos
diferentes grupos sociais, que compõe a sociedade. Para isso as dimensões de
variedade, quantidade, qualidade e harmonia precisam associar-se aos padrões
culturais, regionais, antropológicos e sociais das populações.
No enfoque da Segurança Alimentar e Nutricional, uma alimentação é saudável e
adequada quando trazemos para a abordagem da saúde outros fatores envolvidos em
sua gênese. O alcance do estado nutricional adequado, de maneira indireta, pressupõe
o encontro de alguns fatores como produção, abastecimento e comercialização, acesso
e a utilização biológica dos alimentos. Para a garantia de uma alimentação saudável, é
necessária condição adequada para seu total aproveitamento e estas condições são
relativas às condições de vida como trabalho, moradia, emprego, educação, saúde, lazer
etc. Assim este conceito tem como objeto a trajetória necessária, desde a produção até
o consumo, do alimento, em todas as suas dimensões, e todas as possibilidades que
esta produção gera em termos de desenvolvimento sustentável e soberania alimentar.
Em nível de políticas publicas, o grande desafio na formulação e implementação de
uma estratégia para a promoção de uma alimentação saudável passa, portanto,
necessariamente, por torná-la viável em um contexto onde os papéis, os valores e o
sentido de tempo estão em constante mudança.
Este artigo tem como objetivo identificar a dimensão da alimentação saudável na
promoção da saúde, sob o contexto de Segurança Alimentar e Nutricional,
estabelecendo similaridades entre estes campos, no âmbito de políticas publicas.
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Estes conceitos também são compartilhados e sistematicamente presentes nas
atuais discussões do Programa Fome Zero, do governo federal, que tem como objetivo
principal o combate à fome e a garantia da Segurança Alimentar e Nutricional através
da inclusão social das populações de baixa renda.O Fome Zero tem como principal
programa o Bolsa Família que se consiste em transferência direta de renda para famílias
de baixa renda , segundo critério pré- estabelecido (pobreza e extrema – pobreza). O
recebimento do benefício é feito mediante o monitoramento e cumprimento de uma
agenda de compromissos, pelos beneficiários (prioritariamente crianças e gestantes)
(CONSEA,2004).
A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é entendida como a garantia, a
todos, de condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade
suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades
básicas como saúde, educação, moradia, trabalho, lazer etc.com base em práticas
alimentares que contribuem assim, para uma existência digna em um contexto de
desenvolvimento integral da pessoa humana (CONSEA,2004).
A alimentação é reconhecida como um direito humano no Pacto Internacional
sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1996, do qual o Brasil é signatário, e
que foi incorporado à legislação nacional em 1992. Em 1999, o Comitêe dos Direitos
Econômicos e Sociais as Nações Unidas, explicita no Comentário Geral 12 que “o direito
a alimentação adequada é alcançado quando todos os homens, mulheres e crianças,
sozinhos, ou em comunidade, tem acesso físico e econômico, em todos os momentos, à
alimentação adequada, ou meios para sua obtenção”. O termo adequação refere-se não
exclusivamente a um pacote mínimo de calorias e outros nutrientes, mas também a
condições sociais, econômicas, culturais, ambienteis etc. para a digna sobrevivência
(CONSEA, 2004).
A SAN pressupõe a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada.
Entende-se que os ‘Direitos Humanos’ são aqueles que os seres humanos possuem,
única e exclusivamente, por terem nascido e serem parte da espécie humana. O Direito
Humano a Alimentação Adequada (DHAA) é um direito humano indivisível, universal e
não discriminatório que assegura a qualquer ser humano o direito a se alimentar
dignamente, de forma saudável e condizente com seus hábitos culturais (VALENTE,
2002).
Para a garantia do DHAA o Estado é um dos principais atores, pois precisa
estabelecer políticas que, assim como o faz perante o direito a saúde, melhore o acesso
das pessoas aos recursos para produção ou aquisição, seleção e consumo de alimentos.
Essa obrigação se concretiza através da elaboração e implementação de políticas,
programas e ações, que promovam a progressiva realização do direito humano à
alimentação para todos, definindo claramente metas, prazos, indicadores, e recursos
alocados para este fim.
As ações voltadas a garantir a SAN dão conseqüência prática ao direito humano à
alimentação e nutrição adequadas, extrapolando, portanto, o setor saúde e alcançando
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também um caráter intersetorial na perspectiva aliada da promoção da saúde das
populações.
Neste contexto, a premissa básica para o alcance da SAN é a intersetorialidade.
Enquanto diferentes setores de governo, nas três esferas de governo , e da sociedade
civil agirem isoladamente não termos a possibilidade de construir e operar uma Política
Nacional de SAN. Somente a intersetorialidade pode garantir a ação coordenada e
articulada de programas, projetos e políticas existentes em cada setor envolvido nesta
temática, com utilização de recursos orçamentários e financeiros adequados de modo
mais eficiente, direcionando as ações que obedeçam a uma escala de prioridades
estabelecidas em conjunto com o objetivo central da SAN.
A II Conferencia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (II CNSAN)
(CONSEA,2004) ocorrida, em Olinda-Pe, em março de 2004 com 1300 delegados de todas
as regiões do pais, representando a sociedade civil organizada, governo, sociedades
científicas e comunidade acadêmica (universidades), revelou em seu relatório final um
aspecto importante relativo ao entendimento do que é alimentação saudável no
contexto da SAN ao considerar a obesidade juntamente como a desnutrição como
manifestações de (In)segurança Alimentar e Nutricional.
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uma política de saúde integrada às demais políticas sociais e econômicas, e garanta a
sua efetivação e a universalidade do acesso da população às condições mínimas de vida
digna e bem-estar.
Diretrizes como estas nos conduzem inexoravelmente ao desafio da promoção da
saúde, integrando o processo de inovações que operam uma ampla reforma setorial,
pautada pela universalização do direito à saúde, democratização e descentralização do
sistema de saúde . Tanto que a Carta de Ottawa (1986) declara que a promoção da
saúde consiste “... em proporcionar aos povos os meios necessários para melhorar sua
saúde e exercer um maior controle sobre a mesma. Na concepção holística adotada,
para alcançar um estado adequado de bem estar físico, mental e social, um grupo deve
ser capaz de identificar e realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar
ou adaptar-se ao meio ambiente” (BRASIL, 2001).
A promoção da saúde, é um conceito amplo e abrangente que se diferencia com
uma tênue linha divisória do conceito de prevenção de doenças. A promoção da saúde
procura identificar e enfrentar os macro-determinantes do processo saúde - doença, no
qual insere-se a promoção da alimentação saudável, e busca transformá-los
favoravelmente no sentido da saúde. Já a prevenção de doenças busca que os
indivíduos não sejam acometidos por estas, contudo como saúde não pode ser resumida
apenas à ausência de doenças, pessoas potencialmente em risco de desenvolver uma
determinada doença, como as crônico não transmissíveis, por exemplo, poderiam
investir em melhorar sua capacidade funcional, ampliar suas sensações de bem estar e
desenvolvimento individual (e coletivo) na perspectiva ampliada da promoção antes da
prevenção. Para a prevenção, evitar a doença é um fim em si mesmo enquanto que
para a promoção o objetivo contínuo e permanente é alcançar um adequado nível de
vida, em toda a sua complexidade (CZERESNIA, 2003).
No âmbito deste conceito, promover a saúde é atuar para modificar os
determinantes do processo saúde / doença da população e da comunidade. Isto
significa o compromisso de: (1) melhorar as condições sócio-econômicas dos
segmentos populacionais mais carentes; (2) promover a mobilização da comunidade
para a construção de um projeto de vida saudável no qual a (3) convivência com o
meio ambiente seja integrada, harmoniosa e sustentável e (4) responsabilizar os
gestores em saúde e de outros setores para com a saúde da população. Estas diretrizes
apontam a necessidade de elaboração de políticas públicas saudáveis; a criação de
meio ambientes que protejam a saúde; o fortalecimento de ações comunitárias; o
desenvolvimento de habilidades pessoais; e a reorientação do modelo de atenção e
conseqüentemente dos serviços de saúde. É, enfim, uma maneira de pensar e agir em
saúde de forma integrada e multidisciplinar. Com isto o conceito de saúde amplia-se e
torna-se um recurso fundamental para o desenvolvimento social, econômico e subjetivo,
saindo do lugar de objetivo para o de recurso para a vida cotidiana (BRASIL, 2001).
No Brasil, o Ministério da Saúde vem trabalhando em vários espaços de discussão
com outros ministérios, demais níveis de gestão do sistema de saúde e instituições de
ensino e pesquisa, o processo para a construção de uma Política Nacional de Promoção
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da Saúde, a qual tem a alimentação e nutrição como uma das linhas de cuidado a ser
abordado na perspectiva de modos de viver mais saudáveis.
Nesse sentido, a promoção da saúde apresenta-se como um caminho para o
fortalecimento e a implantação de uma política transversal, integrada e intersetorial, que
fomente o dialogo do setor saúde com os outros setores do governo e da sociedade,
compondo assim redes de co-responsabilidade quanto à qualidade de vida da população
em que todos sejam partícipes no cuidado com a vida.
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alimentos adquiridos pelas famílias brasileiras confirmam o aumento da participação na
alimentação de gorduras em geral, gorduras de origem animal e açúcar e diminuição
com relação a cereais, leguminosas e frutas, verduras e legumes. Associadas ao
sedentarismo, essas tendências podem explicar as taxas de prevalência de excesso de
peso e da obesidade entre adultos. Além disso, ressalta-se o aumento da participação
de alimentos industrializados e o fato que quase um quarto (24%) da despesa média
mensal familiar com alimentação destina-se a refeições fora de casa (BRASIL,2004).
Essas evidências também comprovam que a insegurança alimentar e nutricional no
Brasil tem duas faces: àquela associada à negação do direito humano à alimentação
adequada e àquela resultante da alimentação inadequada, que não confere à população
uma alimentação saudável. Pessoas com excesso de peso ou obesidade são pessoas
expostas ao consumo inadequado de alimentos; entre os mais pobres, alimentos com
alta densidade energética têm substituído alimentos tradicionais mais saudáveis (como o
tradicional feijão com arroz): exemplo claro é o consumo elevado de alimentos com
excesso de açúcar como refrigerantes e alimentos com alto teor de sal e gordura como
salgadinhos, fast foods e outros alimentos industrializados de preparo – rápido.
Em um país como o Brasil, onde a desigualdade social e regional é imensa, a
garantia da segurança alimentar e nutricional pressupõe a necessidade de um modelo
de atenção à saúde, no âmbito do SUS, que integre as duas faces da insegurança
alimentar e nutricional da população: a desnutrição e outras carências nutricionais de
um lado, e do outro, o sobrepeso/obesidade e as doenças crônicas não transmissíveis
associadas.
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Para o alcance deste propósito foram definidas como diretrizes: o estímulo às
ações intersetoriais com vistas ao acesso universal aos alimentos; a garantia da
segurança e da qualidade dos alimentos e da prestação de serviços neste contexto; o
monitoramento da situação alimentar e nutricional; a promoção de práticas alimentares
e estilos de vida saudáveis; a prevenção e controle dos distúrbios nutricionais e de
doenças associadas à alimentação e nutrição; a promoção do desenvolvimento de linhas
de investigação; e o desenvolvimento e capacitação de recursos humanos.
O conceito de alimentação saudável permeia todas as diretrizes e ações proposta
na PNAN. Entende-se que seu desafio principal é exatamente a garantia de acesso de
todos os brasileiros a uma alimentação saudável enquanto direito humano e medida de
promoção da saúde no contexto da segurança alimentar e nutricional.
A promoção de uma alimentação saudável, de um modo geral, deve prever um
escopo amplo de ações que apóiem as pessoas em todas as fases do curso da vida,
desde o início da formação do hábito alimentar, isto é, do nascimento a velhice. É
importante favorecer o deslocamento do consumo de alimentos pouco saudáveis para
alimentos mais saudáveis, respeitando as identidades sócio antropológicas e culturais da
alimentação dos grupos sociais.
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em políticas publicas de todos os setores que tem interface com esta questão como
agricultura, desenvolvimento agrário e educação. Esta perspectiva pode representar a
tomada de decisão do Estado no sentido de conquista da SAN e da soberania alimentar
e para tal precisa de ações concretas com recursos orçamentários e financeiros que
garantam sua implementação.
O atual cenário epidemiológico e nutricional demanda às políticas públicas
(especialmente de promoção da saúde e de segurança alimentar e nutricional) o desafio
de conciliar essas duas faces da insegurança alimentar e nutricional. Isso implica na
responsabilidade do Estado, e da sociedade como um todo, de fomentar ambientes
saudáveis, promovendo a alimentação saudável e a atividade física – elementos
indissociáveis para a manutenção da saúde, e, portanto, de modos de vida saudáveis
em todas as fases do curso da vida. O acesso a uma alimentação saudável deve ser
promovido também no âmbito de programas de transferência de renda (Programa
Bolsa Família, por exemplo), associando, aos recursos transferidos para as famílias,
ações de saúde e de educação nutricional de tal forma a conciliar acesso a alimentos e a
informações que possibilitem às famílias a escolha e aquisição de alimentos mais
saudáveis - direito que lhes assiste enquanto seres humanos.
No setor saúde, onde reside o “modus operandi” da PNAN, se analisarmos o relatório
da XII Conferência Nacional de Saúde (BRASIL,2003) e do Plano Nacional de Saúde
(BRASIL, 2004) que são instrumentos recentes e chaves do processo político de formação
da agenda do setor saúde, alguns aspectos são evidenciados. A Conferência, legitimada
no SUS, reflete as demandas da sociedade exercendo um papel de pressão perante o
Estado para a formulação de programas, projetos e políticas. Ambos documentos
aprovados pelo Conselho Nacional de Saúde trazem as questões de alimentação e
nutrição de forma fragmentada e pontual, revelando uma desarticulação e pouca força
política desta discussão na sociedade civil e junto aos profissionais de saúde. No
relatório da XII CNS (BRASIL, 2003) as questões temáticas elencadas são de caráter
assistencialista como a “distribuição de multimistura nos postos de saúde da atenção
básica” ; .. e a “reedição do programa do leite...”. Na parte de educação em saúde foi
destacada ainda, a necessidade da inclusão do tema alimentação saudável nos
currículos do ensino básico.
Também é nítida a confusão que existe entre o conceito segurança alimentar e
nutricional e alimentação e nutrição, pois em várias citações estes são considerados
como sinônimos e com objetivos semelhantes que se sobrepõem (BRASIL,2003). O Plano
Nacional de Saúde (BRASIL, 2004) reconhece as ações de alimentação e nutrição
vinculadas ao combate à fome, enquanto apoio ao Programa Fome Zero, contudo não a
referencia como uma pratica de promoção e atenção à saúde no cotidiano dos serviços
de saúde do SUS. As ações ainda referidas são as relacionadas à assistência junto ao
pré-natal e crescimento e desenvolvimento de crianças com a suplementação
medicamentosa de micronutrientes como ferro e Vitamina A.
O papel do setor saúde precisa ser mais bem esclarecido frente às demandas da
temática Segurança Alimentar e nutricional . Mesmo os profissionais de saúde precisam
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ter uma compreensão mais qualificada da proposta pois cada setor precisa assumir seu
papel neste campo de atuação. A SAN não pode ficar restrita a uma política de governo
porque precisa ter mecanismos institucionais que garantam a articulação necessária a
sua instituição de maneira permanente como política publica , de Estado brasileiro.
Se entendermos o conceito de promoção da saúde, que assume a alimentação
saudável como um dos fatores determinantes da saúde, e a saúde enquanto um
conceito positivo, determinado pela interação de fatores diversos, como sociais,
culturais, ecológicos, psicológicos, econômicos e religiosos, fica claro as similaridades
entre os conceitos analisados : promoção da saúde e segurança alimentar e nutricional.
A alimentação saudável, aproxima o diálogo entre os dois conceitos pois além de ser o
objeto principal da Segurança Alimentar e Nutricional compõe-se com uma das ações
estratégicas da promoção da saúde. Nesta análise, os fatores determinantes da saúde
também vão influenciar na condição de segurança alimentar e nutricional dos indivíduos
e grupos sociais. E assim, este conceito abrangente de saúde, que se apóia nos recursos
sociais e coletivos, e não somente na capacidade física ou condição biológica dos
sujeitos, individualmente, se concretiza mediante a garantia da segurança alimentar e
nutricional.
Se a intersetorialidade, é um componente estratégico para tornar possível a
promoção da saúde no contexto da segurança alimentar e nutricional,a alimentação
saudável é uma “zona de intersecção” oportuna para aproximar e subsidiar este
diálogo. A PNAN tem ações e diretrizes, legitimas e consistentes, que podem,
efetivamente, impulsionar a inclusão das abordagens aqui debatidas nas políticas
publicas setoriais, na perspectiva da construção de um modelo adequado de
desenvolvimento humano e social (e não só econômico) para a nação brasileira.
Do ponto de vista político, estudiosos em análises sobre a gestão do atual
governo federal (2003 – 2006), fazem algumas críticas frente ao modelo de
desenvolvimento adotado o qual têm sacrificado políticas sociais importantes em
detrimento da “estabilidade do mercado” e economia nacional. De acordo com o
sociólogo Chico de Oliveira (2005) “a política brasileira foi colonizada pela economia”.
Na tentativa de “descolonizar” a pauta política, a adoção e a efetivação de mecanismos
institucionais (com destinação orçamentária condizente a priorização do tema) que
garantam a inclusão permanente da SAN na agenda publica pode tornar-se um
proveitoso caminho para que este governo, historicamente comprometido com as
causas sociais, estimule a implementação de ações aliada à retomada do debate de
cunho político junto aos movimentos populares e sociedade civil como um todo no
Brasil.
O compromisso de construção de um projeto de nação que vise desenvolvimento
social (com ênfase na garantia da equidade e diminuição das desigualdades sociais)
deve ser resgatado, no plano das políticas publicas. Para este enfrentamento é preciso
coragem de dizer não as estratégias neoliberais e fazer opções que, a médio e longo
prazo, resgatem a soberania nacional, e assim promovam e sustentem, em nível
permanente, condições de vida e saúde adequadas para a população brasileira.
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