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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo nº: 0002269-53.2021.8.05.0004

Classe: RECURSO INOMINADO

Recorrente: COELBA

Recorrido: GEILDA SANTOS E SANTOS

Origem: VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS ¿ ALAGOINHAS

Relatora: JUÍZA MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. DECISÃO MONOCRÁTICA (ART. 15, XI, DO


REGIMENTO INTERNO DAS TURMAS RECURSAIS E ART. 932 DO CPC).
CONSUMIDOR.  COELBA. FATURAS DE RECUPERAÇÃO DE
CONSUMO. DESVIO ANTES DO MEDIDOR. RECUPERAÇÃO DE
CONSUMO NÃO FATURADO POR SUPOSTA IRREGULARIDADE NO
MEDIDOR DE ENERGIA ELÉTRICA. PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO
DE IRREGULARIDADE. TEMA 699 DO STJ. APLICAÇÃO DA RES.
414/2010 DA ANEEL.   AUSÊNCIA DE PROVAS DA NOTIFICAÇÃO DO
CONSUMIDOR PARA CONHECIMENTO DO CÁLCULO. INOBSERVÂNCIA
DAS NORMAS REGULAMENTARES, NOTADAMENTE DO
CONTRADITÓRIO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. COBRANÇA ABUSIVA. HIPÓTESE DE
DESCONSTITUIÇÃO DO DÉBITO. CORTE INDEVIDO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.

DECISÃO MONOCRÁTICA
 

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Vistos, etc.

Trata-se de recurso inominado interposto pelo réu em face da sentença que julgou
parcialmente procedentes os pedidos da exordial, cujo dispositivo transcrevo in verbis:

¿14 - Posto isso, nos termos dos artigos 5º, X e XXXII, da CF, arts. 186 e 927 do
Código Civil, e arts. 6º, VI, 12, 14, 18, 19 e 20 do CDC, JULGO PROCEDENTE  o
pedido inicial, resolvendo-se o mérito da causa (art. 487, I, CPC), para:

(a) DECLARAR indevida a fatura, contrato n. 007054513539, com vencimentos em


16.07.2020 no valor de R$ 1.415,30.

(b) CONDENAR A RÉ a cancelar a dívida, retirando definitivamente o nome/CPF


da parte Autora do SPC, SERASA, CDL ou de qualquer outro cadastro restritivo
de crédito relativo ao contrato n. 007054513539, no prazo de cinco dias contado da
intimação, sob pena de multa diária de R$ 50,00, a qual poderá ser cumulada até
30 dias, sem prejuízo de majoração.

(c) CONDENAR A RÉ a manter o fornecimento de energia no imóvel da parte


autora, referente ao contrato n. 007054513539, bem como e abster de inserir seu
nome/CPF nos órgãos de proteção ao crédito, exclusivamente em relação a fatura
de R$ 1.415,30 com vencimentos em 16.07.2020. Ou restabelecer o serviço e excluir
a negativação, caso suspenso o fornecimento ou inserido o nome da parte autora,
respectivamente.

(d) CONDENAR O RÉU a pagar à parte Autora a quantia de R$ 4.000,00 (quatro


mil reais), a título de compensação pelos danos morais, devendo incidir correção
monetária (INPC) a partir desta decisão (Súmula 362 do STJ) e juros moratórios
de 1% ao mês a partir da citação (STJ, AgInt no REsp 1426478) (art. 322, § 1º, do
CPC). Saliente-se que continua vigendo a Súmula 326 do STJ, enquanto não
houver superação por aquele tribunal.

(e) JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO CONTRAPOSTO.¿

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, dele conheço.

O artigo 15 do novo Regimento Interno das Turmas Recursais (Resolução nº


02/2021 do TJBA), em seu inciso XII, estabelece a competência do relator para julgar
monocraticamente as matérias em que já estiver sedimentado entendimento pelo colegiado ou já
com uniformização de jurisprudência, em consonância com o permissivo do artigo 932 do Código
de Processo Civil.

In casu, registro a hipótese de entendimento sedimentado por este Colegiado acerca


da matéria devolvida em sede recursal, qual seja, cobrança oriunda de procedimento de apuração
irregular.

A conduta da acionada, imputando ao consumidor responsabilidade por suposta


irregularidade, constitui ato abusivo, sem amparo nos princípios constitucionais da ampla defesa,

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do contraditório, do devido processo legal e da presunção de inocência.  Neste sentido, o STJ


firmou a tese:

TEMA 699 STJ

Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho


medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do
serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do
consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação
da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do
débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de
cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação.
(grifamos)

Com efeito, em que pese a existência do processo de inspeção, sendo um direito da


ré a sua realização, a fim de se constatar possíveis irregularidades nas medições de consumo de
seus clientes, tem-se que o procedimento deve observar as determinações legais, notadamente a
Resolução 414/2010 da ANEEL, o que não ocorreu no caso em tela.

Uma vez não observadas pela acionada as formalidades exigidas para a


exigibilidade do débito, afigura-se inexigível a dívida cobrada a título de consumo recuperado. 

Compulsando os autos, verifica-se que a parte autora colacionou todos os elementos


de prova que detinha, demonstrando a imposição unilateral pela ré de débito advindo de suposto
faturamento incorreto, sob a justificativa de irregularidade no medidor de energia. 

 A acionada, por sua vez, detentora do ônus da prova, não demonstrou ter efetuado
procedimento, junto ao medidor da parte autora, que obedecesse às formalidades exigidas pelo
art. 129 e seguintes da RN nº 414/2010 da ANEEL.

Neste caso, a parte ré deixou de comprovar que oportunizou o contraditório à parte


autora antes da cobrança, haja vista que não acostou notificação tempestiva acerca do débito
apurado, de modo a possibilitar o contraditório, sendo imperiosa a declaração de inexigibilidade da
dívida objeto da lide.

Portanto, diante da arbitrariedade na conduta da ré, deve-se reconhecer a


abusividade da cobrança.

Por outro lado, configurado o dano moral, diante da suspensão dos serviços com
base em débito inexigível, consoante provas acostadas, realizada com o fim exclusivo de compelir
o consumidor a pagar a diferença de consumo apurada pela ré de forma unilateral.

Consoante apontado, a compreensão sobre a matéria já está consolidada neste


Colegiado, precedentes nºs 0010420-07.2018.8.05.0103, 0124617-87.2018.8.05.0001, 0218991-
61.2019.8.05.0001, 0007785-38.2020.8.05.0150 e 0083245-56.2021.8.05.0001.

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Desse modo, e constatado que a sentença impugnada observou o entendimento já


consolidado, a mesma deve ser mantida.

Diante do exposto, na forma do art. 15, inciso XII, do Regimento Interno das Turmas
Recursais e do art. 932 do Código de Processo Civil, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO DA
PARTE RÉ para manter a sentença vergastada por seus próprios e jurídicos fundamentos.

Condenação em custas e honorários advocatícios arbitrados em 20% (vinte por cento)


sobre o valor da condenação.

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

Juíza Relatora 

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