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Gabinete do Desembargador Itamar de Lima

APELAÇÃO CÍVEL Nº 5473287-31.2018.8.09.0051

Comarca de GOIÂNIA

3ª CÂMARA CÍVEL

1º APELANTE (S): Município De Goiânia

2º APELANTE (S): Agência da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia

APELADO (S): Olavo Ribeiro Filho

RELATOR: Desembargador ITAMAR DE LIMA

EMENTA: DUPLA APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA.


SERVIDOR PÚBLICO DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA.
LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA E DA AGÊNCIA
DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA DE GOIÂNIA. PLANO DE
CARREIRA E VENCIMENTO. LEI MUNICIPAL Nº 9.354/2013. GARANTIA
REMUNERATÓRIA. ATRASO NO ENQUADRAMENTO. DIFERENÇAS
VENCIMENTAIS DEVIDAS. CORREÇÃO MONETÁRIA (TEMA 810 DO
STF). JUROS DE MORA (REsp 1495146/MG). VALOR DOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SENTENÇA ILÍQUIDA. PARTE
VENCIDA: FAZENDA PÚBLICA. FIXAÇÃO NA FORMA DO ARTIGO 85,
§4º, INCISO II, CPC.

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1- O fato de a Agência da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia ser uma
autarquia municipal, e, portanto, dotada de personalidade jurídica de direito
público interno, com autonomia administrativa, financeira e patrimonial, não
implica em dizer que o Município de Goiânia é parte ilegítima, pois este é
responsável subsidiário, quanto ao adimplemento das verbas vencimentais
pleiteadas pelo servidor.

2- Tendo em vista o artigo 25 da Lei nº 9.354/13, que dispõe sobre o “Plano


de Carreira e Vencimentos da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia”, ter
determinado que o enquadramento do servidor fosse feito em 1º/04/2014,
havendo atraso na implementação no novo “nível”, é devido o pagamento
das diferenças vencimentais, com os reflexos àquelas inerentes, tanto no
que pertine aos quinquênios e ao adicional de incentivo à profissionalização
quanto no que tante aos valores da verba denominada Regime Especial de
Trabalho Policial – RETP.

3- Uma garantia remuneratória estabelecida por Lei não pode ser suprimida
através de uma medida administrativa hierarquicamente inferior, no caso,
um Decreto Municipal, o que, a princípio, viria a configurar usurpação
legislativa e transgressão à separação dos poderes.

4- O índice da correção monetária não deve ser reformado, vez que já foi
aplicado o IPCA-E, sendo os juros moratórios devidos a partir da citação, no
percentual de 0,5% ao mês até junho de 2009 e, a partir de então, com base
no índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança. (TEMA
810 DO STF e REsp 1495146/MG)

5- Tratando-se de sentença ilíquida, onde os valores a serem pagos pela


parte vencida, que é a Fazenda Pública, ainda serão apurados em fase
posterior, deve o arbitramento dos honorários advocatícios sucumbenciais
ocorrer quando da liquidação do julgado, conforme disposto no inciso II do
§4º do artigo 85 do CPC.

RECURSOS CONHECIDOS. 1º APELO PARCIALMENTE PROVIDO. 2º


APELO DESPROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os integrantes da 4ª Turma


Julgadora em sessão da 3ª Câmara Cível, à unanimidade, em conhecer das apelações,
provendo parcialmente a primeira e desprovendo a segunda, nos termos do voto do relator.
Sentença parcialmente reformada.

Votaram com o relator, os desembargadores Anderson Máximo de Holanda e Gilberto


Marques Filho e o Dr. Sebastião Luiz Fleury - Juiz respondente.

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Presidiu a sessão, desembargador Itamar de Lima.

Presente a Procuradora de Justiça Dra. Orlandina Brito Pereira.

Goiânia, 08 de março de 2.021.

Desembargador ITAMAR DE LIMA

Relator

VOTO DO RELATOR

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço de ambos os apelos.

Conforme relatado, cuida-se de Apelação Cível interposta por MUNICÍPIO DE


GOIÂNIA (mov. 82) e AGÊNCIA DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA DE GOIÂNIA (mov. 83)
em face da sentença (mov. 74) proferida pelo Juiz de Direito, José Proto de Oliveira, nos autos
de Ação de Cobrança ajuizada por OLAVO RIBEIRO FILHO.

Sentença (mov. 74):

“Isto posto, pelas razões acima expendidas, julgo procedente o pedido e


condeno os Réus no pagamento, ao Autor, das diferenças salariais, alusivas à não
implementação da progressão vertical, para o Nível III, referente ao período de 15/08/2016 a
30/11/2016, com reflexos nas verbas salariais pertinentes.

Saliento que os valores acima deverão ser corrigidos monetariamente pelo IPCA-
E, aplicando-se lhes juros de mora equivalentes à remuneração da caderneta de poupança, a
partir da citação.

Corolário da presente decisão, condeno o Réu no ressarcimento das custas


processuais adiantadas pelo Autor e no pagamento de honorários advocatícios, que fixo em
15% sob o valor da causa..”

AÇÃO DE COBRANÇA. SERVIDOR PÚBLICO DA GUARDA CIVIL


METROPOLITANA. LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA E DA AGÊNCIA

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DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA DE GOIÂNIA.

De plano, sem razão os apelantes quanto a alegação de sua ilegitimidade para


responder a presente ação.

Isto porque o fato da Agência da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia ser uma
Autarquia Municipal, portanto, dotada de personalidade jurídica de direito público interno, com
autonomia administrativa, financeira e patrimonial, não retira do MUNICÍPIO DE GOIÂNIA a
legitimidade para estar em juízo na polaridade passiva da demanda, porquanto, responsável
subsidiário quanto ao inadimplemento das verbas remuneratórias pleiteadas, ainda mais quando
considerado ser do Chefe do Executivo autorizar os estudos, propor e sancionar leis relativas à
gestão de pessoal.

O artigo 34, da Lei no 9.354/2013, que dispõe sobre o Plano de Carreira e Vencimentos
da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia, estabelece que “As despesas decorrentes da aplicação
desta Lei, serão custeadas à conta do Orçamento Geral do Município, ficando o Chefe do Poder
Executivo autorizado a abrir os créditos adicionais necessários ao seu cumprimento”.

Na mesma senda, determina o artigo 18, Lei Complementar no 180/08, que cria a
Agência da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia, que “As despesas decorrentes desta Lei,
correrão à conta das dotações próprias do Orçamento Geral do Município, ficando o Chefe do
Poder Executivo autorizado a remanejar os recursos orçamentários, de forma a atender as
disposições desta Lei”.

Sobre o tema, eis os julgados desta Corte de Justiça:

“REEXAME NECESSÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO RECLAMATÓRIA TRABALHISTA.


PRELIMINARES. (...) III - LEGITIMIDADE PASSIVA DA AGÊNCIA DA GUARDA
MUNICIPAL DE GOIÂNIA E DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA. RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA DO ENTE MUNICIPAL. RECONHECIMENTO DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE.
Sendo a preliminar de ilegitimidade passiva conhecível de ofício, por se tratar de umas das
condições da ação, e ainda, ser a matéria devolvida a este Tribunal em razão da remessa
obrigatória, analiso-a, para reconhecer a legitimidade passiva do Município de Goiânia, por
ser o responsável subsidiário do adimplemento das verbas pleiteadas (Precedentes TJGO).
(...)” (TJGO, Apelação / Reexame Necessário 5215495-74.2016.8.09.0051, Rel. ROBERTO
HORÁCIO DE REZENDE, 6ª Câmara Cível, julgado em 09/08/2019, DJe de 09/08/2019)

“ TRIPLA APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO COMINATÓRIA DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C COBRANÇA DE DIFERENÇAS SALARIAIS. SERVIDOR
PÚBLICO MUNICIPAL. PLANO DE CARREIRA DOS AGENTES DA GUARDA CIVIL

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METROPOLITANA DE GOIÂNIA. LEI MUNICIPAL Nº 9.354, DE 08 DE NOVEMBRO DE
2013. ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADA. (...) 1. A despeito de a Agência da Guarda
Civil Metropolitana de Goiânia ser uma autarquia municipal, portanto, dotada de personalidade
jurídica de direito público interno, com autonomias administrativa, financeira e patrimonial, não
retira do Município a legitimidade para estar em juízo na polaridade passiva da demanda,
porquanto, subsome responsável subsidiário quanto a inadimplemento das verbas
remuneratórias pleiteadas, ainda mais quando considerado, ser competência do Chefe do
Executivo, autorizar os estudos, propor e sancionar leis inerentes à gestão de pessoal.
Portanto, ambas, autarquia e Município, são legitimados a figurarem na polaridade passiva da
demanda. (...)” (TJGO, Apelação / Reexame Necessário 5454223-69.2017.8.09.0051, Rel.
ELIZABETH MARIA DA SILVA, 4ª Câmara Cível, julgado em 25/07/2019, DJe de
25/07/2019)

Logo, considerando ser o orçamento do Município de Goiânia o provedor da Agência da


Guarda Civil Metropolitana, urge reconhecer sua responsabilidade subsidiária pelo eventual
pagamento das verbas pleiteadas pelo autor da demanda.

AGÊNCIA DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA DE GOIÂNIA. PLANO DE


CARREIRA E VENCIMENTO DOS SERVIDORES. LEI MUNICIPAL Nº 9.354/2013. GARANTIA
REMUNERATÓRIA. ATRASO NO ENQUADRAMENTO. DIFERENÇAS VENCIMENTAIS
DEVIDAS.

O cerne da controvérsia debatida cinge-se sobre o acerto ou não da sentença proferida


em primeiro grau, que julgou parcialmente procedente o pedido inicial, e condenou o Município de
Goiânia a proceder o reajuste dos vencimentos conforme a Lei Municipal nº 9.354/2013, e
pagamento de diferenças salariais decorrentes de reenquadramento funcional do autor, que é
servidor público municipal, lotado na Guarda Civil Metropolitana de Goiânia.

Pois bem.

Importa ressaltar que a matéria é regulada pela Lei nº 9.354/2013, do Município de


Goiânia, que dispõe sobre o Plano de Carreira e Vencimentos da Guarda Civil Metropolitana de
Goiânia, e dá outras providências. Vejamos alguns dispositivos legais aplicáveis ao presente
caso:

Art. 24. O enquadramento do ocupante do cargo atual de Guarda Municipal na carreira


instituída por esta Lei dar-se-á na Referência em que se encontrar posicionado, observada a
seguinte correlação Nível/Grau, em 01 de abril de 2014:

I - Nível I - Grau 5;

II - Nível II - Grau 6;

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III - Nível III - Grau 7.

Parágrafo único. Fica assegurada ao servidor que tenha protocolado, pedido de Progressão
Vertical nos moldes da Lei nº 8.623/2008 e que fizer jus antes da vigência desta Lei, a revisão
do seu enquadramento em até 60 (sessenta) dias após a data do enquadramento.

Art. 25. O enquadramento nos Níveis da carreira instituída por esta Lei deverá ocorrer por ato
do Chefe do Poder Executivo em 1º de abril de 2014.

Parágrafo único. Ao GCM é assegurado o direito de peticionar a revisão de seu


enquadramento ao Titular da Secretaria Municipal de Gestão de Pessoas, até o prazo de 60
(sessenta) dias após a publicação do ato de enquadramento.

Art. 31. Os servidores enquadrados neste Plano farão jus, de forma escalonada, aos valores
dos vencimentos da Tabela constante do Anexo II, desta Lei, nos seguintes percentuais e nas
respectivas datas:

I - 90% (noventa por cento) do vencimento, a partir de 01/04/2014;

II -100% (cem por cento) do vencimento, a partir de 01/08/2014.

Parágrafo único. Nenhuma redução de vencimento, provento ou pensão poderá resultar da


aplicação desta Lei.

Como visto, o MUNICÍPIO DE GOIÂNIA deveria arcar com 90% do vencimento previsto
na tabela constante no anexo II da Lei Municipal nº 9354/2013 a partir de 1º/04/2014 e com 100%
do vencimento previsto na referida tabela a partir de 1º/08/2014.

De outro tanto, quanto à época do enquadramento de servidores nos “níveis de


carreira” alterados, tem-se que o enquadramento feito em atraso gera o direito às diferenças
remuneratórias relativas à retroação dos efeitos das promoções ocorridas a destempo.

É o caso dos autos, pois de acordo com os contracheques do autor, quanto ao


pagamento da progressão vertical retroativa, observo ter a própria Municipalidade, reconhecido o
direito do autor de ascender ao Nível III, de sua carreira, a partir de 15/08/2016, conforme dispõe
expressamente o Anexo Único, do Decreto Municipal nº 2.983/2016.

Não obstante, conforme demonstram os contracheques acostados na inicial, a


progressão mencionada somente veio a ser implementada e paga em dezembro/2016. Assim, a
Administração Municipal deixou de pagar, ao autor, o correspondente aumento salarial referente à
progressão para o Nível III, desde 15/08/2016.

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Sobre os reflexos das diferenças salariais, entendo que razão assiste ao autor, eis que,
tanto o PETP, quanto o Adicional de Incentivo Funcional e o Quinquênio, tratam-se de
gratificações que utilizam o vencimento do servidor como sua base de cálculo, de modo que,
qualquer modificação dos vencimentos, produz reflexos diretos nas mesmas, razão de incidirem
sobre os pagamentos retroativos, ora discutidos.

É cediço que a fixação de novos valores vencimentais pela Lei 9354/2013 acabou por
refletir nos valores da verba denominada Regime Especial de Trabalho Policial - RETP
ensejando, por derradeiro, diferenças salariais a serem recebidas também sob essa rubrica. Isso,
porque a Lei 8.926/2010 vincula o valor do RETP ao padrão de vencimento do servidor, vejamos:

Art. 9º. O servidor em Regime Especial de Trabalho Policial - RETP perceberá Adicional na
proporção de 100% (cem por cento) sobre o seu Padrão de Vencimento, desde que cumprida
a jornada de trabalho de 180 (cento e oitenta) horas mensais prevista para o cargo, conforme
Anexo I, da Lei nº 8.623/2008.

Adequando-se os vencimentos do cargo à dicção da Lei 9354/2013, a correção do valor


do adicional de RETP é consectário lógico e intransponível, impondo-se o pagamento das
diferenças apuradas no mesmo período.

Importa ressaltar, ainda, que as diretrizes assentadas na presente decisão não


afrontam o comando ínsito na Súmula Vinculante nº 37, porquanto não se está "aumentando
vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia", mas sim, garantindo a
aplicação de lei editada pela própria Administração Municipal, através da qual ela se obrigou ao
reajuste remuneratório da carreira na qual se enquadra o requerente.

Ademais, tem-se que o ato de implementação dos vencimentos, da forma e no tempo


estabelecido em lei, não constitui mera liberalidade ou discricionariedade administrativa e,
tampouco, está sujeito a critérios de conveniência e oportunidade, tratando-se de ato vinculado
que impõe ao ente municipal o dever de fazê-lo e, ao Poder Judiciário, o poder de apreciar o seu
cumprimento.

Daí decorre que os Decretos nº 1.248/2014, 2718/2014, 3164/2015 e nº 128/17 não


podem alicerçar a omissão da Administração Pública em adequar o pagamento de seus
servidores ao comando vertido na lei de regência, sob pena de se chancelar indiscutível
ilegalidade e desrespeito aos padrões hierárquico-normativos.

Até porque não me parece possível que uma garantia remuneratória estabelecida por
Lei possa ser suprimida através de uma medida administrativa hierarquicamente inferior, in casu,
um Decreto Municipal, o que, a princípio, viria a configurar usurpação legislativa e transgressão à

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separação dos poderes.

Com efeito, as leis emanadas do Poder Legislativo gozam de presunção de legitimidade


e constitucionalidade, devendo prevalecer enquanto não houver pronunciamento do Poder
Judiciário em sentido contrário ou sua revogação pelo Poder Legislativo respectivo.

Nesse sentido, eis os julgados desta Corte de Justiça:

“ TRIPLA APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO COMINATÓRIA DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C COBRANÇA DE DIFERENÇAS SALARIAIS. SERVIDOR
PÚBLICO MUNICIPAL. PLANO DE CARREIRA DOS AGENTES DA GUARDA CIVIL
METROPOLITANA DE GOIÂNIA. LEI MUNICIPAL Nº 9.354, DE 08 DE NOVEMBRO DE
2013. (...) DIFERENÇAS SALARIAIS DEVIDAS. (...) 2. Havendo referência na Lei municipal
nº 9.354, de 08 de novembro de 2013, que institui o Plano de Carreira e Vencimentos da
Guarda Civil Metropolitana de Goiânia, quanto à época do enquadramento de servidores nos
Níveis de carreira por ela alterados, a saber, em 1º de abril de 2014, conforme prescreve o
artigo 25 da lei de regência, o enquadramento feito em atraso gera o direito às diferenças
remuneratórias relativas à retroação dos efeitos das promoções ocorridas a destempo. (...)”
(TJGO, Apelação / Reexame Necessário 5454223-69.2017.8.09.0051, Rel. ELIZABETH
MARIA DA SILVA, 4ª Câmara Cível, julgado em 25/07/2019, DJe de 25/07/2019)

“DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


FAZER C/C COBRANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. ILEGITIMIDADES PASSIVAS
AFASTADAS. VERBAS SALARIAIS. INCIDÊNCIA. REFLEXOS DEVIDOS. (...) 2. É devido o
pagamento de diferenças vencimentais aos guardas-civis metropolitanos, com os respectivos
reflexos sobre os adicionais por regime especial de trabalho policial (RETP) e de incentivo a
profissionalização, assim como sobre os quinquênios, em razão do descumprimento do plano
de carreiras e vencimentos, atentando-se para a gradação estabelecida no artigo 31, da Lei nº
9.354/2013. 3. O ato de implementação dos vencimentos, na forma e no tempo estabelecido
em lei, não constitui mera liberalidade ou discricionariedade administrativa como alegam os
requeridos, não estando sujeito a critérios de conveniência e oportunidade, sendo ato
vinculado que impõe à municipalidade o dever de fazê-lo, assim, não há falar em ofensa ao
Princípio da Separação dos Poderes a apreciação de seu cumprimento. Além disso, é dever
do Chefe do Poder Executivo o prévio estudo das possibilidades orçamentárias do município
antes de propor e sancionar leis conferindo direito ao qual não poderá, de fato, conferir.
Descabido, dessa forma, após a aprovação e plena vigência da norma, o ente público alegar
escassez ou ausência da reserva do erário para esquivar-se do cumprimento da lei municipal.
(...)” (TJGO, Apelação / Reexame Necessário 5432554-57.2017.8.09.0051, Rel. MARIA
DAS GRAÇAS CARNEIRO REQUI, 1ª Câmara Cível, julgado em 10/07/2019, DJe de
10/07/2019)

“ APELAÇÕES CÍVEIS. OBRIGAÇÃO DE FAZER. DIFERENÇA SALARIAL E DE


GRATIFICAÇÕES DE SERVIDOR PÚBLICO DA GUARDA CIVIL METROPOLITANA DE
GOIÂNIA. (...) ENQUADRAMENTO FUNCIONAL DESIGNADO PELA LEI DE PLANO DE

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CARREIRA E VENCIMENTO. CUMPRIMENTO TARDIO. DIREITO AO RETROATIVO.
RETP. (...) III- Na data de vigência da Lei de plano de carreira, Lei nº 9.354/13, o apelado
encontrava-se no cargo de Grau A06, referência "B", o que corresponderia, nos termos da
nova lei, ao Nível II, todavia, o servidor continuava a perceber o mesmo vencimento do nível
inferior, como se denota nos contracheques colacionados aos autos, razão porque merece o
recebimento da diferença salarial e de benefícios segundo o nível salarial apontado na lei em
voga. IV- Comprovado pelos contracheques presentes nos autos que o apelado recebia o
RETP (Regime Especial de Trabalho Policial), na data de vigência da Lei de Plano de Carreira
e Vencimento da Guarda Civil Metropolitana, isto é, 1º de abril de 2014, o direito à diferença
salarial sobre este benefício, assim como sobre o adicional de incentivo profissionalizante e o
quinquênio, há de ser reconhecido. V- Merecem ser afastadas as argumentações sobre
decretos posteriores à Lei de Planos de Cargos e Vencimentos a fim de tentar a suspensão
ou prorrogação dos efeitos desta, sob fundamento de falta de orçamento público ou crise
econômica, eis que ao promulgar a nova lei o ente público municipal realizou estudo de
impacto orçamentário, não se justificando, após a concessão do direito, a protelação de sua
aplicabilidade. SEGUNDO APELO CONHECIDO, PORÉM DESPROVIDO. PRIMEIRO APELO
PREJUDICADO POR DESISTÊNCIA.” (TJGO, Apelação (CPC) 5459131-72.2017.8.09.0051,
Rel. AMARAL WILSON DE OLIVEIRA, 2ª Câmara Cível, julgado em 13/06/2019, DJe de
13/06/2019)

CORREÇÃO MONETÁRIA (TEMA 810 DO STF). JUROS DE MORA (REsp


1495146/MG).

Sobre as condenações relacionadas com verbas devidas a servidores públicos, o


Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Tema 810 (RE 870947), firmou tese no sentido da
inconstitucionalidade da utilização dos critérios de remuneração oficial das cadernetas de
poupança (variação da TR) para fins de atualização monetária das condenações impostas à
Fazenda Pública, conforme previsto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei
nº 11.960/09. A tese firmada foi assim redigida:

“1) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que
disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional
ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados
os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em
respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às
condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros moratórios
segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo
hígido, nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei
nº 11.960/09; e 2) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09,
na parte em que disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda
Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se inconstitucional
ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez
que não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da economia,
sendo inidônea a promover os fins a que se destina.” (DJ de 20/11/2017) (sublinhei)

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Assim, reconhecida a inconstitucionalidade do emprego da TR, foi determinado, então,
que a correção monetária dos débitos judiciais da Fazenda Pública, no período em que seria
aplicável a Lei 11.960/2009, seja efetuada pela aplicação da variação do IPCA-E; e que os juros
moratórios são os mesmos juros aplicados às cadernetas de poupança.

De outro tanto, o Superior Tribunal de Justiça, adequando o seu entendimento ao


Pretório Excelso (RE 870.947/SE - julgado em sede de Repercussão Geral), deliberou em recurso
afetado à sistemática dos recursos repetitivos (REsp 1495146/MG) que:

As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos,


sujeitam-se aos seguintes encargos:

a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples); correção


monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a
incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001;

b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês; correção monetária:


IPCA-E;

c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da caderneta de


poupança; correção monetária: IPCA-E.

(STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 22/02/2018)

Portanto, até junho de 2009, a correção monetária, incidente a partir da data em que
cada verba deveria ter sido paga, deve ser calculada segundo o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo Especial (IPCA-E) e os juros moratórios, apurados a partir da citação, serão de 0,5% ao
mês.

Importante ressaltar que em função do julgamento do Tema 810 (RE 870947) pelo
Supremo Tribunal Federal, por decisão da Vice-Presidência do Superior Tribunal de Justiça,
publicada no DJe de 8/10/2018, se encontra sobrestado o julgamento do Tema 905 (REsp
1495144/RS e REsp 1492221/PR), onde a questão submetida a julgamento é a “aplicabilidade do
art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei 11.960/2009, em relação às condenações
impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza, para fins de atualização
monetária, remuneração do capital e compensação da mora”.

Em face dessas circunstâncias, na espécie, tenho que o índice da correção monetária


não deve ser reformado, vez que já foi aplicado o IPCA-E, sendo os juros moratórios devidos a
partir da citação, no percentual de 0,5% ao mês até junho de 2009 e, a partir de então, com base
no índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança.

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


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VALOR DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SENTENÇA ILÍQUIDA. PARTE
VENCIDA: FAZENDA PÚBLICA. FIXAÇÃO NA FORMA DO ARTIGO 85, §4º, INCISO II, CPC.
SENTENÇA REFORMADA.

Enfim, verifico equívoco na forma como o Juiz singular fixou os honorários advocatícios,
pois trata-se de sentença ilíquida, onde os valores a serem pagos pela parte vencida ainda
serão apurados em fase posterior, devendo o arbitramento dos honorários sucumbenciais
respeitar o previsto no inciso II do §4º do artigo 85 do CPC, veja:

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

(….)

§3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os
critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais: (…)

§4o Em qualquer das hipóteses do § 3o:

I - os percentuais previstos nos incisos I a V devem ser aplicados desde logo, quando for
líquida a sentença;

II - não sendo líquida a sentença, a definição do percentual, nos termos previstos nos incisos I
a V, somente ocorrerá quando liquidado o julgado; (…). (GRIFEI)

Desse modo, sendo uma das partes litigantes a Fazenda Pública, acertada é a fixação
da verba honorária sob a observação da regra gizada pelo inciso II do §4º do artigo 85 do CPC,
sujeitando-se o valor sucumbencial a liquidação do julgado.

Por outro lado, afasto o pedido de reconhecimento da sucumbência recíproca, eis que o
autor decaiu de parte mínima do seu pedido.

ANTE O EXPOSTO, CONHEÇO DOS APELOS, PROVENDO PARCIALMENTE O


PRIMEIRO E DESPROVENDO O SEGUNDO, apenas para determinar que se faça o
arbitramento dos honorários advocatícios sucumbenciais quando ocorrer a liquidação do julgado,
conforme disposto no inciso II do §4º do artigo 85 do CPC.

É o voto.

Goiânia, 08 de março de 2.021.

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


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Desembargador ITAMAR DE LIMA

Relator

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