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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 12

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 228.493 SANTA CATARINA

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


AGTE.(S) : FABIANO PADILHA RODRIGUES
ADV.(A/S) : MARCOS PAULO POETA DOS SANTOS
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS.


ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E TRÁFICO DE DROGAS.
INSURGÊNCIA QUANTO À EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE E ÀS
CAUSAS DE AUMENTO NA TERCEIRA FASE DA DOSIMETRIA.
FUNDAMETAÇÃO IDÔNEA. REEXAME DE PROVAS.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
1. A dosimetria da pena está ligada ao mérito da ação penal, ao juízo
que é realizado pelo magistrado sentenciante após a análise do acervo
probatório amealhado ao longo da instrução criminal. Daí ser inviável, na
via estreita do Habeas Corpus, reavaliar os elementos de convicção, a fim
de se redimensionar a sanção. O que está autorizado, segundo reiterada
jurisprudência desta CORTE, é apenas o controle da legalidade dos
critérios invocados, com a correção de eventuais arbitrariedades, o que
não se verifica na espécie.
2. Do exame das instâncias ordinárias, soberanas na apreciação do
conteúdo fático-probatório, depreende-se que a fixação da pena foi
devidamente fundamentada com base nos elementos colhidos sob o crivo
do contraditório, dentro da margem de discricionariedade prevista em
lei, o que se presta a justificar a valoração efetuada quanto às
“circunstâncias do crime, haja vista o grupo ‘Chelsea’ tratar-se de organização
criminosa filiada ao PGC, constituída para a prática de crimes graves e das mais
variadas espécies, contando com diversos faccionados”.
3. O aumento da reprimenda na terceira fase da dosimetria foi
devidamente motivado pela instância ordinária, que se valeu do emprego
de arma de fogo e da participação de adolescente para fundamentar a
majoração nos termos declinados (art. 2º, §2º e §4º, I, da Lei 12.850/2013),
circunstâncias fáticas essas que são suficientes para a manutenção da
pena privativa de liberdade do paciente.
4. Agravo Regimental a que se nega provimento.

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HC 228493 AGR / SC

AC ÓRDÃ O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros do Supremo


Tribunal Federal, em Sessão Virtual da Primeira Turma, sob a Presidência
do Senhor Ministro ROBERTO BARROSO, em conformidade com a ata
de julgamento, por unanimidade, acordam em negar provimento ao
Agravo Regimental, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 26 de junho de 2023.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator
Documento assinado digitalmente

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Relatório

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AG.REG. NO HABEAS CORPUS 228.493 SANTA CATARINA

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


AGTE.(S) : FABIANO PADILHA RODRIGUES
ADV.(A/S) : MARCOS PAULO POETA DOS SANTOS
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR):


Trata-se de Agravo Regimental interposto em face de decisão que
indeferiu Habeas Corpus impetrado contra acórdão da Quinta Turma do
Superior Tribunal de Justiça, proferido no julgamento do Agravo
Regimental no HC 776.286/SC, submetido à relatoria do Ministro
RIBEIRO DANTAS.
Pelo que se depreende, o paciente foi condenado à pena de 11 anos e
3 meses de reclusão, em regime fechado, pela prática dos crimes de
integrar organização criminosa (art. 2º, §2º e §4º, I, da Lei 12.850/13) e de
tráfico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/2006).
O Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina deu parcial
provimento ao apelo defensivo, para estabelecer a pena no patamar de 10
anos de reclusão.
Na sequência, a defesa impetrou Habeas Corpus no Superior Tribunal
de Justiça, do qual o Ministro Relator não conheceu, em decisão mantida
pelo colegiado no julgamento do subsequente Agravo Regimental. O
acórdão ficou assim ementado:

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM


HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA
PENA. CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. MODUS
OPERANDIS. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.
FUNDAMENTO IDÔNEO. MAJORANTES. PERÍCIA DA
ARMA DE FOGO. DESNECESSIDADE. PARTICIPAÇÃO DE
ADOLESCENTES. REEXAME DE PROVAS. INVIABILDIADE.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

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Relatório

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HC 228493 AGR / SC

1. A respeito da dosimetria da reprimenda, anote-se que


sua individualização é uma atividade vinculada a parâmetros
abstratamente cominados na lei, sendo, contudo, permitido ao
julgador atuar discricionariamente na escolha da sanção penal
aplicável ao caso concreto, após o exame percuciente dos
elementos do delito, e em decisão motivada. Dessarte, às Cortes
Superiores é possível, apenas, o controle da legalidade e da
constitucionalidade na dosimetria.
2. No que se refere às "circunstâncias do crime", essas
possuem relação com o modus operandi veiculado no evento
criminoso. No caso, o Tribunal a quo apresentou
fundamentação idônea, justificando a necessidade de maior
reprovabilidade da conduta, pela magnitude do grupo
"Chelsea, pois se tratar de organização criminosa filiada ao
PGC, constituída para a prática de crimes graves e das mais
variadas espécies, contando com diversos faccionados". Por
conseguinte, tais circunstâncias afastam, e muito, daquilo que
se considera inerente ao tipo penal de uma organização
criminosa.
3. Não prospera o pleito do afastamento das majorantes
previstas no art.2º, §§ 2º e 4º, I, da Lei 12.850/2013. As instâncias
ordinárias, com base no acervo probatório, concluíram de forma
contrária, em especial por meio de mensagens em grupo de
WhatsApp próprio com o emblema do “Chelsea”, do qual
muitos dos investigados faziam parte e trocavam mensagens de
fins criminosos, desde vendas de armas de fogo, tráfico de
drogas até orientações que eram repassadas entre eles, inclusive
para reagir e atirar contra policiais.
4. No que diz respeito à alegada impossibilidade de incidir
a causa de aumento pelo uso da arma de fogo, em virtude da
sua não apreensão e perícia, tem-se que é assente o
entendimento firmado por esta Corte Superior no julgamento
do EREsp 961.863/RS, segundo qual a apreensão e perícia da
arma é desnecessária para evidenciar essa causa de aumento de
pena se há outros elementos de prova que evidenciem o
emprego do artefato.

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HC 228493 AGR / SC

5. Em relação à participação de adolescentes, houve


depoimentos judiciais que atestaram a participação de menores
na prática de crimes cometidos pela organização criminosa.
Portanto, infirmar esta conclusão não se mostra viável na
estreita via do habeas corpus, sob pena de indevido
revolvimento fático-probatório.
6. Agravo regimental desprovido.

Na petição inicial, a defesa alegou, em síntese: ilegalidade na


dosimetria da pena. Requereu, assim, a concessão da ordem, para que se
proceda a adequação da pena-base, com o afastamento do aumento da reprimenda
com base nas circunstâncias do crime, uma vez que inerentes ao próprio tipo
penal, bem como o expurgo das causas de aumento de pena previstas no art. 2º,
§§2º e 4, I, da Lei 12.850/03.
Indeferi a ordem.
Neste recurso, o agravante sustenta que, mesmo sendo caráter
excepcional, por próprio parecer do Supremo Tribunal de Justiça, é cabível tratar
de elementos da dosimetria da pena no habeas corpus, frente evidente ilegalidades
no processo. Pleiteia, portanto, seja dado provimento ao Agravo
Regimental, nos termos da inicial.
É o relatório.

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

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VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR):


Não há reparo a fazer, pois o Agravo Regimental não apresentou
qualquer argumento apto a desconstituir os fundamentos apontados,
pelo que se reafirma o seu teor.
A respeito da dosimetria da pena, consignou o STJ:

Passo à análise da impugnação da valoração das


circunstâncias do crime na pena base.
Acerca do tema, assim decidiu o Tribunal:

“Primeiramente, deve-se esclarecer que inexiste


ilegalidade na valoração negativa das circunstâncias do
crime, pois diante de todos os elementos de prova já
destacados neste voto, é evidente a necessidade de maior
reprovabilidade da conduta, haja vista o grupo "Chelsea"
tratar-se de organização criminosa filiada ao PGC,
constituída para a prática de crimes graves e das mais
variadas espécies, contando com diversos faccionados.
Justificada, por tanto, a circunstância judicial
desfavorável atinente às circunstâncias do crime, uma vez
que se afasta, e muito, daquilo que se considera inerente
ao tipo penal.
Todavia, embora idônea fundamentação utilizada
para exasperar a pena em virtude das circunstâncias do
crime na primeira etapa dosimétrica, verifica-se que o
Magistrado a quo não apontou qualquer razão excepcional
que justifique a aplicação da fração acima do usual em
relação a esta circunstância, motivo pelo qual se reduz o
patamar de exasperação referente às circunstâncias do
crime para 1/6 (um sexto), consoante o comumente
aplicado por esta Corte.” (e-STJ, fls. 969-670)

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HC 228493 AGR / SC

A respeito da dosimetria da reprimenda, vale anotar que


sua individualização é uma atividade vinculada a parâmetros
abstratamente cominados na lei, sendo, contudo, permitido ao
julgador atuar discricionariamente na escolha da sanção penal
aplicável ao caso concreto, após o exame percuciente dos
elementos do delito, e em decisão motivada. Dessarte, às Cortes
Superiores é possível, apenas, o controle da legalidade e da
constitucionalidade na dosimetria.
No que se refere às "circunstâncias do crime", essas
possuem relação com o modus operandi veiculado no evento
criminoso. No caso, o Tribunal a quo apresentou fundamentação
idônea, justificando a necessidade de maior reprovabilidade da
conduta, pela magnitude do grupo "Chelsea, pois se tratar de
organização criminosa filiada ao PGC, constituída para a
prática de crimes graves e das mais variadas espécies, contando
com diversos faccionados".
Por conseguinte, tais circunstâncias afastam, e muito,
daquilo que se considera inerente ao tipo penal de uma
organização criminosa.

A dosimetria da pena está ligada ao mérito da ação penal, ao juízo


que é realizado pelo Magistrado sentenciante após a análise do acervo
probatório amealhado ao longo da instrução criminal.
Daí ser inviável, na via estreita do Habeas Corpus, reavaliar os
elementos de convicção, a fim de se redimensionar a sanção. O que está
autorizado, segundo reiterada jurisprudência desta CORTE, é apenas o
controle da legalidade dos critérios invocados, com a correção de
eventuais arbitrariedades (HC 157.023/RJ, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, DJe de 28/06/2018; HC 158.515/SP, Rel. Min. LUIZ
FUX, DJe de 25/06/2018; RHC 156.515/BA, Rel. Min. ALEXANDRE DE
MORAES, DJe de 22/06/2018; HC 144.020 AgR/RJ, Rel. Min. EDSON
FACHIN, Segunda Turma, DJe de 13/06/2018; RHC 140.751 AgR/MG, Rel.
Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, DJe de 13/06/2018 e HC
157.943/PR, Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe de 12/06/2018).

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HC 228493 AGR / SC

No particular, do exame das instâncias ordinárias, soberanas na


apreciação do conteúdo fático-probatório, depreende-se que a fixação da
pena foi devidamente fundamentada com base nos elementos colhidos
sob o crivo do contraditório, dentro da margem de discricionariedade
prevista em lei, o que se presta a justificar a valoração efetuada quanto às
circunstâncias do crime, haja vista o grupo ‘Chelsea’ tratar-se de organização
criminosa filiada ao PGC, constituída para a prática de crimes graves e das mais
variadas espécies, contando com diversos faccionados.
Nesse contexto, tem-se que a sanção foi estabelecida de maneira
proporcional e adequada às circunstâncias do caso concreto, “sendo certo
não poder se utilizar ‘o habeas corpus para realizar novo juízo de
reprovabilidade, ponderando, em concreto, qual seria a pena adequada
ao fato pelo qual condenado o Paciente’ (HC 94.655/MT, Rel. Min. Cármen
Lúcia)”. (HC 138168, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de
21/2/2017).
Por fim, quanto à incidência das causas de aumento de pena
previstas no art. 2º, §2º e §4º, I, da Lei 12.850/2013, ao argumento de que
não houve apreensão de qualquer arma de fogo e não há qualquer prova nos autos
que indiquem que a organização criminosa envolve crianças ou adolescentes,
tampouco assiste razão à defesa. A propósito, consta do julgado ora
impugnado:

[...] não prospera o pleito do afastamento das majorantes


previstas no art.2º, §§ 2º e 4º, I, da Lei 12.850/2013.
Assim fundamentou o Tribunal a quo:

“No caso concreto, ainda que não apreendida


nenhuma arma de fogo, as provas colacionadas ao feito
demonstram que os integrantes da associação criminosa
faziam uso de artefatos bélicos para atuarem em nome da
facção.
Isso porque como bem delineado pelos agentes
públicos em audiência judicial, em especial o depoimento
do Delegado de Polícia João Adolpho Fleury Castilho, a

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utilização de artefatos bélicos pela organização criminosa


restou amplamente comprovada no decorrer da
investigação, conforme se vê em trecho colhido de seu
depoimento:

"[...] que vários fatos começaram a chamar a


atenção em algumas áreas específicas como, por
exemplo, a recorrente prática do crime de tráfico de
drogas, homicídios, tentativa de homicídio, porte de
arma, posse de arma, disparos de arma de fogo, entre
outros; [...]; que, dentro dessas buscas domiciliares,
conseguiram arrecadar materiais tais como drogas,
armas, que foram apreendidas e juntadas nos
respectivos procedimentos; [...]; que, em uma das
apreensões, foi visualizado, em um telefone celular,
um grupo de WhatsApp próprio com o próprio
emblema do Chelsea, do qual muitos dos
investigados faziam parte e trocavam mensagens de
fins criminosos, desde vendas de armas de fogo,
tráfico de drogas até orientações que eram
repassadas entre eles, inclusive para reagir e atirar
contra policiais; [...]; que, tanto nos grupos como nas
pesquisas que foram feitas em mídias sociais ou nas
redes sociais, foram encontradas fotos com diversas
armas de fogo de diversos calibres, até com fuzis, e
munição de calibres de guerra; [...]; que o grupo é tão
violento que mandava reagir, que "ninguém passa",
que "passam a bala", enfim diversas mensagens nesse
sentido, inclusive portando armas de fogo e munição
apontadas para o beco na direção dos policiais que
ingressariam; [...]; que eles são extremamente
violentos e fazem questão de demonstrar isso nas
fotografias, inclusive demonstrando armas de fogo
de calibre restrito, armas de fogo importadas, como
foi no caso do acusado Mark, inclusive fuzis [...]".
No mesmo sentido, foram os depoimentos

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judiciais da Policial Civil Laís Ciarcos Ramos e do


Policial Civil Rafael Veras Rocha.
Para corroborar, destaca-se as imagens contidas
nos docs. 3663, 3664, 3669, 3677, 3700, 3705, 3706,
3707, 3729, 373, entre outras constantes Relatório IP
nº 220/2017, conforme já expalando anteriormente
(docs. 3647-4027 da ação penal). [...]

De igual modo, ao contrário do que alegam as


defesas, o acervo probatório é firme na indicação da
participação de adolescentes nas atividades do grupo
criminoso.
Isso porque, conforme conta no Relatório IP nº
220/2017 (docs. 3647- 4027 da ação penal), os adolescentes
Walace Moura dos Santos, Lucas Daniel dos Santos
Ligório, Lucas de Souza Araújo, Carlos Eduardo do
Nascimento, Leonardo Almeida de Menezes, Moisés
Cavalheiro Martins, Samuel Macieski de Lima e Luiz
Eduardo Ferreira da Silva efetivamente participavam da
empreitada ilícita gerenciada pela organização criminosa
"Chelsea", inclusive, como bem delineado pelo Magistrado
sentenciante, enviando fotos e mensagens ao grupo de
WhatsApp da organização criminosa ("1ª Festa Sertaneja
na MLK").
Nesse sentido, merece destaque trecho do
depoimento judicial prestado pelo Delegado de Polícia
João Adolpho Fleury Castilho: "[...] que existiam vários
adolescentes que auxiliavam na organização criminosa na
prática dos crimes ou na organização do grupo [...]".(e-STJ,
fls. 978-982)

A defesa aduz que não há comprovação da utilização de


arma de fogo e de participação de criança ou adolescente para a
incidência das majorantes. Todavia, as instâncias ordinárias,
com base no acervo probatório, concluíram de forma contrária,
em especial por meio de mensagens em grupo de WhatsApp

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HC 228493 AGR / SC

próprio com o emblema do “Chelsea”, do qual muitos dos


investigados faziam parte e trocavam mensagens de fins
criminosos, desde vendas de armas de fogo, tráfico de drogas
até orientações que eram repassadas entre eles, inclusive para
reagir e atirar contra policiais.
[...]
Em relação à participação de adolescentes, houve
depoimentos judiciais que atestaram a participação de menores
na prática de crimes cometidos pela organização criminosa.
Portanto, infirmar esta conclusão não se mostra viável
nesta estreita via, sob pena de indevido revolvimento fático-
probatório.

Como se vê, o aumento da reprimenda na terceira fase da dosimetria


da pena foi devidamente motivado pela instância ordinária, que se valeu
do emprego de arma de fogo e da participação de adolescente para
fundamentar a majoração nos termos declinados, circunstâncias fáticas
essas que são suficientes para a manutenção da pena privativa de
liberdade do paciente.
E, para afastar a conclusão implementada pelas instâncias
antecedentes, seria necessário proceder à análise de fatos e provas,
providência incompatível com esta via processual (HC 155.410 AgR/SP,
Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, DJe de
27/06/2018; HC 154.119 AgR/PB, Rel. Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, DJe de 21/05/2018; HC 152.118 AgR/GO, Rel. Min. LUIZ
FUX, Primeira Turma, DJe de 17/05/2018; RHC 142.458 AgR/RR, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, Segunda Turma, DJe de 23/03/2018; HC 149.954
AgR/SP, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, DJe de 06/02/2018 e
RHC 136.511/SP, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
DJe de 13/10/2016).
Em conclusão, não há constrangimento ilegal a ser sanado.
Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO ao Agravo Regimental.
É o voto.

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Extrato de Ata - 26/06/2023

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PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 228.493


PROCED. : SANTA CATARINA
RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES
AGTE.(S) : FABIANO PADILHA RODRIGUES
ADV.(A/S) : MARCOS PAULO POETA DOS SANTOS (32364/SC)
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo


regimental, nos termos do voto do Relator. Primeira Turma, Sessão
Virtual de 16.6.2023 a 23.6.2023.

Composição: Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente),


Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux e Alexandre de Moraes.

Disponibilizaram processos para esta Sessão os Ministros Dias


Toffoli e Edson Fachin.

Luiz Gustavo Silva Almeida


Secretário da Primeira Turma

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http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 378F-23DD-C6F9-503B e senha FFBD-5458-62A3-0503

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