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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2021.0000660396

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1020530-04.2020.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante GEORGE DE
SOUZA SANTOS, são apelados ELCIO ABDALLA e FILIPE BATONI ABDALLA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 28ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Não conheceram do
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores CESAR LACERDA


(Presidente) E CELSO PIMENTEL.

São Paulo, 16 de agosto de 2021.

SERGIO ALFIERI
Relator
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

APELAÇÃO CÍVEL nº 1020530-04.2020.8.26.0100

APELANTE: GEORGE DE SOUZA SANTOS


APELADOS: ELCIO ABDALLA E FILIPE BATONI ABDALLA

COMARCA: SÃO PAULO

JUIZ DE 1º GRAU: RAQUEL MACHADO CARLEIAL DE ANDRADE


VOTO Nº 8640

APELAÇÃO CÍVEL. Prestação de serviços de


engenharia. Ação de rescisão contratual cumulada
com restituição de quantias pagas e indenização por
danos morais. Sentença de procedência.
Inconformismo do réu. Não conhecimento. Apelante
que não comprovou o recolhimento do preparo.
Determinação para o recolhimento em dobro, sob
pena de deserção (artigo 1.007, § 4º, do CPC).
Recolhimento em valor insuficiente. Vedada a
complementação nos termos do artigo 1.007, § 5º,
do CPC. Deserção caracterizada. RECURSO NÃO
CONHECIDO.

Trata-se de recurso de apelação interposto pelo réu


George de Souza Santos contra a r. sentença de fls. 99/100, cujo relatório
adoto, que nos autos da ação de rescisão contratual cumulada com restituição
de quantias pagas e indenização por danos morais ajuizada por Elcio Abdalla
e Filipe Batoni Abdalla, julgou procedentes os pedidos iniciais para declarar a
rescisão do contrato de prestação de serviços de engenharia firmado entre as
partes, bem como para condenar o réu na devolução dos valores pagos, no
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montante de R$ 35.000,00, corrigidos monetariamente desde os respectivos


desembolsos e com juros de mora de 1% ao mês desde a citação, além do
pagamento de multa no importe de R$ 3.000,00, com correção monetária
desde o ajuizamento e juros de mora contados da citação. Em razão da
sucumbência, condenou o réu ao pagamento das custas, despesas processuais
e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação.
Inconformado, apela o réu (fls. 102/115), alegando,
em síntese, que os pagamentos não foram realizados nas datas acordadas
pelos apelados. Sustenta que houve atraso no pagamento, mas sem incidência
dos juros de mora previstos em contrato. Aduz que os apelados exigiram que
os recibos fossem emitidos em nome de uma empresa estrangeira denominada
“FBABDALLA LIMITED”. Declara que a falta de acesso aos imóveis
impossibilitou o bom andamento do projeto, mas ainda assim foi possível a
produção do levantamento planialtimétrico. Sustenta que houve boa-fé de
sua parte em realizar os serviços, mas ficou impossibilitado por situações que
não eram de seu controle, mas de responsabilidade do apelado. Discorre sobre
a prestação dos serviços técnicos e de engenharia civil. Alega que não foi
disponibilizado o devido acesso aos imóveis para realizar o serviço para o
qual foi contratado, além de ter suportado custos desnecessários para
execução dos serviços. Pugna pelo provimento do recurso e reforma da r.
sentença.
Recurso tempestivo, sem o recolhimento do preparo.
Contrarrazões foram apresentadas (fls. 183/207),
alegando, preliminarmente, que o recurso deve ser considerado deserto, ante a
ausência de recolhimento do preparo.
O presente recurso foi distribuído a esta 28ª Câmara
de Direito Privado, a cargo do Desembargador Celso Pimentel, em
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13/10/2020 (fls. 213) e posteriormente redistribuído a este Relator, por força


da Portaria de Designação nº 08/2021 da E. Presidência da Seção de Direito
Privado (fls. 214).
Em fase de juízo de admissibilidade recursal, o
apelante foi intimado para comprovar o recolhimento em dobro do preparo,
sob pena de deserção (fls. 215), sobrevindo manifestação do apelante (fls.
218/220).
É o relatório.
A irresignação recursal não comporta conhecimento.
Em fase de juízo de admissibilidade (art. 1.010, § 3º,
CPC), verificou-se que o apelante deixou de preparar o recurso que interpôs.
O art. 1.007 do CPC dispõe que “no ato da
interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela
legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de
retorno, sob pena de deserção”.
O § 4º do citado artigo dispõe que “O recorrente
que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do
preparo, inclusive porte de remessa e retorno, será intimado, na pessoa de
seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de
deserção.”
Dessa forma, o apelante foi intimado para realizar o
recolhimento em dobro do preparo, sob pena de deserção (fls. 215).
Contudo, o apelante comprovou o recolhimento em
valor insuficiente (fls. 219/220).
A Lei nº 15.855/2015, que deu nova redação ao
inciso II, do artigo 4º, da Lei nº 11.608/2003, estabeleceu que o valor do
preparo deve corresponder a 4% sobre o valor da causa, sendo que nas
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hipóteses de pedido condenatório, o valor do preparo será calculado sobre o


valor fixado na sentença se for líquido, ou, se ilíquido, sobre o valor fixado
pelo d. juízo para esse fim (§ 2º, do artigo 4º, da Lei nº 11.608/2003).
No caso, o réu foi condenado na devolução do valor
pago pelos autores, no montante de R$ 35.000,00, com correção monetária
desde os respectivos desembolsos e juros de mora de 1% ao mês a partir da
citação, bem como ao pagamento da multa contratual no valor de R$
3.000,00, com correção monetária desde o ajuizamento e juros de mora desde
a citação (fls. 99/100).
Portanto, o valor do preparo deve ter como base de
cálculo o valor total e atualizado da condenação.
Dessa forma, verifica-se que o valor recolhido pelo
apelante se mostra insuficiente (fls. 219/220), pois não corresponde ao dobro
de 4% do valor atualizado da condenação.
Importante ressaltar que vedada a complementação
no caso de insuficiência parcial do preparo, conforme § 5º, do art. 1.007, do
CPC, que assim dispõe: “É vedada a complementação se houver
insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, no
recolhimento realizado na forma do § 4º.”
Com efeito, o preparo do recurso constitui requisito
extrínseco de admissibilidade da apelação, ao lado da tempestividade e da
regularidade formal do ato de interposição. A irregularidade, no caso,
ocasiona o fenômeno da preclusão, com a aplicação da pena de deserção ao
apelante, o que enseja o não conhecimento do recurso.
Segundo as lições de Nelson Nery Júnior e Rosa
Maria de Andrade Nery, o preparo "é um dos requisitos extrínsecos de
admissibilidade dos recursos e consiste no pagamento prévio das custas
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relativas ao processamento do recurso, incluídas as despesas de porte com a


remessa e o retorno dos autos. A ausência ou irregularidade no preparo
ocasiona o fenômeno da preclusão, fazendo com que deva ser aplicada ao
recorrente a pena de deserção, que impede o conhecimento do recurso" (in
Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, RT, 7ª ed.,
2003, p. 876).
Nesse sentido o entendimento deste E. Tribunal de
Justiça:
“APELAÇÃO. RAZÕES RECURSAIS
DESACOMPANHADAS DE PREPARO.
DETERMINAÇÃO PARA RECOLHIMENTO.
INSUFICIÊNCIA PARCIAL DO PREPARO.
COMPLEMENTAÇÃO VEDADA PELO ART.
1007, § 5º, DO CPC. DESERÇÃO. RECURSO
NÃO CONHECIDO.”
(TJSP; Apelação Cível 1000737-60.2018.8.26.0032;
Relator (a): Gilberto Leme; Órgão Julgador: 35ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Araçatuba - 5ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 09/05/2019; Data
de Registro: 09/05/2019).

“Ação de cobrança. Apelação interposta sem o


necessário preparo. Preliminar levantada na resposta
dos apelados. Recorrentes que efetuam
posteriormente o recolhimento singelo, com
violação ao disposto no artigo 1007, § 4º do CPC.
Impossibilidade de complementação (§ 5º do artigo
1007 do CPC). Deserção reconhecida. Apelo não
conhecido.”
(TJSP; Apelação Cível 1004776-22.2019.8.26.0564;
Relator (a): Ruy Coppola; Órgão Julgador: 32ª
Câmara de Direito Privado; Foro de São Bernardo
do Campo - 9ª Vara Cível; Data do Julgamento:
13/11/2019; Data de Registro: 13/11/2019).

Logo, não se cuida de negativa de acesso à justiça,


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mas de cumprimento de norma impositiva, analisando-se os fatos e as


circunstâncias do caso concreto.
Destarte, ausente um dos pressupostos objetivos de
admissibilidade do recurso, decreta-se a deserção do recurso de apelação e
dele não se conhece.
Por fim, considerando o disposto no artigo 85, § 11,
do CPC, os honorários advocatícios ficam majorados de 10% para 12% sobre
o valor da condenação.
Ante o exposto, pelo meu voto, NÃO CONHEÇO
DO RECURSO.

SERGIO ALFIERI
Relator

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