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Comarca de GOIÂNIA
3ª CÂMARA CÍVEL
3- Uma garantia remuneratória estabelecida por Lei não pode ser suprimida
através de uma medida administrativa hierarquicamente inferior, no caso,
um Decreto Municipal, o que, a princípio, viria a configurar usurpação
legislativa e transgressão à separação dos poderes.
4- O índice da correção monetária não deve ser reformado, vez que já foi
aplicado o IPCA-E, sendo os juros moratórios devidos a partir da citação, no
percentual de 0,5% ao mês até junho de 2009 e, a partir de então, com base
no índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança. (TEMA
810 DO STF e REsp 1495146/MG)
ACÓRDÃO
Relator
VOTO DO RELATOR
Saliento que os valores acima deverão ser corrigidos monetariamente pelo IPCA-
E, aplicando-se lhes juros de mora equivalentes à remuneração da caderneta de poupança, a
partir da citação.
Isto porque o fato da Agência da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia ser uma
Autarquia Municipal, portanto, dotada de personalidade jurídica de direito público interno, com
autonomia administrativa, financeira e patrimonial, não retira do MUNICÍPIO DE GOIÂNIA a
legitimidade para estar em juízo na polaridade passiva da demanda, porquanto, responsável
subsidiário quanto ao inadimplemento das verbas remuneratórias pleiteadas, ainda mais quando
considerado ser do Chefe do Executivo autorizar os estudos, propor e sancionar leis relativas à
gestão de pessoal.
O artigo 34, da Lei no 9.354/2013, que dispõe sobre o Plano de Carreira e Vencimentos
da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia, estabelece que “As despesas decorrentes da aplicação
desta Lei, serão custeadas à conta do Orçamento Geral do Município, ficando o Chefe do Poder
Executivo autorizado a abrir os créditos adicionais necessários ao seu cumprimento”.
Na mesma senda, determina o artigo 18, Lei Complementar no 180/08, que cria a
Agência da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia, que “As despesas decorrentes desta Lei,
correrão à conta das dotações próprias do Orçamento Geral do Município, ficando o Chefe do
Poder Executivo autorizado a remanejar os recursos orçamentários, de forma a atender as
disposições desta Lei”.
Pois bem.
I - Nível I - Grau 5;
II - Nível II - Grau 6;
Parágrafo único. Fica assegurada ao servidor que tenha protocolado, pedido de Progressão
Vertical nos moldes da Lei nº 8.623/2008 e que fizer jus antes da vigência desta Lei, a revisão
do seu enquadramento em até 60 (sessenta) dias após a data do enquadramento.
Art. 25. O enquadramento nos Níveis da carreira instituída por esta Lei deverá ocorrer por ato
do Chefe do Poder Executivo em 1º de abril de 2014.
Art. 31. Os servidores enquadrados neste Plano farão jus, de forma escalonada, aos valores
dos vencimentos da Tabela constante do Anexo II, desta Lei, nos seguintes percentuais e nas
respectivas datas:
Como visto, o MUNICÍPIO DE GOIÂNIA deveria arcar com 90% do vencimento previsto
na tabela constante no anexo II da Lei Municipal nº 9354/2013 a partir de 1º/04/2014 e com 100%
do vencimento previsto na referida tabela a partir de 1º/08/2014.
É cediço que a fixação de novos valores vencimentais pela Lei 9354/2013 acabou por
refletir nos valores da verba denominada Regime Especial de Trabalho Policial - RETP
ensejando, por derradeiro, diferenças salariais a serem recebidas também sob essa rubrica. Isso,
porque a Lei 8.926/2010 vincula o valor do RETP ao padrão de vencimento do servidor, vejamos:
Art. 9º. O servidor em Regime Especial de Trabalho Policial - RETP perceberá Adicional na
proporção de 100% (cem por cento) sobre o seu Padrão de Vencimento, desde que cumprida
a jornada de trabalho de 180 (cento e oitenta) horas mensais prevista para o cargo, conforme
Anexo I, da Lei nº 8.623/2008.
Até porque não me parece possível que uma garantia remuneratória estabelecida por
Lei possa ser suprimida através de uma medida administrativa hierarquicamente inferior, in casu,
um Decreto Municipal, o que, a princípio, viria a configurar usurpação legislativa e transgressão à
“1) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que
disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional
ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados
os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em
respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às
condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros moratórios
segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo
hígido, nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei
nº 11.960/09; e 2) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09,
na parte em que disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda
Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se inconstitucional
ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez
que não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da economia,
sendo inidônea a promover os fins a que se destina.” (DJ de 20/11/2017) (sublinhei)
(STJ. 1ª Seção. REsp 1.495.146-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 22/02/2018)
Portanto, até junho de 2009, a correção monetária, incidente a partir da data em que
cada verba deveria ter sido paga, deve ser calculada segundo o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo Especial (IPCA-E) e os juros moratórios, apurados a partir da citação, serão de 0,5% ao
mês.
Importante ressaltar que em função do julgamento do Tema 810 (RE 870947) pelo
Supremo Tribunal Federal, por decisão da Vice-Presidência do Superior Tribunal de Justiça,
publicada no DJe de 8/10/2018, se encontra sobrestado o julgamento do Tema 905 (REsp
1495144/RS e REsp 1492221/PR), onde a questão submetida a julgamento é a “aplicabilidade do
art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei 11.960/2009, em relação às condenações
impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza, para fins de atualização
monetária, remuneração do capital e compensação da mora”.
Enfim, verifico equívoco na forma como o Juiz singular fixou os honorários advocatícios,
pois trata-se de sentença ilíquida, onde os valores a serem pagos pela parte vencida ainda
serão apurados em fase posterior, devendo o arbitramento dos honorários sucumbenciais
respeitar o previsto no inciso II do §4º do artigo 85 do CPC, veja:
(….)
§3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os
critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais: (…)
I - os percentuais previstos nos incisos I a V devem ser aplicados desde logo, quando for
líquida a sentença;
II - não sendo líquida a sentença, a definição do percentual, nos termos previstos nos incisos I
a V, somente ocorrerá quando liquidado o julgado; (…). (GRIFEI)
Desse modo, sendo uma das partes litigantes a Fazenda Pública, acertada é a fixação
da verba honorária sob a observação da regra gizada pelo inciso II do §4º do artigo 85 do CPC,
sujeitando-se o valor sucumbencial a liquidação do julgado.
Por outro lado, afasto o pedido de reconhecimento da sucumbência recíproca, eis que o
autor decaiu de parte mínima do seu pedido.
É o voto.
Relator