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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) DESEMBARGADOR (A) PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERIAS

PROCESSO ELETRÔNICO
AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 0126858-73.2022.8.13.0000

LBR – LÁCTEOS BRASIL S.A. (AGRAVANTE/RECORRENTE), já devidamente


qualificada nos autos do Agravo de Instrumento sob número em epígrafe, que move contra
o ESTADO DE MINAS GERAIS (AGRAVADO/RECORRIDO), por intermédio de seu advogado que
esta subscreve, com fundamento no art. 102, inciso III, alínea “a” e “c”, da Constituição
Federal, combinado com o art. 1.029 e seguintes, ambos do Código de Processo Civil,
vem, respeitosa e tempestivamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o presente
RECURSO EXTRAORDINÁRIO em face do v. acórdão vinculado a movimentação n.º 15,
proferido em 28 de abril de 2022 (quinta-feira) e devidamente lido/cientificado em 09
de maio de 2022 (segunda-feira), que negou provimento ao recurso de Agravo de
Instrumento, nos termos das razões expostas na minuta anexa.

Não obstante, requer desde já a Recorrente que o presente recurso seja


regularmente processado e remetido ao Supremo Tribunal Federal, onde haverá de
receber integral provimento, requerendo-se, também, a juntada do anexo comprovante
de recolhimento das custas de preparo, devidamente quitada (Doc. 01).

Termos em que,
pede deferimento.
De São Paulo para Belo Horizonte/MG, 26 de maio de 2022.

(ASSINADO DIGITALMENTE)
Fábio dos Santos Morales
OAB/MG n.º 208.662

Rua Haddock Lobo, n.º 684, 7º andar


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RAZÕES DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO NO RECURSO DE AGRAVO DE
INSTRUMENTO

Recorrente: LBR – LÁCTEOS BRASIL S.A.


Recorrido: ESTADO DE MINAS GERAIS
Processo de origem nº: 0126858-73.2022.8.13.0000 (1.0000.22.012684-1/001 -
ELETRÔNICO)
Local de Origem: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Egrégio Supremo Tribunal Federal,


Colenda Turma Julgadora,
Excelentíssimos Ministros,

1. DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Conforme se denota dos autos, o v. acórdão que negou provimento ao recurso


de Agravo de Instrumento interposto pela empresa LBR – Lácteos Brasil S.A., ora
Recorrente, foi devidamente lido/cientificado em 09 de maio de 2022 (segunda-feira),
ou seja, a Recorrente tomou ciência do v. acórdão no último dia disponível para consulta
junto ao portal eletrônico do sistema JPe – Processo Eletrônico.

Nessa conjectura, levando em consideração que o artigo 231, inciso V, do


Código de Processo Civil, prevê como início do computo do prazo processual o primeiro
dia útil subsequente à consulta ao teor da citação ou da intimação, assim como, o término
do prazo para que a consulta se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica,
temos que o “dies a quo” se iniciou em 10 de maio de 2022 (terça-feira).

Com efeito, sendo de 15 dias o prazo para a interposição deste recurso,


conforme previsto pelo art. 1.003, §5º, combinado com o art. 1.029 e seguintes, do
Código de Processo Civil, temos que o “dies ad quem” conclui-se apenas em 30 de maio
de 2022 (segunda-feira).

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Desta forma, comprovada, portanto, a tempestividade deste Recurso
Extraordinário, conclui-se que o seu regular processamento com a remessa deste ao
Supremo Tribunal Federal é medida que se impõe.

2. SÍNTESE DO PROCESSADO

Conforme se depreende dos autos, trata-se na origem de recurso de Agravo


de Instrumento com pedido de efeito suspensivo, interposto contra a r. decisão (ID n.º
7011603032 dos autos do processo de origem) que rejeitou a Exceção de Pré-
Executividade apresentada nos autos da Execução Fiscal n.º 0169149-
11.2015.8.13.0105, tendo por base a iliquidez, incerteza e inexigibilidade da Certidão
de Dívida Ativa n.º 03.000428950-78, visto que a aplicação da multa moratória pelo
Agravado em patamar superior a 20% sobre o valor do crédito tributário supostamente
devido, representa verdadeira violação à proibição do não-confisco consagrado no art.
150, inciso IV, da Constituição Federal.

De fato, como amplamente demonstrado na Exceção de Pré-Executividade


manejada pela Recorrente e devidamente ratificado no decorrer do recurso de Agravo
de Instrumento, o título executivo extrajudicial exigido pelo Recorrido, padece dos
requisitos de liquidez, certeza e exigibilidade para continuidade do executivo fiscal, visto
que a multa tributária de caráter moratório utilizada para sancionar a Recorrente, em
patamar superior de 20% sobre o valor do débito tributário, representa violação ao
princípio do não-confisco.

Ora, não restam dúvidas de que o princípio da vedação do confisco se traduz


como limitação ao exercício da competência tributária, alcançando também as multas
aplicadas pelos entes tributantes que não podem atingir valores desarrazoados.

Nesse sentido, cumpre trazer à baila a doutrina de Paulo Cesar Baria de


Castilho1 sobre a existência de limites para as multas tributárias em razão da proteção
constitucional da propriedade privada, sem a aplicação pura e simples do art. 150, IV,
da CF, in verbis:

“(…) não é só o confisco tributário que está vedado por nosso ordenamento jurídico,
mas qualquer forma de expropriação da propriedade sem justa indenização. E isso pode
ocorrer por meio de multas tributárias com valores abusivos. (…) Ora, se há limites
para a tributação, se há limites de proteção à propriedade privada, certo é que também
há limites em nosso ordenamento jurídico, ainda que implícitos, para a exigência de
multas decorrentes do Sistema Tributário.”

1 CASTILHO, Paulo Cesar Baria de. Confisco tributário. São Paulo: RT, 2002, p. 124-125

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Portanto, não se pode olvidar que a imposição de multa moratória no
percentual de 50% sobre o valor do tributo, impõe o reconhecimento de que o ato
praticado pelo Recorrido possui caráter eminentemente confiscatório, ou seja,
absolutamente desarrazoado, o que é vedado expressamente pelo disposto no artigo
150, inciso IV, da Constituição Federal.

Ocorre que, em que pese os robustos argumentos apresentados pela


Recorrente, por oportunidade do julgamento de mérito do recurso de Agravo de
Instrumento, os doutos desembargadores da Colenda 5ª Câmara Cível do E. Tribunal “a
quo”, acordaram em negar provimento ao recurso interposto, por entenderem que resta
refutada a tese de efeito confiscatório da multa moratória, visto que os percentuais
adotados pelo Recorrido encontram-se dentro dos parâmetros admitidos pela legislação
e jurisprudência, conforme pode-se observar da ementa a seguir transcrita:

“EMENTA: EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. MULTA. CARÁTER CONFISCATÓRIO.


AUSÊNCIA. EXCEÇÃO REJEITADA. - O STF considera constitucional o arbitramento de
multas punitivas até o patamar de 100% (cem por cento) do tributo. - A previsão
normativa de cobrança da multa de revalidação – em percentuais de 25% e 50% - não
contraria o princípio constitucional que proíbe o confisco em matéria tributária,
considerando que a finalidade de sua aplicação é coibir o inadimplemento das
obrigações, mormente quando aplicadas em percentual inferior a 100% (cem por cento)
do valor do tributo devido”. (Grifos da Recorrente)

Todavia, em que pese o costumeiro brilhantismo das decisões proferidas pelos


doutos desembargadores da Colenda 5ª Câmara Cível do E. Tribunal “a quo”, não restam
dúvidas de que o v. acórdão merece ser reformado, isto porque, ao contrário do quantuam
consigando, pela simples análise da CDA pode-se observar de plano que o percentual
aplicado a multa moratória é superior a 20%, o que caracteriza verdadeira multa
confiscatória, conforme apresentado anteriormente.

Percebam Excelentíssimos Ministros que a multa moratória em percentual de


50% sobre o valor do tributo supostamente devido, arbitrada à Recorrente que declarou
o imposto devido (GIA), mas, segundo a d. autoridade fiscal não o recolheu integralmente,
é abusiva e confiscatória, tal como, não se afigura com o auxílio dos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade.

De fato, este posicionamento de que a multa moratória superior a 20% possui


caráter eminentemente confiscatório já foi pacificado por esta Suprema Corte em decisão
proferida nos autos do Recurso Extraordinário n.º 582461 – Relatoria do Ministro Gilmar
Mendes, em sede de Repercussão Geral – TEMA n.º 2142.

2 “TEMA 214 – STF

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Além disso, não é demais ressaltar que este posicionamento tem sido
rigorosamente mantido por esta Suprema Corte, assim como, pelo próprio Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, conforme pode-se observar das decisões
transcritas abaixo, nas quais restaram explicitamente asseverado que a aplicação de
multa moratória em patamar superior a 20% implicaria em evidente violação do artigo
150, inc. IV da CF. Confira por oportuno, o entendimento explicitado por esta Suprema
Corte, bem como pelo E. TJ/MG:

“EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


PARCELAMENTO. EXTENSÃO ÀS EMPRESAS PRIVADAS. IMPOSSIBILIDADE. TAXA
SELIC. DÉBITO TRIBUTÁRIO. POSSIBILIDADE. MULTA MORATÓRIA. CARÁTER
CONFISCATÓRIO RECONHECIDO. REDUÇÃO PARA 20%. (...) 4. A aplicação de
multa moratória acima do patamar de 20% detém caráter confiscatório. Trata-se de
montante que se coaduna com a ideia de que a impontualidade é uma falta menos
grave, aproximando-se, inclusive, do valor que um dia já foi positivado na Constituição.
5. Agravo regimental a que se dá parcial provimento para determinar a redução da
multa moratória para 20% (vinte por cento) sobre o valor do tributo.” (Ag. Reg. no
Agravo de Instrumento nº 682.983 – 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal julgado em
04/08/2015).” (Grifos da Recorrente)

“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. ICMS. EXCEÇÃO DE PRÉ-


EXECUTIVIDADE. SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO FISCAL. MULTA DE MORA. CARÁTER
CONFISCATÓRIO. RECURSO PROVIDO. - Se a multa moratória tem caráter
confiscatório, é lícito que o Poder Judiciário intervenha e a reduza a patamar aceitável,
na linha da jurisprudência construída sobre o tema pelo Supremo Tribunal Federal.
- Hipótese na qual o recurso deve ser provido para limitar o valor da multa moratória a
20% do total do valor do débito. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv
1.0518.16.001149-1/001, Relator(a): Des.(a) Alberto Vilas Boas, 1ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 04/05/0021, publicação da súmula em 10/05/2021).” (Grifos
da Recorrente)

Em verdade, a proibição constitucional do confisco em matéria tributária,


ainda que se trate de multa fiscal resultante do inadimplemento, pelo contribuinte, de suas
obrigações tributárias – nada mais representa senão a interdição, pela Carta Política, de
qualquer pretensão governamental que possa conduzir, no campo da fiscalidade, à injusta
apropriação estatal.

Por outro lado e em sentido oposto ao entendimento adotado pelos doutos


desembargadores para negar provimento ao recurso interposto, cumpre também a
Recorrente esclarecer desde já que o limite de 100% estabelecido por esta Suprema
Corte foi determinado como limite para aplicação das multas de natureza punitiva, ou
seja, aquelas decorrentes da lavratura de auto de infração e imposição de multa
(AIIM), cuja conduta do contribuinte é analisada individualmente, possibilitando,

É constitucional a inclusão do valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS na sua própria base
de cálculo; II - É legítima a utilização, por lei, da taxa SELIC como índice de atualização de débitos tributários; III- Não é
confiscatória a multa moratória no patamar de 20%.”

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inclusive a qualificação desta multa (multa punitiva qualificada – limitada a 100%),
caso seja identificado comportamento tipificado pelo direito penal.

Ora, conforme mencionado em linhas atrás, a Recorrente foi autuada por


supostamente ter declarado o imposto devido (GIA), mas segundo a d. autoridade fiscal
não ter recolhido integralmente o valor supostamente devido. Percebam que a multa
aplicada ao presente caso decorre da suposta impontualidade da Recorrente, ou seja, a
sanção ora culminada tem origem única e exclusivamente no suposto inadimplemento da
obrigação.

Portanto, esse suposto inadimplemento do contribuinte, deve ser sancionado


pelo legislador tributário com a aplicação da respectiva multa de natureza moratória,
como ocorreu no presente caso e, em decorrência da aplicação desta multa moratória,
nos termos do TEMA 214 desta Suprema Corte, os seus percentuais não podem ser
superiores a 20% do tributo.

Em vista disso, não agiu com o costumeiro acerto a colenda Câmara Julgadora
do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sendo certo que as razões
apresentadas depõem contra o v. acórdão ora recorrido, cuja essência não se adequa à
melhor interpretação do direito, conforme será demonstrado no próximo tópico.

3. DOS MOTIVOS PARA A REFORMA DA DECISÃO RECORRIDA


3.1 - DA REPERCUSSÃO GERAL – § 2º DO ART. 1.035 DO CPC

Antes de avançar às razões pelas quais a decisão recorrida deverá ser


reformada, é importante destacar que estão preenchidos todos os requisitos necessários
ao conhecimento e provimento do presente recurso extraordinário, pela alínea “a” e “c”,
do inciso III, do art. 102, da CF 3 e § 2º do art. 1.035 do CPC4.

Ab inittio, a Emenda Constitucional nº 45/2004 iniciou a denominada


“Reforma do Judiciário” inserindo uma série de medidas com o fito de proporcionar maior
efetividade e celeridade na prestação da tutela jurisdicional. Enfatizando o papel do STF
de julgar questões que ultrapassem o mero interesse individual das partes processuais,
inserido no texto da Constituição Federal o §3º do art. 102, estabelecendo um requisito

3 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: III - julgar,
mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar
dispositivo desta Constituição; (...) c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
4§ 2º O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal
Federal.

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constitucional de admissibilidade do recurso extraordinário a demonstração da
repercussão geral da questão constitucional discutida na lide.

Nessa linha, a redação do art. 1.035, §3º 1º do CPC, dispõe sobre as


hipóteses legais de repercussão geral, as quais, poderão ser questões relevantes do ponto
de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da
causa, verbis:

“Art. 1.035, § 1º- Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou
não de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que
ultrapassem os interesses subjetivos do processo.”

Sabiamente, Explicam Marinoni e Mitidiero5 que a repercussão geral se


configura, pois, pela conjunção de dois fatores, quais sejam, a relevância e a
transcendência. Isto significa que não basta a questão ser importante sob o prisma
econômico, político, social ou jurídico, ela deve transbordar os interesses das partes e
repercutir no interesse de um grupo maior de pessoas. Confira-se a lição dos citados
autores:

“A fim de caracterizar a existência de repercussão geral e, dessarte, viabilizar o


conhecimento do recurso extraordinário, nosso legislador alçou mão de uma fórmula
que conjuga relevância e transcendência (repercussão geral = relevância +
transcendência). A questão debatida tem de ser relevante do ponto de vista econômico,
político, social ou jurídico, além de transcender para além do interesse subjetivo das
partes na causa.”

Logo, trata-se de obrigação dos Recorrentes de apresentar formal e


motivadamente a preliminar de repercussão geral que demonstre, sob o ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico, a relevância da questão constitucional debatida que
ultrapasse os interesses subjetivos da causa, conforme exigência constitucional, legal e
regimental.

Nesse contexto, Gomes Junior6 procura sintetizar o que seriam os reflexos


econômico, político social ou jurídico caracterizadores da repercussão:

“a) reflexos econômicos: quando a decisão possuir potencial de criar um precedente,


outorgando um direito que pode ser reivindicado por um número considerável de
pessoas (alteração nos critérios para se considerar a correção monetária dos salários
de determinada categoria, além de grande parte das questões tributárias, por exemplo).

5MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Repercussão geral no recurso extraordinário. 2 ed. rev. e atual. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 33-34.
6 GOMES JUNIOR, Luiz Manoel. A Repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário – EC 45. In:
NERY JUNIOR, Nelson; WAMBIER, Tereza Arruda Alvim (Coords.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e
assuntos afins. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 284-286.

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b) quando presente relevante interesse social: que tem uma vinculação ao conceito de
interesse público em seu sentido lato, ligado a uma noção de “bem comum”. (...)

c) reflexos políticos: na hipótese de decisão que altere a política econômica ou alguma


diretriz governamental de qualquer das esferas de governo (municipal, estadual ou
federal) ou que deixe de aplicar tratado internacional. (...)

d) reflexos sociais: existirão quando a decisão deferir um direito ou indeferi-lo e essa


mesma decisão vier a alterar a situação de fato de várias pessoas. (...)

e) reflexos jurídicos: esse é um requisito relevante, sob vários aspectos. Haverá


repercussão geral quando a decisão atacada no recurso extraordinário estiver em
desconformidade com o que já decidido pelo STF (jurisprudência dominante ou
sumulada). (...)”

Permissa vênia, a presente demanda apresenta certas peculiaridades, pois


envolvem precipuamente o interesse público, visto que trata da violação direta do artigo
150, inciso IV da Carta Magna pela Legislação do Estado de Minas Gerais, TENDO SIDO
INCLUSIVE REFERIDA MATÉRIA OBJETO DO TEMA DE REPERCUSSÃO GERAL 214, CONFORME
MENCIONADO DURANTE O TRÂMITE DO PROCESSO.

Não é demais ressaltar que, além do próprio TEMA 214, o debate acerca
do limite para fixação da multa moratória em matéria tributária também foi
reconhecido como de Repercussão Geral por esta Suprema Corte no RE n.º
882.461/MG, de relatoria do Ministro Luiz Fux, por intermédio do qual, discute-se a
constitucionalidade de multa moratória fixada legalmente em patamar superior e 20%
e inferior a 50% sobre o valor do tributo devido (Tema 816).

Sendo assim, resta evidente que a matéria ventilada tem implicações


múltiplas, tendo o requisito da relevância em diversas searas (direito tributário, econômico
e financeiro) e ainda na legislação local – pela inconstitucionalidade patente do caráter
confiscatório da multa de mora superior a 20%, utilizada pelo Recorrido para penalizar
os contribuintes, tratando-se de matéria que transcende o caso em questão pela vedação
constitucional expressa prevista no artigo 150, inciso IV mencionado acima.

Assim, subsiste afastada a aplicação do entendimento da carência de


repercussão geral, fazendo jus ao caráter meramente rescindente do julgado proferido
pelo tribunal a quo com fulcro na repercussão econômica e jurídica para o alcance de
julgamento por instância excepcional.

Ante o exposto, evidente a repercussão explícita: (i) art. 150, inciso IV da


Carta Magna, estando superado, portanto, os requisitos de admissibilidade do § 2º do
art. 1.035 do CPC para a admissibilidade e provimento do recurso extraordinário.

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3.2 – DO REEXAME DE FATOS – AFASTAMENTO DO ENUNCIADO N.º 279 DO STF

Como já asseverado anteriormente, as questões suscitadas neste recurso são


exclusivamente de direito, não necessitando de reexame de provas.

Deveras, a lei sempre incide, e infalivelmente, sobre determinado fato que


não pode ser ignorado pelo Juiz de qualquer instância Judiciária, de forma que o error
in judicando, assim como o error em procedendo devem ser objeto de conhecimento no
recurso extraordinário, principalmente quando proclamado pelas instâncias ordinárias a
qualificação jurídica correta, o que se insere no âmbito de competência do Supremo
Tribunal Federal.

Desta feita, a operação mental de adequação dos fatos à hipótese legal


prevista não significa rediscussão de matéria fática. Não é possível cogitar de
controvérsia fática sobre a demonstração inequívoca de que houve violação do TEMA de
Repercussão Geral nº 214 ao presente caso.

Referida comprovação pode ser demonstrada de forma inequívoca por todos


os documentos que instruíram esta demanda, especialmente pela análise das Certidões
de Dívida Ativa, de modo que, em simples observação, pode-se identificar que o
percentual aplicado pelo Recorrido é superior ao percentual de 20%, conforme já
pacificado por este Colendo Supremo Tribunal Federal, caracterizando assim verdadeira
multa confiscatória.

Logo, a inconstitucionalidade da multa moratória utilizada pelo Recorrido


para penalizar os contribuintes (percentual de 50 % para multa moratória) pode ser
cognoscível de ofício pelo Juiz (mediante simples análise da CDA), sem a necessidade de
rediscutir os elementos probatórios e fáticos constantes da demanda.

Com efeito, a controvérsia sobre a matéria in liça só pode ser de natureza


jurídica. Não há no caso possibilidade de se cogitar erro de fato, mas apenas erro de
direito em face da não aplicação de matéria já decidia por esta Suprema Corte, em sede
de repercussão geral – TEMA 214.

Portanto, deve ser afastado de plano a aplicação da Súmula 279 do STF,


que proíbe a reapreciação de matéria fática em sede de Recurso Extraordinário. O óbice
imposto pelo enunciado nº 279 da Súmula do STF não tem lugar nos presentes autos,
inexistindo no presente recurso qualquer intenção de rediscutir os elementos probatórios
e fáticos constantes da demanda.

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Vejamos, portanto, as razões pelas quais o presente recurso extraordinário
deverá receber provimento sob esse fundamento.

4. DO MÉRITO RECURSAL

4.1. DA MULTA DE MORA CONSTANTE DAS CERTIDÕES DE DÍVIDA ATIVA – VIOLAÇÃO DE DECISÃO DE
REPERCUSSÃO GERAL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – TEMA N.º 214.

Ab initio, cumpre destacar que, embora latente a capitulação da multa de


mora, pode-se observar de plano que o percentual aplicado é superior à 20%, o que
caracteriza verdadeira multa confiscatória.

De fato, no caso dos autos, denota-se que a multa moratória sobre o valor do
tributo, que deveria ter um caráter de sanção pelo não recolhimento dentro do prazo
previsto em lei, adquire caráter confiscatório, afrontando assim o princípio constitucional
da vedação ao confisco, assegurado pela Carta da República em seu art. 150, inciso IV,
combinado com o artigo 5º, XXII, que assim dispõe:

“Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:(...)
XXII - é garantido o direito de propriedade;”

Nessa conjuntura, inconteste sobrelevar a exigência em cobro está sustentada


por suposta ausência de recolhimento, portanto, estando em mora o contribuinte,
segundo identificado pela Fazenda do Estado de Minas Gerais, conforme se verifica da
certidão de dívida ativa abaixo colacionada:

CDA – nº 03.000464076-63

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Do título supracitado, se extrai a descrição da natureza e da origem do
crédito tributário: “omisso de recolhimento/recolhimento a menor do ICMS e/ou de
acréscimos legais”. Além do mais, a CDA, no tocante a multa, indica o dispositivo legal que
determina a incidência do 56, inciso III e 6º, da Lei nº 6.763/75, ipsis litteris:

“Art. 56. Nos casos previstos no inciso III do artigo 53, serão os seguintes os valores
das multas:
(...)
III - a partir da inscrição em dívida ativa, A MULTA DE MORA será de 25% (vinte e
cinco por cento) do valor do imposto não recolhido, na hipótese de crédito tributário
declarado pelo sujeito passivo em documento destinado a informar ao Fisco a apuração
do imposto.
(...)
§ 6º A penalidade prevista no inciso III do caput deste artigo será aplicada em dobro na
hipótese de crédito tributário relativo ao imposto retido por substituição tributária.

Neste contexto, importante que se destaque também o teor do artigo 53 da


Lei do ICMS do Estado de Minas Gerais ao estabelecer que:

Art. 53 - As multas serão calculadas tomando-se como base:


(...)
III - o valor do imposto não recolhido tempestivamente no todo ou em parte.

Com efeito, a redação dos dispositivos legais supracitados é persuasiva ao


impor a prestação pecuniária compulsória, distinta do tributo, EQUIVALENTE A 50% SOBRE
O VALOR DO TRIBUTO SUPOSTAMENTE “NÃO RECOLHIDO TEMPESTIVAMENTE NO TODO OU EM PARTE”,
TENDENTE A SANCIONAR O CONTRIBUINTE DE MANEIRA DESPROPORCIONAL E DESARRAZOADA.

No cenário ora apresentado, conforme já mencionado em linhas atrás, a multa


de mora em percentual de 50% sobre o valor do tributo supostamente devido, arbitrada
à Recorrente que declarou o imposto devido (GIA), mas, segundo a d. autoridade fiscal

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não o recolheu integralmente, é abusiva e confiscatória, tal como, não se afigura com o
auxílio dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.

Assim, aplicando-se o efeito de confisco à matéria das sanções tributárias,


verifica-se que uma sanção confiscatória não se trata apenas de uma multa gravosa ou
que onere de forma substancial o infrator, mas daquela que afeta o patrimônio do
infrator por motivos absolutamente inconstitucionais e desproporcionais.

Neste sentido, o entendimento da própria decisão que deu origem ao TEMA


de Repercussão Geral nº 214, especialmente quando os Ministros desta Suprema Corte
utilizam como parâmetros as penalidades aplicadas a outras áreas do direito, bem como
aquelas estabelecidas pelo legislador federal, para concluir pela confiscatoriedade da
multa moratória superior a 20%.

Para que não restem dúvidas da análise criteriosa e sólidos fundamentos


estabelecidos pelos Ministros desta Suprema Corte ao aprovar do Tema de Repercussão
Geral nº 214, a Recorrente pede vênia para transcrever voto da Ministra Ellen Gracie
(fls. 207 do acordão), no qual resta evidente a comparação entre as penalidades
existentes em outra esfera jurídica (direito do consumidor e civil), bem como pelo
legislador tributário federal. Confira:

“7. Quanto à análise do caráter confiscatório da multa de 20%, cabem algumas


considerações:

As multas, como qualquer punição, devem guardar certa proporcionalidade com a


gravidade da infração cometida. Deve haver adequação entre o grau da infração e o
percentual da multa cominada, de modo que se evidencie ser esta necessária e suficiente
às finalidades de prevenção e de repressão, sem implicar ofensa desarrazoada e
excessiva contra o patrimônio do infrator.

A multa moratória diferentemente das multas de ofício e das multa isoladas, pune o
simples inadimplemento, o atraso no pagamento. Não se trata de multa destinada a
punir a sonegação, a fraude, o conluio ou qualquer outro ato de maior gravidade que
indique a existência de dolo e de manobras para iludir o fisco, o que exigiria multa com
maior potencial repressor.

A multa moratória tem de ser capaz, isto sim, de contra indicar e inibir o atraso no
pagamento de tributos, tornando oneroso para o contribuinte tal procedimento. Mas
não deve ser prestar, de outro lado, a abusos, inviabilizando, pela sua excessiva carga,
que o contribuinte infrator consiga resgatar a dívida.

A constituição de 1934 limitava os juros moratórios a 10%:

“Artigo 184. O produto das multas não poderá ser atribuído, no todo ou em
parte, aos funcionários que impuserem ou confirmarem.
Parágrafo único. As multas de mora por falta de pagamento de impostos ou
taxas lançados não poderão exceder de dez por cento sobre a importância em
débito.”

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Nas constituições posteriores, assim como na atual, não há dispositivo específico sobre
a matéria. Este tribunal, deparando-se com multas demasiadamente onerosas, reduziu-
as de 100% para 30%, do que é exemplo o RE 81.550, julgado em maio de 1975.
(...)
Reexaminando a questão, sob o prisma da proporcionalidade, por certo que 20% é
percentual bastante oneroso, em nada comparável aos 2% estabelecidos por lei para
as relações de consumo, nos termos do artigo 52 do Código de Defesa do Consumidor,
com a redação da Lei nº 9.298/96:

“Art. 52.... § 1º As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações


no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.

Mas há de se destacar que as multa anteriormente aplicadas nas relações de consumo,


10%, conforme a redação original do CDC, não eram inválidas. Foi uma opção do
legislador trazê-las a patamar inferior por razões de equidade

A par da legislação estadual, também a legislação federal trabalha com o percentual


de 20% para multa moratória, embora como limite à cumulação da multa diária de
0,33%, nos termos dos artigos 61 da Lei nº 9430/96 e 35 da Lei nº 8.212/91, com
a redação da Lei nº 11.941/09.”

Verifica-se, portanto, que a matéria objeto do presente Recurso foi objeto de


decisão em SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL, o que torna evidente a necessidade de
uniformização da jurisprudência com acolhimento destes fundamentos pelos Tribunais
Estaduais e Tribunais Regionais Federais de todo o país, visto que já delimitado e discutido
pelo plenário desta Suprema Corte.

Tanto assim se observa que, outro não tem sido o entendimento do PRÓPRIO
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS (TJ/MG).

De fato, com base no posicionamento adotado por esta Suprema Corte, os


Tribunais de Justiça do País, têm afastado a aplicação da multa de mora superior a 20%,
AINDA EM SEDE DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE, visto tratar-se de matéria de ordem
pública, ou seja, podendo ser alegada a qualquer momento. Confira, por oportuno, o
entendimento explicitado pelo E. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:

“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO FISCAL - EXCEÇÃO DE PRÉ-


EXECUTIVIDADE - BLOQUEIO DE VALORES EM CONTA CORRENTE -
CONTRADITÓRIO DIFERIDO - RECUSA DE BENS OFERTADOS PELO DEVEDOR -
MULTA MORATÓRIA - CARÁTER CONFISCATÓRIO. 1. A exceção de pré-
executividade é meio excepcional de defesa no processo de execução, cuja via estreita
admite apenas alegações de matérias de ordem pública ou questões de direito
incontroversas, que não dependam de dilação probatória. 2. A indisponibilidade de
ativos financeiros em conta corrente do executado se dá inaudita altera parte, com
contraditório diferido, nos termos do art. 854, §2º, do CPC. 3. A jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que é ônus do executado demonstrar
a imperiosa necessidade de flexibilização da ordem de preferência do rol de bens
penhoráveis previsto no art. 11 da Lei 6.830/80, não bastando a genérica invocação
do princípio da menor onerosidade na execução. 4. Nos termos da jurisprudência do

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Supremo Tribunal Federal, verifica-se o caráter confiscatório da multa moratória
tributária (art. 150, IV, do CPC) superior a 20% do valor originário do débito. (TJMG -
Agravo de Instrumento-Cv 1.0026.17.003502-1/001, Relator(a): Des.(a) Wagner
Wilson, 19ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 28/01/0021, publicação da súmula em
03/02/2021)”

“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO FISCAL - NULIDADE DO DÉBITO


- MULTA MORATÓRIA - 25% SOBRE O VALOR DO TRIBUTO - CARÁTER
CONFISCATÓRIO. A aplicação da multa moratória correspondente a 25% (vinte e cinco
por cento) sobre o valor do imposto declarado e não recolhido pelo contribuinte possui
caráter confiscatório. Precedentes. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv
1.0000.20.548102-1/001, Relator(a): Des.(a) Carlos Henrique Perpétuo Braga, 19ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 28/01/0021, publicação da súmula em
03/02/2021)”

Desta feita, resta evidente que a multa moratória arbitrada no patamar de


50% sobre o valor do tributo tem caráter confiscatório em evidente violação ao estatuído
no artigo 150, inciso IV, da Constituição Federal, sendo imprescindível a sua limitação ao
percentual de 20% do valor do crédito tributário, de modo que, os valores em excesso
sejam excluídos da CDA.

Com efeito, conforme já mencionado no tópico 2 deste recurso, a existência


de limites para as multas tributárias também se vale em razão da proteção constitucional
da propriedade privada (art. 5º, XXII, CF), sem a aplicação pura e simples do art. 150,
IV, da Constituição Federal.

Portanto, independentemente da legitimidade do Estado da Federação para


a instituição e, consequentemente, a aplicação da multa de natureza moratória, esta não
pode ter caráter confiscatório.

Melhor dizendo, independente da norma que institua a multa de caráter


moratório, esta deve ser aplicada em patamar inferior à 20%, limite estabelecido,
inclusive, pelo legislador federal e adotado pela União Federal para exigência da multa
moratória relativa a seus créditos tributários.

Assim, caso admitíssemos as premissas adotadas pelo Recorrido, o que se faz


apenas para argumentar, estaríamos vislumbrando a possibilidade de os Estados terem
autonomia absoluta para estabelecer o percentual de multa moratória em percentual que
melhor lhes conviessem, ou seja, o capítulo da Constituição Federal que trata e estabelece
os LIMITES DO PODER DE TRIBUTAR, do qual consta o artigo 150, inciso IV, da Constituição
Federal (princípio do não confisco), não deveria ser aplicado no presente caso.

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Feitos tais esclarecimentos, deve ser afastado de plano o entendimento
adotado pelo E. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais para negar provimento
ao recurso de Agravo de Instrumento, especialmente quando assevera que os percentuais
adotados pelo Recorrido encontram-se dentro dos parâmetros admitidos pela legislação
e jurisprudência, afastando o reconhecimento da aplicação de multa moratória
confiscatória, conforme entendimento explicitado em sede de Repercussão Geral pelo STF
(Tema 214), assim como, pelas jurisprudências exaradas do próprio Tribunal de Justiça
do Estado de Minas Gerais.

Ad argumentandum, como já apresentado no tópico 3.1 deste recurso, caso


Vossas Excelências entendam pela inaplicabilidade do TEMA 214 ao presente caso, a
Recorrente destaca que a Suprema Corte afetou ao TEMA de Repercussão Geral nº 816
a matéria versada nos autos do RE n.º 882.461/MG, de relatoria do Ministro Luiz Fux, no
qual, discute-se a constitucionalidade de multa moratória fixada legalmente em patamar
superior a 20% e inferior a 50% sobre o valor do tributo devido, determinando o
sobrestamento de todo processo cuja multa tributária de caráter moratório seja aplicada
nos percentuais acima explicitados.

Por todo exposto, no entendimento da Recorrente, a determinação ora


inquinada deve prontamente ser afastada, visto que as multas moratórias constantes da
CDA n.º 03.000464076-63, atribuídas pelo art. 53, inciso III, culminado com o art. 56,
inciso III e §6º, ambos da Lei n.º 6.763/75 , estas arbitradas em patamar superior a 20%
sobre o valor do débito tributário, encontram-se envoltas em inconstitucionalidades, vez
que ferem o artigo 150, Inciso IV, da CF por serem nitidamente confiscatórias, tratando-
se de usurpação do ente estatal de seus poderes e prerrogativas político-jurídicas em
face a matéria tributária.

5. DO PEDIDO

Diante do exposto, requer seja admitido o recurso extraordinário, bem como


seja dado integral provimento a este, para o fim de que seja determinada a aplicação
do TEMA nº 214, tendo em vista a inconstitucionalidade da multa moratória adotada pelo
Recorrido, em percentual superior à 20%, visto que, viola diretamente o artigo 150, inciso
IV da Constituição Federal, frente o disposto nos arts. 53, inciso III e 56, inciso III e §6º,
ambos da Lei n.º 6.763/75, reconhecendo-se a iliquidez, incerteza e inexigibilidade da
certidão de dívida ativa que instrui o executivo fiscal, determinando assim que ele seja
extinto.

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Caso não seja este o entendimento de V.Exas., requer alternativamente que
seja reformada a decisão para o fim de que seja suspensa a exigibilidade do crédito
tributário, até que a CDA seja substituída pelo Recorrido ou pelas autoridades
competentes da Fazenda do Estado de Minas Gerais, devendo a entidade fazendária
limitar/reduzir o valor da multa moratória ao percentual de 20% sobre o valor da
obrigação principal.

Não obstante, caso Vossas Excelências entendam pela inaplicabilidade do


TEMA 214 ao presente caso, é de suma importância que ao menos seja realizado um juízo
sobre a aplicabilidade do TEMA de Repercussão Geral do STF n.º 816 e,
consequentemente, se for o caso, seja determinado o sobrestamento deste feito executivo,
até decisão definitiva da Suprema Corte sobre o tema em questão, nos termos do art.
1.030, inciso III7, do Código de Processo Civil.

In fine, para a consecução de plena regularidade processual, requer que as


intimações ocorram exclusivamente em nome de Fábio dos Santos Morales OAB/MG
n.º 208.662, sob pena de nulidade.

Termos em que,
pede deferimento.
De São Paulo para Belo Horizonte/MG, 26 de maio de 2022.

(ASSINADO DIGITALMENTE)
Fábio dos Santos Morales
OAB/MG n.º 208.662

1 Comprovante de Recolhimento das Custas de Preparo;

7 Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para apresentar
contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal recorrido, que deverá:
(...)
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou infraconstitucional;

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