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RELATÓRIO
É o relatório.
VOTO
De proêmio, urge observar o preenchimento dos requisitos de admissibilidade
recursal, em sua modalidade intrínseca e extrínseca, sob pena de inadmissão do recurso
por não conhecimento.
Todavia, uma vez que a parte demandante não respeitou o prazo quinquenal,
apresentando sua ação em 01/11/2021, eventual direito ao ressarcimento de valores terá
como limite os 05 (cinco) anos que antecederam a propositura da demanda, in casu,
retroagirá apenas às quantias cobradas a partir de 01/11/2016.
Como dito anteriormente, a relação que envolve as partes diz respeito à relação
de consumo e isso implica dizer que a responsabilidade civil a ser aplicada ao caso em
testilha é a objetiva, por ser a regra estabelecida pelo art. 14 da Lei n.º 8.078/1990, que,
como visto, é a norma de regência a ser aplicada no presente feito, in verbis: "O
fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos".
In casu, a parte autora aderiu a uma espécie contratual que vem sendo objeto
de diversas demandas junto ao Judiciário, em decorrência da qual a instituição bancária
fornece um cartão de crédito, cujos valores são, apenas em parte, adimplidos mediante
consignação em folha de pagamento.
moratórios, prolongando-se ao longo dos anos, vez que a avença não tem termo certo de
duração.
A par disso, não resta dúvida de que essa espécie contratual revela uma
modalidade costumeiramente denominada "venda casada", prática reprimida pelo art.
39, inciso I do Código de Defesa do Consumidor, de acordo com o qual "É vedado ao
fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: I - condicionar o
fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço,
bem como, sem justa causa, a limites quantitativos".
Além disso, as diversas demandas que vêm sendo ajuizadas com base nessa
espécie de "contrato de cartão de crédito consignado" evidenciam um fato comum que
não pode ser ignorado, qual seja, o de que, muitas vezes, são firmados por pessoas
idosas, o que significa dizer que as avenças vêm atingindo grupo social hiper-
vulnerável, cuja vulnerabilidade se apresenta em dois aspectos principais: "a) a
diminuição ou perda de determinadas aptidões físicas ou intelectuais que o torna ainda
mais suscetível e débil em relação à atuação negocial dos fornecedores; b) a necessidade
e catividade em relação a determinados produtos ou serviços no mercado de consumo,
que o coloca em situação de dependência em relação aos seus fornecedores".1
1
MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor 5ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.
128.
Dessa forma, fica clara a violação, por parte do Banco BMG S/A, da boa-fé
objetiva que deve pautar as relações consumeristas. Nesse sentido, é o escólio de Bruno
Miragem, quando assevera que "o princípio da boa-fé objetiva implica a exigência nas
relações jurídicas do respeito e da lealdade com o outro sujeito da relação, impondo um
dever de correção e fidelidade, assim como o respeito às expectativas legítimas geradas
no outro". 2
135.
Entendo que este julgamento não é extra petita/ultra petita por ter convertido
o contrato em empréstimo consignado comum. Ora, se a sentença considera ilegal a
contratação como feita pela instituição financeira, não haveria como julgar
improcedente a demanda e deixar o quanto pactuado. De outra parte, não haveria como
declarar a inexistência da dívida e determinar a devolução de valores porque há prova
da utilização do cartão para saques e compras e ainda alegação de que a parte autora
pretendia obter empréstimo consignado comum, de modo que acolher o pedido de
inexistência de toda a dívida implicaria em enriquecimento sem causa.
Assim, comprovado que houve conduta ilícita perpetrada pelo réu, em virtude
da imposição à parte autora de uma forma de cobrança evidentemente abusiva e em
descompasso com o CDC, porque presentes todos os requisitos do dever de indenizar,
entendo que a indenização por dano moral é devida.
Além disso, sobre o valor que será ressarcido à parte autora (dano moral)
deverá incidir juros de mora à taxa de 1% a.m. (um por cento ao mês), a contar da data
de vencimento da fatura mais antiga não atingida pela prescrição (art. 397 do Código
Civil c/c art. 161, §1º do CTN), até a data em que passa a incidir a correção monetária, a
partir do arbitramento da indenização pela sentença, consoante disposto pela súmula
362 do STJ, passando a ser aplicado unicamente o índice Selic, que compreende tanto
os juros quanto a correção monetária, até o efetivo pagamento.
prescrita a pretensão autoral, de sorte que o réu deve promover a repetição, em dobro,
da quantia indevidamente retirada da remuneração da parte autora, todavia, apenas a
contar de 01/11/20216, ante a incidência da prescrição no contrato sob exame. Além
disso: (i) declarar a inexistência parcial da dívida, determinando, assim, que o réu
proceda com a revisão do saldo devedor do cartão de crédito, implementando o
recálculo desta verba conforme contrato padrão de crédito pessoal consignado da
instituição financeira, devendo este utilizar a taxa de juros mais vantajosa ao
consumidor dentre as disponíveis aos clientes para o produto, e respeitar a margem
consignável da parte autora, permitindo-se a compensação dos valores disponibilizados
pelos saques, devidamente atualizados, valor do dano material; (ii) condenar a
instituição financeira a reparar os danos materiais, cujo montante aferido será aplicada a
dobra pela repetição do indébito mais os juros de mora, à taxa de 1% a.m. (um por cento
ao mês), a contar da data de vencimento das faturas (art. 397 do Código Civil), e a
correção monetária, com base no INPC/IBGE, desde a data de cada desconto indevido
(efetivo prejuízo, súmula 43 do STJ), ambos até o dia da citação, momento a partir do
qual deverá incidir unicamente a taxa Selic e, (iii) condenar a instituição bancária na
obrigação de pagar danos morais no importe de R$2.000,00 (dois mil reais), acrescidos
dos juros de mora fixados à taxa de 1% a.m. (um por cento ao mês), a contar da data de
vencimento da fatura mais antiga não atingida pela prescrição (art. 397 do Código Civil
c/c art. 161, §1º do CTN), até a data em que passa a incidir a correção monetária, a
partir do arbitramento da indenização pela sentença, consoante disposto pela súmula
362 do STJ, passando a ser aplicado unicamente o índice Selic, que compreende tanto
os juros quanto a correção monetária, até o efetivo pagamento; (iv) inverter o ônus
sucumbencial, determinando que o Banco réu arque com as custas processuais e
honorários advocatícios, estes arbitrados em 10% (dez) por cento sobre o valor da
condenação.
É como voto.