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TJPA - 2º Grau

PJe - Processo Judicial Eletrônico

20/04/2023

Número: 0800809-24.2022.8.14.0000
Classe: SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA
Órgão julgador colegiado: Tribunal Pleno
Órgão julgador: Presidência do TJPA
Última distribuição : 31/01/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Variação Cambial
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ESTADO DO PARÁ (REQUERENTE) MARIA TEREZA COSTA PANTOJA (ADVOGADO)
IBRAIM JOSE DAS MERCES ROCHA (ADVOGADO)
MINERACAO BURITIRAMA S.A (REQUERIDO) BRAHIM BITAR DE SOUSA (ADVOGADO)
SKYPAR EMPREENDIMENTOS E PARTICIPACOES EIRELI
(REQUERIDO)
BANCO ABC BRASIL S.A. (REQUERIDO) GUSTAVO JOSE MENDES TEPEDINO (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
8066639 07/02/2022 Decisão Decisão
23:08
PROCESSO ELETRÔNICO Nº. 0800809-24.2022.8.14.0000.
PEDIDO DE SUSPENSÃO DE LIMINAR
REQUERENTE: ESTADO DO PARÁ.

REQUERIDO: JUIZ CONVOCADO JOSÉ TORQUATO ARAÚJO DE ALENCAR.

Processo relacionado: Agravo de instrumento nº. 0811283.88.2021.8.14.00000.

DECISÃO

Trata-se de requerimento formulado pelo ESTADO DO PARÁ, objetivando a suspensão d


os efeitos da decisão monocrática ID 6882604, na qual o Excelentíssimo Juiz Convocado
JOSÉ TORQUATO ARAÚJO DE ALENCAR, indeferiu o efeito suspensivo pleiteado no agravo
de instrumento nº. 0811283.88.2021.8.14.00000.
O referido recurso foi interposto por empresas mineradoras que atuam em conjunto sob a
denominação de “GRUPO BURITIRAMA”. Na origem, o referido grupo empresarial ajuizou ação
cautelar prevista no art. 20-B, § 1º, da Lei nº. 11.101/05, que regula a recuperação judicial, a
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária (Processo nº. 0809628-
94.2021.8.14.0028). O referido dispositivo possui a seguinte redação:
Art. 20-B. Serão admitidas conciliações e mediações antecedentes ou
incidentais aos processos de recuperação judicial, notadamente:

(...)

§ 1º Na hipótese prevista no inciso IV do caput deste artigo, será facultado


às empresas em dificuldade que preencham os requisitos legais para
requerer recuperação judicial obter tutela de urgência cautelar, nos
termos do art. 305 e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil), a fim de que sejam suspensas as
execuções contra elas propostas pelo prazo de até 60 (sessenta) dias,
para tentativa de composição com seus credores, em procedimento de
mediação ou conciliação já instaurado perante o Centro Judiciário de
Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) do tribunal competente ou
da câmara especializada, observados, no que couber, os arts. 16 e 17
da Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020). (Grifo nosso).

Por meio da mencionada ação cautelar, o “GRUPO BURITIRAMA”, que atua na


produção e na exportação de manganês a partir do município de Marabá/PA, busca a suspensão

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de ações e de execuções movidas contra si, por 60 (sessenta) dias, bem como a liberação de
ativos bloqueados.

O juízo da 2ª Vara Cível e Empresarial de Marabá se declarou absolutamente


incompetente para apreciar o pedido de tutela cautelar antecedente e determinou a remessa do
feito ao Juízo da 2ª Vara de Recuperações Judiciais e Falências do Foro Central de São
Paulo/SP (ID 37532442 da ação de origem).

Contra a referida decisão, o Grupo Buritirama interpôs o agravo de instrumento nº.


0811283.88.2021.8.14.00000, pleiteando a concessão de efeito suspensivo e a antecipação de
tutela recursal, de modo que a ação cautelar permanecesse no juízo de Marabá/PA. O
Excelentíssimo Juiz Convocado, Dr. José Torquato Araújo De Alencar, indeferiu o efeito
suspensivo e a antecipação de tutela pleiteada no recurso, proferindo a decisão monocrática ID
6882604, cuja redação é seguinte:

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra decisão proferida pelo


Juízo de Direito da 2ª Vara Cível e Empresarial da Comarca de Marabá – ID
Num 37532442, nos autos da Ação Cautelar Prévia à Recuperação Judicial
fundada na Lei nº 11.101/2005 – Proc. nº 0809628-94.2021.8.14.0028, na
qual o Juízo a quo se declarou incompetente para julgar a cautelar prévia à
recuperação ajuizada pelas agravantes com base no art. 20-B, § 1º da Lei
nº 11.101/05 (“LRE”), determinando a remessa do feito para o Juízo da 2ª
Vara de Recuperações Judiciais e Falências do Foro Central de São
Paulo/SP.

Aduzem as agravantes que, sendo o município de Marabá/PA o local onde


se encontra o estabelecimento mais importante das sociedades integrantes
do GRUPO BURITIRAMA, a demanda originária deste recurso foi distribuída
perante o Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Marabá, assim como o
pedido de mediação fora apresentado perante o CEJUSC de Marabá, que
acolheu o pedido.

Assim, pedem a atribuição de efeito suspensivo ao recurso, com a


concessão e antecipação dos efeitos da tutela para suspender todas as
ações e execução movidas contra as agravantes, por 60 dias, além de
quaisquer outras ações e execuções que venham a ser propostas no futuro,
diante da instauração de procedimento de mediação coletiva junto ao
CEJUSC; e a liberação de todos os ativos bloqueados nos autos das
execuções movidas pelos credores contra as agravantes.

É o suficiente a relatar. Decido.

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O recurso é cabível (art. 1015, XIII do CPC c/c art. 189, § 1º, II da Lei nº
11.101/2005), preparado, tempestivo e instruído com as peças necessárias,
pelo que, preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do
presente Agravo de Instrumento e passo a examinar o pedido de atribuição
de efeito suspensivo ao recurso, com a concessão e antecipação dos efeitos
da tutela.

Consabido que o relator, ao receber o agravo, poderá atribuir efeito


suspensivo ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a
pretensão recursal (art. 1019, I do CPC), desde que o seu cumprimento
possa gerar risco de dano e ficar demonstrada a probabilidade de
provimento do recurso, ou seja, os clássicos requisitos para concessão das
liminares em geral (fumus boni iuris e periculum em mora). Os requisitos não
são alternativos, mas sim concorrentes, ou seja, faltando um deles, a
providência liminar não será concedida.

No caso concreto, em uma análise perfunctória dos fundamentos recursais,


bem como do documental colacionado aos autos, entendo não estarem
presentes os requisitos necessários à concessão do efeito suspensivo ao
recurso e da antecipação da tutela recursal.

Em que pese a exaustiva argumentação recursal, a decisão agravada


considerou que a principal atividade do grupo está onde se localiza a
sua sede, que é o Estado de São Paulo, inclusive lá estão os seus
credores, devendo ser observado que as diversas e vultosas
execuções contra si ajuizadas, todas elas estão em tramitação naquele
Estado, sendo que a atividade aqui desenvolvida é primária e diz
respeito tão somente à extração do minério.

Não fosse isso, já tramitou (ou tramita) perante a 2ª Vara de


Recuperações Judiciais e Falências do Foro Central de São Paulo/SP,
Ação de Falência - Processo nº 1112637-67.2020.8.26.0100, o que
reforça ainda mais que na sede do grupo é que se desenvolve a sua
principal atividade.

A instauração de procedimento de mediação coletiva junto ao CEJUSC de


Marabá, procedimento extrajudicial de tentativa de solução negociada de
conflitos, obviamente, não previne e nem define competência.

Por fim, não vislumbro a possibilidade de dano, pois o processo no Estado


de São Paulo, certamente terá a mesma prestação jurisdicional que neste
Estado, com a vantagem de estar próximo aos credores das agravantes.

Isto posto, INDEFIRO o pedido de efeito suspensivo e de antecipação da


tutela recursal.

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I. Comunique-se ao juízo primeira instância acerca desta decisão;

II. Ao Ministério Público de 2º grau, para análise e parecer.

À Secretaria para as providências. (Grifo nosso).

Considerando a dimensão das atividades de mineração realizadas pelo Grupo Buritirama


no município de Marabá, o Estado do Pará formulou o presente pedido de suspensão,
objetivando sustar os efeitos da decisão monocrática acima transcrita, arguindo, em resumo, que:

a) A decisão atacada é desproporcional, pois mantém decisão que determina a remessa


do processo para uma jurisdição distante do território paraense sem antes avaliar
concretamente o volume de minério extraído, que, apesar de ser atividade primária, é
fator primeiro do pagamento de impostos e do faturamento da empresa;

b) A ação cautelar tem como finalidade evitar a paralisação do Grupo Empresarial,


situação que teria grande impacto econômico no território paraense;

c) A remessa dos autos para a Comarca do Estado de São Paulo elimina um dos
principais elementos da apreciação do juízo sobre a realidade na condução de
eventuais medidas drásticas contra o grupo empresarial, que tem papel significativo na
economia e na sociedade paraense;

d) O juízo paraense poderá avaliar as medidas de interesse dos credores, mas com a
sensibilidade local, sendo razoável ordenar a suspensão da decisão monocrática para
que a ação cautelar seja processada em território paraense, devendo-se, no mínimo,
aceitar as presunções fornecidas pelo próprio grupo empresarial, no sentido de que
aqui é o seu principal pátio econômico, assim como se deve considerar a informação
deste ente federado sobre a carga tributária;

e) O deslocamento da competência para apreciação da ação cautelar pode causar grave


lesão à ordem econômica, ambiental e administrativa, pois pode inviabilizar as
operações do Grupo Buritirama no território paraense, afetando diretamente a
economia local;

f) O grupo empresarial tem condicionantes ambientais específicas ainda pendentes de


cumprimento no Estado. Os possíveis danos ambientais não se revelam em curto
prazo;

g) As operações contábeis desse tipo de empreendimento (produção e exportação de


minério) estão focadas no local onde se situa a mina;

h) A principal fonte de operações do Grupo Buritirama está situada no município de


Marabá/PA, motivo pelo qual a ação cautelar deve permanecer no juízo local, sob pena
de ensejar o descontrole de operações que geram 680 (seiscentos e oitenta) empregos
diretos e 2.000 (dois mil) indiretos, bem como a ocorrência de graves danos

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econômicos, ambientais e administrativos;

i) A mineração se realiza na escala de toneladas, sendo empreendimento altamente


oligopolizado, não tendo lógica negar que aqui seja o estabelecimento principal do
Grupo Buritirama, motivo pelo qual deve prevalecer, até prova contrário, a informação
do grupo empresarial nesse sentido, o que não prejudica o interesse dos credores e
favorece o interesse da comunidade paraense, que está sujeita ao maior impacto;

j) O Relator Convocado proferiu decisão sem conhecer os elementos da condicionante


ambiental, os empregos diretos e indiretos, bem como o aspecto tributário envolvido
num empreendimento desta natureza;

k) Pode-se claramente vislumbrar os riscos de grave lesão irreparável à ordem pública


caso seja mantida a remessa do processo cautelar para outra jurisdição, o que pode
afetar um grupo empresarial com atuação central em território paraense, com possíveis
impactos negativos na economia, no meio ambiente e na ordem administrativa;

l) Existe premente necessidade de acompanhamento do processo cautelar por parte do


Estado do Pará, tendo em vista que a eventual paralisação do grupo empresarial pode
afetar toda uma região empobrecida, possibilitando até mesmo prejuízos na realização
de condicionantes ambientais e no serviço público prestado pelo Estado do Pará,
circunstâncias que impõem a suspensão almejada.

Após aduzir suas razões fáticas e jurídicas, o requerente pede a suspensão da decisão
monocrática proferida no agravo de instrumento nº.0811283.88.2021.8.14.00000, de modo que a
ação cautelar ajuizada pelo Grupo Buritirama permaneça no juízo de Marabá/PA

No mesmo dia em que o pedido de suspensão foi protocolado, o BANCO SANTANDER


BRASIL S.A., na condição de credor do Grupo Buritirama, apresentou manifestação voluntária,
impugnando pretensão suspensiva, argumentando, em síntese, que: a) o pleito suspensivo é
incabível; b) a intervenção do Estado é indevida, pois o recurso trata apenas de questão de
competência; c) o grupo empresarial tem seu estabelecimento principal em São Paulo/SP, o que
atraia competência para a ação cautelar; d) o deslocamento da competência não acarretará
prejuízos ao Estado do Pará.

Os Bancos ABC Brasil S.A. (ID 7995437), Citibank N.A. (ID 8000455), Itaú Unibanco S.A
(ID 8011218), Votorantim S.A. (ID 8030962) e Bradesco S.A. (ID 8036690), também protocolaram
manifestações voluntárias, refutando o pedido de suspensão formulado pelo Estado,
apresentando, em resumo, os mesmos argumentos expostos pelo Banco Santander Brasil S.A.

Por meio da petição ID 8013233, o Município de Marabá requereu seu ingresso no feito, na
qualidade de terceiro interessado, bem como manifestou sua adesão ao pedido de suspensão e
aos fundamentos apresentados pelo Estado do Pará, pugnando, ao final, pelo deferimento do
pedido de contracautela.

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Em petição ID 8050558, o Estado do Pará apresentou manifestação complementar à
inicial, rechaçando os argumentos apresentados pelos Bancos interessados e reiterando o pedido
de suspensão da decisão monocrática proferida no Agravo de Instrumento nº 0811283-
88.2021.8.14.0000.

Eis o relatório. Decido.

O pedido de suspensão consiste em um instrumento destinado à tutela de direitos difusos


e do interesse público primário, pois viabiliza o sobrestamento dos efeitos de decisões judiciais
com o objetivo de evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.
A Lei nº. 8.437/92, que dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra atos do
Poder Público, tratou da suspensão de decisões em seu art. 4º, cuja redação é a seguinte:
Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o
conhecimento do respectivo recurso, suspender, em despacho
fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas contra o
Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público
ou da pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de
manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar
grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.

§ 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo de


ação cautelar inominada, no processo de ação popular e na ação civil
pública, enquanto não transitada em julgado.

§ 2º O Presidente do Tribunal poderá ouvir o autor e o Ministério Público, em


setenta e duas horas.

§ 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá agravo, no


prazo de cinco dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte a sua
interposição.

§ 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar a manutenção


ou o restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo
pedido de suspensão ao Presidente do Tribunal competente para conhecer
de eventual recurso especial ou extraordinário.

§ 5º É cabível também o pedido de suspensão a que se refere o § 4º,


quando negado provimento a agravo de instrumento interposto contra a
liminar a que se refere este artigo.

§ 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar concedida nas


ações movidas contra o Poder Público e seus agentes não prejudica nem
condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este
artigo.

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§ 7º O Presidente do Tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo
liminar, se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a
urgência na concessão da medida.

§ 8º As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma


única decisão, podendo o Presidente do Tribunal estender os efeitos da
suspensão a liminares supervenientes, mediante simples aditamento do
pedido original.

§ 9º A suspensão deferida pelo Presidente do Tribunal vigorará até o


trânsito em julgado da decisão de mérito na ação principal. (Grifo nosso)

O caput do dispositivo acima estabelece que a análise do pedido de suspensão de liminar


compete ao Presidente do Tribunal ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso.
Entretanto, a aplicação de tal regra pressupõe que, na hierarquia jurisdicional, o Presidente da
Corte esteja em posição superior em relação ao órgão do qual se originou a decisão atacada.

Assim, embora as decisões monocráticas dos Desembargadores deste Tribunal e dos


juízes convocados para atuação em 2ª instância possam ser questionadas por meio de agravo
interno, cujo julgamento é realizado no âmbito do TJPA, os pedidos de suspensão de tais
decisões, feitos com fundamento na Lei nº. 8.437/92, não podem ser apreciados por esta
Presidente.

Tanto é verdade que o art. 25 da Lei Federal nº. 8.038/90 estabelece o seguinte:

Art. 25 - Salvo quando a causa tiver por fundamento matéria


constitucional, compete ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça,
a requerimento do Procurador-Geral da República ou da pessoa jurídica de
direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à
segurança e à economia pública, suspender, em despacho
fundamentado, a execução de liminar ou de decisão concessiva de
mandado de segurança, proferida, em única ou última instância, pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito
Federal.

§ 1º - O Presidente pode ouvir o impetrante, em cinco dias, e o Procurador-


Geral quando não for o requerente, em igual prazo.

§ 2º - Do despacho que conceder a suspensão caberá agravo regimental.

§ 3º - A suspensão de segurança vigorará enquanto pender o recurso,


ficando sem efeito, se a decisão concessiva for mantida pelo Superior
Tribunal de Justiça ou transitar em julgado. (Grifo nosso).

No mesmo sentido de observância da hierarquia jurisdicional, o art. 36, inciso XXVI, do


Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do Pará assim dispõe:

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Art. 36. Ao Presidente do Tribunal de Justiça, além da atribuição de
representar o Poder Judiciário, de exercer a suprema inspeção da atividade
de seus pares, de supervisionar todos os serviços do 2º grau, de
desempenhar outras atribuições que lhe sejam conferidas em lei e neste
Regimento, compete:

(...)

XXVI - suspender a execução das tutelas provisórias concedidas pelos


Juízes de 1º Grau, e demais casos previstos em lei especiais e também
neste regimento; (Grifo nosso).

Corroborando as assertivas aqui apresentadas, cito a lição de Leonardo Carneiro da


Cunha (in A fazenda pública em juízo. 17. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 851-870 – livro
digital):
O pedido de suspensão não tem natureza recursal, por não estar
previsto em lei como recurso e, igualmente, por não gerar a reforma, a
anulação nem a desconstituição da decisão. Desse modo, o
requerimento de suspensão não contém o efeito substitutivo a que alude o
art. 1.008 do CPC.8 Na verdade, conquanto alguns autores de nomeada lhe
atribuam a natureza de sucedâneo recursal e outros, a de um incidente
processual, o pedido de suspensão consiste numa ação cautelar
específica destinada, apenas, a retirar da decisão sua executoriedade;
serve, simplesmente, para suspender a decisão, mantendo-a, em sua
existência, incólume. No pedido de suspensão, há uma pretensão
específica à cautela pela Fazenda Pública.

Daí por que não se lhe deve conferir natureza recursal, por não haver a
reforma, a desconstituição nem a anulação da decisão; esta se mantém
íntegra, subtraindo-se tão somente os seus efeitos, sobrestando seu
cumprimento. Desse modo, o requerimento de suspensão não contém o
efeito substitutivo a que alude o art. 1.008 do CPC.

(...)

A competência para examinar o pedido de suspensão é do presidente do


tribunal competente para apreciar o recurso a ser interposto. Ora, interpondo
a União ou outro ente federal um recurso contra decisão ou sentença
proferida por juiz estadual, tal apelo deve ser julgado pelo respectivo tribunal
de justiça. Daí por que o pedido de suspensão ajuizado pela União ou por
outro ente federal em face de liminar ou sentença proferida por juiz estadual
deve ser apreciado pelo presidente do respectivo tribunal de justiça.

Caso, todavia, o provimento seja concedido, originariamente, por


membro de tribunal, o pedido de suspensão deverá ser intentado junto

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ao Presidente do Supremo Tribunal Federal ou ao Presidente do
Superior Tribunal de Justiça, quando a causa tiver por fundamento,
respectivamente, matéria constitucional ou infraconstitucional.

Quando o art. 4º da Lei 8.437/1992 menciona o “tribunal ao qual couber


o conhecimento do respectivo recurso”, está, por óbvio, a referir-se
aos futuros recursos especial e extraordinário, cabendo,
respectivamente, ao Presidente do STJ e do STF a apreciação do
pedido de suspensão. Os tribunais estão vinculados,
hierarquicamente, a esses tribunais de superposição, competindo a
eles – e não ao presidente do próprio tribunal – apreciar o pedido de
suspensão. Significa, então, que, concedida liminar por relator, cabe o
pedido de suspensão ao Presidente do STF ou do STJ, e não ao
presidente do próprio tribunal. Enfim, concedida liminar por relator,
cabe o pedido de suspensão ao Presidente do STF ou do STJ, e não ao
presidente do próprio tribunal. (Grifo nosso).

Observa-se que, se a pretensão suspensiva tiver como alvo uma decisão monocrática do
Relator, e não uma decisão de primeiro grau, a competência será do Presidente do STJ ou do
STF, conforme a natureza da matéria discutida (infraconstitucional ou constitucional).

Para corroborar os fundamentos acima, cito os seguintes julgados:

SUSPENSÃO DE LIMINAR. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA PROFERIDA


POR DESEMBARGADOR FEDERAL EM SEDE DE APELAÇÃO.
COMPETÊNCIA DE TRIBUNAL HIERARQUICAMENTE SUPERIOR. STJ.
AGRAVO PREJUDICADO. 1. Competência do STJ para julgamento de
Suspensão de Liminar que tem por objeto decisão interlocutória,
proferida por Desembargador Federal desta Corte, em sede de
apelação. Inteligência do Art. 25 da Lei 8038/90. 2. Suspensão de
Liminar não conhecida e agravo prejudicado.

(TRF-3 - SLAT: 50118629120194030000 SP, Relator: Desembargador


Federal PAULO OCTAVIO BAPTISTA PEREIRA, Data de Julgamento:
04/02/2020, Órgão Especial, Data de Publicação: e - DJF3 Judicial 1 DATA:
02/03/2020).

AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE


CONTRACAUTELA. AUSÊNCIA DE COMPETÊNCIA HORIZONTAL DA
PRESIDÊNCIA DO MESMO TRIBUNAL EM QUE PROFERIDA A
CAUTELA QUE SE PRETENDE SUSPENDER. USURPAÇÃO DA
COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO
INTERNO DESPROVIDO.

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1. Nos termos do art. 25 da Lei n.º 8.038/90, compete ao Ministro
Presidente do Superior Tribunal de Justiça sustar os efeitos de
decisões concessivas de ordem mandamental ou deferitórias de
liminar ou tutela de urgência, proferidas em única ou última instância
pelos tribunais regionais federais ou estaduais.

2. A presidência da mesma corte que deferiu a cautela cuja eficácia


pretende-se sobrestar não detém competência suspensiva horizontal.
Nesse caso, o pedido de contracautela deve ser analisado por
presidente de tribunal com superposição hierárquica.

3. Reclamação procedente. Agravo interno desprovido.

(AgInt na Rcl 28.518/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Rel.


p/ Acórdão Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em
15/05/2019, DJe 12/06/2019). (Grifo nosso).

Conclui-se, portanto, que o presente requerimento de suspensão sequer pode ser


conhecido por esta Presidência, sob pena de usurpação da competência dos Tribunais
Superiores. Em sede de pedido de suspensão de liminar, esta Presidência não pode sustar os
efeitos de decisão monocrática proferida por outro Desembargador ou Juiz Convocado.
Destaca-se que o requerimento suspensivo não pode ser utilizado como sucedâneo
recursal, sendo vedada a análise de questões de mérito em seu âmbito de cognição, pois sua
finalidade é tão somente evitar a ocorrência de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas, mediante a suspensão dos efeitos de decisões que possam resultar em tais
consequências, conforme demonstrado pela legislação e pela doutrina citadas neste decisum.
Diante do exposto, deixo de conhecer do pedido de suspensão dos efeitos da decisão
monocrática, em razão da ausência de pressuposto processual de validade, qual seja, a
competência jurisdicional, em conformidade com os termos da fundamentação.

Publique-se. Intime-se.

Comunique-se o teor da presente decisão ao Excelentíssimo Juiz Convocado, Dr. José


Torquato Araújo de Alencar.

Não havendo interposição de recurso, certifique-se e arquive-se.

Belém, 7 de fevereiro de 2022.

Desembargadora Célia Regina de Lima Pinheiro


Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Pará

Assinado eletronicamente por: CELIA REGINA DE LIMA PINHEIRO - 07/02/2022 23:08:16 Num. 8066639 - Pág. 10
https://pje-consultas.tjpa.jus.br/pje-2g-consultas/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22020723081617900000007845057
Número do documento: 22020723081617900000007845057
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