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EXMO. SR. DR.

DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ

Processo originário nº

Autoridade Coatora: Juízo da Vara Única da Comarca de Igarapé-


Açu, Estado do Pará

Paciente:

URGENTE, RÉU PRESO. EXCESSO DE


PRAZO.PRISÃO PREVENTIVA HÁ APROXIMADAMENTE 08
(OITO) MESES. PERDA DO PRAZO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
INJUSTIFICADO PARA APRESENTAÇÃO DE ALEGAÇÕES
FINAIS. AUSENCIA DE INDICIOS DE AUTORIA.

NOME COMPLETO, advogada regularmente inscrita junto à


OAB/PA sob o nº ?, com escritório profissional situado na ? , nº?,
Bairro, Cidade/Estado, ora IMPETRANTE, vem em favor de NOME
COMPLETO, brasileira, união estável, dona de casa, portadora do
RG nº, inscrita no CPF sob o nº, atualmente custodiada no CRF –
CENTRO DE REEDUCAÇÃO FEMININO, localizado no Coqueiro,
Ananinduea/PA, com fundamentos nos artigos 647 e 648 inciso I do
Código de Processo Penal e art.5º inciso LXVIII da Constituição
Federal de 1988, vem respeitosamente a presença de Vossa
Excelência Impetrar o presente ordem de :

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

em face de ato praticado pela MM Juiz de Direito da Vara Única


da Comarca de Igarapé Açu, haja vista não haver embasamento legal
idôneo para a decretação da prisão preventiva, além do excesso de
prazo pois a réu se encontra presa há aproximadamente 08 (oito)
meses, sem que tenha ocorrido o fim da instrução processual.

Ademais, o r. Magistrado, deixou de considerar importantes


requisitos que demonstram a desnecessidade da prisão preventiva,
bem como sua manutenção, por essas razões requeremos aos
Nobres Julgadores que concedam a paciente o direito de
RESPONDER EM LIBERDADE à ação penal, por ser medida da
justiça e em respeito ao Princípio da Presunção de Inocência e ainda,
em vedação à antecipação da pena.

I-DOS FATOS

A acusada foi presa em flagrante delito no dia ? de setembro


de 2022, por ter, supostamente, praticado o crime de tráfico de
entorpecente, previsto no artigo 33 da Lei nº 11.343/2006.

A demais, a requerente está recolhida presa no CENTRO DE


REEDUCAÇÃO FEMININO – CRF, há aproximadamente 08 (oito)
meses, mais de 6(seis) meses, já considerando a presente data.

O mérito da prisão trata-se de suposta prática do crime de


tráfico de entorpecente, previsto no artigo 33 da Lei nº 11.343/2006.
Em 25 de setembro de 2022, a prisão preventiva foi decretada
sob o fundamento a seguir:

“Que os acusados possuíam quantidade considerável de


drogas em sua residência, demonstrando que não eram simples
traficantes, já que a quantidade destoa do normalmente apreendido
na região”

O que merece ser revisto pelos fatos apresentados e motivos


que passa a expor.

II-DO EXCESSO DE PRAZO NA CUSTÓDIA CAUTELAR

A Constituição Federal em seu art.5º, inciso. LXXVIII dispõe


claramente sobre a duração razoável do processo, censurando atos
que impliquem em morosidade processual.

A requerente encontra-se presa em caráter preventivo há


aproximadamente 08 (oito) meses, tendo por último o Ministério
Público devidamente intimado, deixado de apresentar os memoriais
finais escritos, até a presente data, sem motivação idonea, já tendo
se passado mais de 1 (um) mês e 18 (dezoito) dias.

No presente caso, configura a demora inadmissível, pois trata-


se de cerceamento da liberdade extrapolando qualquer juízo de
razoabilidade.

Evidentemente que não pode a ré sofrer as mazelas da


ineficiência administrativa do Estado.

Sendo assim, vislumbra-se a ilegalidade da prisão da


requerente, o qual está detida e deixada ao esquecimento do Estado,
em um verdadeiro limbo do anonimato, situação expressamente
vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro por inequívoco
EXCESSO DE PRAZO conforme entendimento pacificado nos
tribunais:

HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. ROUBO


MAJORADO, SEQUESTRO E ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA. EXCESSO DE PRAZO PARA A
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL.
PACIENTE PRESO. ART. 10, CAPUT, DO CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL EXISTENTE. LIMINAR DEFERIDA.
ORDEM CONCEDIDA. 1. "Os prazos processuais
previstos na legislação pátria devem ser
computados de maneira global e o reconhecimento
do excesso deve-se pautar sempre pelos critérios
da razoabilidade e da proporcionalidade (art. 5º,
LXXVIII, da CF), considerando cada caso e suas
particularidades" (HC 617.975/PB, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 15/12/2020, DJe 18/12/2020). 2. A
despeito das peculiaridades do caso concreto
apontadas pelas instâncias ordinárias (busca
domiciliar, pluralidade de investigados e extração e
análise dos dados dos celulares apreendidos),
constata-se que há tempos restou superado o prazo
parâmetro para a manutenção da prisão preventiva,
previsto no art. 10 do Código de Processo Penal.
Consta dos autos que o Juízo de primeiro grau
deferiu, por três vezes, a prorrogação do prazo para
a conclusão do inquérito policial e, consoante
informações prestadas, não há notícia acerca do
cumprimento integral das diligências deferidas no
feito, ou seja, nem mesmo há previsão de quando
será oferecida a denúncia, sendo certo que, na data
em que deferido o pedido liminar, o Paciente estava
preso preventivamente há mais de 117 (cento e
dezessete) dias, o que demonstra o excesso de
prazo para a conclusão do inquérito policial. 3.
Ordem de habeas corpus concedida para,
confirmando a liminar, determinar a soltura do
Paciente, se por outro motivo não estiver preso,
com aplicação (em razão da gravidade concreta da
conduta e do risco de reiteração delitiva) das
medidas cautelares previstas nos incisos I
(atendimento aos chamamentos judiciais); III
(proibição de manter contato com qualquer pessoa
envolvida nos fatos, especialmente os demais
Investigados); IV (proibição de se ausentar da
comarca sem prévia autorização judicial); e V
(recolhimento domiciliar no período noturno e nos
períodos de folga) do art. 319 do Código de
Processo Penal.

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


TRÁFICO ILÍ-CITO DE ENTORPECENTES.
EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA
CULPA. CONFIGURAÇÃO.
1. Há constrangimento ilegal por excesso de prazo
na formação da culpa quando ocorre ofensa ao
princípio da razoabilidade, consubstanciada na
desídia do Poder Judiciário ou da acusação, o que
não se afere pela mera soma aritmética dos prazos
processuais, devendo ser só pesados o tempo de
prisão provisória, as peculiaridades da causa, sua
complexidade e outros fatores que eventualmente
possam influenciar no curso da ação penal.

2. Agravo regimental provido.


Acórdão
Vistos e relatados estes autos em que são partes as
acima indicadas, acordam os Ministros da QUINTA
TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, dar provimento ao agravo regimental,
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Reynaldo Soares da Fonseca e Joel Ilan
Paciornik votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros
Ribeiro Dantas e Felix Fischer. AgRg no RHC
134544 RS 2020/0240576-2 Decisão:27/04/2021

Na contramão dos comandos constitucionais, o Estado retarda


a marcha processual por circunstâncias que não podem ser
atribuídas a paciente e à sua Defesa, em clara inobservância à
garantia da razoável duração do processo.
Portanto, considerando estarmos diante de uma notória
ilegalidade, cabível o relaxamento da prisão, nos termos do art.310,
I do Código de Processo Penal e art.5º, LXV da Constituição
Federal.
E importante salientar que os prazos indicados para a
consecução da instrução criminal não têm as características de
fatalidade e de improrrogabilidade servido apenas como parâmetro
geral, razão pela qual não podem derivar tão somente de cálculos
aritméticos.
Assim deve ser reconhecido o constrangimento ilegal,
decorrente de excesso de prazo para encerramento da instrução
processual.
Verificasse que com a entrada em vigor da lei nº12.403/11
há possibilidade de se estabelecer medidas cautelares diversas
da prisão preventiva, como alternativas do processo
especificamente a aplicação da lei penal, com amparo no art.282,
inciso I do Código de Processo Penal.
Isso é o que basta para que se verifique que no caso em tela
está configurado o excesso de prazo na custódia cautelar de forma
justificar o relaxamento da prisão preventiva a requerente.

III- AUSENCIA DOS INDICIOS DE AUTORIA E AUSENCIA


DO PERICULUM IN LIBERTATIS

Em análise sumária das provas até então produzidas as


Testemunhas de acusação policiais informaram que receberam
denúncia de que um homem estaria vendendo droga, ao chegar no
local avistaram o acusado Manoel, companheiro da requerente do
lado de fora da casa, ou seja, na quinta vendendo drogas, em
nenhum momento afirmaram que visualizaram a requerente
vendendo drogas, ou prestando quaisquer tipos de apoio ao seu
companheiro.
Mesmo tendo esta informação já no primeiro momento, em
sede ainda de Procedimento Policial, quando da lavratura da prisão
em flagrante, fato este exaustivamente questionado pela defesa na
audiência de custódia, nos pedidos de revogação da prisão
preventiva, na resposta escrita a acusação, bem como no pleito oral
de revogação preventiva realizado no dia da Audiência de Instrução
e Julgamento, o certo é que tais questionamentos foram ignorados
inteiramente.

Exas. há informações nos autos de que foi feita a abordagem


do Sr. Manoel, o qual tentou-se esquivar, mas que foram atrás e o
pegaram o referido acusado no interior de sua residência, onde
encontrava-se a requerente.

Os policiais foram categóricos em afirmar que dentro da casa


da requerente onde a mesma se encontrava não foi encontrada
nenhum tipo de drogas, nem em sua posse e muito menos no
interior da sua residência, mas somente tão somente no quintal da
casa.

O Sr. Manoel em seu depoimento em sede policial afirmou que


é traficante e usuário de drogas e que sua companheira não tem
qualquer participação.

A requerente em seu depoimento tanto em sede policial como


em juízo informou que trabalha com vendas de roupas e joias e que
não faz venda de drogas e que nem ainda sabia que existia drogas
no quintal da casa.

Em juízo os policiais deixaram claro que não havia denuncia


alguma envolvendo a paciente, bem como informaram que a mesma
disse que trabalhava com venda de roupas e ainda acrescentaram
que realmente acharam várias roupas novas com etiquetas
destinadas a venda.

A ÚNICA PROVA CONTRA A PACIENTE É O DEPOIMENTO


DO DELEGADO DE POLICIA QUE EM SEU DEPOIMENTO EM
JUÍZO AFIRMOU QUE PRENDEU A PACIENTE PORQUE ESTA
ERA ESPOSA DO SR. MANOEL E CERTAMENTE ESTA TINHA
CIENCIA DA EXISTENCIA DA DROGA E QUE POSSIVELMENTE
AJUDAVA O MESMO.

Ora Exas. não se pode admitir que uma pessoa venha ser
presa em flagrante, processada criminalmente, processo este com
excesso de prazo, na iminência de sofrer uma condenação
simplesmente pelo fato de ser esposa de traficante, até porque ser
esposa de traficante é fato atípico, assim como é fato atípico a
pessoa não denunciar o marido traficante, bem como é fato atípico o
crime de tráfico de drogas por omissão.

Insta ressaltar que no dia 25 de setembro de 2022, a prisão


preventiva foi decretada sob o fundamento a seguir:

“Que os acusados possuíam quantidade considerável de


drogas em sua residência, demonstrando que não eram simples
traficantes, já que a quantidade destoa do normalmente apreendido
na região”

A medida constritiva imposta a paciente e mantida por diversas


ocasiões quando a Autoridade Coatora fora provocada é
extremamente desnecessária e excessiva, ainda mais diante da
narrativa contida nos autos numa total demonstração de elemenos
concretos que pudessem comprovar a participação efetiva da
paciente no crime em comento.
O jurista Norberto Avena leciona que:

“ Isto implica dizer que a decisão judicial que decretar a prisão


preventiva ou outra medida cautelar diversa da prisão deverá ser
reflexo da situação existente no momento que for proferida,
persistindo o comando a ela inserido enquanto esse mesmo contexto
fático se mantiver (…)’’.

Assim, uma vez ausente os indicios de autoria, deve a prisão


preventiva ser revogada já que a mesma exige para sua decretação
a existencia concomitante dos indicios de autoria e prova da
materialidade do crime, bem como da demonstração do periculum in
libertatis.

Se a paciente não é a autora do crime, como pode se


questionar que sua liberdade trará quaisquer tipo de riscos para a
sociedade ou até mesmo para o processo que já se encontra com a
instrução criminal finda?

IV-DA POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIR A PRISÃO POR


MEDIDA CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

O art.282, §5º e 6º do CPP estabelece que:

Art.282. As medidas cautelares previstas neste título deverão


ser aplicadas observando-se a:

§5º. O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la


quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar
a decretá-la, se sobrevierem razões que justifiquem.

§6º. A prisão preventiva será determinada quando não for


cabível a sua substituição por outra medida cautelar.
Por todo o exposto, embora a prisão preventiva tenha sido
fundamentada na presença dos requisitos do art.312, a qualquer
momento o magistrado poderá rever tal situação, inclusive para
substituir o cárcere por medidas cautelares diversas da prisão.

Destaca-se que é ausente o “periculum libertaris” e os


requisitos necessários para subsidiar o carcere preventivo do
Paciente impõe-se a substituição da prisão preventiva por cautelares
diversas da prisão, o que fica desde já pleiteado.

V-DO PEDIDO DE LIMINAR

A liminar buscada tem apoio não somente em texto legal, mas


sobretudo nos entendimentos jurisprudenciais, a inercia do Estado
na figura de órgão acusador e da autoridade coatora, o desrespeito
aos princípios constitucionais imprescindíveis para a manutenção do
Estado Democrático de Direito, ofensa a premissas de Direitos
Humanos e principalmente, a Dignidade da Pessoa Humana.

Estamos tratando de um caso em que a Paciente se encontra


presa há aproximadamente 08 (oito) meses, estando o processo
parado há aproximadamente 02 (dois) meses só aguardando o
Ministério Público, o qual é o titular da ação penal e fiscal da lei,
cumprir o munus que lhe compete.

Dessa forma, considerando presentes o “periculum in mora” e


o “fumus boni irus”, pugna-se pelo deferimento liminar do pedido, a
fim de conceder-se, em sede de tutela de urgência o pedido
pleiteado quer seja o reconhecimento da ilegalidade da prisão, face
o excesso de prazo.

VI-DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer a Vossa Excelência a
CONCESSÃO DA ORDEM LIMINARMENTE, reconhecendo a
ilegalidade do decreto prisional, face a ausencia dos indicios de
autoria e/ou em razão do patente excesso de prazo não ocasionado
pela defesa para que o Paciente possa responder ao presente
processo em liberdade, determinando-se a expedição do
competente alvará de soltura.

Caso Vossa Excelência entenda em aplicar alguma cautelar


substitutiva da prisão, que se aplique qualquer uma das medidas,
ainda que com monitoramento eletrônico, até a prolatação da
sentença.

E no mérito seja confirmada a liminar e concedida a ordem em


definitivo revogaação da prisão preventiva.

A demais, a requerente está recolhida presa no CENTRO DE


REEDUCAÇÃO FEMININO – CRF, há aproximadamente 08 (oito)
meses.

Nestes Termos, pede deferimento.

Castanhal ? de maio de 2023

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