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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000964600

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1012280-64.2021.8.26.0320, da Comarca de Limeira, em que é apelante ELEKTRO
REDES S/A, é apelada CLEONILDA VIEIRA DE ALMEIDA (ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 32ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso, com observação. V.U., de conformidade com o voto do
relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIS FERNANDO


NISHI (Presidente) E MARY GRÜN.

São Paulo, 24 de novembro de 2022.

KIOITSI CHICUTA
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA: Limeira – 2ª Vara Cível – Juiz Edson José de Araújo Junior


APTE. : Elektro Redes S.A.
APDA. : Cleonilda Vieira de Almeida

VOTO Nº 50.052

EMENTA: Prestação de serviços. Obrigação de fazer.


Sentença de procedência. Pleitos de transferência de
titularidade, inscrição de unidade com tarifa social e
restabelecimento do serviço. Liminar concedida.
Serviço de natureza essencial. Óbito do usuário.
Alteração de titularidade que não pode ser negada por
débito em nome de outro usuário. Art. 128 da
Resolução 414/2010. Corte e recusa injusta na
aplicação da tarifa social. Lei 12.212/2010. Renda
familiar aferida. Observação unicamente sobre a
impossibilidade de impor ordem de parcelamento.
Recurso não provido, com observação.
Houve corte e negativa de transferência da titularidade da
unidade em razão do óbito do anterior usuário, quando é vedada
condicioná-la à quitação de débito anterior, nos termos do art.
128 da Resolução 414/2010 da ANEEL, restando ainda
demonstrado o enquadramento da autora para a categoria de
tarifa social (Lei 12.212/2010), sem elementos contrários ao que
restou decidido. Assim, em homenagem aos princípios
constitucionais da dignidade humana, não havia sentido em
recusar o pedido e potencialmente privar a autora do serviço
essencial, nos termos do art. 22 do Código de Defesa do
Consumidor que assegura o fornecimento de serviços públicos
essenciais.

Trata-se de recurso interposto em face da r. sentença de fls.


101/105 que julgou procedente a ação de obrigação de fazer, com sucumbência
direcionada à ré.

A ré alega que não houve ato ilícito no corte, diante do


inadimplemento das contas de energia, consignando a Resolução 414/2010 da
ANEEL, art. 140, § 3º, II, referindo a notificação de aviso. Insiste na inexistência de

Apelação Cível nº 1012280-64.2021.8.26.0320 -Voto nº 50052 2


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ato ilícito e regularidade do procedimento, apontando as exigências para troca de


titularidade. Discorre sobre o benefício da tarifa social, consignando a Lei
12.212/2010 e o art. 8º da Resolução citada, não comprovado ser a autora
beneficiária da tarifa social, restando desobrigada a concessionária de realizar
parcelamentos. Cita julgados. Pretende aplicação de penalidade por litigância de má-
fé. Prequestiona sobre o tema.

Processado o recurso sem preparo e com contrarrazões.

É o resumo do essencial

No caso, na sentença de procedência consignou-se que a


relação é de consumo, com destaque à vulnerabilidade da consumidora e carência de
recursos, assistida pela Defensoria Pública. Fundamentou-se: “nos termos da lei
12.212/2010, artigo 2º, são requisitos para a concessão da tarifa social de energia
elétrica o cadastro da família no CadÚnico e renda mensal per capita menor ou igual
a meio salário-mínimo. No presente caso, a família da autora está cadastrada no
CadÚnico, com renda per capita inferior a meia salário-mínimo. Assim, patente o
direito à inscrição na tarifa social de energia elétrica”. Há citação de julgados desse
Tribunal e argumentos de que não poderia a ré condicionar a alteração ao pagamento
da dívida anterior, que deve recair sobre o espólio do consumidor, assinalando que
levou ao conhecimento da concessionária o óbito, com requerimentos de
transferência e de adequação da tarifa, o que não ocorreu. Conclui-se pela
confirmação da liminar de restabelecimento da energia e obrigação de adequação da
tarifa como social, observado o cadastramento como tal e a oferta de parcelamento
do débito em aberto.

A insurgência recursal traz as normas que entende a


concessionária serem aplicáveis, mas sem rebater especificamente todos os pontos da
sentença.

Apelação Cível nº 1012280-64.2021.8.26.0320 -Voto nº 50052 3


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A autora demonstrou o óbito do titular do imóvel, narrou


situação de interdição do imóvel e o pedido de transferência para sua titularidade
após levantamento da interdição, além de alteração da tarifa (benefício social). Não
há controvérsia de que houve o corte por falta de pagamento de débito não atual e
que os requerimentos foram condicionados ao pagamento de débito de anterior
usuário. Nesses termos, há ato contrariando o dispositivo expresso constante da
Resolução 414/2010, art. 128. Ademais, a autora reúne os requisitos legais previstos
no artigo 2º, § 1º, da Lei 12.212/2010, com renda familiar inferior a três salários-
mínimos e inserção no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.

Assim, em homenagem aos princípios constitucionais da


dignidade humana, não havia sentido em recusar o pedido e potencialmente privar a
autora do serviço essencial, nos termos do art. 22 do Código de Defesa do
Consumidor e que assegura o fornecimento de serviços públicos essenciais.

Trata-se de serviço essencial, sendo abusiva e arbitrária a


conduta da concessionária. Assim entende-se que está demonstrada a configuração
do ato indevido perpetrado pela ré. Apenas cabe a ressalva de que não cabe impor à
concessionária a oferta de parcelamento de débito em aberto, contudo, o corte resta
indevido pela dívida pretérita e tal medida se mostra favorável à fornecedora para
recebimento de valores.

Vale consignar que houve pedido de alteração de cadastro com


requerimento do benefício da tarifa social, sem atendimento, sendo a ré responsável
pela situação perpetrada. Nestes termos, resta mantido o restabelecimento do serviço
e ordem de alteração de titularidade e de cadastramento da tarifa social.

Diante do decaimento da ré, são majorados os honorários a


favor do advogado da autora para R$ 1.500,00, nos termos do § 11 do art. 85 do
CPC, considerados os requisitos dispostos no artigo referido.

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Isto posto, nega-se provimento ao recurso, com observação.

KIOITSI CHICUTA
Relator

Apelação Cível nº 1012280-64.2021.8.26.0320 -Voto nº 50052 5

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