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PROCESSO ELETRÔNICO
AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 0126858-73.2022.8.13.0000
Termos em que,
pede deferimento.
De São Paulo para Belo Horizonte/MG, 26 de maio de 2022.
(ASSINADO DIGITALMENTE)
Fábio dos Santos Morales
OAB/MG n.º 208.662
2. SÍNTESE DO PROCESSADO
“(…) não é só o confisco tributário que está vedado por nosso ordenamento jurídico,
mas qualquer forma de expropriação da propriedade sem justa indenização. E isso pode
ocorrer por meio de multas tributárias com valores abusivos. (…) Ora, se há limites
para a tributação, se há limites de proteção à propriedade privada, certo é que também
há limites em nosso ordenamento jurídico, ainda que implícitos, para a exigência de
multas decorrentes do Sistema Tributário.”
1 CASTILHO, Paulo Cesar Baria de. Confisco tributário. São Paulo: RT, 2002, p. 124-125
É constitucional a inclusão do valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS na sua própria base
de cálculo; II - É legítima a utilização, por lei, da taxa SELIC como índice de atualização de débitos tributários; III- Não é
confiscatória a multa moratória no patamar de 20%.”
Em vista disso, não agiu com o costumeiro acerto a colenda Câmara Julgadora
do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sendo certo que as razões
apresentadas depõem contra o v. acórdão ora recorrido, cuja essência não se adequa à
melhor interpretação do direito, conforme será demonstrado no próximo tópico.
3 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: III - julgar,
mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar
dispositivo desta Constituição; (...) c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
4§ 2º O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal
Federal.
“Art. 1.035, § 1º- Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou
não de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que
ultrapassem os interesses subjetivos do processo.”
5MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recurso extraordinário. 2 ed. rev. e atual. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 33-34.
6 GOMES JUNIOR, Luiz Manoel. A Repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário – EC 45. In:
NERY JUNIOR, Nelson; WAMBIER, Tereza Arruda Alvim (Coords.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e
assuntos afins. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 284-286.
Não é demais ressaltar que, além do próprio TEMA 214, o debate acerca
do limite para fixação da multa moratória em matéria tributária também foi
reconhecido como de Repercussão Geral por esta Suprema Corte no RE n.º
882.461/MG, de relatoria do Ministro Luiz Fux, por intermédio do qual, discute-se a
constitucionalidade de multa moratória fixada legalmente em patamar superior e 20%
e inferior a 50% sobre o valor do tributo devido (Tema 816).
4. DO MÉRITO RECURSAL
4.1. DA MULTA DE MORA CONSTANTE DAS CERTIDÕES DE DÍVIDA ATIVA – VIOLAÇÃO DE DECISÃO DE
REPERCUSSÃO GERAL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – TEMA N.º 214.
De fato, no caso dos autos, denota-se que a multa moratória sobre o valor do
tributo, que deveria ter um caráter de sanção pelo não recolhimento dentro do prazo
previsto em lei, adquire caráter confiscatório, afrontando assim o princípio constitucional
da vedação ao confisco, assegurado pela Carta da República em seu art. 150, inciso IV,
combinado com o artigo 5º, XXII, que assim dispõe:
“Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:(...)
XXII - é garantido o direito de propriedade;”
CDA – nº 03.000464076-63
“Art. 56. Nos casos previstos no inciso III do artigo 53, serão os seguintes os valores
das multas:
(...)
III - a partir da inscrição em dívida ativa, A MULTA DE MORA será de 25% (vinte e
cinco por cento) do valor do imposto não recolhido, na hipótese de crédito tributário
declarado pelo sujeito passivo em documento destinado a informar ao Fisco a apuração
do imposto.
(...)
§ 6º A penalidade prevista no inciso III do caput deste artigo será aplicada em dobro na
hipótese de crédito tributário relativo ao imposto retido por substituição tributária.
A multa moratória diferentemente das multas de ofício e das multa isoladas, pune o
simples inadimplemento, o atraso no pagamento. Não se trata de multa destinada a
punir a sonegação, a fraude, o conluio ou qualquer outro ato de maior gravidade que
indique a existência de dolo e de manobras para iludir o fisco, o que exigiria multa com
maior potencial repressor.
A multa moratória tem de ser capaz, isto sim, de contra indicar e inibir o atraso no
pagamento de tributos, tornando oneroso para o contribuinte tal procedimento. Mas
não deve ser prestar, de outro lado, a abusos, inviabilizando, pela sua excessiva carga,
que o contribuinte infrator consiga resgatar a dívida.
“Artigo 184. O produto das multas não poderá ser atribuído, no todo ou em
parte, aos funcionários que impuserem ou confirmarem.
Parágrafo único. As multas de mora por falta de pagamento de impostos ou
taxas lançados não poderão exceder de dez por cento sobre a importância em
débito.”
Tanto assim se observa que, outro não tem sido o entendimento do PRÓPRIO
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS (TJ/MG).
5. DO PEDIDO
Termos em que,
pede deferimento.
De São Paulo para Belo Horizonte/MG, 26 de maio de 2022.
(ASSINADO DIGITALMENTE)
Fábio dos Santos Morales
OAB/MG n.º 208.662
7 Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para apresentar
contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal recorrido, que deverá:
(...)
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou infraconstitucional;