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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

__________________
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

PLENÁRIO

Processo n.º 39/2012 - P

ACÓRDÃO N.º 6/2017

Acordam, em Plenário, os Juízes Conselheiros do Tribunal


Administrativo:

Goodall & O´Neill Turismo, Gert Roelf Furstenburg e


Aqualogic-Close Corporations, com os demais sinais de
identificação nos autos, inconformados com o teor e sentido do
acórdão proferido pela Primeira Secção deste Tribunal, em 03
de Abril de 2012, ao qual coube o número 40/2012, sobre a
intimação do Governador da Província de Gaza para abster-se
de conduta ilegal, vem, perante esta instância jurisdicional, dele
interpor o pertinente recurso, cujos fundamentos constantes de
folhas 124 a 132 dos autos, dos quais se extrai essencialmente
o seguinte:

1. O acórdão recorrido está inquinado do vício de nulidade, nos


termos do artigo 668.º, n.º 1, alínea b) do CPC, aplicável por
força do artigo 1 da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho, bem como
não especifica as razões de facto e de direito que estão na base
da decisão dos Venerandos Juízes Conselheiros.

2. Em momento nenhum houve transmissão do DUAT (como se


alega na contestação do requerido), nem mesmo o acórdão
consegue demonstrar isso, pelo que, não vemos como possa ter
havido violação do previsto nos números 1, alínea a) e 2, do
artigo 18 da Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro (Lei de Terras).

3. Ademais, o acórdão não faz menção ao plano de exploração


que não foi cumprido, pelo que, não se vislumbra o motivo para
a revogação do DUAT, estranhando-se que os recorrentes sejam
penalizados por esse facto.

4. Os imóveis em causa pertencem única e exclusivamente aos


recorrentes, detendo o direito de propriedade sobre os mesmos,
ou seja, ao adquirirem os imóveis, tiveram transferido o DUAT
para a sua esfera jurídica, nos termos conjugados do n.º 4 do
artigo 16 da Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro (Lei de Terras) e n.º
2 do artigo 16 do Decreto n.º 66/98, de 8 de Dezembro
(Regulamento da Lei de Terras).

5. Ora, mesmo tendo havido a revogação do DUAT da Pérola,


Lda., são as benfeitorias pertencentes a este, que passam para o
domínio directo do Estado e não os imóveis propriedade titulada
e legitimada por registo pelo Estado, dos ora recorrentes, que
estão de boa-fé.

6. Como terceiros de boa-fé, mesmo que eventualmente fosse


declarado nulo o negócio de aquisição dos imóveis pelos
requerentes à Pérola, Lda., (que não é o caso), os direitos
daqueles não podem ser prejudicados (artigo 291.º do C.C).

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Termina, solicitando que o Tribunal conheça o mérito da causa,
requerendo a revogação do acórdão recorrido e, em
consequência, intimar o Governador da Província de Gaza a
abster-se de importunar a posse e propriedade relativamente
aos imóveis acima mencionados e ordenar a devolução de todos
os bens retirados, por se tratar de um acto ilegal.

No mais, dá-se, aqui, por integralmente reproduzido o recurso a


fls. 124 a 132 dos autos.

O processo foi com vista ao Ministério Público, onde o


Digníssimo Magistrado deste órgão junto desta instância
jurisdicional pronunciou-se, como consta de folhas 139v e 140
dos autos, na essência, promovendo:

“a) A observância do consagrado nos números 2 e 3 do artigo


120 da Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho e artigo 399.º do CPC, de
onde se extrai, fundamentalmente, que o pedido de intimação
pode ser apresentado antes ou na pendência do uso do meio
processual administrativo ou contencioso adequado à tutela dos
interesses a que a intimação se destina, bem como, quando os
interesses que se pretendam tutelar, sejam susceptíveis de
defesa através do meio da suspensão de eficácia, não pode ser
apresentado pedido de intimação.

b) O cumprimento do previsto no artigo 382.º do CPC dispõe


que, a providência cautelar fica sem efeito (…) se, tendo-a
proposto, o processo estiver parado durante mais de trinta dias,
por (…) algum incidente de que dependa o andamento da
causa”.

Colhidos os vistos legais dos Juízes Conselheiros, cumpre


apreciar e decidir.

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O pleito trazido pelos recorrentes ao conhecimento desta
instância jurisdicional tem como base a decisão do tribunal a
quo em indeferir o pedido de intimação, por falta de
fumndamento, na medida em que, os imóveis em causa
encontram-se implantados na parcela cujo Direito de Uso e
Aproveitamento tinha sido outorgado à sociedade Pérola, Lda.,
que, posteriormente foi revogado, tendo as respectivas
benfeitorias irremovíveis revertido a favor do Estado, nos termos
dos n.ºs 1, alínea a) e 2 do artigo 18 da Lei da Terra, sendo que,
a mesma sociedade foi notificada, como parte interessada, nos
termos do artigo 26.º do CPC, para desocupar os imóveis e não
tendo cumprido, a Administração Pública usou os meios
coercivos previstos e permitidos por lei para salvaguardar o
interesse do Estado (vide artigo 1314.º do Código Civil).

Ora, o pedido de intimação trata-se de um procedimento


cautelar presente sempre na dependência de uma acção,
podendo ser apresentado antes da acção ser proposta ou na
pendência dela (cfr. n.º 2 do artigo 120 da Lei n.º 9/2001, de 7
de Julho, Lei do Processo Administrativo Contencioso - LPAC),
em vigor na altura dos factos.

Compulsados os autos, constata-se que a intimação requerida,


por obedecer ao princípio da actualidade, nos termos do n.º 1
do artigo 120 da LPAC, conjugado com o artigo 399.º do CPC,
não visa proteger o dano já produzido, que é o caso vertente,
pois os apetrechos dos imóveis em causa já foram retirados pela
equipa multi-sectorial, mas o dano a produzir, no sentido do
requerido se abster da actividade ilícita.

Neste sentido, a intimação prevista no artigo 120 da LPAC visa,


teleologicamente, acautelar, não o dano passado, produzido,
mas o dano futuro, pelo que, o presente pedido de intimação
não procede, ou seja, não poderia ser apresentado, de acordo
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com o previsto no n.º 3 do artigo 120 da LPAC, que dispõe que,
“Quando os interesses que se pretendam tutelar pelo pedido de
intimação sejam susceptíveis de defesa através do meio da
suspensão de eficácia, não pode ser apresentado pedido de
intimação”, pois os interesses que se pretendem tutelar pela
actual intimação estão salvaguardados por meio da acção de
suspensão de eficácia do despacho do Governador da Província
de Gaza, de 25 de Novembro de 2005, relativo à revogação do
DUAT da Parcela n.º 6, titulada pela sociedade Pérola, Lda.,
onde se acham implantados os imóveis dos recorrentes,
constante do Processo n.º 128/2010, a correr os seus trâmites
legais no Plenário deste Tribunal.

Pelo exposto, o acórdão recorrido, por ter feito correcta


interpretação e aplicação da lei, não merece censura, pelo que,
reunidos em Plenário, os Juízes Conselheiros deste Tribunal,
acolhendo a douta promoção do Digníssimo Magistrado do
Ministério Público, acordam em denegar a providência
requerida, por falta de fundamento legal.

Custas pelos apelantes, a pagarem solidariamente, que se fixam


em 10.000,00MT (dez mil meticais).

Registe-se e notifique-se.

Maputo, 10 de Abril de 2017

Machatine Paulo Marregane Munguambe – Presidente

José Maurício Manteiga – Relator

5
Januário Fernando Guibunda

Filomena Cacilda Maximiano Chitsonzo

Amílcar Mujovo Ubisse

José Luís Maria Pereira Cardoso

David Zefanias Sibambo

Aboobacar Zainadine Dauto Changa

João Varimelo

Isabel Cristina Pedro Filipe

Rufino Nombora

Pelo Ministério Público


Fui Presente,

Edmundo Carlos Alberto


(Vice-Procurador Geral da República)

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