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Pedido de Desaforamento do Júri

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO ..........
(Prevenção Recurso em Sentido Estrito nº .................)

DESAFORAMENTO COM PEDIDO DE LIMINAR

Eminente Relator
Colenda Câmara.

...................................., brasileiro(a),
(Est.civil), (Profissão), respectivamente, residentes na cidade de .............,
atualmente presos na Cadeia Pública Municipal daquela urbe, via de seu
advogado in fine assinado (m.j.), vem com acatamento e respeito
devidos, com fulcro no artigo 427 do Código de Processo Penal,
combinado com o artigo 321 e seguintes do Regimento Interno deste
Egrégio Tribunal, requerer seja DESAFORADO o julgamento pelo
Tribunal do Júri, da comarca de ........., onde se encontram pronunciados
(doc...) como supostamente incursos nas sanções do artigo 121, § 2º, I, III
e IV, do Código Penal, para outra comarca onde não subsistam os
motivos que determinaram o pleito e seu deferimento, qual seja a
fundada suspeita quanto a imparcialidade dos jurados, e exigência de
ordem pública , para que não haja perda irreparável de objeto, concessão
initio litis, impeditiva da realização de qualquer de julgamento do Júri,
pois já foi designado o dia ...................., segundo ata de audiência em
apenso (doc...), para que seu pedido mereça deferimento expõe as razões
que o autorizam e fundamentam:
SÍNTESE DOS FATOS

1 Os Requerentes, como dito, foram


pronunciados como supostamente incursos nas sanções do artigo 121, §
2º, I, III e IV, do Código Penal, na forma de participação e autoria
mediata do crime que vitimou a esposa do primeiro, fato que causou um
grande clamor público na sociedade anapolina, e mereceu um efusivo
destaque na mídia regional, tendo, inclusive, já ter sido gravado
reportagem para o programa ......................, que poderá vir ao ar a
qualquer momento, vez que os Acusados ................. e .................... se
encontram foragidos.

2 Durante o feito, exercitou recurso


voluntário contra as disposições da pronúncia o qual foi improvido, e
requereu o desaforamento do julgamento, desistindo de seu
prosseguimento pois naquela época os ânimos dos familiares da vítima e
a imprensa estavam amenos, porém, o objeto do presente pedido se
assente numa a realidade atual completamente diversa.

3 Após, a colocação do julgamento, na


pauta do Tribunal do Júri para o dia ............... do corrente ano, tanto a
imprensa local quanto os familiares da vítima açodaram suas campanhas
perante a população de ................., no sentido de obter a condenação do
Requerente a todo custo tomando medidas tendentes e influenciar
negativamente a opinião dos jurados.

4 Os familiares da vítima realizam várias


passeatas, pelas ruas centrais da cidade usando camisetas com a
fotografia da vítima silcadas no peito e um pedido de condenação escrito
na parte anterior, exibindo faixas e distribuído panfletos (doc...) nos
estabelecimentos comerciais, repartições públicas colégios, escolas e
demais logradouros; montaram piquetes nas entradas da cidade, além, de
realizar visitas nas residências do jurados, extravasando o direito de
ampla defesa que lhes era assegurado.
5 Por seu turno, a imprensa de modo
sistemático, passou a repetir todos os dias as gravações das confissões
dos co-réus ............., ................. e ............... dadas em entrevistas no ano
de ................, conclamando toda população para assistirem a condenação
do Requerente.
6 Na véspera do julgamento foi que pela
primeira vez o Requerente foi procurado pela equipe de reportagem
da ................ (...), dando-lhe oportunidade apresentar sua versão, porém a
opinião pública já se encontrava irreversível como demonstra a enquete
contida na fita cassete em apenso (doc...) na qual as pessoas entrevistadas
são unânimes em pugnar pela condenação, e, até mesmo pela prisão
perpétua ou pena capital, dando uma demonstração clara e indeclinável,
de que os jurados de ........, neste clima de convulsão social já estão
destituídos do uso de sua livre apreciação do fato.

7 Não se trata de mera conjectura pois


publicamente o Jurado ........., declarou na sala da OAB do fórum
de ........., que o pai da vítima foi até sua residência argumentando por
várias horas acerca da necessidade de se condenar os Requerentes, fato
que será apurado oportunamente mediante procedimento próprio, e
levado aos presentes autos.

DO DIREITO

Nossa melhor doutrina Processual Penal


tem proclamado que sempre que houver indícios através de elementos
seguros de que a ordem pública estiver ameaçada quanto a realização do
julgamento num ambiente de paz e tranqüilidade, que não assegure ao
conselho de sentença a tomada de uma decisão desativada de qualquer
coação ou influência externa que venha contaminar sua imparcialidade,
deverá ser deferido o pedido de desaforamento.

É do escólio do eminente Processualista


José Frederico Marques a seguinte lição:

"As dúvidas sobre a imparcialidade do


julgamento existem sempre que haja fatos que,
sem conturbar a ordem pública, alterem a
serenidade do julgamento, afugentando-lhe a
imparcialidade. Elas não se confundem com os
casos de suspeita de julgadores, mas se referem
a causas ambientais, de pressão, adesão ou
influência, e também de coação ou violência
moral, 'cabalas; indignação popular com relação
ao réu, ou circunstancias decorrentes da posição
social da vítima ou do acusado.” (in “Da
Competência em matéria Penal- Saraiva - ed.
1953 – pag. 281)

É no mesmo sentido o ensinamento de


Hermínio Alberto Marques Porto, em sua obra “Júri” quando leciona:

"De outra parte, pode servir para gerar dúvidas


sobre a imparcialidade dos jurados,
especialmente em centros populacionais
menores onde a cabala e as pressões - de varias
origens e formas as mais diversas - podem
conseguir até a criação de clima de receio por
parte dos jurados, a prova de uma sistemática,
poderosa, direta, envolvente ou coativa
campanha de coação da vontade dos cidadãos
alistados, e mais diretamente voltada para os
sorteados. " (pag. 107)

De igual forma tem sido o entendimento


esposado pela Suprema Corte conforme o seguinte aresto:

"Para se caracterizar a dúvida sobre a


imparcialidade do ,júri não se exige a certeza,
basta a previsão de indícios capazes de produzir
receio fundado da mesma. " (STF – RT 549/428)

No caso em apreço pelo material acostado


nos autos principalmente, pelo conteúdo da opinião prestada da pessoa
denominada de ................., entrevistada pela .............. (fita cassete em
apenso), denota-se que o julgamento do Requerente pelo Tribunal do Júri
de .........., caso realize terá efeito meramente formal vez que pelo alarido
da imprensa e as manifestações orquestradas pelos familiares da vítima
ele já se encontra definitivamente condenado.
Como se vê, não se trata de “meras
suspeitas” (RT486/291) ou “vagos temores” (RF 255/335), mas de
prevenção tornada necessária pela ocorrência de comprovados e até
invocados “fatos inequívocos” (Bento de Faria, 2/35, Espínola Filho,
VI/233): o abaixo-assinado, a campanha induzida “pelos meios de
comunicação, tanto escrita como falada e televisionada” caracterizam o
que o eminente Ministro Hermes Lima pedia como “notícia de algum
fato indiscutível, que prove uma trama, um esforço para subverter o
estado de ânimo dos jurados” (RT 44/646).

O pedido de liminar impeditiva da


realização de qualquer seção pelo Tribunal do Júri, até julgamento do
mérito do presente feito tem acento no artigo 324 do RITJ-GO, uma vez
que os motivos elencados no presente pedido demonstram a existência
inequívoca do periculum in mora, caso venha a ser julgado no foro de
Anápolis, além da imanente proximidade da data designada para a
sessão.

Quanto ao segundo requisito, fumus boni


iuris se encontra presente em vários aspectos e sobre sai da
documentação em anexo.

EX POSITIS,

e provado, pede respeitosamente a Vossa Excelência que ordene a


imediata distribuição do feito, para que possa o eminente Desembargador
Relator, nos termos do artigo 324, do ........, conceder medida initio litis,
suspendendo a realização do julgamento pelo Júri até que seja apreciado
este pleito, ordenando a colheita de informações do Meritíssima Juíza de
Direito Presidente do Tribunal do Júri da ........., de ......... para que
possam os autos seguir à Douta Procuradoria Geral de Justiça, para seu
percuciente parecer, e ser afinal considerada procedente a exceção e
decretada a derrogatio fori, para que o julgamento pelo Júri, quando
houver de ser realizado, ocorra em Comarca onde não existam as
condições inconvenientes noticiadas.

Local, data.
______________
OAB

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