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INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO

ALIMENTAR E NUTRICIONAL
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

 Educação Alimentar e Nutricional é um campo de conhecimento

 Transdisciplinar, multissetorial e multiprofissional

 Interdependência de fatores

 Muitas áreas do saber estão articuladas para produção desse


conhecimento

 Estimular a reflexão sobre escolhas alimentares saudáveis  lidar


com o sociocultural, o biológico e o ambiental.
BRASIL, 2018
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Educação Alimentar e Nutricional (EAN) é um campo de


conhecimento e de prática contínua e permanente, transdisciplinar,
intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática
autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis, no
contexto da realização do Direito Humano à Alimentação Adequada
e da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional.

http://mds.gov.br/assuntos/seguranca-alimentar/alimentacao-saudavel/educacao-alimentar-e-nutricional
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

A falta crônica de alimentos suficientes foi, ao longo de nossa


história, considerada inerente a uma “inevitável” desigualdade
social, mas a fome é, na realidade, uma prova cabal de que as
organizações sociais se encontram incapazes de satisfazer a mais
fundamental das necessidades humanas – a necessidade de
alimento. A efetiva conquista da Segurança Alimentar e
Nutricional (SAN) nos incita a pensar o que e como deve ser
ensinado às novas gerações para transformar a nossa sociedade em
uma sociedade livre da tragédia da fome estrutural, rompendo a
disjunção existente entre aqueles que ainda não dispõem de
alimentos suficientes e aqueles que jamais se viram ou se
imaginaram na contingência de não ter o que comer.
SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Realização do direito de todos ao acesso REGULAR e


PERMANENTE a alimentos de QUALIDADE, em
QUANTIDADE suficiente, SEM COMPROMETER o acesso a
outras NECESSIDADES ESSENCIAIS, tendo como base
práticas alimentares promotoras de saúde que RESPEITEM A
DIVERSIDADE cultural e que sejam ambiental, cultural,
econômica e socialmente sustentáveis”.
(Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006)
SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO
ADEQUADA

Incluído na Constituição Federal em 2010

“O direito à alimentação adequada é um direito humano INERENTE


a todas as pessoas de ter acesso REGULAR, PERMANENTE e
IRRESTRITO, quer diretamente ou por meio de aquisições
financeiras, a ALIMENTOS SEGUROS E SAUDÁVEIS, em
quantidade e qualidade adequadas e suficientes, correspondentes às
tradições culturais do seu povo e que garanta uma vida livre do medo,
digna e plena nas dimensões física e mental, individual e coletiva”

ONU, 2002.
DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO
ADEQUADA

Assim como todos os outros Direitos Humanos,


o DHAA é universal, indivisível, inalienável,
interdependente e inter-relacionado em sua
realização.
DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA

Universal  se aplica a todos os seres humanos independentemente


do sexo e da opção sexual, da idade, de origem étnica, da cor da pele,
de religião, de opção política, da condição social;

Inalienável  não podem ser tirados por outros, nem podem ser
cedidos voluntariamente por ninguém, nem precisam de nenhuma
condição para serem garantidos.

Indivisível  satisfação de um não pode ser usada como justificativa


para prescindir da satisfação de outro (por exemplo, escravidão)

Interdependente e inter-relacionado  a realização de um requer a


garantia do exercício dos demais. Por exemplo: não há saúde sem
alimentação adequada e saudável
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Compreender a alimentação adequada e saudável como


um direito humano básico atrelado a SAN estabelece um
campo muito mais amplo de ação para a EAN do que
aquele tradicionalmente restrito às dimensões biológicas e
do consumo alimentar.

BRASIL, 2018
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL
Representações acerca da conceituação de Educação Alimentar e Nutricional

BRASIL, 2018
O QUE COMER?
A matéria prima da EAN é a alimentação adequada e saudável

Precisamos pensar:

 Por que comemos o que comemos?

 Como aquele alimento chegou ali no nosso prato?

 Quem produziu?

 Como e onde produziu?

Estimular uma REFLEXÃO sobre as práticas alimentares cotidianas


com a intenção de promover a prática AUTÔNOMA e voluntária de
hábitos alimentares saudáveis. BRASIL, 2018; Diez-Garcia, 2017
O QUE COMER?

 O ato de comer é algo muito mais amplo que ingerir nutrientes.

 A alimentação é sim um ato biológico; mas, ao mesmo tempo, é


também cultural, ecológico (etapas do sistema alimentar) e
político (permeado por interesses privados e campo de disputa).

 Normas sociais definem o que comer, como e a que hora, o ritual


daquela refeição, os procedimentos necessários, as companhias...

 Mudanças alimentares devem ser sempre contextualizadas e


adaptadas a normas e rotinas de vida para melhor adesão.

BRASIL, 2018; Diez-Garcia, 2017


O QUE COMER?

Uma simples escolha


alimentar traz implicações
e responsabilidades que
vão além dos limites de um
prato, de um domicílio ou
de um país; têm
consequências ambientais
que podem comprometer
futuras gerações.

Diez-Garcia, 2017
DEFINIÇÕES DOS ASPECTOS ALIMENTARES E NUTRICIONAIS

Alvarenga, 2017
MUDANÇAS ALIMENTARES

Objetivos da EAN:

 Assegurar a SAN e o DHAA

 Valorizar a Cultura alimentar

 Incentivar a sustentabilidade

 Assegurar autonomia nas escolhas alimentares


MUDANÇAS ALIMENTARES

Compreender os mecanismos de mudanças alimentares em suas


diversas expressões é fundamental para subsidiar intervenções
na área de Educação Alimentar e Nutricional (EAN).

 Mudanças alimentares estruturais

 Mudanças alimentares voluntárias

Diez-Garcia, 2017
MUDANÇAS ALIMENTARES

Mudanças alimentares estruturais são decorrentes do cenário


socioeconômico e cultural são incorporadas com mais facilidade e
são menos discerníveis e incluem:

 Industrialização

 Globalização

 Publicidade

 Necessidades geradas pela vida urbana

Diez-Garcia, 2017
MUDANÇAS ALIMENTARES
Mudanças alimentares decorrentes do cenário socioeconômico e cultural

Diez-Garcia, 2017
MUDANÇAS ALIMENTARES
 Mudanças alimentares voluntárias  dependem de um empenho
pessoal em que o sujeito, por seu livre arbítrio, mudará sua
alimentação por motivos:

 Estéticos
 Terapêuticos
 Ideológicos

São mais difíceis de serem incorporadas, mais lábeis, por não se


ajustarem a situações sociais usuais, o que pode levar a dificuldades
por não se ajustarem às instâncias de convívio social que não
proporcionam as condições de viabilização dessas práticas
alimentares.
Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

As experiências documentadas sobre iniciativas na área de


Educação Alimentar, como era chamada na época, aconteceram no
eixo Rio-São Paulo nas décadas dos anos 1920, 1930 e 1940.

 1920  Cartilha de Higiene de Antonio Ferreira de Almeida Jr.

Um dos itens da Cartilha de Higiene intitulava-se “a boa


alimentação” e ensinava o que se devia, ou não, comer, com farto
uso de ilustrações e nível de linguagem textual acessível a crianças
em fase de alfabetização.

Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

Na categoria da “boa alimentação”, as crianças encontravam o


seguinte inventário: feijão e arroz bem cozidos/verduras e frutas
maduras/pão de trigo, de centeio, de milho/carne, só uma vez por
dia/leite, manteiga, ovos, queijo/peixe muito fresco/alimentos duros
que deem trabalho aos dentes: crosta de pão, frutas, nozes.

Na sequência, a lista do que deviam evitar: comer muito/comer


depressa, sem mastigar, comer estando cansado ou agitado/abusar
da carne ou dos ovos/comer frutas verdes/comer alimentos muito
engordurados/usar pimenta e outros temperos fortes/comer ou beber
cousas muito quentes ou geladas

Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL
1939  Pompêo do Amaral fundou a Escola Municipal de Dietistas
e criou os cursos de “Dietética para Donas de Casa” e de
“Auxiliares em Alimentação” no município de São Paulo

Com as “auxiliares de alimentação”, que deste curso sairão, a


Superintendência do Ensino Profissional poderá aperfeiçoar o ensino
nos cursos de vulgarização dos conhecimentos de alimentos que
mantém e multiplical-os. [...] Com “auxiliares de alimentação”,
poderemos realizar ainda outros empreendimentos de alta finalidade
educativa, em favor da racionalização alimentar, os quaes exigem
pessoal habilitado. [...] Num paiz, onde a desnutrição da população é
caracter dominante, urge providenciar, quanto antes que sejam
attendidos os direitos phisyologicos e vitaes do indivíduo, os quaes
condicionam a saúde da collectividade.
Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL
1939  Geraldo Horácio de Paula Souza
Criou o curso de Formação de Nutricionistas, no então Instituto de
Hygiene. Ele também desenvolvia ações educativas nos jornais e no
rádio.

1940  Foi criado o Serviço de Alimentação da Previdência Social


(SAPS), primeiro órgão de política alimentar no Brasil, que, entre
outros objetivos, visava à formação de uma consciência
familiarizada com os aspectos e problemas da alimentação.

Simultaneamente, foi criado o Serviço Central de Alimentação, um


restaurante popular, localizado no centro do Rio de Janeiro, que
oferecia alimentação saudável a baixo custo e distribuía boletins
com mensagens educativas aos usuários.
Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL
1943  Cursos de Visitadoras de Alimentação  Cruzada
Educativa de Alimentação

 Alimentação insuficiente e de má qualidade ser um problema


social era novidade nesta época
 Até então, prevalecia a doutrina racial, que explicava a
desnutrição como um traço de fraqueza racial.

[...] foi da constatação de que as classes pobres padeciam de subalimentação


quantitativa global (fome), enquanto as classes ricas também se alimentavam
mal e se situavam no limiar da subalimentação qualitativa, que se afirmou a
ignorância como categoria justificadora da Educação Alimentar. [...] se o
trabalhador se alimentava mal por pobreza e ignorância, as pessoas abastadas
também não sabiam comer. A fome e a subalimentação eram essencialmente uma
patologia social.
Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

As ações de Educação Alimentar foram lideradas por médicos que


acreditavam que seu saber comunicado às massas poderia reverter o
quadro de desnutrição que assolava o país, e as ações de
intervenção foram implementadas por profissionais formados pelos
primeiros cursos de Nutrição

As ações desenvolvidas há quase 70 anos visavam a uma população


cuja taxa de analfabetismo chegava a 50% e o número de
instituições e sujeitos alcançados pelos programas era, portanto,
muito pequeno.

Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

Resumidamente, a Educação Alimentar na época caracterizou-se


por:

 Ter sido uma iniciativa de médicos, que eram também


intelectuais ligados à administração pública.

 Ter sido fortemente influenciada pela política do Estado Novo.

 Ser pautada na crença de que o problema da subalimentação era


causado pela ignorância.

 Valer-se de matéria escrita em jornais e cartilhas, do rádio, da


visitação domiciliar, de ações em escolas e em restaurantes
populares.
Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

PÓS-GUERRA  os anos 1950 e 1960

 Grande disponibilidade de cereais, decorrente do incremento da


produtividade agrícola alcançado por intermédio da chamada revolução
verde

 EUA  programas de ajuda alimentar internacional  produtos agrícolas


eram enviados a países em desenvolvimento, entre eles o Brasil.

 Eram enviados produtos produzidos nos EUA, que não faziam parte do
padrão alimentar dos povos dos países aos quais eram destinados.

 Com isso, pretendia-se criar um hábito de maneira tal que, quando essa
“ajuda” cessasse, a população desses países constituísse um mercado
externo consumidor daquele produto e passasse a importador
Diez-Garcia, 2017
1950 -1970
REVOLUÇÃ
O
VERDE
Modernização do setor agrícola,
principalmente em países em
desenvolvimento, capitaneada pelas
inovações da indústria química

“o flagelo da fome e da desnutrição no


mundo desapareceria com o aumento
significativo da produção agrícola, o que
estaria assegurado com o emprego
maciço de insumos químicos (fertilizantes
e agrotóxicos)”
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL
A Educação Alimentar foi chamada a intervir, visando induzir a população a
consumir não aquilo que desejava ou que mais precisava, mas aquilo que
legitimaria o recebimento dessa ajuda externa, na qual se incluía, por exemplo,
a soja, alimento estranho à cultura alimentar dos brasileiros

1955  foi criada a Campanha Nacional de Merenda Escolar que, em 1979,


transformou-se no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o qual
tem, entre outros objetivos, o de promover a formação de hábitos alimentares
saudáveis por ações de EAN.

Resumidamente, a Educação Alimentar na época caracterizou-se por:


 Pautar-se sobre interesses econômicos, alguns deles externos ao Brasil.
 Apresentar-se deslocada do campo da saúde e visar principalmente aos
escolares e trabalhadores.
 Subestimar a influência da cultura e das preferências alimentares no resultado
das ações educativas.
Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

Anos 1970 e 1980  um novo foco para o problema alimentar: a renda

O Estudo Nacional de Despesa Familiar (Endef), realizado em 1974/1975 pelo


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o problema
alimentar mais impactante no Brasil era de ordem quantitativa, isto é, faltavam
calorias na dieta, o que caracterizava a insuficiência alimentar decorrente da
baixa renda e não da falta de informação.

Assim, o pressuposto de que o consumo inadequado de alimentos era devido à


falta de conhecimentos, ideia que até então norteara as ações de Educação
Alimentar pelo binômio alimentação/educação, foi substituído por outro, de que
o problema alimentar era gerado exclusivamente pelo baixo poder aquisitivo,
fazendo com que o princípio orientador das políticas passasse a ser o binômio
alimentação/renda.
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

1975  Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN)


Tinha por missão formular uma política de alimentação e nutrição. As medidas
adotadas privilegiaram a suplementação alimentar, a racionalização do sistema
produtor de alimentos e o combate a carências nutricionais específicas.

Resumidamente, a educação nutricional na época caracterizou-se por:


 Tornar-se alvo de intenso debate político-ideológico.
 Começar a ser objeto de pesquisas e publicações científicas principalmente no
exterior.
 Deixar de ser referida como “Educação Alimentar” para ser “Educação
Nutricional”.
 Ser suprimida das políticas e programas governamentais em virtude de se
considerar que o consumo era apenas uma função da renda e que a Educação
Alimentar, além de inútil, era invasiva e não ética.

Diez-Garcia, 2017
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

 Anos 1990  novas demandas  Emergência de um fenômeno


novo: a obesidade

 Crescimento da incidência de doenças crônicas não transmissíveis,


que exigem modificações dietéticas, as quais, por sua vez,
demandam um tipo de atenção profissional específica que se faz por
intermédio da ação educativa.

 Contudo os nutricionistas percebiam-se despreparados para essa


atuação porque a bagagem teórica que traziam da graduação era
restrita  pesquisadores quantitativistas

 Não havia disciplinas específicas nos cursos de pós-graduação e


poucos docentes aceitavam orientar trabalhos nessa área
HISTÓRICO DA EAN NO BRASIL

Novo patamar de ação  educação alimentar e nutricional nas políticas


públicas

A partir de 2003 as ações relacionadas com a SAN foram colocadas no


centro da política, com a instauração do Programa Fome Zero.

O fato mais relevante deste período foi a publicação, em 2012, do Marco


de Referência de EAN29 para as Políticas Públicas, que veio com a
missão específica de:
[...] promover um campo comum de reflexão e orientação da prática, no
conjunto de iniciativas de Educação Alimentar e Nutricional que tenham
origem, principalmente, na ação pública, e que contemple os diversos
setores vinculados ao processo de produção, distribuição, abastecimento e
consumo de alimentos.
MUDANÇAS ALIMENTARES
Os problemas alimentares ao longo da história orientaram
diferentes abordagens da educação nutricional.
Os conhecimentos em educação alimentar e nutricional são úteis e
aplicáveis em todas essas áreas de atuação o nutricionista
REFERÊNCIAS

Alvarenga, Marle (2009-12-31T22:58:59). Nutrição e Transtornos Alimentares:


Avaliação e Tratamento (Guias de Nutrição e Alimentação) (p. 22).

Alvarenga, Marle ... [et al.].. Nutrição comportamental 2a ed.

Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Marco de


referência de educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. Brasília:
MDS; 2012

DIEZ GARCIA, Rosa Wanda; CERVATO-MANCUSO, Ana Maria. Mudanças


alimentares e educação alimentar e nutricional. 2017.

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