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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

NBL
Nº 70070081740 (Nº CNJ: 0218368-10.2016.8.21.7000)
2016/CRIME

HABEAS CORPUS. CONCUSSÃO, ORGANIZAÇÃO


CRIMINOSA E USURPAÇÃO DE FUNÇÃO.
PACIENTE ADVOGADA QUE, PRESA
PREVENTIVAMENTE, ENCONTRA-SE RECOLHIDA
EM UNIDADE MATERNO-INFANTIL DA
PENITENCIÁRIA FEMININA DE GUAÍBA.
INCONFORMIDADE COM O LOCAL DE
RECOLHIMENTO. PRISÃO PROVISÓRIA MANTIDA.
PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES.
NO ENTANTO, O LOCAL DE CUMPRIMENTO DE
DITA PRISÃO DEVE SER ALTERADO. É DIREITO
DO ADVOGADO NÃO SER RECOLHIDO PRESO
ANTES DE SENTENÇA TRANSITADA EM
JULGADO, SENÃO EM SALA DE ESTADO MAIOR.
INTELIGÊNCIA DO INCISO V DO ARTIGO 7º DO
ESTATUTO DA OAB. O LOCAL NÃO APRESENTA
CONDIÇÕES DE HIGIENE, SALUBRIDADE E DE
DIGNIDADE EQUIVALENTES AS QUE UMA SALA
DE ESTADO-MAIOR PODERIA OFERECER.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL VERIFICADO.
ORDEM CONCEDIDA.

HABEAS CORPUS QUARTA CÂMARA CRIMINAL

Nº 70070081740 (Nº CNJ: 0218368- COMARCA DE ALVORADA


10.2016.8.21.7000)

DANIEL MARQUES QUINTINO IMPETRANTE

GRAZIELE DA SILVA BATISTA PACIENTE

JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL COATOR

ACÓRDÃO
Acordam, os Desembargadores integrantes da Quarta Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, à
unanimidade, em conceder a ordem para determinar a transferência de
GRAZIELE DA SILVA BATISTA para o 4° Regimento de Polícia Montada de
Porto Alegre (4° RPMON), e, na hipótese de no referido local inexistir vaga
para agentes detentores de prerrogativas legais detidos preventivamente, a
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ela assegurar desde já o direito à prisão domiciliar, mediante o cumprimento


das condições seguintes: proibição de ausentar-se da residência sem prévia
autorização judicial, manutenção do endereço atualizado nos autos, e
comparecimento a juízo sempre que intimada, sob pena de revogação da
medida.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DES. ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE NETO
(PRESIDENTE) E DES. JULIO CESAR FINGER.
Porto Alegre, 28 de julho de 2016.

DES. NEWTON BRASIL DE LEÃO,


Relator.

RELATÓRIO
1. Trata-se de Habeas corpus, impetrado em favor de
GRAZIELE DA SILVA BATISTA, presa preventivamente, pela prática dos
ilícitos previstos no artigo 316, caput, do Código Penal (1º, 2º e 3º fatos),
artigo 328, parágrafo único, do Código Penal (4º fato), e artigo 2º, § 4º, inciso
II, da Lei n.º 12.850/13 (7º fato), ocorridos entre os meses de março e junho
do corrente ano, em Alvorada e Viamão/RS.
Sustenta, o impetrante, que a paciente tem direito de ser
transferida para sala de Estado-Maior, ou, na falta desta, permanecer em
seu domicílio, com cumprimento das condições da prisão domiciliar. Aponta,
alem disso, ilegalidades no decreto preventivo.
O pedido liminar foi indeferido, e as informações prestadas.
A Dra. Procuradora de Justiça opina pela denegação da ordem.
É o relatório.
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VOTOS
DES. NEWTON BRASIL DE LEÃO (RELATOR)
2. Conforme referi nos autos do Habeas corpus nº
70069974533, a presente medida irá se reportar às alegações relacionadas
ao decreto preventivo em si, e à forma de cumprimento da prisão provisória
nele determinada.
Pois bem.
A paciente, advogada militante em Alvorada, teve contra si
decretada prisão preventiva, em razão da suposta prática dos delitos
previstos no artigo 316, caput, do Código Penal (1º, 2º e 3º fatos), artigo 328,
parágrafo único, do Código Penal (4º fato) , e artigo 2º, § 4º, inciso II, da Lei
n.º 12.850/13 (7º fato).
Conforme consta dos autos, a investigação promovida pela 1.ª
Promotoria de Justiça Criminal da Comarca de Alvorada, denominada
Operação Depuração, teria revelado que a paciente, em comunhão de
esforços com o Delegado de Polícia Eduardo Luis Correa de Moraes, os
policiais civis Aurino Ezequiel Medeiros de Almeida, Carin dos Santos
Richter e Valdeci João de Oliveira, e o ex-policial militar Antônio Vergílio
Fortes Martins, desvirtuando da sua profissão de advogada, exigia, para si e
para estes, direta e indiretamente, vantagem indevida de familiares de
presos (clientes). Tudo no âmbito da Delegacia de Polícia de Pronto-
Atendimento de Alvorada – DPPA.
Esses são, em apertada síntese, os fatos envolvendo a
paciente.
A respeito dos fatos e da necessidade de manutenção da sua
prisão cautelar, transcrevo excerto da decisão que indeferiu o pedido liminar
em sede de plantão jurisdicional, adotando os seus fundamentos como
razões de decidir (fls. 14/20):
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“(...) Analisando detidamente os documentos que acompanham o


expediente, verifica-se que o processo de 1º grau, autuado sob o número
003/2.16.0004314-4, originou-se de procedimento investigatório instaurado pela 1ª
Promotoria de Justiça Criminal de Alvorada, denominada “Operação Depuração”.

A referida investigação dá conta da prática, em tese, dos crimes de


concussão (artigo 316 do Código Penal), usurpação de função pública (artigo 328
do Código Penal), violação de sigilo profissional (artigo 325, §1º, do Código Penal)
e organização criminosa (artigo 2º, §§3º e 4º, inciso I, da Lei nº 12.850/2013), entre
os dias 25/04/2016 e 27/05/2016, por seis representados, dentre os quais a
paciente.

Em síntese, a investigação retrata que, no âmbito da Delegacia de


Pronto Atendimento de Alvorada, Delegado de Policia, policiais civis e a advogada
exigiam, durante conduções de flagrantes, importâncias dos conduzidos e seus
familiares para assegurar suas liberdades. Os valores exigidos abarcavam o
arbitramento de fiança e a importância a ser recebida “por fora” pelos agentes, que
lavraram auto de prisão de fiança com valor abaixo do que o efetivamente pago
pelos conduzidos.
A prisão preventiva da paciente Graziele da Silva Batista foi
decretada na forma dos artigos 312 e 313 do Código de Processo Penal.
analisando com atenção seus fundamentos, entendo que o ‘decisum’ é irretocável,
ao menos em sede de plantão, havendo suficientes razoes para a manutenção da
segregação cautelar operada em desfavor da paciente.

Verifica-se indícios suficientes de que a paciente tenha exigido, para


si ou para outrem, direta e indiretamente, em razão da condição de policiais civis de
outros representados vantagem indevida consistente em dinheiro. Segundo trecho
do decreto preventivo,

‘(...) a representada GRAZIELE DA SILVA BATISTA,


advogada, ao teve sua presença solicitada por
quaisquer dos flagrados naquela ocasião. Ainda
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assim, sua presença foi providenciada pelos


representados AURINO, EZEQUIEL e FORTES, com
pela aquiescência do Delegado, aqui também
representado, EDUARDO LUIZ CORREA DE
MORAES. Ela direcionou-se aos flagrados e aos seus
familiares, sendo que formulou exigência de
pagamento de fiança, nos mesmos patamares que os
correpresentados. Conforme relatos, ela até mesmo
ingressava na cela em que colocados os flagrados,
assim como negociava com familiares no interior da
DPPA, inclusive na companhia de AURINO e
FORTES. A advogada representada, contudo, sequer
acompanhou os depoimentos dos flagrados, os quais
negaram que tivessem solicitado seus préstimos,
sendo que sua assinatura não foi posta no APF de fls.
16/51, não havendo qualquer justificativa, senão
envolvimento no ilícito ora perquirido, para fazer-se
presente nas tratativas acima elucidadas. (...)
GRAZIELE DA SILVA BATISTA, advogada, mesmo
sem ser contratada pelos flagrados era habitualmente
indicada para negociar os valores a serem pagos
como fiança, aparentemente, com plena ciência da
trama ilegal urdida pelo Delegado, Policiais civis e
particulares representados (...)’

Destaca-se que os depoimentos testemunhais de conduzidos e de


seus familiares, a quem teriam sido exigidos valores indevidos, bem como
interceptações telefônicas, embasam o decreto preventivo. A paciente foi
reconhecida por testemunhas como a agente que negociava, juntamente com
outros representados, os valores de fiança com conduzidos, mesmo não os
representando legalmente.
Verifica-se, nesse contexto, provas da materialidade e indícios
suficientes de autoria, os quais constituem o ‘fumus comissi delicti’, requisito
descrito no artigo 312 do Código de Processo Penal.

Constato, igualmente, o ‘periculum libertatis’. Isso porque os fatos


são graves, envolvendo agentes públicos e procedimentos legais no âmbito de uma
Delegacia de Polícia. As investigações revelam que, utilizando da relevância social
da função de advogada, a paciente teria participado de organização criminosa
voltada a obtenção de vantagens indevidas.
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O delito de organização criminosa, imputado à paciente, possui pena


máxima de 08 anos de reclusão, perfazendo o requisito do artigo 313, inciso I, do
Código de Processo Penal.
Alem disso, as práticas delitivas eram consumadas em meio a
procedimentos de flagrantes delitos em Delegacia de Polícia, em total
inobservância dos ditames legais, inclusive possibilitando que conduzidos que
deveriam estar em custodia, fossem soltos.
Há nítido abalo à ordem pública e risco à instrução criminal com a
liberdade da paciente.
Nesse sentido:

HABEAS CORPUS CRIMES CONTRA O


PATRIMÔNIO. ESTELIONATO. CRIME DE
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. CRIMES CONTRA A
FÉ PÚBLICA. FALSIDADE IDEOLÓGICA.
LEGALIDADE E NECESSIDADE DA PRISÃO
PREVENTIVA. PEDIDO DE EXTENSÃO DE EFEITOS
DA SOLTURA DO CORRÉU F.S.T. DETERMINADA
PELO STJ. INVIABILIDADE. Legalidade da prisão.
Investigação iniciada para apuração de delitos contra a
administração pública, contexto no qual decretada a
prisão preventiva do paciente. Superveniência de
denúncia imputando ao acusado a prática dos delitos
de organização criminosa e estelionato, inexistindo
contaminação da segregação cautelar analisada. Réu
que, consabidamente, se defende dos fatos narrados,
e não da capitulação elegida pelo Parquet, podendo a
definição jurídica, inclusive, ser alterada pelo
magistrado, se assim o entender adequado, conforme
facultado pelo art. 383 do CPP. Exame de precisão do
enquadramento típico que, no caso concreto,
demanda produção e aprofundada análise probatória,
incompatibilizando-se com o presente remédio
constitucional, ficando a cargo do comando sentencial,
dotado de cognição exauriente. Concurso de infrações
penais que, em qualquer dos cenários propostos,
perfaz os requisitos dos artigos 312 e 313, inciso I, do
Código Penal. Verificação do fumus comissi delicti e
do periculum libertatis. Elementos indiciários que
apontam para atitude ardilosa dos envolvidos,

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estabelecendo concorrência fictícia entre empresas,


por trás da qual solidificado verdadeiro conluio, com
profunda concatenação de propostas orçamentárias,
dando ensejo ao direcionamento do vencedor das
licitações pertinentes aos certames públicos, ficando
ao bel prazer dos integrantes da denominada "máfia" o
revezamento entre as pessoas jurídicas sintonizadas
com a associação. Condutas examinadas que
implicam afronta aos princípios mais basilares da
Administração Pública, estratificados no art. 37, caput,
da Constituição Federal, sob os conceitos de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência, em decorrência dos quais surge a lisura nos
concursos públicos, traduzida em medida de
efetivação e de proteção do acesso ao serviço público.
Paciente acusado de delito de falsidade ideológica, ao
remeter o e-mail acima mencionado, na condição de
sócio da empresa P. Mais Recursos Humanos Ltda.,
após sua exclusão da respectiva sociedade, fato
ocorrido em 24/06/2014, concedendo ares ainda mais
complexos à engenhosa atuação da associação.
Articulação da célula criminosa caracterizada pelo
elevado grau de sofisticação e de arraigamento,
mormente pelas informações de atuação em inúmeros
municípios gaúchos, atingindo uma vastidão de
certames e prejudicando diretamente um sem número
de candidatos, evidenciando real propensão à
reiteração criminosa, independentemente de eventual
condição de primariedade do denunciado. Existência
de eventuais condições pessoais favoráveis que, por si
só, não tem o condão de desc presentes os requisitos
autorizadores da medida extrema, como na hipótese
em tela. Justificação da segregação cautelatória para
garantia de ordem pública. Extensão de efeitos da
soltura do corréu. Impetrante que protocolou na data
de hoje pedido de extensão da soltura do corréu,
determinada pelo STJ em caráter liminar, no HC n.º
344.540/RS. Impossibilidade, porquanto a decisão
teve caráter pessoal, não cabendo ao Tribunal a quo
conceder efeito extensivo quando o Superior Tribunal
de Justiça não o fez. ORDENS DENEGADAS.
UNÂNIME. (Habeas Corpus Nº 70067035220, Sexta
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Ícaro Carvalho de Bem Osório, Julgado em
15/12/2015)

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Ressalto que a prisão preventiva, uma das espécies de prisão


provisória, permite determinar a inserção o cárcere antes do julgamento de fundo,
consubstanciado no juízo de valor sobre o mérito da causa. Por isso sua natureza é
cautelar e, em razão disso, não atenta contra o principio da presunção de
inocência.
Saliento que o fato de a paciente registrar condições pessoais
favoráveis não tem o condão, por si so, de afastar a necessidade da segregação,
ainda mais quando presentes os requisito que a autorizam.”

Além disso, conforme apontado pela Dra. Procuradora de


Justiça, em seu parecer das fls. 39/43, há nos autos informações que levam
à conclusão de possível reiteração criminosa por parte da paciente, de
acordo com o “destacado na decisão datada de 24.06.2016 (fls. 60/67 dos
autos principais):

[...] novos fatos, tão ou mais gravosos, teriam


exsurgido no desate das investigações. Constou que
depois de noticiada a Operação, várias testemunhas
sentiram-se seguras e procuraram a Promotoria de
Justiça e Delegacia de Polícia Metropolitana,
revelando outros casos envolvendo os acusados com
o mesmo ‘modus operandi’.
[...].
Acrescento, ainda, que a manifestação e
documentação trazida aos autos pelo Ministério
Público enuncia que a investigada Graziele, ao tomar
conhecimento, mesmo com o sigilo atribuído ao
expediente, da presente investigação, aparentemente,
agiu de forma a interferir na coleta de provas.
[...]
E o pior, relativamente à investigada Graziele:
Testemunha Sheila retornou à Promotoria de Justiça
nesta data e disse que, dias antes da prisão da
Advogada, esta em companhia de Fortes (investigado
que se encontra foragido) estiveram em sua casa
procurando por Sérgio e seus parentes. Recorda-se
que Sérgio sequer fiança recebeu, saindo solto aquele
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dia. No mesmo sentido, compareceu à Promotoria de


Justiça Claudete (nova testemunha), a qual, em
companhia de seu irmão Isaías (preso por roubo),
confirmou que Carin se identificava como Delegada da
repartição e, com Forte e Graziele, cobraram-lhe
quantia indevida para ser solto.
Vê-se, portanto, que além de indícios de tentativa de
influenciar no estado de espírito de vítimas e
testemunhas, ao descobrir ou desconfiar da
existência do presente expediente de investigação,
novos fatos exsurgiram indicando participação em
outros crimes correlatos por parte da advogada
GRAZIELE.

A manutenção da custódia cautelar, como se vê, é imperiosa,


na medida em que a liberdade da paciente, efetivamente, pode acarretar
irreparável prejuízo à coleta da prova.
Não por outra razão se mostra, no caso em apreço,
completamente inviável a aplicação de qualquer medida cautelar diversa da
prisão (artigo 319 do Código de Processo Penal).”

Pelos motivos retro, reputo adequado o manutenir da prisão


preventiva da paciente.
Em relação a inconformidade envolvendo o local em que a
paciente está recolhida para dar cumprimento à custódia, assiste razão ao
impetrante.
Diz o artigo 7º, inciso V, do Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil (Lei 8.906/94):

“Art. 7º São direitos do advogado:


(...)
V - não ser recolhido preso, antes de sentença
transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior,

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com instalações e comodidades condignas, e, na sua


falta, em prisão domiciliar;”        

O texto é claro, e não deixa margem a dúvidas: é prerrogativa


do advogado não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em
julgado, senão em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades
condignas.
Na hipótese dos autos, a paciente, advogada regularmente
inscrita na OAB/RS, sob o nº 99347, foi presa preventivamente em 17.06.16,
em razão da suposta prática dos delitos de concussão e organização
criminosa, previstos no artigo 316, caput, do Código Penal (1º, 2º e 3º fatos),
artigo 328, parágrafo único, do Código Penal (4º fato), e artigo 2º, § 4º, inciso
II, da Lei n.º 12.850/13 (7º fato).
Graziele foi encaminhada à Penitenciária Feminina de Guaíba.
Visando dar cumprimento ao direito inerente à função
profissional de Graziele, o Julgador determinou fosse transferida a local
separado das demais presas. De acordo com seu decidir, atualmente ela se
encontra recolhida em alojamento individual “localizado na Unidade Materno
Infantil desta Casa, ala designada apenas para apenadas gestantes, ala
esta ainda não ocupada. Este alojamento possui banheiro com chuveiro de
água quente (caldeira) e não possui grades. É ofertado, diariamente, todas
as refeições, tais como café da manhã, almoço, frutas e janta com café e
pão, bem como pátio de sol.” (...) “trata-se de um espaço com
aproximadamente 20 m2, com banheiro privativo, o que se revela razoável,
confirmando que a investigada encontra-se apartada das demais apenadas,
nos períodos de confinamentos” (fls. 32-v e 33).
O Julgador a quo, após insurgências defensivas acerca das
instalações, determinou a realização de levantamento fotográfico no local em

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que foi ela recolhida, para verificar a veracidade das informações prestadas.
As fotografias foram juntadas às fls. 74/76.
Não obstante as providências adotadas pelo Julgador a quo, no
sentido de tentar garantir que a paciente permanecesse recolhida em local
com instalações e comodidades condignas, e que cumprissem as mesmas
funções da sala de Estado-Maior, há informações de que ela não está
recebendo o tratamento a que faz jus.
A OAB/RS, que tem acompanhado a situação da paciente,
peticionou nos autos a fim de informar a situação constatada por ocasião de
duas visitas. Transcrevo excerto do relatado:

“(...) a profissional encontra-se em uma cela em precárias


condições de higiene, exposta a um ralo aberto que exala odor fétido
próximo aos alimentos dos quais é necessário armazenar em face da
carência de recursos da casa prisional. Ao mesmo passo, constatou-se que
a advogada tem direito a banho de sol uma vez por dia em local que não
ultrapassa de cinco metro quadrados, podendo locomover-se somente com
o uso de algemas. (...) o chuveiro nem sempre é quente, que a advogada
por vezes não toma banho, pois a água ou é gelada ou é escaldante, que a
cama onde dorme possui um colchão de espuma com espessura fina,
dormindo praticamente sobre madeiras.”
Pois bem.
Como sabido, a cela “tem como finalidade típica o
aprisionamento de alguém - e, por isso, de regra contém grades”,
representando, a sala de Estado-Maior, um “espaço separado localizado em
unidades prisionais e que assegurem instalações e comodidades
adequadas à higiene e segurança do advogado”.

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Trata dessa questão em específico a Reclamação 4.535/ES,


julgada na Suprema Corte pelo Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE:

I. Reclamação: alegação de afronta à autoridade da


decisão plenária da ADIn 1127, 17.05.06, red.
p/acórdão Ministro Ricardo Lewandowski:
procedência. 1.Reputa-se declaratória de
inconstitucionalidade a decisão que - embora sem o
explicitar - afasta a incidência da norma ordinária
pertinente à lide para decidi-la sob critérios diversos
alegadamente extraídos da Constituição. 2. A decisão
reclamada, fundada na inconstitucionalidade do art. 7,
V, do Estatuto dos Advogados, indeferiu a
transferência do reclamante - Advogado, preso
preventivamente em cela da Polícia Federal, para sala
de Estado Maior e, na falta desta, a concessão de
prisão domiciliar. 3. No ponto, dissentiu do
entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal
na ADIn 1127 (17.05.06, red.p/acórdão Ricardo
Lewandowski), quando se julgou constitucional o art.
7, V, do Estatuto dos Advogados, na parte em que
determina o recolhimento dos advogados em sala de
Estado Maior e, na sua falta, em prisão domiciliar. 4.
Reclamação julgada procedente para que o
reclamante seja recolhido em prisão domiciliar - cujo
local deverá ser especificado pelo Juízo reclamado -,
salvo eventual transferência para sala de Estado
Maior. II. "Sala de Estado-Maior" (L. 8.906, art. 7º, V):
caracterização. Precedente: HC 81.632 (2ª T.,
20.08.02, Velloso, RTJ 184/640). 1. Por Estado-Maior
se entende o grupo de oficiais que assessoram o
Comandante de uma organização militar (Exército,
Marinha, Aeronáutica, Corpo de Bombeiros e
Polícia Militar); assim sendo, "sala de Estado-
Maior" é o compartimento de qualquer unidade
militar que, ainda que potencialmente, possa por
eles ser utilizado para exercer suas funções. 2. A
distinção que se deve fazer é que, enquanto uma
"cela" tem como finalidade típica o aprisionamento
de alguém -e, por isso, de regra contém grades -,
uma "sala" apenas ocasionalmente é destinada
para esse fim. 3. De outro lado, deve o local oferecer
"instalações e comodidades condignas", ou seja,
condições adequadas de higiene e segurança.
(Rcl 4535, Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE,
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Tribunal Pleno, julgado em 07/05/2007, DJe-037


DIVULG 14-06-2007 PUBLIC 15-06-2007 DJ 15-06-
2007 PP-00021 EMENT VOL-02280-02 PP-00346).

Em que pese o local em que a paciente está recolhida não


possua grades, é como se em uma cela estivesse, na medida em que se
locomove somente algemada, conforme relato do representante da OAB/RS.
E, como referi anteriormente, não seria esse o tratamento que ela receberia
em uma sala de Estado-Maior.
Destaco meu entendimento de que, se o local em que o
advogado está preso provisoriamente cumpre a mesma função da sala de
Estado Maior, a ele oferecendo condições de higiene, comodidade e
tratamento condignas, não há porque ser transferido.
E nesse sentido já se posicionou o Supremo Tribunal Federal.
Em 18/03/2015 a Suprema Corte julgou improcedentes as
Reclamações nºs 5.826 e 8.853, apresentadas por dois advogados presos
preventivamente. Os reclamantes, discutindo as condições físicas do local
no qual estavam custodiados, sustentaram que sua permanência em
custodia implica em descumprimento da norma que lhes permite o
recolhimento em sala de Estado-Maior (artigo 7º, inciso V, do Estatuto da
Advocacia). Também alegaram desrespeito à decisão da ADIN nº 1.127.
O julgamento das reclamações iniciou em agosto de 2010,
tendo prevalecido, por maioria, o voto proferido pelo Ministro Dias Toffoli.
Apesar de abordar a questão atinente à sala de Estado-Maior, o Ministro não
analisou a situação específica dos presos, por entender que a reclamação
consistia via inadequada para análise do pretendido. No entanto, destaco
aqui o quanto dito por ele acerca do tema, por com tal entendimento
concordar.
Pois bem.

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O Ministro, diante da dificuldade em alcançar a definição de


sala de Estado-Maior, diligenciou junto ao Ministério da Defesa, o qual
declarou não existir, em seus regimentos, definição exata. No entanto,
assentou que “aglutinando os costumes da lide castrense e alicerçado na
definição de Estado-Maior, ou seja 'Estado-Maior – Órgão composto de
pessoal militar qualificado, que tem por finalidade assessorar o comandante
no exercício do comando' – glossário das Forças Armadas MD35-G-01 (4ª
Edição/2007), pode-se dizer que 'sala de Estado-Maior' é um compartimento
de qualquer unidade militar que possa ser utilizado pelo Estado-Maior para
exercer suas funções.”
Ainda, quando questionado o Ministério da Defesa acerca da
forma com que os militares tratam os advogados presos preventivamente,
assim respondeu: “no que tange a essa questão, informo que nas
instalações militares não existem compartimentos que ofereçam ambientes
adequados para o recebimento de pessoas com as qualificações citadas.
Quando ocorre a prisão de oficial, o usual é a separação de uma sala, onde
são colocados meios mínimos, para que o militar permaneça durante o
cumprimento da sanção disciplinar”.
Os trechos reproduzidos foram retirados do teor da
Reclamação nº 8853/GO, da qual entendo oportuno reproduzir o seguinte:

“Embora 'sala de Estado-Maior', em seu sentido estrito, apenas


exista dentro de instalações militares, é inegável que sua destinação única e
a existência de apenas uma dessas salas em cada unidade de comando ou
superior, inviabiliza a sua utilização para o encarceramento de integrante da
nobre classe dos advogados, sob pena de inviabilizar o próprio
funcionamento regular de nossas Forças Armadas; o próprio oficial, se
eventualmente restringido em sua liberdade de ir e vir, quando necessário,

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permanece confinado em ambientes dotados de meios mínimos ao


cumprimento da sanção.
Assim, penso, em conformidade com o que igualmente expôs o
ilustre Procurador-Geral da República, que tal como se dá em relação aos
Magistrados e Membros do Ministério Público, na hipótese de prisão
provisória, devem ser assegurados aos advogados instalações condignas
com o seu grau, sejam elas em estabelecimento castrense ou não, dotadas
de conforto mínimo e instalações sanitárias adequadas, em ambiente que
não seja guarnecido com grades e outros dispositivos ostensivos de
contenção, que eventualmente se equiparem a uma cela. Com isso,
certamente, estará atendida a ‘ratio’ da lei e assegurado aos integrantes da
advocacia, se provisoriamente presos, dignidade idêntica àquela desfrutada
pelas mais altas autoridades da República.”

Como se observa, a ausência de salas de Estado-Maior no


País, falta de organização e de preparação de algumas unidades militares
para receberem advogados, tem justificado o entendimento da Suprema
Corte, de que podem os advogados presos provisoriamente ser recolhidos
em local equiparado à sala de Estado-Maior em “ambiente separado, sem
grades, localizado em unidades prisionais ou em batalhões da Polícia Militar,
que tenha instalações e comodidades adequadas à higiene e à segurança
do advogado.”
O Ministro Celso de Mello, acompanhando o Ministro Toffoli,
“lembrou que, para dar efetividade ao que decidiu no julgamento da ADI
1127, a Corte tem assegurado o direito ao recolhimento domiciliar enquanto
não há o trânsito em julgado da sentença penal condenatória 1”.

1
Trecho retirado da noticia sobre o tema constante no site
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=287645.

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No entanto, é este o caso dos autos.


O cumprimento das disposições legais inerentes à profissão da
paciente não está sendo observado, porquanto o local em que ela está
recolhida não cumpre com o propósito da sala de Estado-Maior.
Em assim sendo, merece ser concedida a ordem, para que a
paciente seja recolhida em sala de Estado Maior, ou na sua falta, em prisão
domiciliar, nos termos do que preceitua o inciso V da Lei 8.906/1994,
porquanto sua prerrogativa.
Ressalto, a titulo exemplificativo, que solução similar foi
adotada nos seguintes julgados:

HABEAS CORPUS. ESTUPRO DE VULNERÁVEL,


ASSÉDIO SEXUAL À CRIANÇA, E AQUISIÇÃO,
POSSE E ARMAZENAMENTO DE FOTOGRAFIAS E
VÍDEOS COM CENAS DE SEXO EXPLÍCITO OU
PORNOGRÁFICAS ENVOLVENDO CRIANÇA OU
ADOLESCENTE. PRISÃO PREVENTIVA.
REQUISITOS. AUSÊNCIA DE VÍCIO NAS MEDIDAS
DE PERSECUÇÃO CRIMINAL EFETIVADAS PELA
POLÍCIA CIVIL. ADVOGADO. ESTATUTO DA OAB.
PRERROGATIVA. PRISÃO PROVISÓRIA EM SALA
DE ESTADO MAIOR. - Na residência do paciente
foram apreendidos equipamentos eletrônicos, mídias e
aparelho de telefone celular, constatando-se a
existência de conversas de cunho sexual envolvendo
crianças, o que foi corroborado pela oitiva das vítimas.
Não obstante isso, mesmo após as apreensões,
continuou a realizar a atividade que era utilizada para
o aliciamento de vítimas e, consoante informações da
autoridade policial, passou a se utilizar de outro
aparelho de telefone celular para comunicação com
crianças. - Ausente vício patente no cumprimento do
mandado de busca e apreensão, pois não há
indicativos suficientes de que a residência do suspeito
era também seu escritório, nem que a diligência
ultrapassou seus fins, interferindo no sigilo profissional
do investigado com seus clientes. A presença de
representante da OAB faz-se necessária tão-somente
no caso de prisão em flagrante do advogado por
motivo ligado ao exercício da advocacia. Para outras
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providências, é bastante a comunicação expressa à


seccional. - Não obstante as providências
empreendidas no juízo a quo, não foi possível o
cumprimento das disposições legais, que determinam
que é direito do advogado "não ser recolhido preso,
antes de sentença transitada em julgado, senão em
sala de Estado Maior, com instalações e comodidades
condignas e, na sua falta, em prisão domiciliar".
Contudo, indicado no parecer ministerial local com
estrutura compatível à sala de Estado Maior de que
trata o Estatuto da OAB, determina-se a transferência
do paciente. Ordem parcialmente concedida. (Habeas
Corpus Nº 70068527928, Oitava Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dálvio Leite Dias
Teixeira, Julgado em 20/04/2016)

HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA O


PATRIMÔNIO. EXTORSÃO. REVOGAÇÃO DA
PRISÃO PREVENTIVA. INVIABILIDADE.
MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA. Colhem-se dos autos
provas da materialidade e indícios de autoria do crime
de extorsão em desfavor da paciente. Necessidade e
adequação da segregação cautelar para garantia da
ordem pública e conveniência da instrução criminal.
Periculosidade evidenciada pelo modus operandi e
pelo risco concreto de que, solta, atente contra a
estabilidade social e evada-se do distrito da culpa.
Motivação idônea à manutenção da prisão, que se
revela necessária, suficiente e adequada,
inviabilizando seja substituída por medidas previstas
no artigo 319 do CPP. CONDIÇÕES PESSOAIS
FAVORÁVEIS. As condições pessoais favoráveis não
determinam a revogação da custódia cautelar caso
presentes os requisitos de ordem objetiva e subjetiva
que autorizaram sua decretação. QUESTÕES
FÁTICO-PROBATÓRIAS. ANÁLISE. INVIABILIDADE.
Inviável o enfrentamento de questões fático-
probatórias sob pena de supressão de instância e
desvirtuamento da sumariedade ínsita à via
mandamental. PACIENTE ADVOGADA.
RECOLHIMENTO À SALA DE ESTADO MAIOR.
PRERROGATIVA. ARTIGO 7º, INCISO V, DA LEI Nº
8.906/1994. É direito do advogado não ser recolhido
preso antes de sentença transitada em julgado, senão
em sala de Estado Maior. Inteligência do inciso V do
artigo 7º do Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/1994).
ORDEM CONCEDIDA EM PARTE. (Habeas Corpus
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Nº 70069197440, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de


Justiça do RS, Relator: Naele Ochoa Piazzeta,
Julgado em 25/05/2016)

HABEAS-CORPUS. HOMICÍDIO DUPLAMENTE


QUALIFICADO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DOS
FUNDAMENTOS DA PRISÃO CAUTELAR.
IMPROCEDÊNCIA. Ao contrário do ventilado na
impetração, está presente ao menos um dos
fundamentos da prisão preventiva, qual seja, a
necessidade de salvaguarda da ordem pública, visto
que mesmo sendo processado na Comarca de São
Leopoldo pela prática de delito de extrema gravidade,
qual seja, homicídio, o paciente praticou novo delito da
mesma espécie na Comarca de Santa Maria, em
função de lhe ser cobrado por um comerciante o valor
de setenta e cinco centavos, restando, assim, evidente
sua periculosidade, e, por conseqüência, a
possibilidade de reiteração criminosa. Destaco,
ademais, que o fato de ter sido concedida liberdade
provisória ao paciente no processo pelo qual responde
em Santa Maria, em nada influi na argumentação
invocada pela autoridade dita coatora, até por que, ao
reverso do ventilado na impetração, foi empregado
fundamento diverso nesta decisão. CONDIÇÕES
PESSOAIS FAVORÁVEIS. INSUFICIÊNCIA PARA
QUE O PACIENTE RESPONDA O PROCESSO EM
LIBERDADE. É posicionamento desta Câmara que
condições pessoais favoráveis ao paciente, por si só,
são insuficientes para que seja posto em liberdade e
aguarde em liberdade a tramitação do feito, se
presentes, como no caso, os requisitos da prisão
cautelar. PACIENTE ADVOGADO. NECESSIDADE
DE RECOLHIMENTO EM SALA DE ESTADO MAIOR,
OU NA SUA FALTA, EM PRISÃO DOMICILIAR. Em
se tratando de paciente advogado, merece ser
concedida a ordem no que tange ao pleito de que seja
recolhido em sala de Estado Maior, ou na sua falta, em
prisão domiciliar, nos termos do que preceitua o inciso
V da Lei 8.906/1994, porquanto sua prerrogativa.
Ordem parcialmente concedida. (Habeas Corpus Nº
70040800674, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Marco Antônio Ribeiro de
Oliveira, Julgado em 16/02/2011)

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Sobre o local, o diligente parecer ministerial, neste grau de


jurisdição, indica um que possui estrutura compatível à sala de Estado Maior
de que trata o Estatuto da OAB. O 4° Regimento de Polícia Montada de
Porto Alegre (4° RPMON), compõe a estrutura da Brigada Militar e se
vincula ao sistema prisional do Estado, apresentando-se como o local para o
qual são remetidos agentes detentores de prerrogativas legais.
Diante do exposto, voto no sentido de conceder a ordem,
determinando a transferência da paciente para o 4° Regimento de Polícia
Montada de Porto Alegre (4° RPMON). Na hipótese de no referido local
inexistir vaga para agentes detentores de prerrogativas legais detidos
preventivamente, asseguro desde já à paciente o direito à prisão domiciliar,
mediante o cumprimento das condições seguintes: proibição de ausentar-se
da residência sem prévia autorização judicial, manutenção do endereço
atualizado nos autos, e comparecimento a juízo sempre que intimada, sob
pena de revogação da medida.
É como voto.

DES. JULIO CESAR FINGER - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE NETO (PRESIDENTE) -


De acordo com o(a) Relator(a).

DES. ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE NETO - Presidente -


Habeas Corpus nº 70070081740, Comarca de Alvorada: "CONCEDERAM A
ORDEM PARA DETERMINAR A TRANSFERÊNCIA DA PACIENTE PARA
O 4° REGIMENTO DE POLÍCIA MONTADA DE PORTO ALEGRE (4°
RPMON). E EM INEXISTINDO VAGAS, ASSEGURAM DESDE JÁ À
PACIENTE O DIREITO À PRISÃO DOMICILIAR, MEDIANTE O
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CUMPRIMENTO DAS CONDIÇÕES SEGUINTES: PROIBIÇÃO DE


AUSENTAR-SE DA RESIDÊNCIA SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL,
MANUTENÇÃO DO ENDEREÇO ATUALIZADO NOS AUTOS, E
COMPARECIMENTO A JUÍZO SEMPRE QUE INTIMADA, SOB PENA DE
REVOGAÇÃO DA MEDIDA. UNÂNIME."

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