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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

Departamento de Direito

Componente Curricular: Direito Processual Penal II


Professor Me. Igor Alves Noberto Soares

Discente: Pedro Gonzaga 18.1 6158

1. Apresente o conceito de prisão preventiva, seus requisitos, fundamentos e indique o


momento processual de sua decretação.
A prisão preventiva se enquadra como uma das medidas cautelares previstas no Código de
Processo Penal. Trata-se de uma prisão decretada pelo juízo competente, decorrente de
uma prisão em flagrante. A prisão preventiva não tem caráter definitivo e deve ser revisada
pelo juiz de 90 em 90 dias. Insta mencionar que ela pode ser decretada em qualquer
momento processual, bastando estar presentes seus requisitos e fundamentos. Como
requisitos, podemos citar o chamado Fumus Comissi delicti, que seria o indício de autoria
e a prova de materialidade. Já como fundamentos, temos previsão legal expressa no Art.
312, CPP. São basicamente 4 fundamentos:
→ Garantia da ordem pública;
→ Garantia da ordem econômica;
→ Conveniência da instrução criminal;
→ Assegurar a aplicação da lei penal.

2. O que é e qual o motivo procedimental para a realização da Audiência de Custódia?


Fundamente, destacando a base legal do instituto.
A audiência de custódia é uma audiência destinada discutir a prisão decorrente de um
estado de flagrância (prisão em flagrante). Após a remessa dos autos de prisão em flagrante
delito pelo delegado de polícia para ao juiz competente, será designada por este a Audiência
de Custódia. Nela estarão presentes o acusado, seu advogado constituído ou membro da
Defensoria Pública e o membro do Ministério Público. Não será discutido o mérito da prisão.
Somente será discutida a matéria referente a prisão em flagrante. A Autoridade judicial
decidirá dentre três opções analisando o caso concreto e as previsões legais.
→ Relaxamento da prisão ilegal. Entende-se como prisão ilegal aquela decorrente de
desrespeito a preceito constitucional ou obtida por meio de tortura;
→ Concessão de liberdade provisória. Não estão presentes os requisitos da prisão
preventiva. Pode o juiz conceder liberdade provisória e disciplinar outras medidas cautelares
diferentes da prisão preventiva;
→ Decreta prisão preventiva. Aquela que estão presentes o Fumus Comissi delicti e os
requisitos do Art. 312 do CPP.
3. Explique as modalidades de prisão em flagrante, e, principalmente, responda: o estado de
flagrância pode ser dilatado no tempo?
→ Flagrante Próprio: É o instituto natural (padrão). Ocorre quando a pessoa está
cometendo o crime ou acabou de cometê-lo.
→ Flagrante Impróprio: Aquele no qual o acusado é perseguido, logo após, pela
autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor
da infração;
→ Flagrante Presumido: Aquele no qual o acusado é encontrado logo depois do delito
com os objetos do crime, e portanto, conclui-se que há possibilidade de ser o autor.
→ Flagrante Preparado: Aquele obtido através de atuação de agente infiltrado.
* Súmula 145, STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna
impossível a sua consumação. Os elementos devem ser verdadeiros.
→ Flagrante Forjado → ILÍCITO: Há flagrante com utilização ardilosa e fantasiosa do
estado de flagrância. A situação é forjada para incriminar outra pessoa. A prova decorrente
do flagrante forjado é inutilizada, salvo se beneficiar o réu.
→ Flagrante diferido (retardado) [Lei nº 12.850/2012]: Consiste em retardar ou
prolongar no tempo o estado de flagrância, a fim de buscar, por meio de uma ação
controlada, o momento oportuno de decretação da prisão.
Desse modo, é possível sim dilatar o estado de flagrância no tempo, respeitando as
disposições e requisitos da Lei nº 12.850/2012.
4. Faça uma pesquisa jurisprudencial sobre o contraditório na prisão preventiva, tendo
como instrumento de consulta os canais do Tribunal de Justiça de Minas Gerais ou do
Superior Tribunal de Justiça.

Processo: Habeas Corpus Criminal 1290176-55.2021.8.13.0000 (1)

Relator(a): Des.(a) Octavio Augusto De Nigris Boccalini


Data de Julgamento:10/08/2021
Data da publicação da súmula:12/08/2021
Ementa: EMENTA: HABEAS CORPUS - IMPORTUNAÇÃO SEXUAL - ILEGALIDADE
FLAGRANTE - CONVERSÃO EM PRISÃO PREVENTIVA - CERCEAMENTO DE DEFESA -
NÃO INTIMAÇÃO DO DEFENSOR CONSTITUÍDO PARA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA-
PACIENTE REPRESENTADO POR DEFENSOR DATIVO - CONSTRANGIMENTO ILEGAL
NÃO COMPROVADO - EXCESSO DE PRAZO PARA A FORMAÇÃO DA CULPA -
INOCORRÊNCIA - REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA- POSSIBILIDADE - MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO - SUFICIÊNCIA E ADEQUAÇÃO.
1. A Ilegalidade da Prisão em Flagrante deve ser afastada, porquanto a Segregação
Cautelar encontra-se fundamentada em novo título prisional.
2. A realização de Audiência de Custódia para oitiva do Paciente, assistido por Defensor
Dativo, afasta a alegação de Cerceamento de Defesa, tendo em vista a ausência de
comprovação de efetivo prejuízo, em razão da não intimação do defensor constituído.
3. A Segregação Cautelar por tempo inferior ao prazo-referência (148 dias), estipulado pelo
CNJ, não configura constrangimento ilegal.
4. As medidas cautelares diversas da prisão mostram-se suficientes para a garantia da
ordem pública e para a conveniência da instrução criminal, considerando a primariedade do
Agente, a oitiva da Vítima, sob o crivo do contraditório, e as circunstâncias da suposta
prática delitiva, as quais não ultrapassam a inerente ao Crime de Importunação Sexual, em
observância à excepcionalidade da Segregação Cautelar.

Dentre todos os julgados analisados, uma característica é marcante e presente: O


contraditório é elemento indispensável para a decretação da prisão preventiva, mesmo
que esse seja exercido em momento posterior a decretação da prisão.

5. Exponha a relação entre as medidas assecuratórias e a prisão preventiva, de modo a


(re)pensar os limites do art. 282 do Código de Processo Penal.

A prisão preventiva deve ser decretada somente em ultima ratio. Ou seja, deve-se verificar
se nenhuma das outras medidas cautelares é mais viável e eficaz no caso concreto,
devendo a prisão preventiva ser sempre a última opção. Vale mencionar que as outras
medidas cautelares podem ser aplicadas de forma culminada, de modo que se assegure a
persecução penal. Para a decretação da prisão preventiva o Fumus Comissi delicti deve ser
nítido, além dos requisitos do Art. 312, CPP. Conclui-se que o magistrado no momento de
decretação das medidas cautelares deverá ter como base o binômio
Necessidade/Adequação, considerando também o disposto no Art. 282, CPP e deve
lembrar ainda, da característica ultima ratio da prisão preventiva.

6. Quais os institutos presentes na norma processual penal que, em tese, podem afastar a
descomedida parcialidade do juiz? Explique-os.
São dois institutos. O impedimento e a suspeição. O impedimento está relacionado com
questões objetivas da atuação do Magistrado. Acontece quando por exemplo, quando o
cônjuge do Juiz seja outro sujeito processual, como defensor ou advogado. Ou quando, ele
tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se de fato ou de direito, sobre a
questão. Já a suspeição está relacionada com questões subjetivas da atuação do
magistrado. São exemplos de caso de suspeição o juiz que é amigo íntimo ou inimigo capital
de qualquer parte ou se ele tiver aconselhado qualquer parte.

7. É possível arguir a parcialidade do Ministério Público e dos auxiliares da “Justiça”? Em


ato contínuo, faça uma pesquisa jurisprudencial sobre a tese do Promotor Natural e
explique sobre a possibilidade de substituição de determinado órgão de acusação nos
procedimentos penais.
Sim é possível que o Promotor de Justiça e os auxiliares da justiça sejam considerados
parciais (casos de suspeição), conforme expressa previsão legal.
Processo: ApelaçãoCriminal 0012749-40.2018.8.13.0209 (1)

Relator(a):Des.(a) Flávio Leite


Data de Julgamento:14/09/2021
Data da publicação da súmula:22/09/2021
Ementa: EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE DROGAS - RECURSO DA
DEFESA: TESE PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO - INOCORRÊNCIA - TESE PRELIMINAR
DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL- INOCORRÊNCIA - TESE
PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA - INOCORRÊNCIA - ABSOLVIÇÃO -
IMPOSSIBILIDADE - AUTORIA E MATERIALIDADE DEMONSTRADAS -
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O ART. 28 DA LEI 11.343/06 - INADEQUAÇÃO - DOLO DE
CONSUMO ALHEIO COMPROVADO - REDUÇÃO DA PENA AQUÉM DO MÍNIMO LEGAL
E SUBSTITUIÇÃO DAS PENAS - PLEITOS PREJUDICADOS - PEDIDOS JÁ
CONCEDIDOS NA SENTENÇA - RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO: DECOTE DO
PRIVILÉGIO DO ART. 33, § 4º, DA LEI DE DROGAS - INVIABILIDADE - PRESENÇA DE
TODOS OS REQUISITOS LEGAIS. Não deve ser reconhecida a prescrição da pretensão
punitiva se não transcorrer o prazo prescricional entre os marcos interruptivos. O princípio
do promotor natural não impede que um membro do Parquet substitua outro durante o
curso do processo de conhecimento, mormente porque o Ministério Público é uno e
indivisível. As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as
consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (art. 400, § 1º, do CPP). O pedido
de realização de exame toxicológico para comprovação da dependência química deve ser
indeferido se for inapto a comprovar a inimputabilidade do agente. Demonstradas a autoria
e a materialidade pelo conjunto probatório e comprovado que a conduta do réu se amolda
perfeitamente ao tipo penal do art. 33 da Lei 11.343/06, é impossível a absolvição ou a
desclassificação para crime menos grave. Os pedidos de fixação da pena aquém do mínimo
legal e de substituição da reprimenda corpórea por restritiva de direitos devem ser julgados
prejudicados se já tiverem sido concedidos na sentença. A quantidade do entorpecente, por
si só, não pode obstar a aplicação da causa de diminuição da pena do § 4º do artigo 33 da
Lei de Drogas, porquanto supor que pela grande quantidade o indivíduo se dedica a
atividades criminosas é mera presunção de culpabilidade (HC 138138/STF). Nada impede
que alguém já inicie a traficância com elevadas quantidades de drogas, até porque muitas
vezes quem realiza a venda ou guarda as substâncias ilícitas não é seu verdadeiro dono,
fazendo-o em nome de outrem.

A tese do promotor natural defende a ideia de que em decorrência do alto grau de


especificação das promotorias existentes no Parquet, não poderia haver uma mudança
entre os promotores. Tal tese não há respaldo legal, nem aceitação jurisprudencial como
pode ser observado no julgado acima, uma vez que o MP é considerado um órgão uno e
indivisível.
8. Explique o instituto por abandono do processo, e, assim, relacione-o às garantias
processuais. Explicite o atual posicionamento do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria
e a possível intervenção do Estado-Legislativo sobre o tema.
É expressa a previsão do Art. 265 CPP que proíbe o defensor de abandonar o processo,
senão por motivo imperioso, comunicando previamente o juiz, sob pena de multa de 10 a
100 salários mínimos. Caso o defensor abandone o processo, garantias processuais como a
ampla defesa e contraditório seriam abaladas uma vez que o réu não teria ninguém para
defendê-lo. O STF entendeu que a aplicação de multa no caso de defensor que abandone o
processo sem motivo imperioso e/ou sem comunicação prévia ao juiz é constitucional.
Essa previsão legal é tema de debate atual nas casas legislativas e há vários requerimentos
principalmente formulados pela OAB para que o Art. 265 do CPP seja revogado e a
cobrança de multa seja considerada inconstitucional.

9. O assistente de acusação é sujeito processual obrigatório? Indique os limites funcionais


do assistente.
O assistente de acusação é sujeito processual secundário. Somente cabe sua
intervenção na ação penal pública, devendo ainda o Ministério Público opinar se concorda
ou não com sua atuação. O assistente de acusação pode ser a própria vítima, seu
representante legal ou seu cônjuge, ascendente ou descendente. Mister mencionar que
quem tem capacidade postulatória é o advogado constituído do advogado de acusação e
que essa função de assistente é subsidiária, pois o Ministério Público é o titular da
ação penal pública.

10. (caso hipotético) Marieta da Silva foi denunciada pela suposta prática do crime de
estelionato, pois no dia 10 de janeiro de 2022 teria emitido cheque conhecidamente sem
fundos, a fim de locupletar vantagem ilícita mediante indução a erro de um conhecido
comerciante de Ouro Azul. A denúncia foi recebida no dia 8 de abril de 2022. O réu foi citado
no dia 11 de abril de 2022, com o mandado juntado aos autos no dia 18 de abril de 2022.
Nesse sentido, indique o último dia para apresentar resposta à acusação, cujo prazo é de 10
dias, explicitando os motivos pelos quais você o indica.
Inicialmente é mister pontuar que no processo penal os prazos correrão em cartório e serão
contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado,
conforme leitura do Art. 798 do CPP. Ainda é fundamental trazer à baila a Súmula 710 do
STF:
Súmula 710 STF: No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da
juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.
No caso em tela, como Marieta foi citada no dia 11 de abril, esse seria o marco de abertura
de contagem do prazo. Entretanto, seu prazo começa de fato a partir do dia 12, pois
conforme análise do § 1º do Art. 798, não se computa no prazo o dia do começo. Desse
modo, o marco inicial para a contagem do prazo seria o dia 12/04/2022. Como são 10 dias
corridos, o prazo terminaria no dia 22/04/2022, porém como esse dia é feriado, o prazo seria
prorrogado até o dia útil imediato que seria o dia 25/04/2022 (conforme § 3º do Art. 798), o
último dia para apresentar resposta à acusação.

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