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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE BAURU
FORO DE BAURU
4ª VARA CÍVEL
RUA AFONSO PENA 5-40, Bauru - SP - CEP 17060-250
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1029124-26.2022.8.26.0071 e código CAF8392.
SENTENÇA - L

Processo Digital nº: 1029124-26.2022.8.26.0071


Classe - Assunto Embargos de Terceiro Cível - Tutela de Urgência
Embargante: Kenia Nicole Roman Hettsheimeir
Embargado: Associação Ranieri de Educação e Cultura Ltda

Justiça Gratuita

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ARTHUR DE PAULA GONCALVES, liberado nos autos em 08/03/2023 às 16:29 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). ARTHUR DE PAULA GONCALVES

Vistos.

KENIA NICOLE ROMAN HETTSHEIMEIR, qualificada nos autos, opôs


embargos de terceiro contra ASSOCIAÇÃO RANIERI DE EDUCAÇÃO E CULTURA LTDA,
também qualificada nos autos, alegando, em síntese, que foi penhorado o veículo marca Ford,
modelo Fiesta Ha 1.6L SE A, ano de fabricação 2013, ano modelo 2014, placas FLO 5895, de
propriedade do marido dela, que figura como executado nos autos da execução nº
1007076-44.2020.8.26.0071, movida pela embargada contra Rodrigo Hettsheimeir. Disse que é
casada com este pelo regime de comunhão parcial de bens, portanto, detém direito a 50% do bem
penhorado. Requereu, portanto, levantamento de 50% da constrição judicial.

Os embargos de terceiro foram recebidos com a suspensão da execução, a


embargada, citada, apresentou contestação na qual impugnou a gratuidade da justiça concedida à
embargante e, alegou, em resumo, que a dívida foi contraída após o matrimonio em benefício
familiar, portanto, deve ser mantida a penhora.

A embargante, em seguida, ofereceu réplica e nela impugnou os argumentos


contidos na contestação.

É o relatório.

Fundamento e decido.

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Trata-se de embargos de terceiro que comportam o julgamento antecipado do
mérito, nos termos do art. 355, I, do Código de Processo Civil de 2015, sem a mínima necessidade
de produção de provas orais ou técnicas, uma vez que a matéria controvertida é unicamente de
direito e, sendo assim, “O juiz deve sempre impedir a realização e provas ou diligências
inúteis (art. 130)” (Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito Processual Civil, Editora
Forense, 6ª edição, 1991, vol. I, p. 475).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ARTHUR DE PAULA GONCALVES, liberado nos autos em 08/03/2023 às 16:29 .
Em caso assemelhado a este, o Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de
São Paulo assim reconheceu: “Esse poder de indeferimento de provas inúteis ou protelatórias
é, na verdade, um dever do magistrado, porque não há nenhum motivo para retardar a
prestação jurisdicional quando já tiver nos autos todos os elementos para resolver o litígio,
dando-lhe a solução adequada, matéria de ordem pública” (Ap. 726.241-5, rel. Juiz Roberto
Midolla, j. 19.05.1997).

A impugnação à justiça gratuita concedida à embargante não merece prosperar,


uma vez que este juízo compartilha do entendimento de que não basta a declaração pura e simples
do interessado de que não tem condições de custear o processo para fazer jus ao referido benefício.

A concessão do benefício da gratuidade da justiça à parte embargante, aqui


impugnada, baseou-se na farta documentação de páginas 24/32, que demonstra que ela não possui
condições de arcar com o custeio do processo e por isso não pode ser revogada enquanto persistir
essa situação.

Para a revogação da gratuidade da justiça é necessário que o beneficiário aufira


rendimentos de trabalho assalariado ou de outra fonte qualquer ou tenha patrimônio que lhe
confira renda para custear o processo judicial, o que não se verifica.

O critério utilizado, em regra, pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo


para aferir a situação de beneficiário da gratuidade da justiça é o da renda familiar não superior a
três salários mínimos e, no caso, o que a autora recebe é inferior a esse montante.

Nesse sentido são os seguintes julgados do Tribunal de Justiça de São Paulo:

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“Agravo de instrumento - Servidor público estadual -
Justiça gratuita - Indeferimento - Autor que demonstrou auferir
salário líquido de R$ 1.572,38, inferior ao parâmetro de três salários
míninos - Subjetivismo da norma constitucional - Adoção de critério
objetivo da Defensoria Pública do Estado de São Paulo - Incoerência
na hipótese dos autos - Presunção relativa a ser verificada na situação
concreta - Plausibilidade da alegação de que as despesas processuais

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representariam prejuízo ao seu próprio sustento e de sua família -
Recurso provido” (8ª Câmara de Direito Público, AI 53.2010.8.26.0000,
rel. Des. Cristina Cotrofe, v. u., j. 13.10.2010).

“Agravo de instrumento - Decisão que indeferiu pedido


de justiça gratuita presunção relativa do art. 5º, LXXIV, da CF -
Subjetivismo da norma constitucional - Adoção do critério da
Defensoria Pública do Estado de São Paulo - Agravantes com
vencimento líquidos variáveis, oscilando entre R$ 1.245,02 e R$
2.419,16, benefício concedido àqueles que percebem vencimentos de
até três salários mínimos. Recurso parcialmente provido” (8ª Câmara
de Direito Público, AI 0016674-10.2010.8.26.0000, rel. Des. Silvia
Meirelles, v. u., j. 07.04.2010).

“Agravo de instrumento - Assistência judiciária


gratuita - Decisão de indeferimento do benefício - Pedido alternativo
de diferimento do recolhimento das custas processuais para o final da
demanda - Pode o Juiz condicionar a concessão dos benefícios da
assistência judiciária gratuita à comprovação da situação financeira
da parte requerente do benefício - Art. 5º, inciso LXXIV, da
Constituição Federal - Renda auferida pela agravante superior a
quatro salários mínimos - Adoção do critério da Defensoria Pública do
Estado de São Paulo - Insuficiência financeira não evidenciada -
Benefício denegado Decisão mantida Recurso improvido” (24ª Câmara
de Direito Privado, AI 0028323-98.2012.8.26.0000, rel. Des. Plínio
Novaes de Andrade Júnior, v. u., j. 22.03.2012).

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Ademais, não trouxe a embargada-impugnante documentos novos que
demonstrassem alteração das condições econômico-financeiras da embargante-impugnada, de
modo que deve ser mantido o benefício da gratuidade da justiça concedida a esta.

Rejeitada a impugnação, quanto ao mérito da causa, a embargante pretende a


anulação ou o desfazimento parcial da penhora feita na execução movida pela embargada contra o
executado Rodrigo Hettsheimeir. Disse que a penhora não é válida, pois é casada com o executado

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sob regime de comunhão parcial de bens, tendo propriedade de 50% do bem.

Nos termos do art. 843 do Código de Processo Civil havendo penhora de bem
indivisível, a meação do cônjuge alheio à execução deve recair sobre o produto da alienação do
bem.

Por outro lado, não há dúvida de que, em regra, as dívidas contraídas pelo marido
obrigam os bens comuns nos termos do art. 1.664 do Código Civil, o qual autoriza a constrição de
bens comuns na hipótese de o débito ser constituído por um dos cônjuges em favor da família.

Referido dispositivo legal criou a presunção (relativa) de que o débito contraído


por um dos cônjuges reverteu em proveito da entidade familiar, de sorte que cabe ao meeiro
comprovar que a dívida executada foi contraída em benefício apenas do devedor executado,
evitando, assim, a penhora de sua meação.

Ora, a própria embargante declarou (página 30) que não tem exercido atividade
remunerada, o que leva à conclusão de que os recursos utilizados para a aquisição do veículo
constrito advieram da profissão ou atividade exercida pelo marido dela, o executado, o que
fortalece a presunção de que a dívida contraída reverteu efetivamente em proveito da família e não
somente de quem figura no polo passivo da execução.

Ademais, a dívida foi contraída pelo marido da embargante por frequentar curso
superior ministrado pela embargada, não havendo dúvida que a instrução do varão, que sustenta a
família, melhorou ou pode melhorar a condição econômica e social de toda a família, inclusive da
embargante.

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Para impedir que a penhora recaia sobre a sua meação, o cônjuge-meeiro deve
comprovar que a dívida executada não foi contraída em benefício da família.

No caso dos autos, cabia à embargante provar por documentos, único meio cabível
na espécie, que a dívida contraída pela marido dela e executado favoreceu somente a ele e não a
família, todavia, desse ônus não se desincumbiu (CPC/15, art. 373, I).

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A meação da embargante somente não responderia pela dívida do marido se ela
tivesse comprovado que o débito que fundamenta a execução somente reverteu em proveito do
executado, mas desse ônus, como acima se mostrou, a embargante não se desincumbiu.

Nesse sentido: “Espécies de Títulos de Crédito. Nota Promissória. Embargos


de terceiro. Manutenção de posse. Penhora sobre imóvel do casal. Dívida contraída por um
dos cônjuges. Meação. Benefício da unidade familiar. Ônus da prova da embargante.
Recurso não provido” (TJSP, 13ª Câmara de Direito Privado, Ap. 4000533-08.2013.8.26.0236,
rel. Des. Alfredo Attié, j. 29/07/2016).

E mais: “Embargos de terceiro - Penhora de veículo - Pretensão de que a


penhora recaia sobre 50% do bem, registrado em nome da embargante, esposa do executado
- Comunhão dos bens adquiridos na constância do casamento, por título oneroso, ainda que
em nome de um só dos cônjuges - Artigo 1.660, inciso I, do Código Civil - Dívida contraída
em proveito do casal - Aplicação do artigo 1.664, do Estatuto Civil - Possibilidade de penhora
da totalidade do bem - Recurso não provido” (TJSP, 38ª Câmara de Direito Privado, Ap.
1007956-49.2020.8.26.0099, rel. Des. Mário de Oliveira, j. 24/08/2021).

Dessa forma, deve ser mantida a penhora integral do bem, sem a reserva da
meação da embargante em eventual e posterior alienação judicial.

Posto isso, julgo improcedentes os embargos de terceiro para: a) manter a


constrição feita nos autos da execução nº 1007076-44.2020.8.26.0071, em apenso; b) condenar a
parte embargante a pagar as custas, despesas processuais e honorários advocatícios arbitrados em
em 10% sobre o valor atribuído à causa, corrigido a partir do ajuizamento (22.11.2022), atendidos
os requisitos do art. 85, § 2º, I a IV, do Código de Processo Civil de 2015, verbas de sucumbência

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as quais fica isenta de pagamento por ser beneficiária da gratuidade da justiça (páginas 68, item 1),
enquanto persistir a condição de pobreza dela ou não transcorrer o prazo prescricional de cinco
anos previsto no § 3º do art. 98 do mesmo Código; c) certifique-se e prossiga-se nos autos da
execução.

Se interposta apelação contra esta sentença e também eventual recurso adesivo,


como nos termos do Código de Processo Civil de 2015, cabe apenas à instância ad quem examinar

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ARTHUR DE PAULA GONCALVES, liberado nos autos em 08/03/2023 às 16:29 .
os requisitos e pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade recursal (art. 1.010, § 3º),
providencie a serventia a intimação da parte apelada e/ou da parte recorrente em caráter adesivo
pra apresentar, se quiser, as correspondentes contrarrazões, no prazo de quinze dias (art. 1.010, §
1º), sob pena de preclusão e, após, independentemente de nova decisão ou despacho, remeta-se os
autos do processo judicial eletrônico (digital) ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
Seção de Direito Privado, no prazo e com as cautelas de estilo.

P. R. I.

Bauru, 08 de março de 2023.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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