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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo,

protocolado em 12/09/2022 às 12:35 , sob o número WPRO22010882245.


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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC9003F.
Recurso Extraordinário. ICMS DIFAL: necessidade de
lei complementar. LC 190/2022 – Anterioridade.

PROCESSO Nº 1002598-76.2022.8.26.0053

PROCOMP AMAZÔNIA INDÚSTRIA ELETRÔNICA LTDA. (“PROCOMP”), já devidamente


qualificada nos autos do Mandado de Segurança em epígrafe, vem, respeitosamente e
tempestivamente, à presença de V. Exa., por seus advogados infra-assinados, por não se
conformar, data maxima venia, com o v. acórdão de Apelação (fls. 479-491), proferido pela C.
12ª Câmara de Direito Público do E. Tribunal de Justiça de São Paulo interpor

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

ao C. Supremo Tribunal Federal, com fundamento no artigo 102, inciso III, na alínea “a”, da
Constituição Federal (CF), bem como nos artigos 1.029 e seguintes da Lei 13.105/2015, conforme
as razões que seguem anexas, as quais requer sejam recebidas e devidamente processadas,
observadas as cautelas de estilo e de direito.

Termos em que, comprovando o recolhimento das custas de preparo recursal e estando isento
do porte de remessa e retorno dos autos, nos termos do artigo 1.007, do CPC/15 (Doc. 01), pede
deferimento.

São Paulo, 12 de setembro de 2022.

DA #11960755 v1
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RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO que apresenta PROCOMP


AMAZÔNIA INDÚSTRIA ELETRÔNICA LTDA., nos autos do RECURSO
DE APELAÇÃO Nº 1002598-76.2022.8.26.0053, em curso no E.

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Tribunal de Justiça de São Paulo

Ilustres Julgadores,

1. TEMPESTIVIDADE

Esse recurso é tempestivo. O prazo de 15 (quinze) dias úteis para interposição deste Recurso dar-
se-á no dia 24.08.2022 (quarta-feira), e se encerra no dia 14.09.2022 (quarta-feira)1, a teor do
quanto disposto no artigo 224, §§ 2º e 3º, do Código de Processo Civil.

2. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se de mandado de segurança impetrado com o objetivo de obter decisão judicial que
resguarde o direito líquido e certo da ora RECORRENTE de recolher o ICMS-DIFAL instituído pela
LC 190/22 apenas a partir de 01.01.2023, em respeito ao princípio da anterioridade insculpido
no art. 150, inc. III, alíneas ‘b’ e ‘c’, da CF/88, uma vez que a referida Lei Complementar foi
somente promulgada e publicada em 05.01.2022.

Após o regular processamento do feito, foi proferida a r. sentença de fls. 370/377 que concedeu
a segurança, nos seguintes termos:

Veja-se, pois, que o entendimento defendido pela autoridade se revela contraditório tanto no
nível da incidência concreta do Princípio da Anterioridade, sujeitando à paralisação de eficácia
norma local cuja aplicabilidade já se encontra suspensa por inexistência da norma federal geral,
quanto no nível do próprio fundamento abstrato do Princípio da Anterioridade, enfraquecendo a
segurança jurídica ao possibilitar a tributação surpresa dos contribuintes no mesmo exercício
financeiro.
Nesses termos, a fim de garantir ampla efetividade à este basilar princípio do sistema tributário
nacional, nas hipóteses de tributos cuja cobrança se submeta à existência de normas gerais, mister
se faz interpretar a regra constitucional no sentido de que o prazo ânuo deve ser considerado
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apenas e tão somente a partir do momento em que a lei instituidora da exação adquira eficácia
plena.
In casu, considerando que referida circunstância restou configurada em 04 de janeiro de 2.022, com
o advento da Lei Complementar Federal nº 190, conclui-se que a cobrança do DIFAL somente

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poderá ocorrer a partir de 2.023, exercício financeiro seguinte, em estrita obediência ao artigo 150,
inciso III, alínea "b", da Constituição Federal.
Diante do exposto, CONCEDO A SEGURANÇA para o fim de determinar que a autoridade coatora
se abstenha de exigir da impetrante o recolhimento do ICMS - DIFAL em operações interestaduais
de vendas a não contribuintes situados no Estado de São Paulo durante o exercício financeiro de
2.022.

Inconformado com a r. sentença, o RECORRIDO interpôs recurso de apelação visando a reforma


da r. sentença sob o fundamento de que a instituição do ICMS-DIFAL se deu com a publicação,
em 14.12.2021, da Lei Estadual 14.470/21, cuja eficácia ficou suspensa até a data da edição da
LC 190/22, o qual teve seu provimento, nos termos abaixo transcritos:

Com isso, foi editada a Lei Complementar n.º 190, de 04 de janeiro de 2022, que modificou
algumas regras da Lei Complementar n.º 87/1996 e estabeleceu normas gerais acerca da
diferença de alíquotas de ICMS. No artigo 3.º, determinou expressamente que se observasse o
disposto no artigo 150, inciso III, alínea “c”, da Constituição Federal (anterioridade
nonagesimal).
Esse novo regramento não se confunde com aquele que institui ou majora o tributo, este sim
submetidos ao princípio da anterioridade geral previsto no artigo 150, inciso III, alínea “b”, da
Lei Maior.
Nesse contexto, não é possível afirmar que a Lei Complementar n.º 190/2022, que apenas
regulamentou a cobrança do ICMS-DIFAL no que tange aos contribuintes e ao sujeito ativo,
deva se submeter a tal princípio constitucional.
No âmbito do Estado de São Paulo, a instituição da cobrança do diferencial de alíquotas deu-
se efetivamente com a edição da Lei Estadual n.º 17.470/2021, que alterou a Lei Estadual n.º
6.374/1989, a qual dispõe sobre a instituição do Imposto sobre Operações Relativas à
Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação ICMS.
(...)
Por conseguinte, é de rigor a reforma da sentença, a fim de se denegar a ordem mandamental.

Dessa forma, a RECORRENTE, genuinamente irresignada, interpõe este Recurso Extraordinário,


com fundamento no artigo 102, inciso III, alínea “a” da CF, buscando a reforma do v. Acórdão
recorrido por contrariedade e negativa de vigência à Constituição Federal, assim como por ter
dado a essa legislação interpretação divergente da adotada por este C. STF no julgamento do
Tema de Repercussão Geral n. 1.093, como passa a expor.
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A RECORRENTE informa, desde já, que na mesma data de interposição deste Recurso, também
interpôs Recurso Especial, com fundamento no art. 105, inc. III, alínea “a” da Constituição
Federal.

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3. CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

No caso dos autos, inexistem dúvidas quanto aos fatos retratados, mas sim quanto à norma
jurídica que deve ser a eles aplicada, de modo que não há acervo probatório a ser examinado. A
presente discussão se limita à requalificação jurídica dos fatos a que a exigência fiscal se reporta.

Nesse sentido, o ponto central em debate é que no v. acórdão, desconsidera-se a impossibilidade


de a RECORRENTE ser compelida ao pagamento do ICMS-DIFAL até que satisfeito o requisito da
dupla anterioridade (nonagesimal e anual) para fins de aplicação Lei Complementar nº 190/22,
publicada em 05 de janeiro de 2022, bem como desconsidera-se que a legislação estadual afronta
entendimento firmado em sede de repercussão geral no Tema 1.093 ao definir que a cobrança
de ICMS-DIFAL pelos Estados necessita de prévia Lei Complementar.

Com isso, passa-se a demonstrar as razões para provimento do Recurso.

3.1 CONTRARIEDADE DE DISPOSITIVOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

No contexto acima narrado, o cabimento deste Recurso Extraordinário com base no artigo 102,
inc. III, alínea “a”, da CF, decorre de o v. acórdão recorrido ter contrariado os seguintes
dispositivos constitucionais:

• Art. 146, inc. I e III, alínea “a”, da CF: estabelece que cabe à lei complementar
dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre os entes
federados e estabelecer normas gerais em matéria tributária, especialmente
sobre a definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes;
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• Art. 155, § 2º, inciso XII, alíneas “a”, “d” e “i”, da CF: estabelece a competência
legislativa dos Estados e do Distrito Federal, para legislar sobre as matérias lá
elencadas, cabendo à lei complementar definir contribuintes, local das

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operações e fixar base de cálculo; e

• Art. 150, inc. III, alíneas “b” e “c”, da CF: estabelece que é vedado a cobrança
de tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que
os instituiu ou aumentou e, antes de decorridos noventa dias da data em que
haja sido publicada a referida lei.

A contrariedade a esses dispositivos, requisito autorizador para o processamento do presente


recurso, apesar de já evidenciada, será examinada em maiores detalhes adiante. A seguir, a
RECORRENTE passa a demonstrar a existência da repercussão geral da matéria discutida,
requisito também necessário para seu regular processamento.

3.2 REPERCUSSÃO GERAL DA MATÉRIA DISCUTIDA: ARTIGO 102, § 3º, DA CF/88

As questões constitucionais versadas no presente Recurso Extraordinário evidenciam


repercussão geral da matéria em debate, a saber: a necessidade de edição de Lei Complementar
para a exigência do DIFAL pelos Estados, então previsto no Convênio ICMS 66/1988, conforme
entendimento exarado no Tema 1093 2 de Repercussão Geral (ADI 5.469 e RE 1.287.019). A
discussão tem inegável repercussão geral, em face da sua patente relevância dos pontos de vista
jurídico, econômico e social, que ultrapassam os interesses subjetivos da causa.

Tanto é que tramita nesta Corte um conjunto de Ações Direta de Inconstitucionalidade 3


(“ADIns”), nas quais se questiona a Lei Complementar 190/2022, no que altera a Lei

2Tema 1093 - Necessidade de edição de lei complementar visando a cobrança da Diferença de Alíquotas do ICMS – DIFAL nas
operações interestaduais envolvendo consumidores finais não contribuintes do imposto, nos termos da Emenda Constitucional
nº 87/2015.
3 Ações propostas pela
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, ABIMAQ (ADI 7066), pelo Governador do
Estado de Alagoas (ADI 7070), pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos, SINDISIDER (ADI
7075) e pelo Governador do Estado do Ceará (ADI 7078).
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Complementar 87/1996 (Lei Kandir) para tratar da cobrança do ICMS nas operações
interestaduais destinadas a consumidor final não contribuinte do imposto, em vista do que foi
decido por este C. Supremo Tribunal Federal (“STF”) no julgamento da ADI 5469 e RE 1287019

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(Tema de Repercussão Geral n. 1.093), no sentido de que as alterações da Emenda Constitucional
87/2015 dependeriam de regulamentação por lei complementar.

Nesse sentido, a relevância jurídica da impossibilidade de os Estados exigirem o ICMS-DIFAL sem


a existência de Lei Complementar disciplinadora da exação, decorre do fato de, como é intuitivo,
a solução de lides atinentes a relações jurídicas tributárias em casos como o dos autos tem
proveito geral e institucional. Aliás, o próprio fato de este C. STF já ter analisado a questão em
sede de repercussão geral evidencia por si só o caráter da matéria aqui debatida.

Assim, ainda que se trate, na hipótese, de processo judicial no qual se discute direito individual,
é certo que a apreciação, por este C. STF, da discussão em debate, terá grande repercussão em
outras demandas semelhantes (efeito multiplicador), na medida em que evidentemente servirá
de abalizado parâmetro para os julgamentos de primeira e segunda instâncias judiciais sobre
essas questões.

Ademais, a relevância do ponto de vista econômico e social - e até mesmo político - das questões
constitucionais discutidas nestes autos, também decorre do fato de serem inúmeros os processos
que versam sobre a impossibilidade de os Estados exigirem o ICMS-DIFAL sem a existência de Lei
Complementar disciplinadora, conforme entendimento exarado no Tema 1093 de Repercussão
Geral (RE 1287019) e julgamento pendente das ADIs 7066, 7075 e 7078..

3.3 PREQUESTIONAMENTO

A par dos fundamentos acima, cumpre mencionar que a matéria aqui demonstrada foi
categoricamente enfrentada no v. Acórdão recorrido, bem como foi devidamente alegada pelo
RECORRENTE no deslinde processual, fato que demonstra o cumprimento do requisito de
prequestionamento.
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O v. acórdão recorrido enfrentou a questão constitucional ora em debate por meio dos seguintes
excertos:

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“Com isso, foi editada a Lei Complementar n.º 190, de 04 de janeiro de 2022, que modificou
algumas regras da Lei Complementar n.º 87/1996 e estabeleceu normas gerais acerca da diferença
de alíquotas de ICMS. No artigo 3.º, determinou expressamente que se observasse o disposto no
artigo 150, inciso III, alínea “c”, da Constituição Federal (anterioridade nonagesimal).
Esse novo regramento não se confunde com aquele que institui ou majora o tributo, este sim
submetidos ao princípio da anterioridade geral previsto no artigo 150, inciso III, alínea “b”, da Lei
Maior.
Nesse contexto, não é possível afirmar que a Lei Complementar n.º 190/2022, que apenas
regulamentou a cobrança do ICMS-DIFAL no que tange aos contribuintes e ao sujeito ativo, deva se
submeter a tal princípio constitucional.
(...)
Portanto, a cobrança do DIFAL/ICMS pode se dar a partir de 2022, pois a anterioridade anual
prevista no mencionado artigo 150, inciso III, alínea “b”, da Constituição Federal deve considerar
a lei que instituiu ou aumentou a DIFAL, ou seja, a Lei Estadual n.º 17.470/2021, e não a lei
complementar que estabeleceu regras gerais.”

Assim, não há como afastar a cristalina existência de tal pressuposto recursal.

4. VIOLAÇÃO DA LEI MAIOR PELO V. ACÓRDÃO RECORRIDO

4.1 VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 146, INC. I E III, E 155, § 2º, INC. XII, TODOS DA CF/88 E AO TEMA
1.093/STF

O v. Acórdão recorrido entendeu que “a cobrança do DIFAL/ICMS pode se dar a partir de 2022,
pois a anterioridade anual prevista no mencionado artigo 150, inciso III, alínea “b”, da
Constituição Federal deve considerar a lei que instituiu ou aumentou a DIFAL, ou seja, a Lei
Estadual n.º 17.470/2021, e não a lei complementar que estabeleceu regras gerais.”

Ocorre que a Suprema Corte deu provimento ao RE 1.287.019 e assentou a invalidade da


cobrança do ICMS-DIFAL, na forma do Convênio nº 93/2015, fixando a tese: “A cobrança do
diferencial de alíquota alusivo ao ICMS, conforme introduzido pela Emenda Constitucional nº
87/2015, pressupõe edição de lei complementar veiculando normas gerais”. Explica-se.

O Plenário deste C. STF assentou a invalidade da cobrança do ICMS-DIFAL, na forma do Convênio


nº 93/2015, concluindo pela necessidade de edição de lei complementar para cobrança do
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ICMS-DIFAL nas operações interestaduais envolvendo consumidores finais não contribuintes


do imposto, nos termos da EC nº 87/2015.

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Demonstrando-se assim, a clara violação da Constituição Federal, quanto aos artigos 146, incisos
I e III, e 155, §2º, inciso XII, na medida em que esses dispositivos exigem que haja lei
complementar para definição dos aspectos essenciais da incidência do ICMS, o que não ocorreu
no caso do ICMS-DIFAL, exigido com base em meros convênios e leis estaduais.

Diante desse cenário, ainda que o Estado de São Paulo tenha publicado em 14.12.2021 a Lei
8.944/21, para alterar disposições da Lei 6.374/89, que dispõe sobre o ICMS, de forma a instituir
o ICMS-DIFAL, é certo que sem a edição de Lei Complementar Nacional anterior, a referida
legislação e suas disposições permanecem eivadas de inconstitucionalidade, como decidido pelo
STF para as regras fixadas no Convênio CONFAZ 93/15.

Em outras palavras, a edição da Lei 14.470/21 pelo Estado foi inócua e sem efeito jurídico para
fins de cobrança de ICMS-DIFAL, pois editada antes da publicação da Lei Complementar n.
190/2022, que somente ocorreu em 05 de janeiro de 2022.

Nesse ponto, ressalta-se que ainda restam pendentes de julgamento Ações Direta de
Inconstitucionalidade 4 (“ADIns”), nas quais se questiona a Lei Complementar 190/2022, no que
altera a Lei Complementar 87/1996 (Lei Kandir) para tratar da cobrança do ICMS nas operações
interestaduais destinadas a consumidor final não contribuinte do imposto, em vista do que foi
decido por este C. Supremo Tribunal Federal (“STF”) no julgamento da ADI 5469 e RE 1287019
(Tema de Repercussão Geral n. 1.093), no sentido de que as alterações da Emenda Constitucional
87/2015 dependeriam de regulamentação por lei complementar.

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Ações propostas pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, ABIMAQ (ADI 7066), pelo
Governador do Estado de Alagoas (ADI 7070), pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos
Siderúrgicos, SINDISIDER (ADI 7075) e pelo Governador do Estado do Ceará (ADI 7078).
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Assim, no que se refere ao ICMS-DIFAL, tem-se que a exigência é totalmente indevida


(inconstitucional), pois (i) o Estado de São Paulo editou lei para disciplinar a cobrança de ICMS-
DIFAL antes da publicação de Lei Complementar, em total contrariedade ao entendimento

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firmado em sede de julgamento do Tema 1093/STF e (ii) ainda que superado tal ponto, mesmo
com a promulgação da Lei Complementar nº 190/22, a qual introduziu o ICMS-DIFAL no
Sistema Tributário Nacional, não há o que se falar em aplicabilidade no caso presente até
31.12.2022, eis que os efeitos da lei complementar deverá respeitar o princípio da
anterioridade nonagesimal.

4.2 VIOLAÇÃO AO ARTIGO 150, INC. III, ALÍNEAS “B” E “C”, DA CF/88

Ainda que superada à violação ao Tema 1.093, visto que a legislação do Estado de São Paulo em
discussão foi publicada em momento anterior a LC 190/2022, a aplicação da norma também não
tem guarida em razão violação ao princípio da anterioridade, conforme razões a seguir.

Na redação original da CF/88, o art. 155, § 2º, inc. VII, “a” e “b”, previa que, nas operações e
prestações que destinassem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, se
aplicaria a: (i) alíquota interestadual, quando o destinatário fosse contribuinte do imposto e (ii)
alíquota interna, quando o destinatário fosse não contribuinte

Contudo, com a EC 87/15, esse dispositivo passou a estabelecer que, nas operações e
prestações que destinem bens e serviços a consumidor final, contribuinte ou não do imposto,
localizado em outro Estado, será aplicada a alíquota interestadual e caberá ao Estado de destino
o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna do Estado destinatário e a
alíquota interestadual.

Assim, a EC 87/15 unificou as regras nas operações interestaduais realizadas com consumidor
final, contribuinte ou não do ICMS, de modo que o ICMS-DIFAL passou a ser devido em ambas
as situações. Ou seja, quando o destinatário é contribuinte, como no caso da RECORRENTE e,
também, quando não é contribuinte do imposto.
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Todavia, a disposição trazida pela Emenda Constitucional, que até muito recentemente não havia
sido regulamentada por Lei Complementar – o que foi trazido apenas com a promulgação da Lei
Complementar nº 190/2022 -, sendo tratada apenas no âmbito das legislações estaduais por

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meio de leis ou decretos, o que evidencia a inconstitucionalidade da cobrança do ICMS-DIFAL em
qualquer situação, seja na venda para consumidores finais contribuintes do imposto, seja para
consumidores finais não contribuintes.

Lembremos foi antes do advento da mencionada LC 190/2022 que, no julgamento da ADI 5.469,
esta Suprema Corte definiu que a cobrança de ICMS-DIFAL depende de prévia Lei
Complementar, em consonância com o art. 146 da CF/88.

Nesse diapasão, o v. acórdão está contrariando a tese fixada por este C. STF em repercussão
geral, pois a tese fixada pela Suprema foi de que “a cobrança do diferencial de alíquota alusivo
ao ICMS, conforme introduzido pela Emenda Constitucional nº 87/2015, pressupõe edição de lei
complementar veiculando normas gerais.”

Ademais, ao não considerar os efeitos da Lei Complementar nº 190/22, o v. acórdão


duplamente nega vigência ao entendimento desta E. Corte, mormente no tocante à
anterioridade e vigência da referida norma.

Afinal, com a promulgação da Lei Complementar nº 190/22, em 05 de janeiro de 2022, a


referida legislação deve observar os princípios da anterioridade nonagesimal, tal como a
anterioridade do exercício financeiro, sob o risco de ofensa constitucional (art. 150, III, ‘b’ e ‘c’
da CF/88.

Destaca-se novamente que no caso do Estado de São Paulo, em 14/12/2021, foi publicada a Lei
Estadual nº 14.470/21, que modificou diversos dispositivos da Lei Estadual nº 6.374/89, para
regulamentar a cobrança de ICMS nas operações e prestações interestaduais destinadas a
consumidor final.
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Nesse sentido, a própria LC 190/22 previu no seu art. 3º que a sua produção de efeitos está
condicionada às regras previstas no citado art. 150, inc. III, alíneas ‘b’ e ‘c’, da CF/88, eis que ao
citar a alínea ‘c’, esta faz referência expressa em sua redação à alínea ‘b’, do texto constitucional.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC9003F.
Ou seja, para exigência e cobrança do ICMS-DIFAL com base na LC 190/22, o Estado de São Paulo
deverá editar nova lei estadual, em observância às regras estabelecidas na referida Lei
Complementar, não podendo pretender a cobrança do diferencial com base na sua legislação
anterior à Lei Complementar.

Por isso, importante destacar a tramitação neste C. Tribunal de Ações Direta de


Inconstitucionalidade 5, nas quais se questiona a Lei Complementar 190/2022.

Nessa esteira, em Parecer apresentado pela Advocacia-Geral da União em 09.03.2022 na Ação


Direta de Inconstitucionalidade nº 7.070 6, resta inequívoca a necessidade de adequação da
cobrança ao princípio da anterioridade, senão vejamos: “43. O fato de o art. 3º da Lei
Complementar referir-se, tão somente, à anterioridade nonagesimal, não inibe a que a
anterioridade geral, igualmente, faça-se presente. É um consectário lógico e obrigatório que
advém do comando constitucional. A propósito, ainda que a Lei Complementar nº 190/2022 não
houvesse previsto qualquer submissão à anterioridade, o fato de, por si, ensejar instituição de
tributo tornaria obrigatória o respeito a tal regramento constitucional.”

Nesse ponto, voltando ao tópico anterior - anterioridade -, se a LC 190/22 foi publicada apenas
em 05.01.2022 e o Estado, para cobrança do ICMS-DIFAL deverá editar uma nova Lei em
consonância às regras estabelecidas na referida Lei Complementar, a publicação dessa nova Lei
somente no ano de 2022, confirmará a impossibilidade de exigência do diferencial até
31.12.2022.

5
Ações propostas pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, ABIMAQ (ADI 7066), pelo Governador do
Estado de Alagoas (ADI 7070), pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos, SINDISIDER (ADI
7075) e pelo Governador do Estado do Ceará (ADI 7078).
6 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6333675
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCELO SALLES ANNUNZIATA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 12/09/2022 às 12:35 , sob o número WPRO22010882245.
fls. 509
12/12

Desse modo, inafastável que, por contrariar a orientação desta E. Corte no Tema 1.093, o v.
acórdão regional violou frontalmente a Constituição Federal, sendo de rigor sua reforma, com a
consequente concessão da segurança.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002598-76.2022.8.26.0053 e código 1BC9003F.
5. DO PEDIDO

Sendo assim, a RECORRENTE pleiteia que este C. Supremo Tribunal Federal conheça e dê
provimento ao presente Recurso para reconhecer evidente violação a dispositivos da
Constituição Federal, reformando-se o acórdão regional, de modo que seja reconhecida a
impossibilidade de a RECORRENTE ser compelida ao pagamento do ICMS-DIFAL até que haja lei
complementar válida e em vigor, ou seja, até 31.12.2022, em respeito ao princípio da
anterioridade insculpido no art. 150, inc. III, alíneas ‘b’ e ‘c’ da CF/88.

Requer também que todas as publicações e intimações relativas ao presente feito sejam
realizadas exclusivamente em nome dos advogados MARCELO SALLES ANNUNZIATA, inscrito
na OAB/SP nº 130.599 e PRISCILA FARICELLI DE MENDONÇA, inscrita na OAB/SP 234.846,
ambos com escritório na Av. Pedroso de Moraes, nº 1.201, Pinheiros, São Paulo/SP, CEP 05419-
001, tel. (11) 3356-2054, sob pena de nulidade, nos termos do art. 272, § 2º, do CPC, bem como
que eventuais futuras comunicações eletrônicas se deem por meio do endereço:
push.tax@demarest.com.br.

Termos em que, pede deferimento.

São Paulo, 12 de setembro de 2022.

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