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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 15

26/06/2023 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 228.403 MATO GROSSO DO SUL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


AGTE.(S) : JEAN LUCAS DUARTE DE OLIVEIRA
ADV.(A/S) : CARLOS AUGUSTO RIBEIRO DA SILVA E
OUTRO(A/S)
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL.


TRÁFICO DE DROGAS. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO
ANTES DA IMPETRAÇÃO. HABEAS CORPUS COMO SUCEDÂNEO DE
REVISÃO CRIMINAL: IMPOSSIBILIDADE. DOSIMETRIA. PENA-BASE
MAJORADA COM FUNDAMENTO NA VALORAÇÃO NEGATIVA DE
CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL. INVIABILIDADE DE APLICAÇÃO DO
REDUTOR DO § 4º DO ART. 33 DA LEI N. 11.343/2006. DEDICAÇÃO AO
TRÁFICO. REEXAME DE FATOS E PROVAS. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DE TERATOLOGIA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão da Primeira Turma, na
conformidade da ata de julgamento, por unanimidade, negar provimento
ao agravo regimental, nos termos do voto da Relatora. Sessão Virtual de
16.6.2023 a 23.6.2023.

Brasília, 26 de junho de 2023.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

Documento assinado eletronicamente pelo(a) Min. Cármen Lúcia, conforme o Art. 205, § 2º, do CPC. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 59CA-91DD-9E63-3EBC e senha F850-7B89-8C5F-4E39
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AG.REG. NO HABEAS CORPUS 228.403 MATO GROSSO DO SUL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


AGTE.(S) : JEAN LUCAS DUARTE DE OLIVEIRA
ADV.(A/S) : CARLOS AUGUSTO RIBEIRO DA SILVA E
OUTRO(A/S)
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATÓRIO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (Relatora):

1. Em 25.5.2023, foi negado seguimento ao Habeas Corpus, com


requerimento de medida liminar, impetrado por Carlos Augusto Ribeiro
da Silva e outro, advogados, em benefício de Jean Lucas Duarte de
Oliveira, contra acórdão da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
que negou provimento ao Agravo Regimental no Habeas Corpus n.
801.589/MS.

2. Publicada essa decisão no DJe de 29.5.2023, foi interposto, no dia


2.6.2023, tempestivamente, o presente agravo regimental.

Na decisão questionada, tem-se a seguinte ementa:

“HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO DE DROGAS.


CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO ANTES DA
IMPETRAÇÃO. SUCEDÂNEO DE REVISÃO CRIMINAL:
IMPOSSIBILIDADE. DOSIMETRIA. PENABASE MAJORADA
COM FUNDAMENTO NA VALORAÇÃO NEGATIVA DE
CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL. INVIABILIDADE DE
APLICAÇÃO DO REDUTOR DO § 4º DO ART. 33 DA LEI N.
11.343/2006. DEDICAÇÃO AO TRÁFICO. REEXAME DE FATOS
E PROVAS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE
TERATOLOGIA. HABEAS CORPUS AO QUAL SE NEGA
SEGUIMENTO.”

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HC 228403 AGR / MS

3. Neste recurso de agravo, a defesa insiste no pedido de aplicação


da minorante do § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006.

Argumenta que “não há o que se falar em necessidade de reexame dos


fatos e das provas dos autos para a aplicação da minorante do tráfico privilegiado,
visto que aquilo que está delimitado no bojo da impetração – trecho da sentença e
do acórdão da ação penal, bem como da revisão criminal –, é suficiente para
demonstrar a plausibilidade dos argumentos defensivos e a necessidade de
reforma da condenação do Agravante” (fl. 3, doc. 19).

Sustenta, quanto ao afastamento da minorante do tráfico


privilegiado, que “a própria conclusão a respeito da suposta integração a
organização criminosa decorre, unicamente, da quantidade de droga apreendida”
(fl. 5, e-doc. 19).

Aduz que “além da fundamentação inidônea para afastar a minorante do


tráfico privilegiado, o bis in idem na dosimetria, visto que se utilizou da
quantidade da droga tanto para denotar que o Agravante integraria organização
criminosa quanto para agravar a pena base” (sic, fl. 5, e-doc. 19).

Ressalta que “o Agravante é primário, possui bons antecedentes e não se


dedica a atividade criminosa” (fl. 5, e-doc. 19).

Quanto à dosimetria, salienta que “apesar de todas as circunstâncias


judiciais terem sido valoradas favoravelmente, a pena base foi aumentada
exclusivamente em razão do artigo 42 da Lei nº 11.343/06” (fl. 6, e-doc. 19).

Assevera que há desproporcionalidade, afirmando que “foi utilizada


apenas da quantidade de droga apreendia para aumentar a pena base no dobro”
(sic, fl. 7 e-doc. 19).

Aponta que “não se busca sanar divergência dos critérios de fixação da

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HC 228403 AGR / MS

pena, mas sim demonstrar, em um juízo de legalidade, a desproporcionalidade do


aumento realizado pelas instâncias ordinárias, situação esta, em verdade,
permitida no bojo do habeas corpus” (fl. 7 e-doc. 19).

Estes os requerimentos e pedido:


“Ex positis, por qualquer ângulo que se queira analisar a
hipótese do presente agravo, a respeitável decisão monocrática
vergastada não pode subsistir, de modo que se vindica seja realizado o
competente juízo de retratação, determinando-se o regular
processamento do habeas corpus.
Eventualmente, caso assim não entenda, propugna seja
submetido o recurso ao Colegiado da Primeira Turma deste STF, a
quem se requer, desde já, seja reformada a decisão agravada, para o fim
de reconhecer a desproporcionalidade e irrazoabilidade no cálculo
dosimétrico, ensejando a correta valoração da circunstância judicial
levada em desfavor do Agravante, bem como que se reconheça a
inidoneidade dos argumentos utilizados para afastar a minorante do
tráfico privilegiado” (fl. 8, e-doc. 19).

É o relatório.

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AG.REG. NO HABEAS CORPUS 228.403 MATO GROSSO DO SUL

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (Relatora):

1. Razão jurídica não assiste ao agravante.

2. Na decisão questionada, assentou-se que o pedido apresentado


pelo impetrante é manifestamente contrário à jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal.

3. A condenação do paciente na ação penal objeto deste habeas corpus


transitou em julgado em 23.11.2021, antes, portanto, de a presente
impetração ser ajuizada, em 23.5.2023. Este Supremo Tribunal consolidou
orientação jurisprudencial no sentido da inviabilidade do habeas corpus
como sucedâneo de revisão criminal. Assim, por exemplo:

“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL.


TRÁFICO DE ENTORPECENTE. IMPOSSIBILIDADE DE
UTILIZAÇÃO DE HABEAS CORPUS COMO SUCEDÂNEO DE
REVISÃO CRIMINAL. APLICAÇÃO DA CAUSA DE
DIMINUIÇÃO DO § 4º DO ART. 33 DA LEI N. 11.343/2006 NO
PERCENTUAL INTERMEDIÁRIO DE 1/2 COM
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA: NATUREZA, QUANTIDADE E
QUALIDADE DA DROGA. JUSTIFICATIVA IDÔNEA PARA
AGRAVAMENTO DO REGIME INICIAL E VEDAÇÃO À
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS. PEDIDO MANIFESTAMENTE
IMPROCEDENTE E CONTRÁRIO À JURISPRUDÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO
QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (HC n. 189.773-AgR, de
minha relatoria, Segunda Turma, DJe 7.10.2020).

“PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS

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HC 228403 AGR / MS

EM HABEAS CORPUS RECEBIDOS COMO AGRAVO


REGIMENTAL. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. 1. Embargos de declaração
recebidos como agravo regimental, tendo em vista a pretensão da parte
recorrente em ver reformada a decisão impugnada. 2. O entendimento
do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o habeas corpus
não se revela instrumento idôneo para impugnar decreto condenatório
transitado em julgado (HC 118.292-AgR, Rel. Min. Luiz Fux).
Confiram-se, nessa mesma linha, os seguintes precedentes:
HC 128.840-AgR, de minha Relatoria; RHC 116.108, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski; HC 117.762, Rel. Min. Dias Toffoli;
HC 91.711, Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia. 3. Na situação concreta não se
verifica teratologia, ilegalidade flagrante ou abuso de poder que
justifique a concessão da ordem de ofício. 4. Agravo regimental a que
se nega provimento” (HC n. 154.106-ED, Relator o Ministro
Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe 6.8.2018).

Na mesma linha são os julgados: HC n. 137.153-AgR, Relatora a


Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 16.11.2018; HC n. 161.267-
AgR, Relator o Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 15.10.2018;
HC n. 135.239-AgR, Relator o Ministro Celso de Mello, Segunda Turma,
DJe 17.9.2018; HC n. 134.691-AgR, Relator o Ministro Alexandre de
Moraes, Primeira Turma, DJe 1º.8.2018; HC n. 149.653-AgR, Relator o
Ministro Dias Toffoli, Segunda Turma, DJe 6.2.2018; HC n. 123.182-AgR,
Relator o Ministro Edson Fachin, Primeira Turma, DJe 29.9.2016;
e HC n. 134.974, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 9.8.2016.

4. Sem adentrar o mérito da causa, é de se anotar, para afastar


eventual alegação de ilegalidade ou teratologia, que o paciente foi
condenado em primeira instância às penas de dez anos de reclusão e mil
dias-multa, pela prática de tráfico de drogas (caput do art. 33, da Lei n.
11.343/06). Consta na sentença condenatória:
“Sublinho ainda que a primariedade dos réus Jean Lucas Duarte
de Oliveira e Ernande da Silva Santos (f. 206-209 e 255-256) não
impede o afastamento da benesse do §4º do artigo 33 da Lei de Drogas,

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pois está clara e evidente a participação dos réus numa rede de crime
organizado para a distribuição do entorpecente. Isso porque atuaram
como batedores da camionete Hillux que transportava grande
quantidade de maconha (1.649kg). Portanto, estamos diante de uma
convergência de vontades, de esforços, e divisão de tarefas para a
consecução do tráfico. Assim, claro está que os réus servem de elo para
organização criminosa, o que motiva o afastamento do privilégio.
(...)
Culpabilidade normal à espécie. Não registra antecedentes (f.
206, 209 e 256). Conduta social e personalidade neutras. Os motivos e
as consequências do crime são próprios do tipo penal. Quanto às
circunstâncias, na forma do artigo 42 da Lei 11.343/2006, houve
grande quantidade de maconha apreendida (1.649kg) na camioneta
Hillux, o que deve ser levado em consideração para elevar a pena.”
(fls. 8-10, e-doc. 2).

A defesa do paciente interpôs recurso de Apelação Criminal n.


0004989-38.2020.8.12.0002, cujo provimento foi negado pela Primeira
Câmara de Direito Criminal, nos termos do voto do relator:
“Como se pode observar o juízo a quo exasperou a pena-base em
razão da grande quantidade de droga apreendida (1.649 kg de
maconha).
É certo que a natureza e quantidade de droga apreendida, podem
(e devem) ser tomadas como parâmetros para definir o "quantum" da
pena-base, nos termos do art. 42, da Lei 11343/06. Nesse sentido,
inclusive, tem se posicionado a Corte Superior: "(...) 2. De acordo com
o art. 42 da Lei n. 11.343/2006, a quantidade e a natureza da droga
apreendida são preponderantes sobre as demais circunstâncias do art.
59 do Código Penal e podem justificar a fixação da pena-base acima do
mínimo legal, cabendo a atuação desta Corte apenas quando
demonstrada flagrante ilegalidade no quantum aplicado. (...) (HC
437.745/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 05/09/2019, DJe 12/09/2019)
Assim, no caso concreto, dada a discricionariedade do julgador
ao fixar a pena base e sendo devida a exasperação da pena-base em
razão da valoração negativa da "circunstancia do crime" (art. 59 do

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HC 228403 AGR / MS

CP), dada a quantidade excessiva de droga (art. 42, da Lei 11.343/06),


que totalizou mais uma e meia tonelada, não há que se falar em
redução da pena-base, fixada de acordo com os critérios da
proporcionalidade e individualização da pena.
Posto isso, não vislumbra qualquer equívoco na sentença,
devendo ser mantida a pena-base fixada.
(...)
No caso concreto as circunstâncias em que se deram a prática
delituosa indicam, com segurança, que os apelantes, cooperaram de
forma fundamental para o êxito do delito, que somente não se
concretizou por circunstâncias alheias às suas vontades. Ademais a
expressiva quantidade de droga apreendida (mais de meia tonelada)
demonstra sem sobra de dúvida que os acusados integraram
organização criminosa voltada à distribuição de entorpecentes e se
dedicavam às atividades criminosas, fazendo dela o seus meios de vida.
(...)
Posto isso, no caso concreto, restando evidenciado o
envolvimento dos apelantes com organização criminosa e sua
dedicação às atividades criminosas, não há que se falar em aplicação da
causa de diminuição de pena, prevista no art. 33, §4º, da Lei
11.343/06, razão pela qual mantenho os termos da sentença.” (fls. 20-
23, e-doc. 2).

5. Descabe cogitar-se de fundamentação inidônea para a não


aplicação do redutor do § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006. Para
reexaminar a premissa de dedicação do paciente à atividade criminosa,
assentada com fundamento no conjunto probatório dos autos e realçada
pela quantidade de droga apreendida e pelas circunstâncias da prisão em
flagrante, e concluir pela incidência da causa de diminuição do § 4º do
art. 33 da Lei n. 11.343/2006 na espécie, seria imprescindível o reexame
dos fatos e das provas dos autos, ao que não se presta o habeas corpus.
Confiram-se os seguintes julgados:

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM


HABEAS CORPUS. CRIMES DE TRÁFICO DE DROGAS E

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ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. WRIT SUCEDÂNEO DE


RECURSO OU REVISÃO CRIMINAL. ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO. ESTABILIDADE E PERMANÊNCIA
RECONHECIDAS NA ORIGEM. REEXAME DE FATOS E
PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. DOSIMETRIA. AFASTAMENTO
DA MINORANTE DO ART. 33, §4°, DA LEI 11.343/2006.
DEDICAÇÃO À ATIVIDADE CRIMINOSA. REVOLVIMENTO
DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. INVIABILIDADE.
FLAGRANTE ILEGALIDADE OU TERATOLOGIA NÃO
IDENTIFICADAS. 1. Inadmissível o emprego do habeas corpus
como sucedâneo de recurso ou revisão criminal. Precedentes. 2. Ato
coator parametrizado com a orientação jurisprudencial desta Corte no
sentido de que, para acolher a tese de absolvição do delito de associação
para o tráfico, imprescindíveis o reexame e a valoração de fatos e
provas, para o que não se presta a via eleita, à medida que os
contornos fáticos e probatórios delineados pelas instâncias ordinárias
apontam no sentido da prática do delito. Precedentes. 3. A dosimetria
da pena é matéria sujeita a certa discricionariedade judicial, à míngua
de previsão, no Código Penal, de rígidos esquemas matemáticos ou
regras absolutamente objetivas para a fixação da pena. 4. O
afastamento da minorante do artigo 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, deu-
se em razão das evidências de que a agravante perpetrava o delito com
habitualidade, o que aponta para a dedicação à atividade criminosa,
tanto assim, que também foi condenada pela prática do crime de
associação para o tráfico de drogas. 5. A tese defensiva de aplicação da
minorante do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006, afastada pelas
instâncias anteriores dada a constatação de o agravante integrar
organização criminosa e/ou dedicar-se à atividade delitiva, demanda o
reexame e a valoração de fatos e provas, para o que não se presta a via
eleita. Precedentes. 6. Agravo regimental conhecido e não provido”
(RHC n. 214.828-AgR, Relatora a Ministra Rosa Weber, DJe
24.6.2022).

“AGRAVO INTERNO EM HABEAS CORPUS.


IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DE
MINISTRO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

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INADMISSÍVEL SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PENA-BASE


AUMENTADA COM FUNDAMENTO NA NATUREZA E NA
QUANTIDADE DE DROGA. FUNDAMENTO IDÔNEO.
INVIABILIDADE DA REVISÃO DA FRAÇÃO APLICADA.
TRÁFICO PRIVILEGIADO AFASTADO COM FUNDAMENTO
NA DEDICAÇÃO A ATIVIDADE CRIMINOSA. NECESSÁRIO
REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
INVIABILIDADE DA VIA ELEITA. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO” (HC n. 205.674-AgR, Relator o Ministro Nunes
Marques, DJe 2.10.2021).

“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


TRÁFICO DE DROGAS. WRIT SUCEDÂNEO DE RECURSO
OU REVISÃO CRIMINAL. DOSIMETRIA. MINORANTE DO
ART. 33, § 4º, DA LEI Nº 11.343/2006. DEDICAÇÃO A
ATIVIDADES CRIMINOSAS. REVOLVIMENTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DA PENA. DECISÃO FUNDAMENTADA.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS. 1. Inadmissível o emprego do habeas
corpus como sucedâneo de recurso ou revisão criminal. Precedentes.
2. Para concluir em sentido diverso quanto à aplicação da causa de
diminuição, prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006,
imprescindível o reexame e a valoração de fatos e provas, para o que
não se presta a via eleita. Precedentes. 3. A fixação do regime inicial de
cumprimento de pena não está condicionada ao quantum da
reprimenda, mas ao exame das circunstâncias judiciais do art. 59 do
Código Penal e, no caso de tráfico de drogas, do art. 42 da Lei nº
11.343/2006, conforme expressa remissão do art. 33, § 3º, do referido
diploma legal. 4. Permanecendo inalterada a dosimetria da pena
estabelecida pelas instâncias anteriores em patamar superior a 4
(quatro) anos de reclusão, incabível a substituição da pena privativa
de liberdade por pena restritiva de direitos, nos termos do art. 44, I, do
Código Penal. 5. Agravo regimental conhecido e não provido” (HC n.
195.147-AgR, Relatora a Ministra Rosa Weber, DJe 22.4.2021).

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“AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. PENAL.


TRÁFICO DE ENTORPECENTE. DOSIMETRIA. HABEAS
CORPUS SUCEDÂNEO DE REVISÃO CRIMINAL. AUSÊNCIA
DE TERATOLOGIA. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DO § 4º DO
ART. 33 DA LEI N. 11.343/2006. ATUAL JURISPRUDÊNCIA DA
SEGUNDA TURMA, QUE TEM POR ILEGAL A EXCLUSÃO
DO BENEFÍCIO COM FUNDAMENTO EXCLUSIVO NA
QUANTIDADE E QUALIDADE DA DROGA. CASO EM QUE A
QUANTIDADE E VARIEDADE DE ENTORPECENTE NÃO FOI
O ÚNICO FUNDAMENTO PARA A NEGATIVA DA CAUSA DE
DIMINUIÇÃO. REEXAME DE PROVA. PRECEDENTES.
AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO”
(HC n. 194.826-AgR, de minha relatoria, DJe 26.2.2021).

6. É inviável reexaminar a fundamentação e o patamar de aumento


apresentados nas instâncias antecedentes quanto à circunstância judicial
desfavorável para a definição da pena-base. Não se comprova, neste
habeas corpus, inidoneidade da fundamentação adotada nas instâncias
antecedentes para a valoração desfavorável das circunstâncias do crime,
diante da quantidade expressiva de droga apreendida, apta a tornar a
pena-base desproporcional.

O habeas corpus não se presta a examinar a suficiência das


circunstâncias judiciais invocadas pelas instâncias de mérito para a
majoração da pena (HC n. 157.596-AgR, Relator o Ministro Dias Toffoli,
DJe 24.8.2018; RHC n. 114.742, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe
8.11.2012; RHC n. 98.358, de minha relatoria, DJe 16.4.2010; HC n. 111.668,
Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe 16.4.2012; HC n. 101.892, Relator o
Ministro Luiz Fux, DJe 27.9.2011; HC n. 107.626, de minha relatoria, DJe
20.10.2011; HC n. 97.677, de minha relatoria, DJe 18.12.2009; HC n. 87.684,
Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 25.8.2006; HC n. 88.132, Relator
o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 2.6.2006; e RHC n. 90.525, Relator o
Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 25.5.2007).

Confiram-se também os seguintes julgados:

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“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL.


TRÁFICO E ASSSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE
ENTORPECENTE. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DAS
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS PARA A DEFINIÇÃO DA
PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO” (RHC n. 225.079-AgR, de minha
relatoria, Primeira Turma, DJe 22.3.2023).

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO


EM HABEAS CORPUS. DOSIMETRIA DA PENA. PENA-BASE.
EXASPERAÇÃO. DIMENSIONAMENTO. EXCESSO NÃO
VERIFICADO. DISCRICIONARIEDADE JUDICIAL
FUNDAMENTADA. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA.
INEXISTÊNCIA DE ARBITRARIEDADE. RECURSO
DESPROVIDO. 1. Autoriza o incremento da pena a constatação de
circunstância judicial exterior aos elementos típicos do crime que
indique maior censura da conduta. 2. Cada circunstância distinta do
delito, se negativa, demanda incremento próprio, de acordo com as
peculiaridades do caso concreto, em cumprimento ao comando
constitucional que impõe a individualização da pena. 3. A mera
divergência ordinária dos critérios de fixação da pena não é sanável
por meio de habeas corpus, estreita via reservada à correção, segundo
juízo de legalidade, de arbitrariedades cometidas pelas instâncias
ordinárias. 4. Agravo regimental desprovido” (HC n. 214.805-AgR,
Relator o Ministro Edson Fachin, Segunda Turma, DJe
20.4.2023).

“Agravo regimental em habeas corpus. Penal e processo penal.


Tráfico de drogas (art. 14 da Lei 6.368/76). Dosimetria. Redução da
pena-base para o mínimo. Impossibilidade. Presença de circunstâncias
judiciais desfavoráveis. Inexistência de ilegalidade. Decisão agravada
em harmonia com entendimento consolidado pela Suprema Corte.
Reiteração dos argumentos expostos na inicial, os quais não infirmam
os fundamentos da decisão agravada. Manutenção da decisão por seus
próprios fundamentos. Agravo ao qual se nega provimento. 1. A
decisão ora atacada não merece reforma, uma vez que seus

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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HC 228403 AGR / MS

fundamentos se harmonizam estritamente com o entendimento


consolidado pela Suprema Corte. 2. O presente recurso mostra-se
inviável, na medida em que contém apenas a reiteração dos
argumentos de defesa anteriormente expostos, sem, no entanto, revelar
quaisquer elementos capazes de afastar as razões expressas na decisão
agravada, a qual deve ser mantida por seus próprios fundamentos. 3.
Agravo ao qual se nega provimento” (HC n. 224.176-AgR, Relator o
Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 14.4.2023).

7. Para afastar a alegação de manifesto constrangimento ilegal na


condenação, seria necessário o cumprimento de exigências não
comprovadas no caso, pelo que não é possível, nos estritos limites do
habeas corpus, a pretendida revisão da condenação.

Ao contrário do sustentado pela defesa, debruçar-se sobre “aquilo


que está delimitado no bojo da impetração – trecho da sentença e do acórdão da
ação penal, bem como da revisão criminal” (fl. 3, e-doc. 19), a fim de aplicar a
minorante do tráfico privilegiado, implicaria análise dos argumentos
utilizados pelas instâncias antecedentes para negar a benesse no caso
concreto.

8. Analisadas as especificidades do caso, a decisão posta em questão


no habeas corpus e a impugnada neste agravo, conclui-se estarem em
perfeita sintonia com a jurisprudência deste Supremo Tribunal,
subsistindo ambas hígidas pelos próprios fundamentos.

9. Os argumentos do agravante, insuficientes para modificar a


decisão impugnada, demonstram apenas insatisfação e resistência em pôr
termo a processos que se arrastam em detrimento da eficiente prestação
jurisdicional.

10. Pelo exposto, nego provimento ao agravo regimental.

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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HC 228403 AGR / MS

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Extrato de Ata - 26/06/2023

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PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 228.403


PROCED. : MATO GROSSO DO SUL
RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
AGTE.(S) : JEAN LUCAS DUARTE DE OLIVEIRA
ADV.(A/S) : CARLOS AUGUSTO RIBEIRO DA SILVA (41623/SC) E
OUTRO(A/S)
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo


regimental, nos termos do voto da Relatora. Primeira Turma, Sessão
Virtual de 16.6.2023 a 23.6.2023.

Composição: Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente),


Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux e Alexandre de Moraes.

Disponibilizaram processos para esta Sessão os Ministros Dias


Toffoli e Edson Fachin.

Luiz Gustavo Silva Almeida


Secretário da Primeira Turma

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