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Factores que afectam

a
Segurança Nutricional

ESAN- Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional


FAO- Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação
ISCISA - Instituto Superior de Ciências de Saúde
PASAN- Plano de Acção de Segurança Alimentar e Nutricional
SAN – Segurança Alimentar e Nutricional
SETSAN - Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional POR ISAIAS COMATIPORTE
1 Introdução
A Segurança Alimentar e Nutricional é objectivo estratégico e
permanente de políticas públicas orientadas pelos princípios do Direito
Humano à Alimentação adequada e da Soberania Alimentar.(Costa,
Silva, Braga & Lírio, 2013).
A S.A, depende das condições de disponibilidade, acesso, utilização e
estabilidade dos alimentos e de intervenção sobre os recursos,
patrimónios/capital nas suas cinco formas:
 Económico- financeiro, físico ou infra-estrutural, humano, social e
natural.
Evolução histórica do conceito de SAN em âmbito internacional
O conceito de SAN é um conceito em permanente construção.
A questão alimentar e nutricional está relacionada com diferentes
interesses e diversos aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos.
 Sua concepção ainda é assunto debatido por variados segmentos da
sociedade mundial.

Durante a 1a GM (1914-1918), o termo segurança alimentar passou a


ser utilizado na Europa.
O conceito ganha força a partir da 2 a GM (1939-1945) com ONU.
Cnt.
Cnt..
.
A evolução conceitual ocorre tanto em âmbito internacional quanto
nacional e caracteriza-se como um processo contínuo que acompanha
as diferentes necessidades de cada povo e de cada época (Leão, 2013).

Aspecto territorial da SAN


A agricultura em Moçambique, desempenha um papel muito
importante, se refere a SAN, não só como fonte (e diversificação) de
alimentos;
Também como fonte de emprego e auto emprego proporcionando a
geração de renda às populações rurais (SETSAN, 2014).
Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial e Plano de
Acção (FAO, 1996). Afirma que:
A SAN refere-se a realização do direito de todas as pessoas ao acesso
físico e económico, sustentável e a todo o momento, a uma quantidade
suficiente de alimentos adequados, inofensivos, nutritivos e aceitáveis
no contexto cultural determinado, para satisfazer as necessidades e
preferências alimentares, a fim de levar uma vida activa e saudável.

E ainda, ressalta-se nesse contexto a característica multidimensional do processo,


que envolve toda a cadeia alimentar….
Cnt.
. Conforme Gubert, Benício e Santos, (2010) citado pelo Costa et al., (2013)
sendo a segurança alimentar determinada por factores que vão desde:

1 aos
• A produção alimentos • Própria
• distribuição • acesso escolha Assim, os mesmos
econômico alimentar citado pelo Costa et al.
possibilidade • de acesso físico componentes
culturais (2013), afirma que
Fonte: Adaptado por IIIG, baseado em citações.

a segurança alimentar de um domicílio, bem como a segurança


nutricional individual, depende de fatores locais, regionais, nacionais
e globais.
Elementos conceituais da SAN
De acordo com Leão, (2013) a S.A é um importante mecanismo para a
garantia da segurança nutricional, mas não é capaz de dar conta por si
só de toda sua dimensão.
Consideram-se dois elementos distintos e complementares.
A dimensão alimentar refere-se à produção e disponibilidade de
alimentos, que devem ser:
 Suficientes e adequadas para atender a demanda da população, em
termos de quantidade e qualidade;
 Estáveis e continuadas para garantir a oferta permanente,
neutralizando as flutuações sazonais.
Cnt.
. A dimensão nutricional incorpora as relações entre o ser humano e o alimento,
implicando em:
 Disponibilidade de alimentos saudáveis;
 Consumo alimentar adequado e saudável para cada fase do ciclo da vida;
 Boas oportunidades para o desenvolvimento pessoal e social no local em que
se vive e se trabalha.

A vulnerabilidade
Pode ser definida como o resultado negativo da insegurança alimentar.
É o resultado de um acumular de determinadas situações ao longo do tempo.
 Dificuldade de acesso aos alimentos saudáveis e nutritivos ficam mais
vulneráveis a problemas de saúde →insegurança alimentar.
Insegurança alimentar (IA)
I.A: é a falta de disponibilidade e o acesso das pessoas aos alimentos.

I.A. Crónica =quando ocorre de forma continuada no tempo em


decorrência de situações de extrema pobreza e completa incapacidade
de acesso aos alimentos.
I.A. Aguda/transitória – (quando ocorre por um curto período de
tempo em decorrência,
Por ex: secas e inundações ou de outros problemas sociais, políticos
ou económicos como conflitos, guerras, etc.).
causas de insegurança alimentar
Entre as principais causas encontram-se :
 A dificuldade de acesso a alimentos, quer por via das restrições de renda quer
pela indisponibilidade de alimentos.
 a pobreza é frequentemente apontada como a principal causa da insegurança
alimentar e da fome porque determina um acesso insuficiente aos alimentos
devido ao baixo rendimento familiar associado.

Há outras situações que podem aumentar a vulnerabilidade como por exemplo as


situações de guerras ou conflito.
Principais riscos e seus impactos potenciais na segurança alimentar e nutricional
Tipos de Riscos Disponibilidade Acesso Utilização
Riscos Económicos Capacidade reduzida de Rendimentos e riqueza Despesas públicas na saúde
Crise financeira, importação reduzida Crescimento em declínio
choques relacionados Alterações nos incentivos à económico reduzido
com o comércio produção

Riscos naturais Produtividade de terras Aumento da variabilidade Aumento de doenças


Alterações climáticas cultivadas em queda dos rendimentos relacionadas com a água
globais

Riscos políticos Menor produção; Aumento Poder de compra reduzido Ruptura do sistema de
Conflitos civis, guerra dos custos de transacção; (preço, rendimentos) saúde
Componentes da abordagem SAN
A abordagem integrada de SAN permite visualizar a importância das
interligações dos diferentes componentes da cadeia alimentar, os quais
influenciam a situação nutricional.

As principais componentes integrada da SAN são as seguintes:


 O ambiente sócio- economico, político do País;
 A disponibilidade e acesso aos alimentos;
 As condições de saúde e salubridade do meio;
 A protecção e políticas de cuidado; e
 O consumo alimentar e a utilização do alimento pelo corpo .
Cnt.
.
Situação actual e tendências de insegurança alimentar
no País
As cinco dimensões de pobreza e bem-estar que são mais inclusivos
que as formas de vida são constituídos por:
Capital Financeiro
Capital Físico
Os níveis elevados de bem-estar são encontrados na
Capital Humano região sul e significativamente baixos na região norte-
Capital Natural centro (Tete, Cabo Delgado, Niassa e Nampula)
Capital Social (SETSAN, 2007).
Cnt.
. De acordo com Timmer, Falcon e Pearson (1983), citado por Costa el al. (2013)
o conhecimento dos factores que afectam o padrão de consumo de alimentos da
população é de suma importância para o estabelecimento de programas e
políticas públicas de enfrentamento dos problemas alimentares da sociedade.

Agregados Familiares com Formas de Vida mais Pobres e Não


Diversificados
A diversificação de formas de vida aumenta a possibilidade de recuperação de
choques. Os níveis mais baixos de diversificação na produção e na fonte de
renda são vistos em produtores comerciais de larga escala, e nos formas de vida
vulneráveis.
Cnt.
. formas de vida vulneráveis - AGF:
Trabalhador de baixa renda
São agregados familiares que confiam principalmente no trabalho
informal fornecido pelos produtores de subsistência de baixa
produção.
Estes concentram algum esforço no cultivo de culturas de subsistência
para o auto-consumo.
Caracterizam-se por muito baixo acesso a capitais produtivos (ex:
terra e animais).
Este grupo representa cerca de 8% da população rural de
Moçambique.
Cnt.
. Agregados familiares Marginais
Os agregados familiares que vivem eternamente no “limite”, tem
muito pouco acesso a todos os tipos de recursos.

Eles têm a taxa de dependência mais elevada, maior proporção de


agregados liderados por mulheres (mais de 40%), e muitos agregados
liderados por velhos (quase 25%).

Zambézia, Tete, e Inhambane com 10 a 20%.


Nampula (20-30%).
Agregados Familiares com qualidade de dieta pobre
Apenas metade dos Moçambicanos têm uma dieta alimentar
adequada.
Os agregados familiares em Tete, Manica e Inhambane tem a pior
adequação enquanto que Zambézia e Sofala a melhor.

Agregados familiares marginais e famílias com renda de trabalho


baixa representam os grupos com os piores níveis de adequação da
dieta.
O impacto da expansão do HIV/SIDA na nutrição e na
insegurança alimentar
A epidemia do HIV/SIDA tem um impacto multi-sectorial na medida
em que ameaça o nível do estágio alcançado no progresso do
desenvolvimento de redução da pobreza em
Moçambique.
Principais causas destacada Orientação Estratégica
 Causas Imediatas  Principais desafios
 Causas Adjacentes  Princípios básicos
 Causas Básicas  Pilares estratégicas.
1) Causas Imediatas
 Baixa disponibilidade de alimentos ao nível dos agregados
familiares;
 Desastres naturais (secas recorrentes, cheias, ciclones) afectando
10% da população
 Limitado poder de compra dos agregados familiares.
2) Causas Adjacentes
Acesso limitado aos alimentos; Fraco poder de compra, acesso físico
deficitário ao mercado nas zonas remotas.
Altos custos de transporte das zonas excedentárias para deficitários.
3) Causas Básicas
Baixo nível de educação: Alta taxa de analfabetismo e taxa de
analfabetismo entre mulheres.
Orientação Estratégica
A elaboração da estratégia consiste na definição dos elementos.
De acordo com SETSAN, (2007) são considerados como 1)principais
desafios :
 Operacionalizar uma intervenção multi-sectorial e inter-
institucional que garanta as dimensões da SAN, sejam tratadas de
forma equilibrada, segundo as causas concretas da vulnerabilidade
e IAN de cada região;
Cnt.
.  Estabelecer a SAN como um elemento central nas estratégias
sectoriais, ao nível central e local, do governo e no combate a
pobreza absoluta em Moçambique;
 Fortalecer a organização da sociedade civil e o estabelecimento de
mecanismos de controlo social sobre as políticas de SAN.

2) Princípios Básicos - ESAN


Universalidade, equidade e integralidade;
Promoção da dignidade da pessoa;
Participação, transparência e prestação de contas;
Transversalidade e multisectorialidade.
Nota: Os princípios básicos são os valores sobre os quais assentam os restantes elementos
estratégicos como as dimensões estratégicas e o plano de acção.
Pilares Estratégicos
Segundo o SETSAN, (2007) as dimensões constituem os vectores
estratégicos, também comummente designados por pilares, através
dos quais se estruturam as actividades estratégicas.

Adequação; Utilização e
Disponibilidade; Estabilidade
Acesso;
i. Acesso
Relaciona-se com a capacidade das famílias e indivíduos disporem de
recursos suficientes para adquirir alimentação adequada para as suas
necessidades e a existência de infra-estruturas e mecanismos que
asseguram o acesso aos alimentos.

Isso implica a existência de uma distribuição justa, sistemas de


comunicação e redes de segurança alimentar (protecção social)
formais e informais e assistência alimentar as populações mais
carenciadas (FAO, 2006).
ii. Disponibilidade
Significa a existência de quantidade suficiente de alimentos adequados
para cobrir todas as necessidades nutricionais em termos de
quantidade (energia) e qualidade (que assegure todos os nutrientes
essenciais).

A disponibilidade de alimentos assegura-se através da produção,


importações líquidas (incluíndo ajuda alimentar) e das reservas
disponíveis, deduzidas as perdas e outras utilizações para fins não
alimentares (FAO, 2006).
iii. Adequação
O alimento deve ter qualidade nutricional suficiente para satisfazer as
necessidades dietéticas dos indivíduos;
Deve ser seguro para a alimentação humana e livre de substâncias
adversas ou contaminantes e dever ser aceitável culturalmente para as
pessoas a que se destina.
Por outro lado, preferivelmente, o alimento não deve comprometer o
acesso a outras necessidades essenciais, deve ser de origem nacional e
deve ser social, económica e ambientalmente sustentável (FAO,
2006).
iv. Utilização e uso
A utilização dos alimentos é constituída por dois aspectos:
 Uso de alimentos, que se refere aos aspectos sócio-económicos da
SAN dos agregados familiares;
 A Utilização que se refere aos aspectos biológicos, ou seja, a
habilidade do corpo humano para tomar os alimentos adequados e
convertê-los em energia.

O uso e a utilização adequada de alimentos avaliam-se a nível


familiar e individual.
A nível familiar, relaciona-se com o processo como os alimentos
disponíveis são transformados numa dieta adequada (incluindo a
escolha dos alimentos)

Os factores a considerar a nível familiar estão relacionados com a


ocupação do tempo da mulher, conhecimentos, hábitos alimentares,
incluindo alimentação infantil e amamentação, utilização dos serviços
de saúde preventiva e curativa, hábitos de higiene, tabus e crenças
(FAO, 2006).
v. Estabilidade
FAO, (2006) o alimento deve ser adequado, disponível, acessível e útil
continuamente e a todo o momento.
A estabilidade deve ser garantida a nível individual, familiar e social.

 Cada indivíduo deve procurar garantir a alimentação estável;


 Os agregados familiares organizam-se de modo a que todos os seus
membros tenham estabilidade alimentar e o
 Estado deve assegurar a estabilidade da alimentação e nutrição dos
grupos vulneráveis e dependentes.
Plano de Acção
A SAN é, por execelência, uma questão transversal que, abrange
varios sectores, tais como a agricultura, as pescas, o comércio, os
transportes, da educacão, a saúde, o emprego, a acção social, e
ambiente.
Assim, a ESAN deve materializar-se através de um instrumento de
implementação igualmente transversal, que é o PASAN.
 Para a implementação do PASAN, contribuem o sector público
através de diversos Ministérios.
instituições públicas, sector privado, sociedade civil,
parceiros de cooperação, entre outros.
Papel dos Intervenientes na ESAN
Conforme Ericksen, (2007) um dos objectivos da ESAN é a definição do papel
de cada um dos intervenientes na SAN:

O Papel do Estado
Ao Estado compete garantir que todos os cidadãos tenham, a todo o momento,
acesso físico e económico aos alimentos necessários, de modo a que tenham uma
vida activa e saudável. Neste contexto, cabe ao Estado:
 Criar um ambiente favorável ao investimento nacional e estrangeiro visando
garantir a segurança alimentar e nutricional;
 Promover a produção de produtos alimentares estratégicos , etc.
O Papel das Organizações Não Governamentais
As Organizações Não Governamentais nacionais e estrangeiras jogam
um papel relevante na ESA Nutricional (Ericksen, 2007).

Elas devem apoiar:


 A organização de produtores e/ou AGF em associações;
 As associações e agregados familiares em técnicas melhoradas de
produção, tratamento, consumo e comercialização da sua produção;
 Promoção e o fomento da produção e consumo de alimentos ricos
em calorias e vitaminas.
Fonte: Ericksen, 2007.
Muito obrigado pela atenção dispensada

Duvidas!!!
Acréscimo!!!

“O inicio da sabedoria é a DÚVIDA”

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