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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO CONSELHO DE

CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

PTA/AI n° 15.000027972-22

Acórdão: 21.663/17/2ª

SÔNIA MARIA CAMARGO e GILMAR MAESTRO, já qualificados no


procedimento em epigrafe, vem, por meio de seu procurador este que abaixo
subscreve, respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro no Art.163,
II, do Decreto n° 44.747/2008, c/c Art. 5°, XXXIV, alínea “a”, da Constituição
federal de 1988, interpor o presente RECURSO DE REVISÃO, em face do
respeitável Acórdão nº 21.663/17/2ª, proferido pela Ilustre 2ª Câmara de
Julgamento do Conselho de Contribuinte do Estado de Minas Gerais, pelos
fatos e fundamentos a seguir expostos.

Na oportunidade requer a juntada da guia comprobatória de


recolhimento de Taxa de Expediente, devidamente paga em anexo.

Por fim, requer-se que sejam encaminhadas as razões recursais à


Câmara Especial para fins de processamento e provimento do presente
Recurso de Reforma.

Belo Horizonte - MG
22 de novembro de 2017

Diogo de Souza Silva


À CÂMARA ESPECIAL DO EGRÉGIO CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO
ESTADO DE MINAS GERAIS – CC/MG

PTA/AI n° 15.000027972-22
Acórdão: 21.663/17/2ª
Recorrente: SÔNIA MARIA CAMARGO e GILMAR MAESTRO
Recorrido: ESTADO DE MINAS GERAIS – SECRETARIA DE ESTADO DA
FAZENDA DE MINAS GERAIS

RAZÕES DE RECURSO DE REVISÃO

Colenda Câmara especial,


Doutos Conselheiros,

I – CABIMENTO, TEMPESTIVIDADE E PREPARO

De acordo com o Art. 163, caput e Inciso I, do Decreto n° 44.747/2008, é


cabível o Recurso de Revista na hipótese quando a decisão da Câmara de
Julgamento resultar de voto de qualidade proferido pelo seu Presidente e
interposto no prazo de dez dias contadas da data de intimação do acórdão,
mediante a publicação da decisão no Diário Eletrônico da Secretaria da
Fazenda Estadual, conforme excerto abaixo:

Art. 163. Das decisões da Câmara de Julgamento cabe Recurso de


Revisão para a Câmara Especial, no prazo de dez dias contados
da intimação do acórdão, mediante publicação da decisão no
Diário Eletrônico da Secretaria de Estado de Fazenda, nas
seguintes hipóteses:

I - quando a decisão da Câmara de Julgamento resultar de voto


de qualidade proferido pelo seu Presidente;

No presente caso, o PTA nº 15.000027972-22, processado através de


rito sumário, pelo voto de qualidade, julgou parcialmente procedente o
lançamento, para adequar a base de cálculo ao valor de R$ 131.950,00,
conforme o Acórdão nº 21.663/17/2ª (Doc. Anexo).
Vale ressaltar de acordo com o § 5 do Art. 163, do Decreto n°
44.747/2008, havendo pelo menos uma matéria decidida pelo voto de
qualidade o recurso de revisão poderá versar sobre as demais matérias,
conforme abaixo descrito:

§ 5º Havendo pelo menos uma matéria decidida pelo voto de


qualidade, excetuadas as mencionadas no § 1º, o recurso de
revisão poderá versar sobre as matérias não decididas com o
referido quorum.

Dessa forma, é cabível o presente recurso, em razão da perfeita


subsunção do caso fático ao previsto na norma, em razão a decisão da
Câmara de Julgamento decorrente voto de qualidade proferido pelo Presidente
no Acórdão nº 21.663/17/2ª.

Além disso, o presente recurso é tempestivo, tendo em vista a


interposição do presente recurso dentro do prazo de dez dias, conforme
previsto na lei, contados a partir da data de sua publicação.

Por fim, informamos que a taxa de expediente foi devidamente recolhida


(Doc. Anexo) conforme impõe o Art.164, parágrafo único, do Decreto
44.747/2008.

II – DOS FATOS

Trata-se de constituição do crédito tributário, em 31 de julho de 2015,


relativo ao pagamento de Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis ou
Doação de Quaisquer Bens ou Diretos — ITCM, incidente sobre a doação do
numerário efetuado por Gilmar Maestro à Sônia Maria Camargo, no exercício
de 2007, os quais não apresentaram a respectiva DBD.

Os Recorrentes entendem que houve a decadência do direito da


Fazenda Pública do Estado de Minas Gerais em constituir o crédito tributário
em razão do decurso de prazo quinquenal. Em relação ao lançamento alegam
ser indevido diante da inocorrência do fato gerador, pois defendem que não
houve doação, mas na verdade se trata de mútou. Inconformados, os
Recorrentes apresentaram impugnação ao Conselho de Contribuinte do Estado
de Minas Gerais — CCMG.
Diante disso, a Fazenda Pública do Estado de Minas Gerais alegou que
o prazo inicial da decadência é contato a partir do primeiro dia do exercício
seguinte àquele em que todos os elementos necessários ao lançamento são
por ela conhecidos. De maneira que, somente tomou conhecimento a partir do
recebimento do banco de dados encaminhado pela Receita Federal do Brasil
por meio do Ofício nº 446/2011/SRRF06/Gabin/Semac datado de 17 de agosto
de 2011.

Em consequência, CCMG proferiu o Acórdão nº 21.663/17/2ª, por


maioria de votos, em não reconhecer a decadência do direito da Fazenda
Pública do Estado de Minas Gerais de formalizar o crédito tributário, e pelo voto
de qualidade, em julgar parcialmente procedente o lançamento, indeferido a
alegação de que o negócio jurídico se trata de mutuo e não de doação, e
deferiu adequação da base de cálculo ao valor de R$ 131.950,00.

Assim, inconformados com Respeitável Acórdão proferido, não restou


alternativa aos Recorrentes, senão a interposição o presente Recurso de
Revisão.

III. DO DIREITO

O presente Recurso encontra fundamento na hipótese consignada pelo


art. 163, I do Decreto 44.747/2002, qual seja: a decisão da Câmara de
Julgamento decorrente voto de qualidade proferido pelo Presidente no Acórdão
nº 21.663/17/2ª.

De forma que, havendo pelo menos uma matéria decidida pelo voto de
qualidade, o Recurso de Revisão poderá versar sobre as demais matérias
conforme o § 5 do Art. 163, do Decreto n° 44.747/2008.

Nesse passo, o ponto de maior controvérsia do respeitável Acórdão nº


21.663/17/2ª é relativo a entendimento que o prazo decadencial quinquenal
para constituir o crédito tributário, inicia-se com o conhecimento da Fazenda
Pública do Estado de Minas Gerais sobre o fato gerador.

Vale ressaltar a decadência é um instituto que visa a extinção do direito.


De maneira que o direito é concedido objetivando o seu cumprimento em um
determinado prazo, e que, ultrapassado, a decadência opera extinguindo o
direto, assim como nos ensina Câmara1:

[...] a decadência é a extinção do direito pela inércia de seu titular,


quando sua eficácia foi, de origem, subordinada à condição de seu
exercício dentro de um prazo prefixado, e este se esgotou sem que
esse exercício se tivesse verificado. (1982, p. 116)

Dito isso, o legislador atribuiu ao ITCD um prazo para sua constituição, e


se não realizado, a decadência opera extinguindo-o. Assim, o Instituto da
decadência respaldado na principio constitucional da Segurança Jurídica tem
por finalidade essencial a estabilidade do ordenamento jurídico, conforme
destacado por Humberto Ávila2

[...] a decadência é efeito jurídico instituído por regra infraconstitucional


que marca a prevalência incondicional da segurança jurídica sobre a
justiça. (2016, p. 364-365)

De forma que não deve prosperar a alegação da fazenda que o prazo


decadencial se inicia com seu conhecimento sobre o fato gerador, pois esta
situação equivaleria a eternizar-se a possibilidade de lançamentos
tributários, consonante com a decisão, de 2015, proferido pela 2ª Câmara
de Julgamento do CC/MG, em caso análogo no acórdão nº 20.727/15/2ª.

Por oportuno, com a finalidade de elucidação da controvérsia do acórdão


atacado esquematizamos a tabela abaixo comparando com outra decisão
proferida por esse respeitável Órgão, sobrevindo, inevitavelmente a
necessidade de harmonização de jurisprudencial, conforme exposto a seguir:

Termo inicial da contagem de prazo decadência do ITCD


Acórdão recorrido
Acórdão paradigma
nº 21.663/17/2ª
nº 20.727/15/2ª
Publicação 23/12/2017
Publicação 04/05/2015

FATOS FATOS

A autuação versa sobre a falta de Versa o presente lançamento acerca das


recolhimento do Imposto sobre Transmissão seguintes imputações fiscais:
Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens
ou Direitos (ITCD) incidente sobre a doação 1 - falta de recolhimento do ITCD devido
de numerário efetuada pelo Coobrigado sobre doação de numerário realizada pelo Sr.
Gilmar Maestro (doador) à Autuada Sônia Rachid Armando Moreira no ano de 2008, o
1
LEAL, Antônio Luis da Câmara. Da Prescrição e da Decadência. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense,1982.
2
ÁVILA, Humberto. Teoria da segurança jurídica. 4ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2016, p. 364-365.
Maria Camargos (donatária), ambos inseridos qual foi incluído no polo passivo da obrigação
no polo passivo da obrigação tributária, no tributária como Coobrigado;
exercício de 2007, de acordo com as
informações constantes da Declaração de 2 - falta de entrega da Declaração de Bens
Imposto de Renda Pessoa Física (DIRPF) e e Direitos – DBD à Secretaria de Estado de
repassadas à Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais [...]
Fazenda de Minas Gerais pela Receita
Federal do Brasil (RFB). Constatou-se, ainda,
a falta de entrega da Declaração de Bens e
Direitos (DBD), à Secretaria de Estado de
Fazenda de Minas Gerais - SEF/MG, relativa
à doação recebida. [...]

DIVERGÊNCIA DECISÓRIA DIVERGÊNCIA DECISÓRIA

Nesse caso, a Receita Estadual somente A decadência é um instituto que visa a


tomou conhecimento a partir do segurança das relações jurídicas. Ir contra
recebimento do banco de dados qualquer instituto ou mesmo medida que
encaminhado pela Receita Federal do tenha em seu bojo esta premissa é voltar-se
Brasil por meio do Ofício nº contra o próprio estado democrático de
446/2011/SRRF06/ Gabin/ Semac atado de direito. [...]
17 de agosto de 2011 uma vez que o
Contribuinte, conforme já mencionado, deixou Frise-se não ser possível aceitar a arguição
de cumprir o dever de entregar a DBD relativa do Fisco de que o prazo começaria a fluir a
às doações. [...] partir da ciência da ocorrência do fato
gerador, pois esta situação equivaleria a
Assim, o prazo para a Fazenda Pública eternizar-se a possibilidade de
Estadual constituir o crédito tributário de lançamentos tributários, contrariando o
ITCD, de que teve ciência, reiterando, em Código Tributário Nacional e, principalmente,
17/08/11 só expirou em 31/12/16, de acordo o instituto da decadência que visa determinar
com o disposto no art. 173 inciso I do CTN c/c prazo para constituição do crédito tributário
o art. 23 parágrafo único da Lei nº 14.941/03 [...]
e, uma vez que os Sujeitos Passivos foram Mesmo tendo em mãos a informação no
intimados da lavratura do Auto de Infração exercício de 2011 o Fisco apenas procedeu
em 31/07/15, conforme comprovam os Avisos a lavratura do Auto de Início de Ação Fiscal e
de Recebimentos – AR de fls. 37, não sua consequente intimação à Impugnante em
ocorreu a decadência do direito da 2014 (fl. 02). Ou seja, já fora do prazo para
Fiscalização formalizar o crédito tributário. formalizar as exigências do exercício de
[...] 2008. [...]

Portanto, tendo o Fisco deixado de exercer o


direito de lançar o crédito tributário dentro do
prazo legalmente estipulado e tendo em mãos
os elementos que permitiriam fazê-lo,
encontra-se vedado de exercer o lançamento
do tributo, uma vez que extinto [...]

CONCLUSÃO DO ACÓRDÃO CONCLUSÃO DO ACÓRDÃO

Diante do exposto, ACORDA a 2ª Câmara de Diante do exposto, ACORDA a 2ª Câmara de


Julgamento do CC/MG, quanto à prejudicial Julgamento do CC/MG, pelo voto de
de mérito, por maioria de votos, em não qualidade, em julgar improcedente o
reconhecer a decadência do direito da lançamento [...]
Fazenda Pública de formalizar o crédito
tributário [...]
Conforme se verifica nas decisões acima, o Acórdão Recorrido
entendeu pela não decadência do ITCD, pois considerou o inicio do prazo
decadencial quinquenal o primeiro dia do exercício seguinte ao qual a Fazenda
Pública do Estado de Minas Gerais tomou conhecimento sobre o fato gerador.

Diversamente, o Acórdão Paradigma decidiu pela improcedência do


lançamento aplicando entendimento que o inicio da contagem do prazo de
decadência seria o primeiro dia do exercício seguinte ao fato gerador.

Dito isso, evidenciamos, principalmente, a divergência dos acórdãos em


relação ao termo inicial para contagem de prazo do ITCD. Contudo, o
conhecimento do fato gerador pelo ente tributante não foi adotado legislação,
como marco inicial do prazo para contagem da decadência de ITCD, conforme
já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, conforme decisão colacionada abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO.


RECURSO ESPECIAL. SUPOSTA OFENSA AO ART. 535 DO CPC.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE
TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO, DE QUAISQUER BENS OU
DIREITOS. ALEGAÇÃO DE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO. QUESTÃO
ATRELADA AO REEXAME DE MATÉRIA DE FATO. ÓBICE DA SÚMULA
7/STJ. 2. A comunicação do fato gerador (doação) ao Fisco não tem o
condão de afastar a decadência, pois "a circunstância de o fato gerador
ser ou não do conhecimento da Administração Tributária não foi erigida
como marco inicial do prazo decadencial, nos termos do que preceitua o
Código Tributário Nacional, não cabendo ao intérprete assim estabelecer"
(AgRg no REsp 577.899/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJe de
21.5.2008; REsp 1.252.076/MG, 2ª Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
DJe de 11.10.2012). Contudo, no caso concreto, o Tribunal de origem
entendeu que nem sequer houve comprovação da doação (...) (AGgr no
ARESP 243664 /RS Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial
2012/0218086-6)

Com efeito, a interpretação de que o conhecimento da Fazenda Pública


do Estado de Minas Gerais sobre o fato gerador seja o termo inicial do prazo
de decadência não pode prevalecer, pois conforme afirmado pelo o Superior
Tribunal de Justiça, no ARESP 243664 /RS e pelo Acórdão paradigma nº
20.727/15/2ª, essa não é marco inicial estabelecido pelo Código Tributário
Nacional.

Assim, diante das presentes informações que denotam a contradição do


Acórdão recorrido nº 21.663/17/2ª, mister se faz a atuação deste Respeitável
Órgão para sua reforma, sobretudo, com a finalidade de dar à lei interpretação
coerente aos princípios da Segurança Jurídica e ao Estado democrático de
Direito .

IV. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, os Recorrentes requerem que:

a) Que o presente Recurso de Revista seja conhecido e admitido diante


demonstração da hipótese de cabimento, da tempestividade e do
recolhimento Taxa de Expediente, conforme o Art. 163 caput, Inciso I e §
5 do Decreto n° 44.747/2008;

b) A jurisprudência desde respeitável Órgão seja harmonizada diante da


evidente contradição de decisão a respeito de casos análogos conforme
demonstrado pela comparação entre o Acórdão paradigma nº
20.727/15/2ª e o Acórdão recorrido nº 21.663/17/2ª;

c) Seja dado provimento ao presente Recurso de Revisão para que,


sanando os equívocos interpretativos apontados, seja reformado o
Acórdão nº 21.663/17/2ª, com a finalidade de que seja adotado o
entendimento de que a decadência do ITCD, sem apresentação de
declaração ou pagamento, seja contada a partir do primeiro dia no
exercício seguinte ao fato gerador, em conformidade com entendimento
do o Superior Tribunal de Justiça.

Belo Horizonte – MG
22 de novembro de 2017

Diogo de Souza Silva

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