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Hábeas Corpus – Condenação no Regime Aberto Juiz Determina a

Manutenção da Prisão Preventiva

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR


DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DE ......

"HABEAS CORPUS"
(COM PEDIDO DE LIMINAR)

Colenda Câmara,
Eminente Relator,

......................, brasileiro(a), Estv.civil,


advogado regularmente inscrito na OAB-.... sob o nº ....., permissa
máxima vênia vem perante a esta Egrégia Corte, com fundamento no
artigo 5º, LVII, LXVI e LXVIII, da Constituição Federal, combinado
com artigo 647 e seguinte do Código de Processo Penal, impetrar uma
ordem de

"HABEAS CORPUS"
em favor do Paciente, .....................brasileiro(a), Est.civil, Profissão,
residente na fazenda Cabeceira do ........, .............., contra ato do Juiz de
Direito da Segunda Vara Criminal da Comarca de .... (doc...), que
condenou Paciente ao cumprimento de pena a ser cumprida no regime
aberto e injustificadamente a mantém no regime fechado, configurando
notório e indisfarçável constrangimento ilegal sanável pelo presente
instituto do habeas corpus com fulcro no artigo 648, I e V do Código de
Processo Penal combinado com artigo 5ª LVII, LXVI e LXVIII da nossa
Carta Magna.

SÚMULA DOS FATOS

1 A Paciente, foi denunciada e condenada


como incursa nas penas do art. 148 do Código penal, tendo o juiz
presidente do feito, fixado sua pena definitiva em .... (...) anos de
reclusão a ser cumprida no regime aberto, porém, incorreu numa crassa
contradição ao determinar a manutenção de sua custódia no regime
fechado, com os mesmos argumentos da prisão preventiva, instituto este
incompatível com o do regime adotado na sentença, com isso perpetrou
inequívoco constrangimento ilegal, ao manter em cárcere fechado
condenado que foi autorizado a cumpri-la, desde o início, em regime
aberto, conforme cópia da decisão em apenso (doc...).

2 Embora não concordasse com a


condenação injusta, a paciente deixou de exercitar recurso próprio, em
primeiro lugar para não sacramentar a legalidade de sua prisão após a
sentença, vez que lhe fora negado o direito de apelar em liberdade; e, em
segundo, devido a morosidade da tramitação no Juízo ad quem, pois caso
seja mantida a pena imposta pelo juízo, o julgamento de seu apelo só
viria após a ocorrência de seu direito ao livramento condicional. Assim a
Paciente preferiu sacrificar o direito de provar sua inocência em função
da pronta restituição de seu status libertatis.

3 Por outro lado, verifica-se que o recurso


interposto pela Acusação Oficial representa, simplesmente, a satisfação
de um capricho pessoal de seu editor, uma vez que em sendo dado
provimento ao apelo, não alterará a situação da Paciente, que tanto no
regime imposto pela sentença, quanto por aquele desejado no recurso
ministerial a forma de cumprimento de pena ficará inalterada, pois o
regime aberto e semi aberto, na comarca de origem, são cumpridos no
sistema de pernoite na casa de albergado.

4 Embora inoportuno suscitar no momento,


datíssima vênia, conclui-se sem nenhum esforço intelectual que o motivo
do recurso da acusação foi apenas tripudiar e infernizar a vida da
Paciente, impedindo ou atrasando, assim, seu retorno ao convívio social,
em face de ausência do trânsito em julgado da decisão para a Acusação.
É evidente a o órgão ministerial prevaricou para com os elevados
princípios norteadores da nobre Instituição que representa, passando de
custus legis para adversus legis ao deixar que motivos de caráter pessoal
sobrepusessem a nobre missão que lhe é outorgada. Tudo isso com
beneplácito do órgão jurisdicional.

5 No caso em apreço não se trata execução


provisória em seu estrito sentido, que exigiria o trânsito em julgado para
a acusação, e sim de corrigenda da contraditoriedade da sentença que fez
habitar debaixo do mesmo teto o regime aberto e a prisão preventiva, que
são institutos que se repelem e se excluem, constituindo, a manutenção
da prisão da Paciente no regime fechado, constrangimento ilegal sanável
com o presente remédio heróico.

DO DIREITO

De acordo com a melhor doutrina, a regra


na aplicação da pena, deve guardar harmonia com os princípios basilares
que orientam o sistema centrado no cânon esculpido no artigo 59 do
CPB, expressivo do comando que manda aplicar, dentre as penas
cominadas, aquela que for necessária e suficiente para reprovação e
prevenção do crime.

O juiz presidente do processo de


conhecimento, aqui tido como autoridade coatora, trilhou pelos meandros
ditados no art. 59 do Código Penal, aplicando a pena dentro das balizas
legais, chegando a conclusão que o regime correto e suficiente para a
reprovação e prevenção da conduta delituosa atribuída a Paciente seria o
aberto, em consonância com os modernos desígnios que realçam a
recuperação moral e social do réu, porém deixou de determinar que a
mesma passasse a cumprir a pena imposta na sentença
independentemente de haver recurso das partes.

É assente na jurisprudência e na doutrina


mais abalizada que o regime aberto é regido e inspirado na autodisciplina
e senso de responsabilidade do condenado (artigo 36, "caput", do CP), e
permite, até mesmo, que o condenado exerça atividade fora do
estabelecimento penal e sem vigilância (artigo 36, parágrafo primeiro, do
Código Penal), assim se torna injustificável exigir que o mesmo
permaneça recolhido como garantia da ordem pública, conveniência da
instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal (artigo 312,
do CPP), como o fez o magistrado de piso em sua quilométrica sentença.

Em suma, a concessão do regime aberto é


incompatível com a permanência do réu sob custódia no regime fechado,
ou seja, é incoerente e absurdo que o Estado/Juiz após sopesar todos os
fatos e avaliar as questões judiciais chegar a conclusão que o condenado
deve cumprir sua pena no regime aberto, e este mesmo Estado/Juiz
manter uma prisão que é provisória, processual, no regime fechado, ainda
mais que o julgamento de eventual recurso da Acusação não alterará a
situação do réu.

Argumentarão os formalistas de plantão


que a sentença que ainda não transitou em julgado não se reveste do
caráter de título executório, mas, no caso em apreço, se eventualmente
provido o recurso ministerial não redundar em aumento de reprimenda e
talvez mudança de regime, pelo que a manutenção da Paciente no regime
fechado até decisão do apelo constituirá um castigo desumano,
desnecessário, além de inequivocamente ilegal.

Este Egrégio Sodalício, por sua Segunda


Câmara, instado a manifestar acerca do assunto objeto do presente
writ, no HC ........, da comarca de ........., onde figurou como relator o
eminente Desembargador Paulo Teles, assim se pronunciou:

“EMENTA : "HABEAS CORPUS. SENTENÇA


CONDENATÓRIA. REGIME ABERTO
.CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1) INADMISSÍVEL
A RETENÇÃO CARCERÁRIA DOS PACIENTES, SE
A SENTENÇA CONDENATÓRIA ESTABELECEU
PARA O CUMPRIMENTO DA PENA O REGIME
ABERTO. 2) O REGIME ABERTO IMPOSTO NA
SENTENÇA CONDENATÓRIA SOBREPÕE-SE A
FINALIDADE DA PRISÃO CAUTELAR, MORMENTE
SE AS RAZÕES INVOCADAS PARA A
MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA CARECEM DE
MAIOR CONSISTÊNCIA FÁTICO-JURÍDICA. 3)
ORDEM CONCEDIDA."
DECISÃO: "ACORDAM OS DESEMBARGADORES
DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DE GOIÁS, POR SUA PRIMEIRA CÂMARA
CRIMINAL, NA CONFORMIDADE DA ATA DO
JULGAMENTO E DESACOLHENDO O PARECER
MINISTERIAL, A UNANIMIDADE, CONCEDEU A
ORDEM IMPETRADA, REPRISTINANDO A
LIMINAR. SEM CUSTAS."

Com a devida vênia,em que pese a


insuperável sapiência do magistrado sentenciante, aqui nominado de
autoridade coatora, a determinação de manter a sentenciada em regime
fechado após ter determinado, na mesma sentença, o cumprimento da
pena no regime aberto, representa um contra-senso absurdo e ilógico
constituindo verdadeira "contradictio in terminis" que não pode
prevalecer nem mesmo sob o manto da Súmula 9 e a jurisprudência do
Pretório Excelso que, reiteradamente, decide que o réu preso em
flagrante ou preventivamente, quando condenado, deverá permanecer
preso, pois é certo que tal jurisprudência não cogitou a evidência dos
casos de regime aberto, em face da contradição lógica deste regime com
a permanência em custódia para aguardar julgamento de recurso e, é só
verificar os mais recentes Acórdãos destes mais importantes Pretórios do
país, para chegar a tal conclusão.

“PENAL. PROCESSUAL. LESÃO CORPORAL


SEGUIDA DE MORTE. REGIME INICIAL ABERTO.
RÉU QUE PERMANECEU PRESO DURANTE A
INSTRUÇÃO. APELO EM LIBERDADE.
1. Com a determinação do cumprimento da pena
em prisão albergue domiciliar, afastou o
magistrado qualquer motivo a indicar a
necessidade da prisão do réu. Por conseguinte,
não obstante a interposição de recurso pela
acusação, mostra-se totalmente desprovida de
sentido a manutenção do seu enclausuramento.
2. Ordem de Habeas Corpus concedida.” (STJ –
HC Nº 15.088-MG – Rel. Min. Edson Vidigal – DJU
11/06/01)
“Condenação. Regime semi-aberto.Réu mantido
em situação mais gravosa.
O Estado não pode submeter o condenado a
regime mais rigoroso que o estabelecido na
sentença. Recurso não conhecido e habeas
corpus concedido de ofício para que o
sentenciado cumpra, de imediato, a pena no
regime certo ou, na possibilidade concreta,
provisoriamente, em regime domiciliar." (REsp.
nº 299.461/MG, 5ª Turma, rel. min. Felix
Fischer, j. 06.04.01, v.u., DJU 28.05.01, p. 208).

“PENA DE DETENÇÃO - Regime fechado - Coação


ilegal.
Diante do conflito que existe entre o artigo 33,
"caput", que não prevê o início do cumprimento
da detenção em regime fechado, para ela
admitindo os regimes semi-aberto ou aberto, e o
parágrafo segundo, "c", que determina na
hipótese o regime fechado, de prevalecer a
primeira norma, concedendo-se o cumprimento
da pena em regime aberto ou semi-aberto.
Representa inequívoco constrangimento ilegal,
principalmente antes do trânsito em julgado da
condenação, manter em cárcere fechado
condenado a pena de detenção que foi
autorizado a cumpri-la, desde o início, em
regime semi-aberto.” (TACrimSP - HC nº
321.936/7 - Limeira - 2ª Câm. - Rel. Juiz Érix
Ferreira - J. 07.05.98 - v.u.). (Grifei)

“DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE – RÉU


CONDENADO A CUMPRIR PENA EM REGIME
ABERTO – MANUTENÇÃO DA PRISÃO PARA
AGUARDAR APELO – CONSTRANGIMENTO ILEGAL
– OCORRÊNCIA – Deve ser concedido o direito de
apelar em liberdade ao condenado por tentativa
de roubo qualificado na hipótese da sentença
fixar o regime prisional aberto para o
cumprimento da pena, pois trata-se de manifesto
equívoco manter alguém na prisão para que
possa apelar e depois, provido ou não este apelo,
colocá-lo em liberdade.” (TACRIMSP – HC
348902/4 – 1ª C. – Rel. Juiz Eduardo Goulart –
DOESP 28.10.1999)

A sentença conspurcada, neste passo, a


toda evidência atropelou as garantias constitucionais da Paciente
demonstrando menosprezo ao seu sagrado e inviolável status libertatis
retirado injusta e ilegalmente.

O caso em tela constitui a vista


desarmada e sem maior indagação notório e incontestável
constrangimento ilegal, passivo da concessão de ordem liminar, para
que cesse de imediato a coação de que é vítima a Paciente, uma vez
demonstrado o fumus boni juris e o periculum in mora, , para
condicionar o cumprimento do mandado de prisão contido no final da
sentença, ora hostilizada, à observância do regime imposto — o aberto.

EX POSITIS

espera o Impetrante, seja a presente ordem de HABEAS CORPUS,


conhecida e deferida, concedida a LIMINAR suplicada, para fazer cessar
a coação ilegal de que está sendo vítima, a Paciente, mandando que se
expeça, o competente ALVARÁ DE SOLTURA, cassando a prisão
processual do Paciente determinando que passe ao cumprimento da pena
no regime imposto na sentença, pelos fatos e fundamentos ut retro
perfilados, oficiando-se o Juiz, aqui nominado autoridade coatora, para
prestar suas informações em caráter de urgência, pois desta forma esse
Egrégio Sodalício, estará como de costume restabelecendo o império da
Lei, do Direito e da Excelsa JUSTIÇA.

Local, data

______________________________
OAB

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