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REVISÃO CRIMINAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
______________________.

_____________________, brasileiro, convivente, filho de


_____________ e de _______________, hodiernamente,
constrito junto ao Presídio _________, pelo Defensor Público
infra-assinado,    vem, com todo acatamento e respeito à
presença de Vossa Excelência, tendo por fulcro e
ancoradouro no artigo 621, inciso I, Código de Processo
Penal, ajuizar a presente ação penal constitutiva de revisão
criminal, do processo crime n.º _____, cuja tramitação
ocorreu na Comarca de _____________. Para tanto,
inicialmente expõe os fatos, que sedimentados pelo pedido e
coloridos pelo direito, ensejarão os requerimentos, na forma
que segue:

1.- O revisionando, foi denunciado em __________________, pela operosa


Doutora Promotora de Justiça da Comarca de ____________ , pela prática do
delito estratificado no artigo 157 § 2º, incisos I, e II, na forma do artigo 69,
ambos do Código Penal, por fato ocorrido em _______________. Vide em
anexo, cópias reprográficas integrais da denúncia bem como das demais peças
que integram o processo.
2.) Embora absolvido no primeiro grau de jurisdição, amargou juízo de
exprobação junto a Colenda ______ Câmara Criminal de Justiça, por via da
apelação criminal n.º ___________, onde revisionando foi condenado a expiar
pela pena de (07) sete anos e (07) sete meses de reclusão, acrescida da
reprimenda pecuniária cifrada em (40) quarenta dias multa, por infringência do
artigo 157, § 2º, incisos I e II, combinado com o artigo 70, ambos do Código
Penal, sob a clausura do regime semiaberto, tendo-se operado o transito em
julgado do decisum em ___________.
Entrementes, tem-se como dado inconteste que o venerando acórdão, emissor
do juízo de censura quanto a conduta pretensamente testilhada pelo
revisionando, ancorou-se e fundamentou-se para estratificar o edifício
sentencial, única e exclusivamente na prova emanada da fase policial.
Observe-se, por relevantíssimo, que as premissas em que jaz estratificado o
honorável acórdão, encontram-se sedimentadas nos autos de reconhecimento
obrados no orbe inquisitorial de folhas ______, bem como nos termos de
declarações colhidos na fase policial, de folhas ____.
Em juízo, não foi realizado o reconhecimento do réu por parte das vítimas e ou
testemunhas presenciais. Tão pouco, foi colhida qualquer prova hábil a
autorizar um juízo adverso contra o revisionando, o qual se proclamou inocente
desde a primeira hora.
Em verdade, em verdade, como dito linhas volvidas, vislumbra-se como uma
clareza a doer os olhos, que o aludido aresto, sedimentou a condenação
quanto ao fato tributado ao revisionando, com esteio tão somente na prova
advinda com o inquérito policial.
Contudo, tal procedimento, assoma desprimoroso nos dias que correm, visto
que sob o doce império do Estado de Direito, vedado é ao Julgador,    valer-se
dos elementos granjeados durante o fabrico do inquérito policial, para em
estabelecendo-os, de forma unilateral, como "fonte da verdade", emprestar
suporte fático a um juízo vergonhoso, sabido que o inquérito é peça meramente
informativa, de feições administrativas e sendo elaborado por autoridade
discricionária, não se sujeita a ciranda do contraditório.
A prova sob o pálio da Carta Magna de 1.988, somente assume tal qualificação,
quando for produzida com a fiscalização e a participação da defesa, ou seja,
quando macerada na pira do contraditório, consoante assegurado pelo artigo
5º, LV.
Em assim sendo, os informes advindos com o inquérito policial, não se
constituem em prova, legitimando apenas o integrante do parquet, a deflagrar a
ação penal, além de serem inidôneos para lastrearem qualquer condenação.
Preciosas são as considerações expendidas pelo Desembargador ÁLVARO
MAYRINK DA COSTA, no acórdão derivado da apelação criminal n.º 120/95, 2ª
Câmara Criminal do TJRJ, julgada em 01.08.1995, que ferem com acuidade o
tema submetido à desate, cumprindo, ser transcritas - ainda que de forma
parcial - por sua pertinência e atualidade:
O inquérito policial não é processo, mas tão-só mero procedimento
administrativo informativo, destinado a fornecer ao órgão do Ministério
Público o mínimo de informações necessárias à propositura da ação
penal. Não mais se pode confundir, a partir da Constituição Federal de
1.988, o inquérito policial com a instrução criminal. Diante do devido
processo penal as atribuições conferidas à polícia civil judiciária são de
caráter discricionário, não podendo ser valoradas sem o contraditório
legal. Deixa de ser arbitrária quando submetida ao controle jurisdicional
posterior. O inquérito policial é um procedimento administrativo
destinado a fornecer elementos de prova para o órgão do Ministério
Público. A questão sub examine limita-se ao valor probatório e, como
mera instrução provisória, de caráter inquisitivo, o inquérito policial só
tem valor informativo para a instauração da ação penal. E só. Não se
pode fundamentar uma sentença condenatória apoiada tão-somente, ou
com exclusividade, no inquérito policial, pois contraria o princípio da
contraditório legal (STF 59/189, 67/74, RT 666/274) in,
(JURISPRUDÊNCIA CRIMINAL, Rio de Janeiro, 1999, Ed. LUMEN
JURIS, página 259, item 2.2.).
Na mesma trilha, é a mais interativa e fecunda manifestação das cortes de
justiça:
PENAL. PROCESSUAL PENAL. FURTO QUALIFICADO.
CONDENAÇÃO. PROVAS CONTRA O RÉU PRODUZIDAS TÃO-
SOMENTE NO INQUÉRITO POLICIAL. Impossibilidade de condenação
lastreada em prova tão-somente inquisitiva (art. 155 do CPP).
Existência, ademais, de dúvidas acerca da participação do acusado,
impondo-se a absolvição com fundamento no art. 386, VII do CPP como
corolário do princípio in dubio pro reo. Apelo conhecido e provido.
(Apelação nº 2004.0012.5410-7/1, 2ª Câmara Criminal do TJCE, Rel.
Maria Sirene de Souza Sobreira. unânime, DJe 19.11.2009).
A confissão policial não é prova, pois o inquérito apenas investiga para
informar e não provar. A condenação deve resultar de fatos provados
através do contraditório, o que não há no inquérito policial, que além de
inquisitório, é relativamente secreto (TACRIM-SP, ap. 121.869, Rel.
CHIARADIA NETTO)
ROUBO. PROVA EXCLUSIVAMENTE EXTRAJUDICIAL. ABSOLVIÇÃO.
Prova produzida exclusivamente no inquérito policial não autoriza a
condenação. (Apelação nº 1003718-22.2007.8.22.0012, 1ª Câmara
Criminal do TJRO, Rel. Zelite Andrade Carneiro. j. 21.06.2011, unânime,
DJe 28.06.2011).
FURTO QUALIFICADO. PROVA EXCLUSIVAMENTE EXTRAJUDICIAL.
ABSOLVIÇÃO. A prova produzida exclusivamente no inquérito policial
não autoriza a condenação. (Apelação nº 0026690-51.2008.8.22.0017,
1ª Câmara Criminal do TJRO, Rel. Valter de Oliveira. j. 10.11.2011,
unânime, DJe 18.11.2011).
Se uma condenação pudesse ter por suporte probatório apenas o
interrogatório policial do acusado, ficaria o Ministério Público, no limiar
da própria ação penal, exonerado do dever de comprovar a imputação,
dando por provado o que pretendia provar e a instrução judicial se
transformaria numa atividade inconsequente e inútil (TACRIM-SP, ap.
103.942, Rel. SILVA FRANCO).
O inquérito policial não admite contrariedade, constituindo mera peça
informativa à qual se deve dar valor de simples indício. Assim, não
confirmados em juízo os fatos narrados na Polícia, ainda que se trate de
pessoa de maus antecedentes, impossível será a condenação.
(TACRIM-SP, ap. 181.563. Rel. GERALDO FERRARI).
PENAL E PROCESSUAL. HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO.
CONDENAÇÃO FUNDAMENTADA APENAS EM ELEMENTOS
INFORMATIVOS DO INQUÉRITO E EM PROVA EMPRESTADA.
IMPOSSIBILIDADE. I - "Ofende a garantia constitucional do
contraditório fundar-se a condenação exclusivamente em elementos
informativos do inquérito policial não ratificados em juízo" (Informativo-
STF nº 366). II - Não obstante o valor precário da prova emprestada, ela
é admissível no processo penal, desde que não constitua o único
elemento de convicção a respaldar o convencimento do julgador (HC
67.707/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJU de 14.08.1992).
Ademais, configura-se evidente violação às garantias constitucionais a
condenação baseada em prova emprestada não submetida ao
contraditório (HC 66.873/SP, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, DJ de
29.06.07 e REsp 499.177/RS, 6ª Turma, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJ de
02.04.07), como na hipótese de depoimento colhido, ainda que
judicialmente, em processo estranho ao do réu (HC 47.813/RJ, 5ª
Turma. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ 10.09.2007). III - In casu, o
e. Tribunal de origem fundamentou sua convicção somente em
depoimento policial, colhido na fase do inquérito policial, e em
depoimento de adolescente supostamente envolvido nos fatos, colhido
na Vara da Infância e da Juventude, deixando de indicar qualquer prova
produzida durante a instrução criminal e, tampouco, de mencionar que
aludidos elementos foram corroborados com as demais provas do
processo. Ordem concedida. (Habeas Corpus nº 141249/SP
(2009/0131759-5), 5ª Turma do STJ, Rel. Felix Fischer. j. 23.02.2010,
unânime, DJe 03.05.2010).
APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO. CONDENAÇÃO LASTREADA
APENAS EM ELEMENTOS INFORMATIVOS DO INQUÉRITO.
IMPOSSIBILIDADE. ABSOLVIÇÃO. A prova obtida na fase policial terá,
para ser aceita, de ser confirmada em juízo, não podendo ser
isoladamente considerada para embasar a condenação, sob pena de
violação aos princípios constitucionais da presunção de inocência,
ampla defesa e contraditório. Inteligência do artigo 155 do Código de
Processo Penal. (Apelação Criminal nº 2.0525.08.149378-1/001(1), 2ª
Câmara Criminal do TJMG, Rel. Renato Martins Jacob. j. 29.01.2009,
unânime, Publ. 10.02.2009).

Sinale-se, outrossim, que para referendar-se uma condenação no orbe penal,


mister que a autoria e a culpabilidade resultem incontroversas. Contrário senso,
a absolvição se impõe por critério de justiça, visto que, o ônus da acusação
recai sobre o artífice da peça portal. Não se desincumbindo, a contento, de tal
tarefa, marcha, de forma inexorável, a peça parida pelo integrante do parquet a
morte.
Neste momento, veicula-se imperiosa a compilação de jurisprudência
autorizada:
APELAÇÃO CRIME. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. INSUFICIÊNCIA
PROBATÓRIA. ABSOLVIÇÃO. A condenação exige certeza quanto à
existência do fato e sua autoria pelo réu. Se o conjunto probatório
não é suficiente para esclarecer o fato, remanescendo dúvida
insuperável, impositiva a absolvição do acusado com fundamento no
art. 386, VII, do CPP. (Apelação Crime nº 70040138802, 8ª Câmara
Criminal do TJRS, Rel. Danúbio Edon Franco. j. 16.02.2011, DJ
16.03.2011).
A prova para a condenação deve ser robusta e estreme de dúvidas,
visto o Direito Penal não operar com conjecturas (TACrimSP, ap.
205.507, Rel. GOULART SOBRINHO)
O Direito Penal não opera com conjecturas ou probabilidades. Sem
certeza total e plena da autoria e da culpabilidade, não pode o Juiz
criminal proferir condenação (Ap. 162.055. TACrimSP, Rel. GOULART
SOBRINHO)
Sentença absolutória. Para a condenação do réu a prova há de ser
plena e convincente, ao passo que para a absolvição basta a dúvida,
consagrando-se o princípio do in dubio pro reo, contido no art. 386, VI,
do CPP (JUTACRIM, 72:26, Rel. ÁLVARO CURY)
USO DE DOCUMENTO FALSIFICADO. ABSOLVIÇÃO. RECURSO
MINISTERIAL BUSCANDO A CONDENAÇÃO. ACOLHIMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. AUTORIA DUVIDOSA. ACUSAÇÃO FUNDADA
EM PROVA DA FASE INQUISITIVA. Indícios que não restaram
provados no curso do contraditório. Incidência do artigo 155, do CPP.
Negativa do acusado não infirmada. Princípio do "in dubio pro reo"
bem reconhecido pelo r. Juízo "a quo". Recurso improvido. (Apelação nº
0361293-49.2010.8.26.0000, 5ª Câmara de Direito Criminal do TJSP,
Rel. Luís Carlos de Souza Lourenço. j. 29.09.2011, DJe 14.10.2011).
PENAL. ESTELIONATO PRATICADO CONTRA O INSS. AUTORIA.
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS EM RELAÇÃO ÀS CORRÉS.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA. I - O conjunto probatório carreado revelou-
se insuficiente para apontar conclusivamente a autoria e
culpabilidade das corrés Eunice e Maria Consuelo, sendo impossível
precisar atuação dolosa em suas condutas funcionais, incorrendo,
voluntária e conscientemente, no resultado antijurídico ora apurado. II -
O mero juízo de plausibilidade ou possibilidade não é robusto o
suficiente para impingir um decreto condenatório em desfavor de
quem não se pode afirmar, com veemência, a participação e
consciência da ilicitude. III - A prova indiciária quando indicativa de mera
probabilidade, como ocorre no caso vertente, não serve como prova
substitutiva e suficiente de autoria não apurada de forma concludente
no curso da instrução criminal. IV - Apelação improvida. Absolvição
mantida. (Apelação Criminal nº 0102725-03.1998.4.03.6181/SP, 2ª
Turma do TRF da 3ª Região, Rel. Cecilia Mello. j. 10.05.2011, unânime,
DE 19.05.2011).
(grifos nossos)

Donde, inexistindo prova segura, se, defeito e idônea a referendar e amparar a


acórdão, impossível veicula-se sua manutenção, assomando imperiosa sua ab-
rogação, sob pena de perpetrar-se gritante injustiça.
Registre-se, como já dito e aqui repisado, que somente a prova judicializada, ou
seja àquela depurada no inferno do contraditório é factível de crédito para
confortar um juízo de reprovação. Na medida em que a mesma revela-se frágil
e impotente para secundar a denúncia, assoma impreterível a absolvição do
revisionando, visto que a incriminação de clave ministerial, remanesceu
defendida em prova suposta, sendo inoperante para sedimentar uma
condenação, não obstante tenha esta vingado, contrariando todas as
expectativas!
Destarte, todos os caminhos conduzem, a absolvição do revisionando, frente ao
conjunto probatório domiciliado à demanda, em si sofrível e altamente
defectível, para operar e autorizar um juízo condenatório contra o réu.
Consequentemente, a acórdão respeitado, porém veemente estigmatizado, por
se encontrar lastreado em premissas inverossímeis, estéreis e claudicantes,
clama e implora por sua reforma, missão, esta, reservada aos Preeminentes e
Preclaros Desembargadores, que compõem essa Augusta Câmara Criminal.
ANTE AO EXPOSTO, REQUER:
I.- Seja conhecida bem como provida o presente ação de revisão criminal, para
o especial efeito de desconstituir-se o venerando acórdão, absolvendo-se, por
imperativo o revisionando da imputação que lhe foi assacada, tendo por
estrado o artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal.
Certos estejam Vossas Excelências, mormente o Insigne e Culto Doutor
Desembargador Relator do feito, que em assim decidindo, estarão julgando de
acordo com o direito, e, sobretudo, restabelecendo, perfazendo e restaurando,
na gênese do verbo, o primado da    JUSTIÇA!
___________________, em __ de _____ de 2.00___.
___________________________________
DEFENSOR PÚBLICO
OAB/UF ___________
DOCUMENTOS ANEXADOS:
1.) PEDIDO DE REVISÃO FORMULADO PELO RÉU, AQUI INCORPORADO
ÀS PRESENTES RAZÕES.
2.) CAPA DO JORNAL ___________ DA EDIÇÃO DE _______________,
ONDE FIGURA O REVISIONANDO SENTADO À DIREITA COM SINAL
INDICATIVO.
3.) CÓPIA INTEGRAL DO PROCESSO CRIME N.º ____________, DONDE
PROVEIO A CONDENAÇÃO BUSCADA DESCONSTITUIR.

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