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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO E.

TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DA PARAÍBA,

MUNICÍPIO DE COXIXOLA, qualificação completa, nos autos do CUMPRIMENTO DE


SENTENÇA promovida por MARIA PERREIRA DA SILVA, devidamente qualificada, vem por
sua advogada, vem, respeitosamente, requerer a distribuição do presente Agravo de instrumento, o
que faz com fundamento nos artigos 298 e 1.015, parágrafo único, e seguintes do Código de
Processo Civil.

Os advogados que funcionam no presente feito são os seguintes: (CPC, art. 1.016, IV):

1 – Pelo agravante: FLÁVIA DE PAIVA, inscrita na OAB PB sob o nº 10432/PB com endereço
profissional na Rua Aprígio Pereira Nepomuceno, Nº 675, Jardim Paulistano, Campina Grande,
Estado da Paraíba;

2 – Pela agravada: JOSÉ DA SILVA, inscrito na OAB/PB 24.000 com endereço profissional na Rua
João Machado, 130, Centro, João Pessoa-PB.

Cumpre-se o requisito do art. 1.017, do CPC, que disciplina a juntada de peças obrigatórias,
cumpre-se tal requisito, através da otimização do processo originário, no qual foi proferida a
decisão agravada.

Informa, ainda, que deixa de juntar o comprovante de pagamento de custas e do porte de retorno,
porque o Agravante é isento de tal pagamento nos termos da Lei de Organização Judiciária da
Paraíba (LOJE-PB).

Requer-se, outrossim, em caráter de antecipação de tutela o deferimento total da pretensão


recursal, com a comunicação ao juiz ad quem de tal decisão antecipatória, nos termos do art.
1.019, I, c/c o art. 303, do CPC e a suspensão dos efeitos da medida liminar agravada.

Termos em que, requerendo o recebimento das inclusas razões, instruídas com a peças obrigatórias
e facultativas retro apontadas.

Pede deferimento.

Barra de Santana-PB, 23 de fevereiro de 2022.

FLAVIA DE PAIVA
ADVOGADA OAB-PB 10432
EXCELENTÍSSIMOS SENHORES DESEMBARGADORES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DA PARAÍBA,

I – Exposição do fato e do direito (CPC, art. 1.016, II) e razões do pedido de reforma da
decisão (CPC, art. 1.016, III).

DO RESUMO DA DECISÃO RECORRIDA

Trata-se de cumprimento de sentença no qual a Agravada reclama o pagamento da quantia de R$


11.978,39. O Agravante apresentou lei que trata da requisição de pequeno valor, que não foi acatada
pelo juiz de instância por entender que a lei é posterior à constituição do título do exequendo.

Em razão disso, considerou que deveria ser aplicado ao Município o tento de RPV, previsto no art.
97, parágrafo 12, do ADCT da Constituição brasileira.

O juiz de instância assim se pronunciou:

“Ocorre que o título que embasou o pedido executivo teve origem bem antes da
edição de tal norma e, em sendo assim, há que se prever a possibilidade do RPV
nos moldes traçados pelo art. 97, parágrafo 12, da CF, que previu o teto do RPV
como sendo equivalente a trinta salários mínimos.”

Como se demonstrará, tal entendimento deverá ser reformado.

DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 97, DO ADCT da Constituição vigente

A Emenda Constitucional 62/2009 foi objeto de ações de inconstitucionalidade perante o STF.

As Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 4357 e 4425 foram


promovidas com a finalidade de declarar a inconstitucionalidade de
parte da Emenda Constitucional 62/2009, que instituiu o novo regime
especial de pagamento de precatórios.
Com a decisão, foram declarados inconstitucionais dispositivos do
artigo 100 da Constituição Federal, que institui regras gerais para
precatórios, e integralmente inconstitucional o artigo 97 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que cria o regime
especial de pagamento.
Ante as decisões acima proferidas pelo Pretório Excelso no âmbito das ADIs citadas tem-se que a
norma contida no art. 97, do ADCT da atual Carta Magna foi reconhecido como inconstitucional e,
por essa razão, as normas contidas no citado artigo não podem ser usadas como parâmetro para
determinação do teto de RPV.

O próprio TST em decisão recente entendeu que:

"RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. PRECATÓRIO. LEI MUNICIPAL.


REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR. ART. 97 DO ADCT. DECLARAÇÃO
DE INCONSTITUCIONALIDADE PELO STF. O Tribunal Regional considerou
ser aplicável a Lei Municipal nº 9.415/2018, a qual estabelece o montante para as
execuções de pequeno valor, apesar de editada pelo Município de Araraquara após
decorrido o prazo de 180 dias contados da publicação da Emenda Constitucional
nº 62/2009. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar as ADIs nos 4.357 e 4.425,
declarou a inconstitucionalidade de dispositivos correlatos à sistemática de
pagamento de precatórios introduzidos na Constituição Federal e no Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias pela Emenda Constitucional nº 62/2009.
Dessa forma, as citadas ADIs foram julgadas parcialmente procedentes, restando
assentada a inconstitucionalidade de " (...) todo o art. 97 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (especificamente o caput e os §§ 1º, 2º, 4º, 6º, 8º, 9º,
14 e 15, sendo os demais por arrastamento ou reverberação normativa) ". Logo,
tendo em vista a declaração de inconstitucionalidade integral do art. 97 do ADCT
pelo STF, ressaltada a ausência de modulação dos efeitos do julgamento no
tocante à matéria inserida no § 12 do art. 97 do ADCT, com efeitos ex tunc ,
portanto, deve-se observar a lei editada pelo Município executado com o objetivo
de disciplinar o pagamento de obrigações de pequeno valor constituídas após sua
vigência, conforme concluiu a Corte de origem. Recurso de revista não conhecido
" (RR-10674-03.2018.5.15.0151, 8ª Turma, Relatora Ministra Dora Maria da
Costa, DEJT 11/02/2022). (Sem grifos no original)

Douto Julgador, o juiz a quo entendeu ser aplicável ao Município o teto de 30 (trinta) salários
mínimos previstos no art. 97, parágrafo 12, do ADCT da CF/1988. No entanto, tal teto não pode ser
aplicado em razão de ter havido o reconhecimento da inconstitucionalidade do citado texto
normativo.

Destarte, há que se considerar como teto o valor previsto no art. 100, parágrafo ___, da CF/1988,
que prevê como valor mínimo para pagamento de RPV o maior benefício do Regime Geral da
Previdência Social (RGPS).

Salienta-se, ainda, que ao tempo da cabível a aplicação da preclusão consumativa da sentença que
fixou os honorários advocatícios. E, nesse ponto, a decisão agravada não merece retoque, porque o
Agravante, ao impugnar a execução não pretendia modificar o percentual já arbitrado na sentença
exequenda, mas fazer incidir esse percentual sobre os valores executados que, ao tempo do
ajuizamento da ação executiva, eram realmente devidos.

Em nenhum momento da impugnação ao cumprimento da sentença, questionou-se o percentual


fixado na sentença e já transitado em julgado. O que se questionou foram as verbas sobre as quais
tais percentuais deveriam incidir e a aplicação do princípio da causalidade, a fim, inclusive, de
evitar o enriquecimento ilícito e o empobrecimento indevido da Fazenda Pública.

Efetivamente, a sentença que fixou o percentual de 10% já transitou em julgado, sendo acobertada
pelo manto da coisa julgada. O que se questiona é: deverá esse percentual incidir também sobre
valores que efetivamente eram devidos pelo Executado/Agravado ao tempo do ajuizamento da
execução?

DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE À FIXAÇÃO DOS HONORÁRIOS


ADVOCATÍCIOS

Após realizar levantamento detalhado nos autos da Ação de Execução, que originou a sentença
exequenda, observa-se que o citado feito foi iniciado em 18/11/2005, teve por objeto os acórdãos
abaixo relacionados, proferidos pelo Tribunal de Contas do Estado da Paraíba-TCE/PB. Ao longo
da tramitação deste feito, vários acórdãos foram sendo quitados pelo Executado/Agravado, pelo que
se apresenta a seguinte tabela com as datas de quitação do débito, a fim de se possa avaliar qual o
momento em que ocorreu a quitação.

1 Número do Data da ID Valor do Quitação após


acordão quitação do débito o ajuizamento
débito imputado da ação
2 APL TC 12/06/2015 19383847 9.668.97 SIM
690/07 UFIR
3 APL TC Débito Documento R$ 35.859,20 SIM
490/2001 desconstituído incluso
por decisão
transitado em
julgado em 2019
4 APL TC 09/08/2010 19383926 R$ 38.214,64 SIM
571/2001
5 APL TC 25/01/2018 25261637, p. R$ 51.930,00 SIM
203/2002 1/2/3
6 APL TC 31/10/2013 25262166, p. 5 R$ 7.481.38 SIM
167/2003
7 APL TC 20/05/2005 19383926, p. R$ 300,00 Não
161/2003 16
8 APL TC 10/06/2011 19383926 R$ 1.624,60 SIM
426/2004
9 APL TC 31/07/2019 25262156, P. 3 R$ 8.754.14 SIM
658/2004
10 APL TC 10/09/2004 ID 19383926, R$ 4.275,00 Não
492/2003 P. 28
11 APL TC Ilegitimidade ID 25261635, R$ 2.534,15 Não
1321/2004 passiva do p. 5
Município para
cobrar, porque se
tratava de multa
12 AC 2 TC 25/08/2005 ID 19383926, R$ 1.624,60 Não
312/2004 p. 33
13 AC 2 TC 25/08/2005 19383926, p. R$ 500,00 NÃO
721/2004 37

A tabela acima demonstra que a maior parte do débito objeto desta ação de execução foi quitado
após o ajuizamento da ação de execução que originou a sentença exequenda. Os débitos das linhas
1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9 foram quitados após o ajuizamento da demanda executiva.

Com relação a esse fato, a jurisprudência pátria se sedimentou no sentido de que os honorários de
sucumbência não devem incidir sobre os débitos existentes ao tempo do ajuizamento da demanda e
quitados após a instauração da ação de cobrança/processo executivo, em razão do princípio da
causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à instauração do processo deve arcar com os
encargos que ele gera:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE EXECUÇÃO - QUITAÇÃO DO


DÉBITO POSTERIORMENTE AO AJUIZAMENTO DA DEMANDA - PERDA
SUPERVENIENTE DO OBJETO- ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA - PRINCÍPIO
DA CAUSALIDADE. Vigora em nosso ordenamento jurídico o princípio da
causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à instauração do processo deve
arcar com encargos dele decorrentes. Assim, tendo a parte executada quitado o
débito somente após o a propositura da ação de execução, incumbe a ela
também arcar com o pagamento dos ônus de sucumbência. (TJMG - Apelação
Cível  1.0702.11.038482-4/001, Relator(a): Des.(a) Luciano Pinto , 17ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 30/01/2020, publicação da súmula em 10/02/2020). Sem
grifos no original.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL


- QUITAÇÃO DO DÉBITO DEPOIS DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO -
EXTINÇÃO DO FEITO POR SATISFAÇÃO DA OBRIGAÇÃO -
ADEQUAÇÃO - ÔNUS SUCUMBENCIAIS - PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE
- IMPOSIÇÃO À PARTE EXECUTADA. Comprovada a quitação da dívida
depois do ajuizamento da ação executiva, reputa-se adequada a decisão que
extinguiu o feito com fundamento no art. 924, II, do CPC/2015, ante a satisfação
da obrigação pela parte executada. Em tal situação, os ônus sucumbenciais
deverão ser impostos à parte executada, por ter sido a responsável por dar
causa à demanda.  (TJMG -  Apelação Cível  1.0024.13.272791-8/001,
Relator(a): Des.(a) Arnaldo Maciel , 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
05/11/2019, publicação da súmula em 08/11/2019). Sem grifos no original

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO PELO DECRETO-


LEI Nº 911/69. QUITAÇÃO DO DÉBITO DURANTE DA TRAMITAÇÃO DO
FEITO. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. Tendo
o réu promovido a quitação da dívida durante a tramitação do feito haverá ele, por
força do princípio da causalidade, de arcar com o ônus da sucumbência, uma vez
que deu causa ao ajuizamento da ação ao deixar de cumprir com as suas
obrigações contratuais. APELO CONHECIDO E PROVIDO.
(TJGO, Apelação (CPC) 5591838-19.2018.8.09.0067, Rel. Des(a). ALAN
SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO, 5ª Câmara Cível, julgado em 09/03/2020,
DJe de 09/03/2020).

Ora, Douto Desembargador, com fundamento no princípio da causalidade, vigente no processo civil
brasileiro, a sucumbência do Município de Natuba, ora Agravante, está restrita aos itens constantes
da tabela acima nas linhas 7,10,11,12,13, restando limitada ao valor de R$ 9.233,75, que já se
encontravam quitados à época do ajuizamento da Ação de Execução, que originou a sentença
exequenda.

Se se levar em consideração apenas o percentual de 10%, previsto na sentença executada tal


porcentagem deverá incidir sobre o valor de R$ 9.233,75, que se encontravam quitados à época do
ajuizamento da ação de execução.

Esse valor atualizado, como demonstra a memória de cálculo inclusa, alcança a quantia de R$
41.047,64, de modo que seriam devidos pelo Município, portanto, a título de honorários
sucumbenciais a quantia de R$ 4.104, 76.

DO DIREITO E RAZÕES DO PEDIDO DA REFORMA

É inquestionável que o Agravante não pode pagar, a título de honorários advocatícios, mais do que a
verba arbitrada na sentença executada, o que representaria um vilipendio das verbas públicas.
Também não é possível incidir, de conformidade com principio da causalidade, o pagamento de
honorários advocatícios de natureza sucumbencial sobre valores que, ao tempo do ajuizamento da
execução, ainda se encontravam devidos e foram quitados no curso do processo.

Admitir tal possibilidade significaria beneficiar o Réu/Executado, ora Agravado, e, por conseguinte,
seu advogado com valores que, ao tempo da execução, eram realmente devidos aos cofres públicos.
No momento do ajuizamento da ação executiva, boa parte dos débitos cobrados eram devidos,
restando, pois, legítimo o processo executivo promovido, restando descabido o arbitramento de
honorários sucumbências sobre as verbas que, ao tempo do ajuizamento da execução, eram devidas.

A decisão agravada determina pagamento de honorários sucumbenciais em valores superiores aos


fixados na sentença exequenda, pelo que merece ser modificada.

DA NECESSIDADE DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

O art. 1019, I, do CPC permite que seja concedida a pretensão recursal em caráter
antecipatório, o que desde já se requer no presente recurso, visto que a decisão agravada
impõe ao Agravante o pagamento de um valor maior do que aquele realmente devido.
Configura-se presente, destarte, o requisito requerido pelo art. 303, do CPC para a concessão
de tutela antecipada e que consiste no perigo de dano, que a manutenção da decisão agravada,
ora combatida, pode gerar.
Assim sendo, requer-se, desde já, a concessão da pretensão recursal em caráter de antecipação
de tutela, tendo em vista a ampla verossimilhança da alegação, demonstrada
documentalmente por meio dos documentos inclusos.
Assim sendo, requer-se a suspensão da decisão agravada, ID 49816437, até que o presente
Agravo seja julgado, a fim de evitar a oneração indevida do Município Agravante, o que
ocorrerá, caso não haja a suspensão liminar da decisão recorrida.

DOS PEDIDOS

ANTE TODO O PONDERADO, requer a Agravante a essa Colenda Corte que:

1º) O presente recurso seja recebido e dar seguimento na forma de agravo de instrumento,
concedendo-se de imediato a antecipação de tutela recursal pleiteada, INAUDITA ALTERA PARS,
SUSPENDENDO A DECISÃO AGRAGADA, QUE CONDENOU O MUNICÍPIO AO
PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NO VALOR DE R$ 42.799,47, tendo em
vista que a manutenção da decisão poderá onerar indevidamente o Agravante;

2º) Que seja conhecido o presente recurso interposto;


3º) Isto posto, serve a presente para requerer ao Insigne Relator que determine a intimação do
agravado (CPC, art. 1.019, II) para responder no prazo legal.
4º) Ao final, requer o agravante o provimento deste recurso, com a reforma da decisão agravada,
devendo a condenação em honorário advocatício incidir sobre o valor do proveito econômico obtido
com a exceção de pré-executividade na razão de 10% de 2/3 sobre o valor atualizado do proveito
econômico que é de R$ 282.744,65 ou, alternativamente, incidir sobre os valores devidos pelo
Executado ao tempo do ajuizamento da execução;
Termos em que, cumpridas as necessárias formalidades legais, pede e espera deferimento como
medida de inteira JUSTIÇA.

Coxixola-PB, 17 de novembro de 2021.

FLAVIA DE PAIVA
ADVOGADA OAB-PB 10432

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