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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 719.748 - RJ (2022/0020336-6)

RELATOR : MINISTRO JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR


CONVOCADO DO TJDFT)
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
PACIENTE : BRUNO SALES COSTA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EMENTA

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO


CABIMENTO. CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS. PACIENTE
APONTADO COMO MEMBRO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA:
TERCEIRO COMANDO. NULIDADE. TESE DE VIOLAÇÃO DE
DOMICÍLIO. DENÚNCIA ANÔNIMA. FUNDADA SUSPEITA: ADPF N. 635
- MC/ED DO STF. CONFISSÃO INFORMAL. PEDIDO
DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE USO DE DROGAS.
IMPOSSIBILIDADE. CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO.
ESTABILIDADE E PERMANÊNCIA. REVOLVIMENTO INVIÁVEL.
PRECEDENTES DESTE STJ. DOSIMETRIA. TRÁFICO PRIVILEGIADO.
CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA. INAPLICABILIDADE. INTEGRANTE
DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. DEDICAÇÃO ÀS ATIVIDADES
CRIMINOSAS. REGIME INICIAL MAIS BRANDO E SUBSTITUIÇÃO DE
PENAS. PEDIDOS PREJUDICADOS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
I – A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela
Primeira Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no sentido de não
admitir habeas corpus em substituição ao recurso adequado, situação que
implica o não conhecimento da impetração, ressalvados casos excepcionais em
que, configurada flagrante ilegalidade, seja possível a concessão da ordem de
ofício.
II – No caso concreto, a fundada suspeita dos policiais residiu no fato
de que havia prévia denúncia anônima sobre a atividade criminosa dos autos.
III - No julgamento da ADPF n. 635 - MC/ED, tema do Informativo
de Jurisprudência n. 1042/STF, a col. Suprema Corte firmou o entendimento
de que: "no caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança
(...), sejam observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de
responsabilidade: (...) (ii) a diligência, quando feita sem mandado judicial,
pode ter por base denúncia anônima; (...)" (ADPF n. 635 MC ED, Tribunal
Pleno, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3/2/2022, pendente de
publicação).
HC 719748 C5425241555420894<1113@ C0650:18300 ;032425<50@
2022/0020336-6 Documento Página 1 de 3
Superior Tribunal de Justiça
IV - In casu, havia prévia denúncia anônima sobre indivíduos
praticando tráfico de drogas nas proximidades de uma igreja evangélica,
localizada em área dominada pela facção criminosa denominada "Terceiro
Comando". Após a tentativa de abordagem policial em via pública, o paciente
e seu comparsa empreenderam fuga para uma residência próxima. Da
residência, arremessaram uma sacola com drogas pela janela, o que foi
visto pelos policiais ainda de fora, momento em que apreenderam as drogas na
parte externa da residência, tudo, conforme assentado no v.
acórdão. Destaca-se que ainda houve a confissão informal do paciente e de
seu comparsa nesse momento, acerca de terem migrado para a facção criminosa
acima. Ademais, as drogas efetivamente apreendidas (27g de maconha,
distribuídos em 14 plásticos transparentes) somente reforçaram a
necessidade da atuação estatal.
V - Apesar de a d. Defesa alegar a necessidade de desclassificação para
o delito do art. 28 da Lei n. 11.343/06, o paciente restou condenado com
amparo em claras provas de autoria e materialidade do art. 33, caput.
VI - Do v. acórdão de origem, pode-se extrair perfeitamente a
atividade criminosa em associação, bem como há a devida descrição e
comprovação da estabilidade e permanência, que ensejaram a condenação pelo
delito previsto no art. 35 da Lei n. 11.343/2006. Aliás, esta Corte Superior
entende pela impossibilidade de amplo revolvimento de fatos e provas nestes
aspectos.
VII - Na dosimetria, foi utilizada para afastar a minorante do privilégio
a dedicação a atividades criminosas pelo paciente, sobretudo por também ter
sido condenado pelo crime de associação para o tráfico. Com efeito,
"Consoante jurisprudência deste Superior Tribunal, a condenação pelo crime
de associação para o tráfico de entorpecentes demonstra a dedicação dos
acusados a atividades ilícitas e a participação em associação criminosa,
autorizando a conclusão de que não estão preenchidos os requisitos
legalmente exigidos para a concessão do benefício do redutor previsto no § 4º
do art. 33 da Lei n. 11.3434/2006" (HC n. 320.669/SP, Quinta Turma, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 25/11/2015).
VIII - Inalteradas as penas impostas, prejudicados, pois, os pedidos
sobre o regime inicial e a possibilidade de substituição das reprimendas.
Habeas corpus não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
prosseguindo no julgamento, a Turma, por unanimidade, não conhecer do pedido.
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha (voto-vista), Reynaldo
Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik votaram com o Sr. Ministro

HC 719748 C5425241555420894<1113@ C0650:18300 ;032425<50@


2022/0020336-6 Documento Página 2 de 3
Superior Tribunal de Justiça
Relator.

Brasília (DF), 24 de maio de 2022(Data do Julgamento)

MINISTRO JESUÍNO RISSATO


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT)
Relator

HC 719748 C5425241555420894<1113@ C0650:18300 ;032425<50@


2022/0020336-6 Documento Página 3 de 3
HABEAS CORPUS Nº 719748 - RJ (2022/0020336-6)

RELATOR : MINISTRO JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR


CONVOCADO DO TJDFT)
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PACIENTE : BRUNO SALES COSTA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EMENTA

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. CRIME DE
TRÁFICO DE DROGAS. PACIENTE APONTADO
COMO MEMBRO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA:
TERCEIRO COMANDO. NULIDADE. TESE DE
VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO. DENÚNCIA ANÔNIMA.
FUNDADA SUSPEITA: ADPF N. 635 - MC/ED DO STF.
CONFISSÃO INFORMAL. PEDIDO DE
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE USO DE
DROGAS. IMPOSSIBILIDADE. CRIME DE
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. ESTABILIDADE E
PERMANÊNCIA. REVOLVIMENTO INVIÁVEL.
PRECEDENTES DESTE STJ. DOSIMETRIA. TRÁFICO
PRIVILEGIADO. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA.
INAPLICABILIDADE. INTEGRANTE DE
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. DEDICAÇÃO ÀS
ATIVIDADES CRIMINOSAS. REGIME INICIAL MAIS
BRANDO E SUBSTITUIÇÃO DE PENAS. PEDIDOS
PREJUDICADOS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO.
I – A Terceira Seção desta Corte, seguindo
entendimento firmado pela Primeira Turma do col. Pretório
Excelso, firmou orientação no sentido de não admitir habeas
corpus em substituição ao recurso adequado, situação que
implica o não conhecimento da impetração, ressalvados
casos excepcionais em que, configurada flagrante
ilegalidade, seja possível a concessão da ordem de ofício.
II – No caso concreto, a fundada suspeita dos
policiais residiu no fato de que havia prévia denúncia
anônima sobre a atividade criminosa dos autos.
III - No julgamento da ADPF n. 635 - MC/ED, tema
do Informativo de Jurisprudência n. 1042/STF, a col.
Suprema Corte firmou o entendimento de que: "no caso de
buscas domiciliares por parte das forças de segurança (...),
sejam observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob
pena de responsabilidade: (...) (ii) a diligência, quando feita
sem mandado judicial, pode ter por base denúncia anônima;
(...)" (ADPF n. 635 MC ED, Tribunal Pleno, Rel. Min.
Edson Fachin, julgado em 3/2/2022, pendente de
publicação).
IV - In casu, havia prévia denúncia anônima sobre
indivíduos praticando tráfico de drogas nas proximidades de
uma igreja evangélica, localizada em área dominada pela
facção criminosa denominada "Terceiro Comando". Após
a tentativa de abordagem policial em via pública, o paciente
e seu comparsa empreenderam fuga para uma residência
próxima. Da residência, arremessaram uma sacola com
drogas pela janela, o que foi visto pelos policiais ainda de
fora, momento em que apreenderam as drogas na parte
externa da residência, tudo, conforme assentado no v.
acórdão. Destaca-se que ainda houve a confissão informal
do paciente e de seu comparsa nesse momento, acerca de
terem migrado para a facção criminosa acima. Ademais, as
drogas efetivamente apreendidas (27g de maconha,
distribuídos em 14 plásticos transparentes) somente
reforçaram a necessidade da atuação estatal.
V - Apesar de a d. Defesa alegar a necessidade de
desclassificação para o delito do art. 28 da Lei n. 11.343/06
, o paciente restou condenado com amparo em claras provas
de autoria e materialidade do art. 33, caput.
VI - Do v. acórdão de origem, pode-se extrair
perfeitamente a atividade criminosa em associação, bem
como há a devida descrição e comprovação da estabilidade e
permanência, que ensejaram a condenação pelo delito
previsto no art. 35 da Lei n. 11.343/2006. Aliás, esta Corte
Superior entende pela impossibilidade de amplo
revolvimento de fatos e provas nestes aspectos.
VII - Na dosimetria, foi utilizada para afastar a
minorante do privilégio a dedicação a atividades criminosas
pelo paciente, sobretudo por também ter sido condenado
pelo crime de associação para o tráfico. Com efeito,
"Consoante jurisprudência deste Superior Tribunal, a
condenação pelo crime de associação para o tráfico de
entorpecentes demonstra a dedicação dos acusados a
atividades ilícitas e a participação em associação
criminosa, autorizando a conclusão de que não estão
preenchidos os requisitos legalmente exigidos para a
concessão do benefício do redutor previsto no § 4º do art. 33
da Lei n. 11.3434/2006" (HC n. 320.669/SP, Quinta
Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de
25/11/2015).
VIII - Inalteradas as penas impostas, prejudicados,
pois, os pedidos sobre o regime inicial e a possibilidade de
substituição das reprimendas.
Habeas corpus não conhecido.

RELATÓRIO

Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso especial, com pedido


liminar, impetrado em benefício de BRUNO SALES COSTA, contra v. acórdão
proferido pelo eg. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, nestes termos
ementado (fls. 132-146):

"APELAÇÃO CRIMINAL. IMPUTAÇÃO DOS DELITOS DE


TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O MESMO FIM, EM
CONCURSO MATERIAL. CONDENAÇÃO DE AMBOS OS RÉUS.
ÓBITO DO CORRÉU. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. RECURSO
DEFENSIVO. PRELIMINARES DE INÉPCIA DA INICIAL QUANTO
AO DELITO DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E DE ILICITUDE
DA PROVA, PORQUE OBTIDA POR MEIO DE VIOLAÇÃO DE
DOMICÍLIO. MÉRITO. PEDIDOS: 1) ABSOLVIÇÃO POR
INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA; 2) DESCLASSIFICAÇÃO DA
CONDUTA DEFINIDA COMO TRÁFICO PARA O CRIME PREVISTO
NO ARTIGO 28 DA LEI DE DROGAS; 3) INCIDÊNCIA DA CAUSA
ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO ARTIGO 33,
PARÁGRAFO 4º, DA LEI 11.343/06; 7) SUBSTITUIÇÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS OU
CONCESSÃO DE SURSIS; 8) ABRANDAMENTO DO REGIME
PRISIONAL.
I. Preliminares. Rejeição. I.1. Inépcia da denúncia.
Inocorrência. Narrativa concreta e objetiva e que contém todas as
elementares do crime de associação para o tráfico de drogas.
Entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, de que “a
superveniência da sentença penal condenatória torna esvaída a análise
do pretendido reconhecimento de inépcia da denúncia, isso porque o
exercício do contraditório e da ampla defesa foi viabilizado em sua
plenitude durante a instrução criminal” (AgRg no AREsp 537.770/SP,
Rel. Min. ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Sexta Turma, julgado em
4/8/2015, DJe. 18/08/2015), a obstar, também por esse motivo, o
acolhimento da preliminar. I.2. Violação de domicílio que não se
reconhece. Segundo a prova oral acusatória, não infirmada pela defesa,
os denunciados, ao avistarem a guarnição policial, empreenderam fuga
para o interior de uma residência e, na tentativa de se desvencilhar do
material ilícito que traziam consigo, arremessaram por uma das janelas
do imóvel uma sacola plástica contendo os entorpecentes, ação esta,
contudo, imediatamente percebida pelos agentes da lei, que
apreenderam as drogas na parte de fora da residência. Não há que se
falar, portanto, em prova obtida por meio de violação de domicílio.
Nulidade rechaçada.
II. Pretensão absolutória. Descabimento. II.1. Tráfico de
drogas. Materialidade positivada pela prova pericial produzida.
Autoria inquestionável na pessoa do apelante devido à situação de
flagrância e nos termos da prova oral colhida ao longo da instrução
criminal. Policiais militares, movidos por denúncia anônima noticiando
dois indivíduos em atitude suspeita, procederam ao local indicado e
avistaram o apelante e o corréu que, por sua vez, ao perceberem a
aproximação da guarnição, empreenderam fuga para o interior de uma
residência, sendo certo que os policiais visualizaram quando eles
arremessaram por uma das janelas do imóvel uma sacola plástica com
14 (quatorze) invólucros de Cannabis sativa L.. Prisão em flagrante.
Policiais que narraram terem reconhecido os réus como antigos
moradores de área dominada pelo “Comando Vermelho”, estranhando
o fato deles estarem traficando em local de ingerência de outra facção
criminosa, no caso o “Terceiro Comando”, mas, indagados, os
denunciados admitiram que haviam migrado de facção criminosa, por
estarem, ambos, jurados de morte por alguns membros da anterior
facção criminosa a que pertenciam. Coesas e uniformes declarações
prestadas pelos policiais militares responsáveis pelo flagrante.
Validade dos seus depoimentos como meio de prova. Verbete n.º 70 das
Súmulas deste Egrégio Tribunal de Justiça. Prova oral acusatória
reforçada pela declaração extrajudicial do corréu, que admitiu a
migração de facção criminosa, e, ainda, pela declaração do
proprietário da residência onde se deram os fatos, o qual confirmou ter
ciência de que ambos os denunciados exploravam o tráfico ilícito de
entorpecentes. Versão autodefensiva de negativa de autoria, imputando
a propriedade exclusiva dos entorpecentes ao corréu, totalmente
divorciada dos autos e que sucumbiu diante do caderno probatório
produzido. Circunstâncias da prisão que não deixam dúvidas de que o
entorpecente apreendido estava na posse compartilhada dos réus e se
destinava à difusão a terceiros, tornando infundada a pretensão
desclassificatória para o delito de porte de drogas para consumo
pessoal, na forma do que preceitua o parágrafo 2º, do artigo 28, da Lei
n.º 11.343/06. Condenação que se mantém. II.2. Crime de associação
para o tráfico. Acervo probatório apto a demonstrar a reunião entre o
apelante e o corréu falecido e entre eles e demais membros da facção
criminosa autodenominada “Terceiro Comando”, com estabilidade e
permanência, para o fim de explorar a atividade de venda de
entorpecentes. Confissão em sede policial do corréu, no sentido de que
ele e o apelante eram da facção criminosa “Comando Vermelho”,
tendo migrado para o “Terceiro Comando” por estarem jurados de
morte por membros da anterior facção, devidamente corroborada no
curso da instrução criminal. Édito condenatório irretocável.
III. Causa especial de diminuição de pena. Tráfico
privilegiado. Pretensão descabida. Manifesta incompatibilidade com a
condenação pelo crime de associação para o tráfico de drogas.
Acresça-se que, ainda que tecnicamente primário, as circunstâncias do
caso concreto são incompatíveis com a aplicação do redutor, destinado
apenas ao traficante de menor periculosidade, avulso, iniciante ou
eventual, que não faz parte de qualquer organização criminosa,
tampouco se dedica a atividades criminosas, o que não se aplica à
hipótese dos autos.
IV. Pedidos de substituição da pena privativa de liberdade
por restritivas de direitos ou, então, de sursis prejudicados, face à
manutenção do quantitativo alcançado.
V. Regime prisional. Manutenção do inicialmente fechado
em razão da gravidade concreta das condutas praticadas. Vinculação
do apelante à perigosíssima organização criminosa. Possibilidade de o
Tribunal agregar/substituir fundamentos para embasar o regime
prisional. Inexistência de reformatio in pejus. A teor do que dispõe o
parágrafo 3º, do artigo 33, do Código Penal, o que vincula o julgador
na análise do regime prisional são as circunstâncias judiciais previstas
no artigo 59 do mesmo diploma, estas devidamente positivadas nos
autos, e não propriamente o patamar fixado a título de pena- base.
Assim, nada obsta o reconhecimento das circunstâncias judiciais pelo
Tribunal ad quem, não devidamente valoradas pelo Juízo a quo, desde
que inalterada a reprimenda. Interpretação do verbete 440 das Súmulas
do Superior Tribunal de Justiça que, à vista disso, não pode ser literal.
Intenção dos Tribunais Superiores em apenas vedar o regime prisional
mais gravoso quando ausentes circunstâncias fáticas desabonadoras, o
que, como visto, não é o caso dos autos.
Recurso desprovido."

Daí o presente habeas corpus, no qual a d. Defesa busca a anulação das


provas que considera ilícitas, em decorrência de suposta revista pessoal e consequente
violação de domicílio, o que afastaria a alegação de flagrante delito.

Invoca seja desclassificada, a conduta prevista no art. 33 da lei de drogas para


a prevista no art. 28 do mesmo diploma legal.
Sustenta que a condenação do paciente pelo crime previsto no art. 35 da Lei
11.343/06 ocorreu mediante fundamentação inidônea, diante da ausência de estabilidade
e permanência, as quais são pressupostos necessários para a prática do delito, sob
alegação de que "o paciente é primário, como revela sua Folha de Antecedentes
Criminais, em anexo, a indicar que não tem qualquer envolvimento em associações
criminosas" (fl. 22).

Aduz ainda que "Com a absolvição do Paciente da imputação relativa ao


crime de associação para o tráfico, que é o que se aguarda, consequentemente
desaparece o/ fundamento utilizado pelo Tribunal a quo para deixar de aplicar a causa
de diminuição prevista no § 4º do artigo 33 da Lei de Drogas" (fl. 23).

Assevera que "Entendendo esta Colenda Corte merecer acolhimento o pleito


de incidência da causa especial de redução de pena prevista no § 4º do art.33 da Lei nº
11.343/2006, cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos, haja vista que preenchidos estarão os requisitos legais para tanto. Da mesma
forma, deverá ser adequado o regime prisional para o aberto diante do novo quantitativo
de pena e da análise favorável das circunstâncias judiciais" (fl. 27).

Requer, inclusive LIMINARMENTE, a concessão da ordem, para que "a) seja


deferida a medida liminar para que o Paciente aguarde o julgamento do presente writ,
em liberdade, em regime aberto, ou, ao menos, em regime semiaberto; b) seja concedida
a ordem para que seja reconhecida a ilicitude da prova obtida mediante violação de
domicílio, bem como, no mérito, a ausência de provas da prática dos delitos imputados,
com a consequente absolvição do Paciente, haja vista a inexistência de prova válida a
fundamentar suas condenações; c) subsidiariamente, seja desclassificada a conduta do
artigo 33, da Lei 11.343/06, para aquela prevista pelo artigo 28, da mesma lei. d) seja o
Paciente absolvido com relação ao crime do art. 35 da Lei 11.343/2006, bem como seja
reconhecida a figura do tráfico privilegiado, aplicando-se a diminuição em sua fração
máxima, sendo determinada a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos e fixação do regime aberto" (fls. 28-29).

Pedido liminar indeferido, às fls. 149-153, pela Presidência desta eg. Corte.

Informações, às fls. 156-164.

O d. Ministério Público Federal oficiou pelo não conhecimento da


impetração, em r. parecer de fls. 169-190, nestes termos ementado:

"HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ESPECIAL. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. APROFUNDADO
REVOLVIMENTO FÁTICO - PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE.
DOSIMETRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. NÃO
CONHECIMENTO.
No tocante ao pedido de absolvição por inexistência de
prova válida para as condenações, verifica-se que a decisão proferida
pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro está
suficientemente fundamentada, amparando-se nas provas produzidas
nos autos, de modo que, para o afastamento dessas conclusões, haverá
necessidade de exame amplo, profundo e valorativo do acervo
probatório, o que não encontra espaço na via do mandamus,
inapropriado, a toda evidência, para transformar condenação em
absolvição.
Não se desconhece que, conforme tem decidido essa Colenda
Corte Superior de Justiça, é impossível, em sede de habeas corpus ou
de recurso especial, reexame da sentença para efeito de graduação da
pena firmada nas circunstâncias judiciais do artigo 59, do Código
Penal, inclusive quanto à aplicação de regime prisional mais benéfico,
e do artigo 42 da Lei nº 11.343/2006, uma vez que envolve
particularidades subjetivas, oriundas de critérios de convencimento do
Juiz, nos quais não se pode adentrar, senão através da análise total das
provas contidas nos autos, o que é inadmissível através de tais vias
processuais.
Mantida a condenação do Paciente pelos dois delitos
imputados, não merece acolhimento o pedido subsidiário de incidência
do parágrafo 4º, do artigo 33, da Lei n.º 11.343/06, face à sua
manifesta incompatibilidade com a condenação pelo crime de
associação para o tráfico, em que a dedicação à criminalidade lhe é
inerente, ainda mais no caso dos autos, em que comprovado que essa
associação englobava organização criminosa, conforme ressaltou o v.
acórdão.
Parecer pelo não conhecimento da impetração."

É o relatório.

VOTO

A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela Primeira


Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no sentido de não admitir habeas
corpus em substituição ao recurso adequado, situação que implica o não conhecimento
da impetração, ressalvados casos excepcionais em que, configurada flagrante ilegalidade,
seja possível a concessão da ordem de ofício.

Tal posicionamento tem por objetivo preservar a utilidade e eficácia do


habeas corpus como instrumento constitucional de relevante valor para proteção da
liberdade da pessoa, quando ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder, de forma a
garantir a necessária celeridade no seu julgamento. Assim, incabível o presente
mandamus, porquanto substitutivo de recurso especial.

Em homenagem ao princípio da ampla defesa, contudo, necessário o exame da


insurgência, a fim de se verificar eventual constrangimento ilegal passível de ser sanado
pela concessão da ordem, de ofício.

Para melhor delimitar a quaestio, transcrevo os seguintes trechos do voto-


condutor do v. acórdão combatido (fls. 132-146):

"Inicialmente, rejeitam-se as preliminares arguidas.


Não há que se falar em inépcia da inicial com relação ao delito de associação
para o tráfico de drogas, porquanto a denúncia encontra-se em estreita consonância com
os ditames previstos no artigo 41 do Código de Processo Penal, já que a narrativa nela
contida faz referência a todas as elementares do crime previsto no artigo 35 da Lei n.º
11.343/06, concretamente descrito pelo Ministério Público.
Ainda que assim não fosse, não excede recordar que, de acordo com o
entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, “a superveniência da sentença
penal condenatória torna esvaída a análise do pretendido reconhecimento de inépcia da
denúncia, isso porque o exercício do contraditório e da ampla defesa foi viabilizado em
sua plenitude durante a instrução criminal” (AgRg no AREsp 537.770/SP, Rel. Min.
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Sexta Turma, julgado em 4/8/2015, DJe. 18/08/2015), a
obstar, também por esse motivo, o acolhimento da preliminar.
Rejeita-se, também, a preliminar de nulidade da prova por suposta violação
de domicílio.
Na espécie, de acordo com a prova oral acusatória, não infirmada pela
defesa, as drogas arrecadadas foram localizadas no interior de uma sacola plástica,
arremessada pelos denunciados para fora de uma residência, por uma das janelas do
imóvel, ação esta, no entanto, que restou percebida pelos policiais. Nessas
circunstâncias, portanto, em que a apreensão das drogas se deu do lado de fora da
residência, totalmente infundada a arguição de prova ilegal obtida por meio de
violação de domicílio.
Com relação ao mérito, as pretensões absolutória e desclassificatória,
deduzidas em favor do apelante, tampouco merecem prosperar.
A materialidade do crime de tráfico de drogas restou positivada no auto de
apreensão, às fls. 09, e laudo pericial, às fls. 13, que atesta a natureza entorpecente da
substância apreendida, correspondente a 27g (vinte e sete gramas) de Cannabis sativa
L., distribuídos em 14 (quatorze) plásticos transparentes.
A existência do crime de associação para o tráfico e a autoria de ambos os
delitos na pessoa do acusado, por seu turno, emergem do auto de prisão em flagrante,
às fls. 03/04, do registro de ocorrência, às fls. 21/23, das declarações prestadas em sede
policial, às fls. 05/08 e 15/20, e notadamente da prova oral produzida no curso da
instrução criminal.
Com efeito, depreende-se dos autos que policiais militares receberam
informe de que havia dois indivíduos, em atitude suspeita, rondando uma igreja
evangélica localizada no bairro Jardim Acácias, área dominada pelo “Terceiro
Comando”, de modo que os agentes para lá se encaminharam e, ao se aproximarem do
local indicado, avistaram o apelante e o corréu nessas condições, os quais, por sua vez,
tão logo perceberam a aproximação da guarnição, empreenderam fuga para o interior
de uma residência, sendo certo que os policiais visualizaram quando eles
arremessaram por uma das janelas do imóvel uma sacola plástica contendo 14
(quatorze) invólucros de Cannabis sativa L.
E obedecendo determinação da guarnição policial, o apelante e o corréu já
falecido saíram do imóvel, sendo presos em flagrante.
Os policiais ainda narraram que logo identificaram os denunciados como
moradores do bairro Freitas Soares, dominado pelo “Comando Vermelho”, e
estranharam eles estarem traficando em local de ingerência do “Terceiro Comando”.
Indagados, os denunciados admitiram aos agentes da lei que haviam migrado de facção
criminosa, por estarem, ambos, jurados de morte por alguns membros da anterior facção
criminosa a que pertenciam.
Nesse sentido, alude-se aos depoimentos prestados pelos policiais militares
Clelvis Andrade Gomes de Oliveira e Leonardo Ferreira de Freitas, os quais, além de
harmônicos entre si, ecoam a mesma versão apresentada em sede policial (fls. 05/08).
No ponto, convém consignar que nada há nos autos que possa fragilizar os
aludidos depoimentos, sendo, portanto, perfeitamente aptos a amparar o juízo de
reprovação, ressaltando que tal matéria já se encontra até mesmo sumulada por este
Tribunal, nos termos do verbete n.º 70.
Ademais, os relatos dos policiais militares restaram reforçados pelo
depoimento do proprietário do imóvel, Alexsandro Augusto dos Santos, que,
inicialmente, em uma nítida tentativa de inocentar Bruno – seu primo –, disse que
nada sabia sobre o seu envolvimento com o tráfico de drogas, mas, confrontado com o
teor de sua declaração de fls. 15/16, confirmou a veracidade daquela narrativa, e,
assim, o envolvimento do apelante com o tráfico de drogas e ainda a sua migração de
facção criminosa. Confira-se o teor da declaração dada em sede policial:
“Que conhece a pessoa de BRUNO SALES COSTA há muitos anos, desde que
ele era criança; que conhece a pessoa de NATAN CHAVES DOS SANTOS há cerca de
quatro ou cinco meses; que há cerca de duas semanas foi procurado por NATAN e
BRUNO os quais pediram para passar alguns dias em sua casa, até que eles
conseguissem alugar um imóvel; que ambos disseram que não poderiam permanecer no
Bairro Freitas Soares pois o pessoal do Comando Vermelho iria matar eles; que
permitiu que ambos ficassem em sua casa; que o declarante sabia que BRUNO e
NATAN comercializavam drogas, mas exigiu que eles não entrassem no imóvel com
drogas e que deixassem seu comércio fora de sua casa; que eventualmente BRUNO e
NATAN davam maconha para o declarante consumir; que no dia 10/7/2019, por volta
das 12h, estava chegando em casa quando avistou uma viatura da polícia militar em
frente ao imóvel; que abordou os policiais e indagou o que estava acontecendo,
informando imediatamente que era o proprietário do imóvel; que os policiais
informaram sobre os fatos e todos foram conduzidos a esta UPAJ; esclarece que durante
todo o tempo de permanência de BRUNO e NATAN na casa, não os viu com drogas, mas
apenas a que eles forneciam para consumir; que participou em momento algum de
comércio de drogas; que somente deu abrigo a eles em decorrência das ameaças que
sofreram; que mais nada sabe informar sobre os fatos.” (Grifos nossos).
Some-se a isso a confissão do corréu Natan em sede extrajudicial, no sentido
de que ele e Bruno migraram de facção criminosa, ainda que, ao final, tenha se
contradito, ao afirmar que as drogas apreendidas se destinavam ao seu próprio
consumo, consoante fls. 17/18.
Como se não bastasse, o apelante Bruno, em sede policial, afirmou que Natan
não cumpriu o combinado de assumir a propriedade das drogas e que apenas prestaria
mais esclarecimentos em Juízo, conforme consta às fls. 19/20.
Já em seu interrogatório judicial, Bruno admitiu em parte os fatos imputados,
confirmando que Natan dispensou a sacola contendo a maconha tão logo notou a
aproximação dos policiais, mas atribuiu a propriedade dos entorpecentes exclusivamente
ao corréu. Alegou conhecer Natan há pouco tempo, admitindo que ambos haviam
residido no bairro Freitas Soares. Questionado sobre o motivo da mudança de
domicílio, disse ter ouvido que estava jurado de morte, sem especificar o motivo e nem
quem havia feito a ameaça; porém, indagado sobre as facções dominantes, respondeu,
como relatado pelos policiais, que o “Comando Vermelho” domina o bairro Freitas
Soares e o “Terceiro Comando”, o bairro Jardim Acácias.
É verdade que Alexsandro, em seu depoimento, afirmou ter presenciado o
momento em que Natan teria dito aos policiais que as drogas eram exclusivamente suas,
contudo, como se viu, trata-se de inovadora narrativa, em nítida tentativa de inocentar o
réu, vez que, na detalhada declaração dada em sede policial, nada foi dito a esse
respeito.
Assim, não se confere crédito à versão autodefensiva de negativa de autoria,
inexistindo dúvidas de que o apelante e o corréu estavam na posse compartilhada dos
entorpecentes apreendidos e atuavam na prática do tráfico ilícito de entorpecentes,
tornando descabida a pretensão desclassificatória para o delito previsto no artigo 28 da
Lei n.º 11.343/06.
E, nessas circunstâncias, impossível também não reconhecer o vínculo
estável e permanente existente entre o apelante e o corréu e entre eles e os demais
integrantes da organização criminosa “Terceiro Comando”, o que comprova a
existência e a autoria do crime de associação para o tráfico de drogas.
Ao contrário do que sustenta a defesa, não se trata de mera presunção.
Ora, além de Bruno ter sido preso em conjunto com o corréu, a inserção de
ambos na aludida facção criminosa encontra respaldo na declaração extrajudicial de
Natan, no depoimento da testemunha Alexsandro, que confirmou o teor de sua
declaração em sede policial e, ainda, no depoimento dos policiais.
E evidentemente, somente mantendo vínculo estável e permanente com os
demais membros da facção criminosa dominante na localidade onde se deram os fatos,
seria permitido ao apelante Bruno e ao corréu traficar drogas naquela área.
Entendimento em sentido diverso implicaria em admitir que os denunciados estariam,
de modo isolado e escancarado, competindo com uma das maiores facções criminosas
deste Estado, o que, por óbvio, por consistir em prática suicida, não se coaduna com a
realidade dos fatos.
É mantida, portanto, a condenação do apelante pelos dois delitos imputados,
o que afasta o pedido subsidiário de incidência do parágrafo 4º, do artigo 33, da Lei n.º
11.343/06, face à sua manifesta incompatibilidade com a condenação pelo crime de
associação para o tráfico, em que a dedicação à criminalidade lhe é inerente, ainda mais
no caso dos autos, em que comprovado que essa associação englobava organização
criminosa.
E uma vez mantida a pena privativa de liberdade imposta, prejudicado o
pedido de substituição por restritivas de direitos ou de concessão de sursis. eis que
extrapolados os tetos legais, previstos no inciso I, do artigo 44, e no caput, do artigo 77,
ambos do Código Penal.
E com relação ao regime prisional, a despeito de as penas-base terem sido
fixadas no seu mínimo legal e o apelante não ser reincidente, é mantido o regime
prisional estabelecido na sentença, com fundamento no artigo 33, parágrafo 3º, do
Código Penal e verbete 440 das Súmulas do STJ, considerando a gravidade concreta
das condutas cometidas, por se tratar de tráfico de drogas explorado com
habitualidade, conforme já observado, em local sob o domínio de organização
criminosa, o que muito se diferencia de uma associação entre dois indivíduos sem
qualquer ligação com o crime organizado, a implicar a necessidade de maior rigor na
resposta penal.
É verdade que tal circunstância não foi valorada na primeira instância, para
fins de majoração da pena-base, com o que se conformou o órgão acusatório.
Todavia, não pode este Tribunal – órgão incumbido de revisar a matéria de
fato – deixar de observá-la, até porque, segundo o parágrafo 3º, do artigo 33, do Código
Penal, o que limita o julgador são as circunstâncias fáticas e não propriamente o
patamar da pena-base.
Sob esse aspecto, não deve ser literal a interpretação do enunciado n. 440
das Súmulas do Superior Tribunal de Justiça, pois, decerto, o que pretenderam os
Tribunais Superiores foi impedir o recrudescimento do regime prisional quando
ausentes circunstâncias desfavoráveis, isto é, com fundamento na gravidade abstrata
do delito, o que, por sua vez, não se confunde com a situação aqui tratada, na qual,
como se vê, este Tribunal de Justiça, reavaliando as circunstâncias do artigo 59 do
Código Penal, devidamente positivadas nos autos, apenas mantém o que foi já
determinado, sem proceder a qualquer agravamento da pena do agente (...).
Face ao exposto, VOTO pelo desprovimento do presente recurso, com a
integral manutenção da sentença de primeiro grau" (grifei).

Pois bem.

No que tange à suposta nulidade absoluta, configurada pela realização de


prisão em flagrante, esta eg. Corte, há muito, firmou o entendimento de que, "Nos termos
do artigo 301 do Código de Processo Penal, qualquer pessoa pode prender quem esteja
em flagrante delito (...) Precedentes" (RHC n. 94.061/SP, Quinta Turma, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 30/4/2018).

Saliente-se, ademais, que, tratando-se de crime de tráfico ilícito de substância


entorpecente, de natureza permanente, a ação se prolonga no tempo, de modo que,
enquanto não cessada a permanência, haverá o estado de flagrância, o que possibilita a
prisão, diga-se novamente, por qualquer do povo e sem mandado.

Nesse sentido:

"HABEAS CORPUS. IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A


RECURSO PRÓPRIO. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES.
ALEGADA INCOMPETÊNCIA DOS GUARDAS MUNICIPAIS PARA
EFETUAR PRISÃO EM FLAGRANTE. PERMISSIVO DO ART. 301 DO
CPP. INOCORRÊNCIA. ALEGAÇÃO DE TER SIDO VÍTIMA DE
TORTURA. MATÉRIA NÃO EXAMINADA PELO TRIBUNAL A QUO.
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PRISÃO PREVENTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO. RISCO DE REITERAÇÃO. QUANTIDADE E
QUALIDADE DA DROGA. NECESSIDADE DE GARANTIR A ORDEM
PÚBLICA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça, seguindo entendimento
firmado pelo Supremo Tribunal Federal, passou a não admitir o
conhecimento de habeas corpus substitutivo de recurso previsto para a
espécie. No entanto, deve-se analisar o pedido formulado na inicial,
tendo em vista a possibilidade de se conceder a ordem de ofício, em
razão da existência de eventual coação ilegal.
2. Nos termos do artigo 301 do Código de Processo Penal,
qualquer pessoa pode prender quem esteja em flagrante delito, de
modo que inexiste óbice à realização do referido procedimento por
guardas municipais, não havendo, portanto, que se falar em prova
ilícita no caso em tela. Precedentes.
(...)
6. Habeas corpus não conhecido" (HC n. 421.954/SP,
Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de
2/4/2018, grifei).

"PROCESSO PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS


SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. FURTO
QUALIFICADO. UM DOS RÉUS BENEFICIADO COM INDULTO.
FALTA DE INTERESSE DE AGIR. NULIDADE. ABORDAGEM
REALIZADA POR GUARDAS MUNICIPAIS. PACIENTES EM
ESTADO DE FLAGRÂNCIA. LEGALIDADE DO ATO.
INTELIGÊNCIA DO ART. 301 DO CPP. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram
orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do
recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não
conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de
flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.
2. É manifesta a ausência de interesse de agir em relação a
um dos réus, em razão de ele ter sido beneficiado com o indulto, com
fundamento no Decreto n. 8.615/2015, tendo sido julgada extinta sua
punibilidade e expedido alvará de soltura em seu favor.
3. Hipótese na qual os réus foram abordados por Guardas
Municipais que os avistaram saindo de um matagal, portando os
objetos provenientes do furto que haviam acabado de praticar, ou seja,
em estado de flagrância, razão pela qual foram conduzidos à delegacia.
4. O Superior Tribunal de Justiça possui firme
entendimento no sentido de que não há óbice à ação dos guardas
municipais em casos de flagrante delito, pois, consoante o disposto no
art. 301 do CPP, "qualquer do povo poderá e as autoridades policiais
e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
flagrante delito". Precedentes.
5. Habeas corpus não conhecido" (HC n. 371.494/SP,
Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de 14/12/2017, grifei).

"HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO.


INADMISSIBILIDADE. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO EM
FLAGRANTE. GUARDA MUNICIPAL. NULIDADE DA SENTENÇA E
DO ACÓRDÃO. NÃO OCORRÊNCIA. BUSCA PESSOAL E
DOMICILIAR. PROVA ILÍCITA. INEXISTÊNCIA. CRIME
PERMANENTE. PARECER ACOLHIDO.
1. O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de
Justiça não têm mais admitido o habeas corpus como sucedâneo do
meio processual adequado, seja o recurso ou a revisão criminal, salvo
em situações excepcionais.
2. Na hipótese dos autos, não há falar em nulidade da
sentença e do acórdão sob a alegação de irregularidade na prisão em
flagrante, visto que os integrantes da Guarda Municipal flagraram o
paciente, em via pública, na posse de entorpecentes destinados à
mercancia, estando suas condutas amparadas pelo art. 301 do Código
de Processo Penal, segundo o qual qualquer do povo poderá e as
autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que
seja encontrado em flagrante delito.
3. Apesar das atribuições previstas no art. 144, § 8º, da
Constituição Federal, se qualquer pessoa do povo pode prender quem
quer que esteja em situação de flagrância, não se pode proibir o guarda
municipal de efetuar tal prisão.
4. Em razão do caráter permanente do tráfico de drogas,
cuja consumação se prolonga no tempo, a revista pessoal ou
domiciliar que ocasionou a prisão em flagrante, não representa prova
ilícita (Precedente).
5. Habeas corpus não conhecido" (HC n. 286.546/SP, Sexta
Turma, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe de 15/10/2015, grifei).
"PROCESSUAL PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS. ATO
INFRACIONAL EQUIPARADO AO TRÁFICO DE ENTORPECENTES.
AVENTADA INCOMPETÊNCIA DOS GUARDAS MUNICIPAIS PARA
EFETUAR PRISÃO EM FLAGRANTE. NULIDADE ABSOLUTA.
PROVAS ILÍCITAS. INOCORRÊNCIA. PERMISSIVO DO ART. 301
DO CPP. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. INTERNAÇÃO
PROVISÓRIA. FUNDAMENTAÇÃO. AUSÊNCIA. ILEGALIDADE.
VERIFICADA. HABEAS CORPUS PARCIALMENTE CONCEDIDO.
1. Pode a Guarda Municipal, inobstante sua atribuição
constitucional (art. 144, § 8º, CF), bem como qualquer do povo,
prender aquele encontrado em flagrante delito (art. 301, CPP).
2. O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, embora
seja socialmente reprovável, não conduz, obrigatoriamente, à medida
socioeducativa de internação (Súmula n. 492 do STJ), ainda mais
quando se trata da modalidade provisória, que somente pode ser
decretada nas hipóteses taxativamente elencadas no art. 122 do
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, cujas hipóteses não foram
expressadas como fundamento para a internação.
3. Habeas corpus parcialmente concedido, apenas para
cassar a internação provisória do paciente" (HC n. 365.283/SP, Sexta
Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 24/11/2016, grifei).

Nesse sentido, autorizada a prisão em flagrante pela legislação e


jurisprudência pátria, não há falar, no caso concreto, em situação ilegal pela existência de
denúncia anônima, pela inexistência dos respectivos mandados de prisão, assim como dos
de apreensão do material ilícito, pois tanto a prisão quanto a apreensão das drogas são
mera consequência lógica da situação de flagrância advinda da natureza permanente que
possui a prática do tráfico de drogas.

No caso concreto, a fundada suspeita dos policiais residiu no fato de que


havia prévia denúncia anônima sobre a atividade criminosa dos autos.

No julgamento da ADPF n. 635 MC ED, tema do Informativo de


Jurisprudência n. 1042/STF, a col. Suprema Corte firmou o entendimento de que:

"7 - Deferir, em parte, o pedido constante do item “d” da


petição inicial para determinar que, no caso de buscas domiciliares por
parte das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro, sejam
observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de
responsabilidade: (i) a diligência, no caso específico de cumprimento
de mandado judicial, deve ser realizada somente durante o dia,
vedando-se, assim, o ingresso forçado a domicílios à noite; (ii) a
diligência, quando feita sem mandado judicial, pode ter por base
denúncia anônima; (iii) a diligência deve ser justificada e detalhada
por meio da elaboração de auto circunstanciado, que deverá instruir
eventual auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente
por ato infracional e ser remetido ao juízo da audiência de custódia
para viabilizar o controle judicial posterior; e (iv) a diligência deve ser
realizada nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destinam.
Os subitens (i), (iii) e (iv) foram julgados à unanimidade e nos termos
do voto do Relator. O subitem (ii) foi julgado por maioria e nos termos
do voto do Ministro Alexandre de Moraes, vencido o Ministro Edson
Fachin (Relator); 8 – por unanimidade e nos termos do voto do Relator,
deferir o pedido constante do item “e” da petição inicial, para
reconhecer a obrigatoriedade de disponibilização de ambulâncias em
operações policiais previamente planejadas em que haja a
possibilidade de confrontos armados, sem prejuízo da atuação dos
agentes públicos e das operações; 9 – por maioria e nos termos do voto
do Relator, considerando que a legislação estadual vai ao encontro da
pretensão da parte requerente, deferir o pedido constante do item “j”
da petição inicial, para determinar que o Estado do Rio de Janeiro, no
prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, instale equipamentos de
GPS e sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e
nas fardas dos agentes de segurança, com o posterior armazenamento
digital dos respectivos arquivos, vencidos os Ministros André
Mendonça e Nunes Marques; 10 – por maioria e nos termos do voto do
Ministro Alexandre de Moraes, vencidos os Ministros Edson Fachin
(Relator), Roberto Barroso, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes,
indeferir o pedido para que o Conselho Nacional do Ministério Público
avalie a eficiência e a eficácia da alteração promovida no GAESP do
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro; 11 – por maioria e nos
termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, vencidos os Ministros
Edson Fachin (Relator), Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes,
indeferir o pedido para que eventual descumprimento da decisão
proferida por este Tribunal seja investigado pelo Ministério Público
Federal. Redigirá o acórdão o Ministro Edson Fachin (Relator).
Ausente, justificadamente, o Ministro Dias Toffoli, que já havia
proferido voto em assentada anterior. Presidência do Ministro Luiz
Fux. Plenário, 3.2.2022" (ADPF n. 635 MC ED, Tribunal Pleno, Rel.
Min. Edson Fachin, julgado em 3/2/2022, pendente de publicação).

In casu, havia prévia denúncia anônima sobre indivíduos praticando tráfico de


drogas nas proximidades de uma igreja evangélica, localizada em área dominada pela
facção criminosa denominada "Terceiro Comando".

Após a tentativa de abordagem policial em via pública, o paciente e seu


comparsa empreenderam fuga para uma residência próxima.
Da residência, arremessaram uma sacola com drogas pela janela, o que foi
visto pelos policiais ainda de fora, momento em que apreenderam as drogas na parte
externa da residência, tudo, conforme assentado no v. acórdão.

Verbis (fls. 138):

"(...) Na espécie, de acordo com a prova oral acusatória, não infirmada pela
defesa, as drogas arrecadadas foram localizadas no interior de uma sacola plástica,
arremessada pelos denunciados para fora de uma residência, por uma das janelas do
imóvel, ação esta, no entanto, que restou percebida pelos policiais.
Nessas circunstâncias, portanto, em que a apreensão das drogas se deu do
lado de fora da residência, totalmente infundada a arguição de prova ilegal obtida por
meio de violação de domicílio" (grifei).

Novamente, o v. acórdão (fls. 138 e 139):

"(...) Com efeito, depreende-se dos autos que policiais militares receberam
informe de que havia dois indivíduos, em atitude suspeita, rondando uma igreja
evangélica localizada no bairro Jardim Acácias, área dominada pelo “Terceiro
Comando”, de modo que os agentes para lá se encaminharam e, ao se aproximarem do
local indicado, avistaram o apelante e o corréu nessas condições, os quais, por sua vez,
tão logo perceberam a aproximação da guarnição, empreenderam fuga para o interior
de uma residência, sendo certo que os policiais visualizaram quando eles arremessaram
por uma das janelas do imóvel uma sacola plástica contendo 14 (quatorze) invólucros
de Cannabis sativa L (...)" (grifei).

Ademais, as drogas efetivamente apreendidas (27g de maconha, distribuídos


em 14 plásticos transparentes) somente reforçaram a necessidade da atuação estatal.

Ainda, houve confissão informal do paciente e seu comparsa de que


migraram para a facção criminosa "Terceiro Comando", por terem suas vidas
ameaçadas pela facção rival (fl. 139):

"(...) Os policiais ainda narraram que logo identificaram os denunciados


como moradores do bairro Freitas Soares, dominado pelo “Comando Vermelho”, e
estranharam eles estarem traficando em local de ingerência do “Terceiro Comando”.
Indagados, os denunciados admitiram aos agentes da lei que haviam migrado de
facção criminosa, por estarem, ambos, jurados de morte por alguns membros da
anterior facção criminosa a que pertenciam (...)" (grifei).

Não obstante o julgamento do HC n. 598.051/SP, em 2/3/2021, pela Sexta


Turma desta eg. Corte Superior, não se trata de salvo conduto a todas as condenações por
tráfico ilícito de drogas, devendo-se ainda analisar, caso a caso, aquelas prisões em
flagrante ocorridas em datas pretéritas.
Aqui, a ementa do julgado:

"HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.


FLAGRANTE. DOMICÍLIO COMO EXPRESSÃO DO DIREITO À
INTIMIDADE. ASILO INVIOLÁVEL. EXCEÇÕES
CONSTITUCIONAIS. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. INGRESSO
NO DOMICÍLIO. EXIGÊNCIA DE JUSTA CAUSA (FUNDADA
SUSPEITA). CONSENTIMENTO DO MORADOR. REQUISITOS
DE VALIDADE. ÔNUS ESTATAL DE COMPROVAR A
VOLUNTARIEDADE DO CONSENTIMENTO. NECESSIDADE DE
DOCUMENTAÇÃO E REGISTRO AUDIOVISUAL DA DILIGÊNCIA.
NULIDADE DAS PROVAS OBTIDAS. TEORIA DOS FRUTOS DA
ÁRVORE ENVENENADA. PROVA NULA. ABSOLVIÇÃO. ORDEM
CONCEDIDA.
(...)
2. O ingresso regular em domicílio alheio, na linha de
inúmeros precedentes dos Tribunais Superiores, depende, para sua
validade e regularidade, da existência de fundadas razões (justa
causa) que sinalizem para a possibilidade de mitigação do direito
fundamental em questão. É dizer, apenas quando o contexto fático
anterior à invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime
no interior da residência - cuja urgência em sua cessação demande
ação imediata - é que se mostra possível sacrificar o direito à
inviolabilidade do domicílio.
(...)
3. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão
geral (Tema 280), a tese de que: "A entrada forçada em domicílio sem
mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando
amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori"
(RE n. 603.616/RO, Rel. Ministro Gilmar Mendes, DJe 8/10/2010). Em
conclusão a seu voto, o relator salientou que a interpretação
jurisprudencial sobre o tema precisa evoluir, de sorte a trazer mais
segurança tanto para os indivíduos sujeitos a tal medida invasiva
quanto para os policiais, que deixariam de assumir o risco de cometer
crime de invasão de domicílio ou de abuso de autoridade,
principalmente quando a diligência não tiver alcançado o resultado
esperado.
4. As circunstâncias que antecederem a violação do
domicílio devem evidenciar, de modo satisfatório e objetivo, as
fundadas razões que justifiquem tal diligência e a eventual prisão em
flagrante do suspeito, as quais, portanto, não podem derivar de simples
desconfiança policial, apoiada, v. g., em mera atitude 'suspeita', ou na
fuga do indivíduo em direção a sua casa diante de uma ronda
ostensiva, comportamento que pode ser atribuído a vários motivos, não,
necessariamente, o de estar o abordado portando ou comercializando
substância entorpecente.
(...)
5.3. Tal compreensão não se traduz, obviamente, em cercear
a necessária ação das forças de segurança pública no combate ao
tráfico de entorpecentes, muito menos em transformar o domicílio em
salvaguarda de criminosos ou em espaço de criminalidade. Há de se
convir, no entanto, que só justifica o ingresso policial no domicílio
alheio a situação de ocorrência de um crime cuja urgência na sua
cessação desautorize o aguardo do momento adequado para, mediante
mandado judicial - meio ordinário e seguro para o afastamento do
direito à inviolabilidade da morada - legitimar a entrada em residência
ou local de abrigo.
6. Já no que toca ao consentimento do morador para o
ingresso em sua residência - uma das hipóteses autorizadas pela
Constituição da República para o afastamento da inviolabilidade do
domicílio - outros países trilharam caminho judicial mais assertivo,
ainda que, como aqui, não haja normatização detalhada nas respectivas
Constituições e leis, geralmente limitadas a anunciar o direito à
inviolabilidade da intimidade domiciliar e as possíveis autorizações
para o ingresso alheio.
(...)
7.1. Ante a ausência de normatização que oriente e regule o
ingresso em domicílio alheio, nas hipóteses excepcionais previstas no
Texto Maior, há de se aceitar com muita reserva a usual afirmação -
como ocorreu no caso ora em julgamento - de que o morador anuiu
livremente ao ingresso dos policiais para a busca domiciliar, máxime
quando a diligência não é acompanhada de documentação que a
imunize contra suspeitas e dúvidas sobre sua legalidade.
7.2. Por isso, avulta de importância que, além da
documentação escrita da diligência policial (relatório circunstanciado),
seja ela totalmente registrada em vídeo e áudio, de maneira a não
deixar dúvidas quanto à legalidade da ação estatal como um todo e,
particularmente, quanto ao livre consentimento do morador para o
ingresso domiciliar. Semelhante providência resultará na diminuição
da criminalidade em geral - pela maior eficácia probatória, bem como
pela intimidação a abusos, de um lado, e falsas acusações contra
policiais, por outro - e permitirá avaliar se houve, efetivamente, justa
causa para o ingresso e, quando indicado ter havido consentimento do
morador, se foi ele livremente prestado.
(...)
9. Na espécie, não havia elementos objetivos, seguros e
racionais que justificassem a invasão de domicílio do suspeito,
porquanto a simples avaliação subjetiva dos policiais era insuficiente
para conduzir a diligência de ingresso na residência, visto que não foi
encontrado nenhum entorpecente na busca pessoa realizada em via
pública.
(...)
12. Habeas Corpus concedido, com a anulação da prova
decorrente do ingresso desautorizado no domicílio e consequente
absolvição do paciente, dando-se ciência do inteiro teor do acórdão aos
Presidentes dos Tribunais de Justiça dos Estados e aos Presidentes dos
Tribunais Regionais Federais, bem como às Defensorias Públicas dos
Estados e da União, ao Procurador-Geral da República e aos
Procuradores-Gerais dos Estados, aos Conselhos Nacionais da Justiça
e do Ministério Público, à Ordem dos Advogados do Brasil, ao
Conselho Nacional de Direitos Humanos, ao Ministro da Justiça e
Segurança Pública e aos Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, encarecendo a estes últimos que deem conhecimento do teor
do julgado a todos os órgãos e agentes da segurança pública federal,
estadual e distrital.
13. Estabelece-se o prazo de um ano para permitir o
aparelhamento das polícias, treinamento e demais providências
necessárias para a adaptação às diretrizes da presente decisão, de
modo a, sem prejuízo do exame singular de casos futuros, evitar
situações de ilicitude que possam, entre outros efeitos, implicar
responsabilidade administrativa, civil e/ou penal do agente estatal"
(HC n. 598.051/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz,
DJe de 15/3/2021, grifei).

Mais recentemente, esta Quinta Turma, porém, estabeleceu os seguintes


parâmetros a serem observados quando da prisão em flagrante em sede domiciliar.

Vejamos:

“PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO


DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. TRÁFICO DE DROGAS.
BUSCA DOMICILIAR SEM MANDADO JUDICIAL.
CONSENTIMENTO DO MORADOR. VERSÃO NEGADA PELA
DEFESA. IN DUBIO PRO REO. PROVA ILÍCITA. NOVO
ENTENDIMENTO SOBRE O TEMA HC 598.051/SP. VALIDADE DA
AUTORIZAÇÃO DO MORADOR DEPENDE DE PROVA ESCRITA E
GRAVAÇÃO AMBIENTAL. WRIT NÃO CONHECIDO. MANIFESTA
ILEGALIDADE VERIFICADA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. Esta Corte - HC 535.063/SP, Terceira Seção, Rel.
Ministro Sebastião Reis Junior, julgado em 10/6/2020 - e o Supremo
Tribunal Federal - AgRg no HC 180.365, Primeira Turma, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 27/3/2020; AgR no HC 147.210, Segunda
Turma, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 -, pacificaram
orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do
recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não
conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de
flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.
2. A Constituição Federal, no art. 5º, inciso XI, estabelece
que "a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial".
3. Em recente julgamento no HC 598.051/SP, a Sexta Turma,
em voto de relatoria do Ministro Rogério Schietti - amparado em
julgados estrangeiros -, decidiu que o consentimento do morador para a
entrada dos policiais no imóvel será válido apenas se documentado por
escrito e, ainda, for registrado em gravação audiovisual.
4. O eminente Relator entendeu ser imprescindível ao
Judiciário, na falta de norma específica sobre o tema, proteger, contra
o possível arbítrio de agentes estatais, o cidadão, sobretudo aquele
morador das periferias dos grandes centros urbanos, onde
rotineiramente há notícias de violação a direitos fundamentais.
5. Na hipótese em apreço, consta que o paciente e a corré,
em razão de uma denúncia anônima de tráfico de drogas, foram
abordados em via pública e submetidos a revista pessoal, não tendo
sido nada encontrado com eles. Na sequência, foram conduzidos à
residência do paciente, que teria franqueado a entrada dos policiais no
imóvel. Todavia, a defesa afirma que não houve consentimento do
morador e, na verdade, ele e sua namorada foram levados à força,
algemados e sob coação, para dentro da casa, onde foram recolhidos os
entorpecentes (110g de cocaína e 43g de maconha).
6. Como destacado no acórdão paradigma, "Essa relevante
dúvida não pode, dadas as circunstâncias concretas - avaliadas por
qualquer pessoa isenta e com base na experiência quotidiana do que
ocorre nos centros urbanos - ser dirimida a favor do Estado, mas a
favor do titular do direito atingido (in dubio libertas). Em verdade,
caberia aos agentes que atuam em nome do Estado demonstrar, de
modo inequívoco, que o consentimento do morador foi livremente
prestado, ou que, na espécie, havia em curso na residência uma clara
situação de comércio espúrio de droga, a autorizar, pois, o ingresso
domiciliar mesmo sem consentimento do morador."
7. Na falta de comprovação de que o consentimento do
morador foi voluntário e livre de qualquer coação e intimidação,
impõe-se o reconhecimento da ilegalidade na busca domiciliar e
consequentemente de toda a prova dela decorrente (fruits of the
poisonous tree).
8. Vale anotar que a Sexta Turma estabeleceu o prazo de um
ano para o aparelhamento das polícias, o treinamento dos agentes e
demais providências necessárias para evitar futuras situações de
ilicitude que possam, entre outros efeitos, resultar em responsabilização
administrativa, civil e penal dos policiais, além da anulação das provas
colhidas nas investigações.
9. Fixou, ainda, as seguintes diretrizes para o ingresso
regular e válido no domicílio alheio, que transcrevo a seguir: "1. Na
hipótese de suspeita de crime em flagrante, exige-se, em termos de
standard probatório para ingresso no domicílio do suspeito sem
mandado judicial, a existência de fundadas razões (justa causa),
aferidas de modo objetivo e devidamente justificadas, de maneira a
indicar que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito. 2. O
tráfico ilícito de entorpecentes, em que pese ser classificado como crime
de natureza permanente, nem sempre autoriza a entrada sem mandado
no domicílio onde supostamente se encontra a droga. Apenas será
permitido o ingresso em situações de urgência, quando se concluir que
do atraso decorrente da obtenção de mandado judicial se possa
objetiva e concretamente inferir que a prova do crime (ou a própria
droga) será destruída ou ocultada. 3. O consentimento do morador,
para validar o ingresso de agentes estatais em sua casa e a busca e
apreensão de objetos relacionados ao crime, precisa ser voluntário e
livre de qualquer tipo de constrangimento ou coação. 4. A prova da
legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na
residência do suspeito incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve
ser feita com declaração assinada pela pessoa que autorizou o ingresso
domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em
todo caso, a operação deve ser registrada em áudio-vídeo e preservada
tal prova enquanto durar o processo. 5. A violação a essas regras e
condições legais e constitucionais para o ingresso no domicílio alheio
resulta na ilicitude das provas obtidas em decorrência da medida, bem
como das demais provas que dela decorrerem em relação de
causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização penal do(s)
agente(s) público(s) que tenha(m) realizado a diligência."
10. Habeas corpus não conhecido. Ordem, concedida, de
ofício, para declarar a invalidade das provas obtidas mediante violação
domiciliar, e todas as dela decorrentes, na AP n. 132/2.20.0001682-3.
Expeçam-se, também, alvará de soltura em benefício do paciente e, nos
termos do art. 580 do CPP, da corré” (HC n. 616.584/RS, Quinta
Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de 6/4/2021, grifei).

Outrossim, no que atine à questão da validade dos depoimentos policiais em


geral, esta eg. Corte também é pacífica no sentido de que eles merecem a credibilidade e
a fé pública inerente ao depoimento de qualquer funcionário estatal no exercício de suas
funções e ausentes indícios de que houvesse motivos pessoais para a incriminação
injustificada dos investigados.

Nestes termos:

"AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PLEITO
ABSOLUTÓRIO. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ.
1. Concluindo as instâncias de origem, de forma
fundamentada, acerca da autoria e materialidade delitiva assestadas ao
agravante, considerando especialmente o flagrante efetivado e os
depoimentos prestados em juízo, inviável a desconstituição do
raciocínio com vistas a absolvição por insuficiência probatória, pois
exigiria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, esbarrando
no óbice da Súmula n. 7/STJ.
2. Conforme entendimento desta Corte, o depoimento de
policiais responsáveis pela prisão em flagrante do acusado constitui
meio de prova idôneo a embasar o édito condenatório, mormente
quando corroborado em Juízo, no âmbito do devido processo legal.
(...)
3. Agravo improvido" (AgRg no AREsp n. 1.281.468/BA,
Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 14/12/2018, grifei).

"AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO HABEAS CORPUS. ROUBO QUALIFICADO.
CONDENAÇÃO BASEADA EM OUTRAS PROVAS SUFICIENTES.
TESTEMUNHO POLICIAL INDIRETO DE QUE O CORRÉU AFIRMA
PARTICIPAÇÃO DO AGRAVANTE. PROVA ACESSÓRIA.
EXISTÊNCIA DE OUTRAS PROVAS QUE SUSTENTAM A
CONDENAÇÃO. NULIDADE ABSOLUTA NÃO RECONHECIDA.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. Indicando a Corte local dar-se a condenação não apenas
pelo depoimento de policial, mas por outras provas também valoradas,
não cabe a pretensão de nulidade da condenação.
2. Inexistindo impedimento legal ao depoimento de policiais
e presentes outras provas que sustentem a condenação, não há falar
em nulidade.
3. Agravo regimental improvido" (AgRg nos EDcl no HC n.
446.151/RS, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de
27/2/2019, grifei).

Ademais, não constatada nenhuma flagrante ilegalidade, de plano, importante


esclarecer a impossibilidade de se percorrer todo o acervo fático-probatório nesta via
estreita do writ, como forma de desconstituir as conclusões das instâncias ordinárias,
soberanas na análise dos fatos e provas, providência inviável de ser realizada dentro dos
estreitos limites do habeas corpus, que não admite dilação probatória e o aprofundado
exame do acervo da ação penal.

Sobre o tema, confiram-se os seguintes julgados:


"HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO
PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CRIME CONTRA A
DIGNIDADE SEXUAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL EM
CONTINUIDADE DELITIVA. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO POR
AUSÊNCIA DE PROVAS. NECESSÁRIO REVOLVIMENTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. DEPOIMENTO DA VÍTIMA E OUTRAS PROVAS
TESTEMUNHAIS. AUTORIA DELITIVA E MATERIALIDADE
CONFIRMADAS. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
(...)
4. A pretendida absolvição do paciente ante a alegada
ausência de prova da autoria delitiva e da materialidade é questão que
demanda aprofundada análise do conjunto probatório produzido na
ação penal, providência vedada na via estreita do remédio
constitucional do habeas corpus, em razão do seu rito célere e
desprovido de dilação probatória.
5. Habeas corpus não conhecido" (HC n. 475.442/PE,
Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de
22/11/2018, grifei).

"PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. ESTUPRO DE
VULNERÁVEL (CP. ART. 217-A). ABSOLVIÇÃO. IMPROPRIEDADE
NA VIA ELEITA. DESCLASSIFICAÇÃO PARA A CONTRAVENÇÃO
PENAL. PRÁTICA DE ATO LIBIDINOSO DIVERSO DA
CONJUNÇÃO PENAL. CRIME CONFIGURADO. MAIORES
INCURSÕES SOBRE O TEMA QUE DEMANDARIAM
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. WRIT NÃO CONHECIDO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram
orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do
recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não
conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de
flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.
2. O habeas corpus não se presta para a apreciação de
alegações que buscam a absolvição do paciente, em virtude da
necessidade de revolvimento do conjunto fático-probatório, o que é
inviável na via eleita.
3. Se as instâncias ordinárias, mediante valoração do
acervo probatório produzido nos autos, entenderam, de forma
fundamentada, ser o réu autor do ilícito descrito na exordial
acusatória, a análise das alegações concernentes ao pleito de
absolvição demandaria exame detido de provas, inviável em sede de
writ.
(...)
6. Writ não conhecido" (HC n. 431.708/MS, Quinta Turma,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de 30/5/2018, grifei).
"AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. ESTUPRO
DE VULNERÁVEL. COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO.
ABSOLVIÇÃO. EXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. VEDAÇÃO.
INÉPCIA DA DENÚNCIA E FALTA DE JUSTA CAUSA. SENTENÇA
CONDENATÓRIA. TESES SUPERADAS. CERCEAMENTO DE
DEFESA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PEDIDO
MANIFESTAMENTE INCABÍVEL. RECURSO NÃO ACOLHIDO.
1. Mostra-se adequada a decisão que indefere liminarmente,
de forma monocrática, o habeas corpus manifestamente incabível, nos
termos do art. 210 do Regimento Interno do Superior Tribunal de
Justiça.
2. Não é possível, na via estreita do mandamus, analisar
profundamente as provas para se concluir pela inocência do acusado.
3. Prolatada sentença condenatória, ficam superadas as
alegações de inépcia da denúncia e de falta de justa causa para a ação
penal.
4. Inviável avaliar a alegação de nulidade por cerceamento
de defesa se ela não foi levada a exame do Tribunal de origem, sob
pena de indevida supressão de instância.
5. Agravo regimental a que se nega provimento" (AgRg no
HC n. 428.336/SP, Sexta Turma, Relª. Min.ª Maria Thereza de Assis
Moura, DJe de 15/2/2018, grifei).

"PENAL. PROCESSUAL PENAL. ESTUPRO.


ABSOLVIÇÃO. NULIDADE. AUSÊNCIA DE ESTUDO DE
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E SOCIAL DA VÍTIMA. IRRELEVANTE
AO DESLINDE DO FEITO. DECISÃO PROFERIDA COM BASE NO
ACERVO PROBATÓRIO. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. REEXAME
PROBATÓRIO. INADMISSIBILIDADE PENA VIA DO WRIT. ORDEM
DENEGADA.
1. Além de restar prejudicada a realização do estudo
psicológico e social por não ter sido localizada a vítima, ressaltou o
Tribunal de origem que, da leitura da prova amealhada sob o crivo do
contraditório, verifica-se que a submissão da vítima a nova perícia
revela-se patentemente desnecessária, valoração de desnecessidade que
não se revela desarrazoada.
2. Não há preclusão judicial no deferimento ou determinação
de provas, que pode ter reconsiderada a necessidade de sua realização.
3. Tendo as instâncias ordinárias indicado os elementos de
prova que levaram ao reconhecimento da autoria e da materialidade e,
por consequência, à condenação, não cabe a esta Corte Superior, em
habeas corpus, desconstituir o afirmado, pois demandaria profunda
incursão na seara fático-probatória, inviável nessa via processual.
4. Habeas corpus denegado" (HC n. 376.672/SP, Sexta
Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 31/8/2017, grifei).
Diante do contexto aqui apresentado, assim como da inexistência de qualquer
indício de que a palavra dos policiais não mereça guarida, não se vislumbra o alegado
constrangimento ilegal.

II – Materialidade e autoria: desclassificação

Apesar de a d. Defesa alegar a necessidade de desclassificação para o delito do


art. 28 da Lei n. 11.343/06, o paciente restou condenado com amparo em claras provas
de autoria e materialidade do art. 33, caput, da norma acima.

Tudo o que foi confirmado pelo eg. Tribunal de origem, mediante exaustiva
análise do acervo fático-probatório.

De fato, a autoria e a materialidade foram devidamente constatadas, em


especial, por auto de prisão em flagrante, boletim de ocorrência, auto de apreensão,
laudos periciais, bem como pela prova oral colhida em ambas as fases.

Nesse sentido, o eg. Tribunal a quo ratificou a autoria e materialidade do


crime, às fls. 138-142, enumerando as seguintes provas:

"(...) Com relação ao mérito, as pretensões absolutória e desclassificatória,


deduzidas em favor do apelante, tampouco merecem prosperar.
A materialidade do crime de tráfico de drogas restou positivada no auto de
apreensão, às fls. 09, e laudo pericial, às fls. 13, que atesta a natureza entorpecente da
substância apreendida, correspondente a 27g (vinte e sete gramas) de Cannabis sativa
L., distribuídos em 14 (quatorze) plásticos transparentes.
A existência do crime de associação para o tráfico e a autoria de ambos os
delitos na pessoa do acusado, por seu turno, emergem do auto de prisão em flagrante, às
fls. 03/04, do registro de ocorrência, às fls. 21/23, das declarações prestadas em sede
policial, às fls. 05/08 e 15/20, e notadamente da prova oral produzida no curso da
instrução criminal.
Com efeito, depreende-se dos autos que policiais militares receberam
informe de que havia dois indivíduos, em atitude suspeita, rondando uma igreja
evangélica localizada no bairro Jardim Acácias, área dominada pelo “Terceiro
Comando”, de modo que os agentes para lá se encaminharam e, ao se aproximarem do
local indicado, avistaram o apelante e o corréu nessas condições, os quais, por sua vez,
tão logo perceberam a aproximação da guarnição, empreenderam fuga para o interior
de uma residência, sendo certo que os policiais visualizaram quando eles
arremessaram por uma das janelas do imóvel uma sacola plástica contendo 14
(quatorze) invólucros de Cannabis sativa L.
E obedecendo determinação da guarnição policial, o apelante e o corréu já
falecido saíram do imóvel, sendo presos em flagrante.
Os policiais ainda narraram que logo identificaram os denunciados como
moradores do bairro Freitas Soares, dominado pelo “Comando Vermelho”, e
estranharam eles estarem traficando em local de ingerência do “Terceiro Comando”.
Indagados, os denunciados admitiram aos agentes da lei que haviam migrado de facção
criminosa, por estarem, ambos, jurados de morte por alguns membros da anterior facção
criminosa a que pertenciam.
Nesse sentido, alude-se aos depoimentos prestados pelos policiais militares
Clelvis Andrade Gomes de Oliveira e Leonardo Ferreira de Freitas, os quais, além de
harmônicos entre si, ecoam a mesma versão apresentada em sede policial (fls. 05/08).
No ponto, convém consignar que nada há nos autos que possa fragilizar os
aludidos depoimentos, sendo, portanto, perfeitamente aptos a amparar o juízo de
reprovação, ressaltando que tal matéria já se encontra até mesmo sumulada por este
Tribunal, nos termos do verbete n.º 70.
Ademais, os relatos dos policiais militares restaram reforçados pelo
depoimento do proprietário do imóvel, Alexsandro Augusto dos Santos, que,
inicialmente, em uma nítida tentativa de inocentar Bruno – seu primo –, disse que
nada sabia sobre o seu envolvimento com o tráfico de drogas, mas, confrontado com o
teor de sua declaração de fls. 15/16, confirmou a veracidade daquela narrativa, e,
assim, o envolvimento do apelante com o tráfico de drogas e ainda a sua migração de
facção criminosa. Confira-se o teor da declaração dada em sede policial:
“Que conhece a pessoa de BRUNO SALES COSTA há muitos anos, desde que
ele era criança; que conhece a pessoa de NATAN CHAVES DOS SANTOS há cerca de
quatro ou cinco meses; que há cerca de duas semanas foi procurado por NATAN e
BRUNO os quais pediram para passar alguns dias em sua casa, até que eles
conseguissem alugar um imóvel; que ambos disseram que não poderiam permanecer no
Bairro Freitas Soares pois o pessoal do Comando Vermelho iria matar eles; que
permitiu que ambos ficassem em sua casa; que o declarante sabia que BRUNO e NATAN
comercializavam drogas, mas exigiu que eles não entrassem no imóvel com drogas e que
deixassem seu comércio fora de sua casa; que eventualmente BRUNO e NATAN davam
maconha para o declarante consumir; que no dia 10/7/2019, por volta das 12h, estava
chegando em casa quando avistou uma viatura da polícia militar em frente ao imóvel;
que abordou os policiais e indagou o que estava acontecendo, informando imediatamente
que era o proprietário do imóvel; que os policiais informaram sobre os fatos e todos
foram conduzidos a esta UPAJ; esclarece que durante todo o tempo de permanência de
BRUNO e NATAN na casa, não os viu com drogas, mas apenas a que eles forneciam
para consumir; que participou em momento algum de comércio de drogas; que somente
deu abrigo a eles em decorrência das ameaças que sofreram; que mais nada sabe
informar sobre os fatos.” (Grifos nossos.)
Some-se a isso a confissão do corréu Natan em sede extrajudicial, no sentido
de que ele e Bruno migraram de facção criminosa, ainda que, ao final, tenha se
contradito, ao afirmar que as drogas apreendidas se destinavam ao seu próprio
consumo, consoante fls. 17/18.
Como se não bastasse, o apelante Bruno, em sede policial, afirmou que Natan
não cumpriu o combinado de assumir a propriedade das drogas e que apenas prestaria
mais esclarecimentos em Juízo, conforme consta às fls. 19/20.
Já em seu interrogatório judicial, Bruno admitiu em parte os fatos imputados,
confirmando que Natan dispensou a sacola contendo a maconha tão logo notou a
aproximação dos policiais, mas atribuiu a propriedade dos entorpecentes exclusivamente
ao corréu. Alegou conhecer Natan há pouco tempo, admitindo que ambos haviam
residido no bairro Freitas Soares. Questionado sobre o motivo da mudança de domicílio,
disse ter ouvido que estava jurado de morte, sem especificar o motivo e nem quem havia
feito a ameaça; porém, indagado sobre as facções dominantes, respondeu, como relatado
pelos policiais, que o “Comando Vermelho” domina o bairro Freitas Soares e o
“Terceiro Comando”, o bairro Jardim Acácias.
É verdade que Alexsandro, em seu depoimento, afirmou ter presenciado o
momento em que Natan teria dito aos policiais que as drogas eram exclusivamente suas,
contudo, como se viu, trata-se de inovadora narrativa, em nítida tentativa de inocentar o
réu, vez que, na detalhada declaração dada em sede policial, nada foi dito a esse
respeito.
Assim, não se confere crédito à versão autodefensiva de negativa de autoria,
inexistindo dúvidas de que o apelante e o corréu estavam na posse compartilhada dos
entorpecentes apreendidos e atuavam na prática do tráfico ilícito de entorpecentes,
tornando descabida a pretensão desclassificatória para o delito previsto no artigo 28 da
Lei n.º 11.343/06 (...)" (grifei).

Deve-se recordar que o tipo penal em comento é de natureza mista


alternativa, comportando inúmeras condutas (inclusive a de apenas guardar), que,
praticadas de forma conjunta ou isolada, comportam crime único.

Assim, sequer as provas da mercancia se exigem, constatada a prática de


qualquer dos demais verbos abaixo transcritos, vejamos:

"Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,


vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
(...)
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda,
oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de
drogas;
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima
para a preparação de drogas;
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade,
posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes
elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente."

No caso concreto, no mais, verifico que a condenação se deu em processo


criminal de curso regular, sem ofensa a princípios gerais de direito, em especial, os do
juiz natural e do duplo grau de jurisdição.

Vejamos:

"No processo penal, à exceção das decisões provenientes do


Tribunal do Júri, a apelação devolve à instância recursal originária o
conhecimento de toda a matéria impugnada, ainda que não tenha sido
objeto de julgamento pelo Juiz singular. Assim, a omissão na sentença
acerca da tese ventilada pela defesa, na fase de alegações finais, pode
ser suprida em segunda instância, não havendo se falar em ofensa ao
princípio do duplo grau de jurisdição" (HC n. 165.789/MG, Sexta
Turma, Rel. Min. Og Fernandes, DJe de 17/8/2011, grifei).

O modus operandi também reforça a tese de crime de tráfico de drogas.

Deve-se recordar, ainda, que o paciente foi encontrado de posse de drogas, se


livrando delas, com confissão informal aos policiais de integrar facção criminosa
denominada "Terceiro Comando", a qual foi corroborada pela confissão do corréu
Natan, em sede extrajudicial, pelos depoimentos policiais, bem como pelo depoimento da
testemunha Alexsandro, primo do paciente, e proprietário da residência onde ocorreu a
prisão em flagrante, que confirmou seu envolvimento com drogas.

Nesse sentido, em razão da existência de provas suficientes da autoria e


materialidade, fica impossibilitado o reconhecimento de qualquer hipótese de absolvição
ou desclassificação do delito.

III - Absolvição do delito do art. 35 da Lei 11.343/06 (estabilidade e


permanência)

Do v. acórdão de origem, pode-se extrair perfeitamente a atividade criminosa


em associação, bem como há a devida descrição e comprovação da estabilidade e
permanência, que ensejaram a condenação pelo delito previsto no art. 35 da Lei n.
11.343/2006.

Repita-se o v. acórdão, na parte em que importa (fls. 138-143):


"(...) A existência do crime de associação para o tráfico e a autoria de ambos
os delitos na pessoa do acusado, por seu turno, emergem do auto de prisão em
flagrante, às fls. 03/04, do registro de ocorrência, às fls. 21/23, das declarações
prestadas em sede policial, às fls. 05/08 e 15/20, e notadamente da prova oral produzida
no curso da instrução criminal.
Com efeito, depreende-se dos autos que policiais militares receberam
informe de que havia dois indivíduos, em atitude suspeita, rondando uma igreja
evangélica localizada no bairro Jardim Acácias, área dominada pelo “Terceiro
Comando”, de modo que os agentes para lá se encaminharam e, ao se aproximarem do
local indicado, avistaram o apelante e o corréu nessas condições, os quais, por sua vez,
tão logo perceberam a aproximação da guarnição, empreenderam fuga para o interior
de uma residência, sendo certo que os policiais visualizaram quando eles
arremessaram por uma das janelas do imóvel uma sacola plástica contendo 14
(quatorze) invólucros de Cannabis sativa L..
E obedecendo determinação da guarnição policial, o apelante e o corréu já
falecido saíram do imóvel, sendo presos em flagrante.
Os policiais ainda narraram que logo identificaram os denunciados como
moradores do bairro Freitas Soares, dominado pelo “Comando Vermelho”, e
estranharam eles estarem traficando em local de ingerência do “Terceiro Comando”.
Indagados, os denunciados admitiram aos agentes da lei que haviam migrado de facção
criminosa, por estarem, ambos, jurados de morte por alguns membros da anterior facção
criminosa a que pertenciam.
Nesse sentido, alude-se aos depoimentos prestados pelos policiais militares
Clelvis Andrade Gomes de Oliveira e Leonardo Ferreira de Freitas, os quais, além de
harmônicos entre si, ecoam a mesma versão apresentada em sede policial (fls. 05/08).
No ponto, convém consignar que nada há nos autos que possa fragilizar os
aludidos depoimentos, sendo, portanto, perfeitamente aptos a amparar o juízo de
reprovação, ressaltando que tal matéria já se encontra até mesmo sumulada por este
Tribunal, nos termos do verbete n.º 70.
Ademais, os relatos dos policiais militares restaram reforçados pelo
depoimento do proprietário do imóvel, Alexsandro Augusto dos Santos, que,
inicialmente, em uma nítida tentativa de inocentar Bruno – seu primo –, disse que
nada sabia sobre o seu envolvimento com o tráfico de drogas, mas, confrontado com o
teor de sua declaração de fls. 15/16, confirmou a veracidade daquela narrativa, e,
assim, o envolvimento do apelante com o tráfico de drogas e ainda a sua migração de
facção criminosa. Confira-se o teor da declaração dada em sede policial:
“Que conhece a pessoa de BRUNO SALES COSTA há muitos anos, desde que
ele era criança; que conhece a pessoa de NATAN CHAVES DOS SANTOS há cerca de
quatro ou cinco meses; que há cerca de duas semanas foi procurado por NATAN e
BRUNO os quais pediram para passar alguns dias em sua casa, até que eles
conseguissem alugar um imóvel; que ambos disseram que não poderiam permanecer no
Bairro Freitas Soares pois o pessoal do Comando Vermelho iria matar eles; que
permitiu que ambos ficassem em sua casa; que o declarante sabia que BRUNO e
NATAN comercializavam drogas, mas exigiu que eles não entrassem no imóvel com
drogas e que deixassem seu comércio fora de sua casa; que eventualmente BRUNO e
NATAN davam maconha para o declarante consumir; que no dia 10/7/2019, por volta
das 12h, estava chegando em casa quando avistou uma viatura da polícia militar em
frente ao imóvel; que abordou os policiais e indagou o que estava acontecendo,
informando imediatamente que era o proprietário do imóvel; que os policiais
informaram sobre os fatos e todos foram conduzidos a esta UPAJ; esclarece que durante
todo o tempo de permanência de BRUNO e NATAN na casa, não os viu com drogas, mas
apenas a que eles forneciam para consumir; que participou em momento algum de
comércio de drogas; que somente deu abrigo a eles em decorrência das ameaças que
sofreram; que mais nada sabe informar sobre os fatos.” (Grifos nossos).
Some-se a isso a confissão do corréu Natan em sede extrajudicial, no sentido
de que ele e Bruno migraram de facção criminosa, ainda que, ao final, tenha se
contradito, ao afirmar que as drogas apreendidas se destinavam ao seu próprio
consumo, consoante fls. 17/18.
Como se não bastasse, o apelante Bruno, em sede policial, afirmou que Natan
não cumpriu o combinado de assumir a propriedade das drogas e que apenas prestaria
mais esclarecimentos em Juízo, conforme consta às fls. 19/20 (...).
E, nessas circunstâncias, impossível também não reconhecer o vínculo
estável e permanente existente entre o apelante e o corréu e entre eles e os demais
integrantes da organização criminosa “Terceiro Comando”, o que comprova a
existência e a autoria do crime de associação para o tráfico de drogas.
Ao contrário do que sustenta a defesa, não se trata de mera presunção.
Ora, além de Bruno ter sido preso em conjunto com o corréu, a inserção de
ambos na aludida facção criminosa encontra respaldo na declaração extrajudicial de
Natan, no depoimento da testemunha Alexsandro, que confirmou o teor de sua
declaração em sede policial e, ainda, no depoimento dos policiais.
E evidentemente, somente mantendo vínculo estável e permanente com os
demais membros da facção criminosa dominante na localidade onde se deram os fatos,
seria permitido ao apelante Bruno e ao corréu traficar drogas naquela área.
Entendimento em sentido diverso implicaria em admitir que os denunciados estariam,
de modo isolado e escancarado, competindo com uma das maiores facções criminosas
deste Estado, o que, por óbvio, por consistir em prática suicida, não se coaduna com a
realidade dos fatos(...)" (grifei).

Outrossim, novamente, convém registrar que o pleito de absolvição por


ausência de provas de estabilidade e permanência, demanda ampla incursão no acervo
fático-probatório da ação penal, o que não se coaduna com a via mandamental eleita.

Assente nesta eg. Corte Superior que "O habeas corpus não é a via adequada
para sindicar sobre a ausência de provas de autoria, dada a necessidade de ampla
dilação probatória, providência incompatível com o rito célere do mandamus, que exige
prova pré-constituída do direito alegado" (RHC n. 75.832/BA, Quinta Turma, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 24/2/2017).

Assim, esta Corte Superior entende pela impossibilidade de amplo


revolvimento de fatos e provas nestes aspectos.

IV - Dosimetria

Inicialmente, cumpre asseverar que a via do writ somente se mostra adequada


para a análise da dosimetria da pena se não for necessária uma análise aprofundada do
conjunto probatório e caso se trate de flagrante ilegalidade.

Vale dizer, o entendimento deste eg. Tribunal Superior firmou-se no sentido


de que a “dosimetria da pena insere-se dentro de um juízo de discricionariedade do
julgador, atrelado às particularidades fáticas do caso concreto e subjetivas do agente,
somente passível de revisão por esta Corte no caso de inobservância dos parâmetros
legais ou de flagrante desproporcionalidade" (HC n. 400.119/RJ, Quinta Turma, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 1º/8/2017).

Aqui, foi utilizada para afastar a minorante do privilégio a dedicação a


atividades criminosas pelo paciente, sobretudo por também ter sido condenado pelo crime
de associação para o tráfico.

Verbis (fls. 143):

"(...) É mantida, portanto, a condenação do apelante pelos dois delitos


imputados, o que afasta o pedido subsidiário de incidência do parágrafo 4º, do artigo 33,
da Lei n.º 11.343/06, face à sua manifesta incompatibilidade com a condenação pelo
crime de associação para o tráfico, em que a dedicação à criminalidade lhe é inerente,
ainda mais no caso dos autos, em que comprovado que essa associação englobava
organização criminosa(...)" (grifei).

Com efeito, "Consoante jurisprudência deste Superior Tribunal, a


condenação pelo crime de associação para o tráfico de entorpecentes demonstra a
dedicação dos acusados a atividades ilícitas e a participação em associação criminosa,
autorizando a conclusão de que não estão preenchidos os requisitos legalmente exigidos
para a concessão do benefício do redutor previsto no § 4º do art. 33 da Lei n.
11.3434/2006" (HC n. 320.669/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, DJe de 25/11/2015).

Tal entendimento se coaduna ao julgado no RE n. 666.334/AM, em sede de


repercussão geral (Tese n. 712), no qual o col. Supremo Tribunal Federal fixou o
entendimento de que a natureza e a quantidade de entorpecentes não podem ser utilizadas
em duas fases do sopesamento das penas.
No mesmo sentido, o recente entendimento firmado pela Terceira Seção desta
Corte Superior, no julgamento do REsp n. 1.887.511/SP, verbis: "Não há margem, na
redação do art. 42 da Lei n. 11.343/2006, para utilização de suposta discricionariedade
judicial que redunde na transferência da análise desses elementos para etapas
posteriores, já que erigidos ao status de circunstâncias judiciais preponderantes, sem
natureza residual (...) O tráfico privilegiado é instituto criado par a beneficiar aquele
que ainda não se encontra mergulhado nessa atividade ilícita, independentemente do tipo
ou do volume de drogas apreendidas, para implementação de política criminal que
favoreça o traficante eventual (...) A utilização concomitante da natureza e da
quantidade da droga apreendida na primeira e na terceira fases da dosimetria, nesta
última para descaracterizar o tráfico privilegiado ou modular a fração de diminuição de
pena, configura bis in idem, expressamente rechaçado no julgamento do Recurso
Extraordinário n. 666.334/AM, submetido ao regime de repercussão geral pelo Supremo
Tribunal Federal (Tese de Repercussão Geral n. 712) (...) A utilização supletiva desses
elementos para afastamento do tráfico privilegiado somente pode ocorrer quando esse
vetor seja conjugado com outras circunstâncias do caso concreto que, unidas,
caracterizem a dedicação do agente à atividade criminosa ou à integração a
organização criminosa" (REsp n. 1.887.511/SP, Terceira Seção, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, DJe 1º/7/2021).

Inalteradas as penas impostas, prejudicados, pois, os pedidos sobre o regime


inicial e a possibilidade de substituição das reprimendas.

Diante do exposto, não configurado o alegado constrangimento ilegal, não


conheço do habeas corpus.

É o voto.
HABEAS CORPUS Nº 719748 - RJ (2022/0020336-6)

RELATOR : MINISTRO JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO


DO TJDFT)
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PACIENTE : BRUNO SALES COSTA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

VOTO-VISTA

Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de BRUNO SALES COSTA em que se

aponta como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (Apelação Criminal n.

0016803-88.2019.8.19.0066).

Em primeiro grau, o paciente foi condenado às penas de 8 anos de reclusão no regime

fechado e de 1.200 dias-multa, pela prática dos delitos descritos nos arts. 33, caput, e 35, caput, da Lei n.

11.343/2006. O Tribunal de origem negou provimento à apelação da defesa.

Apresentado o recurso em mesa, em 22/3/2022, pedi vista dos autos para melhor exame da

matéria.

No entanto, após detida análise, convenci-me da inexistência de ilegalidade manifesta ou de

teratologia que justifique a concessão da ordem de ofício, nos termos do voto do relator Ministro Jesuíno

Rissato.

Nas razões do presente writ, a defesa alega que o paciente é vítima de constrangimento

ilegal, tendo em vista a existência de prova ilícita, obtida por meio de invasão de domicílio pelos

policiais, gerando a nulidade do feito. Também afirma que não foram preenchidos os requisitos da

estabilidade e habitualidade da conduta, impondo a absolvição do delito de associação para o tráfico.

Subsidiariamente, pugna pela desclassificação do crime tipificado no art. 33 para o previsto

no art. 28 da Lei n. 11.343/2006, diante da apreensão de quantidade mínima de entorpecentes, ou pelo

reconhecimento do tráfico privilegiado.

O Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento do habeas corpus (fls. 169-

190).
Inicialmente, não há falar em ilicitude da prova colhida com base em ingresso forçado de

policiais no domicílio do paciente.

Isso porque, segundo o acórdão, houve justa causa e controle judicial posterior do ato, pois

as provas colhidas na fase preliminar de inquérito foram repetidas e validadas em juízo com base no

contexto fático-jurídico exposto na denúncia, levando, inclusive, à prisão preventiva do paciente.

Confira-se excerto do acórdão condenatório (fl. 138, destaquei):

Na espécie, de acordo com a prova oral acusatória, não infirmada pela defesa, as drogas
arrecadadas foram localizadas no interior de uma sacola plástica, arremessada pelos
denunciados para fora de uma residência, por uma das janelas do imóvel, ação esta, no entanto,
que restou percebida pelos policiais. Nessas circunstâncias, portanto, em que a apreensão das drogas
se deu do lado de fora da residência, totalmente infundada a arguição de prova ilegal obtida por meio
de violação de domicílio.

Destaque-se ainda, com relação às provas produzidas em juízo, os seguintes excertos do

acórdão de apelação (fls. 138-139, destaquei):

Com efeito, depreende-se dos autos que policiais militares receberam informe de que havia
dois indivíduos, em atitude suspeita, rondando uma igreja evangélica localizada no bairro Jardim
Acácias, área dominada pelo “Terceiro Comando”, de modo que os agentes para lá se
encaminharam e, ao se aproximarem do local indicado, avistaram o apelante e o corréu nessas
condições, os quais, por sua vez, tão logo perceberam a aproximação da guarnição,
empreenderam fuga para o interior de uma residência, sendo certo que os policiais
visualizaram quando eles arremessaram por uma das janelas do imóvel uma sacola plástica
contendo14 (quatorze) invólucros de Cannabis sativa L.
E obedecendo determinação da guarnição policial, o apelante e o corréu já falecido saíram do
imóvel, sendo presos em flagrante.
Os policiais ainda narraram que logo identificaram os denunciados como moradores do
bairro Freitas Soares, dominado pelo “Comando Vermelho”, e estranharam eles estarem
traficando em local de ingerência do “Terceiro Comando”. Indagados, os denunciados admitiram
aos agentes da lei que haviam migrado de facção criminosa, por estarem, ambos, jurados de
morte por alguns membros da anterior facção criminosa a que pertenciam.
Nesse sentido, alude-se aos depoimentos prestados pelos policiais militares Clelvis Andrade
Gomes de Oliveira e Leonardo Ferreira de Freitas, os quais, além e harmônicos entre si, ecoam a
mesma versão apresentada em sede policial(fls.05/08).
No ponto, convém consignar que nada há nos autos que possa fragilizar os aludidos
depoimentos, sendo, portanto, perfeitamente aptos a amparar o juízo de reprovação, ressaltando que
tal matéria já se encontra até mesmo sumulada por este Tribunal, nos termos do verbete n.º 70.
Ademais, os relatos dos policiais militares restaram reforçados pelo depoimento do
proprietário do imóvel, Alexsandro Augusto dos Santos ,que, inicialmente, em uma nítida tentativa
de inocentar Bruno–seu primo –,disse que nada sabia sobre o seu envolvimento com o tráfico de
drogas, mas, confrontado com o teor de sua declaração de fls. 15/16, confirmou a veracidade daquela
narrativa, e, assim, o envolvimento do apelante com o tráfico de drogas e ainda a sua migração de
facção criminosa. Confira-se o teor da declaração dada em sede policial:
[...]
Some-se a isso a confissão do corréu Natan em sede extrajudicial, no sentido de que ele e
Bruno migraram de facção criminosa, ainda que, ao final, tenha se contradito, ao afirmar que as
drogas apreendidas se destinavam ao seu próprio consumo, consoante fls. 17/18.
Como se não bastasse, o apelante Bruno, em sede policial, afirmou que Natan não
cumpriu o combinado de assumir a propriedade das drogas e que apenas prestaria mais
esclarecimentos em Juízo, conforme consta àsfls.19/20.
Já em seu interrogatório judicial, Bruno admitiu em parte os fatos imputados,
confirmando que Natan dispensou a sacola contendo a maconha tão logo notou a aproximação
dos policiais, mas atribuiu a propriedade dos entorpecentes exclusivamente ao corréu. Alegou
conhecer Natan há pouco tempo, admitindo que ambos haviam residido no bairro Freitas Soares.
Questionado sobre o motivo da mudança de domicílio, disse ter ouvido que estava jurado de
morte, sem especificar o motivo e nem quem havia feito a ameaça; porém, indagado sobre as
facções dominantes, respondeu, como relatado pelos policiais, que o “Comando Vermelho”
domina o bairro Freitas Soares e o “Terceiro Comando”, o bairro Jardim Acácias.

Constatou-se, portanto, que, a partir de denúncias anônimas, os policiais, em diligências

realizadas nas proximidades do bairro no qual se tinha notícia de que a facção criminosa Terceiro

Comando atuava na venda de entorpecentes, chegaram ao local e avistaram o paciente e o corréu,

que empreenderam fuga, ingressaram em imóvel – cujo proprietário, em depoimento judicial,

confirmou que eles atuavam na narcotraficância – e arremessaram pela janela certa quantidade de

drogas. Além disso, o depoimento do paciente – que afirmou que se mudara para aquele bairro

porque havia sido ameaçado de morte onde antes residia – e os fatos de conhecimento da

autoridade policial de que o antigo bairro era dominado pelo Comando Vermelho e o atual pelo

Terceiro Comando – reforçam a ligação do paciente com o tráfico.

Tais motivos configuram a exigência capitulada no art. 204, § 1º, do CPP, a saber, a

demonstração de fundadas razões para a busca domiciliar, não subsistindo os argumentos de ilegalidade

da prova ou de desrespeito ao direito à inviolabilidade de domicílio.

Esse entendimento está em consonância com a jurisprudência do STJ de que “o ingresso

regular em domicílio alheio, na linha de inúmeros precedentes dos Tribunais Superiores, depende, para

sua validade e regularidade, da existência de fundadas razões (justa causa) que sinalizem para a

possibilidade de mitigação do direito fundamental em questão. É dizer, apenas quando o contexto fático

anterior à invasão permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior da residência – cuja

urgência em sua cessação demande ação imediata – é que se mostra possível sacrificar o direito à

inviolabilidade do domicílio" (HC n. 598.051/SP, Sexta Turma, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz,

DJe de 15/3/2021).

Essa orientação atende aos pressupostos estabelecidos no Tema n. 280, submetido pelo STF

ao regime de repercussão geral no RE n. 603.616/RO, em que ficou definido que "a entrada forçada em

domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas

razões, devidamente justificadas a posteriori" (RE n. 603.616/RO, relator Ministro Gilmar Mendes, DJe

de 8/10/2010).

Assim, realizado o controle judicial do ato, ainda que posteriormente, não há falar, de plano,

em ilicitude das provas produzidas.

Ademais, o momento processual da ação penal originária – ocorrido o trânsito em julgado da

apelação – inviabiliza a análise da tese defensiva em toda a sua extensão, visto que há nítida necessidade

de dilação probatória, situação não permitida no rito especial do habeas corpus.


Nesse sentido, os seguintes precedentes do STJ: HC n. 431.708/MS, relator Ministro Ribeiro

Dantas, Quinta Turma, DJe de 30/5/2018; AgRg no HC n. 681.870/SP, relator Ministro Reynaldo Soares

da Fonseca, Quinta Turma, DJe de 20/9/2021; e AgRg no RHC n. 146.915/RJ, relator Ministro Olindo

Menezes, Sexta Turma, DJe de 31/8/2021.

Em relação ao pedido de absolvição do delito do art. 35 da Lei n. 11.343/2006, o Tribunal a

quo entendeu estarem presentes a autoria e a materialidade do delito de associação para o tráfico de

drogas, consignando que não seria possível deixar de “reconhecer o vínculo estável e permanente

existente entre o apelante e o corréu e entre eles e os demais integrantes da organização criminosa

'Terceiro Comando', o que comprova a existência e a autoria do crime de associação para o tráfico de

drogas” (fl. 142).

O STJ firmou o entendimento de que, tendo as instâncias de origem reconhecido, pelas

provas colhidas nos autos, que o condenado estava associado com outros indivíduos de forma estável e

permanente, está caracterizado o delito de associação para o tráfico.

O acolhimento da tese de que não foi provado o vínculo estável e permanente do paciente

com outras pessoas no reiterado comércio ilícito de drogas, a ensejar a absolvição do delito descrito no

art. 35 da Lei n. 11.343/2006, implicaria revolvimento do conjunto fático-probatório, procedimento

incompatível com a estreita via do habeas corpus.

A propósito: AgRg no HC n. 590.375/MS, relator Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe

de 25/8/2020; HC n. 439.046/PB, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe de 1º/6/2020; HC

n. 492.911/MG, relator Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe de 18/10/2019; e AgRg no HC n.

521.937/RS, relator Ministro Sebastião Reis Junior, Sexta Turma, DJe de 17/9/2019.

A questão da desclassificação da conduta, por demandar exame aprofundado dos elementos

de prova constantes do inquérito e/ou da ação penal, não pode ser analisada na estreita via do habeas

corpus (AgRg no HC n. 587.282/SP, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe de

8/9/2020), sobretudo diante da condenação do paciente por associação para o tráfico, como, aliás, foi

ressaltado pelo Tribunal de origem (fl. 142):

Assim, não se confere crédito à versão autodefensiva de negativa de autoria, inexistindo


dúvidas de que o apelante e o corréu estavam na posse compartilhada dos entorpecentes apreendidos
e atuavam na prática do tráfico ilícito de entorpecentes, tornando descabida a pretensão
desclassificatória para o delito previsto no artigo 28 da Lei n.º 11.343/06.

Por fim, a condenação pelo crime descrito no art. 35, caput, da Lei n. 11.343/2006 é

incompatível com o reconhecimento do tráfico privilegiado, revelando-se suficiente para afastar o redutor
previsto no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, pois indica que o agente se dedica a atividades criminosas

(AgRg no AREsp n. 1.732.339/TO, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe de

27/11/2020; e AgRg no HC 610.288/SP, relator Ministro Sebastião Reis Junior, Sexta Turna, DJe de

23/10/2020).

Ante o exposto, acompanho o voto do eminente relator para não conhecer do writ.

É o voto.
Superior Tribunal de Justiça S.T.J
Fl.__________

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2022/0020336-6 PROCESSO ELETRÔNICO HC 719.748 / RJ


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00168038820198190066 00832711002019 100006202019 168038820198190066


277855698 832711002019
EM MESA JULGADO: 22/03/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJDFT)
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. LUCIANO MARIZ MAIA
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PACIENTE : BRUNO SALES COSTA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico
Ilícito e Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTARAM ORALMENTE: DR. PEDRO CARRIELLO - DEFENSORIA PÚBLICA
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (P/PACTE) E MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto do Sr. Ministro Relator não conhecendo do habeas corpus, pediu
vista o Sr. Ministro João Otávio de Noronha."
Aguardam os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel
Ilan Paciornik.

C5425241555420894<1113@ 2022/0020336-6 - HC 719748


Superior Tribunal de Justiça S.T.J
Fl.__________

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2022/0020336-6 PROCESSO ELETRÔNICO HC 719.748 / RJ


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00168038820198190066 00832711002019 100006202019 168038820198190066


277855698 832711002019
EM MESA JULGADO: 24/05/2022

Relator
Exmo. Sr. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJDFT)
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ELIZETA MARIA DE PAIVA RAMOS
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PACIENTE : BRUNO SALES COSTA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico
Ilícito e Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
" Prosseguindo no julgamento, a Turma, por unanimidade, não conheceu do
pedido."
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha (voto-vista), Reynaldo Soares da
Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik votaram com o Sr. Ministro Relator.

C5425241555420894<1113@ 2022/0020336-6 - HC 719748

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