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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2014.0000299798

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0420503-08.1985.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é
apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, é apelado
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO USP.

ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Não Conheceram
do recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos.


Desembargadores JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES (Presidente), JOSÉ
JOAQUIM DOS SANTOS E ALVARO PASSOS.

São Paulo, 20 de maio de 2014.

José Carlos Ferreira Alves


RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação Cível n° 0420503-08.1985.8.26.000

Apelante: Prefeitura Municipal de São Paulo

Apelado: Universidade de São Paulo

Comarca: São Paulo

MM. Juiz de 1ª Instância: Homero Maion

VOTO nº 17912

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL Ação originalmente


proposta como arrecadação de bens de herança
jacente Herdeiro localizado durante o trâmite do
processo Processo alterado para arrolamento de
bens Sentença proferida como se se tratasse da
demanda original Sentença “extra petita”-
Anulação de ofício Recurso não conhecido.

RELATÓRIO.

1. Trata-se de recurso de apelação de fls. 424/427

interposto pela Municipalidade de São Paulo contra a r.

sentença de fls. 417/419, cujo relatório se adota, que declarou

“vacante para todos os devidos fins a herança deixada por

Júlio Augusto” (falecido aos 04.8.1972) e adjudicou à

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Universidade de São Paulo a metade dos direitos sobre o

“terreno designado D-3 com frente para a Passagem B, atual

Rua Henock Gawendo nº 107, Jardim Sandra Regina, nesta

Capital”.

2. Irresignada, insurge-se a apelante alegando

sumariamente em suas razões recursais que a r. decisão

desacata o disposto no artigo 1.822 do Código Civil e

contradiz precedente do STJ. Aduz que os bens jacentes se

incorporam ao patrimônio público somente após o decurso

de cinco anos da sucessão, declarada a vacância. Sustenta,

ainda, a inaplicabilidade do princípio da saisine nos casos em

que o sucessor é o Poder Público. Nesse sentido, requer a

procedência do recurso para que lhe seja atribuída a metade

ideal do imóvel.

3. O recurso foi recebido no duplo efeito às fls. 435.

4. Contrarrazões não apresentadas.

5. O parecer da D. Procuradoria Geral de Justiça é pelo

desprovimento do recurso da Municipalidade, às fls.446/452.

FUNDAMENTOS.

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6. O recurso não pode ser conhecido, tendo em vista que

a r. sentença é nula, pelos motivos que passo a expor.

7. Para melhor compreensão de todo o processado,

relato, a seguir, as principais ocorrências do processo.

8. Trata-se de ação inicialmente ajuizada aos 10.8.1972

como arrecadação de bens da herança jacente deixada por

Júlio Augusto, falecido aos 4.8.1972 (fls. 9).

9. Durante o trâmite do processo, descobriu-se a

existência de um irmão do de cujus, Antônio Manoel Lopes,

que passou a integrar a lide, inclusive outorgando procuração

a advogado e prestando depoimento nos autos (fls. 99 e 109).

10. Diante disso, determinou-se a retificação de

distribuição, autuação e registro do processo, a fim de alterar-

se a demanda para arrolamento de bens (fls. 116vº e 117).

11. Intimado o herdeiro a comparecer em Juízo para assinar

o termo de compromisso do cargo de inventariante, apenas

peticionou nos autos, juntando procuração (fls. 127), sem mais

se manifestar. Em decorrência, o processo foi arquivado.

12. Passados seis anos, a Universidade de São Paulo

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requereu o desarquivamento dos autos e o prosseguimento

do processo, para arrecadação de bens da companheira do

de cujus.

13. Aos 3.2.1989, foi declarada vacante a herança deixada

por Gracinda Rosa Cristina (fls. 335vº) e, aos 17.8.1990, foi

homologada a adjudicação da metade ideal dos direitos

referentes ao imóvel situado na rua Henock Gawendo nº 107,

Jardim Sandra Regina, Sapopemba, nesta Capital, em favor

da Universidade de São Paulo (fls. 348).

14. Na sequência, tentou-se localizar o herdeiro, Antonio

Manoel Lopes, para que desse regular andamento ao

processo de arrolamento dos bens deixados por Julio Augusto,

porém, sem sucesso.

15. Em razão da não localização do herdeiro, o processo

voltou a tramitar, contudo, como se se tratasse de

arrecadação de bens de herança jacente e assim foi

sentenciado.

16. Ocorre que, como visto, não se trata de demanda de

arrecadação de bens de herança jacente, como

originalmente proposta, mas, sim, de arrolamento de bens,

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tendo em vista a existência de herdeiro do falecido Julio

Augusto.

17. Tem-se, pois, que a r. sentença é extra petita, pois

distanciou-se do pedido e da causa de pedir.

18. Friso que, originalmente, o pedido era de arrecadação

de bens de herança jacente e a causa de pedir a ausência

de herdeiros do de cujus Julio Augusto. Porém, com a

descoberta do herdeiro Antonio Manoel Lopes, passou a ter

como pedido o arrolamento de bens deixados por Julio

Augusto e como causa de pedir o seu falecimento.

19. Nesse sentido, Daniel Amorim Assunção Neves discorre

que “A sentença 'extra petita' é tradicionalmente considerada

como a sentença que concede algo diferente do que foi

pedido pelo autor. O art. 286, 'caput', do CPC exige do autor

que o pedido formulado seja certo, regra aplicável ao pedido

imediato e mediato, sendo que a sentença que não respeita

a certeza do pedido gera vício que a torna nula, sendo 'extra

petita' sempre que conceder ao autor algo estranho à

certeza do pedido. Sentença 'extra petita' é, portanto,

sentença que concede tutela jurisdicional diferente da

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pleiteada pelo autor, como também a que concede bem da

vida de diferente gênero daquele pedido pelo autor” (in

“Manual de Direito Processual Civil”, volume único, 3ª edição,

2011, Editora Método, pág. 518).

20. pelo meu voto, pois, NÃO CONHEÇO do recurso e, de

ofício, ANULO A R. SENTENÇA, nos termos da fundamentação

supra.

JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES


RELATOR

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