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MEMORIAIS - ALEGAÇÕES FINAIS - RECEPTAÇÃO - NEGATIVA

DE AUTORIA - ORIGEM CRIMINOSA DO OBJETO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _______ VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE ____________(___).
processo-crime n.º _____________
Alegações finais sob forma de memoriais, Cf. art. 403, §3º do CPP

_____________________, brasileiro, separado, mecânico,


residente e domiciliado nesta cidade de _________________,
pelo Defensor Público infra-assinado, vem, respeitosamente,
à presença de Vossa Excelência, nos autos do processo
crime em epígrafe, oferecer, no prazo legal, as presentes
alegações finais, no intento primeiro de infirmar a peça portal
coativa, na forma que segue:

Segundo reluz do termo de interrogatório do réu prestado frente ao julgador


togado à folha ___, temos que o mesmo embora tenha admitido a aquisição da
uma peça para aposição em seu veículo automotor, negou de forma conclusiva
e terminativa tivesse ciência da origem falsa da res.
A versão esposada pelo réu, não logrou ser entibiada e ou refutada no
caminhar da instrução processual, porquanto, deve ser tida e havida por crível,
logo verdadeira.
Registre-se, por relevantíssimo, que o aludido automóvel não foi apreendido
com o réu, caindo, assim em descrédito o delito de receptação apregoado pela
peça portal coativa.
Aliás, até a presente data, sequer apurou-se quem teria, pretensamente
transmitido dita peça automotiva ao réu, com o que resta descaracterizado o
tipo reitor da receptação.
Neste norte é a mais abalizada jurisprudência que jorra dos tribunais pátrios,
digna de reprodução, face sua extrema pertinência ao caso em discussão:
“PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME DE RECEPTAÇÃO. MÁQUINA
DE ESCREVER. PATRIMÔNIO PÚBLICO. ART. 180, CAPUT, DO CPB.
ELEMENTO SUBJETIVO. ACUSADO QUE DESCONHECIA A CIÊNCIA
DA ORIGEM ILÍCITA DA RES FURTIVA. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA
MANTIDA. 1. Existindo dúvidas quanto à prática do delito de receptação
dolosa, por incomprovado o seu elemento subjetivo, consubstanciado
no conhecimento da origem ilícita da res furtiva, a absolvição é medida
que se impõe. 2. As provas coligidas pela acusação têm amparo
somente no depoimento contraditório do primeiro acusado, que não
pode, isoladamente, subsidiar decreto condenatório, devendo apoiar-se
em provas estremes de dúvidas. 3. O conteúdo probatório não
demonstra tenha o apelado adquirido coisa que sabia tratar-se de
produto de crime. 4. Apelação improvida.” (Apelação Criminal nº
2000.41.00.002883-6/RO, 4ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel. Hilton
Queiroz. j. 01.08.2006, unânime, Publ. 25.08.2006)
“RECEPTAÇÃO DOLOSA. Não havendo prova da ciência da origem
ilícita da res, por parte do denunciado, impõe-se a absolvição. Apelo
provido.” (Apelação-Crime nº 70015391295, 6ª Câmara Criminal do
TJRS, Rel. Paulo Moacir Aguiar Vieira. j. 29.06.2006, unânime)

“O crime de receptação dolosa (art. 180 caput do Código Penal)


pressupõe crime antecedente e o receptador não pode ser
responsabilizado sem que definitivamente se declare a existência deste
pressuposto. Pressupõe, ainda, o conhecimento pelo acusado da
origem criminosa da coisa e identificação da pessoa que transmitiu o
bem. Sem tais elementos é impossível a caracterização do delito.” (RT:
663/293)
RECEPTAÇÃO. ART. 180, CAPUT DO CÓDIGO PENAL. Não há prova
do elemento subjetivo exigido para a configuração do delito de
receptação. A certeza da proveniência delituosa do bem não se
presume, sendo imprescindível sua prova. A suspeita ou dúvida não
bastam para autorizar o decreto condenatório. Recursos da defesa
providos para o fim de absolver Rosecleia Frazão e Jorge dos Santos
do delito a eles imputados. (Apelação nº 0013478-25.2002.8.26.0093, 4ª
Câmara de Direito Criminal D do TJSP, Rel. Paulo Roberto Fadigas
César. j. 28.04.2010, DJe 21.07.2011).
“Para que alguém responda por receptação dolosa é indispensável que
tenha prévia ciência de que a coisa que recebe tem origem criminosa.”
(RT: 592/353)
Outrossim, sabido e consabido, que para vingar um juízo de censura na esfera
penal, mister que a autoria e a culpabilidade resultem incontroversas. A dúvida,
ainda que ínfima no espírito do julgador, autoriza a absolvição do réu, calcado
no vetusto, mas sempre atual princípio in dubio pro reo.
Em colorindo o aqui esposado toma-se a liberdade de colacionar-se algumas
ementas, bastantes elucidativas sobre o tema em debate:
APELAÇÃO CRIME. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. INSUFICIÊNCIA
PROBATÓRIA. ABSOLVIÇÃO. A condenação exige certeza quanto à
existência do fato e sua autoria pelo réu. Se o conjunto probatório
não é suficiente para esclarecer o fato, remanescendo dúvida
insuperável, impositiva a absolvição do acusado com fundamento no
art. 386, VII, do CPP. (Apelação Crime nº 70040138802, 8ª Câmara
Criminal do TJRS, Rel. Danúbio Edon Franco. j. 16.02.2011, DJ
16.03.2011).
A prova para a condenação deve ser robusta e estreme de dúvidas,
visto o Direito Penal não operar com conjecturas (TACrimSP, ap.
205.507, Rel. GOULART SOBRINHO)
O Direito Penal não opera com conjecturas ou probabilidades. Sem
certeza total e plena da autoria e da culpabilidade, não pode o Juiz
criminal proferir condenação (Ap. 162.055. TACrimSP, Rel. GOULART
SOBRINHO)
Sentença absolutória. Para a condenação do réu a prova há de ser
plena e convincente, ao passo que para a absolvição basta a dúvida,
consagrando-se o princípio do in dubio pro reo, contido no art. 386, VI,
do CPP (JUTACRIM, 72:26, Rel. ÁLVARO CURY)
USO DE DOCUMENTO FALSIFICADO. ABSOLVIÇÃO. RECURSO
MINISTERIAL BUSCANDO A CONDENAÇÃO. ACOLHIMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. AUTORIA DUVIDOSA. ACUSAÇÃO FUNDADA
EM PROVA DA FASE INQUISITIVA. Indícios que não restaram
provados no curso do contraditório. Incidência do artigo 155, do CPP.
Negativa do acusado não infirmada. Princípio do "in dubio pro reo"
bem reconhecido pelo r. Juízo "a quo". Recurso improvido. (Apelação nº
0361293-49.2010.8.26.0000, 5ª Câmara de Direito Criminal do TJSP,
Rel. Luís Carlos de Souza Lourenço. j. 29.09.2011, DJe 14.10.2011).
PENAL. ESTELIONATO PRATICADO CONTRA O INSS. AUTORIA.
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS EM RELAÇÃO ÀS CORRÉS.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA. I - O conjunto probatório carreado revelou-
se insuficiente para apontar conclusivamente a autoria e
culpabilidade das corrés Eunice e Maria Consuelo, sendo impossível
precisar atuação dolosa em suas condutas funcionais, incorrendo,
voluntária e conscientemente, no resultado antijurídico ora apurado. II -
O mero juízo de plausibilidade ou possibilidade não é robusto o
suficiente para impingir um decreto condenatório em desfavor de
quem não se pode afirmar, com veemência, a participação e
consciência da ilicitude. III - A prova indiciária quando indicativa de mera
probabilidade, como ocorre no caso vertente, não serve como prova
substitutiva e suficiente de autoria não apurada de forma concludente
no curso da instrução criminal. IV - Apelação improvida. Absolvição
mantida. (Apelação Criminal nº 0102725-03.1998.4.03.6181/SP, 2ª
Turma do TRF da 3ª Região, Rel. Cecilia Mello. j. 10.05.2011, unânime,
DE 19.05.2011).
(grifos nossos)

Destarte, o quadro de orfandade probatória enfeixado à demanda, depõe contra


a denúncia, devendo, por imperativo, o réu ser absolvido.
ANTE AO EXPOSTO, REQUER:
I.- Seja, o réu absolvido do delito contemplado pelo artigo 180, caput, do
Código Penal, frente aos argumentos aqui expendidos, os quais serão
robustecidos e enriquecidos pelo intimorato Julgador monocrático, ao editar a
sentença, crê-se, piamente, absolutória, a qual terá por substrato o artigo 386,
inciso III, Código de Processo Penal.
Nesses Termos
Pede Deferimento.
_______________, ___ de __________ de 2.00___.
_____________________________
DEFENSOR PÚBLICO TITULAR
OAB/UF _____________

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