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EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA DO SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA, DD. RELATORA DO HABEAS CORPUS Nº


***************

, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem,


tempestivamente1, por meio de suas advogadas, perante Vossa Excelência,
interpor AGRAVO REGIMENTAL, com fulcro no art. 258 RISTJ, tendo em
vista a r. decisão que indeferiu liminarmente a ação mandamental impetrada em
seu favor, o que o faz nos termos das razões a seguir apresentadas.

Em tempo, requer a retratação da decisão e, acaso não seja efetivado o


juízo de retratação, pugna à Vossa Excelência, que o presente recurso seja
processado e, ao final, incluso em pauta para julgamento.

É o que se pede,

De Recife/PE para Brasília/DF, 30 de novembro de 2022

EGRÉGIO COLEGIADO,

RAZÕES DO AGRAVO

1
Considerando que a r. decisão publicou em 31.08.2022 e que a lei confere o prazo de 05 (cinco) dias para a
interposição do agravo regimental, tem-se que o termo ad quem do presente recurso será dia 05.09.2022, pelo que
comprovada a sua tempestividade.
SÍNTESE DO CASO:

O Paciente foi preso em flagrante, por suspostamente, estar na posse de


substância entorpecente popularmente conhecida como maconha, salienta que em
pequena quantidade.

O paciente foi abordado em qualquer justificativa prévia pelo aparato


policial, momento em que a substância teria sido encontrada, com mero intuito de
tentar justificar abordagem declinaram que teriam recebidos informes anônimos
que naquela localidade estaria existindo tráfico de drogas.

E após abordagem detiveram o Paciente em flagrante pela prática do delito


de tráfico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/06), ele foi conduzido a audiência de
custódia, mesmo estando latente a nulidade da abordagem policial, a prisão em
flagrante foi homologada e posteriormente convertida em prisão preventiva.

Salienta que a decisão proferida em sede de audiência de custódia foi


totalmente genérica, tendo em vista que poderia ser aplicada em qualquer outro
caso, sem qualquer fundamentação jurídica e em virtude disto a defesa impetrou
Habeas Corpus perante o Tribunal de Justiça de Pernambuco que indeferiu pleito
liminar.

DA DECISÃO AGRAVADA:

Este juízo, contudo, rejeitou liminarmente o habeas corpus vez que esbarraria
no enunciado da Súmula n. 691 do STF, considerando que a matéria não poderia ser
apreciada, posto que tribunal de origem não julgou o mérito do Habeas Corpus
originário.

A propósito, o trecho da r. decisão, no que importa:


habeas corpus.’’

Daí a interposição do presente recurso.

DA SUPERAÇÃO DA SÚMULA 691 STF:

De inicio aponta que este juízo, rejeitou liminarmente Habeas Corpus uma
vez que esbarraria no enunciado da Súmula 691 do STF, todavia o presente caso
enseja flagrante ilegalidade , violação a precedentes e a compreensão do
Supremo Tribunal de Justiça, que esta corte em situações semelhantes já superou
a referida súmula e passou a conceder a ordem de oficio.

DA FLAGRANTE VIOLAÇÃO. DA NULIDADE DA REVISTA


PESSOAL. DA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. NENHUMA LINHA
RELACIONADA AO CASO CONCRETO. DA AUSÊNCIA DE
PROPORCIONALIDADE. TRÁFICO SIMPLES.

Como se verifica, a i. relatoria invocou a incidência da Súmula 691, STF


para afastar a cognição da matéria veiculada do presente habeas corpus tendo em
vista não existir uma situação teratológica a autorizar a superação do referido
entendimento.

Segundo constou, em razão do mérito do writ originário ainda não ter sido
apreciado, bem como o fato de não ter vislumbrado ilegalidades que ensejassem
a possiblidade de superação da referida súmula, posto que não enxergaram
qualquer erro na decisão que se tentou atacar com o presente mandamus.

Ocorre que, o caso em apreço, não só autoriza a superação do aludido


enunciado sumular como, diante da sua teratologia e flagrante afronta ao
entendimento consolidado nesta Corte de Justiça, recomenda a intervenção
jurisdicional desta Corte para sanear o constrangimento ventilado ao Paciente.

Incialmente destaca que a abordagem a qual originou a Inicialmente se faz


necessário destacar que abordagem a qual resultou na prisão em flagrante e por
conseguinte prisão preventiva do Paciente ocorreu á revelia do que determina a
legislação vigente e as orientações do Tribunais superiores, devendo por
consequência todos os atos dela decorrentes devem ser anulados, em especial, o
decreto prisional a qual foi submetido. (RHC n. 158.580/BA, Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe de 25/4/22).

A revista pessoal apenas deverá existir sempre que existir fundadas


suspeitas que um indivíduo possa estar portando material ilícito de qualquer
natureza, destaca que essas suspeitas devem estar amparadas em elementos
concretos, não devendo ser realizadas com base apenas em crenças e subjetivos
de autoridade policial.

Sendo assim, observa-se que no caso em epígrafe, a qual narra o auto de


prisão em flagrante é que os policiais estavam munidos apenas de informes
anônimos que naquela localidade estaria ocorrendo traficância.

Munidos apenas destas informações foram ao local, quando sem suspeitas


concretas ou quaisquer outras justificativas, resolveram por abordar o Paciente e,
supostamente, encontraram material entorpecente com ele, destaca que os
policiais não identificaram o Paciente fazendo repasse de drogas ou recebendo
qualquer valor em dinheiro.

A pretensão a qual se busca com o presente instrumento jurídico está,


muito bem fundamentada em outras decisões desta corte (STJ - HC: 734263 RS
2022/0100276-4, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de
Publicação: DJ 03/05/2022), em que apontam que apenas será válida busca
pessoal, mesmo que tenha sido encontrado material entorpecente na posse do
acusado, que for fundamentada em suspeitas concretas e suspeitas estas
colhidas anteriormente a realização da abordagem.

Conforme tudo ao que foi narrado fica evidente a ilegalidade a qual foi
revestida a abordagem policial que resultou na prisão em flagrante do agravante,
sendo assim diante da ilegalidade deverá a Súmula 691 do Supremo Tribunal
Federal, considerando abordaram o agravante apenas por estar transitando em
local que houve indicativo (entende se informes anônimos) que estaria existindo
tráfico de drogas.
Ademais, observa que a decisão proferida em sede de audiencia de
custódia, é totalmente genérica e carente de fundamentação, contrariando
expressamente o preceitua o Art. 315, parágrafo segundo, do Código de Processo
Penal, impondo assim a revogação da prisão do paciente, considerando a
invalidade da decisão (HC 415.743/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 05/06/2018, DJe 12/06/2018).

Considerando a excepcionalidade da medida cautelar de prisão, para que a


prisão processual seja considerada legitima em face de nosso sistema jurídico,
deve evidenciar, com fundamentos concretos e que guardem relação com o caso
concreto, razões justificadoras da imprescindibilidade da medida, além de
satisfazer os pressupostos a que se refere o art. 312 do Código de Processo Penal.
((RHC 126.001/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
julgado em 07/12/2020, DJe 16/12/2020).

Observa-se que a decisão que decretou a prisão preventiva do agravante o


juízo apenas fez a reprodução de dispositivos da nossa legislação, sem de fato
indicar elementos concretos e que guardem relação com o que caso que
indicassem o risco gerado pelo a liberdade do acusado.

Vide a decisão:

“[...] Desta forma profiro a seguinte decisão: Ante o exposto, com fundamento
no art. 310, II, c/c arts. 312 e 313, I do CPP, CONVERTO A PRISÃO EM
FLAGRANTE EM PREVENTIVA em desfavor DO AUTUADO EDNALDO
CANDIDO BEZERRA FILHO, devidamente qualificado nos autos, para fins de
garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal.’’

Ficando evidente que trata de uma decisão tão genérica que poderia
pertencer a qualquer outro caso, visto que não guarda qualquer relação com a
situação fático-jurídica do caso, sendo assim diante da natureza excepcional da
medida prisão preventiva (medida cautelar mais gravosa), se faz necessário a
demonstração do efetivo risco por parte do acusado. (HC n. 520.166/PA, relator
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 22/10/2019,
DJe de 4/11/2019.)
Por fim, além da patente ilegalidade da abordagem policial a qual originou
a prisão em flagrante do agravante, como também um decreto preventivo
totalmente genérico e que não se atenta de forma alguma para as minucias do
caso concreto, a medida imposta se mostra totalmente desproporcional ao caso.
(HC 624.222/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 02/02/2021, DJe 10/02/2021).

Destaca que foi apreendida pequena quantidade de droga na posse do


agravante, bem como o fato não existir quaisquer elementos que indiquem que
ele integre organização criminosa, o delito o qual lhe é imputado é praticado sem
violência ou grave ameaça e não existe nenhum registro de resistência a prisão
por parte do acusado.

Demonstrando assim que se chegar a ser condenado no final da instrução o


acusado faz jus a imposição e causa de diminuição de pena e por consequente a
imposição de um regime inicial de cumprimento de pena mais benéfico, ou seja,
não sendo iniciado em regime fechado. (STJ - HC: 497248 SP 2019/0065884-2,
Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento:
23/04/2019, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 30/04/2019).

Considerando que, a aplicação da medida cautelar tão severa se mostra


totalmente em desacordo com a situação fática do agravante, considerando que a
prisão preventiva deve ser aplicada de maneira proporcional e adequado ao caso
concreto, conforme preceitua o art. 282, I e II do código de Processo Penal,
principalmente quando se observa a previsão de pena ao caso concreto, sendo
mais adequado ao caso concreto a aplicação de qualquer uma das medidas
cautelares diversas da prisão.

Ademais, a decisão não apontou razões pelas quais as medidas cautelares


alternativas não se fariam suficientes ao resguardo da ordem pública na espécie,
razão pela qual, deve a decisão ser revista.

Ante ao que foi narrado, considerando a flagrante ilegalidade na revista


pessoal do agravante, como também existência de um decreto preventivo totalmente
genérico e a desproporção entre a cautelar de prisão e a situação fática jurídica,
considerando que a decisão atacada vai de encontro com legislação e precedentes
desta corte, devendo ser revista afim de declarar a nulidade de referida abordagem e
a revogação da prisão com a aplicação das medidas cautelares expostas no art. 319
do Código de Processo Penal.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer a Vossa Excelência que exerça o juízo de


retratação para a r. decisão agravada e revogar a prisão do paciente ou,
subsidiariamente, para dar prosseguimento ao writ com respectivo julgamento de
mérito pelo órgão colegiado, oportunidade que será realizada sustentação oral.

No mérito, requer a reforma da r. decisão para revogar a prisão do


paciente, determinando-se a imediata expedição de alvará de soltura, com a
aplicação de outras medidas cautelares alternativas.

É o que se pede,

De Recife/Pe para Brasília/DF, 05 de setembro de 2022

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