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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE RIBEIRÃO PRETO
FORO DE RIBEIRÃO PRETO
9ª VARA CÍVEL
RUA ALICE ALÉM SAADI, 1010, Ribeirão Preto - SP - CEP 14096-570
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1005900-93.2014.8.26.0506 e código 5828F00.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1005900-93.2014.8.26.0506


Classe - Assunto Reintegração / Manutenção de Posse - Esbulho / Turbação / Ameaça
Requerente: ESPOLIO DE DIRCE BRANDÃO MOREIRA e outros
Requerido: ANTÔNIO CARLOS DURAN e outros

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ARMENIO GOMES DUARTE NETO, liberado nos autos em 17/12/2019 às 18:06 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Armenio Gomes Duarte Neto

Vistos.

ESPÓLIO DE DIRCE BRANDÃO MOREIRA, ESPÓLIO DE RUBEN


ALOYSIO MONTEIRO MOREIRA, ESPÓLIO DE JOSÉ SOARES DE MATTOS e
ESPÓLIO DE MARIA LUIZA MONTEIRO SOARES DE MATTOS ajuizaram a presente
ação de reintegração de posse cc perdas e danos contra ANTÔNIO CARLOS DURAN e
OCUPANTES das quadras 22 a 32, entre a Avenida Recife, Rua Americana, Avenida Thomaz
Alberto Wately e Rua Pontal, de forma irregular, todos do empreendimento imobiliário
denominado "Jardim Jockey Clube", qualificados (os conhecidos) nos autos. Alegam os
autores, em apertada síntese, que são proprietários de todos os lotes do empreendimento
imobiliário denominado "Jardim Jockey Clube", registrado junto ao 2º CRI local sob as
matrículas que vão desde 93.236 a 93.241. O citado empreendimento foi objeto de
regularização através de processo judicial de retificação de área e registro, que tramitou
perante a 5ª Vara Cível local. Apesar de registrado o empreendimento, não está dotado de
nenhuma infraestrutura, tais como arruamento, rede de esgoto e água, energia elétrica, etc.,
isso porque a Prefeitura de Ribeirão Preto não autoriza a execução das obras na forma dos

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projetos aprovados. Mesmo assim, os autores vêm efetuando o pagamento do IPTU dos lotes.
Ocorre que os réus ocuparam irregularmente a área. Não houve composição entre as partes na
seara extrajudicial. Em 21 e 22 de fevereiro de 2014 os autores tentaram limpar a área, mas
forma impedidos pelos réus, que praticaram esbulho possessório. Existem restrições quanto
ao uso do solo do loteamento, isso por se tratar de área lindeira ao aeroporto municipal de
Ribeirão Preto. A ocupação ilícita dos réus está trazendo prejuízos aos autores. Pedem os

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autores, com a procedência, sejam reintegrados na posse dos imóveis, além da condenação
dos réus em perdas e danos. Juntam documentos com a inicial (fls. 09/384).
Liminar indeferida (fl. 387).
Determinada a realização de audiência de tentativa de conciliação (fl. 444).
Audiência de tentativa de conciliação frutífera, oportunidade em que os réus
reconheceram a procedência do pedido e se comprometeram em desocupar a área em 60 dias,
dentre outras obrigações assumidas (fls. 452/453).
Os réus se manifestaram a fls. 466/467, por intermédio da Defensoria Pública,
indicando pedidos feitos à Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto no tocante a implementação
de políticas públicas pertinentes.
Os autores juntaram fotos aéreas da ocupação (fls. 479/490).
O Ministério Público não se opôs à homologação do acordo havido em
audiência de conciliação (fl. 495).
A fls. 499/450 os autores noticiam o descumprimento do acordo.
Deferida a expedição de mandado de reintegração de posse (fl. 504).
O mandado não foi cumprido.
Posteriormente, determinou-se o aditamento do mandado de reintegração de
posse, com expedição de ofício ao Batalhão da Polícia Militar (fl. 521).
Mandado de reintegração novamente descumprido, sendo certificado que no
local há aproximadamente 200 moradias de alvenaria (fl. 546).
Os autores noticiaram o retorno dos invasores à área ocupada (fls. 570/571).
O Ministério Público opinou pela execução do mandado de reintegração de
posse (fl. 576).
Determinou-se novamente o cumprimento do mandado (fl. 578).
Ofício da Polícia Militar em que pede prazo para organização do apoio ao

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cumprimento do mandado e outras providências a fls. 585/586.
Manifestação do Ministério Público a fls. 645/646, oportunidade em que
noticia que o Comando da Polícia Militar vem criando uma série de embaraços para o efetivo
cumprimento da ordem judicial e reitera o pedido de execução do mandado.
A Defensoria Pública pede a suspensão do cumprimento do mandado judicial
e expedição de ofício à Prefeitura local para que faça o levantamento dos ocupantes da área

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para inclusão em programas habitacionais (fls. 647/649).
Designou-se reunião com o Comando da Polícia e advogado dos autores (fl.
650).
Resultado da reunião a fls. 663/664.
Determinou-se a expedição de mandados de notificação dos ocupantes da área
invadida para lhes informar sobre a reintegração (fl. 662).
A Defensoria Pública se manifestou a fls. 672/681 e noticiou que foi
totalmente desocupada a área pleiteada pelos autores. Narra que posteriormente a mesma área
foi ocupada por novas pessoas, agora denominada de Comunidade Nazaré Paulista, que não
participaram da relação jurídico-processual inicialmente constituída, pelo que pede a extinção
do processo e nova citação dos atuais ocupantes da área.
A Defensoria Pública pede a suspensão do processo (fls. 683/686).
O feito foi suspenso para regularização da representação processual dos
autores (fl. 705).
Novamente se determinou o cumprimento da reintegração de posse (fls.
1.114/1.117), sendo que a Defensoria Pública interpôs recurso de agravo contra tal decisão
(fls. 1.223/1.224), ao qual foi negado provimento (fls. 1.359/1.372).
A Municipalidade de Ribeirão Preto pediu seu ingresso no processo como
terceiro interessado (fls. 1.154/1.155), pleito deferido (fl. 1.201).
A Defensoria Pública pede novamente a suspensão da reintegração de posse
(fls. 1.159/1.163).
Não foi possível a medição da área a ser reintegrada por faltas de
equipamentos técnicos (fl. 1.252).
O Ministério Público se manifestou a fls. 1.258/1.262 e concordou com a
extinção do feito porque as pessoas inicialmente ocupantes da área cumpriram o acordado em

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audiência. Subsidiariamente, pediu a citação dos novos ocupantes e arevogação da ordem de
reintegração de posse.
Pedido indeferido (fls. 1.273/1.274).
Cedhep (centro de direitos humanos e educação popular) manifestou-se a fls.
1.292/1.299, oportunidade em que pleiteou seu ingresso no processo como assistente simples
e a intervenção do Gaorp no feito.

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Pela decisão de fls. 1.324/1.325 a ordem de reintegração foi suspensa e se
solicitou a atuação do Gaorp.
Gaorp se recusa a atuar no feito (fls. 1.373/1.376) e os réus, por intermédio da
Defensoria Pública, bem como o Ministério Público reiteram o pedido para que este venha a
atuar no processo (fls. 1.381/1.399 e 1.403, respectivamente).
Foi o processo sentenciado, tendo sido decidas, dentre outras questões: a) que
o Município de Ribeirão Preto e quaisquer de seus órgãos não ingressariam no feito; b)
revogação de todas as decisões anteriores que deferiram a reintegração de posse no que tange
a terceiros que não integram o polo passivo e c) extinção do processo em relação aos réus
Antônio Carlos Duran, Maria da Paz, Brás José da Silva Neto, José Afono da Silva, Clésio
Rejane S. Castilho e Josias Ribeiro, por reconhecimento da procedência do pedido e
procedência em parte do pedido para determinar a reintegração de posse em relação às
quadras 22 a 32 do Jardim Jockey Clube (fls. 1.404/1.418).
Foram opostos embargos de declaração pelos autores contra a sentença (fls.
1.424/1.432), rejeitados (fl. 1.460).
Foi interposto recurso de apelação pelos autores contra a sentença (fls.
1.463/1.479), tendo sido dado parcial provimento para que fossem citados por edital os
demais invasores (fls. 1.568/1.575).
Pela decisão de fls. 1.588/1.589 se deferiu a expedição de mandado de
constatação e de edital de citação em relação aos demais invasores.
Foram os demais invasores citados por edital (fls. 1.608/1.609 e 1.612).
JAIR GOMES BARBOZA, MARIA DA LUZ DA ROSA, JOEL
NASCIMENTO DA SILVA, ÂNGELA DA SILVA GOMES, EDILSON SANTOS DA
SILVA contestaram (fls. 1.628/1.646). Esclarecem que são possuidores dos imóveis em que
residem há mais de cinco anos, de forma mansa e pacífica, sem conhecimento de que eram os

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donos dos imóveis. Ingressaram com ação de usucapião dos lotes que habitam (feito nº
1029824-02.2015.8.26.0506, em trâmite perante a 3ª Vara Cível local), pelo que pedem a
suspensão do processo até que seja prolatada sentença naqueles autos. Invocam carência da
ação, pois os autores nunca exercitaram a posse sobre os terrenos que pretendem ver
desocupados, sendo certo que deveriam ter movido ação de imissão na posse. No mérito,
sustentam que edificaram casas para moradia nos lotes há mais de cinco anos, tomando

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conhecimento da ação possessória apenas atualmente. Os autores não exerceram a fiscalização
sobre os imóveis ao longo dos anos. Os réus são pessoas de baixa renda e não possuem outro
imóvel para residir. A Prefeitura de Ribeirão Preto deveria ter sido notificada para "fazer parte
da ação reivindicada". Os réus contam com serviço de energia elétrica e água encanada.
Invocam o direito à moradia como fundamento de defesa. Pugnam pela improcedência.
Foi feito pedido de dilatação do prazo de contestação por um réu (fls.
1.792/1.793), indeferido (fl. 1.796), sendo pedida a reconsideração (fls. 1.799/1.808),
indeferida (fls. 1.810/1.811).
FRANCISCO ANTONIO SANTOS DE SOUZA apresentou contestação
(fls. 1.812/1.827). Diz que a comunidade Nazaré Paulista é assentamento urbano informal
contíguo ao loteamento Jardim Jockey Clube. É servido por coleta de lixo, escolas , postos de
saúde e serviços postais. Discorre sobre políticas habitacionais. Afirma que foi feito pedido
administrativo de regularização fundiária junto ao Município de Ribeirão Preto. Esclarece que
as empresas San Marino e Stéfani Nogueira não apresentaram instrumento procuratório válido
até o momento. Diz que a parte autora não tem interesse processual, vez que se sustenta em
alegação de domínio e não de posse e que não exerceu a posse do local (deveria ter ajuizado
ação reivindicatória). Esclarece que houve fraude processual e citação irregular. A decisão
atinge quadras não reclamadas pelos autores. Não houve debate possessório. Pugna pela
improcedência.
NIVALDO MENDES DA SILVA apresentou contestação (fls.
1.859/1.866). Diz que a comunidade João Pessoa é formada por famílias de baixa renda, que
habitam as quadras 20 a 22 do Jardim Jockey Clube. É servido por coleta de lixo, escolas,
postos de saúde e serviços postais. O histórico de ocupação data da década de 1980. Pede a
manutenção da posse por ter sido reconhecido o local como comunidade. Há ação de
usucapião movida pelo réu tendo por objeto a área ocupada. Diz, de modo genérico, que há

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nulidades insanáveis e que o processo deve ser extinto sem resolução de mérito.
Ofício da Prefeitura local informa que o núcleo urbano Nazaré Paulista não
pode figurar no programa de regularização fundiária do município (fls. 1.900/1.901).
Os autores se manifestaram em réplica (fls. 1.906/1.920).
O Ministério Público opinou pelo julgamento antecipado da lide e pela
procedência do pedido (fls. 1.927/1.939).

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As partes foram instadas a especificar provas, caso discordassem do
julgamento antecipado da lide (fl. 1.940).
Francisco Antônio Santos de Souza pede produção de prova testemunhal e
pericial (fls. 1.943/1.945).
Os autores pleitearam o julgamento antecipado da lide (fls. 2.336/2.337).
A Defensoria Pública pediu expedição de ofícios e mandado de constatação (fl.
2.338), o que foi deferido (fl. 2.339).
Manifestou-se o réu Francisco Antônio Santos de Souza a fls. 2.342/2.344,
oportunidade em que pediu designação de audiência de tentativa de conciliação.
Manifestaram-se os autores a fls. 2.387/2.389 e 2.394/2.395.
Por fim, sobreveio manifestação da Defensoria Pública (fl. 2.396).
É o relatório.
Fundamento e DECIDO.
Anote-se no sistema a renúncia de fl. 2.393, consignando-se que o réu Nivaldo
Mendes da Silva constituiu outros advogados (fl. 1.867).
O processo comporta julgamento antecipado do mérito, nos termos do art.
355, inc. I, do CPC, pois se revela desnecessária a produção de outras provas em audiência, na
medida em que o autor e o Ministério Público pleitearam o julgamento conforme o estado do
processo.
Revejo e revogo a decisão de fl. 2.339. Realmente não há necessidade
expedição de mandado de constatação, pois isso já foi feito antes e se aclarou a grandiosidade
do número de pessoas que habitam os lotes. Ademais, será evidentemente levada em conta,
quando do cumprimento de eventual ordem de reintegração a existência de crianças, idosos e
pessoas com deficiência no local, não sendo obstáculo ao julgamento do feito no estado em
que se encontra. Por fim, a Prefeitura está ciente de longa data das questões que envolvem

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esse processo e já se manifestou no sentido de não existir dinheiro para a regularização
fundiária do local.
Quanto ao pedido feito pela Defensoria Pública para que os autores se
manifestem se tem interesse em alienar a área, observa-se que as partes podem chegar a
eventual composição, até mesmo extraprocessual, sem necessidade de prática de atos
processuais para ficar a todo momento se manifestando dentro dos autos.

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As preliminares invocadas não convencem.
Não há carência da ação. Não era o caso de terem os autores ingressado com
ação petitória. Lograram demonstrar o exercício da posse, ainda que indireta, sobre os imóveis
de sua propriedade.
Não é o caso de suspensão do processo por conta da existência de ação de
usucapião (mencionada a fl. 1.630). Isso porque o lote pretendido pelos autores da ação de
usucapião nem se situa dentre aqueles de propriedade do polo ativo (conforme este mesmo
esclareceu – fl. 1.909).
Indefiro, igualmente, a expedição do ofício pretendido a fl. 1.639 (item 12),
pois a questão da representação processual já foi decidida com trânsito em julgado .
A ilegitimidade ativa "ad causam" (fl. 1.819) já foi rejeitada por decisão com
trânsito em julgado (fls. 723/729, 1.114/1.117, 1.201 e 1.216/1.220).
Não há nenhuma irregularidade na citação (mesmo naquela feita por edital),
pois foram observados todos os requisitos legais no cumprimento da determinação do E.
Tribunal.
Ao mérito, pois.
Parte do processo já foi julgado pela E. Tribunal, encontrando-se o acórdão
acobertado pelo manto da coisa julgada.
Na r. sentença restou consignado que alguns réus foram identificados e outros
não. Com relação aos identificados (ANTÔNIO CARLOS DURAN, MARIA DA PAZ,
BRÁS JOSÉ DA SILVA NETO, JOSÉ AFONSO DA SILVA, CLÉSIO REJANE S.
CASTILHO e JOSIAS RIBEIRO DA COSTA), determinou-se que se constatasse se ainda
ocupavam os imóveis. E quanto aos demais ocupantes da área, não identificados até então, foi
decidido (fl. 1.415):
"Facilmente se percebe, pois, ante a análise de todos os documentos acostados

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aos autos, inclusive recentemente, que é possível mesmo que ainda haja ocupação indevida no
imóvel das partes autoras, mas não se pode afirmar que seja perpetrada pelos ora requeridos e
se se referem a outras pessoas, de rigor que se instale nova relação processual contra
elas, inclusive em via própria" (grifo nosso).
Ainda com relação aos ocupantes não identificados, constou expressamente do
v. acórdão (fl. 1.573):

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"Uma vez que até o presente momento não se conseguiu a citação de todos os
interessados, seja porque depois de realizada em relação aos ocupantes no momento do
cumprimento do mandado, seja porque até que seja efetivamente cumprida a determinação de
desocupação, novos invasores são constatados, entendo ser o caso de se realizar citação
por edital" (grifo nosso).
Também se decidiu na Superior Instância (fl. 1.574):
"Assim, para se evitar qualquer tipo de nulidade ou mesmo cerceamento de
defesa, se faz necessário a citação editalícia modo a possibilitar o correto cumprimento da
ordem judicial".
Em relação aos réus ANTÔNIO CARLOS DURAN, MARIA DA PAZ,
BRÁS JOSÉ DA SILVA NETO, JOSÉ AFONSO DA SILVA, CLÉSIO REJANE S.
CASTILHO e JOSIAS RIBEIRO DA COSTA foi expedido mandado de constatação.
Certificou o Oficial de Justiça que, "segundo informação do Sr. José Augusto os requeridos
nomeados no presente mandado, por motivos diversos, não residem mais no local" (fl. 1.621).
Como não conseguiu mais informações sobre os réus acima nominados, não cumpriu o
Oficial de Justiça a reintegração naquele momento.
Tais réus não mais se manifestaram, o que permite concluir, em tese, que,
aliado aos informes trazidos pelo Oficial de Justiça (fl. 1.621), não mais residem no local.
O processo então não foi extinto como um todo e, com seu retorno ao 1º
grau, foram os demais requeridos citados por edital.
O que será objeto desta segunda sentença é o pedido com relação aos réus
citados por edital que ocupam a propriedade dos autores, pois a outra parte já foi decidida
com trânsito em julgado.
A ação é improcedente naquilo que remanesce para ser julgado (réus citados
por edital, dentre os quais, cerca de três mil – fl. 1.621, apenas sete pessoas contestaram).

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O pedido de indenização dos danos materiais já foi rejeitado pelo v. acórdão
de fls. 1.568/1.575).
Resta, portanto, o pedido de reintegração de posse em relação aos atuais
ocupantes dos imóveis, citados por edital, conforme determinação do E. TJSP.
O direito dos autores encontra previsão no art. 1.228 do Código Civil:
"O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de

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reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha".
Ocorre que o exercício do direito de propriedade não é absoluto. Deve
obedecer aos ditames constitucionais pertinentes, a saber, deve cumprir a função social da
propriedade.
Nesse sentido é a previsão contida no art. 5º, inc. XXIII, segundo a qual "a
propriedade atenderá a sua função social".
A Constituição Federal, no art. 182, que trata da política urbana, estabelece
que:
"Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder
Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para
cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor."
O legislador constituinte estabeleceu que a política de desenvolvimento
urbano, que é executada pelo Poder Público municipal, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Há
dois valores fundamentais, portanto: o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
a garantia de bem-estar de seus habitantes. A propriedade somente cumpre sua função social
quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor
A Constituição Federal também garante a todos os cidadãos, como preceito
fundamental, o direito à moradia (artigo 6º, inserto no Título II, do Capítulo II, da CF).

A área de propriedade dos autores é objeto de ocupações e invasões desde

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9ª VARA CÍVEL
RUA ALICE ALÉM SAADI, 1010, Ribeirão Preto - SP - CEP 14096-570
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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1005900-93.2014.8.26.0506 e código 5828F00.
longa data (fls. 2.316/2.318).

A situação a que chegaram as ocupações dos lotes de propriedade dos autores


indica três causas determinantes: a) conduta dos próprios autores, pois, ao menos desde 1988,
não obedeceram ao comando constitucional, vez que os lotes nunca tiveram qualquer uso que
cumprisse a função social da propriedade (prova disso é que, ao menos pelo que dos autos
consta, os imóveis nunca foram edificados ou neles se desenvolveu qualquer plantação ou

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ARMENIO GOMES DUARTE NETO, liberado nos autos em 17/12/2019 às 18:06 .
criação de animais, já que existem no Registro Imobiliário desde 1.952 – fl. 236, sendo objeto
de retificação judicial apenas por ação datada de 1.999 – fl. 237, e objeto de pedido
administrativo para execução de obras de infraestrutura, o mais recente, somente em 2010 – fl.
408); b) desídia do Estado (em sentido amplo), pois este não garantiu o constitucional direito à
moradia; c) desídia no Município de Ribeirão Preto, que demorou excessivamente para
autorizar que os autores pudessem dar início às obras de infraestrutura do loteamento (fls.
407/409 e 2.182/2.183).

Os autores não se desincumbiram do ônus de demonstrar que a propriedade


atendia à função social. Nenhum elemento mínimo de prova documental (salientando-se que
os autores pediram o julgamento antecipado da lide) foi produzido para convencimento
quanto ao uso adequado da propriedade (que deve atender à função social). Por tantos anos só
houve o imóvel em si, sem qualquer edificação/plantação/rebanho/roça ou qualquer outro
uso.

A ocupação dos lotes de propriedade dos autores representa, do ponto de vista


fático, uma desapropriação indireta do imóvel, que recupera a função social da propriedade,
agindo os particulares em substituição ao Estado. Isso porque o Estado (em sentido amplo) se
revelou inerte em duas questões: a) na realização de políticas públicas efetivas de construção
de moradias dignas para a população; b) no que diz respeito à exigência plena das finalidades
sociais das propriedades privadas.

Em casos como tais, mostra-se viável ao proprietário a possibilidade de acionar


judicialmente o Estado para pleitear o recebimento de indenização equivalente ao valor de
mercado do imóvel, que, então, deve ser desapropriado para atender sua função social, acaso
demonstrada, sob o crivo dos princípios constitucionais do processo, a responsabilidade
estatal. Eis a solução mais equânime e menos traumática, dado o ponto a que chegou o local,

1005900-93.2014.8.26.0506 - lauda 10
fls. 2407

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


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faticamente um bairro de grande extensão (pois conta com serviço de posto de saúde, serviços
públicos de fornecimento de água e energia, atendimento pelos Correios, etc – fls.
2.295/2.307).

A área cuja posse se pretende nesse processo se transformou em um dos


muitos bairros habitados por população de baixa renda de Ribeirão Preto. A partir da inação
do Estado em criar as condições de moradia para milhares de pessoas em situação de

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vulnerabilidade sócio-econômica, estas, por necessidade, acabaram por praticar o ato de
invasão e consequente desapropriação dos imóveis, compartilhando o espaço de forma a
permitir uma moradia minimamente digna (vide as inúmeras fotografias juntadas).
A partir da inércia estatal, parte da população fez uso de um dos instrumentos
que, a princípio, só ao Estado é permitido, o de desapropriação de área que não cumpre sua
função social.
Nestes autos se contempla verdadeira impossibilidade de reintegração de posse
ante o tempo e a situação hoje consolidados, cabendo aos autores, como forma de não serem
lesados e, diante da eventual responsabilidade do Estado, propor a ação de reparação que
permita recompor, pela via da indenização, seu patrimônio.
A lide envolve particulares que tiveram suas terras não edificadas ou usadas
para qualquer finalidade que atendesse à função social (ao menos pelo que dos autos consta)
invadidas e um grupo de mais de três mil pessoas que ali se fixaram por não ter outro lugar
para ficar. Nesse caso estão em conflito o direito à propriedade, a função social que tal direito
deve atender e o direito à moradia, não podendo prevalecer o primeiro (diante do inadequado
exercício do direito, em desconformidade com o mandamento constitucional).
A questão fática (existência de praticamente um bairro) está consolidada há
bastante tempo.
Caso entenda pertinente, poderá a parte autora se valer da indenização contra
quem também deu causa, com sua desídia, ao estado de coisas a que chegou o loteamento em
questão.
Não atende aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade a decisão
estatal que, para salvaguardar a tutela da posse dos autores, determina seja colocado abaixo
um bairro inteiro, com desalojamento de três mil pessoas, quando se revela outra solução mais
afinada com os ditames da Justiça, isto é, a desapropriação do imóvel com o pagamento da

1005900-93.2014.8.26.0506 - lauda 11
fls. 2408

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indenização a quem de direito.
Por esses motivos é que a improcedência do objeto remanescente (da matéria
não decidida com trânsito em julgado) se impõe.

Posto isso, JULGO IMPROCEDENTE a ação, naquilo que ainda não foi
decidido, com fundamento no art. 487, inc. I, do CPC.

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Sucumbentes, condenos os autores ao pagamentos das custas e despesas do
processo, além de honorários de sucumbência, que fixo em 10% sobre o valor da causa.

P.I.

Ribeirão Preto, 11 de dezembro de 2019.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

1005900-93.2014.8.26.0506 - lauda 12

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