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EXMO (A) SR (A) DR (A) DESEMBARGADOR (A) PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA.

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO

xxxxxx, brasileira, paraense, vem, respeitosamente, diante de V.


Exa., com fulcro no mandamento do art. 5º, LXVIII, da Carta Magna em vigor,
combinando com os arts. 647 e 648, II do Código de Processo Penal Brasileiro,
impetrar a presente ORDEM DE HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO, em favor de
ERIK DANILO MARTINS DA SILVA, brasileiro, solteiro, filho de ANTONIO
EDIVALDO DA SILVA e GARDENE DO SOCORRO DOS REIS , ora interno da Casa
Penal de Capanema - CPSAL, apontando desde já o douto Juízo de Direito da Vara
Única de Paragominas - PA como autoridade coatora, pelos fundamentos fáticos e
jurídicos seguintes:

OS FATOS:

O ora Paciente, atualmente recolhido na Casa Penal de Salinas -


CPSAL, encontra-se preso desde o dia 10 de março de 2006, por força de prisão
preventiva expedida em seu desfavor pelo douto juízo de direito da Vara Única de Capitão
Poço, por supostamente haver infringido o Art. 155, §4° incIdo CPB.
Ocorre Excelências, que apesar de o ora Paciente permanecer
preso até a presente data, já perfazendo um total de mais de 01 (um) ano e 8 meses no
cárcere, sem que qualquer possibilidade de responder ao presente feito em liberdade lhe
fosse concedida, e também sem ser reincidente e com pedido de Livramento Condicional
indeferido o processo em referência ainda não teve seu desfecho, o que importa em
profunda angústia para quem se encontra em tal situação, e vem a se traduzir na eterna
insegurança por que passam hoje as casas penais de nosso Estado.

O DIREITO:

O processo é uma entidade por sua natureza destinada a


desenvolver-se no tempo, devendo ser o mais breve possível o intervalo que separa o
início do próprio processo, da decisão final. É inquestionável, portanto, que o processo,
enquanto dimensão durável num determinado trato temporal, não pode dispensar o
conceito de "tempo" a que está estritamente vinculado. Bem por isso, se considera que
a administração da justiça não prorroga-se de forma indefinida, transferindo, para um
tempo futuro e de determinação imprecisa, o remate do processo. Justiça a destempo, não
é Justiça !
O problema de interação entre o processo e o tempo, assume, no
entanto, um “plus” mais relevante quando se trata do processo penal, acentuando-se,
quando o acusado encontra-se preso, pois entram em choque o poder cautelar do Estado
e o direito de liberdade do cidadão.
O Direito Processual Penal Brasileiro, para dirimir essa situação,
construiu seu entendimento com base em jurisprudência, adotando o critério pretoriano,
o qual resultou na adição acumulada dos prazos estabelecidos para diversos
procedimentos, culminando em 81 dias para a conclusão da instrução processual.
Assim, em relação ao presente procedimento ordinário, tem-se
entendido que a duração temporal superior a trinta e um dias torna ilegal a prisão
cautelar.
O tempo processual deve ser sempre mensurado entre o momento
em que se concretizou a prisão e aquele em que se alcançou uma decisão de mérito.
"Conceber esta questão de modo diverso, é ter uma visão
estreita do princípio Constitucional da presunção de inocência: é trair seu espírito e
seu significado". (Alberto Silva Franco, Crimes Hediondos, 2a ed., p. 255).
De acordo com o STF, os prazos para o término da ação penal de
réu preso, devem ser considerados em separado, não sendo possível considerar-se que o
constrangimento ilegal surja quando se fizer excedido o total dos prazos, de modo que, o
excesso de um possa ser compensado pela economia de outros (RHC 48.900, DJU
24.9.71, p.5133.).

"PRISÃO-EXCESSO DE PRAZO"
"Constatado o excesso de prazo na instrução criminal, impõe-
se a liberdade do acusado. O Estado há de estar aparelhado,
visando a observância da dilação legal, mormente quando em
questão o bem maior, que é a liberdade do cidadão. Nada
justifica, sob o ângulo da provisoriedade, a projeção no
tempo, com extravasamento dos limites legais da prisão. A
permanência do acusado em delegacia policial, não pode
suplantar o prazo de tramitação regular do processo." (STF -
HC 72742/RJ-PLENÁRIO, Rei. Min. Marco Aurélio, DJU
18.08.95, P. 24898).

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO


EM HABEAS CORPUS. DECISÃO MONOCRÁTICA.
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. ROUBO
MAJORADO. EXCESSO DE PRAZO NA INSTRUÇÃO
PROCESSUAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. 1. Recurso interno contra decisão monocrática
que revogou a prisão preventiva do agravado, por excesso de
prazo, sob a imposição de medidas cautelares, a serem fixadas
pelo Juízo de primeiro grau. 2. O prazo para a conclusão da
instrução criminal não tem as características de fatalidade e
de improrrogabilidade, fazendo-se imprescindível raciocinar
com o juízo de razoabilidade para definir o excesso de prazo,
não se ponderando a mera soma aritmética dos prazos para
os atos processuais (Precedentes do STF e do STJ) (RHC n.
62.783/ES, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma,
julgado em 1º/9/2015, DJe 8/9/2015). 3. Excesso de prazo
caracterizado. O tempo de prisão preventiva do agravado (8
meses), sem que a primeira audiência de instrução tenha se
iniciado, tornou-se excessivo e desarrazoado. Trata-se de
processo simples e o agente é primário. A demora no trâmite
processual não se deve a causas atribuíveis à defesa. 4. O
entendimento desta Corte Superior é no sentido de que,
embora a lei processual não estabeleça prazo para o
encerramento da instrução processual, a demora
injustificada por circunstâncias não atribuíveis à defesa,
quando o réu encontra-se preso, configura constrangimento
ilegal. 5. Ausência de ilegalidades na decisão agravada.
Impossibilidade de reforma. 6. Agravo regimental conhecido
e não provido.

(STJ - AgRg no RHC: 151951 RS 2021/0259755-0, Relator:


Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de
Julgamento: 28/09/2021, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 04/10/2021)

Nos Tribunais de São Paulo, é dominante o entendimento de que


o excesso global do prazo de 81 dias, importa em constrangimento ilegal e obriga a
soltura do réu.
De uma forma bastante evidente, no presente caso, o
constrangimento ilegal se mostra presente, impondo-se, portanto, a imediata soltura do
paciente.
Por isso, trazemos à colação jurisprudências extremamente
elucidativas a respeito da matéria tratada.

"A Jurisprudência fixou que no processo comum a prisão


pode durar no máximo 81 dias, até a sentença; após esse
prazo, a custódia passa a ser considerada coação ilegal (Art.
648, II, do Código de Processo Penal.). Mas também, por
construção pretoriana, a partir do Colendo Supremo
Tribunal Federal, passou a admitir que inexiste
constrangimento ilegal quando a Instrução está encerrada. O
encerramento da Instrução, porém, não joga o acusado na
possibilidade de permanecer no cárcere indefinidamente. Não
é porque os atos probatórios já estão completos, que o juiz fica
desobrigado do atendimento a qualquer prazo processual,
enquanto que o acusado, presumido inocente, nada pode
reclamar." (TJSP-HC 106.556-3-Rel. Luiz Betanho)

Na visão do respeitado mestre EVANDRO LINS E SILVA, no


Brasil, desde a felizmente ultrapassada ditadura militar, se consolidou a cultura da
prisão, do prender por prender, como se a privação da liberdade representasse
alternativa para conter a violência e a criminalidade. Assim, o poder público passou
a entender a pena como castigo, ignorando-se que a prisão não é um fim em si
mesma, esquecendo que a reprimenda visa a reeducar o infrator para que ele volte
ao seio da sociedade melhorado, fazendo cessar sua atitude para o delito. Muitos
ainda acreditam que prender por prender responda aos interesses da sociedade
organizada, sem ligar para as graves consequências advindas da prolongada
segregação.
É cediço que a lei fixa prazos para a finalização do inquérito
policial e para a realização dos atos processuais e, estando o indiciado recolhido no
cárcere, há constrangimento ilegal na sua permanência além do lapso temporal
determinado no ordenamento jurídico.
Ora, a liberdade do homem constitui um de seus bens mais
preciosos, e sua segregação antes da sentença final que reconheça sua culpabilidade,
significa desrespeitar a dignidade da pessoa humana e seu direito constitucional à
liberdade.
Com isso, a malfadada prisão do paciente é maculada de
sucessivos vícios que atentam contra o Estado de Direito, a segurança das normas
jurídicas e a credibilidade da justiça.
Ante estas considerações, esperando que essa Alta Corte restitua
ao paciente seu bem mais precioso, a Liberdade, pugna-se pela concessão LIMINAR
DA ORDEM impetrada, afim de que cesse imediatamente o constrangimento em tela,
pois, encontra-se o paciente a sofrer manifesta coação ilegal.
Portanto, confiante no elevado sentido de justiça de Vossas
Excelências, aguarda-se a concessão da liminar requerida com a expedição do competente
Alvará de Soltura e, ao final, o julgamento favorável do presente pedido, com a definitiva
concessão do writ.
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
Cidade, 27 de novembro de 2007

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