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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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20/10/2015 PRIMEIRA TURMA

HABEAS CORPUS 128.435 TOCANTINS

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


PACTE.(S) : NEILDO AVELINO DA SILVA
PACTE.(S) : JEREMIAS DEMITO
PACTE.(S) : FRANCISCO MIGUEL HENDGES
PACTE.(S) : JONAS DEMITO
PACTE.(S) : JOSÉ CARLOS CÉSAR DA SILVA
PACTE.(S) : MARCOS ZINGLER WILKELMANN
IMPTE.(S) : MAURICIO HAEFFNER
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA

HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL.


SUBSTITUTIVO DE RECURSO CONSTITUCIONAL.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CRIME AMBIENTAL.
EXPLOSIVOS ARMAZENADOS IRREGULARMENTE. AUTORIA
COLETIVA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. RESPONSABILIDADE DO
ADMINISTRADOR DA PESSOA JURÍDICA. ARTIGOS 2º E 3º DA
LEI 9.605/98. REEXAME DE FATOS E PROVAS. INVIABILIDADE.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. EXCEPCIONALIDADE.
INOCORRÊNCIA.
1. Contra acórdão exarado em recurso ordinário em habeas corpus
remanesce a possibilidade de manejo do recurso extraordinário previsto
no art. 102, III, da Constituição Federal. Diante da dicção constitucional,
inadequada a utilização de novo habeas corpus, em caráter substitutivo.
2. Quando do recebimento da denúncia, não há exigência de
cognição e avaliação exaustiva da prova ou apreciação exauriente dos
argumentos das partes, bastando o exame da validade formal da peça e a
verificação da presença de indícios suficientes de autoria e de
materialidade.
3. A denúncia, na hipótese, revela ocorrência de fato típico com
prova da materialidade e indícios suficientes de autoria, de modo a

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possibilitar o pleno exercício da defesa.


4. Na dicção dos arts. 2º e 3º da Lei 9.605/96, possível a
responsabilização penal dos administradores da pessoa jurídica pela
prática de crimes ambientais.
5. A identificação o mais aproximada possível dos setores e agentes
internos da empresa determinantes na produção do fato ilícito, porque
envolvidos no processo de deliberação ou execução do ato que veio a se
revelar lesivo de bens jurídicos tutelados pela legislação penal ambiental,
tem relevância e deve ser averiguada no curso da instrução criminal.
6. Inviável a análise do liame entre a conduta dos pacientes e o fato
criminoso, porquanto demandaria o reexame e a valoração de fatos e
provas, para o que não se presta a via eleita.
7. O trancamento da ação penal na via do habeas corpus só se mostra
cabível em casos excepcionalíssimos de manifestas (i) atipicidade da
conduta, (ii) presença de causa extintiva de punibilidade ou (iii) ausência
de suporte probatório mínimo de autoria e materialidade delitivas, o que
não ocorre no presente caso.
8. Habeas corpus extinto sem resolução do mérito.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os


Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a
Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber, na conformidade da ata de
julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade, em julgar extinto
o processo, sem resolução do mérito, nos termos do voto da Relatora.
Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Roberto Barroso.

Brasília, 20 de outubro de 2015.

Ministra Rosa Weber


Relatora

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RELATORA : MIN. ROSA WEBER


PACTE.(S) : NEILDO AVELINO DA SILVA
PACTE.(S) : JEREMIAS DEMITO
PACTE.(S) : FRANCISCO MIGUEL HENDGES
PACTE.(S) : JONAS DEMITO
PACTE.(S) : JOSÉ CARLOS CÉSAR DA SILVA
PACTE.(S) : MARCOS ZINGLER WILKELMANN
IMPTE.(S) : MAURICIO HAEFFNER
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATÓRIO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Trata-se de habeas


corpus, com pedido de liminar, impetrado por Maurício Haeffner em
favor de Neildo Avelino da Silva, Jeremias Demito, Francisco Miguel
Hendges, Jonas Demito, José Carlos César da Silva e Marcos Zingler
Wilkelmann, contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça, que negou
provimento ao RHC 49.433/TO.
Os pacientes foram denunciados pela suposta prática do crime
previsto no art. 56, caput, da Lei 9.605/98 por terem sido “flagrados
mantendo em depósito 3 (três) unidades de explosivos encartuchados da marca
‘Dinapex’ e 34 (trinta e quatro) retardos MS20, substâncias estas nocivas à
saúde humana e ao meio ambiente, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar”. O magistrado de primeiro grau recebeu a exordial
acusatória apresentada em desfavor dos pacientes.
Inconformada, a Defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal de
Justiça do Estado de Tocantins, que denegou a ordem.
Submetida a questão à apreciação do Superior Tribunal de Justiça no
RHC 49.433/TO, a Sexta Turma negou provimento ao recurso.
No presente habeas corpus, alega o Impetrante, em síntese, a
possibilidade de trancamento da ação penal dada a inépcia da denúncia.
Pontua que a conduta delitiva dos pacientes, lastreada no fato de

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ostentarem a condição de sócios e administradores da empresa


investigada, não foi individualizada. Sustenta a inviabilidade de
oferecimento de denúncia genérica e que o crime tipificado no art. 56 da
Lei 9.605/98, “que consiste em norma penal em branco”, “necessita da remissão
à norma administrativa violada para validar a acusação”.
Requer, em medida liminar, a suspensão do feito de origem até o
julgamento definitivo da presente impetração. No mérito, pugna pelo
trancamento da ação penal de origem.
Em 29.5.2015, indeferi o pedido de liminar.
O Ministério Público Federal, em parecer da lavra da
Subprocuradora-Geral da República Cláudia Sampaio Marques, opina
pelo não conhecimento da impetração.
É o relatório.

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VOTO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Objetiva o presente writ


o trancamento da ação penal pela alegada inépcia da denúncia oferecida
em desfavor dos pacientes pela suposta prática de crime ambiental.
De início, consigno que a presente impetração se volta contra
acórdão do Superior Tribunal de Justiça que negou provimento ao RHC
49.433/TO, em acórdão assim ementado:

“PROCESSUAL PENAL. DENÚNCIA. CRIME


AMBIENTAL. EXPLOSIVOS ARMAZENADOS
IRREGULARMENTE. SÓCIOS DA EMPRESA E EMPREGADO
ENCARREGADO. AUTORIA COLETIVA. DESCRIÇÃO FÁTICA.
SUFICIÊNCIA. DEMONSTRAÇÃO DE INDÍCIOS DE
AUTORIA. INÉPCIA. NÃO OCORRÊNCIA.
1. Nos crimes de autoria coletiva admite-se a descrição não
individualizada dos fatos, se não for possível, como na espécie,
esmiuçar e especificar a conduta de cada um dos denunciados.
2. Indícios de autoria demonstrados, tanto mais que afirma a
denúncia que os recorrentes, além de sócios da empresa tinham poder
de gerência, sendo que, um deles, seria o empregado encarregado do
armazenamento das substâncias explosivas, não havendo prova pré-
constituída que possa dizer o contrário.
3. Tese de inexistência de liame entre a atuação dos denunciados
e os fatos narrados que não se reveste de credibilidade na via eleita.
Plausibilidade da acusação.
4. Direito de defesa assegurado, em face do cumprimento dos
requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal.
5. Recurso não provido”.

Contra acórdão lavrado ao julgamento de recurso ordinário em


habeas corpus remanesce a possibilidade de interposição do recurso
extraordinário previsto no art. 102, III, da Constituição Federal. Diante da

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dicção constitucional, inadequada a utilização de novo habeas corpus, em


caráter substitutivo. O não cabimento do habeas corpus substitutivo de
recurso extraordinário reflete entendimento pacificado pela Primeira
Turma desta Corte sobre o assunto, assentado no julgamento do HC
110.055/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 09.11.2012 e do HC 114.519/DF,
Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 12.4.2013.
Prossigo, contudo, no exame diante da possibilidade de concessão
da ordem de ofício.
Na espécie, a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual
indicou que os pacientes, ‘no interesse da pessoa jurídica Natical Natividade
Calcário LTDA. (...) foram flagrados mantendo em depósito 03 (três) unidades de
explosivos encartuchados da marca ‘Dinapex’ e 34 (trinta e quatro) retardos
MS20, substâncias estas nocivas à saúde humana e ao meio ambiente, em
desacordo com determinação legal ou regulamentar’. A peça acusatória, além
de esclarecer que ‘Jeremias Demito, Francisco Miguel Hendges, Jonas Demito,
José Carlos César da Silva e Marcos Zingler Wilkelmann eram sócios e
administradores da pessoa jurídica Natical Natividade Calcário Ltda., sendo
responsáveis pelas decisões tomadas em seu nome e benefício’, concluiu que os
envolvidos incidiram na figura típica do art. 56 da Lei 9.605/96.
Naquela ocasião, o representante do Parquet salientou que “as 03
(três) unidades de explosivos encartuchados da marca ‘Dinapex’ e 34 (trinta e
quatro) retardos MS20 não estavam relacionadas no mapa de controle e não
apresentavam documento de origem, em discordância com as normas gerais e de
segurança (R-105)”. Nesse contexto, a materialidade e a autoria delitivas
“encontram-se devidamente demonstradas pelo Extrato de Ocorrência
Ambiental, Auto de Infração, Contrato Social da Pessoa Jurídica e demais
documentos juntados aos autos”.
O Juízo de Direito da Comarca de Natividade/TO recebeu a
denúncia oferecida em desfavor dos pacientes, porquanto “atende ao
disposto no artigo 41 do CPP; não se enquadra em qualquer dos casos do artigo
395 do mesmo diploma legal; e lastreia-se em elementos de prova que evidenciam
a justa causa para a propositura da Ação Penal”.
Instada a se manifestar, a Corte Estadual consignou que foram

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‘atendidos os ditames legais pertinentes à espécie (art. 41, do CPP), pois ela
contém a narrativa de todo o fato tido como crime com todas as circunstâncias
previstas no tipo e, ainda, a qualificação dos acusados, a classificação do delito
bem como o rol testemunhal’.
O Superior Tribunal de Justiça, ao negar provimento ao RHC
49.433/TO, rechaçou a tese de qualquer irregularidade formal na peça
acusatória. Colho, no que sobrelevam, excertos do voto condutor:

“(...).
Consoante se depreende, não há, na descrição realizada, a
suscitada pecha da inépcia, porquanto o crime imputado aos
recorrentes (art. 56, caput da Lei nº 9.605⁄1998), está suficientemente
descrito.
Nesse contexto, exsurge que se apresenta temerário e prematuro,
nesta via, obstar, sumariamente, a persecução penal, porque presentes
a materialidade e indícios de autoria, e a conclusão de que a denúncia
é inepta não pode ser extraída da leitura da peça acusatória, pelo
contrário, a dinâmica dos fatos narrados, se não é um primor de
técnica jurídica e de precisão, deixa entrever, no âmbito de
conhecimento que o habeas corpus comporta, que os recorrentes, sócios
e administradores da pessoa jurídica, NATICAL NATIVIDADE
CALCÁRIO LTDA, tinham poderes de gerência e sabiam que tinham
armazenadas na empresa substâncias nocivas e em desacordo com
regulamento.
O denunciado NEILDO AVELINO DA SILVA, por sua vez,
segundo a acusação, era o empregado responsável pela manutenção e
guarda das mencionadas substâncias.
O fato de o corpo da denúncia não descer a minúcias da atuação
específica dos acusados não é, a meu ver, impeditivo de que possam
exercer suas defesas, pois há demonstração mínima de indícios da
prática tida por delituosa.
Não é demais lembrar ainda que, nos crimes de autoria coletiva,
como ocorre aqui, tem admitido a jurisprudência descrição genérica,
em não sendo possível esmiuçar e especificar, com riqueza de detalhes,
a atuação de cada envolvido, desde que haja um mínimo de liame com
os fatos.

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(...).
Por fim, é mister consignar que a defesa dos recorrentes não
juntou nenhum documento capaz de afastar as conclusões aqui
firmadas, extraídas da leitura da peça acusatória que, por isso mesmo,
prevalecem, à míngua de prova pré-constituída que possa dizer o
contrário.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso”.

Inobstante o art. 41 do Código de Processo Penal exija a exposição de


todas as circunstâncias do fato criminoso, por certo a sua descrição
sucinta não acarreta a inépcia da peça acusatória. Ao contrário, em prol
do escorreito exercício da ampla defesa pelos acusados, sobreleva
conveniente que a denúncia seja concisa, limitando-se a narrar, de forma
objetiva, os elementos do fato delituoso em tese praticado.
Despiciendo, portanto, ao acusador tecer minúcias, exaurir todas as
questões de fato e de direito envolvidas, tarefa reservada às alegações
finais. Tampouco adequado à inicial estabelecer digressões de ordem
doutrinária ou jurisprudencial. A propósito, preleciona Nucci: “Concisão
da denúncia ou da queixa: é medida que se impõe, para não tornar a peça inicial
do processo penal em uma autêntica alegação final, avaliando provas e sugerindo
jurisprudência a ser aplicada (...). A peça deve indicar o que o agente fez, para
que ele possa se defender. Se envolver argumentos outros, tornará impossível o
seu entendimento pelo réu, prejudicando a ampla defesa” (Nucci, Guilherme de
Souza. Código de Processo Penal Comentado, 10ª ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2011, pg. 162).
O crime em questão é de autoria coletiva, praticado por
administradores da empresa, no caso também denunciada pelo crime
ambiental, e quanto a ele a jurisprudência tem admitido descrição
genérica dos fatos, desde que com eles haja a indicação de liame mínimo.
Em princípio, não há reserva de Constituição para a criminalização
de condutas, nem para a definição de quem possa ser sujeito ativo da
prática de crimes. Trata-se de matéria que se encontra, guardados os
limites constitucionais, no âmbito da liberdade de conformação do
legislador. E, o que sobreleva, a Constituição Federal de 1988, inovando,

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previu expressamente, para reforçar a proteção do meio ambiente, a


responsabilização penal da pessoa jurídica, além da pessoa física, no §3º
de seu art. 225, com a seguinte dicção:

"Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(...)
§3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitarão os infratores pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativa, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados."

Tal norma visa a tutelar verdadeiro direito fundamental de terceira


geração, de titularidade difusa, consistindo em comando ao legislador
para a instituição de mecanismos de responsabilização civil,
administrativa e penal de infratores da legislação ambiental, pessoas
físicas ou jurídicas.
De forma harmônica, a Lei nº 9.605, de 12.02.1998, em seus arts. 2º
3º, veio a prescrever:

“Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos


crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na
medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o
administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o
auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa
jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar
de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas


administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei,
nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou beneficio da sua entidade.
Parágrafo único: A responsabilidade das pessoas jurídicas

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não exclui a das pessoas fisicas, autoras, coatora ou partícipes


do mesmo fato."

Oportuno reiterar os fundamentos expostos nos autos do RE


548.181/PR, de minha relatoria, 1ª Turma, j. 06.8.2013, DJe 30.10.2014, no
sentido de que “O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa”.
Em verdade, a relevância da responsabilidade da pessoa jurídica
fundamenta-se na extrema dificuldade de obtenção da prova da autoria
de ilícitos cometidos no ambiente empresarial e de conglomerados
associativos, de intensa e intrincada segmentação na tomada de decisões
e na condução técnica e de opções da sociedade, muitas vezes
desenvolvidas em etapas sucessivas e complementares.
De fato as organizações corporativas complexas da atualidade se
caracterizam pela descentralização e a distribuição de atribuições e
responsabilidades, sendo inerentes, nessa realidade, as dificuldades para
se imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. Nesse sentido, Bernardo J.
Feijóo Sánchez refere que: “Las formas más modernas de criminalidad
organizada, sobre todo la criminalidad de empresa, demuestran que através de las
personas jurídicas se puede fomentar la ‘irresponsabilidad penal organizada’”
(Cuestiones basicas sobre la responsabilidad penal de las personas
jurídicas, de outras personas morales y de agrupaciones y asociaciones
de personas. Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano 7, nº 27, p. 20-
48. jul./set. 1999).
A identificação o mais aproximada possível dos setores e agentes
internos da empresa determinantes na produção do fato ilícito, porque
envolvidos no processo de deliberação ou execução do ato que veio a se
revelar lesivo de bens jurídicos tutelados pela legislação penal ambiental,
tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de
esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no
exercício regular de suas atribuições internas à sociedade, e ainda para
verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da entidade
coletiva.

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A responsabilização penal da pessoa jurídica decorre exatamente da


percepção da insuficiência e da dificuldade da responsabilização penal da
pessoa física para prevenir a prática de crimes, ambientais, ou de outra
natureza, por parte de entidades corporativas.
Quanto ao tema, colho do magistério de Passos de Freitas:

“a responsabilidade da pessoa jurídica não exclui a das pessoas


naturais. O art. 3º, parágrafo único, da Lei 9.605/1998 é explícito a
respeito. Assim, a denúncia poderá ser dirigida apenas contra a pessoa
jurídica, caso não se descubra a autoria ou participação das pessoas
naturais, e poderá, também, ser direcionada contra todos. Foi
exatamente por isto que elas, as pessoas jurídicas, passaram a ser
responsabilizadas. Na maioria absoluta dos casos, não se descobre a
autoria do delito. Com isto, a punição findava por ser na pessoa de um
empregado, de regra o último elo da hierarquia da corporação. E,
quanto amis poderosa a pessoa jurídica, mais difícil se tornava
identificar os causadores reais do dano.” (FREITAS, Vladimir Passos
de, FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza, 9ª
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 72. Na mesma linha a
posição de NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e
Processuais Comentadas, vol. II, 7ª. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013, p. 516).

Nesse prisma, reputo ser inviável, na hipótese, o reconhecimento da


tese defensiva de falta de individualização das condutas imputadas aos
pacientes ante a dificuldade prática de se identificar a pessoa física
diretamente responsável pelo ato criminoso corporativo, até porque no
mínimo inusual seja sua prática submetida a votação do conselho de
diretores ou objeto de registro documental.
De outro lado, como bem destacado na decisão do STJ, a conclusão
de que a denúncia é inepta em absoluto pode ser extraída de seus termos,
enquanto deixam entrever que pacientes, sócios e administradores da
pessoa jurídica, tinham poderes de gerência e sabiam do armazenamento
na empresa de substâncias tóxicas em desacordo com o regulamento. Já
ao paciente Neildo, se atribuiu naquela peça a condição de empregado

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responsável pela manutenção e guarda das substâncias tóxicas.


Ademais, quando do recebimento da denúncia, não há exigência de
cognição e avaliação exaustiva da prova ou apreciação exauriente dos
argumentos das partes, bastando o exame da validade formal da peça e a
verificação da presença de indícios suficientes de autoria e de
materialidade, de modo que seu recebimento não implica conclusão
quanto à responsabilidade criminal dos pacientes.
Todos os detalhamentos das condutas imputadas aos acusados e a
comprovação dos fatos a eles imputados serão tempestivamente
analisadas no decorrer da instrução criminal a que serão submetidos.
Aliás, inviável a análise do liame entre a conduta dos pacientes e o fato
criminoso, porquanto demandaria o reexame e a valoração de fatos e
provas, para o que não se presta a via eleita. Esta Suprema Corte já
assentou que “o caráter sumaríssimo da via jurídico-processual do habeas
corpus não permite que se proceda, no âmbito estreito do writ constitucional, a
qualquer indagação de ordem probatória nem mesmo a qualquer rediscussão em
torno da autoria do fato delituoso” (HC 89.823/MG, rel. Min. Celso de Mello,
2ª Turma, DJe 31.10.2008).
Quanto à alegação defensiva de falta de especificação do dispositivo
regulamentar de complementação da norma penal em branco do art. 56
da Lei 9.605/96, nada colhe o writ.
O princípio da congruência ou correlação no processo penal
estabelece a necessidade de correspondência entre a exposição dos fatos
narrados pela acusação e a sentença. Por isso, o réu se defende dos fatos,
e não da classificação jurídica da conduta a ele imputada.
Nesse diapasão, na esteira do parecer ministerial, “na denúncia cabe
ao Ministério Público descrever o fato atribuído ao acusado, sendo a lei, em tese,
de conhecimento geral, não precisando ser expressamente referida”. De todo
modo, “o fato de a denúncia não ter feito expressa referência à lei ou ao
regulamento que proíbe o depósito daqueles explosivos não importa no
reconhecimento da sua inépcia”.
Ao exame dos autos, não vislumbro manifesta ilegalidade nas
decisões das instâncias anteriores, ao reputarem apta a denúncia a

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inaugurar a ação penal, enquanto descreve razoavelmente o cenário dos


fatos criminosos e revela a ocorrência de fato típico com prova da
materialidade e indícios suficientes das autorias.
Nesse contexto, os fatos descritos na denúncia recomendam o
processamento da ação penal, e não o seu trancamento, este admitido
somente diante de situações excepcionalíssimas, em que presentes “a
percepção, de plano, da atipicidade da conduta, da incidência da causa de
extinção punibilidade ou a ausência de indícios de autoria e materialidade” (RHC
115.044/BA, Rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, DJe 10.4.2014), hipóteses
não evidenciadas no caso.
Por derradeiro, em consulta ao andamento processual da ação penal
de origem, disponibilizado no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça do
Estado de Tocantins, verifico que os autos estão conclusos para sentença
desde 15.7.2014.
Ante o exposto, voto pela extinção do presente habeas corpus sem
resolução do mérito.

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 17

20/10/2015 PRIMEIRA TURMA

HABEAS CORPUS 128.435 TOCANTINS

VOTO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Senhora Presidente,


principiando já pelo fim, tenho a honra de acompanhar Vossa Excelência
na conclusão que chegou. Todos os fatos e circunstâncias aqui narrados
não permitem encontrar um outro resultado. Portanto, tenho a honra de
acompanhar Vossa Excelência.
Permito-me apenas fazer alguns breves registros que não afetam essa
conclusão. Primeiro deles é de irmanar-me num certo desconforto que a
Ministra suscita em relação à preliminar. Trata-se, efetivamente, de uma
circunstância em que o habeas não é interposto per saltum, e, sim, de
uma circunstância substitutiva que, de algum modo, enfim, a garantia
constitucional poderia hipoteticamente alcançar esse efeito, permitindo,
eventualmente, um exame de mérito. Mas eu também mantenho a
posição que tenho aderido como majoritária nesta Turma, mas me
permito subscrever essa perspectiva de termos um encontro marcado com
este tema.
O segundo registro que faço e vai ao encontro da citação feita por
Vossa Excelência do artigo 2º da Lei nº 9.605 e, aqui, diz respeito um
pouco à matéria de fundo, que está no voto de Vossa Excelência. Entendo
que a figura, por si só, do sócio não integra necessariamente esse polo
passivo de imputação; do administrador, sim, e de todos aqueles que o
artigo 2º diz que concorrem, de qualquer forma, tal como diretor,
administrador, ou preposto, ou gerente, ou mandatário. Mas aqui não há
diretamente uma referência à figura do sócio, porque há necessidade de
uma participação, ainda que a lei diga "de qualquer forma", portanto, a
participação não precisa ser necessariamente material, do fato concreto.
Mas eu fico a imaginar, por exemplo, um sócio minoritário, distante do
fato, e até mesmo, muitas vezes, distante das decisões da pessoa jurídica.
Tenho, aqui, portanto, essa ressalva e que nem considero uma
ressalva, porque Vossa Excelência, aqui, com acuidade, teve - e eu percebi

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 17

HC 128435 / TO

- sempre utilizando uma conjuntiva "sócio e administrador", no que


estamos obviamente de acordo. Mas, se fosse sócio ou administrador,
manifestaria, portanto, uma ressalva em relação a esse posicionamento.
E, por último, um registro também aqui já de comunhão, a citação
que Vossa Excelência fez do magistério, do grande magistrado e autor
Vladmir Passos de Freitas veio muito bem a calhar e também
cumprimento Vossa Excelência, por isso.
Portanto, feitos esses pequenos registros, acompanho Vossa
Excelência, como disse ao início.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 17

20/10/2015 PRIMEIRA TURMA

HABEAS CORPUS 128.435 TOCANTINS

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Presidente, está de


bom tamanho. O habeas é substitutivo do recurso extraordinário, sem que
esteja em jogo, na via direta, a liberdade de ir e vir.
Acompanho Vossa Excelência.

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Extrato de Ata - 20/10/2015

Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de 17

PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

HABEAS CORPUS 128.435


PROCED. : TOCANTINS
RELATORA : MIN. ROSA WEBER
PACTE.(S) : NEILDO AVELINO DA SILVA
PACTE.(S) : JEREMIAS DEMITO
PACTE.(S) : FRANCISCO MIGUEL HENDGES
PACTE.(S) : JONAS DEMITO
PACTE.(S) : JOSÉ CARLOS CÉSAR DA SILVA
PACTE.(S) : MARCOS ZINGLER WILKELMANN
IMPTE.(S) : MAURICIO HAEFFNER
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Decisão: A Turma julgou extinto o processo, sem resolução do


mérito, nos termos do voto da Relatora. Unânime. Ausente,
justificadamente, o Senhor Ministro Roberto Barroso. Presidência
da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 20.10.2015.

Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. Presentes à Sessão


os Senhores Ministros Marco Aurélio, Luiz Fux e Edson Fachin.
Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Roberto Barroso.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Odim Brandão Ferreira.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Secretária da Primeira Turma

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