Você está na página 1de 5

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

3ª Câmara de Direito Privado

Registro: 2019.0000000855

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


1000479-20.2016.8.26.0097, da Comarca de Buritama, em que é apelante VALDEIR
CARDOSO, é apelado TIAGO SAMPAIO STELLA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 3ª Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores DONEGÁ MORANDINI


(Presidente sem voto), VIVIANI NICOLAU E NILTON SANTOS OLIVEIRA.

São Paulo, 7 de janeiro de 2019.

Beretta da Silveira
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

3ª Câmara de Direito Privado

VOTO Nº: 42.838


Apelação Nº 1000479-20.2016.8.26.0097
COMARCA: Buritama
Apelante: Valdeir Cardoso
Apelado: Tiago Sampaio Stella

INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS. Rescisão judicial do


contrato de compra e venda celebrado entre as partes. Laudo
técnico que indicou o valor de R$294.100,00 desembolsado a
título de benfeitorias. Revelia caracterizada. Presunção de
veracidade dos fundamentos fáticos expostos na inicial (art. 344,
CPC). Prova pericial que corroborou a valorização do imóvel
durante o período em que o apelante permaneceu na posse do
bem, não contradizendo as alegações originais. Devolução do
importe total indicado, com incidência de correção monetária a
partir de 10.11.2015 e de juros de mora – de 1% ao mês –
contados da citação. Sentença reformada. Inversão da
responsabilidade pelos ônus sucumbenciais, com honorários
advocatícios fixados em 10% do valor da condenação.
RECURSO PROVIDO.

Trata-se de apelação interposta contra r. sentença de fls.


169/173, da lavra da i. magistrada Silvia Camila Calil Mendonça, de relatório
adotado, que julgou IMPROCEDENTE a ação indenizatória ajuizada por VALDIR
CARDOSO em face de TIAGO SAMPAIO STELLA.

Alega o apelante que a revelia impõe a presunção de


veracidade dos fatos alegados na inicial, motivo pelo qual os fundamentos iniciais e
os documentos acostados aos autos são suficientes para a procedência do pedido
indenizatório. Afirma que a prova pericial apenas corroborou suas afirmações,
contestando o valor fixado a título de honorários advocatícios sucumbenciais.

Foram apresentadas contrarrazões às fls. 194/201.


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

3ª Câmara de Direito Privado

Ao julgamento virtual não se fez oposição.

É o RELATÓRIO.

O apelante adquiriu do apelado imóvel comercial e


respectivo terreno pelo valor de R$150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), em
contrato celebrado em 2007 (fls. 14/16).

Como o negócio foi rescindido judicialmente, o


comprador ajuizou a presente ação para reaver a quantia supostamente
desembolsada para a construção de benfeitorias durante o período em que
permaneceu na posse do imóvel, correspondente a R$294.100,00 (duzentos e
noventa e quatro mil e cem reais).

O feito foi julgado improcedente nos seguintes termos:

“Ocorre que o requerente deixou de apresentar


documentos que comprovassem os gastos despendidos na realização das referidas
benfeitorias. Não foram juntados aos autos notas fiscais, recibos, demonstrativos de
compra de materiais de construção. Tal ônus lhe competia, conforme prevê o art.
373, I, do CPC.

Como se sabe, é necessário a apresentação de um


mínimo de prova a fundamentar o pedido condenatório. A simples alegação, ainda
que em caso de revelia, não é suficiente à procedência do pedido inicial” (fl. 171).

O recurso deve prosperar.


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

3ª Câmara de Direito Privado

Nos termos do artigo 344 do Código de Processo Civil,


“Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão
verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor”.

O autor alegou que construiu benfeitorias que


valorizaram o imóvel negociado entre partes, pedindo a devolução dos valores para
coibir o enriquecimento sem causa do vendedor após a dissolução do vínculo
contratual.

Não havendo pluralidade de réus, direitos indisponíveis,


necessidade de instrumento que a lei considera indispensável à prova do ato ou
alegações inverossímeis ou contraditórias (art. 345, CPC), presumem-se verdadeiros
os fundamentos fáticos contidos na inicial.

Embora não haja notas fiscais, recibos ou demonstrativos


de compras de materiais de construção, o laudo técnico acostado às fls. 45/47 indica
um valor total de R$294.100,00 (duzentos e noventa e quatro mil e cem reais)
despendido com a reforma do imóvel.

Além disso, a prova pericial concluiu que o


empreendimento está atualmente avaliado em R$580.214,84 (quinhentos e oitenta
mil, duzentos e catorze reais e oitenta e quatro centavos). O importe estimado é
compatível com as alegações iniciais, já que o bem foi adquirido por R$150.000,00
(cento e cinquenta mil reais) em 2007 e valorizou aproximadamente R$430.000,00
(quatrocentos e trinta mil reais) em 11 (onze) anos, muito provavelmente em virtude
das benfeitorias construídas pelo apelante.

Diante disso, seja pela incidência plena dos efeitos da


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

3ª Câmara de Direito Privado

revelia, seja pela análise das provas documentais e periciais, a procedência da


demanda é medida que se impõe.

O apelado deverá indenizar o apelante pela quantia


desembolsada, com correção monetária a partir da data do laudo técnico acostado
aos autos (10.11.2015) e juros de mora - de 1% ao mês - contados da citação.

Inverte-se a responsabilidade pelos ônus sucumbenciais,


com honorários advocatícios sucumbenciais fixados em 10% (dez por cento) do
valor da condenação.

Ante o exposto, DÁ-SE PROVIMENTO ao recurso,


nos termos constantes do acórdão.

BERETTA DA SILVEIRA
Relator

Você também pode gostar