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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000553226

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de


Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000, da Comarca de
Louveira, em que é agravante MUNICÍPIO DE LOUVEIRA, é
agravado WEBECO PARTICIPAÇÕES LTDA. (EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 2ª Câmara


Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São
Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso, com determinação. V. U., de conformidade com o voto
do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores


RICARDO NEGRÃO (Presidente sem voto), MAURÍCIO PESSOA E
JORGE TOSTA.

São Paulo, 3 de julho de 2023.

SÉRGIO SHIMURA
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 29504
AI N° 2141845-20.2022.8.26.0000
Comarca: Louveira (Vara Única)
Agravante: MUNICÍPIO DE LOUVEIRA
Agravada: WEBECO PARTICIPAÇÕES LTDA. E OUTRAS (EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL)
Interessado: ADNAN ABDEL KADER SALEM SOCIEDADE DE
ADVOGADOS E ESTADO DE SÃO PAULO
Juiz: Dr. Luiz Antonio de Campos Júnior
Autos de origem nº 1000667-02.2019.8.26.0681

RECUPERAÇÃO JUDICIAL - GRUPO EBF


VAZ - DECISÃO HOMOLOGATÓRIA DO
PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
CONTROLE JUDICIAL DE LEGALIDADE
EXIGÊNCIA DE CERTIDÃO NEGATIVA
DE DÉBITO FISCAL ARTS. 57 E 58 DA
LEI N° 11.101/2005; ART. 191-A, CTN
Decisão homologatória do plano que
não se pronunciou sobre a
apresentação de certidão negativa de
débito tributário Recurso da Fazenda
Nacional Acolhimento - A Lei nº
14.112/2020 veio revigorar a posição
do crédito fiscal no procedimento de
recuperação judicial. Conferiu maior
autonomia à execução fiscal (art. 6º, §
7º-B, LRE), deu maior elasticidade ao
parcelamento do débito fiscal na
recuperação judicial (art. 68, LRE, c.c.
art. 10-A, 10-B e 10-C da Lei nº
14.112/2020) e novo tratamento à
Fazenda Pública nos procedimentos
falimentares (arts. 7º-A, 83, III, e 86,
LRE). No tocante à certidão negativa de
débito, a exigência passou a ser
inarredável condicionante à concessão
da recuperação judicial. Primeiro, que
os arts. 57 e 58, LRE, e o art. 191-A,
Agravo de Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000 -Voto nº 29504 2
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CTN, preveem expressamente tal


requisito para a concessão da
recuperação judicial. Segundo, que a
legislação específica a que alude o art.
68, LRE, veio com a edição da Lei n.
14.112/2020, dando nova dicção à Lei
n. 10.522/2002, dispondo que a
empresa recuperanda pode liquidar
seus débitos mediante parcelamento.
Terceiro, que o parcelamento ou a
transação, além de serem meios de
liquidação da dívida fiscal, servem de
mecanismo de análise e controle da
saúde financeira da empresa pela
Fazenda Pública. Por fim, o
descumprimento do parcelamento ou o
esvaziamento patrimonial da
recuperanda que implique prejuízo à
Fazenda Pública são causas
autorizadoras do decreto de quebra
(art. 73, V e VI, LRE; art. 10-A, V, c.c. §
4º-A, IV, da Lei n. 10.522/2002)
Precedentes das Câmaras Reservadas
de Direito Empresarial do TJSP
RECURSO PROVIDO, COM
DETERMINAÇÃO.

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto


pelo MUNICÍPIO DE LOUVEIRA contra a r. decisão que homologou o
plano de recuperação judicial das agravadas, dispensando as
recuperandas do cumprimento dos requisitos do art. 57, LRE
(apresentação das certidões de dívidas fiscais) (fls. 13963/13964
autos de origem).

Inconformado, o MUNICÍPIO DE LOUVEIRA vem


recorrer, sustentando, em resumo, o descabimento da concessão
da recuperação judicial diante da existência de crédito tributário
pendente de pagamento, à luz do art. 57 da Lei n. 11.101/2005.

Agravo de Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000 -Voto nº 29504 3


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De início, afirma que não foi intimado da decisão


que homologou o plano de recuperação judicial, tampouco de
qualquer ato que ocorreu durante o curso da recuperação judicial,
de tal sorte que o seu recurso é tempestivo, pois somente tomou
ciência da homologação do plano de recuperação das agravadas no
presente momento.

Assevera que a Lei n. 14.112/2020 representou


o novo paradigma a ser seguido, ao dar nova redação ao art. 10-A,
da Lei n.10.522/2002, alargando para até 120 (cento e vinte)
prestação mensais (ou seja, 10 anos) o prazo do parcelamento
especial, afora outras benesses, como a possibilidade de utilização
de créditos decorrentes de prejuízo fiscal, possibilidade de deixar
fora do parcelamento débitos garantidos ou com exigibilidade
suspensa e o aumento do número mínimo de parcelas inadimplidas
para caracterização da rescisão.

Deferido o efeito suspensivo (fls. 239/240),


vieram manifestação do Administrador Judicial e resposta recursal
(fls. 288/292 e 307/315).

O Ministério Público, pela i. Procuradora de


Justiça Dra. Selma Negrão Pereira dos Reis, manifestou-se pelo
provimento do recurso (fls. 317/321).

Não houve oposição ao rito do julgamento


virtual.

É o relatório.

Trata-se de pedido de recuperação judicial pelo


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GRUPO EBF VAZ, distribuído em 16/04/2019, cujo processamento


foi deferido em 29/04/2019 (fls. 579/580 dos autos de origem).

Houve a apresentação de plano de recuperação


judicial (fls. 7465/7569 e 12958/12965 dos autos de origem), e em
13/04/2021 a Assembleia Geral de Credores aprovou o plano (fls.
13119/13126 dos autos de origem).

Em 28/06/2021, o MM. Juízo “a quo” homologou


o Plano de Recuperação Judicial (PRJ) com a dispensa do
cumprimento do art. 57 da Lei n. 11.101/2005 (fls.
13963/13964).

O Município de Louveira recorre sustentando ser


necessária a apresentação da Certidão de Débito Fiscal.

O presente recurso merece prosperar,


respeitado o entendimento do douto Juiz de 1º. grau.

Tempestividade. A preliminar apresentada na


resposta recursal, não pode ser acolhida.

Considerando que a agravante é o MUNICÍPIO


DE LOUVEIRA, é preciso distinguir intimação por meio de
“publicação eletrônica” e intimação “por meio eletrônico”. Como
regra, a mera publicação eletrônica pelo Diário da Justiça eletrônico
produz os efeitos de intimação, com exceção aos casos que exigem
intimação pessoal (art. 4º, § 2º, Lei n. 11.419/2006).

O art. 183, § 1º, CPC, exige “intimação pessoal”,


que pode se dar por “meio eletrônico” (“A União, os Estados, o
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Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e


fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas
as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a
partir da intimação pessoal. § 1o A intimação pessoal far-se-á por
carga, remessa ou meio eletrônico”).

Essa intimação pessoal pode ser feita por meio


eletrônico em portal próprio, dirigida àqueles que se cadastraram
para tal credenciamento (art. 5º, § 6º, Lei n. 11.419/2006).

Portanto, em se tratando da Advocacia Pública


(incluindo o Ministério Público e a Defensoria Pública), as
intimações devem se dar pessoalmente (que pode ser suprida por
meio eletrônico) como prerrogativa legal indeclinável, não sendo
suficiente a mera publicação pelo Diário da Justiça eletrônico.

Em harmonia, o art. 58, § 3º, LRE, dispõe que


“Da decisão que conceder a recuperação judicial serão intimados
eletronicamente o Ministério Público e as Fazendas Públicas federal
e de todos os Estados, Distrito Federal e Municípios em que o
devedor tiver estabelecimento”.

No caso em debate, não constou a intimação


pessoal (art. 183, § 1º, CPC).

Da certidão negativa. Os arts. 57 e 58, LRE,


exigem clara e expressamente a apresentação das certidões
negativas de débitos fiscais para a concessão da recuperação
judicial.

“Art. 57. Após a juntada aos autos do plano


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aprovado pela assembleia-geral de credores ou decorrido o prazo


previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de credores, o devedor
apresentará certidões negativas de débitos tributários nos
termos dos art. 151, 205, 206 da Lei n. 5.172, de 25 de outubro de
1966 - Código Tributário Nacional” (g/n).

“Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o


juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo plano não
tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou
tenha sido aprovado pela assembleia-geral de credores na forma
dos arts. 45 ou 56-A desta Lei”.

Em reforço, o Código Tributário Nacional, no art.


191-A (incluído pela LC 118/2005) reza que “A concessão de
recuperação judicial depende da apresentação da prova de
quitação de todos os tributos, observado o disposto nos arts. 151,
205 e 206 desta Lei”.

Diante dessa circunstância, a concessão da


recuperação judicial fica na dependência da prova de quitação dos
tributos ou de suspensão do crédito tributário (arts. 151, 191-A,
205 e 206, CTN).

É certo que tais comandos normativos vinham


sendo relativizados sob o entendimento, tanto da doutrina como da
jurisprudência, de que a recuperação judicial destina-se à
preservação da empresa, como fonte produtora de riqueza,
fomento da economia e de emprego (art. 47, LRE).

Entretanto, na prática, a Fazenda Pública ficava


de mãos atadas, seja porque na execução fiscal os atos constritivos
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ficavam na dependência do juízo recuperacional, seja porque as


devedoras simplesmente desdenhavam a exigência da certidão
negativa de débito.

Porém, adveio a Lei nº 14.112/2020 revigorando


a posição do crédito fiscal.

Dentre outros pontos, conferiu maior autonomia


à execução fiscal (art. 6º, § 7º-B, LRE), deu maior elasticidade ao
parcelamento do débito fiscal na recuperação judicial (art. 68, LRE,
c.c. art. 10-A, 10-B e 10-C da Lei nº 14.112/2020) e novo
tratamento à Fazenda Pública nos procedimentos falimentares
(arts. 7º-A, 83, III, e 86, LRE).

E no tocante à certidão negativa de débito (ou


certidão positiva com efeito de negativa - CPEN), a exigência
passou a ser condicionante inarredável à concessão da recuperação
judicial.

Parcelamento. Uma das formas de viabilizar a


expedição da certidão negativa de débito fiscal (ou certidão positiva
com efeito de negativa) é a suspensão da exigibilidade de débito
fiscal por meio do parcelamento.

Nessa linha, os arts. 151 e 206, Código


Tributário Nacional rezam:

Art. 151, CTN. “Suspendem a exigibilidade do


crédito tributário (VI) o parcelamento”;

art. 206, CTN. “Tem os mesmos efeitos


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previstos no artigo anterior a certidão de que conste a existência


de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que
tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja
suspensa”.

A seu turno, o art. 68 da Lei n. 11.101/2005


enuncia que a Fazenda Pública pode deferir o parcelamento à
recuperanda (art. 68, LRE), nos termos da legislação específica.

Então foi editada a lei específica (Lei n.


10.522/2002, com a redação dada pela Lei n. 14.112/2020)
prevendo que a empresa recuperanda pode liquidar seus débitos
mediante parcelamento em até 10 anos (art. 10-A) ou por meio
de transação tributária (art. 10-C da Lei n. 10.522/2002).

Com o advento de legislação específica, o


devedor tem opções para saldar seu débito fiscal e, assim, obter a
certidão negativa de débitos ou a certidão positiva com efeito de
negativa (CPEN), mediante parcelamento e, pois, a suspensão da
exigibilidade do crédito fiscal.

Portanto, diante desse cenário, não se admite


mais a cômoda posição da devedora de fazer vista grossa ao seu
passivo fiscal, como se não existisse, nem integrasse o quadro de
crise econômico-financeira. Quer dizer, antes de postular a sua
recuperação judicial, a devedora tem o dever de equacionar o
passivo fiscal com o recuperacional.

O parcelamento ou a transação, além de serem


meios de liquidação da dívida fiscal, servem de mecanismo de
análise e controle da saúde financeira da empresa pela Fazenda
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Pública.

Se o descumprimento do parcelamento é causa


de decretação da quebra, com maior razão se a devedora nem se
dignou a procurar o fisco para tentar saldar seu débito fiscal!!

Também não se pode olvidar de que o


pagamento de outros credores, em detrimento da Fazenda Pública,
encerra esvaziamento patrimonial da devedora, hipótese que
também autoriza o decreto de falência.

No ponto, o art. 73, V e VI, da Lei n.


11.101/2005 (com a redação trazida pela Lei n. 14.112/2020),
preconiza que, em caso de descumprimento do parcelamento
ou da transação, ou esvaziamento patrimonial em detrimento
da Fazenda Pública, determina a convolação da recuperação judicial
em falência.

“Art. 73. O juiz decretará a falência durante o


processo de recuperação judicial (V) por descumprimento dos
parcelamentos referidos no art. 68 desta Lei ou da transação
prevista no art. 10-C da Lei n. 10.522, de 19 de julho de 2002;
(VI) quando identificado o esvaziamento patrimonial da
devedora que implique liquidação substancial da empresa, em
prejuízo de credores não sujeitos à recuperação judicial, inclusive
as Fazendas Públicas”.

Ademais, se o devedor, em aderindo ao


parcelamento, oferecer garantia idônea e suficiente aceita pela
Fazenda Nacional, não poderá incluir tal garantia no plano de
recuperação judicial (art. 10-A, § 1º-C, II, Lei n. 10.522/2002); e o
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inadimplemento do parcelamento autoriza igualmente o pedido de


convolação da recuperação judicial em falência (art. 73, V,
LRE; art. 10-A, V, c.c. § 4º-A, IV, da Lei n. 10.522/2002).

Quer dizer, o parcelamento é uma forma de


obter a certidão negativa. Mas se descumprido, é causa de
conversão da recuperação judicial em falência, circunstância que
corrobora a necessidade da apresentação da certidão negativa de
débito para a concessão da recuperação judicial.

Com a edição da Lei n. 14.112/2020, esta Corte


já se pronunciou a respeito da exigibilidade da certidão de
regularidade fiscal, para a concessão da recuperação judicial.

“AGRAVO DE INSTRUMENTO Recuperação Judicial


concedida independentemente da apresentação de
certidões negativas de débitos fiscais Plano de
soerguimento ilíquido e ilegal, baseado na alienação de
ativos, quotas socais, trespasse e arrendamentos sem
observância ao disposto nos arts. 66 e 142 Minuta
recursal da Fazenda Nacional que defende a revogação da
decisão concessiva Cabimento Passivo tributário que
se aproxima a R$ 200 milhões Penhoras deferidas no
Juízo Federal ignoradas para constituição de UPIs e
viabilização de arrendamento Esvaziamento da atividade
e ativos Ilegalidade Burla ao instituto da recuperação
com finalidade exclusiva de invalidação do passivo
tributário Regularidade fiscal necessária à
concessão da recuperação judicial Ilegalidades em
relação a diversas previsões do PRJ (LREF, arts. 48, 50,
53, 54, 57, 66, 142) Convolação em falência como
Agravo de Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000 -Voto nº 29504 11
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consequência legal e direta da invalidação do Plano de


Recuperação Judicial (LREF, art. 73) Agravo provido”
(TJSP, AI 2110336-08.2021.8.26.0000, rel. RICARDO
NEGRÃO, 22/02/2022).

“RECUPERAÇÃO JUDICIAL - Decisão judicial que, entre


outras análises, ao analisar manifestações do Município de
Santo André, e da União Federal, determinou fossem
apresentada as certidões negativas de débito tributário,
nos termos do art. 57 da Lei 11.101/05, ou que fosse
comprovado o parcelamento do débito - Alegação de que
a decisão combatida viola frontalmente o princípio de
preservação da empresa, que a recuperação judicial
tramita desde 2019, e que o plano de recuperação judicial
aprovado antes da vigência da Lei n. 14.112, que alterou
em parte a LREF, de modo que nem mesmo esta
controvérsia poderia ser instaurada, devendo ser afastada
a obrigatoriedade de juntada de CND´s como
condicionante à concessão da recuperação judicial -
Descabimento - Com a promulgação de legislações a
permitir parcelamento de débitos fiscais, não mais
se justifica a relativização da regra estabelecida no
art. 57, LREF, salientando-se que a Lei n.
14.112/2020, com prazo de vigência de 30 dias a
partir de 24 de dezembro de 2020 e de aplicação
imediata conforme dicção do art. 5º - Necessidade de
a recuperanda providenciar a liquidação ou o
parcelamento dos débitos fiscais existentes na forma que
dispõe a legislação tributária de cada ente público, sob
pena de não o fazendo, ter a falência decretada -
Jurisprudência atual - Decisão mantida - Agravo de
Agravo de Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000 -Voto nº 29504 12
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instrumento não provido” (TJSP, AI


2180736-47.2021.8.26.0000, rel. RICARDO NEGRÃO, j.
24/09/2021).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.


RECURSO DA UNIÃO CONTRA TRÊS DECISÕES: UMA QUE
DETERMINOU A PERMANÊNCIA DO DEPÓSITO JUDICIAL
DOS VALORES DE PRECATÓRIOS DEVIDOS ÀS
RECUPERANDAS, EM RAZÃO DA UNIVERSALIDADE DO
JUÍZO E RELEVÂNCIA DA SATISFAÇÃO DOS CRÉDITOS
TRABALHISTAS, OUTRA QUE INDEFERIU PEDIDO DE
DESTITUIÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL, E OUTRA
QUE HOMOLOGOU O PLANO DE RECUPERAÇÃO E
MODIFICATIVO, COM DISPENSA DA CERTIDÃO
NEGATIVA DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS. (...)
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO PARA
REFORMAR A DECISÃO HOMOLOGATÓRIA DO
PLANO DE RECUPERAÇÃO E RESPECTIVO
MODIFICATIVO, COM A DISPENSA DA CERTIDÃO
NEGATIVA DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS, OU
POSITIVA COM EFEITOS DE NEGATIVA.
HOMOLOGAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO
JUDICIAL AFASTADA.
A ANULAÇÃO DA SENTENÇA DE HOMOLOGAÇÃO DO
PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL NÃO IMPORTA EM
AUTOMÁTICA CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
EM FALÊNCIA, POIS É POSSÍVEL A FORMULAÇÃO DE
NOVO PLANO DE RECUPERAÇÃO, INCLUSIVE ADEQUAÇÃO
DA SITUAÇÃO FISCAL.
CASO CONCRETO EM QUE NÃO SE JUSTIFICA TAL
DISPENSA DAS CERTIDÕES, POIS O CONJUNTO
Agravo de Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000 -Voto nº 29504 13
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PROBATÓRIO REVELA QUE AS RECUPERANDAS ATUARAM


COM NÍTIDO ABUSO DE DIREITO NO PEDIDO DE
RECUPERAÇÃO E NO PLANO ELABORADO, COM O
PROPÓSITO DE SE FURTAR AO PAGAMENTO DOS
DÉBITOS TRIBUTÁRIOS, DESVIANDO OS CRÉDITOS QUE
TEM A RECEBER DE PRECATÓRIOS PARA FRUSTRAR O
PAGAMENTO DAS EXECUÇÕES FISCAIS GARANTIDAS
COM A PENHORA DESSES CRÉDITOS.
DÉBITOS TRIBUTÁRIOS JUNTO À UNIÃO DESDE
1995, COM INÚMERAS EXECUÇÕES FISCAIS.
CRÉDITO MILIONÁRIO DE PRECATÓRIOS (SUPERIOR A
R$ 11 MILHÕES), CEDIDO AO ADVOGADO DA
RECUPERANDA (PELO VALOR DE R$ 200.000,00), EM
RECONHECIDA A FRAUDE À EXECUÇÃO PELO JUÍZO DA
EXECUÇÃO FISCAL.
POSTERIOR DISTRATO DA CESSÃO, COM IMEDIATA
APRESENTAÇÃO DO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO. PLANO
NO QUAL AS RECUPERANDAS PRETENDEM PAGAR OS
CREDORES COM OS VALORES DOS PRECATÓRIOS, E
OBTER CAPITAL DE GIRO, SEM QUALQUER PREVISÃO
DE PAGAMENTO DOS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS.
PROPOSTA DE TRANSAÇÃO APRESENTADA À
PROCURADORIA NACIONAL APÓS A INTERPOSIÇÃO
DESTE RECURSO E INDEFERIDA EM RAZÃO DE INÉRCIA
DA PRÓPRIA DEVEDORA.
CRÉDITO EM DINHEIRO, DECORRENTE DOS
PRECATÓRIOS, QUE TAMBÉM NÃO PODE SER
CONSIDERADO BEM ESSENCIAL. DIREITO DA UNIÃO
SOBRE ELE, TENDO EM VISTA PENHORAS PRÉ-
EXISTENTES. VALORES QUE DEVEM PERMANECER
DEPOSITADOS EM JUÍZO, SALVO SE A PRÓPRIA UNIÃO
Agravo de Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000 -Voto nº 29504 14
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ANUIR COM O LEVANTAMENTO PARA PAGAMENTO DE


CRÉDITOS TRABALHISTAS.
PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA QUE NÃO
PREVALECE NO CASO CONCRETO. EXPOSIÇÃO DE
MOTIVOS DA PROPOSTA DE ALTERAÇÃO DA LEI N.
11.101/2005, DO MINISTÉRIO DA FAZENDA (2018), QUE
ELENCA 5 PRINCÍPIOS (QUE RESUMEM OS 12
PRINCÍPIOS ORIGINAIS DA LEI), A SEREM
CONSIDERADOS. DENTRE ELES: “IV) INSTITUIÇÃO DE
MECANISMOS LEGAIS QUE EVITEM UM INDESEJÁVEL
COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO DOS PARTICIPANTES
DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL / EXTRAJUDICIAL/ FALÊNCIA
QUE REDUNDEM EM PREJUÍZO SOCIAL, TAIS COMO:
PROPOSIÇÃO PELOS DEVEDORES DE PLANO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DESLOCADOS DA REALIDADE
DA EMPRESA (EM DETRIMENTO DOS CREDORES),
PROLONGAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL APENAS
COM FINS DE POSTERGAR PAGAMENTO DE TRIBUTOS OU
DILAPIDAR PATRIMÔNIO DA EMPRESA ETC”.
AGRAVO QUE DEVE SER PARCIALMENTE PROVIDO,
PORTANTO, PARA REFORMAR A DECISÃO QUE
HOMOLOGOU O PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DAS
AGRAVADAS COM DISPENSA DAS CERTIDÕES,
ANULANDO A HOMOLOGAÇÃO DO PLANO, RECONHECER
A NÃO ESSENCIALIDADE DOS CRÉDITOS DE
PRECATÓRIOS PARA A RECUPERAÇÃO, E DETERMINAR
QUE O VALOR DESSES CRÉDITOS PERMANEÇAM
DEPOSITADOS JUDICIALMENTE, SALVO SE HOUVE
ANUÊNCIA DA UNIÃO COM O LEVANTAMENTO DE PARTE
DESSES VALORES PARA PAGAMENTO DOS CRÉDITOS
TRABALHISTAS.
Agravo de Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000 -Voto nº 29504 15
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AGRAVO DE INSTRUMENTO DA UNIÃO PARCIALMENTE


PROVIDO” (TJSP, AI 2001227-59.2021.8.26.0000, rel.
ALEXANDRE LAZZARINI, j. 22/09/2021) (g/n).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.


Decisão agravada que concedeu a recuperação judicial,
independentemente da apresentação das certidões de
regularidade fiscal. Impossibilidade. Art. 57 da LRF.
Inexistência de direito adquirido a regime jurídico
decorrente de construção jurisprudencial. Superveniência
de alterações na lei de recuperação e falência. Tempus
regit actum. AGC realizada durante a vigência da Lei
14.112/2020. Incidência da lei nova. Precedentes.
RECURSO PROVIDO.” (TJSP, AI n.
2090703-11.2021.8.26.0000, rel. AZUMA NISHI, j.
24/11/2021).

“RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Decisão de homologação de


plano de reestruturação aprovado em assembleia geral de
credores. Agravo de instrumento da União Federal,
objetivando condicionar a homologação à apresentação de
certidões negativas de débitos tributários. (...) A
recuperação há de se deferir tão só a empresas viáveis;
não àquelas que, ainda que consigam, em tese, mediante
moratória novacional, quitar credores trabalhistas e
quirografários, não se dispõem a quitar o Fisco.
Inadmissibilidade, no regime da livre concorrência
constitucional brasileiro (Lei Maior, art. 170, IV), da
existência concomitante de empresas privilegiadas, que
não pagam impostos, em posição de vantagem irrazoável
e desproporcional sobre todas as demais, que arcam com
Agravo de Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000 -Voto nº 29504 16
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

esse pesado ônus. Reforma da decisão agravada. Agravo


de instrumento a que se dá provimento. (TJSP, AI n.
2112980-21.2021.8.26.0000, rel. CESAR CIAMPOLINI, j.
26/10/2021).

Na hipótese em debate, verifica-se a Fazenda


Nacional, há muito, vem pugnando pela regularização fiscal, bem
antes da homologação do Plano de Recuperação Judicial (fls.
7646/7648, dos autos de origem).

Do exposto, pelo meu voto, dou provimento ao


recurso, com determinação às Recuperandas para que
comprovem, em 90 dias, a regularidade fiscal perante o Município
de Louveira, sob pena de quebra.

SÉRGIO SHIMURA
Relator

Agravo de Instrumento nº 2141845-20.2022.8.26.0000 -Voto nº 29504 17

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