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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE MARÍLIA
FORO DE MARÍLIA
VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
RUA LOURIVAL FREIRE ,120, Marilia-SP - CEP 17519-902
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1010479-07.2022.8.26.0344 e código 93E461B.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1010479-07.2022.8.26.0344


Classe – Assunto: Procedimento do Juizado Especial Cível - Cancelamento de vôo
Requerente: Antonio Paganini Filho e outro
Requerido: Azul Linhas Aéreas Brasileiras S.A.
Prioridade Idoso

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por THAIS FEGURI KRIZANOWSKI FARINELLI, liberado nos autos em 30/01/2023 às 14:44 .
Tramitação prioritária

Juiz(a) de Direito: Dr(a). THAIS FEGURI KRIZANOWSKI FARINELLI

Vistos.

Relatório dispensado nos termos do art. 38 da Lei n.º 9.099/95.

Fundamento e decido.

A natureza da matéria questionada autoriza o julgamento antecipado da lide, nos


termos do artigo 355, inciso I, do CPC, eis que diante das alegações expendidas e documentos
apresentados, prescinde-se da produção de outras provas, o que vem a dar azo aos princípios da
celeridade e da economia processual e, notadamente, do princípio da razoável duração do
processo, haurido do art. 5.º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal.

Como é cediço, o juiz é o destinatário final da prova, incumbindo-lhe decidir


sobre a necessidade, ou não, de dilação probatória mais ampla, ou julgar antecipadamente a lide.
Compete ao juiz, na condução do processo, deferir e apreciar o arcabouço probatório coligido.
Entendendo que as provas constantes dos autos são suficientes para a formação de seu
convencimento para o deslinde da questão, não se configura o alegado cerceamento de defesa.

Nesse sentido, prevê o art. 370 do CPC: “Caberá ao Juiz, de ofício ou a


requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito”.

Ademais, o Supremo Tribunal Federal já há muito se posicionou no sentido de


que a necessidade de produção de prova em audiência há de ficar evidenciada para que o
julgamento antecipado da lide implique em cerceamento de defesa. A antecipação é legítima se os
aspectos decisivos da causa estão suficientemente líquidos para embasar o convencimento do
magistrado (RTJ 115/789).

Sem defesas preliminares arguidas. Presentes os pressupostos processuais e as

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condições da ação, passa-se ao exame do mérito.

Aduzem os autores que em 21/10/2019 adquiriram pacote turístico com destino a


Gramado/RS para o período de 12/05/2020 a 18/05/2020, cujo transporte aéreo (ida e volta) seria
prestado pela companhia requerida, relativamente aos trechos Marília/SP - Campinas/SP - Porto
Alegre/RS. Dizem que em razão da pandemia, a atração foi remarcada inicialmente para

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11/05/2021 a 17/05/2021 e, posteriormente, 11/05/2022 a 17/05/2022. Relatam que a ida ocorreu
sem intercorrências, todavia a volta sofreu um atraso de aproximadamente 11 horas. Explicam
que o voo de retorno estava previsto para partir de Porto Alegre/RS às 14hs55min, todavia foi
alterado para 17hs50min, com previsão de chegada em Campinas/SP às 19hs30min, de modo que
o voo referente ao trecho final, com destino a Marília/SP, foi reprogramado para partir às
23hs30min. Argumentam, ainda, que o voo de Campinas/SP a Marilia/SP foi cancelado em razão
de manutenção na aeronave, razão pela qual o trajeto foi realizado de ônibus, que partiu somente
à 0h30min de 18/05/2022, chegando nesta localidade às 06 horas. Pontuam que a requerida não
prestou a devida assistência material. Ponderam que em razão do atraso a ré concedeu um bônus
de R$ 300,00 e, em virtude do cancelamento, outro, no importe de R$ 500,00, válidos por 90 dias.
Destacam que desembolsaram R$ 180,00 para despacho de bagagens e de R$ 130,00 para
marcação de assentos, referentes a 4 voos, de modo que devem ser ressarcidos
proporcionalmente, na quantia de R$ 77,50. Pedem indenização por danos materiais nas quantias
de R$ 300,00 e de R$ 500,00, relativamente à alteração do voo de Porto Alegre/RS a
Campinas/SP e ao cancelamento do trecho Campinas/SP a Marília/SP, para cada um dos
requerentes, totalizando R$ 1.600,00. Por fim, pretendem indenização por danos morais,
estimados em R$ 10.000,00 para cada um dos autores.

A requerida, por sua vez, alega que o voo AD 2845 (Campinas-Marília) foi
cancelado em decorrência de manutenção não programada na aeronave, sendo os autores
transportados via terrestre. Afirma ter prestado assistência material aos autores, atinente ao voo
4847 (Porto Alegre/RS Campinas/SP), no importe de R$ 35,00 para cada um dos passageiros.
Aduz que o prazo de 90 dias é para cadastramento dos vouchers e o prazo de utilização é de até 6
meses. Suscita a ocorrência de caso fortuito ou de força maior. Contraria a existência de danos
morais indenizáveis.

De início, vale destacar que, na hipótese versada, por se tratar de relação de


consumo, enseja a aplicação do disposto no artigo 6.º, inciso VIII, do Código de Defesa do
Consumidor, que, por seu turno, estabelece a inversão do ônus da prova. Em outras palavras, há

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de se ressaltar que o ônus quanto à comprovação dos fatos que extingam o direito dos requerentes
incumbe à requerida.

Pontua-se que restaram incontroversos nos autos os fatos relativos à aquisição das
passagens aéreas pelos requerentes, o atraso no voo de retorno no dia 17/05/2022 (fls. 38) e o

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cancelamento do voo AD2845 por necessidade de manutenção da aeronave (fls. 40), bem como a
prestação do serviço na modalidade terrestre, fatos expressamente admitidos pela requerida (fls.
95/96).

A responsabilidade da companhia requerida, responsável pelo transporte aéreo, é


objetiva nos moldes do artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor. A ré deve realizar o
transporte dos passageiros e de seus pertences na forma como pactuado, o que não ocorreu no
caso presente.

Ora, a requerida confirma a aquisição pelos requerentes das passagens aéreas


indicadas na petição inicial, admitindo, também, que o voo de Porto Alegre/RS sofreu atraso (fls.
38 e fls. 95) e que o voo de Campinas a Marília foi “cancelado em decorrência de manutenção
não programada na aeronave" (fls. 95). Argumenta, pois, que o atraso/cancelamento se deu por
caso fortuito e de força maior (fls. 99), sendo os passageiros conduzidos até o destino pela via
terrestre, chegando ao destino final em segurança (fls. 96).

Sucede que o fato relativo à manutenção da aeronave não se enquadra como


situação suficiente a afastar a responsabilidade da ré no tocante ao evento danoso descrito na
inicial. Aliás, cumpre destacar que aludida manutenção não se caracteriza como caso fortuito e/ou
força maior, sendo, pois, forçosa a conclusão de que o problema apresentado nas aeronaves
estaria relacionado à negligência da companhia aérea quanto à sua devida manutenção. Além
disso, não há de se olvidar que, no caso, deve ser aplicada a teoria do risco da atividade ou teoria
do risco-proveito.

Nesse sentido:

“Apelação. Ação de reparação de danos morais. Prestação de serviços. Transporte


aéreo. Atraso de voo nacional. Atraso decorrente de manutenção não programada
da aeronave. Circunstância inserida na álea inerente ao negócio jurídico e que
integra o risco da atividade empresarial desenvolvida pela companhia aérea.
Danos morais configurados. Valor indenizatório reduzido para R$ 5.000,00.
Recurso parcialmente provido.” (E. TJSP; Apelação Cível
1043808-68.2019.8.26.0100; Relator (a): Hamid Bdine; Órgão Julgador: 19.ª

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Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível 9.ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 15/10/2019; Data de Registro: 15/10/2019).

Acresça-se, ademais, que embora a companhia aérea tenha alegado a ocorrência


de problemas técnicos a necessitar de manutenção emergencial em suas aeronaves para justificar
o atraso/cancelamento dos voos da parte autora, não apresentou nenhum elemento probatório a

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fim de dar arrimo a esta sua alegação, enfraquecendo ainda mais a sua tese defensiva.

Ora, tem-se por evidentes os abalos psíquicos e transtornos superiores aos


rotineiros experimentados pelos requerentes em virtude da falha reiterada na prestação dos
serviços, que redundou no atraso e no cancelamento dos voos originalmente contratados e,
consequentemente, na chegada ao destino final.

No caso em apreço, a parte autora contratou transporte aéreo sobretudo em razão


do conforto, contudo, em razão do atraso e do cancelamento dos voos, fora submetida a atraso de
aproximadamente 2hs55min e a viagem desgastante via transporte terrestre, estendendo-se a
duração da viagem em mais 6 horas, aproximadamente, considerados os 400 (quatrocentos)
quilômetros entre as cidades de Campinas e Marília. Ao invés de desembarcarem nesta cidade de
Marília/SP às 19 horas do dia 17/05/2022 (fls. 36), conforme originariamente previsto, somente
lograram êxito chegar por volta das 6 horas do dia 18/05/2022 (fls. 3), configurando atraso ao
destino final de aproximadamente 11 (onze) horas.

Em verdade, o que se extrai dos autos é que a ré não forneceu o serviço nos
moldes estabelecidos quando da contratação, bem como não procedeu a contento com condutas
aptas a mitigar os infortúnios relacionados aos cancelamentos dos voos, devendo assim responder
pelos danos decorrentes deste seu inadimplemento e da má prestação do serviço.

Sob esse viés, urge salientar que nas hipóteses de atraso ou de cancelamento,
cediço que a ANAC, dispondo sobre as condições gerais do transporte aéreo, estabelece
obrigações à companhia aérea, tais como facilidades de comunicação (superior a 1 hora),
alimentação, de acordo com o horário, por meio do fornecimento de refeição ou de voucher
individual (superior a 2 horas), bem como serviço de hospedagem, em caso de pernoite, e traslado
de ida e volta (superior a 4 horas), ao passo que “O transportador poderá deixar de oferecer
assistência material quando o passageiro optar pela reacomodação em voo próprio do
transportador a ser realizado em data e horário de conveniência do passageiro ou pelo
reembolso integral da passagem aérea.” (Res. ANAC n.º 400/2016, art. 27, § 3.º).

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Vale dizer que, no caso de demora superior a 4 horas, se houver atraso,
cancelamento de voo ou na hipótese de preterição de embarque, a companhia aérea está obrigada
à assistência material, além das opções de reembolso integral, de reacomodação ou de execução
do serviço por outra modalidade de transporte, cabendo a escolha ao transportado.

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In casu, restou incontroverso - até porque os requerentes não impugnaram
precisamente em réplica tal assertiva, o que atrai a regra do art. 374, inciso III, do CPC - que a ré
apenas ofereceu vouchers de alimentação, no importe de R$ 35,00 para cada um dos autores em
virtude do atraso do voo AD4847 (fls. 97), o que atende o disposto na Res. ANAC n.º 400/2016,
bem como executou o serviço por meio de transporte rodoviário entre Marília/SP e Campinas/SP,
cujo percurso, todavia, exigiu mais de 4 para ser concluído por via terrestre, ao passo que as
demais providências determinadas pela Agência Nacional de Aviação Civil, relativamente ao
trecho final, não foram devidamente comprovadas.

À escassez de provas contrárias, forçoso concluir que a companhia aérea


requerida não prestou toda a assistência material necessária aos requerentes, tendentes a
minimizar a intercorrência provocada pelo atraso e cancelamento dos voos de volta.

Consabido que “O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos,


sob pena de responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior.” (CC, art. 737), sendo
que “O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens,
salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.”
(CC, art. 734).

Além disso, tratando-se de obrigação de resultado, “Interrompendo-se a viagem


por qualquer motivo alheio à vontade do transportador, ainda que em conseqüência de evento
imprevisível, fica ele obrigado a concluir o transporte contratado em outro veículo da mesma
categoria, ou, com a anuência do passageiro, por modalidade diferente, à sua custa, correndo
também por sua conta as despesas de estada e alimentação do usuário, durante a espera de novo
transporte.” (CC, art. 741). Decorrendo da lei, impassível de supressão pelo contrato a
responsabilidade da transportadora.

Dessa forma, não há falar em caso fortuito ou de força maior, como destacado. A
contingência "operacional" é imputável exclusivamente à ré, enquanto empresária que fornece
serviços no mercado consumidor e, assim sendo, não a exime de culpa por inexecução contratual.

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Emerge a existência de falha na prestação dos serviços diante do injustificado
atraso e cancelamento dos voos, situação que supera o mero descumprimento contratual e o mero
dissabor, restando configurado o dever de indenizar os autores em razão dos transtornos sofridos,
mormente porque a responsabilidade da requerida é objetiva, com esteio na teoria do risco
profissional, não se entrevendo a ocorrência de quaisquer das excludentes de responsabilidade

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civil (CDC, art. 14, § 3.º, I e III).

Diante disso, é seguro afirmar que, por conta da situação retratada na petição
inicial, a qual se originou da falha da prestação dos serviços, por parte da requerida, os
requerentes, de fato, sofreram transtornos suficientes a causar-lhes abalos psíquicos, sendo, pois,
aptos a ensejarem a condenação da requerida ao pagamento da indenização por danos morais.

Neste passo, embora a Lei não estabeleça os parâmetros para fixação dos danos
morais, impõe-se ao Magistrado observar os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, de
modo a arbitrar os danos morais de forma moderada, que não seja irrisório a ponto de não
desestimular o ofensor, e que não seja excessivo a ponto de configurar instrumento de
enriquecimento sem causa.

Dessa forma, levando-se em consideração as peculiaridades do caso concreto,


atento ao grau de culpa do ofensor, à gravidade do dano, à capacidade econômica das partes e a
reprovabilidade da conduta ilícita, considero o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), para cada
requerente, suficiente a compensar a parte autora e apto a desestimular novas condutas ilícitas por
parte da requerida.

No que tange à pretensa reparação material, cediço que a indenização mede-se


pela extensão dos danos, a fim de restituir as vítimas ao estado anterior (CC, art. 944).

In casu, restou incontroverso que os autores pagaram pela reserva antecipada de


assentos de preferência dos passageiros, no importe de R$ 130,00, além de R$ 180,00 pelo
despacho de bagagens. Logo, passível de restituição proporcional os valores adimplidos já que
não prestados os serviços especificados, sobretudo porque a requerida não comprovou a cobrança
adicional e ordinária para tais hipóteses em caso de transporte via terrestre, ônus a que estava
jungida, nos termos do art. 373, inciso II, do CPC.

Referentemente ao valor de R$ 18,00 pago pelos autores para aquisição de água,


comprovado a fls. 45, certo é que o serviço foi prestado por meio de transporte rodoviário entre

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Marília/SP e Campinas/SP, cujo percurso exigiu mais de 4 para ser concluído por via terrestre,
como destacado, de modo que incumbia à ré a assistência material correspondente. Caso a ré
tivesse oferecido aos requerentes o alimento, como era devido nas circunstâncias (CC, art. 741),
os autores não teriam desembolsado aludida quantia, como ocorreu, entrevendo-se o nexo causal
entre o prejuízo e o comportamento omissivo da companhia aérea.

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Destarte, de rigor a devolução da quantia relativa ao último trecho de volta
(Campinas-Marília), o que atende aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade e veda o
enriquecimento sem causa, no importe de R$ 77,50 (setenta e sete reais e cinquenta centavos),
bem como o pagamento, a título de danos materiais, da quantia de R$ 18,00, com correção
monetária pela Tabela Prática do E. Tribunal de Justiça de São Paulo a partir dos respectivos
desembolsos e juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês a contar da citação.

Por fim, improcedente o pedido de reparação material no valor dos bônus


concedidos aos autores, por não se vislumbrar diminuição patrimonial nas esferas jurídicas dos
requerentes sujeita à reparação. Malgrado o atraso, o voo entre Porto Alegre/RS e Campinas foi
prestado, ao passo que o trecho final foi realizado por meio de transporte alternativo. Inexistindo
o dano, ausente um dos pressupostos da responsabilidade civil, não há o que ser restituído, a fim
de colocar as vítimas na situação anterior. Entendimento em sentido contrário implicaria
enriquecimento sem causa jurídica.

Destarte, não resta alternativa senão a parcial procedência do pedido.

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE, com resolução de


mérito nos termos do art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil, a presente ação ajuizada por
ANTÔNIO PAGANINI FILHO e VANDA LÚCIA GONÇALVES PAGANINI contra AZUL
LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S/A, para o fim de: a) CONDENAR a requerida a pagar aos
autores a importância de R$ 8.000,00 (oito mil reais) para cada um deles, totalizando R$
16.000,00 (dezesseis mil reais), a título de indenização por danos morais, a qual será corrigida
monetariamente e acrescida de juros de mora, no montante de 1% (um por cento) ao mês, a contar
da sentença (Súmula n.º 362, do C. STJ); b) CONDENAR a requerida a pagar aos autores a
quantia de R$ 95,50 (noventa e cinco reais e cinquenta centavos), a título de indenização por
danos materiais, corrigida monetariamente pela Tabela Prática do E. Tribunal de Justiça de São
Paulo a contar dos respectivos desembolsos e acrescida de juros moratórios de 1% (um por cento)
ao mês a partir da citação.

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Sem custas e honorários de advogado por se tratar de ação afeta ao sistema do
Juizado Especial Cível, nos termos do art. 55 da Lei n.º 9.099/95.

Valor das custas do preparo R$ 859,94, sendo R$ 216,12 correspondente a 1% do


valor da causa, acrescido de R$ 643,82, relativo a 4% sobre o valor da causa ou da condenação.

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P.I.C.
Marilia, 26 de janeiro de 2023.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

1010479-07.2022.8.26.0344 - lauda 8

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