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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
MJML
Nº 70085490795 (Nº CNJ: 0062632-23.2021.8.21.7000)
2021/CRIME

HABEAS CORPUS PREVENTIVO. INCÊNDIO DA


BOATE KISS. TRIBUNAL DO JÚRI. RAZOÁVEL
TEMOR DE QUE, CONDENADOS, OS RÉUS
VIESSEM A SER PRESOS APÓS O JULGAMENTO.
COMPLEXIDADE DA QUESTÃO RELATIVA À
PRISÃO E À LIBERDADE PROVISÓRIA, EM RAZÃO
DE VARIADAS INTERPRETAÇÕES E DE
LEGISLAÇÃO NOVA, QUESTIONADA PERANTE O
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CABIMENTO DA
MEDIDA.
Liminar ratificada.
Ordem concedida.

HABEAS CORPUS PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL

Nº 70085490795 (Nº CNJ: 0062632- COMARCA DE PORTO ALEGRE


23.2021.8.21.7000)

JADER DA SILVEIRA MARQUES IMPETRANTE

ELISSANDRO CALLEGARO SPOHR PACIENTE

JUIZ DE DIREITO DO(A) 1 VARA DO COATOR


JURI DO FORO CENTRAL

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Primeira


Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, por maioria, em
ratificar a medida liminar e conceder em definitivo a ordem de habeas
corpus, vencido o Des. Honório, que julgava prejudicado o pedido.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente),


os eminentes Senhores DES. JAYME WEINGARTNER NETO E DES. HONÓRIO
GONÇALVES DA SILVA NETO.

Porto Alegre, 17 de dezembro de 2021.


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DES. MANUEL JOSÉ MARTINEZ LUCAS,


Relator.

RELATÓRIO

DES. MANUEL JOSÉ MARTINEZ LUCAS (RELATOR)

Trata-se de habeas corpus preventivo, com requerimento de


concessão liminar, impetrado por Jader da Silveira Marques em favor de
ELISSANDRO CALLEGARO SPOHR, apontando como autoridade coatora o
juízo da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre.

Em linhas gerais, o impetrante invocou a fama de juiz ‘linha-


dura’ do ilustre magistrado que presidia a sessão de julgamento, que
costuma decretar de imediato a prisão dos réus condenados pelo Júri
Popular. Sustentou que, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, há
entendimento consolidado acerca da ilegalidade de execução automática
da pena após decisão prolatada pelo Júri Popular. Teceu longas
considerações sobre a questão, invocando precedentes jurisprudenciais.
Mencionou inexistência de pressupostos autorizadores da decretação de
prisão preventiva. Requereu, liminarmente, a concessão da ordem, para
que a autoridade coatora se abstivesse de decretar a prisão preventiva
ou a execução provisória da pena, com a posterior ratificação da liminar.

A liminar restou deferida, com a determinação de que o MM.


Juiz-Presidente, em caso de condenação pelo Conselho de Sentença, se
abstivesse de decretar a prisão do paciente Elissandro Callegaro Spohr,
tendo sido a ordem estendida aos corréus Mauro Londero Hoffmann,
Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

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A Dra. Procuradora de Justiça manifestou-se pela denegação


da ordem.

É o relatório.

VOTOS

DES. MANUEL JOSÉ MARTINEZ LUCAS (RELATOR)

Com a vênia da ilustre Procuradora de Justiça que oficiou no


feito, tenho que merece confirmação a medida liminar que concedi na
decisão preambular, com a concessão definitiva da ordem pleiteada.

A questão posta nos presentes autos é relativamente


complexa, até porque toda a matéria relativa à prisão e à liberdade
provisória tem recebido interpretações variadas nas várias instâncias do
Poder Judiciário, sendo que, mais recentemente, a Lei n. 13.964/2019
estabeleceu que, condenado o réu pelo Tribunal do Júri a uma pena igual
ou superior a 15 anos, deverá o Juiz-Presidente instaurar a execução
provisória da sentença. Não obstante tal draconiano preceito, o mesmo
diploma legal abre exceção a essa regra, no § 3º do dispositivo do Código
de Processo Penal alterado pelo mencionado estatuto legal. Por outro
lado, essa norma legal, como se sabe, está sendo questionada no Pretório
Excelso, que ainda não encerrou o julgamento sobre esse thema
decidendum.
Assim sendo, e até porque tenho ciência de que o Ministério
Público já encaminhou pedido de suspensão da liminar concedida neste
habeas corpus ao Exmo. Sr. Ministro Presidente do Supremo Tribunal
Federal, não vejo necessidade de maiores considerações teóricas sobre a
questão, bastando transcrever a sintética decisão que proferi como
fundamento da medida liminar concedida:

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A respeito do tema, tenho decidido que, na hipótese em


que o réu responde a todo o processo em liberdade, às vezes,
por vários anos, a condenação pelo Tribunal do Júri não
justifica, por si só, a decretação da prisão, como está dito no
precedente de minha lavra citado nas razões do presente writ.
Aliás, o fundamento para tal decreto prisional costumava
ser o princípio constitucional da soberania dos veredictos do
Tribunal Popular. De minha parte, sempre sustentei que tal
argumento era bastante forçado, uma vez que, como se sabe,
tal princípio é relativo, como costumam ser os princípios
jurídicos em geral. Tanto é que o próprio Código de Processo
Penal autoriza a desconstituição da decisão tomada pelo
Conselho de Sentença quando esta “for manifestamente
contrária à prova dos autos”, além de que é possível a nulidade
do julgamento, hipótese que não é absurda nem tão rara.
É verdade que, em dezembro de 2019, foi promulgada a
Lei nº 13.964 (denominada Pacote Anticrime), que, entre
inúmeras alterações de boa parte da legislação penal e
processual penal, introduziu no art. 492 do estatuto processual
a alínea ‘e’, determinando que, em caso de condenação, o
presidente do Tribunal do Júri “mandará o acusado recolher-se
ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes
os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação,
a uma pena igual ou superior a 15 anos de reclusão,
determinará a execução provisória das penas, com expedição
de mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do
conhecimento dos recursos que vierem a ser interpostos”.
Não obstante tal dispositivo, o Colendo Superior Tribunal
de Justiça, através da 5ª e da 6ª Turmas, as duas que detém
competência para a matéria criminal, tem entendimento
pacífico de que, na hipótese em tela é descabida a execução
provisória da sentença condenatória pelo Tribunal do Júri.
Saliento que tal posição se mantém após a vigência do novel
preceito legal, introduzido pelo referido diploma, como atestam
os seguintes precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS.


HOMICÍDIO QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI. EXECUÇÃO
IMEDIATA OU PROVISÓRIA DA SENTENÇA CONDENATÓRIA.
DESCABIMENTO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO CONCRETA
PARA A PRISÃO PROVISÓRIA. ART. 492, I, "E", DO CPP.
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO À CLÁUSULA DE RESERVA DE
PLENÁRIO. ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
NÃO OCORRÊNCIA. INTERPRETAÇÃO CONFORME.
DESNECESSIDADE. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Na hipótese,
a determinação da expedição do mandado de prisão após
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a condenação pelo Tribunal do Júri, fundamenta-se em


decorrência exclusiva da condenação do paciente pelo
Conselho de Sentença. Não se declinou, contudo, qualquer
motivação concreta para necessidade da prisão. Em
consulta ao sítio do Tribunal de origem, observou-se que a
fase ordinária ainda não tinha sido concluída. 3. É cediço
que o Supremo Tribunal Federal, julgando definitivamente
as Ações Declaratórias de Constitucionalidade n. 43, 44 e
54, decidiu pela constitucionalidade do art. 283 do Código
de Processo Penal, firmando nova orientação, erga omnes
e com efeito vinculante, no sentido de que a execução da
pena privativa de liberdade só poderá ser iniciada após o
trânsito em julgado da condenação. 4. Menciona-se,
ainda, que houve alteração da lei, após o julgamento da
Suprema Corte, no art. 492, inc. I, alínea "e", do CPP, em
que é determinado que o Juiz Presidente do Tribunal de
Júri proferirá sentença que, em caso de condenação,
"mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à
prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da
prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena
igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão,
determinará a execução provisória das penas, com
expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem
prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser
interpostos". 5. Contudo, o entendimento predominante na
Quinta e Sexta Turmas desta Corte segue a diretriz
jurisprudencial de que não se admite a execução imediata
de condenação pelo Tribunal do Júri, sob pena de afronta
ao princípio constitucional da presunção de inocência.
Precedentes. 6. In casu, expeciona-se o art. 97 da
Constituição de República, tendo em vista que não houve
juízo de inconstitucionalidade, mas apenas interpretação
conforme. Ora, a interpretação desta Corte é que, a prisão
antes de esgotados todos os recursos cabíveis, apenas
poderá ocorrer por decisão individualizada, com a
demonstração da existência dos requisitos para a prisão
preventiva, previstos no artigo 312 do Código de Processo
Penal, sob pena de violação ao princípio da presunção de
inocência. 7. Agravo regimental desprovido. (AgRg no RHC
130.301/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe 20/09/2021)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA.
IMPOSSIBILIDADE. RÉU RESPONDEU SOLTO AO
PROCESSO. ESGOTAMENTO DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS.
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AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Em 7/11/2019, o


Supremo Tribunal Federal decidiu que é constitucional a
regra do Código de Processo Penal que prevê o
esgotamento de todas as possibilidades de recurso para o
início do cumprimento da pena. O art. 283 do CPP está em
conformidade com a garantia prevista no art. 5º, LVII, da
Constituição Federal. 2. A Sexta Turma do STJ, ao examinar
o assunto, concluiu que, com a mudança do entendimento
do STF, a segregação advinda do esgotamento da
jurisdição ordinária, determinada pelo Tribunal de origem,
tornou-se ilegal, situação que enseja a intervenção
imediata desta Corte. 3. No caso, o paciente respondeu
solto ao processo e sua prisão decorreu unicamente da
finalização da jurisdição ordinária, a sua soltura é medida
que se impõe. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no
HC 530.499/ES, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 19/05/2020, DJe 28/05/2020)

HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA.
CONDENAÇÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL DO JÚRI.
AUSÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO. HABEAS CORPUS
CONCEDIDO. 1. Após o julgamento da Suprema Corte das
Ações Declaratórias de Constitucionalidade n. 43, 44 e 54,
houve alteração legal no art. 492, inc. I, alínea "e", do CPP,
em que é determinado que o Juiz Presidente do Tribunal de
Júri proferirá sentença que, em caso de condenação,
"mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à
prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da
prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena
igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão,
determinará a execução provisória das penas, com
expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem
prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser
interpostos". 2. Contudo, é pacífica a jurisprudência desta
Corte no sentido de que é ilegal a execução provisória da
pena como decorrência automática da condenação
proferida pelo Tribunal do Júri. 3. Habeas corpus concedido
para obstar as execuções provisórias das penas impostas
aos pacientes. (HC 623.107/PA, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 15/12/2020, DJe
18/12/2020)

HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. TRIPLO HOMICÍDIO,


LESÃO CORPORAL E USO DE DOCUMENTO FALSO.
EMBRIAGUEZ NA DIREÇÃO VEICULAR. PRISÃO
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PREVENTIVA. PRISÃO AUTOMÁTICA DECORRENTE DE


CONDENAÇÃO PROFERIDA POR TRIBUNAL DO JÚRI.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE FUNDAMENTOS
CONCRETOS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
1. O decreto de prisão, in casu, está calcado no
entendimento de que seria possível a execução provisória
da pena, ante o veredicto condenatório proferido pelo
Tribunal do Júri. 2. No âmbito desta Corte Superior, é ilegal
a prisão preventiva, ou a execução provisória da pena,
como decorrência automática da condenação proferida
pelo Tribunal do Júri. Precedentes. 3. A compreensão do
Magistrado, ainda que calcada em precedente oriundo da
Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, não foi
endossada pelo Plenário daquela Corte. Nesse toar, cabe
salientar que existe precedente posterior da Segunda
Turma do STF julgando pela impossibilidade da execução
provisória da pena, mesmo em caso de condenação pelo
Tribunal do Júri (STF: HC n. 163.814/MG, Ministro Gilmar
Mendes, Segunda Turma, julgado em 19/11/2019). Vale
ressaltar, ainda, que a referida decisão da Primeira Turma
do STF foi tomada antes do resultado das ADCs n. 43/DF,
n. 44/DF e n. 54/DF, julgadas em 7/11/2019. 4. Ordem
concedida para assegurar ao paciente o direito de
aguardar em liberdade o trânsito em julgado da
condenação, ressalvada a existência de motivos
concretos, novos ou contemporâneos que justifiquem a
necessidade da prisão preventiva. Liminar confirmada.
(HC 560.640/ES, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2020, DJe 04/12/2020)

Passando agora ao exame da realidade fática, tenho


ciência, até por habeas corpi anteriormente julgados, que o
nobre magistrado que hoje preside aquele julgamento tem (ou
pelo menos tinha) efetivamente entendimento contrário,
decretando a segregação do réu quando condenado pelo
Tribunal do Júri, o que justifica o temor de coação ilegal que
venha a sofrer o paciente.
Por outro lado, este, como os demais acusados, se
enquadra na situação anteriormente prevista, eis que se
encontra em liberdade desde o dia 29 de maio de 2013,
quando esta 1ª Câmara Criminal, através de acórdão de minha
relatoria, concedeu a ordem de habeas corpus ao acusado
Marcelo de Jesus dos Santos, estendendo-a aos demais réus,
entre os quais o ora paciente.
Cumpre salientar ainda que, passados esses mais de oito
anos, nem o paciente nem qualquer dos outros réus se
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envolveu em algum fato delituoso ou deixou de comparecer


aos atos processuais.
Por derradeiro, nessas condições, estando prestes a se
encerrar a sessão de julgamento, é imperiosa a concessão de
medida liminar, sem a qual a ordem não teria nenhum efeito.
Em face do exposto, CONCEDO LIMINARMENTE a ordem
pleiteada, determinando que o MM. Juiz-Presidente, em caso de
condenação pelo Conselho de Sentença, se abstenha de
decretar a prisão do paciente Elissandro Callegaro Spohr,
estendendo a orem aos corréus Mauro Londero Hoffmann,
Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Acresço apenas que, após a elaboração deste


despretensioso voto, recebi a comunicação formal da decisão proferida
pelo Exmo. Sr. Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal,
suspendendo a medida liminar deferida por este Relator, conforme
pedido formulado pelo Ministério Público e acima mencionado, e
determinando a prisão dos pacientes, nos termos da decisão do Juiz-
Presidente do Tribunal do Júri.

Nada obstante, verifico que tal decisão apenas suspendeu a


medida liminar concedida neste habeas corpus preventivo, o que não
impede - antes, impõe - o julgamento do mérito do writ, que vai deferido,
pelos fundamentos expostos sucintamente na decisão acima transcrita,
especialmente a consistente jurisprudência do Colendo Superior Tribunal
de Justiça a respeito do tema.

Em face do exposto, ratificando a medida deferida in limine


litis, CONCEDO em definitivo a ordem de habeas corpus.
É o voto.

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DES. JAYME WEINGARTNER NETO

Acompanho o eminente Relator, na linha do que venho


decidindo em casos similares e atento às singularidades que se
apresentam.

Antes, porém, de fundamentar brevemente minha posição,


preciso enfrentar três pontos não estritamente técnicos, que se
apresentam relativamente emaranhados e atrapalham, em certa medida,
a clareza da decisão a ser tomada: (i) o abismo de dor; (ii) a repercussão;
(iii) uma jurisprudência itinerante.

Ao longo de quase nove anos do Caso Kiss, sempre tive


presente que se caminha por uma corda estendida sobre um abismo de
dor, a desafiar compreensão (i). Já em 22 de março de 2017, ao
julgarmos o Recurso em Sentido Estrito (RSE Processo nº 70071739239),
me propus rezar pela cartilha da humildade epistemológica, pois
constatava que o Direito Penal, com seu esquadro específico para
descrever e avaliar a tragédia, dispunha de uma linguagem muito estreita
para dar conta de todas as expectativas sociais, não só emocionais como
cognitivas. Disse, então, e repito agora, lutando contra esse léxico
restrito: “resta escolher as palavras e reconhecer que as mães e os pais
das vítimas – independente da narrativa jurídica do fenômeno e lidando
com sua profundeza abissal de dor – têm exercido corajosamente uma
heroica luta por dignidade”. A dor, circundante, transbordante,
excruciante.

A opinião publicada nos últimos dias (ii) leva-me a um


desagravo, a rigor desnecessário diante da estatura moral e profissional
do Des. Manuel Lucas. Saudei, antes, nos autos de várias correições
parciais (por exemplo, Processo nº 70085369403, j. 14/10/2021), “a
exemplar participação do Desembargador Manuel Lucas ao longo desses
quase nove anos pelos quais se alonga o feito. Se eventualmente sua
posição pela desclassificação ou contra o desaforamento acabou vencida,

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como consignou, certamente a decisão colegiada beneficiou-se


substancialmente da qualidade de seus argumentos, a par de sua
experiência e sensibilidade, no indeclinável diálogo em busca da
fundamentação mais robusta possível”. Repito e amplio, aqui, pois, de
sexta-feira última, dia 10/12, para cá, uma narrativa midiática se vai
construindo: como nas melhores stories, há os heróis que
mandam/buscam prender... e um insinuado vilão, leniente/conivente (as
entrelinhas decorrem da minha percepção, naturalmente), que, instado
pelas facilidades dos corredores palacianos, faz descer dos céus um
habeas salvador. Evidente que nada disso corresponde aos fatos e,
tampouco, à vontade/conduta dos profissionais envolvidos, todos no
cumprimento fiel de seus misteres, no pleno exercício de suas convicções
e esgrimindo as estratégias processuais que se lhes afiguram mais
adequadas. Em tempos de redes sociais, entretanto, as disputas
narrativas agudizam [quando não tribalizam] e, independente das
subjetividades, formam-se percepções com mais ou menos aptidão para
se disseminarem.1

Isso tem a ver com opinião pública.2 E com respeito,


processual, às vítimas, vértice em que se encontram os tópicos (i) e (ii),

1
Para que não fique a menor dúvida, na mesma correição citada, elogiei a ora
apontada autoridade coatora, pelo esmero e diligência com que tratava de
resolver e prevenir pendências e intercorrências visando à higidez do Júri que se
avizinhava. E, naquele março de 2017, também consignei “meu profundo
respeito a todos os profissionais que atuaram neste feito. Polícia, peritos,
Ministério Público, advogados, nas defesas e na assistência à acusação,
magistrados e servidores. De tudo que li e compulsei, todos honraram seus
deveres, cumpriram seus papéis com denodo e muita competência” – aqui,
apenas, uma nota especial ao hercúleo e brilhante trabalho do Doutor Ulisses
Louzada, o juiz que conduziu toda a primeira fase deste processo.
2
Que não desconsidero, pelo contrário. Foi meu o voto condutor do
desaforamento, trazendo o Júri para Porto Alegre: “o escoar do tempo, que em
geral mitiga a exaltação, ao esfriar os ânimos, não se tem revelado eficiente – o
que, mais que compreensível, é absolutamente natural e previsível – para conter
as erupções de emoção e sofrimento que, acompanhando a persecução penal do
caso, tendencialmente afloram com mais intensidade nos atos solenes, a própria
ritualística a serviço de uma possível catarse”; considerei na ocasião, inclusive,
pesquisa de opinião pública (Processo nº 70083240689).
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tanto que, noutra Correição Parcial, argumentei que a necessidade de


fazer sofrer menos as vítimas sobreviventes e familiares era uma das
razões fortes para manter a regra geral da unicidade de julgamento.3
Também significa que “a dimensão e a extensão dos fatos criminosos,
bem como seus impactos para as comunidades local, nacional e
internacional” (STF SL 1504 MC / RS, Ministro LUIZ FUX, 14/12/2021)
foram, na medida da nossa capacidade e sensibilidade, considerados ao
longo do processo.

Chego à busca de orientação (iii), horizonte no qual fulgura o


artigo 926 do CPC, comandando aos tribunais o dever de uniformização
da jurisprudência, mantendo-a estável, íntegra e coerente. E com a
máxima vênia e inquebrantável respeito à Corte Suprema, preciso dizer,
no exercício da jurisdição, que não tem sido fácil encontrar parâmetro
jurisprudencial para resolver os casos que, anos e anos a fio, continuam
orbitando em torno da execução provisória da pena, aqui mais
especificamente quando de condenação pelo Tribunal do Júri. O recorte
das decisões sobre a matéria (que farei logo a seguir e de modo breve)
parece ilustrar a dificuldade relatada, pois a questão que se aprecia,
neste habeas, é emblemática sobre o estado da arte: pese a existência
de várias decisões da Corte Constitucional sobre o tema de fundo e
específico (inclusive pelas Turmas e Plenário), num quadro, é verdade, de
inovação legislativa mas também de pacificação no âmbito do Superior
Tribunal de Justiça, não se vislumbra, ainda, orientação segura do
Supremo Tribunal Federal. De modo que, mesmo o magistrado que se

3
Correição Parcial nº 70083085365, j. 18/12/2019, da qual extraio: “deve-se
preferir a unicidade de julgamento no escopo de reduzir a vitimização secundária
inerente ao processo penal em geral e particularmente intensa nas sessões do
Tribunal do Júri. (...) Parece intuitivo o quanto de sofrimento, inevitável em ampla
medida, é reatualizado durante os rituais da instrução em plenário e dos
debates. (...) o que não é inevitável e menos ainda inexorável é que sejam
submetidos não a um, mas a dois, quiçá três, quatro calvários. Penso que há uma
série de princípios que inclinam a solução para a unicidade. As regras mais
técnicas já as enunciei. Valores de humanidade e empatia têm lugar nesta
ponderação, devem ter”.
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esforça por seguir, e não apenas nas situações vinculantes, o Tribunal,


sente-se, em boa medida, desamparado.4

Dito isso, ao mérito do habeas.

A prisão do paciente foi decretada após condenação pelo


Tribunal do Júri à pena de 22 anos e 06 meses de reclusão, em regime
inicial fechado. A decisão foi fundamentada no artigo 492, I, “e”, do CPP,
com redação dada pela Lei nº 13.964/2019, bem como na inalterabilidade
da decisão condenatória do Tribunal do Júri (via de apelo estreita, a
ensejar, apenas, novo julgamento, pois soberanos os veredictos).5 O
Magistrado referiu ser inexplicável, para o senso comum, que o acusado
condenado pelo Júri, mormente quando a pena é expressiva, tenha, para
si, nenhuma consequência após o julgamento.6 Mencionou, também,
decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal no HC nº
118.770, na qual se entendeu que não viola o princípio da presunção de
inocência ou da não culpabilidade a execução da condenação pelo
Tribunal do Júri, independentemente do julgamento da apelação ou de
qualquer outro recurso. A ementa foi transcrita na íntegra pelo Doutor
Orlando Faccini Neto e sustenta, como se vê do sucesso alcançado em
múltiplas citações posteriores, a execução provisória da sentença
condenatória do Tribunal do Júri, ao invocar, em fundamento principal, a
soberania dos vereditos.

Quero partir daqui, pedindo alguma paciência, pois será


importante. O supracitado HC, julgado em 07/3/2017, teve a decisão
publicada em 24/4/2017. Antes, portanto, da virada de entendimento de

4
Não é de causar espanto, neste contexto, que mesmo no interior da Primeira
Câmara Criminal haja dissenso, dependendo, com alguma álea, lamento
reconhecer, o resultado dos julgamentos da composição específica que se
apresenta na ocasião, que resulta, muitas vezes, da dinâmica normal da
jurisdição, quando não de vicissitudes pessoais.
5
Mais ainda, diz o magistrado, se a defesa recorreu da pronúncia.
6
Cuja imagem cristalizaria, por todas, no lesado e seus familiares, contrariadas
suas fundadas expectativas, perceberem, ao final, que os réus, condenados,
ainda ostentam a mesma liberdade com que chegaram ao Plenário.
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fundo sobre a execução provisória operada pelo Plenário do STF nas ADCs
nº 43 e nº 44 (07/11/2019) – daí que a ementa convocasse a lógica [hoje
superada, repito] do ARE 964.246-RG, Rel. Min. Teoria Zavascki, j.
10/11/2016 (que, literalmente, admitia a execução provisória de acórdão
penal condenatório proferido em grau recursal).7

O mais interessante, todavia, só se deixa mostrar quando se


vai além da ementa. É que, compulsado o inteiro teor do acórdão
proferido no habeas mencionado (nº 118.170), observa-se que a “tese de
julgamento” consagrada no item 4 da ementa foi amparada
exclusivamente no voto do Ministro Luís Roberto Barroso, ausente
manifestação dos demais Ministros sobre a questão8.

Li, com lupa, linha por linha. O Ministro Redator do acórdão,


não conhecendo do habeas, consignou que a soberania da decisão do Júri
autoriza a manutenção da prisão. O Ministro Marco Aurélio votou pela
concessão da ordem, para que o paciente aguardasse em liberdade o
trânsito em julgado da condenação, pois ausentes os requisitos do artigo
312 do Código de Processo Penal. O Ministro Luiz Fux não conheceu do
habeas, por ser substitutivo ao recurso ordinário, não se manifestando
quanto ao mérito da prisão. A Ministra Rosa Weber não admitiu o habeas
corpus, salientando que, depois de uma sentença condenatória, não há
que se falar em excesso de prazo na formação da culpa. Trata-se,
portanto, salvo deficiente leitura minha ou incompleta informação, de

7
Anterior, também, à Lei nº 13.964/2019, não dialoga com a inovação do Pacote
Anticrime [tanto que, na sua economia, desimporta a pena aplicada], sendo que
a leitura textual do artigo 492, I, “e”, do CPP, na nova redação, é o primeiro e
mais simples fundamento apresentado pelo nobre juiz sentenciante [que
registrou não desconhecer as “discussões que se seguiram ao precedente”] para
determinar a imediata execução das penas.
8
Por maioria de votos, a Turma não admitiu a impetração e revogou a liminar
anteriormente deferida, nos termos do voto do Senhor Ministro Luís Roberto
Barroso, redator do acórdão, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio, Presidente
e Relator, que admitia e implementava a ordem. Primeira Turma, 7.3.2017 –
agradeço, de público, mais uma vez, ao eminente Juiz de Direito Doutor Maurício
Ramires, que, há tempos, me alertou para o fato.
13
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entendimento monocrático, que, a meu ver, com a devida vênia, não


ampara a imediata segregação do condenado. Em outras palavras, não
configura, substancialmente, um precedente, convocadas todas as
vênias. Nada obstante, passou a ser pluricitado como tal, em reforço da
corrente que postula a execução provisória da pena na hipótese do Júri.

A questão, consabido, segue sendo discutida nos Tribunais


Superiores.

O novo e mais importante vetor, creio, adveio pouco antes


do Pacote Anticrime. Ao julgar as ADCs nº 43 e nº 44, em novembro de
2019, o Supremo Tribunal Federal, em composição plenária, concluiu pela
constitucionalidade do artigo 283 do CPP, fixando a tese de que se exige
o trânsito em julgado da condenação para o início do cumprimento da
pena. Em suma, a presunção de inocência vigora até o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória, o que impede a execução
provisória da pena.9 Naturalmente, prisões processuais seguem no
arsenal da persecução penal, mas a prisão preventiva submete-se ao
prisma do artigo 312 do CPP.

A questão envolvendo especificamente a execução


provisória da pena das condenações oriundas do Tribunal do Júri,
entretanto, é objeto do Recurso Extraordinário nº 1.235.340, distribuído
em setembro de 2019, reconhecida a repercussão geral em outubro do

9
“Dada a natureza de Ação Direta de Constitucionalidade, o acórdão vincula a
todos, especialmente os juízes criminais (efeito erga omnes), pondo, ao menos
por ora, uma pá de cal sobre o tema” – CRUZ, Rogerio Schietti. Prisão cautelar:
dramas, princípios e alternativas. 5ª ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Ed.
JusPodivm, 2020, p. 292. No capítulo IX da obra, o ilustre Ministro do STJ narra as
oscilações do STF quanto à execução da pena, desde o entendimento original,
passando por “novo Overrulling”, com análise detalhada das decisões e votos
que se sucederam; no item 4 destaca “a incerteza sobre o tema”, que “causa
prejuízo também aos jurisdicionados e aos demais órgãos componentes do Poder
Judiciário. (...) seja na dificuldade de saber qual das variadas interpretações
sobre o tema jurídico deverão seguir, seja no incremento de demandas e
recursos a julgar” (p. 289). Reservou o item 5 para tratar da (última) reviravolta
do STF e consignou: “Como expresso em dito popular, ‘muita água ainda vai
rolar por debaixo desta ponte’.” (p. 294).
14
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mesmo ano, e ainda pendente de julgamento.10 Reconhecida a qualidade


das posições jurídicas já externadas, que merecem análise e debate,
evidente que não se está diante de um precedente.

Precedente encontro na Segunda Turma do STF que, em


outubro de 2020, afastou a possibilidade de execução provisória da pena e
enfrentou expressamente a novidade trazida pela Lei nº 13.964/2019:
HABEAS CORPUS” – CONDENAÇÃO RECORRÍVEL EMANADA
DO JÚRI – DETERMINAÇÃO DO JUIZ PRESIDENTE DO
TRIBUNAL DO JÚRI ORDENANDO A IMEDIATA SUJEIÇÃO DO
RÉU SENTENCIADO À EXECUÇÃO ANTECIPADA (OU
PROVISÓRIA) DA CONDENAÇÃO CRIMINAL – INVOCAÇÃO,
PARA TANTO, DA SOBERANIA DO VEREDICTO DO JÚRI –
INADMISSBILIDADE – A INCONSTITUCIONALIDADE
EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE CONDENAÇÕES PENAIS NÃO
TRANSITADAS EM JULGADO – INTERPRETAÇÃO DO art. 5º,
INCISO LVII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA –
EXIGÊNCIA CONSTITUCIONAL DE PRÉVIO E EFETIVO
TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO CRIMINAL COMO
REQUISITO LEGITIMADOR DA EXECUÇÃO DA PENA –
INADMISSIBILIDADE DE ANTECIPAÇÃO FICTA DO TRÂNSITO
EM JULGADO, QUE CONSTITUI NOÇÃO INEQUÍVOCA EM
MATÉRIA PROCESSUAL – CONSEQUENTE
INAPLICABILIDADE ÀS DECISÕES DO CONSELHO DE
SENTENÇA – A QUESTÃO DA SOBENARIA DOS VEREDICTOS
DO JÚRI – SIGNIFICADO DA CLÁUSULA INSCRITA NO art. 5º,
INCISO XXXVIII, “c”, DA CONSTITUIÇÃO. CARÁTER NÃO
ABSOLUTO DA SOBERANIA DO JÚRI – DOUTRINA –

10
Em maio de 2020, o Relator, Ministro Roberto Barroso, e o Ministro Dias Toffoli
votaram pela fixação da tese de que: “A soberania dos veredictos do Tribunal do
Júri autoriza a imediata execução de condenação imposta pelo corpo de jurados,
independentemente do total da pena aplicada”. O Ministro Gilmar Mendes
entendeu que a “a presunção de inocência (art. 5º, inciso LV) e a Convenção
Americana de Direitos Humanos, em razão do direito de recurso do condenado
(art. 8.2.h), vedam a execução imediata das condenações proferidas por Tribunal
do Júri”. O Ministro Ricardo Lewandowski pediu vista dos autos, ainda não
retomado o julgamento. O Doutor Orlando cita trechos dos votos dos Ministros
Barroso [que, inclusive, preconiza interpretação conforme, com redução de
texto, para excluir a baliza de quinze anos de reclusão, a possibilitar a execução
provisória de toda e qualquer condenação, pena de ferir-se a isonomia, além da
soberania que reconhece aos veredictos] e Toffoli [em casos de homicídio, a
celeridade é indispensável para que a Justiça cumpra seu papel de promover
segurança jurídica, dar satisfação social e cumprir a função de prevenção geral].
Quanto ao voto do Min. Gilmar Mendes, digo eu, ao apontar a Convenção
Americana de Direitos humanos, adiciona fator supralegal (na consabida leitura
da Suprema Corte), mas infraconstitucional, ao deslinde do problema.
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PRECEDENTES – EXISTÊNCIA, AINDA, NO PRESENTE CASO,


DE OFENSA AO POSTULADO QUE VEDA A “REFORMATIO IN
PEJUS” – CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA REGRA
CONSUBSTANCIADA NO art. 617, “IN FINE”, DO CPP –
EXAME DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL A RESPEITO DA PRISÃO MERAMENTE CAUTELAR
DO SENTENCIADO MOTIVADA POR CONDENAÇÃO
RECORRÍVEL, NOTADAMENTE QUANDO O RÉU TENHA
PERMANECIDO EM LIBERDADE AO LONGO DO PROCESSO
PENAL DE CONHECIMENTO – PRISÃO CAUTELAR
DECRETADA NA HIPÓTESE DE CONDENAÇÃO PENAL
RECORRÍVEL: INSTITUTO DE TUTELA CAUTELAR PENAL
INCONFUNDÍVEL COM A ESDRÚXULA CONCEPÇÃO DA
EXECUÇÃO PROVISÓRIA OU ANTECIPADA DA PENA –
“HABEAS CORPUS” CONCEDIDO DE OFÍCIO. (HC 174759,
Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em
10/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-255 DIVULG 21-
10-2020 PUBLIC 22-10-2020)

No inteiro teor do acórdão, o Ministro Relator referiu:


[...] Nos termos do art. 492 do CPP, após a votação pelo
conselho de sentença, o juiz-presidente proferirá sentença
que, entre outras funções, agora também “e) mandará o
acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se
encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva,
ou, no caso de condenação a uma pena igual ou superior a
15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução
provisória das penas, com expedição do mandado de
prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de
recursos que vierem a ser interpostos”. Ademais, “a
apelação interposta contra decisão condenatória do
Tribunal do Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze)
anos de reclusão não terá efeito suspensivo” (§ 4º).
Embora a inovação também tenha introduzido exceções
para não execução (nos termos dos parágrafos 2º a 6º do
referido artigo), pensa-se que há violação à presunção de
inocência e ao direito ao recurso quando ocorrer a
execução imediata da pena, mesmo antes da possibilidade
de revisão da condenação em sede de apelação.
Além disso, pode-se argumentar que nada justifica
tratamento diverso aos condenados no Tribunal do Júri em
relação aos demais réus que, nos termos decididos pelo
STF nas ADCs 43, 44 e 54, somente poderão ter a pena
executada após o trânsito em julgado da sentença.
Na recente doutrina sobre a reforma realizada pela Lei
13.964, de 2019, há forte posicionamento no sentido da
inconstitucionalidade da alteração realizada no art. 492, I,
“e” (MENDES, Soraia; MARTÍNEZ, Ana Maria. Pacote
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Anticrime. Comentários críticos à Lei 13.964/19. São Paulo:


Atlas, 2020. p. 94; DEZEM, Guilherme M.; SOUZA, Luciano
A. Comentários ao Pacote Anticrime. Lei 13.964/19. São
Paulo: RT, 2020. p. 142; NUCCI, Guilherme S. Pacote
Anticrime Comentado. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p.
88-89).11

Embora a matéria não esteja pacificada no Supremo Tribunal


Federal – e a SL 1504 concedida em 14/12/2021 pelo eminente Min. Luiz
Fux, que na qualidade do Presidente da Corte suspendeu os efeitos da
decisão liminar deferida neste habeas corpus, é cabal demonstração
disso –, o Superior Tribunal de Justiça tem reconhecido a ilegalidade da
execução provisória,12 conferindo interpretação conforme à Constituição,
mesmo nos casos de condenação oriunda do Conselho de Sentença à pena
superior a 15 anos:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS.
HOMICÍDIO QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI. EXECUÇÃO
IMEDIATA OU PROVISÓRIA DA SENTENÇA CONDENATÓRIA.
DESCABIMENTO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO CONCRETA
PARA A PRISÃO PROVISÓRIA. ART. 492, I, "E", DO CPP.
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO À CLÁUSULA DE RESERVA DE
PLENÁRIO. ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NÃO
OCORRÊNCIA. INTERPRETAÇÃO CONFORME.
DESNECESSIDADE. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Na hipótese, a determinação da expedição do mandado
de prisão após a condenação pelo Tribunal do Júri,
fundamenta-se em decorrência exclusiva da condenação
do paciente pelo Conselho de Sentença. Não se declinou,
contudo, qualquer motivação concreta para necessidade
da prisão. Em consulta ao sítio do Tribunal de origem,
observou-se que a fase ordinária ainda não tinha sido
concluída.
3. É cediço que o Supremo Tribunal Federal, julgando
definitivamente as Ações Declaratórias de
Constitucionalidade n. 43, 44 e 54, decidiu pela
constitucionalidade do art. 283 do Código de Processo

11
Apenas comento que a autoridade dos argumentos fala por si, a dialogar (e
rechaçar) os fundamentos da tese oposta, nomeadamente a soberania do júri,
que não é absoluta, e reerguendo ao patamar de garantia fundamental a regra
da presunção de inocência.
12
O nobre Relator colacionou várias e recentes decisões neste sentido, de ambas
as turmas, que me dispenso de reproduzir para evitar a tautologia.
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Penal, firmando nova orientação, erga omnes e com efeito


vinculante, no sentido de que a execução da pena
privativa de liberdade só poderá ser iniciada após o
trânsito em julgado da condenação.
4. Menciona-se, ainda, que houve alteração da lei, após o
julgamento da Suprema Corte, no art. 492, inc. I, alínea
"e", do CPP, em que é determinado que o Juiz Presidente
do Tribunal de Júri proferirá sentença que, em caso de
condenação, "mandará o acusado recolher-se ou
recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes
os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de
condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze)
anos de reclusão, determinará a execução provisória das
penas, com expedição do mandado de prisão, se for o
caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que
vierem a ser interpostos".
5. Contudo, o entendimento predominante na Quinta e
Sexta Turmas desta Corte segue a diretriz jurisprudencial
de que não se admite a execução imediata de condenação
pelo Tribunal do Júri, sob pena de afronta ao princípio
constitucional da presunção de inocência.
Precedentes.
6. In casu, expeciona-se o art. 97 da Constituição de
República, tendo em vista que não houve juízo de
inconstitucionalidade, mas apenas interpretação
conforme. Ora, a interpretação desta Corte é que, a prisão
antes de esgotados todos os recursos cabíveis, apenas
poderá ocorrer por decisão individualizada, com a
demonstração da existência dos requisitos para a prisão
preventiva, previstos no artigo 312 do Código de Processo
Penal, sob pena de violação ao princípio da presunção de
inocência.
7. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no RHC 130.301/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe 20/09/2021)

No inteiro teor do acórdão, o Ministro Relator afirma que não


há juízo de inconstitucionalidade do dispositivo, mas apenas
interpretação conforme. Refere a existência de precedente vinculante do
pleno do STF no sentido de que a execução da pena privativa de
liberdade só poderá ser iniciada após o trânsito em julgado da
condenação. Conclui que a interpretação do Superior Tribunal é de que a
prisão, antes de esgotados todos os recursos cabíveis, apenas poderá

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ocorrer por decisão individualizada, com a demonstração da existência


dos requisitos para a prisão preventiva, previstos no artigo 312 do Código
de Processo Penal, sob pena de violação ao princípio da presunção de
inocência. Acrescenta precedentes anteriores da Sexta Turma,13 no
sentido de que, no controle difuso de constitucionalidade, quando da
interpretação de dispositivo legal à luz da Constituição, não se está
declarando nulidade sem redução de texto, mas, ao revés, está-se
conferindo interpretação conforme ao texto legal, mantendo-o intacto
normativamente. Destaco este aspecto para dialogar, e expressamente
recusá-la, com a alegação do Ministério Público de que haveria, na
concessão do presente habeas, inobservância ao artigo 97 da
Constituição Federal, pela mesma razão apontada pelo STJ. Ademais,
considerando a Convenção Americana de Direitos Humanos, citada
expressamente pelo Min. Gilmar Mendes (direito de recurso do
condenado), o parâmetro seria, para argumentar, de controle de
convencionalidade – na hierarquia supralegal, não há fundamento para a
exigência de incidência da cláusula de reserva de plenário.

Para não me alongar mais, há doutrina, em linha adicional,


que tem se manifestado pelo caráter material da norma do art. 492, I,
“e”, do CPP (ou ao menos misto), o que inviabiliza a aplicação do
dispositivo a fatos criminosos cometidos antes da vigência do Pacote
Anticrime. Nesse sentido, afirma Renato Brasileiro que se trata de norma

13
Convoco novamente o Min. Schietti, ao examinar especificamente o novo
artigo 492: “Mas até que sobrevenha decisão qualificada do Pleno do STF, tem
prevalecido, salvo entendimento da Primeira Turma do STF (por maioria de
votos), a vedação à execução da pena após a decisão tomada pelos jurados no
Tribunal do Júri. O que se aponta nesse particular, por ora, é a existência de
contradições típicas de uma lei que, como salientado logo no início deste
Capítulo [XI, pp. 319-24], é fruto de visões de mundo opostas, pois reuniu, em
seu bojo, dispositivos declaradamente voltados a enrijecer a legislação penal, ao
lado de outros preceitos – não se sabe se mediante acordo interpartidário ou se
de modo sub-reptício – incluídos no último momento da tramitação do projeto no
Congresso Nacional” (pp. 352-3) – CRUZ, Rogerio Schietti. Prisão cautelar:
dramas, princípios e alternativas. 5ª ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Ed.
JusPodivm, 2020.
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processual material, porquanto produz evidente reflexo no direito de


liberdade do agente. Logo, tendo em conta seu caráter mais gravoso, não
poderá retroagir para atingir fatos delituosos cometidos antes da vigência
da Lei n. 13.964/19 (23/01/2020), sob pena de violação ao princípio da
irretroatividade da lex gravior14. Tratando-se de novatio legis in pejus,
não pode ser aplicada em desfavor do paciente. E preciso ressaltar a
lógica da posição, pois os adeptos da imediata execução, ao se afastarem
dos critérios do artigo 312 do CPP, ingressam inegavelmente no campo
da pena, direito material.

Finalizo. Na vertente da natureza cognitiva da jurisdição,


Ferrajoli adverte que o Judiciário é um poder terrível "pelo caráter sempre
imperfeito de sua fonte de legitimação", que consiste na chamada
"verdade processual".15 Todavia, sobre a verdade, "pode-se falar, em
nível epistemológico, somente em sentido relativo, uma vez que a
verdade absoluta não pode ser predicável a partir de nenhuma tese
empírica". Segue que a "legitimação das decisões judiciais é, portanto,
sempre imperfeita e incerta. Apenas as teses da lógica e da matemática

14
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8. ed.
rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020, p. 1544. De outro lado, em
argumento incidental e aditivo, aliás já salientado pelo Min. Celso de Mello no
precedente da Segunda Turma do STF, abalizada doutrina assegura que o novo
regime instituído pela regra em comento “é claramente inconstitucional” [e
anticonvencional, acresço], pois negar efeito suspensivo ao apelo em tal
circunstância é admitir execução provisória da pena, que “significa tratar como
condenado definitivo, o acusado que ainda é presumido inocente, posto que
condenado por sentença recorrida. A incompatibilidade (...) com o inciso LXVI do
caput do art. 5º da CR é frontal e insofismável” – BADARÓ, Gustavo Henrique.
Processo Penal. 8ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
2020, pp. 975-6.
15
Digamos que uma sentença ou medida restritiva de algum modo da liberdade
pessoal é justa, bem como válida, se e somente se consideramos que suas
razões são "verdadeiras", de fato e de direito. Ao mesmo tempo, podemos falar
de "verdade" dessas razões, visto que o Direito aplicado foi absolutamente
positivado pelo Direito, que por sua vez está vinculado às normas constitucionais
e aos direitos fundamentais nelas consagrados - FERRAJOLI, Luigi. "As 10 regras
da ética judicial resultantes da natureza cognitiva da jurisdição" -
https://www.conjur.com.br/2021-abr-24/ferrajoli-10-regras-etica-judicial-
resultantes-natureza-jurisdicao, acesso em 05/10/2021
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são absolutamente verdadeiras, simplesmente porque são tautológicas.


As teses judiciais, como todas as teses empíricas, inclusive as científicas,
só são aceitas como verdadeiras com base em sua motivação mais ou
menos plausível. Precisamente, sua verdade factual, argumentada por
evidências e não refutada por contra evidências, é apenas uma verdade
probabilística, enquanto sua verdade jurídica, argumentada pela
interpretação das regras aplicadas aos fatos estabelecidos, é apenas uma
verdade questionável". Por isso que as regras deontológicas dos
magistrados, como propostas por Ferrajoli, visam a "reduzir o poder e
alargar o conhecimento". A primeira é o "respeito pelas garantias", que
são, de fato, "garantias de verdade, bem como de liberdade". São
"garantias de verificação e falsificação na prática as garantias
processuais, ou seja, a publicidade da sentença, o ônus da prova e o
direito de defesa" [o direito ao recurso e a presunção de inocência,
penso, vinculam-se tanto ao ônus da prova quanto, no caso brasileiro, à
vedação da execução provisória da pena]. E, pese limitem e vinculem o
poder punitivo, não são suficientes para "anulá-lo", mesmo porque há
sempre uma "irreprimível discricionariedade judicial na avaliação das
provas e na interpretação da lei". O que leva à segunda regra: "a
consciência epistemológica do caráter somente relativo da verdade
processual e, portanto, a ética da dúvida como elemento essencial da
deontologia judiciária. Essa ética da dúvida envolve a rejeição de
qualquer arrogância cognitiva, a prudência do julgamento — daí o belo
nome 'juris-prudência' — como um estilo moral e intelectual da prática
judiciária e, em geral, das disciplinas jurídicas. Segue-se uma outra
consciência que deveria auxiliar sempre o exercício da jurisdição: a de
uma margem irredutível de ilegitimidade do Judiciário devido à
permanente possibilidade de erro; uma possibilidade que o estrito
cumprimento das garantias pode reduzir, mas certamente não eliminar".
A ética da dúvida sustenta o recurso e recomenda a opção constitucional,
na leitura atual do STJ e, ainda, do STF em plenário e da sua Segunda
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Turma, pela proibição de execução provisória da pena, dado que não se


altera por uma eventual dosimetria nas condenações oriundas do Júri.

Mas há uma última regra de ética judicial que gostaria de


deixar, pois sempre oportuna: “9. Os juízes não devem buscar o
consentimento da opinião pública, mas apenas a confiança das partes do
processo — Como regra deontológica adicional, segue-se uma relação
específica dos juízes com a opinião pública e com as partes envolvidas. O
magistrado não deve pedir o consentimento da opinião pública: pelo
contrário, um juiz deve poder, com base no correto conhecimento dos
atos do julgamento, absolver quando todos pedirem condenação e
condenar quando todos pedirem a absolvição. Justamente porque a fonte
de legitimação da jurisdição consiste na apuração dos fatos submetidos à
sentença, o poder judiciário é um poder contramajoritário, tanto quanto
os direitos por eles garantidos que, como escreveu Ronald Dworkin, são
direitos da pessoa como indivíduo e sempre, portanto, virtualmente
contra a maioria”.16

Devem poder conceder habeas corpus,17 penso eu, mesmo


diante da incompreensão do senso comum, contra a intuição e até, se
necessário, cientes de que a decisão causará emoções negativas na
maioria das pessoas. Desde que amparados na Constituição, em
argumentos consistentes e fatos concretos, em leitura compreensiva do
processo penal, não vejo como [pelo menos em termos racionais] a
concessão de um habeas corpus a réu que, por anos, respondeu ao
processo solto e em relação ao qual não se demonstrou motivação idônea
para a prisão cautelar, vá abalar a confiança na credibilidade das

16
FERRAJOLI, https://www.conjur.com.br/2021-abr-24/ferrajoli-10-regras-etica-
judicial-parte, acesso em 15/12/2021.
17
Sim, a coreografia do prende/solta causa inegável sensação de desprestígio à
dignidade da justiça no senso comum. Em certa medida, é inexorável diante do
pluralismo dos intérpretes e da organização do Poder Judiciário. Cabe-nos,
sempre que possível, reduzir a margem de incerteza, o que implica desenvolver
e fomentar a cultura dos precedentes.
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instituições ou no senso coletivo de cumprimento da lei e de ordenação


social. Muito menos que se vá causar grave lesão à ordem pública.18

A altíssima reprovabilidade social das condutas julgadas pelo


Tribunal do júri, num caso inaudito, permeado de complexidades, levou
os réus a responderem a processo por crime doloso contra a vida.
Condenados em primeiro grau, pendem recursos, inclusive sobre as
penas. A moldura limitadora da resposta penal é a imputação de
homicídios simples. Com dolo eventual. A magnitude dos resultados tem
regra prévia e expressa de exasperação pelo concurso formal. As
respostas estatais estão em curso e dependiam do significado social que
os cidadãos dariam ao conjunto de fatos apresentados pela acusação e
debatidos em contraditório e com plenitude de defesa. Tais
considerações, todavia, dizem respeito ao núcleo da controvérsia de
direito penal posta, ainda em aberto, em maior ou menor grau ou fresta.
Quando passar a ser pena definitiva, será executada, salvo antecipação
por eventual cautelaridade.19 E, ainda assim, permaneceremos a
vivenciar a tragédia.

18
Tampouco, preciso registrar a discordância (certo que a assertiva do Doutor
Orlando está no contexto do argumento das eventuais nulidades), representa
“um desprestígio exacerbado à atuação da magistratura de primeiro grau”. De
minha parte, cingido pela humildade epistemológica, não me sinto
desprestigiado com alterações, pelos Tribunais Superiores, de decisões tomadas
em segundo grau. Abertura de espírito, revejo os argumentos para refinar a tese,
abandoná-la ou defendê-la com mais denodo, nos limites, claro, das decisões
vinculantes ou fixadas no regime dos recursos repetitivos (ainda, assim, sempre
há espaço para distinções e novas ideias). O que causaria terrível desprestígio ao
Poder Judiciário, penso eu, seria este julgador, que há poucos dias aplicou
exatamente esta mesma lógica num habeas que versava sobre paciente
condenado a mais de 15 anos pelo Tribunal do Júri, mudar de veste agora, sem
que os argumentos jurídicos relevantes apontem singularidade suficiente.
19
Aliás, as penas aplicadas, em escore significativo e ainda provisórias, não
representaram “risco inescondível de evasão ou fuga”, no caso concreto, tanto
que os quatro réus, é fato público e notório, se apresentaram assim que
souberam da suspensão da liminar.
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Constatado, portanto, o constrangimento ilegal alegado,


mostra-se inviável a manutenção da prisão do paciente e dos corréus que
se beneficiaram do artigo 580 do CPP.

Cumpre, passo derradeiro, compreender a eficácia da


decisão de Sua Excelência o Ministro Luiz Fux, Presidente do egrégio
Supremo Tribunal Federal, que suspendeu a liminar do Desembargador
Relator no que se refere ao julgamento do mérito do presente habeas.

O requerimento do Ministério Público junto à Presidência do


Supremo Tribunal Federal teve como fundamentos o artigo 4º, caput, da
Lei nº 8.437/90 e o artigo 297 do RISTF. Aduziu que a concessão de
medida liminar, no presente feito, pelo Eminente Desembargador Manuel
José Martinez Lucas deixou de considerar o interesse na execução da
condenação e a grave lesão à ordem e a segurança. Sustentou que a
decisão questionada violou, modo flagrante, a ordem jurídica e social
vigente, pois impediu a execução imediata das condenações. Requereu,
ao cabo, a suspensão da liminar concedida no presente habeas corpus,
restabelecendo-se a determinação do Juiz-Presidente do Tribunal do Júri
para imediata execução das sanções aplicadas aos pacientes.

Sobreveio decisão do Ministro Presidente do Supremo


Tribunal Federal, nos autos da SL 1507 MC/RS, que deferiu “(...) o pedido
liminar, com fundamento no § 7º do art. 4º da Lei 8.437/92, para
suspender os efeitos da decisão proferida nos autos do Habeas Corpus nº
70085490795 (0062632- 23.2021.8.21.7000), pela Primeira Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, a fim de
haja o cumprimento imediato das penas atribuídas aos réus Elissandro
Callegaro Spohr, Mauro Londero Hoffmann, Marcelo de Jesus dos Santos e
Luciano Augusto Bonilha Leão, pelo Tribunal do Júri.”

Tão logo cientificados os réus, todos se apresentaram para


dar início ao cumprimento da pena.

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O que se questiona, com a submissão da questão agora a


este órgão colegiado, sendo a Primeira Câmara Criminal o juízo natural
para análise do mérito da regularidade da execução provisória da pena
neste momento processual, é se (a) devem ser mantidos os efeitos da
decisão proferida em sede de suspensão de liminar, medida excepcional,
que não tem natureza jurídica de recurso. Ou se, diversamente, (b)
concedido o writ pelo Colegiado, deve surtir imediatamente seus naturais
efeitos liberatórios. Penso que a resposta à segunda alternativa (b) é
positiva.

No ponto, o disposto no § 9º do artigo 4º da Lei 8.437/92


[sequer mencionado pelo Min. Luiz Fux] poderia indicar que a medida
suspensória “vigorará até o trânsito em julgado da decisão de mérito na
ação principal”. Entretanto, observada a técnica e a congruência entre
pedido e provimento jurisdicional, não há referência a tais efeitos no
requerimento do órgão ministerial, tampouco na decisão do Presidente do
Supremo Tribunal Federal.

Aliás, em busca de parâmetros, o Ministro Presidente, ao


submeter a SL nº 1.395 ao referendo do Plenário do STF, analisou a
cognição a ser realizada em sede de pedido de suspensão de liminar,
concluindo que se trata de análise eminentemente pragmático-
prudencial, que não se confunde com a análise exaustiva do mérito do
processo originário, sobre o qual se debruçará o colegiado competente em
momento oportuno. Do trecho, identifica-se que a suspensão se justifica
quando seu objeto é decisão monocrática do Relator, adotada
liminarmente em cognição sumaríssima, o que não remanesce quando o
habeas é submetido a julgamento de mérito.
Na mesma linha, a decisão do então Presidente do STF
Ministro Dias Toffoli, datada de 19 de dezembro de 2018, na SL nº 1.188,
interposta contra decisão liminar do Ministro Marco Aurélio na ADC nº 54,
que “deferiu liminar para suspender a execução de pena cuja decisão a

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encerrá-la ainda não haja transitado em julgado, bem assim a libertação


daqueles que tenham sido presos, ante exame de apelação, reservando-
se o recolhimento aos casos verdadeiramente enquadráveis no artigo 312
do mencionado diploma processual”. O Ministro Presidente, à época,
determinou a suspensão dos efeitos da decisão “até que o colegiado maior
aprecie a matéria de forma definitiva”.

Verifico, portanto, da análise que pude fazer das decisões do


próprio Supremo Tribunal Federal, tendência a manter os efeitos da
suspensão da liminar apenas até o julgamento do mérito pelo colegiado
competente, principalmente quando a questão envolve matéria penal –
para a qual a própria interposição da medida é, bastante, controversa.

No caso dos autos, reitero, não houve manifestação do órgão


ministerial, tampouco do Supremo Tribunal Federal, quanto à eficácia
ultrativa da decisão, limitando-se o Parquet a atacar a decisão liminar
proferida pelo Desembargador Relator.

Por isso, e consideradas as decisões do Supremo no ponto,


entendo que deve ser prestigiada a decisão deste órgão colegiado pela
concessão da ordem de habeas corpus, inclusive por fazer prevalecer o
status libertatis dos réus. E na senda do devido processo legal, percorrido
em suas etapas recursais previstas previamente, em plena aplicação da
garantia do juízo natural e competente.

Pelo exposto, voto por conceder a ordem.

No apagar das luzes do meu voto, quando ainda refletia


sobre o tema, no aguardo da manifestação do Des. Honório, que
sinalizava estar a elaborar seu voto, soube, já adentrada a noite e pela
mídia, de nova decisão do ilustre Min. Luiz Fux (datada de 16 de
dezembro de 2021), ratificando a anterior liminar deferida em 14 de
dezembro de 2021 e deferindo nova postulação do Ministério Público para
sustar os efeitos de eventual concessão deste habeas. Desta feita,
inclusive referindo expressamente o § 9º do artigo 4º da Lei 8.437/1992
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que eu mencionei acima. O Presidente do Supremo Tribunal Federal


verificou coincidência entre o objeto da sua primeira decisão cautelar e
“o objeto da decisão colegiada em andamento perante a Primeira Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul”.
Observou Sua Excelência, ainda, que, “no âmbito das suspensões, o § 8º
do artigo 4º da Lei 8.437/92 prevê expressamente a possibilidade de
aditamento do pedido de suspensão, a fim de que haja extensão dos
efeitos da decisão proferida no âmbito do incidente de contracautela a
outras decisões com idêntico objeto”.20 Parece, então, que minha
interpretação supra não era desarrazoada.

Roma locuta. Inócuas, nos efeitos, minhas razões, que


estavam em andamento, espero que pelo menos, ao cabo, justifiquem a
decisão jurisdicional que adotei.

DES. HONÓRIO GONÇALVES DA SILVA NETO

20
Grifei. Na ementa, todavia, constou: “... Superveniência de decisão colegiada
na origem. (...) Identidade de objetos entre a decisão cuja suspensão foi
determinada nestes autos e a nova decisão colegiada”. Trata-se, acredito, de
equívoco, pois, até o momento em que finalizo o voto (14h 04min, neste exato
momento, do dia 17/12/2021), não há decisão colegiada proferida.
Provavelmente, o lapso decorre da “urgente” segunda petição do Ministério
Público do Rio Grande do Sul, impetrada por sua cúpula, embora a peça referisse
julgamento em curso [o que estava correto]; também dizia o MPRS que “tomou
conhecimento de que, iniciado o julgamento do mérito do habeas corpus, dois
Desembargadores já teriam proferido votos, afigurando-se risco iminente de
soltura dos réus, conforme veiculado na imprensa local a partir de informações
fornecidas pelo Tribunal de Justiça (sic)” – a notícia é de 16/12/2021, 18h 49min
e atualizada às 18h 53min. Registro minha estranheza. E repudio o pedido
(ignorado pelo Min. Luiz Fux) de que fossem requisitadas informações ao TJRS, a
fim de que esclarecesse quantos votos já proferidos e o “teor das respectivas
deliberações”. Kafkiano, para dizer o mínimo, talvez inquisitorial, no quadro de
uma sessão em curso.
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Importa registrar, por primeiro, que, ultimado o voto que


proferiria no julgamento do habeas corpus, e antes de o liberar, ao
acessar sites de periódicos desta Capital, deparei-me com inteiro teor de
nova decisão proferida pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal,
deferindo postulação deduzida pelo Ministério Público, para sustar os
efeitos de eventual concessão do Habeas Corpus nº 70085490795 pela
Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande
do Sul.

E, pelo que depreendi, teria chegado ao conhecimento do


Ministro Luiz Fux a informação de que os dois outros integrantes da
composição desta câmara criminal já teriam lançado seus votos,
concedendo a ordem, o que permite a conclusão de que ficou o Ministro
contrariado com tal situação, o que levou à novel decisão, de onde se
retira a conclusão de que a suspensão dos efeitos daquela que, lançada
pelo relator, concedeu medida liminar, perduraria durante a tramitação
de eventuais apelos interpostos em face da condenação dos pacientes
pelo Tribunal do Júri da comarca de Porto Alegre.

Então, compelido por tal situação, vi-me forçado a alterar o


voto que ainda não havia liberado, e que possuía o seguinte teor:

Estou divergindo.

Registro, por primeiro, que, por ocasião do julgamento dos


embargos infringentes opostos em face da decisão proferida por esta
câmara criminal, mantendo a pronúncia dos réus (na oportunidade,
vencido o relator), concluí que se estava diante de crimes culposos
(convicção que mantenho hígida), entendimento que não prevaleceu no
Superior Tribunal de Justiça, resultando os ora pacientes submetidos a
julgamento pelo Tribunal do Júri, sendo, todos, condenados a penas
superiores a quinze anos de reclusão, com o que, observadas as regras

28
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postas no art. 492, inc. I, alínea e, e § 4º, do Código de Processo Penal 21,
que retiraram o efeito suspensivo de eventual apelação, impositiva a
execução provisória da decisão condenatória.

Não obstante isso, faz-se necessária a realização de


algumas ponderações.

E inicio pela oscilante orientação do Supremo Tribunal


Federal que, em dado momento, passou a considerar possível a
execução provisória da pena, depois de mantida a decisão condenatória
em segundo grau de jurisdição, em decisão que tornava não escrita a
norma contida no art. 283, caput, do Código de Processo Penal 22, que
somente autoriza a prisão depois de transitada em julgado a
condenação criminal.

Oportuno salientar que, mesmo diante de tal orientação,


nos recursos em que fui relator não determinei a execução provisória de
condenação, por considerar que não se pode afastar a legitimidade do
legislador infraconstitucional de estabelecer normas de direito
processual penal, e, menos ainda, deixar de aplicar aquelas editadas, a
pretexto de observância de normas constitucionais, sem que, pelo
menos, afirme o órgão competente para tanto que padece, a
infraconstitucional, de constitucionalidade, o que não ocorreu com a
regra processual precitada.

21
Art.492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:
I – no caso de condenação: (...)
e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se
encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de
condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão,
determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado de
prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser
interpostos.
§ 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do Júri a uma
pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo
22
Art. 283.Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de
prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado.
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Contudo, posteriormente, em novo julgamento, a Suprema


Corte retomou a orientação anterior, passando a obstar a execução
provisória da decisão condenatória, antes do trânsito em julgado,
sobrevindo, mais recentemente, a alteração legislativa que incluiu o § 4º
no art. 492 do Código de Processo Penal, que a contemplou, modo
exclusivo, para as decisões proferidas no Tribunal do Júri, nas condições
antes retratadas.

Consigno, em tal contexto, que, historicamente, as


alterações legislativas referentes à questão ora em exame, bem assim
as orientações jurisprudenciais, em sua maioria, foram provocadas por
situações políticas. E desde o tempo em que a legislação processual
contemplava regra que impunha ao acusado o recolhimento à prisão
como condição para apelar da decisão condenatória, e que foi alterada
em virtude de um Delegado de Polícia, por ter cometido crime a serviço
da ditadura militar, ter sido condenado, evitando-se, assim, seu imediato
recolhimento ao cárcere.

Lado outro, tem-se que não há óbice constitucional à


execução provisória da pena imposta a réu condenado em segundo grau
de jurisdição, senão que, como visto, o infraconstitucional que resultou
excepcionado, na hipótese de se tratar de condenação, emanada do
Tribunal do Júri, a pena igual ou superior a quinze anos.

Mais, há considerar que ao Supremo Tribunal Federal e ao


Superior Tribunal de Justiça compete, respectivamente, a unificação da
interpretação das normas constitucionais e infraconstitucionais, e não a
apreciação dos elementos probatórios que ensejaram, em se tratando
de processos criminais, a absolvição ou condenação dos réus.

Por isso que, com respeito ao exame dos fatos, as


decisões proferidas em segundo grau de jurisdição são (ou deveriam
ser) definitivas, o que, por si só, não houvesse óbice legal, justificaria a
execução provisória das decisões condenatórias proferidas nos tribunais
de justiça.

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Todavia, em se tratando da primeira decisão proferida no


Tribunal do Júri, não se pode dar o efeito daquela prolatada em segundo
grau de jurisdição, pois sujeita à invalidação em segunda instância,
estando-se, aqui, ao se afirmar que a imediata execução do julgado
decorre da soberania do veredito do Tribunal do Júri, a expressar
equivocada compreensão do significado (e da consequência) dessa
soberania.

Isso porque a decisão dos jurados é soberana


(Constituição Federal, art. 5º, XXXVIII) em virtude de não poder ser
alterada, com a condenação ou absolvição dos réus (competência
exclusiva do Conselho de Sentença), senão que invalidada, se
manifestamente contrária à prova contida nos autos, mas não é imune
ao exame do segundo grau de jurisdição (relativamente à apreciação
das provas, em uma oportunidade, apenas).

Por conseguinte, se a decisão pode ser invalidada, o que


determina novo julgamento (esse, qualquer que seja o sentido,
terminante), não se pode conferir contornos de definitividade ao
primeiro, com o que não deveria haver a possibilidade de a decisão
condenatória nesse proferida ser provisoriamente executada.

Lado outro, os jurados, condenam ou absolvem os réus,


admitem ou inadmitem circunstâncias qualificadoras, mas não
estabelecem o apenamento que, fixado pelo Juiz-Presidente, não guarda
relação com a soberania do Tribunal do Júri, mas determina a prisão (ou
não) do acusado., e pode ser alterado em segundo grau de jurisdição.

De qualquer sorte, está-se diante de regras imperativas;


uma impondo a prisão; outra obstando o efeito suspensivo à apelação; e
não comportam interpretação que impeça a execução provisória da
decisão condenatória, sem que a elas se negue vigência.

Daí por que, assim como, mesmo diante de orientação do


Supremo Tribunal Federal em sentido contrário, não determinei a
execução provisória da pena nas decisões condenatórias proferidas nos
recursos de que fui relator, fazendo observar o regramento legal,

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observo, agora, o disposto no art. 492, inc. I, alínea e, e § 4º, do Código


de Processo Penal, e (somente por isso) denego a ordem.

Assim postos os fatos que se sucederam a partir da


suspensão dos efeitos da liminar concedida, há a considerar as
circunstâncias que me levaram à alteração do voto, alhures referida.

E a primeira delas guarda relação com a competência.

Tem-se, nesse passo, dispor a regra posta no art. 4º da Lei


nº 8.437, de 199223 - diga-se aplicada por analogia (não há no
ordenamento jurídico norma específica que contemple a suspensão dos
efeitos de liminar concedida em habeas corpus) -, que compete ao
presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo
recurso, suspender a execução da liminar nas ações movidas contra o
Poder Público.

Ora, como consignado na abandonada decisão antes


transcrita, está-se diante da observância (ou não) de norma
infraconstitucional. E, em se tratando de habeas corpus, sobrevindo
decisão denegatória, o julgamento do cabível recurso ordinário situa-se
na esfera de competência do Superior Tribunal de Justiça, nos termos do
disposto no art. 105, inc. II, a, da Constituição Federal24.

23
Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do
respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da
liminar nas ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a
requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público
interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante
ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas.
24
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão for denegatória;
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Não obstante isso, o pedido de suspensão foi encaminhado


ao Supremo Tribunal Federal, o que causaria surpresa, não fosse a
constatação de que há recentes precedentes emanados do Superior
Tribunal de Justiça contemplando orientação que não dá guarida à
pretensão desenvolvida pelo Ministério Público.

Avulta, portanto, o fato consistente em que, aferindo riscos,


o requerente da suspensão dirigiu o pleito a tribunal incompetente para o
apreciar, e, ainda assim, foi aceita a competência.

Destaque-se, também, que a disposição contida no art. 9º da


Lei nº 8.437, de 1992, incluída no texto legal ao tempo da vigência do
anterior Código de Processo Civil (Lei nº 5.869, de 1973), ao estabelecer
a subsistência da suspensão dos efeitos da liminar pelo Presidente do
Tribunal até o trânsito em julgado da decisão de mérito na ação principal
diz com as medidas deferidas em processo cautelar que, nos termos do
quanto estabelecido no art. 796 do revogado diploma legal precitado,
poderia ser instaurado, antes ou no curso do processo principal, sendo
desse sempre dependente.

Por isso que não há cogitar da integração legislativa no caso


presente, afigurando-se bastante a duvidosa e controvertida aplicação,
por analogia, das regras inscritas na Lei nº 12.016, de 2009, e no
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

Claro está, portanto, que a suspensão dos efeitos da liminar


não vigora, ex legis, até a solução final da ação penal, com o que não há
impedimento algum para que esta câmara criminal, com a necessária
independência, julgue o mérito habeas corpus, observando-se o individual
entendimento de seus integrantes.

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Por outro turno, as invocadas normas contidas no art. 15,


caput, da Lei nº 12.016, de 200925, e no art. 297, caput, do Regimento
do Supremo Tribunal Federal26, efetivamente autorizam a suspensão da
execução da liminar ou da decisão concessiva da segurança.

Contudo, produzem efeitos, tão-somente, liminares


concedidas e sentenças proferidas. E, na hipótese vertente, o Presidente
do Supremo Tribunal Federal, ao que se depreende, em virtude de tomar
conhecimento do teor dos votos de dois dos desembargadores, sustou,
antes de ultimado o julgamento, os efeitos de eventual decisão proferida
por esta câmara criminal, então inexistente, o que consubstancia
verdadeira avocação da causa, ex officio.

Daí por que, presente tal situação, julgo prejudicado o


exame do habeas corpus.

25
Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público
interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde,
à segurança e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o
conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a
execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito
suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão
seguinte à sua interposição.
26
Art. 297. Pode o Presidente, a requerimento do Procurador-Geral, ou da pessoa
jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à
saúde, à segurança e à economia pública, suspender, em despacho
fundamentado, a execução de liminar, ou da decisão concessiva de mandado de
segurança, proferida em única ou última instância, pelos tribunais locais ou
federais.
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DES. MANUEL JOSÉ MARTINEZ LUCAS - Presidente - Habeas Corpus nº


70085490795, Comarca de Porto Alegre: "POR MAIORIA, RATIFICANDO A
MEDIDA DEFERIDA IN LIMINE LITIS, CONCEDERAM A ORDEM DE HABEAS
CORPUS, VENCIDO O DES. HONÓRIO, QUE JULGAVA PREJUDICADO O
PEDIDO."

Julgador(a) de 1º Grau:

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Ofício nº T2916/2021 Porto Alegre, 16 de dezembro de 2021
Primeira Câmara Criminal
Processo: Habeas Corpus nº 70085490795 (Nº CNJ: 0062632-23.2021.8.21.7000)
Relator: Des. Manuel José Martinez Lucas
Processo do 1º Grau: 22000471710 / CNJ: 0047498-35.2020.8.21.0001
Partes:
JADER DA SILVEIRA MARQUES IMPETRANTE
ELISSANDRO CALLEGARO SPOHR PACIENTE
JUIZ DE DIREITO DO(A) 1 VARA DO JURI DO FORO COATOR
CENTRAL

Senhor(a) Juiz(a):

Comunico a Vossa Excelência que, em sessão do(a) Primeira Câmara


Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, hoje realizada, no julgamento do feito
acima identificado, foi proferida a seguinte decisão:

"POR MAIORIA, RATIFICANDO A MEDIDA DEFERIDA IN LIMINE LITIS,


CONCEDERAM A ORDEM DE HABEAS CORPUS, VENCIDO O DES. HONÓRIO, QUE
JULGAVA PREJUDICADO O PEDIDO."

Cordiais saudações.

Ao(À) Excelentíssimo(a) Senhor(a)


Juiz(a) de Direito de(a)
1ª Vara do Júri - Comarca de Porto Alegre

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Primeira Câmara Criminal

Intimação liberada no portal do processo eletrônico em 3 de dezembro de 2021


Sessão Virtual de 16 de dezembro de 2021 até 17 de dezembro de 2021
Artur Vasques Duarte
Gestor Judiciário V
E72 - Processo 70085490795 (Nº CNJ: 0062632-23.2021.8.21.7000)
Habeas Corpus / Crimes Contra Pessoa
1ª Vara do Júri Comarca de Porto Alegre

Partes:
JADER DA SILVEIRA MARQUES IMPETRANTE
ELISSANDRO CALLEGARO SPOHR PACIENTE
JUIZ DE DIREITO DO(A) 1 VARA DO JURI DO FORO COATOR
CENTRAL

Composição:
Des. Manuel José Martinez Lucas Relator
Des. Jayme Weingartner Neto
Des. Honório Gonçalves da Silva Neto
Dr.ª Irene Soares Quadros Procurador

Decisão:
"POR MAIORIA, RATIFICANDO A MEDIDA DEFERIDA IN LIMINE LITIS,
CONCEDERAM A ORDEM DE HABEAS CORPUS, VENCIDO O DES. HONÓRIO,
QUE JULGAVA PREJUDICADO O PEDIDO."

Des. Manuel José Martinez Lucas,


Presidente.

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