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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000538901

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Remessa Necessária nº


1000884-81.2022.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante ESTADO DE
SÃO PAULO e Recorrente JUÍZO EX OFFICIO, são apelados CERVEJARIA
PETRÓPOLIS S/A e CERVEJARIA PETRÓPOLIS S/A.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal


de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento aos recursos. V. U., de
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ENCINAS MANFRÉ


(Presidente sem voto), CAMARGO PEREIRA E KLEBER LEYSER DE AQUINO.

São Paulo, 11 de julho de 2022.

MARREY UINT
Relator(a)
Assinatura Eletrônica

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 44.854

Apelação Cível nº 1000884-81.2022.8.26.0053

Comarca :SÃO PAULO

Recorrente :JUÍZO “EX-OFFICIO”

Apelante(s) :ESTADO DE SÃO PAULO

Apelada(s) :CERVEJARIA PETRÓPOLIS S.A. e OUTRA

Apelação - Mandado de Segurança - Adesão ao Programa


Especial de Parcelamento de ICMS (PEP) - Atraso no
pagamento da primeira parcela ocorrido involuntariamente -
Pretensão ao restabelecimento do parcelamento -
Admissibilidade - Observância dos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade - Boa-fé caracterizada -
Precedentes - Sentença de concessão da segurança mantida.
Recursos oficial e voluntário da Fazenda do Estado não
providos.

Trata-se de mandado de segurança


impetrado por CERVEJARIA PETRÓPOLIS S/A e outra em face do CHEFE DO NÚCLEO
FISCAL DE COBRANÇA DA DELEGACIA REGIONAL TRIBUTÁRIA DA CAPITAL II (DRTC II)
alegando, em síntese, que em aderiram a parcelamento de ICMS devido por
substituição tributária dos períodos de 05/2021 a 09/2021, com pagamento da
primeira parcela prevista para o dia 25.11.2021.

Entretanto, foram surpreendidas por ordem


judicial de bloqueio pelo sistema SisbaJud - deferido pelo juízo da 1ª Vara
Federal de Duque de Caxias, em processo judicial da qual a Impetrante alega
não fazer parte - ocorrido nesse mesmo dia, impossibilitando honrasse com a
obrigação assumida no dia, o fazendo no dia seguinte após obtenção dos
recursos necessários, acrescido dos consectários legais.

A autoridade coatora, contudo, excluiu as


Impetrantes do parcelamento, indeferido pedido de reconsideração.

Apelação / Remessa Necessária nº 1000884-81.2022.8.26.0053 -Voto nº 44854 JV 2

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Tal decisão é ilegal, por não ter agido com culpa, bem como fere lei que
disciplina parcelamentos tributários, além de ferir os princípios da razoabilidade
e proporcionalidade. Pede seja concedia liminar determinando a adesão ao
parcelamento e ao final confirmada. Juntou documentos.

Conforme a r. sentença de fls. 310/314,


integrada pela decisão de fls. 327/328 nos embargos de declaração, prolatada
pela Juíza Lais Helena Bresse Lang, a segurança pleiteada foi concedida para
que fosse determinada a reativação do acordo de parcelamento nºs 00838406-
9 e 00838448-3, bem como determinar a baixa do protesto e inscrição em
dívida ativa realizados.

Recorre o Estado de São Paulo pugnando


pela reforma total da sentença. Nas razões recursais, o Apelante sustenta que o
ato administrativo de exclusão da parte impetrante do parcelamento se
encontra em absoluta consonância com a legislação de regência, consistindo
ainda em ato administrativo vinculado, de forma que não caberia ao Estado a
adoção de qualquer outra determinação. Afirma que a legislação que
regulamenta os parcelamentos de débito tributário estabelece seu
rompimento em caso de inadimplemento de qualquer parcela, hipótese que
se verificou no caso concreto (fls. 333/340).

A Requerida ofereceu contrarrazões às fls.


344/367, pelo desprovimento do recurso.

É o relatório.

Bem analisados os autos, verifica-se que o


contribuinte aderiu ao Programa Especial de Parcelamento do ICMS (PEP) do
Estado de São Paulo, celebrando acordo para o pagamento, em 60 parcelas,
o qual foi considerado rompido pelo Fisco, tendo em vista o atraso do
pagamento da 1ª parcela, nos termos do artigo 100, da Lei nº 6.374/89, e das
disposições da Resolução Conjunta SF/PGE 02, de 29 de setembro de 2021 (fls.
51/59). Ocorre que na data da primeira parcela

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prevista para o dia 25/11/2021, as Impetrantes foram surpreendidas com


bloqueio judicial pelo sistema SISBAJUD em suas contas bancárias no valor de
R$ 442.499.290,10 (quatrocentos e quarenta e dois milhões, quatrocentos e
noventa e nove mil, oitocentos e dez centavos), nos autos da execução fiscal
nº 5000823-77.2021.4.02.5118, que tramitou no Estado do Rio de Janeiro, fato
este que as impediu de realizar todos os pagamentos programados para a
data de 25/11/2021.
Após a determinação do bloqueio das
contas (fls. 60/84), ofertaram Seguro Garantia o que possibilitou a revisão da
decisão perante o Eg. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (fls. 85/86).
Efetuaram o pagamento da primeira parcela do PEP no dia seguinte do
vencimento, ou seja, em 26/11/2021, com os
acréscimos legais (fls. 86/89).
Mesmo assim, foi negado pedido deduzido
ao Fisco Paulista das impetrantes serem mantidas no procedimento de
parcelamento, o que ensejou o presente “mandamus”. É certo que a
Resolução Conjunta
SF/PGE-02/2021 estabelece que o pagamento da primeira parcela é condição
sine qua non para se considerar celebrado o parcelamento:

Artigo 7º - As parcelas deverão ser recolhidas por meio de


documento de arrecadação emitido no:

I - Posto Fiscal Eletrônico - PFE, no endereço eletrônico


http://pfe.fazenda.sp.gov.br, quando se tratar de parcelamento de débitos
não inscritos em dívida ativa;
II endereço eletrônico http://www.dividaativa.pge.sp.gov.br, quando se
tratar de parcelamento de débitos inscritos em dívida ativa, ajuizados ou
não.
Parágrafo único - O recolhimento da primeira parcela, pelo seu valor
integral, até a data de vencimento, é condição necessária para se
considerar celebrado o parcelamento.

Mas a Lei 6.374/1989, em seu artigo 100, §8°


estabelece:

Artigo 100 - Os débitos fiscais podem ser recolhidos


Apelação / Remessa Necessária nº 1000884-81.2022.8.26.0053 -Voto nº 44854 JV 4

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parceladamente respeitadas as seguintes condições, sem prejuízo de outras


estabelecidas pelo Poder Executivo: (NR)
...
§ 8º - O parcelamento será considerado rompido na hipótese de atraso de
pagamento superior a 90 (noventa) dias. (NR).
Nestes termos, tenho que a referida
Resolução extrapolou o contido em norma legal, pois lá se diz que será
considerado rompido o acordo na hipótese se atraso no pagamento superior a
90 dias, não havendo na lei a imperiosa condição de pagamento da primeira
parcela na data aprazada para se ter realizado o parcelamento.
Há que se considerar, ainda, que o
pagamento da parcela foi efetuado com apenas um dia de atraso, acrescido
dos consectários legais. Daí, além de demonstrada a boa-fé da parte
impetrante, ainda há de ser privilegiado o principal objetivo do programa que é
a quitação de débitos tributários. Nesse sentido, o C. Superior Tribunal de
Justiça preza pela continuidade do contribuinte no programa de
parcelamento tributário, em alguns casos, em que devem ser reconhecidos os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, para se evitar práticas
contrárias à própria razão da instituição do benefício. Senão vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. OMISSÃOINEXISTENTE. REFIS. EXCLUSÃO DO


PROGRAMA. OBSERVÂNCIA DA FINALIDADEDA NORMA. PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.CABIMENTO. PRECEDENTES.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. BOA-FÉ DOCONTRIBUINTE. ERRO FORMAL. SÚMULA
7/STJ.
1. Mostra-se despropositada a argumentação de inobservância da cláusula
de reserva de plenário (art. 97 da CRFB) e do enunciado 10 da Súmula
vinculante do STF, pois, ao contrário do afirmado pela agravante, na
decisão recorrida, não houve declaração de inconstitucionalidade dos
dispositivos legais
suscitados, tampouco o seu afastamento, mas apenas a sua exegese.
2. O STJ reconhece a viabilidade de incidir os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade no âmbito dos parcelamentos tributários, quando tal
procedência visa evitar práticas contrárias à própria teleologia da norma
instituidora do benefício fiscal,

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mormente se verificada a boa-fé do contribuinte e a ausência de prejuízo


do Erário.
3. Se a conclusão da Corte de origem, firmada em decorrência da análise
dos autos, é no sentido de que a exclusão do contribuinte do REFIS mostra-
se desarrazoável e desproporcional, porquanto contrária à finalidade do
programa de parcelamento, pois nenhum prejuízo causou ao erário - bem
ao contrário, lhe é favorável, destaca o acórdão -, estando comprovadas
a boa-fé da empresa e a mera ocorrência de erro formal, a modificação
do julgado esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. Agravo regimental
improvido.” (AgRg noRREsp 482112/SC, Segunda Turma, Min. Humberto
Martins, DJe 29/04/2014). (grifo nosso)

Nesse mesmo sentido, é o entendimento

deste E. Tribunal de Justiça:


Apelação Cível nº 1022225-66.2021.8.26.0032 (Relator(a): Rebouças de
Carvalho Comarca: Araçatuba Órgão julgador: 9ª Câmara de Direito
Público Data do julgamento: 24/06/2022 Data de publicação: 24/06/2022
Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA
ADESÃO AO PROGRAMA ESPECIAL DE PARCELAMENTO DE ICMS (PEP) -
Atraso no pagamento da primeira parcela ocorrido involuntariamente -
Pretensão ao restabelecimento do parcelamento Admissibilidade
Observância dos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade - Boa-fé caracterizada - Precedentes
desta Colenda Câmara e Corte Sentença de concessão da segurança
mantida Recurso da Fazenda do Estado não provido, bem como
desacolhido o reexame necessário.

Apelação Cível nº 1063419-17.2020.8.26.0053 Relator(a): Renato Delbianco


Comarca: São Paulo Órgão julgador: 2ª Câmara de Direito Público Data do
julgamento: 05/11/2021
Data de publicação: 05/11/2021 Ementa: APELAÇÃO E REMESSA NECESSÁRIA
Mandado de Segurança ICMS Programa Especial de Parcelamento (PEP)
Exclusão do Programa, em razão do preenchimento equivocado do código da
GARE Pretensão de reintegração no PEP Possibilidade Não pagamento por
razões alheias à vontade do contribuinte Observância dos princípios da
razoabilidade, da proporcionalidade e da boa-fé, e do não prejuízo ao erário,
sob o enfoque da teleologia da norma que institui o PEP Precedentes Sentença
mantida Recursos desprovidos.

Portanto, nessas circunstâncias, denota-se a

boa-fé da parte Impetrante no cumprimento do acordo, motivo pelo

Apelação / Remessa Necessária nº 1000884-81.2022.8.26.0053 -Voto nº 44854 JV 6

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qual incensurável a r. sentença, a qual deve ser mantida por seus próprios e
jurídicos fundamentos.

Diante do exposto, nega-se provimento aos

recursos oficial e voluntário. Custas ex-lege. Sem honorários.

MARREY UINT

Relator

Apelação / Remessa Necessária nº 1000884-81.2022.8.26.0053 -Voto nº 44854 JV 7

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