Você está na página 1de 17

Poder Judiciário

Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul


4ª Câmara Cível
Avenida Borges de Medeiros, 1565 – Porto Alegre/RS – CEP 90110-906

APELAÇÃO CÍVEL Nº 5001928-84.2018.8.21.0073/RS


TIPO DE AÇÃO: Teto Salarial
RELATOR: DESEMBARGADOR EDUARDO UHLEIN
APELANTE: VINICIUS DE LIMA SILVEIRA (AUTOR)
APELADO: MUNICÍPIO DE IMBÉ (RÉU)

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação interposto por VINICIUS DE LIMA


SILVEIRA em face da sentença de improcedência proferida em ação anulatória de
ato administrativo de demissão ajuizada contra o MUNICÍPIO DE IMBÉ.

Em apertada síntese, alega que  a portaria de abertura do processo


administrativo disciplinar não está assinada pelo Prefeito Municipal, razão pela qual
entende que a demissão realizada com base em tal documento é nula. Diz que a
Portaria nº 147/2018 foi o único documento que instruiu a abertura do processo
administrativo. Assevera  que a portaria inaugural não apresenta a qualificação
funcional dos integrantes da comissão processante. Diz que os advogados do
Município foram cadastrados eletronicamente no e-mail  setorial. Refere que o
cadastro dos procuradores do ente municipal foi realizado 40 dias antes do prazo
contestacional. Defende que cadastrou todos os procuradores no processo eletrônico.
Diz que não é o único responsável pelo recebimento das intimações. Refere, ainda, a
inversão dos atos processuais, pois  foi ouvido no PAD antes da oitiva das
testemunhas. Menciona que a prova oral foi colhida sem a sua participação, pois não
concedida a palavra na audiência administrativa. Noticia a discordância entre as
conclusões da comissão (pena de suspensão) e a punição aplicada (demissão) e a
ausência de identificação do dispositivo legal que justifique a demissão. Alega
desproporcionalidade da penalização. Diz que não houve contraditório em relação à
decisão final do Prefeito porque não oportunizado recurso. Sustenta que o indiciado
deve ser ouvido quando alterado o enquadramento legal do processo disciplinar.
Pede, enfim, o provimento do apelo.

Foram apresentadas contrarrazões pela parte contrária.

O autor apelante peticionou nos autos informando a sua absolvição na


seara criminal por insuficiência de provas.

O Ministério Público opina pelo provimento do apelo.

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível

VOTO

Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, a apelação merece ser


conhecida, pois presentes os requisitos recursais genéricos e específicos.

De plano, noticia-se que esta Câmara Cível apreciou o  recurso de


agravo de instrumento nº  70079398939@ interposto pelo ora apelante, ocasião em
que não encontrou "(...) a existência de elementos que evidenciem a probabilidade
do direito, a possibilitar a suspensão dos efeitos da Portaria nº 662/2018 que
culminou na aplicação da penalidade de demissão do servidor do cargo público
(...)", o que a partir daqui será objeto de cognição exauriente, dada a espécie recursal
manejada.

O presente processo administrativo disciplinar foi instaurado em


desfavor do autor apelante pela Portaria nº 147/2018 (Evento 3, PROCJUDIC2), nos
seguintes termos:

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível

Verifica-se que o servidor foi acusado de transgredir o art. 165, V, c/c o


art. 164, III, e art. 168, com pena prevista no art. 180, VIII, todos da Lei Municipal
nº 064/1990, a saber:

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
Art. 164 São deveres do Servidor, além dos que lhe cabem em virtude de seu cargo e
dos que decorrem, em geral, de sua condição de Servidor público:
(...)
III - Executar os serviços que lhe competirem e desempenhar, com zelo e presteza os
trabalhos de que for incumbido;

(...)

Art. 165 Ao Servidor é proibido:

(...)

V - Valer-se de sua qualidade de funcionário para obter proveito pessoal, para sí ou


para outros;

(...)

Art. 168. A responsabilidade penal será apurada nos termos da legislação federal
aplicável.

(...)

Art. 180 A pena de demissão será aplicada nos casos de:

(...)

VIII - Transgressão de qualquer das proibições contantes constantes dos itens V à


XIII da seção correspondente.

(...)

A imputação administrativa aponta que o servidor ocultou dos demais


assessores jurídicos da Procuradoria Municipal  a existência de ação judicial,
representada pelo  processo  nº 9002296-59.2017.8.21.0073, ajuizada  pelo próprio
servidor contra o Município de Imbé.

O relatório final do processo administrativo disciplinar (Evento 3,


PROCJUDIC5), oriundo da comissão processante e instaurado em face do servidor
apelante, apontou o cometimento de infração disciplinar prevista nos arts. 164, IV, e
165, V, da Lei nº 064/1990, sugerindo a pena de suspensão funcional por 15 dias, a
saber:

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível

Contudo, o Prefeito Municipal, através da Portaria nº 662/2018


(Evento 3, PROCJUDIC6), não acolheu a conclusão  do relatório da comissão
processante e decidiu, fundamentadamente, demitir o apelante do serviço público
5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
com base nos arts. 170, VI, 172, 180, VIII, e 183, §2º, I, todos da Lei Municipal nº
064/1990 , verbis:

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
Eis o que estabelecem os dispositivos legais mencionados na portaria
de demissão subscrita pelo Prefeito Municipal:

Art. 170 São penas disciplinares:

(...)

VI - Demissão;

(...)

Art. 172 As penas disciplinares terão somente os efeitos declarados em Lei.


I - A pena de multa, que corresponderá a dias de vencimento, implicará também na
perda desses dias, para efeito de antiguidade a concessão de avanço;
II - A pena de suspensão implica:
a) Na perda da possibilidade de obter licença para tratar de interesse;
b) Na perda do vencimento e da efetividade para todos os efeitos;
c) Na impossibilidade de promoção, no semestre em que ocorreu a suspensão.
III - A pena de demissão simples implica:
a) Na exclusão do funcionário do quadro de funcionários do Município;
b) Na impossibilidade de reingresso do demitido, antes de decorrido dois (02) anos
da aplicação da pena, salvo se por via de revisão na forma legal.
IV - A pena de destituição de função implica na impossibilidade de ser novamente
designado para para exercer função gratificada durante um (01)ano.
V - A pena de demissão qualificada com a nota "a bem do serviço público", implica:
a) Na expulsão do funcionário do serviço público do Município;
b) Na impossibilidade definitiva de reingresso do demitido, salvo se por via de
revisão legal.
VI - A cassação da aposentaria e da disponibilidade implica no desligamento do
funcionário, do serviço público, sem direito a provento ou a vencimento.

Art. 180 A pena de demissão será aplicada nos casos de:

(...)

VIII - Transgressão de qualquer das proibições contantes constantes dos itens V à


XIII da seção correspondente.

(...)

Art. 183  Para gradação das penas disciplinares serão consideradas as


circunstâncias em que a infração tiver sido cometido e as responsabilidades do
cargo ocupado pelo infrator.

(...)

§ 2º São circunstâncias agravantes, em especial;


I - A premeditação;

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
(...)

Insta ressaltar que ao Poder Judiciário não compete analisar a Justiça


da decisão administrativa, sob pena de atuação judicial expansiva e imprópria
inobservância do princípio da Separação de Poderes. Cumpre ao órgão jurisdicional
o exame da legalidade e da legitimidade do processo disciplinar, nele incluído o
respeito ao devido processo legal e à proporcionalidade da sanção, e da existência de
motivação da decisão administrativa.

Muito embora a Portaria nº 147/2018, que “determina a instauração


de processo administrativo disciplinar”, aparentemente não contenha a assinatura
do Prefeito Municipal, segundo consta do Relatório Final da Comissão Processante
(Evento 3, PROCJUDIC2), aquela Portaria inaugural foi alterada pela Portaria nº
151/2018, esta devidamente subscrita e referente ao mesmo objeto, o que tem o
condão de ratificar os termos da Portaria nº 147/2018, a saber:

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível

Além disso, na  cópia da  Portaria nº 147/2018  acostada  ao recurso de


agravo de instrumento nº  70079398939@  (fls. 171-173),  consta a assinatura do
Prefeito Pierre Emerin da Rosa, com a observação de dois servidores no sentido de
5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
que “Atestamos que o servidor foi devidamente comunicado, recebeu sua via,
entretanto, negou-se a se intimar/assinar. 21/02/2018”. Portanto, a questão da
alegada ausência de assinatura da autoridade competente na Portaria de instauração
do PAD não restou evidenciada. Ademais, do trâmite do processo administrativo não
se colhe qualquer prejuízo na apresentação da defesa, uma vez que os atos
administrativos posteriores à publicação da Portaria nº 147/2018 não destoaram da
imputação inicial formulada contra o servidor (citação do indiciado - fl. 89 - e
qualificação e interrogatório - fl. 90 - suspensão preventiva - fl. 392 -  Evento 3,
PROCJUDIC2 e Evento 3, PROCJUDIC8).

Quanto à alegada ausência de qualificação da comissão processante, o


apelante ficou apenas na retórica, pois não demonstrou sequer que os servidores
nomeados eram de nível  hierarquicamente  inferior. A jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça pacificou o entendimento no sentido de que para efeito da
composição da comissão de servidores  "(...) somente se exige que o Presidente
da  Comissão Processante  seja ocupante de  cargo  efetivo  superior  ou de mesmo
nível, ou ter nível de escolaridade  igual  ou  superior  ao do indiciado." (STJ, MS
21.120/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de
01/03/2018). Logo, diante da ausência de qualquer demonstação acerca da eventual
desqualificação funcional da comissão, a alegação decididamente não prospera.

Cumpre mencionar, ainda, que no processo administrativo a parte


apelante jamais alegou nulidade ou algum prejuízo por suposta falta de assinatura da
portaria instauradora e por ausência de qualificação da comissão processante, o que
confirma a ausência de motivo para reconhecimento de nulidade. 

A respeito do momento do ato processual de oitiva do indiciado, a Lei


1
Municipal nº 064/1990, nos  arts. 194 e 196 , estabelece que o processo
administrativo  inicia com a citação do indiciado e as suas declarações e posterior
indicação da prova testemunhal, exatamente como procedido pela comissão
processante, de modo que a oitiva das testemunhas antes do interrogatório do
indiciado, como defende o autor, não encontra previsão na lei local de regência do
PAD. Ademais, não se verificou prejuízo à defesa do servidor, uma vez que, antes do
parecer da comissão processante, apresentou defesa final, ocasião em que realizou
apanhado de todos os atos anteriores do PAD.

Concernente à alegada ausência de participação na  oitiva das


testemunhas, não prospera. Isso porque o indiciado foi comunicado por escrito para
comparecer  e  acompanhar o depoimento das testemunhas arroladas no processo
administrativo (fl. 146). Nos termos de oitiva das testemunhas consta a assinatura do
indiciado e do seu procurador constituído, a evidenciar que sempre esteve o servidor
representado nas audiências (fls, 146 e seguintes). Em algumas passagens dos
5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
depoimentos das testemunhas, inclusive, consta  resposta do depoente diretamente
para a defesa do indiciado, como se vê nas oitivas das fls. 148 e 157 (parte final). 
Aqui também não pode acolher qualquer alegação de prejuízo, quando nenhuma
impugnação ou protesto cuidou de fazer a defesa do servidor processado no próprio
ato de instrução, a revelar que não sofrera  qualquer restrição no exercício do
contraditório durante o desenrolar do PAD.

Quanto à alegação de divergência entre a comissão processante e a


autoridade competente, de fato, a primeira, conforme Relatório Final, concluiu pelo
cometimento de falta grave pelo servidor em razão de violação aos arts. 164, IV e
165, V, ambos da Lei Municipal nº 064/1990, sugerindo a aplicação da penalidade
de suspensão por 15 dias, nos termos do art. 178, I, da mesma norma.

Ocorre, no entanto, que o Prefeito Municipal acolheu parcialmente o


relatório final da Comissão Processante, “na parte da análise das provas,
divergindo apenas no dispositivo, para aplicar a penalidade de DEMISSÃO ao
servidor Vinicius de Lima Silveira, com fundamento no art. 170, VI, 172, 180, VIII,
da Lei Municipal 64/90, com agravante de PREMEDITAÇÃO, prevista no art. 183,
parágrafo 2º, inciso I, do mesmo diploma legal”.

Nisso não se entrevê razao para qualquer invalidade, mas o exercício


do poder disciplinar  pela autoridade competente, uma vez que a comissão
processante tem a função de reunir os fatos investigados e apresentar sugestão de
eventual punição, competindo ao Prefeito Municipal, no caso, a atribuição de
aplicação da sanção administrativa julgada cabível e proporcional.

Além disso, nota-se que a  Portaria de Instauração aponta


expressamente que as faltas funcionais atribuídas ao servidor (165, V, c/c Art. 164,
III, art. 168, da LM nº 064/1990), se confirmadas, dão  ensejo a penalidade de
demissão. Assim,  embora a comissão processante tenha concluído que o servidor
“cometeu a infração revestida de falta grave prevista em face de violação aos arts.
164, IV e 165, V, todos da Lei nº 64, de 1990”, acabou por sugerir  a aplicação de
penalidade de suspensão, aparentemente diversa daquela indicada na Portaria de
Instauração e prevista na legislação de regência (demissão).

Ademais, a decisão preferida pelo Prefeito do Município de Imbé bem


explicitou os motivos pelos quais divergiu da penalidade sugerida no Relatório Final
(suspensão x demissão), sem qualquer inovação em relação à capitulação ou aos
fatos atribuídos ao servidor, mas apenas a constatação de que a penalidade sugerida
pela comissão processante não corresponderia à penalidade prevista para o caso
concreto na Lei Municipal nº 064/1990. Confira-se trecho da decisão
administrativa: 

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
Ocorre que a penalidade prevista na legislação para infração cometida pelo
servidor Vinícius de Lima Silveira, está bem clara na correspondência com a
capitulação prevista no art. 180, inciso VIII, da Lei 64/90, que assim determina
para a proibição funcional do art. 165, V, da mesma legislação:

Art. 180 – A pena de demissão será aplicada nos casos de:

[...]

VIII – Transgressão de qualquer das proibições constantes dos itens V a XIII da


sessão correspondentes.

Como visto acima, a falha funcional está capitulada no inciso V e, assim provada,
como a Comissão de servidores concursados entendeu e decidiu, deveria culminar,
em seu dispositivo, com a sugestão da penalidade prevista em lei, ou seja, a
demissão, como está expresso no art. 180.

Portanto, a penalidade sugerida pela Comissão não encontra respaldo legal,


porque não se coaduna com o art. 180, para a infração que entendeu como
provada.

Nunca é demais lembrar que a Administração Pública está rigorosamente adstrita


ao Princípio da Legalidade, insculpido no art. 37, caput, da Constituição federal,
inexistindo sintonia e correspondência legal da infração com a pena.

[...]

As punições administrativas são da competência da autoridade


administrativa superior, na forma das leis e dos regulamentos. É dizer, à autoridade
administrativa cumpre decidir a respeito de transgressões disciplinares cometidas
pelo servidor, podendo, inclusive, como na hipótese dos autos, aplicar-lhe a mais
grave, quando prevista em abstrato para os fatos enquadrados na apuração
administrativo-disciplinar.

Nesta linha, no que diz com a  alegação de  afronta ao princípio da


proporcionalidade, impõe-se mencionar decisão do Supremo Tribunal Federal, da
lavra da Ministra Cármen Lúcia (Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº
32.495/DF, 2ª Turma, julgado em 10/06/2014), em que assentado que “os princípios
da proporcionalidade e da razoabilidade são impassíveis de invocação para
banalizar a substituição de pena disciplinar prevista legalmente na norma de
regência dos servidores por outra menos grave” (Recurso Ordinário em Mandado
de Segurança n. 30.455/DF, Relator o Ministro Luiz Fux, 1ª Turma, DJe
25.6.2012), sendo certo que, “[u]ma vez presente, a equação ‘tipo administrativo e
pena aplicada’ exclui a tese da ausência de proporcionalidade” (Recurso
Ordinário em Mandado de Segurança n. 24.956, Relator o Ministro Marco Aurélio,
1ª Turma, DJ 18.11.2005)”. (grifei)
5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
Aliás, quanto à questão da proporcionalidade no âmbito do processo
administrativo disciplinar, o colendo Superior Tribunal de Justiça, na Edição nº 141
do Informativo Jurisprudência em Teses, publicado em 07/02/2020, reafirmou
compreensão no sentido de que:

A Administração Pública, quando se depara com situação em que a conduta do


investigado se amolda às hipóteses de demissão ou de cassação de aposentadoria,
não dispõe de discricionariedade para aplicar pena menos gravosa por se tratar
de ato vinculado. 

Julgados: 

MS 21937/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão


Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/2019,
DJe 23/10/2019; MS 24031/DF, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/2019, DJe 16/10/2019; MS 19517/DF, Rel.
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro HERMAN
BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/04/2019, DJe 16/10/2019; AgInt
no REsp 1517516/PR, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 17/06/2019, DJe 25/06/2019; AgInt no RMS 54617/SP, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/03/2018, DJe 12/03/2018; MS 20428/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 09/08/2017, DJe 24/08/2017. (Vide Informativo de Jurisprudência N.
526)”

No tocante à alegação de ausência de contraditório em relação à


decisão do Prefeito Municipal, não vinga, haja vista que a autoridade competente
não alterou a imputação realizada pela Portaria instauradora do PAD, apenas
classificou o fato como grave e passível de demissão.

Quanto ao recurso administrativo, a Lei Municipal nº 064/1990, art.


205, preceitua que "Da decisão final, são admitidos os recursos previstos nesta
Lei". Contudo, no caso do Município de Imbé, e em razão do cargo então ocupado
pelo  servidor (Procurador Municipal),  a decisão final foi proferida pela autoridade
hierárquica máxima  - o Prefeito Municipal. A  decisão da autoridade
máxima  competente, pela dicção da normatividade local, ostenta-se como
"definitiva", na medida em que a espécie "recurso" exige  ascendência hierárquica
sobre o servidor e o pronunciamento de autoridade diversa com poder de  reexame
da decisão anterior, com o objetivo de reformá-la ou invalidá-la, o que inexiste no
âmbito municipal.

Não obstante a natureza de definitividade da decisão da autoridade


máxima local, competia ao sindicado a apresentação de pedido de reconsideração ou
a interposição de recurso administrativo, o que não providenciou a parte interessada,

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
mesmo notificada da decisão final administrativa. Observa-se que os arts. 123 e
2
seguintes  e o art. 205, todos da Lei Municipal nº 064/1990, preveem o oferecimento
de inconformidade pelo servidor, porém, no caso, nada apresentou o recorrente.

O fato da portaria de demissão ter sido publicada  um dia depois


da  decisão do Prefeito  não impede o oferecimento de pedido de reconsideração e
apresentação de recurso administrativo. Aliás, a Lei Municipal nº 064/1990, em seu
art. 124, §1º, prevê taxativamente que "Somente caberá recurso quando houver
pedido de reconsideração desatendido." (grifei). Todavia, a parte recorrente não
apresentou qualquer inconformidade contra a decisão da autoridade máxima local,
conformando-se com o veredito final, não obstante dele notificada.

Ademais, competia ao servidor, a qualquer tempo e após a aplicação da


pena de demissão, manejar pedido de revisão da decisão definitiva  administrativa,
conforme dispõem  o  art. 207 ("A decisão definitiva proferida em processo
administrativo só poderá ser alterada, por via de processo de revisão.") e o art. 209
("A qualquer tempo, poderá ser requerida pelo Servidor punido, a revisão do
processo administrativo, do qual lhe tenha resultado pena disciplinar, desde que
aduzidos fatos ou circunstâncias suscetíveis de demonstrar a sua inocência."),
ambos da Lei nº 064/1990. O recorrente não se utilizou dessa prerrogativa na via
administrativa, preferindo, inclusive, apresentar "fato novo" aqui nesta
instância, ignorando de modo per saltum a esfera administrativa, a qual, agora,
pretende reativar alegando violação ao direito de defesa.

Aliás, nesse sentido já decidiu esta Câmara Cível caso similar:

APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. MANDADO DE SEGURANÇA.


MUNICÍPIO DE VICTOR GRAEFF.
PROCESSO  ADMINISTRATIVO  DISCIPLINAR. PENA DE DEMISSÃO.
AUSÊNCIA DA DEMONSTRAÇÃO DE ILEGALIDADE NO
PROCESSO  ADMINISTRATIVO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO NÃO
EVIDENCIADO. 1. OPTANDO A IMPETRANTE PELA ESTREITA VIA DO
MANDADO DE SEGURANÇA, DEVERÁ ESTAR CIENTE DA NECESSIDADE DE
DEMONSTRAR A EXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO E A SUA
AMEAÇA, A TEOR DO ART. 1º DA LEI Nº 12.016/09. 2. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE VIOLAÇÃO LEGAL NO PROCESSAMENTO DO
EXPEDIENTE  ADMINISTRATIVO  QUE CULMINOU COM A APLICAÇÃO DA
PENALIDADE DE DEMISSÃO DA RECORRENTE. 3. PRESUNÇÃO DE
LEGITIMIDADE DOS ATOS DA ADMINISTRAÇÃO. 4. VIOLAÇÃO AO
PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA NÃO DEMONSTRADA. EMBORA A
AUSÊNCIA DE REGRA QUE REGULAMENTE
O  RECURSO  ADMINISTRATIVO  NA LEI MUNICIPAL Nº 1.359/2011, O
PEDIDO DE REVISÃO DO PROCESSO, CONSTANTE NOS ARTIGOS 51 E
SEGUINTES DA MENCIONADA LEI, TEM O CONDÃO DE REVISÃO DA
PENALIDADE IMPOSTA. 5. QUANTO À ALEGAÇÃO DE

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
DESPROPORCIONALIDADE, TEM-SE QUE SOMENTE EM SITUAÇÕES
EXCEPCIONAIS É POSSÍVEL AO PODER JUDICIÁRIO AVALIAR SE A SANÇÃO
ADMINISTRATIVA CONDIZ COM O FATO, EM ATENÇÃO ÀS LIMITAÇÕES
IMPOSTAS PELO ART. 2º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, MESMO ASSIM
ADSTRITO À OBSERVAÇÃO DA LEGALIDADE DO ATO. 6. SENTENÇA DE
DENEGAÇÃO DA ORDEM NA ORIGEM. APELAÇÃO DESPROVIDA.(Apelação
Cível, Nº 50000036220208210112, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Antônio Vinícius Amaro da Silveira, Julgado em: 05-08-2021)

Pelo mesmo motivo acima explicitado, o fato da portaria de demissão


ter sido expedida um dia depois da  decisão definitiva  não impede o manejo da
revisão administrativa, exatamente porque a aplicação da sanção funcional pela
autoridade competente, na forma dos acima citados arts. 207 e 209 da  Lei nº
064/1990, pressupõe a prévia cominação de pena disciplinar.

A respeito da petição apresentada pelo apelante após a interposição do


recurso de apelação (Evento 3, PROCJUDIC18), informando, sob a alegação de
"fato novo", a sua absolvição na seara criminal, não obstante preclusa a
manifestação, nota-se que a improcedência da ação criminal ocorreu por "não
constituir o fato infração penal - art. 386, III, do CPP", o que não vincula a
instância administrativa, como reiteradamente já decidiu esta Corte de Justiça, a
saber:

APELAÇÃO CÍVEL. REMESSA NECESSÁRIA. SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO


ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. INOCORRÊNCIA DE NULIDADE.
SEPARAÇÃO DOS PODERES. MÉRITO ADMINISTRATIVO. 1. Ao Poder
Judiciário cabe examinar a legalidade formal do Processo Administrativo
Disciplinar (PAD) que culminou em pena de demissão a bem do serviço público,
não havendo possibilidade de ingressar no exame do mérito do ato administrativo,
sob pena de violação da separação dos poderes. 2. Ausência de violação do direito
ao Juiz Natural em razão da substituição da autoridade processante, considerando
que a decisão é de competência do Governador do Estado. Precedentes do STJ e
desta Corte. 3. Inocorrentes ilegalidades no curso do Processo Administrativo
Disciplinar que culminou na aplicação da pena de demissão, não há que se falar na
sua nulidade. 4. Somente absolvição criminal fundada na inexistência material do
fato ou na negativa de autoria vincula a pretensão disciplinar, em razão
da  independência  das esferas, o que não ocorre pelo arquivamento de inquérito
policial. Precedentes. APELAÇÃO PROVIDA. REMESSA NECESSÁRIA
PREJUDICADA.(Apelação / Remessa Necessária, Nº 70081340820, Quarta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Francesco Conti, Julgado em:
28-08-2019)

APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. MUNICÍPIO DE CANELA.


PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PENA DE DEMISSÃO. ALEGADA
NULIDADE DA DECISÃO QUE DESACOLHEU PEDIDO DE REVISÃO
ADMINISTRATIVA. IMPROCEDÊNCIA. 1. A revisão do processo administrativo
disciplinar está prevista em três hipóteses na dicção da Lei Complementar nº

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
25/2012, que revogou posteriormente a Lei Municipal nº 1.645/99, e o autor a
requereu com base nos incisos II e III, do art. 232, o primeiro em relação à decisão
de PAD fundada em depoimentos falsos, e o segundo diante de novas provas, cujo
argumento de maior relevo é a  absolvição  na esfera penal. Ante
a  independência  entre as instâncias civil, criminal e administrativa, haveria
relevância ao caso do autor somente se sentença penal absolutória houvesse
reconhecido a inexistência do fato ou a negativa de autoria, não sendo esta a
hipótese dos autos. 2. Sentença de improcedência na origem. APELAÇÃO
DESPROVIDA.(Apelação Cível, Nº 70073078636, Quarta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Eduardo Uhlein, Julgado em: 25-10-2017)

MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. MINISTÉRIO


PÚBLICO.  PAD. PENA DE SUSPENSÃO POR 15 DIAS CONVERTIDA EM
MULTA. ALEGAÇÃO DE NULIDADES. AUSENTE COMPROVAÇÃO DE
DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. Optando o impetrante pela estreita via do
mandado de segurança, deverá estar ciente da necessidade de demonstrar a
existência de direito líquido e certo e a sua ameaça, a teor do art. 1º da Lei nº
12.016/09. 2. A instauração do  PAD  a partir da ciência de fatos que também
foram alvo de procedimento investigatório  criminal  não o torna ilegal, não
obstante o trancamento do procedimento  criminal  por decisão proferida em
Habeas Corpus, ante a conhecida  independência  entre as instâncias
civil,  criminal  e administrativa, onde somente haveria relevância se houvesse
sentença penal absolutória em que reconhecido a inexistência do fato ou a
negativa de autoria, não sendo esta, no entanto, a hipótese dos autos. 3. Não
identificadas nenhuma das hipóteses do art.221 da LCE nº 10.098/94, que
caracterizariam nulidade no PAD em comento, e ausente a demonstração de vícios
de ilegalidade ou de inobservância dos princípios constitucionais de que se
revestem os atos administrativos, permanece hígida a presunção de legitimidade
dos atos da Administração, na medida em que os fundamentos articulados
reclamam exame do próprio mérito administrativo e exauriente de provas, agir não
possibilitado na via estreita do mandado de segurança. 4. Alegações de nulidade
consubstanciadas na irresignação do Impetrante com a própria legislação de
regência, o que fica nítido ao afirmar que “A forma como o processo administrativo
disciplinar está regulado pela Lei Complementar Estadual nº 10.098/94 caminha na
contramão da legislação pátria e da Constituição Federal.” SEGURANÇA
DENEGADA.(Mandado de Segurança, Nº 70075863076, Quarta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Vinícius Amaro da Silveira, Julgado
em: 28-03-2018)

Competindo ao Poder Judiciário a apreciação de vícios de ilegalidade e


irregularidade na motivação do ato administrativo, ao apelante incumbia a prova de
que a decisão administrativa desbordou da Lei ou da Constituição. Observa-se, em
suma, que se restringiu o apelante, quanto ao mérito do ato administrativo que
aplicou a punição disciplinar de demissão, em lançar alegações e reproduzir, nestes
autos, o expediente que tramitou na instância administrativa, e ali exaustivamente
apreciado em todas as suas instâncias próprias, pretendendo, à evidência, a revisão e
a revaloração da análise técnica de função precípua atrelada à atuação institucional.

5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88


Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
4ª Câmara Cível
Constatada a legalidade do procedimento administrativo disciplinar
que, assegurado o contraditório e a ampla defesa, inclusive mediante a assistência de
defesa técnica, concluiu pela demissão do servidor com base em motivação que
encontra apoio em evidências coletadas pela Administração e ensejando penalidade
que se mostra cabível, prevista em lei e, principalmente, proporcional aos fatos
imputados formalmente, não há cogitar-se de possibilidade de sua revisão pelo
Poder Judiciário, como na hipótese vertente.

Tratou-se ademais de fato  grave, em que na condição de  Procurador


do ente público agiu de forma evidentemente desleal para com a
Administração  cujos interesses e patrimônio jurídico deveria velar, recebendo em
seu nome citação em processo por ele mesmo ajuizado e, pasmem, ainda
pretendendo, no processo judicial, alcançar o deferimento de liminar (para perceber
diferenças remuneratórias em processo individual de seu exclusivo interesse)
argumentando com o fato da revelia do Município, situação processual para a qual
ele próprio acabou por decisivamente contribuir.

Isto posto, voto por negar provimento ao recurso de apelação, nos


termos da fundamentação supra, com majoração da verba honorária para o
equivalente a R$ 2.500,00, forte no art. 85, §11, do CPC, observada a justiça gratuita
concedida.

Documento assinado eletronicamente por EDUARDO UHLEIN, Desembargador, em 24/10/2022, às


17:45:48, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do documento pode ser conferida no
site https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php?acao=consulta_autenticidade_documentos,
informando o código verificador 20002475982v88 e o código CRC fc0329dd.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): EDUARDO UHLEIN
Data e Hora: 24/10/2022, às 17:45:48

1. Art. 194.O processo administrativo será iniciado pela citação do indiciado, tomando-se suas declarações e
oferecendo-lhe oportunidade para acompanhar todas as fases do processo.(...)Art. 196. Tonadas as declarações
do indiciado, a ele será dado o prazo de cinco dias, com vista do processo na repartição, para oferecer defesa
prévia, requerer provas e arrolar testemunhas até o máximo de cinco.
2. Art. 123 É assegurado ao Servidor o direito de requerer ou representar.Art. 124 Toda solicitação, qualquer
seja a sua natureza, deverá:I - Ser encaminhada a autoridade competente;II - Ser encaminhada por intermédio
da autoridade imediatamente superior ao peticionário;§ 1º Somente caberá recurso quando houver pedido de
reconsideração desatendido.§ 2º Nenhum recurso poderá ser renovado.
5001928-84.2018.8.21.0073 20002475982 .V88

Você também pode gostar