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GUERRA, ALIMENTO E PODER: 1. INTRODUÇÃO 27

A problemática da segurança alimentar A cada cinco segundos, uma criança menor de dez anos morre de
em situações de conflito fome no mundo (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION –
FAO, 2001). Mais de 2.2 milhões de pessoas, em sua maioria crian-
ças, morrem de diarreia todos os anos como resultado de acesso
inadequado a fontes de água. Ainda, segundo estimativas, 870 mi-
Mariana Barros da Nóbrega Gomes lhões de pessoas passam fome no mundo, sendo que 852 milhões
Ana Luísa Torres Carvalho delas vivem em países em desenvolvimento (FAO et al 2012).
Clara Soares Côrtes Oliveira A análise de conflitos e crises (entendidos como conflitos
Izabela Damasceno Pimenta1 armados) demonstra que no mundo, a cada dia, confrontos ar-
mados como guerras civis, reivindicações violentas por indepen-
dência, golpes militares e embargos implicam ou agravam a fome
e a desnutrição de grande parte da população atingida (BANCO
MUNDIAL – BM, 2011). Com a expulsão ou o refúgio de nacionais,
coloca-se imediatamente a necessidade de uma ajuda emergen-
cial e de sobrevivência para estas pessoas que estão fora dos seus
lugares de produção e, normalmente, não dispõem de recursos
suficientes para conseguir acesso pacífico aos alimentos.
O acesso a sementes de qualidade, assim como o abasteci-
mento com outros meios de produção, pode ser prejudicado ou
interrompido por questões políticas ou puramente logísticas; o
cultivo e a colheita de alimentos nas lavouras podem ser ameaça-
dos por assaltos, roubos ou minas; a comercialização dos produ-

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As autoras agradecem a colaboração de Raquel Cabello, coordenadora de Emergên-
cias Humanitárias da FAO (Food and Agriculture Organization). Seus comentários e
sugestões foram de grande ajuda à confecção deste trabalho.
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tos pode fracassar por causa de estruturas de mercado falidas; os finição apresenta quatro principais dimensões da segurança ali-
casos de doenças aumentam em função de um sistema de saúde mentar: disponibilidade física dos alimentos, acesso econômico
que não funciona etc (BM, 2011). e físico aos mesmos, utilização deles e estabilidade das três di-
Tudo isso provoca e agrava a insegurança alimentar em regi- mensões anteriores ao longo do tempo.
ões que, muitas vezes, já antes destas crises eram atingidas pela Para que os objetivos da segurança alimentar sejam realiza-
pobreza e subnutrição por causa de sua instabilidade econômica dos, todas as dimensões devem ser cumpridas simultaneamente.
e ecológica. Pessoas vivendo em estado de pobreza se mostram, Mesmo que as pessoas tenham dinheiro, se não houver comida
frequentemente, impotentes frente aos conflitos no seu próprio disponível no mercado elas estarão em risco de insegurança ali-
país, já que não têm voz ou poder relevante de decisão. Em mui- mentar. Da mesma forma, segurança alimentar não está apenas
tos lugares, as migrações forçadas permanecem como o único relacionada à quantidade de alimentos consumidos, mas tam-
meio de sobrevivência (FAO, 2008). bém à qualidade e a seus nutrientes.
O presente artigo busca analisar a situação da segurança ali-
mentar em zonas de conflito por uma perspectiva histórica e crí- 2.1.2. Classificação das fases de segurança alimentar
tica. Para tanto, propõe-se apresentar os padrões de atuação de Diferentes escalas para a segurança alimentar foram desenvol-
Organizações Internacionais, Estados nacionais e Organizações vidas por analistas da área utilizando indicadores diversos. Po-
28 Não-Governamentais na busca pela garantia da segurança ali- rém, depois de rodadas de discussão entre Estados, Organiza- 29
mentar em áreas conflituosas desde 1945, apontando tanto seus ções Internacionais e Organizações Não-Governamentais, foi
méritos quanto suas falhas. desenvolvido o IPC (do inglês, Integrated Food Security Phase
Como padrão que deveria ser aplicado, indica-se que, para ­Classification), que é uma escala padronizada que analisa dados
acabar com crises alimentares em situações de conflito em longo sobre segurança alimentar, nutrição e subsistência, formando
prazo, deve-se trabalhar por ajuda humanitária efetiva, investi- a partir daí uma classificação sobre a natureza e a gravidade de
mentos em longo prazo no setor primário da economia e ações uma crise alimentar (FAO, 2008). As variáveis analisadas pelo IPC
eficazes de nationbuilding. Para ilustrar a problemática, será usa- são taxa de mortalidade, prevalência da desnutrição, acesso a ali-
do o crítico caso da Somália ao longo do tempo. mentos e disponibilidade dos mesmos, diversidade na alimenta-
ção, acesso e disponibilidade à água, estratégias de enfrentamen-
2. INTRODUÇÃO CONCEITUAL À SEGURANÇA ALIMENTAR to da fome e quantidade de bens de subsistência.
A classificação do IPC consiste em cinco níveis, sendo o pri-
Para o estudo de crises de fome em situações de conflito, é impor- meiro deles a segurança alimentar. O segundo seria insegurança
tante reforçar conceitos chave amplamente usados na área. Por alimentar moderada, seguido por crise de subsistência e emer-
esse motivo, a presente seção tem como objetivo apresentar esses gência humanitária. O quinto nível é chamado de crise de fome,
conceitos, trabalhando de maneira introdutória as ideias de segu- ou catástrofe humanitária (IPC, 2007).
rança alimentar em si, ajuda humanitária, nationbuilding e ajuda Segundo o IPC (2008), uma situação atinge o nível dois (in-
ao desenvolvimento. segurança alimentar moderada) quando a taxa de desnutrição
aguda se encontra entre 3% e 10% da população e as pessoas têm
2.1 Segurança Alimentar acesso irregular a, em média, 2 mil calorias e 15 litros de água
O conceito de segurança alimentar evoluiu significativamente por dia. O terceiro nível é atingido quando a taxa de desnutrição
ao longo do tempo. A definição utilizada no presente trabalho é aguda está entre 10% e 15% e a população tem acesso a 2 mil ca-
a formulada na Cúpula Mundial da Alimentação, realizada em lorias e entre 7 e 15 litros de água por dia, mas somente por meio
Roma, Itália, em 1996. Segundo esta definição, existe segurança de ajuda de alguma organização. O quarto nível, por sua vez, é
alimentar quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm atingido quando não há continuidade de acesso a alimentos
acesso físico e econômico a alimentos seguros, nutritivos e sufi- em qualquer quantidade, a água disponível não chega a 7 litros
cientes que atendam suas necessidades dietéticas e preferências por dia e, além disso, a taxa de desnutrição aguda atinge 15% da
alimentares para uma vida ativa e saudável (FAO, 1996). Esta de- população total. Por fim, para que uma situação de insegurança
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alimentar atinja o nível cinco, é necessário que mais de duas pes- 2012). As operações de nationbuilding, por sua vez, envolvem o
soas por cada 10 mil morram de fome por dia, que a desnutrição uso de forças armadas como parte de um esforço maior para a
atinja taxa acima de 30% e que menos de 2 mil calorias e quatro promoção de reformas políticas e econômicas, com o objetivo de
litros de água por dia estejam disponíveis para cada pessoa (IPC, transformar a sociedade que emerge de um conflito em um país
2008). Na Somália, tanto em 1992 quanto em 2011, as crises atin- com estabilidade interna e pacífico com relação aos seus vizinhos
giram este nível (IPC, 2007). (DOBBINGS et al, 2007).
Conclui-se, então, que tanto a ajuda ao desenvolvimento
2.2. Ajuda humanitária, Nationbuilding e Ajuda ao Desenvolvimento quanto as operações de nationbuilding agem numa perspectiva
Os conceitos de ajuda humanitária, nationbuilding e ajuda de longo prazo, atuando de modo a buscar maior estabilização
ao desenvolvimento são de extrema importância para o enten- econômica, política e social, e não apenas no alívio imediato de
dimento das questões analisadas pelo presente artigo. Tais con- situações de insegurança alimentar. Essa perspectiva difere da
ceitos podem ser relacionados, porém não devem ser confundi- lógica da ajuda humanitária, explicitada anteriormente. A partir
dos. Segundo Lancaster (2007), ajuda humanitária consiste na desses conceitos, a análise de crises alimentares e das respostas
assistência material ou logística prestada em resposta a crises internacionais às mesmas se torna mais clara e objetiva.
humanitárias, geradas por desastres naturais ou por situações
30 provocadas por seres humanos. Os principais objetivos da ajuda 3. A SEGURANÇA ALIMENTAR NO CONTEXTO 31
humanitária são salvar vidas, aliviar o sofrimento de suas vítimas DOS REGIMES INTERNACIONAIS, DESDE 1945
e manter a dignidade humana (LANCASTER, 2007).
Diversos autores, como os vinculados a agências internacio- De acordo com Stephen Krasner (1982) regimes internacionais
nais de cooperação, apontam que a ajuda humanitária imediata é são definidos como princípios, normas, regras, e procedimentos
uma resposta satisfatória para o combate de crises alimentares já de tomada de decisão, procedimentos em torno dos quais as ex-
que, quando enviada adequadamente, diminui os níveis de fome pectativas dos atores convergem em uma determinada área das
e desnutrição de forma imediata. Autores como Saswati Bora, Iri- relações internacionais. Nesta definição, princípios são crenças
de Ceccacci e Christopher Delgado (2011), porém, apontam que em fatos, efeitos e integridade, as normas são padrões de com-
a ajuda humanitária por si só é importante para mitigação dos portamento definidos em termos de direitos e obrigações, regras
efeitos da fome, mas apresenta efeitos econômicos e sociais in- são prescrições específicas ou proscrições para a ação, procedi-
desejados, como a desarticulação de arranjos locais de produção mentos de decisão são práticas predominantes para fazer e im-
de alimentos, já que a inundação do país com alimentos estran- plementar escolhas coletivas. Abaixo serão citados regimes e suas
geiros derruba os preços dos produtos agrícolas e desestimula a conquistas mais relevantes, de modo que se tenha uma visão da
produção local, além de não ser suficiente para resolver uma situ- evolução do direito de preservação da alimentação adequada e
ação de insegurança alimentar a longo prazo. sua perspectiva no âmbito internacional.
Nesse contexto, os autores sugerem o investimento nos Após a Segunda Guerra Mundial, quando os países europeus
produtores de alimentos locais, bem como em infra-estrutura e se encontravam com a infraestrutura agrícola debilitada, foram
criação ou fortalecimento de instituições que garantam a estabi- discutidas ideias de criar uma organização multilateral de ajuda
lidade da região e a distribuição justa dos alimentos (BORA et al, à reconstrução e incentivo à agricultura e alimentação, procu-
2011). Dessa forma, os conceitos de ajuda para o desenvolvimen- rando reparar os danos causados pela guerra e o estado de fome
to e operações de nationbuilding se tornam evidentes. em que algumas regiões se encontravam (HIRAI; ANJOS, 2007).
A prática da ajuda ao desenvolvimento consiste no financia- Assim, em 1945 surgiu um organismo denominado Organização
mento de projetos que contribuam para o efetivo desenvolvimen- das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), uma
to do Estado receptor. A ajuda pode ter caráter de empréstimo a Organização Internacional, ligada à recém formada Organização
juros mais baixos que os tradicionalmente praticados ou mes- das Nações Unidas a partir de uma reunião convocada em 1943
mo de doação, já que, nesses casos, o país receptor não dispõe por Franklin Roosevelt, então presidente dos EUA. Nessa reu-
de condições para honrar empréstimos a curto prazo (OECD, nião, a necessidade de livrar as populações da tirania e da fome
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no pós-guerra, foi assumida como prioridade pelos participan- humanitário e imparcial devem ser conduzidas sem qualquer re-
tes tornando-se regra da Organização. Como um dos princípios ação adversa (ZIEGLER et al, 2011).
da instituição, a pobreza foi entendida como a causa primária Nos anos posteriores às realizações das Convenções de Gene-
para a fome e que seria necessário, além uma maior produção bra, o mundo se encontrava durante a Guerra Fria. Sendo assim, a
de alimentos ser necessária, criar condições para a população preocupação com a alimentação adequada e a segurança alimen-
absorvê-la (SHAW, 2007). tar foi marginalizada. O foco das discussões se encontrava na rela-
Na primeira conferência da FAO, em 1945, foram estabele- ção dos dois blocos econômicos sob os quais o mundo se dividiu e
cidos dois princípios que causavam preocupação imediata. Pri- na paz ameaçada com a iminência de uma guerra nuclear nunca
meiramente era devido conciliar os interesses dos produtores e vista e com possíveis consequências inimagináveis até então.
consumidores, protegendo-os das flutuações descontroladas na A seguir, com a retomada das discussões sobre o tema, na
produção agrícola e nos seus preços mundiais. Em segundo lugar, Conferência Internacional da Nutrição em 1992 conjuntamente
visa-se controlar a oferta e o excesso de demanda, apoiar o desen- promovida pela ONU e pela FAO, um plano de ação foi concebi-
volvimento econômico e social nos países em desenvolvimento, do com vistas ao combate à fome e ao aumento da segurança ali-
sem criar desincentivo à sua produção agrícola doméstica ou mentar no âmbito das residências (HIRAI et al, 2007). Na referida
interrupção de comércio local ou internacional (SHAW, 2007). A conferência, alguns países e Organizações Não-Governamentais
32 FAO promove pesquisas, recolhe e dissemina informações sobre clamaram por maior respaldo sobre o direito à alimentação ade- 33
estoques de alimentos, comércio e consumo visando conhecer quada, tendo como resposta a Cúpula Mundial da Alimentação
melhor sua área de trabalho e ajudando com seus dados outras (CMA), em 1996. A Declaração de Roma, aprovada na CMA, rea-
Organizações Internacionais em processos de tomadas de deci- firmou o direito à alimentação adequada e o direito fundamental
são mais precisos e eficazes (GUHA-KHASNOBIS et al, 2007). de estar livre da fome (GUHA-KHASNOBIS et al, 2007). Nesse do-
Nas quatro Convenções de Genebra2 e os dois Protocolos Adi- cumento, segundo Hirai e Anjos (2007), ressaltou-se a importân-
cionais, de 1949, foram estabelecidas normas que repercutiram, por cia dos governos, a quem cabe garantir políticas que promovam
exemplo sobre o uso de comida como arma. Tal assunto também foi a paz, a estabilidade social, política e econômica, a equidade e
trabalhado no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional: igualdade entre os sexos. A fome foi vista como uma ameaça para
as sociedades e para a própria estabilidade da comunidade inter-
Provocar deliberadamente a fome da população civil como mé- nacional (HIRAI et al, 2007)
todo de guerra, privando-a de itens indispensáveis para a sua so- A redução pela metade do número de pessoas com fome foi
brevivência, incluindo impedir intencionalmente suprimentos de estabelecida como uma das oito “Metas do Milênio”, na Cúpula
socorro, como previsto nas Convenções de Genebra, é um crime do Milênio realizada pela ONU em setembro de 2000, na qual 191
de guerra quando cometidos em conflitos armados internacionais Estados-membros se comprometeram a atingi-las até 2015. Esse
(TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL, 1998 apud GUHA-KHAS- regime surgiu das necessidades de estabelecer maiores aspira-
NOBIS et al, 2007, p.269) ções para metas já citadas em outras conferências durante todo
o século passado. As Metas do Milênio se direcionam principal-
Nesse sentido, enfatiza a garantia ao acesso à comida, proibi- mente aos países em desenvolvimento e todos os aspectos cau-
ção da mesma como arma de guerra e a necessidade dos países sadores da pobreza e de baixa qualidade de vida, inclusive a in-
executarem ajuda humanitária para a população civil (GUHA- segurança alimentar. A responsabilidade pelo cumprimento das
KHASNOBIS et al, 2007). No Primeiro Protocolo Adicional das Metas recaiu sobre os governos de países desenvolvidos e emer-
convenções de Genebra, ficou estabelecido que o grupo que de-
tém o poder no país em confltito tem o dever de garantir alimen-
tos para a população e deve trazer alimentos necessários, produ- 2
Para mais informações sobre essa convenção e resoluções de outras citadas no arti-
tos médicos e outros artigos. Se o Estado não pode garantir que go, leia To Stay and Deliver: Good Pratice for Humanitarians in Complex Security, um
estudo comissionado pelo Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários
essa assistência à população civil seja adequadamente equipada (OCHA), disponível em (http://ochaonline.un.org); Reliefweb (www.reliefweb.int);
com os suprimentos mencionados, ações de socorro de caráter e Humanitarian Outcomes (www.humanitarianoutcomes.org).
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gentes, enfatizando a necessidade de uma parceria global para o adequada. Há que se destacar, ainda, as várias dimensões que a
desenvolvimento (FENNY et al, 2009). obrigação do direito à alimentação toca. A primeira deles: direi-
to de autodeterminação dos povos, sendo a disponibilidade e o
4. CRISES DE FOME COMO VIOLAÇÃO DE DIREITOS acesso ao alimento peças chave na construção da soberania cul-
tural. Em seguida, a noção de adequação se constitui na ideia da
O artigo vinte e cinco da Declaração Universal dos Direitos Hu- alimentação apropriada a diferentes fases e condições de vida e
manos, quando diz que “Toda pessoa tem direito a um padrão circunstâncias fisiológicas; a sustentabilidade, por sua vez, trata
de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde e bem estar, tanto da preservação do ambiente per si, como de uma visão de
inclusive alimentação” (ONU, 1948, p.76), declara a alimentação garantia da produção futura (disponibilidade intergeracional de
como um dos direitos fundamentais no encalço da garantia da alimento) (ZIEGLER et al, 2011).
dignidade da pessoa humana. Tal documento, aprovado na As- Ainda, as necessidades nutricionais configuram o caráter
sembleia Geral das Nações Unidas em 1948, é o primeiro a reco- individual de tal conceito, enquanto a aceitabilidade cultural e
nhecer na jurisdição internacional o direito à alimentação como acessibilidade econômica se voltam a aspectos sociais e coletivos
obrigação imperativa de todos os Estados diante de seus nacio- (ZIEGLER et al, 2011). Por último, a exigência da garantia do aces-
nais e da comunidade de Estados nação. so mínimo à alimentação mesmo em períodos de conflitos arma-
34 Ademais, adotado pela ONU em 1966, o Pacto Internacional dos adiciona a tal direito uma dimensão de direito tanto civil quan- 35
sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) expli- to político (GUHA-KHASNOBIS et al., 2007). Ou seja, para além
cita em seu artigo 11 o “direito fundamental de toda pessoa de das possibilidades de realização deste direito individualmente, a
estar protegida contra a fome” (ONU, 1966, p.4). Mais tarde, em segurança alimentar é obrigação de responsabilidade ativa das
1999, foi elaborado documento que dava interpretação ao texto autoridades políticas de determinado território. Assim, sendo a
anterior, em cujo comentário geral número doze é alegado que alimentação uma obrigação dos Estados e, mais amplamente, de
“o direito humano à alimentação adequada é de importância cru- toda a sociedade civil, a existência de crises de fome incorre como
cial para a fruição de todos os direitos” (ONU, 1999, p.1) e afirma uma violação profunda dos direitos universais dos indivíduos, que
ainda que “o direito à alimentação adequada é indivisivelmente acaba por mitigar as perspectivas de dignidade humana.
ligado à dignidade inerente à pessoa humana e é indispensável
para a realização de outros direitos consagrados na Carta de Di- 4.1. Insegurança alimentar e grupos vulneráveis
reitos Humanos” (ONU, 1999, p.2). Nesse sentido, a garantia da A falta de acesso ao alimento é um problema que afeta a socieda-
dignidade humana se faz, em primeira instância, na concretiza- de flagelada de modo generalizado, em alguma medida. Entre-
ção do direito à alimentação. tanto, é preciso considerar que o impacto da escassez de comida
O conceito de direito à alimentação determinado no docu- atinge determinados grupos com mais intensidade: os grupos
mento interpretativo do PIDESC adquiriu status de legalidade no já marginalizados tornam-se os mais vulneráveis. Isto acontece
cenário mundial a partir da ratificação de 137 países, a seguir: uma vez que o domínio dos recursos naturais de produção (terra
e água, por exemplo) é alocado socialmente de modo a despos-
“O direito à alimentação adequada realiza-se quando cada homem, suir determinados grupos específicos e tornar alguns indivíduos
mulher e criança, sozinho ou em companhia de outros, tem acesso poderosos possuidores. São, portanto, essas populações as mais
físico e econômico, ininterruptamente, à alimentação adequada ou atingidas pela falta de alimento, pois não possuem meios de pro-
aos meios para sua obtenção” (ONU, 1999, p.3). duzi-lo nem tampouco de ter acesso ao mercado alimentício; ou,
ainda, em casos de secas e enchentes, a degradação dos poucos
É importante notar, então, a proximidade entre os conceitos de di- recursos aniquila a capacidade de produção e ameaça os indiví-
reito à alimentação e de segurança alimentar (contido no primei- duos às migrações forçadas e à situação de insegurança alimentar.
ro parágrafo do plano de ação da Cúpula Mundial da Alimentação, Os principais alvos das crises humanitárias são, então, mu-
1996): o segundo é corolário do primeiro, isto é, a segurança ali- lheres, crianças, populações rurais, pescadores, minorias étnicas
mentar é um instrumento da realização do direito à alimentação e religiosas e refugiados – dados os recursos limitados de tempo e
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espaço e, em função de serem estes numericamente os mais atin- 5. CRISES DE FOME EM CONFLITOS ARMADOS
gidos, este estudo tratará sucintamente apenas dos dois primei-
ros. As mulheres, em primeiro lugar, são desproporcionalmente Conflitos geram crises alimentares e estas, por sua vez, podem
afetadas pela fome já que estão inseridas em um contexto de ser fontes de conflitos. Os dois problemas estão relacionados em
desigualdade de gênero que obstaculariza seu empoderamento um ciclo de instabilidade que envolve os meios civil, militar e o
social, econômico e político: dificuldades em acesso à posse de governamental. Essas situações são encontradas principalmente
terras e salários justos; invisibilização dos trabalhos doméstico e em países com economia frágil, tipicamente rural, o que os tor-
agrícola; dependência econômica do homem e a discriminação e nam mais suscetíveis a mudanças no clima e condições internas
violência sofrida por elas nas esferas pública e privada3 (ZIEGLER políticas. Neles os habitantes são diretamente afetados pela in-
et al, 2011). Tal situação é dilemática, pois são as mulheres as segurança alimentar em zonas de conflito e suas consequências,
grandes responsáveis pela produção de alimentos na agricultura, como a ocupação de terras, destruição de vias de transporte, des-
embora também sejam elas as principais a morrerem de fome: truição dos meios de produção e aumento de preços de gêneros
enquanto cerca de 60% a 70% da produção agrícola em países em alimentícios (BORA et al., 2010).
desenvolvimento é mérito feminino, 70% dos famintos do mundo
são mulheres ou meninas (ZIEGLER et al, 2011). 5.1. Crise alimentar como evento político
36 Ainda, tal conjuntura é preocupante não só pela importância Crises alimentares são comumente vistas erroneamente como 37
produtiva das mulheres, mas pela transferência geracional da má consequências de influência climática. Na verdade, elas repre-
nutrição e a perpetuação da mortalidade infantil antes dos cinco sentam muito mais que isso, possuem causas em setores dife-
anos – mitigar a má nutrição de meninas é crucial para quebrar renciados e podem ter sua origem em fatores naturais, porém a
tal ciclo de deficiência nutricional (BREAD FOR THE WORLD, permanência do estado de crise pode ser causada pela má-estru-
2012). Mais de noventa milhões de crianças nascem abaixo do turação do país, sem condição de responder às necessidades para
peso, em cenário agudo de má nutrição: a baixa assimilação de a reabilitação da economia e para o abastecimento da população
nutrientes ainda no útero condena a criança a uma vida de atro- (FAO, 2008). O conflito também causa perdas materiais, o que di-
fiamento físico e mental e a um ciclo de perpetuação da pobreza ficulta a população civil de sobreviver durante a conjuntura e de
e marginalização (ZIEGLER et al, 2011). se recuperar após seu término (FAO, 2008). Os pequenos agricul-
As crianças constituem um grupo de alta vulnerabilidade, tores e os de subsistência são os mais bruscamente afetados pela
portanto, em função da evidente limitação da capacidade de tensão, ficando ainda mais pobres (IFPRI, 2006.)
autodeterminação e da maior vulnerabilidade biológica destes Se conflitos são a causa de aguda e duradoura insegurança
indivíduos. Assim, a Somália, que possui apenas 29% de acesso alimentar, é igualmente verdade que as desigualdades econô-
à água limpa (EUROPEAN COMISSION, 2012), mantém índices micas, discriminações étnicas, violações dos direitos humanos,
de mais de um milhão e meio de morte de crianças por ano de- disputas políticas, má distribuição de terras, insatisfação com a
vido à ausência de condições básicas de higiene e sanitariedade atual governança, são fatores que podem levar a conflitos. Tais
(ZIEGLER et al, 2011). Por último, é importante ressaltar as maze- fatores às vezes combinados com um governo fraco ou com am-
las do trabalho infantil e, mais especificamente, do combate em bição desenfreada, incapaz de tomar medidas que favoreçam a
conflitos armados: em 2006, mais de duzentas e cinquenta mil população sob sua responsabilidade, impedem a recuperação
crianças estavam ativamente envolvidas em conflitos – a maioria da paz (IFPRI, 2006.)
delas atraídas por promessas de provimento de necessidades bá- A maior parte da pobreza no mundo se concentra nas regiões
sicas (ZIEGLER et al, 2011). É necessário, então, além de atentar rurais dos países em desenvolvimento (FAO, 2008). Com a glo-
para a relação basilar entre fome, pobreza e insegurança alimen- balização, os meios de comunicação transmitem a realidade dos
tar, dissuadir conflitos armados uma vez que estes configuram
importante fator de agravamento da crise de fome – bem como
será visto na seção a seguir. 3
Para saber mais, ler “Fact Sheet: Gender, Nutrition and Agriculture” (BREAD FOR
THE WORLD, 2010).
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países ricos, mostrando que pior que a pobreza absoluta de uma 5.2. Alimento como ferramenta de poder
população, é a pobreza relativa, quando os cidadãos observam O controle da comida por grupos governamentais ou de oposição,
países com maior qualidade de vida e menor desigualdade eco- utilizado como fator de barganha para conseguir apoio ou com a
nômica, sendo ainda pior se sua condição é identificada como intenção de enfraquecer um exército tem sido comum nos con-
injustiça social (IFPRI, 2006.) flitos atuais (TEODOSIJEVIC, 2003). Apesar de ser uma grave vio-
A insatisfação com a situação presente é um fator motivan- lação aos diretos humanos, ainda é ampla a utilização de comida
te para desencadear conflitos internos que podem ser piorados como arma no continente africano e no asiático. Durante os anos
com a inabilidade do governo de responder aos anseios da popu- 1980 e 1990, isso se repetiu na América Central, na América do Sul,
lação, incapaz de garantir um ambiente estável e pacífico para o na Europa Central e em alguns países da antiga União Soviética
desenvolvimento e um acesso mais equitativo ao recursos físicos, (TEODOSIJEVIC, 2003).
naturais, financeiros e institucionais (IFPRI, 2006.) Guerras civis Além do estabelecimento de sanções econômicas internacio-
e conflitos nos países em desenvolvimento revelam o fracasso da nais, como as sanções que o Iraque sofreu durante a Guerra do
tentativa desses países em se igualarem aos desenvolvidos. O fra- Golfo, os países externos ao conflito podem interferir enviando
casso é associado ao status quo político, mesmo se forem de na- ajuda humanitária. Exemplo de um país em que os dois lados dos
tureza étnica ou revolucionária, demonstram uma perturbação conflitos se ultilizaram de comida como arma é a Somália, além de
38 com as medidas políticas ou do regime, causando movimentação alguns países independentes da antiga União Soviética (BORA et 39
nas minorias oprimidas e violência na sociedade (IFPRI, 2006.) al., 2010). Porém, grupos rebeldes podem interferir no transporte
Esse tipo de conflito dificulta a ajuda internacional porque di- das provisões que chegam, impedindo que os alimentos cheguem
ficulta mais e mais a identificação dos protagonistas, das vítimas ao destinatário, obstruindo sua função de ajuda (BORA et al, 2010).
e da autoridade vigente, pela qual se deve mediar e por fim ao Segundo Bora e outros autores (2010), não só o alimento
conflito. Segundo Swaminathan (1994 apud IFPRI, 2006) “fome pode ser usado como forma de manipulação, mas os meios de
em qualquer lugar ameaça a paz em todos os locais”. Os mecanis- produção como água, terra e equipamentos podem ter seu aces-
mos internacionais foram desenvolvidos para lidar com o modelo so negado por ocupação, destruição ou evenenamento. Tal priva-
comum de guerra de Estado contra Estado, no século passado; ção é uma forma direta de vitimizar ainda mais a população civil,
eles possuem grandes dificuldades de responder às novas neces- afetando toda a produção econômica, especialmente a produção
sidades (IFPRI, 2006). Entretanto, muitos dos conflitos atuais têm alimentícia, durante o conflito. A escassez de alimentos interfe-
significativas dimensões regionais e internacionais, já que cada re nos preços, e juntamente com a baixa produção, aumenta a
vez mais os países estão ligados, especialmente pela economia. fragilidade do mercado interno, afetando os exportadores e pe-
Fluxos de refugiados e aumento dos custos na luta pela paz inter- quenos proprietários, aumentando também a susceptibilidade a
nacional, de reestruturação, contra o terrorismo internacional e a quaisquer alterações nos preços no exterior, já que se torna maior
desestabilização da economia global, por exemplo, afetam todos a necessidade de importação (BORA et al, 2010). Os seguintes
os países (IFPRI, 2006). países em desenvolvimento envoltos em conflitos: Sudão, Congo,
Uma boa governança, pautada no cumprimento dos direitos Libéria, Peru, Serra Leoa e Sri Lanka se destacam por serem mais
humanos básicos, interessada em desenvolvimento, que vê como afetados em sua economia agrária, criando, nas zonas rurais, áre-
fundamental a construção de condições propícias à agricultura, as de má-nutrição e pobreza (BORA et al, 2010).
quebrando o ciclo vicioso de pobreza, escassez e violência, é ne- A comida, por ser de completa necessidade, é facilmente usa-
cessária para o reerguimento dos países em situação de pobreza da para manipulação de pessoas de acordo com os interesses dos
ou conflito (FAO, 2008). As instituições sociais, especialmente as grupos que detém alimento nas zonas de conflito, de modo que a
que promovem a execução dos direitos democráticos, devem ser ajuda internacional deve agir planejadamente para evitar mortes
intensivamente trabalhadas, para melhor atendimento e garantia sem deixar de lado a possibilidade de maior fragilização da eco-
de atenção aos anseios da população (IFPRI, 2006). nomia se a assistência não for bem aplicada (BORA et al, 2010). A
economia do país receptor de ajuda muitas vezes se encontra es-
tagnada, necessitando de ajuda e organização para se recuperar
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durante ou após o conflito. Durante a conjuntura, a maior parte 6. ALTERNATIVAS PARA GARANTIR A SEGURANÇA
da produção é direcionada para o abastecimento da luta, redu- ALIMENTAR EM ÁREAS DE CONFLITO
zindo mais ainda a produção de alimentos. A má aplicação de
ajuda humanitária pode suprimir a produção nacional que ten- Diante do comprometimento da segurança alimentar devido a
ta se reerguer, desqualificando-a para a concorrência (BORA et situações de conflito, são necessárias medidas imediatas que au-
al., 2010). Outro caso que exemplifica os problemas que a ajuda xiliem no controle do problema como a ajuda humanitária efeti-
humanitária mal-planejada pode causar é a posse de comida en- va, além de providências visando resultados de longo prazo como
viada por grupos que a usarão como meio de negociação ou de investimentos no setor primário da economia e o processo de
exploração da população civil faminta (BORA et al., 2010). nationbuilding. Sendo assim, os três pontos apresentados serão
explorados a seguir.
5.3. Conflito influenciando na produção e no acesso a alimentos A ajuda humanitária efetiva deve se pautar nos princípios
O sucesso da produção alimentícia reside em explorá-la ao má- de humanidade, imparcialidade, neutralidade e independência
ximo e obter maior lucro, depende da melhor alocação da ter- (Office for the Coordination of the Humanitarian Affairs [OCHA],
ra, do trabalho e do capital envolvido na determinada situação 2011). Em situações de instabilidade e conflito, aderir a esses
(SCHELLAS, 1998 apud TEODOSIJEVIC, 2003). Nos períodos de princípios assegura o reconhecimento e a legitimidade da ajuda
40 conflito, todos esses fatores se abalam: afetando-se o plantio, não humanitária, mitigando considerações a respeito de violação de 41
há trabalho, e se não há trabalho, não se obtém renda. O poder de soberania dos Estados que estão sendo auxiliados (OCHA, 2010).
compra é alterado na falta de renda e a população pode se tornar Uma segunda medida a ser considerada seria o investimen-
incapaz de absorver a produção. Ou seja, todos os fatores são in- to a longo prazo no setor primário da economia. De acordo com
terligados e interdependentes (TEODOSIJEVIC, 2003). a FAO (n.d.), investimentos na área da agricultura estão relacio-
A interferência nessas comunidades familiares em geral nados a efeitos positivos como crescimento produtivo, redução
afeta drasticamente a produção. Segundo Teodosijevic (2003), da pobreza e segurança alimentar. Além disso, investimentos es-
períodos de guerra podem ser causadores de danos aos meios trangeiros no setor podem proporcionar maior desenvolvimento
de produção e às estruturas que possibilitam o seu escoamento, a nações mais pobres, incluindo transferência de tecnologia, cria-
minando as possibilidades de um recuperação rápida no pós- ção de empregos e melhorias na infraestrutura – desde que estes
-guerra. Exemplos disso são a destruição de estradas e pontes, de negócios sejam realizados levando-se em conta as necessidades e
recursos naturais e de canais de irrigação (TEODOSIJEVIC, 2003). as limitações do país em questão, em conjunto com a implemen-
Outro efeito da guerra é o deslocamento de pessoas, que aumenta tação de políticas e quadros regulatórios (FAO, n.d.). Por fim, uma
a pressão sobre o ambiente onde elas se refugiam, provocando maior produtividade do setor primário contribui para reduzir a
destruição ambiental. Quanto maior a concentração demográfica, dependência de alimentos importados, o que, no caso de países
há maior demanda localizada de recursos para a sobrevivência em desenvolvimento, é urgente, tendo em vista os altos preços
(BORA et al, 2010). dos produtos no mercado internacional (OXFAM, 2012).
Além disso, os conflitos alteram toda a estrutura social das Já as ações efetivas de nationbuilding pressupõem progra-
comunidades, os laços familiares e a organização das proprieda- mas em que Estados instáveis ou ineficientes recebam assistên-
des. Em tais situações, não há segurança para se estabelecerem cia no desenvolvimento de infraestrutura governamental, de uma
condições para um desenvolvimento contínuo e com benefícios sociedade civil organizada, de mecanismos de resolução de con-
para toda a nação. Muitas vezes a população se encontra depen- flitos, bem como assistência econômica visando aprimorar a es-
dente de ajuda do governo ou exterior, como na doação de me- tabilidade (STEPHENSON, 2005). Essas ações visam à formação
dicamentos e alimentos, privadas de estabilidade e talvez até de de uma estrutura de governança que, de acordo com Jenkins e
liberdade, como aquelas presas em campos de refugiados ou re- Plowden (2007), apresenta atribuições como: competência, efi-
féns (TEODOSIJEVIC, 2003). ciência, efetividade e capacidade de prover aos indivíduos o ne-
cessário para viver bem. O nationbuilding consiste na construção
ou reconstrução de um sentido de comunidade e pode contribuir
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para a reconstrução da paz diante de um contexto pós-conflito pararem para situações de emergência e de melhorar a capacida-
(SIMONSEN, 2006, p.576). de dos países de combater a fome em seus territórios (PMA, n.d.).
A seguir, serão apresentados os diversos atores relevantes na Já o IFAD foi estabelecido em 1977, destinado a financiar projetos
questão da segurança alimentar em áreas de conflito, apontando agrícolas para a produção de alimentos em países em desenvolvi-
para a forma com que estes se relacionam às três propostas de mento, visando erradicar a pobreza nas áreas rurais desses países
solução acima expostas. (IFAD, n.d.). Atualmente o IFAD apresenta um fundo de US$21,4bi,
provenientes de governos e outras fontes financeiras (IFAD, n.d.).
6.1. Organizações e Regimes Internacionais Além destas agências, que agem no escopo das Nações Uni-
Conforme a definição de Organizações e regimes internacionais, das, outras organizações internacionais também atuam na questão
já exposta no presente artigo, pode-se afirmar que os regimes fa- humanitária de combate às crises de fome: instituições financeiras
cilitam o estabelecimento de acordos no âmbito da política mun- como o FMI e o Banco Mundial são exemplos disso. O FMI mobiliza
dial. Isso porque a definição de um padrão de comportamento fundos para prestar auxílio não só a casos de fome, como também
para agentes com interesses em comum auxilia na coordenação a necessidades humanitárias mais diversas e, para tanto, trabalha
da atuação de seu conjunto e, portanto, contribui para maior efi- em conjunto com relevantes agências internacionais de ajuda.
cácia na busca de determinado objetivo. Por sua vez, o Banco Mundial atenta para o sofrimento a que
42 A FAO, como exemplo expressivo de Organização Internacio- populações são submetidas em situações pós-conflito e para o 43
nal no âmbito da segurança alimentar, é composta por diferentes problema da fome relacionado a esses eventos que são por vezes
comitês sendo que, dentre eles, cabe ressaltar o Comitê sobre Se- agravados pela insuficiência da produção agrícola (BM, n.d.). Des-
gurança Alimentar Mundial – “Committee on World Food Security” se modo, o Banco Mundial visa o combate à fome e à desnutrição
(CFS). Este apresenta como propósito a coordenação e o fortale- apontando para a necessidade de se melhorar a produtividade
cimento de uma ação colaborativa de Estados e diversos outros agrícola e o desenvolvimento de infraestruturas. Particularmen-
agentes como ONGs e agências de auxílio humanitário, represen- te no caso de países fragilizados por situações de conflito, o BM
tando uma plataforma de comunicação em que haja a promoção busca auxiliar sua reconstrução, trabalhando em conjunto com as
de políticas convergentes. O CFS tem como objetivo, também, a Nações Unidas e outros fundos de doação (BM, n.d.).
criação ou o fortalecimento de estruturas já existentes que sejam É interessante ressaltar que a Declaração de Roma, que tem
úteis no combate à fome, o que pode ser apontado como uma como objetivo primordial o combate às crises de fome, se manifes-
medida de nationbuilding (FAO, n.d). Ademais, como uma plata- ta a favor da estabilização imediata da população, da promoção da
forma de discussões, a FAO busca consensos para os “RAI Princi- paz, da igualdade dos sexos, da estabilidade política, econômica e
ples” – Princípios para Investimento Responsável em Agricultura social e visa a resolução e o combate de conflitos, do terrorismo,
(FAO, n.d.), visando promover investimentos responsáveis no se- da corrupção e da degradação do meio ambiente (DECLARAÇÃO
tor primário da economia. Esses princípios zelam pelo respeito DE ROMA, 1996). Todos esses aspectos só podem ser alcançados
aos direitos dos usuários da terra, da água e de outros recursos, de por meio de esforços comuns das nações, já que medidas solitá-
modo a incentivar a proteção e a melhoria das condições de vida rias e unilaterais serão ineficazes. Tendo isso em vista, é possível
em nível doméstico e comunitário, promovendo práticas que não perceber a importância da ação conjunta internacional e, portan-
causem danos ao meio-ambiente. to, da atuação de Regimes e Organizações Internacionais.
Além da FAO, há também o Programa Mundial de Alimentos
(PMA) e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola 6.2. Estados
(IFAD), ambos vinculados às Nações Unidas. O primeiro, criado Apesar da importância da ação coletiva dos Estados dentro de
em 1961, apresenta fundos que provêm, integralmente, de doa- regimes e organizações, faz-se necessário também observar a
ções voluntárias. O Programa se propõe a levar alimentos em áre- ação de cada Estado de maneira individualizada, visto que cada
as necessitadas devido a desastres ou a conflitos, e os distribuem um deles dispõe de soberania para realizar reformas internas e
visando auxiliar a população a reconstruir suas comunidades. criar instituições, agências e programas destinados a combater
Apresenta também os objetivos de ajudar as populações a se pre- o problema da fome. Além disso, cada Estado dispõe de recursos
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financeiros que podem ser canalizados em investimentos que Desta forma, observa-se como é importante que os Estados
auxiliem na questão. fortaleçam suas instituições para que consigam agir de maneira
O Plano de Ação da Cúpula Mundial de Alimentação (1996), eficaz e eficiente na distribuição de alimentos à sua população
documento complementar à Declaração de Roma, confirma esta no pós-conflito já que, muitas vezes, a pobreza e a fome podem
última assertiva ao afirmar que a maior parte dos recursos neces- ser atribuídas a instituições fracas. Estados que apresentem uma
sários para investimentos serão obtidos a partir de fontes internas situação política frágil não serão fortes o bastante para conseguir
de cada Estado – sejam elas públicas ou privadas. O Plano (1996) administrar os conflitos que venham a ocorrer em uma sociedade,
também prevê o desenvolvimento de processos que promovam visto que são incapazes de lidar até mesmo com as injustiças de-
uma governança democrática, transparente e partícipe em cada correntes da desigualdade na distribuição de recursos e no aces-
um dos Estados, para que os direitos dos indivíduos sejam pro- so a instituições formais (VALLINGS et al, 2005 apud BM, 2010).
tegidos – sobretudo o direito de igualdade, já que, muitas vezes,
o acesso diferenciado a recursos escassos é um fator agravante 6.3. ONGs com atuação internacional
para crises de fome recorrentes. Para tanto, seria interessante Por fim, será explorada a atuação das Organizações Não Gover-
que a governança democrática incentivasse políticas estruturais namentais – ONGs – de alcance internacional. Estas adquirem
que modificassem as bases sociais e culturais dos cidadãos. Es- grande importância na medida em que, de maneira geral, repre-
44 sas mudanças viabilizariam o livre acesso à produção e à edu- sentam um modo pelo qual a sociedade civil age mais ativamen- 45
cação, permitindo melhorias na renda das populações (BELIK, te no cenário internacional, defendendo uma boa governança e
2003 apud. HIRAI, 2007), o que representa uma política de longo o desenvolvimento econômico (JOHNSON et al, 2007). Alguns
prazo no combate à fome. estudiosos, inclusive, consideram a atuação crescente desses
Analisar a atuação dos Estados tendo por base aquilo que foi atores como a emergência de uma “sociedade mundial” – world
acordado em tratados e declarações, como o Plano de Ação da society – (MEYER et al., 1997, apud JOHNSON et al, 2007) e de
Cúpula Mundial de Alimentação e a Declaração de Roma, é in- uma era de “políticas além do Estado” (WAPNER, 1995, apud JO-
teressante visto que, de acordo com Jenkins (2007), relegar uma HNSON et al, 2007). No presente artigo, será enfatizada a atuação
população a situações de fome representa uma violação, por par- das grandes ONGs que desenvolvem ou já desenvolveram traba-
te dos Governos, dos compromissos assumidos nas diversas Con- lhos conjuntos com agências e instituições internacionais. Cada
venções acerca do assunto. No entanto, é importante, também, uma delas apresenta um enfoque diferente mas todas trabalham
avaliar como os Estados se manifestam na prática. em prol dos direitos humanos.
A FAO (1995) propõe medidas a serem implementadas pe- A Oxfam Internacional é uma ONG que se preocupa em pres-
los Estados durante e logo após emergências, como no caso de tar ajudas emergenciais a populações assoladas por situações de
conflitos, por exemplo. Para tanto, se fazem necessários a articu- emergência. Além disso, ela busca fortalecer essas comunidades
lação e o entendimento da forma como os alimentos serão ad- para que sua população esteja melhor preparada para situações
quiridos e administrados pelas famílias nesse tipo de situação. adversas, apresentando projetos na área de segurança alimentar
Deve-se levar em conta informações acerca das vulnerabilida- e promovendo a justiça social. Essa sua preocupação com efei-
des locais (quais são os grupos sociais que mais necessitam de tos de longo prazo abarca também a questão do desenvolvimen-
ajuda, bem como o que está em falta para uma dada população, to da produção agrícola. Nesse sentido, a Oxfam defende que é
dentre outras constatações) para identificar as necessidades de papel das ONGs buscar seu próprio fortalecimento no intuito de
auxílio. Também é preciso estabelecer mecanismos administrati- exercer maior influência sobre outras partes interessadas no de-
vos apropriados em níveis nacional e regional para coordenar as senvolvimento agrícola; estabelecer parcerias com universidades
atividades necessárias para a resolução do problema (FAO, 1995). para promover pesquisas e assegurar sua aplicação nesse setor e
Esses mecanismos administrativos podem ser coordenados por alertar para a importância da proteção ambiental e a adaptação
agências nacionais, cujo processo de planejamento, segundo o às possíveis mudanças climáticas (OXFAM, 2012).
referido documento, deve contar com o apoio técnico disponível A organização Médicos Sem Fronteiras – MSF, por sua vez,
em organizações como a FAO, no caso da segurança alimentar. proporciona auxílio àqueles cuja sobrevivência é ameaçada por
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fatores diversos e se mantém comprometida com os princípios armado e catástrofes naturais – e os atores relevantes deste ce-
humanitários supracitados (MSF, n.d.). Além deste auxílio emer- nário – Estado somali, administrações regionais, grupos armados,
gencial, a MSF contribui para denunciar situações desconhecidas população civil, Organizações Internacionais, Organizações Na-
ou simplesmente esquecidas pelo resto do mundo, trazendo os cionais Não-Governamentais e outros Estados – a partir de 1945.
olhares da opinião pública para todo o tipo de violência que ve- A República da Somália enfrenta, desde o início da década de
nha a ocorrer contra populações fragilizadas, como o caso de po- 1990, uma situação que combina ausência de um governo cen-
líticas que restrinjam o acesso a recursos essenciais, por exemplo tralizado, instituições políticas fracas e praticamente nenhuma
(MSF, n.d.). Ao tornar o problema da desnutrição visível, a MSF regulação política, econômica ou monetária (ORGANIZAÇÃO
busca transformar essa questão humanitária em uma questão MUNDIAL DA SAÚDE – OMS, 2006). Superinflação e altos preços
de saúde pública, impulsionando uma maior preocupação com decorrentes da política econômica das décadas de 1970 e 1980
medidas duradouras por parte das Nações Unidas e de governos, figuram como importantes agentes na construção do cenário de
primando por uma abordagem científica e pelos avanços médi- caos em que vivem os somalis desde 1991 (US DEPARTMENT OF
cos alcançados no tratamento de populações desnutridas (MSF, STATE DIGITAL, 2012). Ainda, a proliferação de facções armadas,
2012). De maneira similar, a Cruz Vermelha também presta au- milícias e banditismo em geral (dada a falta de segurança legíti-
xílio aos necessitados de modo a prevenir e aliviar sofrimentos ma) resulta na alta violência diária e em um grande problema de
46 diante de desastres, com vistas a construir comunidades mais insegurança permanente (OMS, 2006). 47
seguras e educar futuros agentes humanitários que dêem conti-
nuidade ao trabalho (CRUZ VERMELHA, n.d.). 7.1. Histórico do caso
Tendo observado a atuação das três ONGs supracitadas, cabe No final do século XIX, no contexto do estabelecimento das po-
ressaltar que cada uma vai além do auxílio emergencial, o que tências europeias na África, uma parte do território somali trans-
exige a observância de atitudes que assegurem a continuidade formou-se em protetorado britânico (1884) e, em seguida, a Itália
desse processo de desenvolvimento das comunidades prejudica- assumiu o domínio de uma região cedida por sultões (1885), logo
das. Sendo assim, como já foi dito, o alcance de uma maior pro- configurando status de território colonial (PHILIPP, 2005). As-
dutividade auxiliará no abastecimento da população, enquanto sim, o norte somali estava sob protetorado britânico, enquanto o
que o processo de nationbuilding fortalecerá as instituições go- sul estava sob regulação italiana. No século seguinte, a Segunda
vernamentais que, somente assim, poderão exercer uma lideran- Guerra mundial colocou a maioria das colônias italianas sob do-
ça responsável nesse sentido (OXFAM, 2010). mínio inglês e, em 1949, na Conferência de Potsdam, o controle
Ademais, conclui-se que os diferentes tipos de agentes im- do território italiano somali passou para jurisdição de um arranjo
plicados na resolução de crises de fome em situações de conflito internacional, continuando, no entanto, a respeitar a Itália como
apresentam um papel complementar entre si. Deste modo, uma autoridade administrativa. A Assembleia Geral das Nações Uni-
visão multidisciplinar das organizações sem fins lucrativos não as das postulou que tal ordem política duraria dez anos e seria se-
vê como substituta de instituições, mas como algo que abrange guida da independência desse território (PHILIPP, 2005).
a oportunidade de escolhas, visto que amplia a heterogeneidade O ano de 1960, então, testemunhou definitivamente a inde-
dos agentes fornecedores (JOHNSON et al, 2007). pendência do antigo protetorado britânico de Somaliland e da
Somália italiana que, juntos, formaram a República da Somália
7. ESTUDO DE CASO: SOMÁLIA (OMS, 2006). Em decorrência da esquizofrênica política colonial,
no entanto, a república somali constituía, na verdade, “dois pa-
O presente trabalho, com vistas a demonstrar o funcionamento íses” muito pouco integrados. No fim da década de 1960, a pre-
dos conceitos explanados durante as seções anteriores, encon- matura democracia somali já desmoronava com o golpe de Es-
trou na crise humanitária somali o exemplo mais emblemático da tado de 1969: uma junta militar liderada pelo general Mohamed
ocorrência de conflito armado e crise de fome simultaneamente. Siad Barre tomou posse do poder político do país, sustentada em
Este estudo tem como objetivos esmiuçar as interações entre os uma política repressiva de ideologias nacionalista e socialista
elementos da crise humanitária – insegurança alimentar, conflito (OMS, 2006). As políticas de Barre provocaram o inchaço do nú-
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mero de empregos públicos que a receita do país não era capaz lia II) surgia do intuito de fortalecer o contexto social somali em
de suportar. Como consequência da inflação, da alta de preços uma perspectiva duradoura, isto é, pôr em lugar de destaque os
e da queda do valor real dos salários, firmou-se um sistema en- aspectos de nationbuilding4 e peacebuilding.
dêmico de corrupção no país. O resultado da proliferação das No mês de março de 1993, então, dissolvida a UNITAF e im-
insatisfações e oposições à administração de Barre foi a organi- plementada a UNOSOM II, a nova missão tinha por objetivos
zação revolucionária de grupos étnicos e o colapso desse regime monitorar a manutenção do cessar fogo entre as facções, pro-
no ano de 1991 (BM, 1997). teger a equipe de trabalho, continuar o programa de ajuda nas
O início da década de 1990 foi caracterizado por um perío- áreas afetadas e auxiliar no repatriamento de refugiados e dos
do de intensa instabilidade e fragmentação política. Os grupos deslocados (ONU, 1993). Porém, diante do cenário belicoso do
étnicos armados no país constituíam pelo menos doze facções embate entre os grupos étnicos, a UNOSOM II obteve um saldo
que determinavam as regras sociais, econômicas e políticas dos total de 154 membros da missão mortos (ONU DIGITAL, 2012).
territórios sob seu domínio (PHILIPP, 2005). Em Abril de 1992, Frente à falta de sucesso dos empreendimentos da operação, no
diante da gravidade da crise humanitária somali, o Conselho de início de 1994 o Conselho de Segurança determinou março de
Segurança das Nações Unidas autorizou, por meio da resolução 1995 como a data para a retirada completa das tropas da UNO-
751, o estabelecimento da UNOSOM I (United Nations Operation SOM II do Estado da Somália.
48 in Somalia I), primeira missão de paz na Somália, com os objeti- Desde então, dada a fraqueza política do Governo Federal 49
vos de monitorar o cessar fogo em Mogadíscio (capital somali) e de Transição (GFT), que até os dias atuais comanda o Estado so-
proteger os funcionários da ajuda no trabalho da distribuição dos mali, cresceram em força o grupo armado anti-governo Harakaat
suprimentos humanitários (ONU DIGITAL, 2012). Em função da Al-Shabaab Al- Mujahidiin (que hoje resta como o principal gru-
complexidade da missão, houve uma grande união de esforços e po de oposição) e a União das Cortes Islâmicas, criada em Mo-
de mandatos nesta operação: estiveram envolvidas seis agências gadíscio por comerciantes que pretendiam restaurar a ordem e a
da ONU (FAO, UNICEF, PMA, PNUD, OMS e ACNUR), mais de influência da União Africana no apoio ao GFT com a missão afri-
trinta Organizações Internacionais, algumas ONGs locais e o Co- cana na Somália, AMISOM (CONSELHO DE SEGURANÇA DAS
mitê Internacional da Cruz Vermelha (PHILIPP, 2005). Entretanto, NAÇÕES UNIDAS – CSNU, 2011).
mesmo com mais de cinquenta observadores militares em 1993 e
com um orçamento total de 42,9 milhões de dólares, a UNOSOM I 7.2. Análise das Variáveis
fracassou, visto que não conseguiu o fim do conflito armado nem Contabilizando duas décadas de conflito armado, o Estado da So-
a proteção de seus agentes, como almejado inicialmente – seis mália sustenta a crise humanitária mais urgente e complexa da
funcionários da missão morreram (ONU DIGITAL, 2012). atualidade. Com 9,5 milhões de habitantes e cerca de três milhões
Ainda em Dezembro de 1992, de acordo com o mandato 794 de pessoas necessitando de assistência (EUROPEAN COMISSION,
do Conselho de Segurança, chegaram à Somália as primeiras tro- 2012), a ampla situação de pobreza, as secas, epidemias e alaga-
pas da UNITAF (Unified Task Force, de codinome “Operation Res- mentos, a instabilidade política, a violência e o insucesso da ajuda
tore Hope”), que assumiram as funções da falida missão humani- humanitária são conjuntamente responsáveis pela fome genera-
tária inaugurada cinco meses antes (UNOSOM I) (ALLARD, 1995).
A missão liderada pelos Estados Unidos, por sua vez, figurou em
alguns pontos de sucesso, como estabelecimento de ambiente 4
Faz-se necessário reforçar a distinção entre os termos “statebuilding” e
seguro para a ação humanitária imediata. Contudo, existem críti- ­“nationbuilding”, utilizados no presente estudo. Segundo The Organisation for
Economic Co-operation and Development (OECD), em 2008, o conceito de
­
cas à ação da missão estadunidense na Somália dada a utilização ­statebuilding pode ser compreendido positivamente como um “processo endóge-
da força e o não desarmamento dos grupos facciosos (PHILIPP, no de desenvolvimento de capacidades, instituições e legitimidade do Estado, di-
2005). No decorrer do próprio mês de dezembro, a despeito do rigido pelos relacionamentos Estado-sociedade”. Ainda de acordo com a OECD, a
expressão nationbuilding diz respeito a um “processo de construção de um sentido
impacto positivo da presença das tropas desta missão em territó-
de identidade nacional comum, definido em um senso étnico, cultural ou político”.
rio somali, já se elaborava a transição para uma nova missão de É importante frisar, contudo, que tal elemento é importante parte do processo de
peacekeeping: a UNOSOM II (United Nations Operation in Soma- statebuilding e ambos podem reforçar-se mutuamente (OECD, 2008).
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lizada. Muitos são os fatores necessários para remontar este ce- breza generalizada e o subdesenvolvimento econômico do país – a
nário e compreendê-lo, a começar pela histórica segmentação economia somali, baseada na exportação de produtos alimentícios,
cultural do país em tribos e clãs e, com o decorrer do tempo, a especialmente a banana, é muito sensível às mudanças na produ-
transformação destas diferenças em rivalidades e medidas de po- ção agrícola (ECONOMIC COMISSION FOR AFRICA, 2008).
der político – vide a diversidade étnica de Bantus, árabes, india- Ademais, a ausência de um governo fortalecido capaz de re-
nos e paquistaneses (OMS, 2006). O que se pode concluir é que a alizar a distribuição de recursos de emergência ou de amenizar a
combinação de fome, conflito armado, instabilidade política, po- situação de calamidade no país talvez seja uma das razões mais
breza generalizada e catástrofes naturais resultaram em uma das sérias desta crise. O Governo Federal de Transição não obedece
crises humanitárias mais complexas de que se tem notícia. nenhuma das três instâncias das obrigações estatais determina-
Sabe-se que a extrema violência estabelecida no país desde o das pelo PIDESC: não respeita o direito à alimentação; não o pro-
início da década de 1990 agravou a situação econômica, a fome, a tege e muito menos o realiza. Tal Estado de anomia não possui
vulnerabilidade de grupos já marginalizados e a instabilidade polí- capacidade nem mesmo para garantir as condições básicas da
tica. Ainda, tal palco de violência impede a realização integral dos ação humanitária, tal qual o acesso ao território, por exemplo (US
planos de ajuda humanitária, tanto pela proibição do acesso físico DEPARTMENT OF STATE DIGITAL, 2012). Desse modo, diante
a algumas áreas para distribuição de alimento, quanto pela mor- da paisagem de crise total, a ajuda humanitária apareceu como
50 te dos agentes da assistência (CSNU, 2008). Em alguns momentos alternativa de restabelecimento da esperança – como fala o pró- 51
esta insegurança generalizada e o conflito de poder entre grupos prio nome de uma das missões da ONU, a UNITAF. As expectati-
locais determinaram até o banimento de Organizações – em Janei- vas de fornecimento de alimento, de estabilização da volatilidade
ro de 2010, por exemplo, o Al-Shabaab determinou que o Programa social, de fomento ao crescimento produtivo agrícola e de auxílio
Mundial de Alimentos (PMA) cessasse seus trabalhos e deixasse a ao ­statebuilduing não se concretizaram, no entanto – as três ten-
Somália (CSNU, 2011). Na sequência, na mesma lógica do círculo tativas de ajuda à Somália coordenadas pela ONU falharam em
vicioso de causas e efeitos, o conflito interno se utiliza da própria seus resultados e certamente pioraram o cenário de instabilida-
fome como arma: desaloja pessoas impedindo seu acesso ao ali- de social, dado o número de mortes em conflitos travados com os
mento e produção; destrói recursos biológicos e sociais necessá- grupos de poder paralelos ao Estado (PHILIPP, 2005).
rios para produção e seleciona a distribuição de alimento para os As missões UNOSOM I e II, apesar dos esforços de manuten-
grupos favoráveis aos detentores do poder. A existência de conflito, ção do cessar fogo entre as facções em conflito, da garantia da
por fim, afeta a produção de alimentos posto que aumenta as des- segurança da equipe humanitária e do estabelecimento de palco
pesas militares em detrimento dos investimentos em saúde, edu- social estável, se retiraram da Somália em função da ausência de
cação, proteção do meio-ambiente e agricultura (BM, 2011). um poder centralizado capaz de prover espaço de atuação da aju-
Além disso, a péssima situação econômica na qual a Somália da humanitária e devido às falhas da própria construção da ação
já se encontrava antes do início da guerra civil gerou uma estrutura (ALLARD, 1995). De inicio, a assistência que foi realizada por
de pobreza difícil de ser quebrada, pois incorreu em uma conjun- meio de missões de peacekeeping, deveria ter sido focada em es-
tura de alta inflação, inclusive dos preços dos alimentos (BM, 1997). forços de peace-enforcement5 (PHILIPP, 2005). Ainda, as missões
Atualmente, o índice de 43% da população somali em situação de são criticadas pelo despreparo estratégico de seus mandatos: os
extrema pobreza (EUROPEAN COMISSION, 2012) tem grande
contribuição de catástrofes naturais de secas, redução das tem-
poradas de colheitas, alagamentos e epidemias. As secas causam 5
Os termos “peacekeeping” e “peace-enforcement” correspondem a ações distintas:
a alta continuada dos preços de alimentos (ACNUR, 2011); o de- enquanto a primeira respeita à condução de operações por forças militares ou grupos
civis para monitorar e supervisar acordos de cessar fogo ou para separar partes em
caimento da produção dado o impacto negativo na produtividade conflito, a segunda se refere a operações militares dirigidas por forças de um só país
da terra e, também, na disponibilidade de água; a fome, pois além ou de uma coalizão de países que intervém diretamente entre partes em conflito para
da consequência evidente da queda de produção, as secas são um restaurar a paz. Múltiplos elementos podem, no entanto, causar a rápida escalada de
uma ação à outra (MURRAY, 1993). Para saber mais acerca do desenvolvimento his-
dos principais motivos de migrações forçadas, que aprofundam
tórico dos termos, ler “The Other Side of Peacekeeping: Peace Enforcement and Who
o aspecto da crise humanitária e da insegurança alimentar; a po- Should Do It?”, de George F. Oliver.
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documentos diziam o que deveria ser feito, entretanto não apon- da “permanência”, quanto às limitações desse caso específico.
tavam meios para atingir as metas postuladas (ALLARD, 1995). O Ademais, o mês de agosto de 2011 assistiu à maior seca dos úl-
próprio inquérito interno das Nações Unidas reconheceu que, no timos sessenta anos no chifre da África (ONU DIGITAL, 2012). A
caso da segunda parte da missão em território somali (UNOSOM escassez natural de um recurso biológico como a água age dra-
II), a assistência incorreu em erros como: maticamente sobre um Estado nas condições de disponibilidade
de alimento como as do Estado Somali. Por último, embora desde
“Mandato muito coercitivo, despreparo operacional diante da in- 2011 – quando a ONU declarou estado de fome severa na Somália –
tensidade dos ataques, incapacidade do Secretariado de treinar os os investimentos em assistência humanitária tenham aumenta-
militares para atuar em missão de paz, falta de comando e controle do exponencialmente, o conflito e a situação de vulnerabilidade
sobre contingentes nacionais que recorriam a instruções de suas persistem e sugerem uma solução que consiga tratar provisões
capitais e fragilidade do consenso político sobre o mandato à luz menos conjunturais e mais estruturantes.
das baixas resultantes dos combates” (UZIEL, 2010, p. 58). O presidente da Somália até setembro de 2012, Sheikh Sha-
rif Ahmed (do Governo Federal de Transição), realizou uma má
As experiências de ajuda humanitária, ainda, constituiriam ame- gerência dos recursos estatais e das estratégias governamentais e
aça ao desenvolvimento da economia local, posto que o provi- fundou-se em uma administração corrupta e fraca politicamente
52 mento de suprimentos alimentícios em larga escala desestimula- (CSNU, 2011). No entanto, Hassan Sheikh Mohamud (o novo pre- 53
ria a produção interna e, principalmente, não agiria no sentido de sidente da Somália, eleito em 10 de setembro de 2012), representa
estabilização da economia, redução da inflação e dos preços dos perspectivas positivas em relação à construção de uma Somália
alimentos e empoderamento dos grupos sociais em relação ao mais integrada e pacífica. O próprio Secretário-Geral das Nações
acesso aos recursos produtivos (STEWART, 1998). Além disso, al- Unidas, Ban Ki-moon, considerou a eleição de um novo presiden-
gumas expedições humanitárias são acusadas de agir em função te a etapa final do processo político de transição da nação (ONU
de interesse puramente político, sem neutralidade e imparciali- DIGITAL, 2012). Espera-se, portanto, que esse recente cenário
dade em suas ações (princípios básicos da ajuda humanitária), político amenize as dimensões estruturais de corrupção, violên-
incorrendo até em casos de profunda corrupção da organização. cia e conflito que solapam as iniciativas de estabelecimento de
O grupo de monitoramento das Nações Unidas relatou em instituições de Estado sólidas, de construção de uma identidade
2008, por exemplo, a cobrança de taxas pelas milícias sobre o tra- nacional capaz de pacificar conflitos e, centralmente, de garantia
balho realizado pelas Organizações Internacionais – 90.000 dóla- do direito fundamental de todo indivíduo à segurança alimentar.
res seria a média de preço cobrado pela atuação de cada Organiza-
ção, por região, no período de seis meses (CSNU, 2011). Por outro
lado, as Organizações não têm livre acesso às áreas atingidas pelo 8. CONCLUSÃO
conflito e, desde 2008, o grupo Al-Shabaad (militantes islâmicos)
tem bloqueado a distribuição de alimentos. No ano de 2011, por O caso da Somália explicita diversas facetas da problemática da
exemplo, os esforços de socorro na Somália foram coordenados segurança alimentar em áreas conflituosas. Se, por um lado, a ge-
por 340 agentes de ajuda humanitária que, entretanto, tiveram ografia desfavorável e as secas prolongadas não contribuem para
movimentação restrita no país e não tiveram acesso à maioria das uma constância na produção de alimentos na região, por outro a
populações afetadas no centro sul somali (OCHA, 2011). briga entre facções dentro do país dificulta ainda mais a distribui-
Em decorrência disso, as Organizações Internacionais foram ção dos alimentos disponíveis para quem mais necessita. Tal re-
obrigadas a reduzir sua presença em território somali, dadas as lação evidencia a natureza política da insegurança alimentar na
limitações impostas pelo Al-Shabaad e pelos próprios problemas região, o que torna o argumento de crise de fome como desastre
estratégicos e de orçamento citados. Desse modo, o insucesso da natural uma mera peça retórica.
assistência humanitária respeita tanto às limitações estratégicas Para reversão da situação, é necessário que os diversos atores
que as Organizações Internacionais têm em desenvolver um tra- tenham claro um plano de cooperação que trabalhe efetivamente
balho capaz de garantir a segurança alimentar em sua dimensão com os pontos citados anteriormente – ajuda humanitária imedia-
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ta e ajuda financeira para o desenvolvimento, focalizando ações no DOBBINGS, J.; JONES, S.; CRANE, K. & DEGRASSE, B. The Beginners Guide to Nation-
setor primário da economia e atividades de nationbuilding. Desse Building. Santa Monica: RAND Corporation, 2007.

modo, a dimensão imediata e emergencial da situação é atendi- EUROPEAN COMISSION. Humanitarian and Civil Protection – Somalia Factsheet. 2012.
da, mas não se esquece do desenvolvimento em longo prazo das
regiões afetadas – sempre buscando a estabilização dos conflitos. FENNY, S.; CLARKE, M. The Millennium Development Goals and Beyond:
International Assistance. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2009.
Mesmo que as previsões sobre o combate às situações de
insegurança alimentar não sejam muito otimistas, e possível re- FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. Agriculture, food and nutrition in post-
duzir a taxa de vítimas atingidas nesses cenários. É importante, emergency and rehabilitation. 1995. Disponível em: <http://www.fao.org/docrep/003/
V5611E/V5611E05.htm>. Acesso em: 11 dez. 2012.
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destes ocorrerem, da prevenção de crises de fome nesse cenário. ______. Food Security Information for Action: Policy Brief, EC-FAO, dezembro, 2008.

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