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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000977993

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1500748-94.2020.8.26.0603 e código 17AC7E19.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº 1500748-


94.2020.8.26.0603, da Comarca de Valparaíso, em que são apelantes DOUGLAS
CARLOS DE OLIVEIRA SANTOS e JENNIFER JEANE ALVES PEREIRA, é
apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 8ª Câmara de Direito


Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
REJEITARAM as preliminares suscitadas e, no mérito, NEGARAM
PROVIMENTO aos recursos interpostos pelas defesas de DOUGLAS CARLOS

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por SERGIO ANTONIO RIBAS, liberado nos autos em 30/11/2021 às 20:18 .
DE OLIVEIRA SANTOS e JENNIFER JEANE ALVES PEREIRA, mantida a
r. decisão por seus próprios fundamentos. V.U., de conformidade com o voto do
relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores SÉRGIO RIBAS


(Presidente), MAURICIO VALALA E JUSCELINO BATISTA.

São Paulo, 30 de novembro de 2021.

SÉRGIO RIBAS
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
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Voto nº 45.826 – Valparaiso

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8ª Câmara Criminal
Relator: Sergio Ribas
Apelação n° 1500748-94.2020.8.26.0603
Apelantes: Douglas Carlos de Oliveira Santos
Jennifer Jeane Alves Pereira
Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por SERGIO ANTONIO RIBAS, liberado nos autos em 30/11/2021 às 20:18 .
Vistos.

Trata-se de apelação criminal, interposta por


Douglas Carlos de Oliveira Santos e Jennifer Jeane Alves Pereira contra a r.
sentença de fls. 483/494, cujo relatório se adota, que julgou procedente a ação
penal e os condenou, cada qual, como incursos no artigo 33, “caput”, c.c.
artigo 40, inciso V, ambos da Lei nº 11.343/06, impondo-lhes a pena privativa
de liberdade de 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão em regime inicial
fechado e o pagamento de 583 (quinhentos e oitenta e três) dias-multa, no piso.

A Defesa da acusada, inconformada, apelou, com


razões recursais às 497/517, nas quais suscita, preliminarmente, o direito de
recorrer em liberdade. No mérito, busca a absolvição por ausência de provas,
com fundamento no artigo 386, inciso VII, do CPP. Subsidiariamente,
pretende: a) a redução da pena-base no mínimo legal, o reconhecimento da
confissão espontânea e menoridade relativa, a aplicação das causas de
diminuição de pena previstas no artigo 42 (semi-imputabilidade) e a incidência
no §4º do artigo 33 da Lei de Drogas; o afastamento da causa de aumento de

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pena prevista no inciso V do artigo 40 da Lei nº 11.343/06. Por fim, busca a

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fixação do regime inicial aberto e f) substituição da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos

Por sua vez, a Defesa de Douglas, com razões


recursais às fls. 569/579, requer, preliminarmente, o direito de recorrer em
liberdade e o reconhecimento de nulidade por ausência de fundamentação
quanto à fixação do regime inicial. No mérito, pretende a redução da pena-
base no mínimo legal; o reconhecimento das circunstâncias atenuantes de

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confissão espontânea e menoridade relativa, a aplicação da causa de
diminuição prevista no §4º do artigo 33 da Lei de Drogas. Por derradeiro,
postula a fixação de regime aberto e a detração penal.

Recursos regularmente processados e contrariados


pelo Ministério Público (fls. 630/643)

Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de


Justiça manifestou-se às fls. 662/678, apresentando parecer não provimento
dos apelos defensivos.

É o relatório.

Consta dos autos que, DOUGLAS e JENIFER


pegaram a referida droga na cidade de Campo Grande, Estado do Mato Grosso
do Sul, com o fim de levá-la até a cidade de Brasília/DF, para posterior entrega
a pessoa não identificada. Para tanto, acondicionaram os dois invólucros
plásticos contendo a droga “maconha”, na forma de “skank”, cada qual em um
travesseiro.

Após o recebimento das drogas, os denunciados


ingressaram no ônibus que fazia a rota de Campo Grande/MS para
Brasília/DF, e colocaram os travesseiros com o entorpecente na parte superior
do ônibus.
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A conduta típica apenas se encerrou quando o

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ônibus foi parado pela Polícia Militar Rodoviária da base da cidade de
Valparaíso. Em fiscalização no interior do veículo, policiais militares
rodoviários perceberam que os acusados estavam muito nervosos. Diante
desta conduta, os policiais vistoriaram a bagagem dos denunciados, a qual
estava no bagageiro superior do ônibus. Durante a inspeção, os policiais
localizaram as duas porções da droga no interior de travesseiros.

Os denunciados foram presos em flagrante delito e

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encaminhados à Delegacia de Polícia. Interrogados, ambos permaneceram em
silêncio (fls. 08 e 09).

Posteriormente, a acusada JENNIFER foi


encaminhada para a Penitenciária feminina de Tupi Paulista, trazendo em sua
região genital, um invólucro plástico, contendo a droga “maconha”.

A conduta típica apenas se encerrou quando, ao


passar pelo aparelho “bodyscanner”, agentes de segurança penitenciária
verificaram que havia um objeto estranho na região genital da acusada Jennifer
e a indagaram sobre os fatos. Na ocasião, a denunciada confessou que ao ser
presa em flagrante e sem ter onde colocar a porção da citada droga a inseriu
em sua vagina.

Estes são os fatos.

Inicialmente, em relação às alegações de nulidade


do feito, em razão de falta de fundamentação quanto a fixação do regime
fechado, verifica-se que tal inconformismo não merece prevalecer, eis que a
decisão, ainda que concisamente, bem motivou a fixação de regime prisional
mais gravoso.

Ora, não se confunde falta de fundamentação com


motivação sucinta. Aquela enseja a nulidade da r. decisão, esta não.
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Confira-se:

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“HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE
MUNIÇÃO DE USO PERMITIDO. SENTENÇA CONDENATÓRIA
FUNDAMENTADA. MOTIVAÇÃO SUCINTA. ART. 93, INCISO IX, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
EVIDENCIADO. 1. O Juízo sentenciante, ao contrário do aventado na
impetração, ainda que de forma concisa, procedeu à análise da prova carreada
aos autos, formando seu livre convencimento e concluindo pela existência de

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autoria e materialidade assestadas ao paciente, fundamentando a condenação
na sua confissão. 2. Tendo a sentença condenatória, ainda que de maneira
sucinta, apresentando fundamentação baseada em prova produzida no seio da
ação penal - confissão do paciente -, observa-se que aquela se encontra em
conformidade com o art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, motivo pelo
qual não se vislumbra o aventado constrangimento ilegal a ensejar a sua
nulidade” (STJ Rel. Ministro Jorge Mussi 5ª Turma HC nº 222758/MS
DJe 29/03/2012).

Na espécie, a decisão, ainda que de maneira


sucinta, não está eivada de nulidades, pois os termos, evidentemente, permitem
validar a decisão proferida não acolhendo as teses esposadas pela combativa
Defesa com relação ao regime prisional fixado.

Com relação ao pedido de apelo em liberdade resta


prejudicado com o presente julgamento, além de inadequada a via eleita.

Desse modo, rejeito as preliminares arguidas.

No mérito, tanto a materialidade delitiva quanto a


autoria restaram bem delineadas.

A acusada Jennifer, por seu turno, em Juízo, disse


que os travesseiros eram seus, mas que não tinha conhecimento de que
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Douglas trazia drogas no interior dos objetos. No que se refere à droga

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encontrada com ela no momento que deu entrada a penitenciaria, confirmou
que é usuária de maconha e essa droga era dela. Acrescentou que faz
tratamento para sua depressão e vicio em entorpecentes desde a adolescência
(sistema Virtual).

O réu Douglas, em Juízo, confirmou os fatos


narrados pela prefacial, afirmando que estava passando dificuldades. Afirmou
que um terceiro ofereceu a ele e a corré para transporte da droga, no que

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atenderam o pedido e que cada um receberia mil reais para tanto. No entanto
esclareceu que, no transporte, foram abordados por policiais (sistema virtual)

Por sua vez, o policial militar rodoviário Fausto


Benedito dos Santos esclareceu ter abordado o ônibus na base de Valparaíso e
fizeram entrevista com os passageiros. Esclareceu que quando foram falar com
os acusados, estes estavam nervosos e, ao serem indagados, afirmaram que
foram a Campo Grande/MS visitar um amigo, mas não conseguiram falar o
nome desse amigo, nem onde ele morava na cidade. Então fizeram buscas nos
pertences dos acusados encontrando nos travesseiros que o casal levava
consigo a droga embalada em fita e plástico (sistema virtual).

No mesmo sentido, essencialmente o relato do


policial rodoviário Leandro Pereira dos Santos (sistema virtual).

Por seu turno, as agentes penitenciarias


confirmaram que a acusada tentou ingressar no sistema prisional com drogas
em suas partes intimas.

E não é demais lembrar que depoimentos de


policiais, civis ou militares, são plenamente válidos como os de qualquer outra
testemunha, principalmente quando colhidos em juízo, sob o crivo do
contraditório.

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Vale dizer que os relatos das testemunhas de

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acusação, supra ilustrados, apresentam-se em total sintonia com aqueles
outrora ofertados pelas mesmas testemunhas, em sede policial, no calor dos
acontecimentos, além de encontrar perfeita ressonância com o quanto descrito
pela exordial acusatória.

Consigno não vislumbrar qualquer indício de que


tais testemunhas tivessem interesse em acusar caluniosamente o réu e, não há
nos autos elementos que indiquem perseguição policial, valendo lembrar, a

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propósito, que os policiais, funcionários públicos que são, gozam de fé pública
e seus depoimentos devem ser aceitos como verdadeiros, máxime quando
encontram eco nos demais elementos trazidos para o bojo do processo.

E não é demais lembrar que depoimentos de


policiais, civis ou militares, são plenamente válidos como os de qualquer outra
testemunha, principalmente quando colhidos em juízo, sob o crivo do
contraditório.

Confira-se:

“Os policiais não se encontram legalmente


impedidos de depor sobre atos de ofício nos processos de cuja fase
investigatória tenham participado, no exercício de suas funções, revestindo-se
tais depoimentos de inquestionável eficácia probatória, sobretudo quando
prestados em juízo, sob a garantia do contraditório. Precedentes” (STJ Rel.
Ministra Laurita Vaz 5ª Turma HC nº 223086/SP DJe 02/12/2013).

Ao que se observa, o conjunto probatório coligido,


sob o crivo do contraditório, é suficiente para incriminar o ora apelante,
mormente porque robustecido por informes do inquérito policial, constituindo,
pois, firmes elementos para convencimento do Juízo.

Por conseguinte, o delito de tráfico de entorpecente


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encontra-se devidamente comprovado pela prova oral e demais evidências

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constantes dos autos, porquanto as testemunhas de acusação deram detalhes
quanto as empreitadas criminosas, não havendo que se falar em absolvição por
insuficiência probatória.

Inviável, de igual forma, a desclassificação para o


delito previsto no artigo 28, da Lei n. 11.343/06, na medida em que
surpreendidos os acusados em flagrante delito, em atos típicos da mercancia
ilícita, evidente que suas condutas se subsumem ao tipo penal previsto no art.

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33, caput, da lei de drogas, não havendo que se cogitar em desclassificação
deste delito para o delito descrito no artigo 28, da Lei n. 11.343/06.

Importa destacar também, que, por um lado, a


alegação de ser usuário de drogas certamente não impede a prática do crime
em apreço, sendo cediço que não raro os usuários se valem da mercancia ilícita
justamente para sustentar o próprio vício e, por outro, desnecessária a prova de
efetivos atos de comércio por parte dos réus, haja vista que o mero fato de
trazer consigo, armazenar ou ter em depósito entorpecentes, para tal finalidade,
é suficiente à incidência do tipo penal em comento.

As circunstâncias da prisão em flagrante, a


apreensão de drogas, a forma de acondicionamento e demais evidências
trazidas aos autos, tornam evidente que o entorpecente se destinava ao tráfico
ilícito de entorpecentes, não havendo nenhuma inverossimilhança nos
depoimentos dos agentes da Lei.

E, quanto a pretensão de semiimputabilidade da


acusada bem salientou o Dr. Procurador de Justiça que: No mais, a alegação
de que a Recorrente Jennifer é usuária de drogas e portadora de síndrome de
borderline, de automutilação, e, portanto, semiimputável, implica na inversão
do ônus probandi nos termos do artigo 156 do Código de Processo Penal.
Assim, caberia à defesa provar sua alegação, ônus do qual não se
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desincumbiu. Não se ignora os documentos apresentados; entretanto, o MM.

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Juízo a quo, de forma fundamentada, indeferiu o pleito de reconhecimento da
semiimputabilidade, in verbis: “...Inicialmente, cumpre consignar que não há
nos autos qualquer dúvida a respeito da integridade mental e do poder de
autodeterminação da acusada, ou, ainda, evidência de ter agido em virtude de
dependência do uso de droga, pelo que não se mostra possível o
reconhecimento de sua inimputabilidade ou semi-imputabilidade. O
reconhecimento de tal exculpante reclama mínima demonstração de que a
conduta tenha sido praticada sob influência de substâncias psicoativas que

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tenham subtraído a capacidade de discernimento e de autodeterminação, o
que não é a hipótese dos autos...” (fls. 484/485). Logo, se presente a mínima
dúvida acerca da higidez mental da Apelante Jennifer, o Magistrado, que
manteve com ela contato direito em audiência, teria determinado a
instauração do respectivo incidente (providencia, aliás, não requerida pela
Defesa) conforme lhe autoriza o artigo 149 do Código de Processo Penal, mas
este não foi o caso.

Sem fomento, de igual forma, o pedido de redução


das penas impostas.

Na primeira fase, as penas-base de cada qual foram


fixadas nos pisos mínimos legais, por entender o Julgador que os Apelantes
agiram com dolo normal à espécie e pelas circunstâncias judiciais que se
apresentaram favoráveis aos réus, sendo as reprimendas fixadas em 05 anos de
reclusão e 500 dias-multa.

Em segunda fase, ausentes agravantes e quanto a


Jennifer presente a atenuante da menoridade relativa, pois era menor de 21
anos, à época dos fatos e da confissão espontânea de Douglas. Portanto, à luz
do disposto na súmula 231 do STJ, as penas não poderiam ser reduzidas
aquém dos pisos mínimos legais.

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Na terceira fase, inviável o afastamento da causa de

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aumento de pena, prevista no artigo 40, inciso V, da Lei 11.343/06, com a
consequente majoração da pena para 5 anos e 10 meses, além de 583 dias-
multa, fixados no mínimo legal.

Com efeito, o ônibus em que os apelantes foram


presos tinha o itinerário de Campo Grande/MS a Brasília/SP. E eles disseram
que estiveram na casa de um amigo no Estado do Mato Grosso do Sul, mas
sequer souberam indicar quem foram visitar.

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Assim é que a versão dos fatos constantes da
prefacial foram devidamente comprovadas no curso da instrução criminal que
os acusados embarcaram na cidade de Campo Grande/MS e já se encontravam
no Estado de São Paulo quando foram presos em flagrante delito, ficando,
pois, bem caracterizada a causa de aumento de pena prevista no artigo 40,
inciso V, da Lei 11.343/06, pois caracterizado o tráfico entre Estados da
Federação.

Por fim, inviável, em terceira fase, a aplicação do §


4º, artigo 33, da Lei de Drogas, tendo em vista que há evidências de
participação dos acusados ao exercício de atividades criminosas, devendo ser
registrado que eles transportavam drogas por dois Estados da Federação, em
quantidade considerável. Nesse contexto, inaplicável a causa de diminuição da
pena prevista no art. 33, §4º, da Lei de Drogas.

Assim, não obstante o entendimento diverso


firmado pelas percucientes Defesas, foi correto o entendimento esposado, pois
são quatro são os requisitos para aplicação da minorante prevista no §4º, art.
33, da Lei de Drogas, quais sejam, ser o agente primário e possuir bons
antecedentes, não se dedicar a atividades criminosas e igualmente não integrar
organização criminosa, sem se afastar do disposto no artigo 42 da Lei
11.343/2006.
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Tais requisitos são cumulativos e a ausência de

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qualquer um deles obsta a configuração do redutor da pena. Na espécie,
inviável a aplicação da benesse ante o fato de haver evidências de a acusada se
dedicar a atividades criminosas.

Também deve ser mantido o regime fechado para


início de cumprimento das penas impostas, com espeque nas circunstâncias da
prisão e demais evidências constantes do caderno processual, que revelam a
gravidade concreta do comportamento e, por isso, evidenciam a necessidade

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de tratamento penal enérgico.

De igual modo, não há que se falar em substituição


da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, já que as penas
impostas ultrapassam o limite de 04 (quatro) anos previsto no art. 44 do
Código Penal. Independente disso, por tudo o que já foi aduzido, conclui-se
que a benesse não seria socialmente recomendável à situação peculiar dos
autos, ou seja, evidentemente estão ausentes os requisitos objetivo e subjetivo
para a concessão da benesse

Por fim, em que pese o acusado estar preso


cautelarmente por certo período, não há quaisquer notícias nestes autos de seu
comportamento carcerário. Em resumo, a defesa não se desincumbiu do ônus
de comprovar se réu mantive boa conduta na situação de preso provisório.

E, frise-se, para a progressão de regime, além do


requisito objetivo, há necessidade de analisar-se o mérito do preso (bom
comportamento no cárcere).

Nesse sentido:

“Anote-se, finalmente, que, a despeito do disposto


no art. 387, § 2º, do Código de Processo Penal, a possibilidade de progressão
de regime depende, além do lapso temporal legalmente exigido, da apreciação
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dos requisitos subjetivos para a concessão do benefício, o que indica que a

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análise só pode ser feita em sede de execução” (TJSP Rel. Dr. Alexandre
Almeida 4ª Câmara Criminal Extraordinária j. 27/04/2016).

Logo, diante da impossibilidade de averiguar-se, na


presente situação, o requisito subjetivo da progressão de regime, a detração
penal deve ser mais bem analisada pelo Juízo das Execuções, o qual detém
maiores informações sobre os apenados.

Via de consequência, REJEITO as preliminares

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suscitadas e, no mérito, NEGO PROVIMENTO aos recursos interpostos pelas
defesas de DOUGLAS CARLOS DE OLIVEIRA SANTOS e JENNIFER
JEANE ALVES PEREIRA, mantida a r. decisão por seus próprios
fundamentos.

SÉRGIO RIBAS
Relator

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