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Lei 8.

072 de 1990

LEI DE CRIMES
HEDIONDOS
Professora Livia Justiniano Pagani
The Law and Order Policy, nascida nos EUA na década de 70,
consiste na adoção de regras severas no combate à criminalidade e
defende a ideia de quanto mais rigorosas a lei melhor o combate ao
crime e o criminoso.
No Brasil, ao mesmo tempo, está surgindo a Constituição Federal,
tendo essa ideia de legislação mais forte se apresenta no art. 5º, que
é uma base histórica para a Lei de Crimes Hediondos.
PREVISÃO CONSTITUCIONAL

Art. 5º (...)
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem.

O art. 5º anota deixa de fora o induto. Todavia, na própria de Lei de Crimes Hediondos
haverá a vedação da graça, anistia, induto e fiança.
PREVISÃO CONSTITUCIONAL

Na visão de José Afonso da Silva, os crimes hediondos seriam uma norma de


eficácia limitada, dependendo de uma explicação sobre tal.

Não existe no ordenamento jurídico brasileiro não existe uma definição sobre
os crimes hediondos.

Não definido o que é crime hediondo, qual critério define o que é crime
hediondo?
SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS COMO CRIMES HEDIONDOS

a) Sistema legal: compete ao legislador num rol taxativo, anunciar quais os delitos
considerados hediondos. Crítica ao respectivo sistema: esse sistema ignora a gravidade
do caso concreto, trabalha apenas com a gravidade em abstrato.

b) Sistema judicial: é o juiz quem, na apreciação do caso concreto, diante do crime e da


forma como foi praticado, decide se é ou não hediondo. Crítica ao respectivo sistema:
este sistema viola a taxatividade (não há segurança jurídica, pois fica a critério do juiz).

c) Sistema misto: o legislador apresenta rol exemplificativo dos crimes hediondos,


permitindo ao juiz, na análise do caso concreto, encontrar outras hipóteses
(interpretação analógica).

QUAL O ADOTADO PELO BRASIL?


QUAL O ADOTADO PELO BRASIL?
O Brasil adotou o sistema legal.

E por isso o Brasil tem um rol taxativo de crimes hediondos, não admitindo
analogia e nem interpretação extensiva.

Outros doutrinadores entendem que o Brasil adotou o sistema chamado de


Etiquetagem ou Colagem para os crimes hediondos. Desse modo, tem doutrina
sugerindo a criação de uma “clausula salvatória”, permitindo que a depender
das circunstâncias do caso concreto, o juiz afastasse a natureza hedionda de
um crime constante do rol fixado pelo legislador.
CRIMES MILITARES

Como o rol é taxativo e não nomeou condutas e sim artigos, os


crimes militares não possuiriam natureza hedionda. O assunto
chegou ao STF que entendeu não ser inconstitucional o tratamento
diferenciado (HC 86.459/RJ).

Com o advento da Lei n. 13.491/2017, a Justiça Militar passou a ter competência para julgar
crimes cometidos por militares ainda que fora da legislação militar. Em tempos passados, a
justiça militar processava e julgava os crimes do Código Penal Militar. Ocorre que com a Lei
n. 13.491/2017 deu aval para que a justiça militar possa julgar todos os casos que envolvam
militares na ativa.
CABE TENTATIVA DE CRIME HEDIONDO?
ROL DE CRIMES HEDIONDOS
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no
Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados
ou tentados.
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado
(art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);

Obs.: o inciso VIII havia sido vetado no Pacote Anticrime. Ocorre que esse veto
foi derrubado.
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de
criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). 
ROL DE CRIMES HEDIONDOS
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição:

VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: (Incluído pela
Lei n. 13.964, de 2019) (Vigência)
ROL DE CRIMES HEDIONDOS
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição:

VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: (Incluído pela
Lei n. 13.964, de 2019) (Vigência)
CRIME HEDIONDO CONDICIONADO

O homicídio simples só pode ser hediondo se praticado em


atividade típica de grupo de extermínio.

QUANTAS PESSOAS NECESSITA PARA UM GRUPO DE


EXTERMÍNIO?
CRIME HEDIONDO CONDICIONADO

QUANTAS PESSOAS NECESSITA PARA UM GRUPO DE


EXTERMÍNIO?

A lei não trata do assunto.

Entretanto, Renato Brasileiro entende que grupo de extermínio é


acima de 3 pessoas.
HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO

No STF e STJ é dominante o entendimento no sentido da


possibilidade do homicídio qualificado-privilegiado, desde
que a qualificadora seja de natureza objetiva.

HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO É HEDIONDO?


HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO

HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO É HEDIONDO?

Não. Na eventual hipótese de os jurados reconheceram a


existência de homicídio qualificado-privilegiado, tal crime
jamais poderá ser considerado hediondo.
IMPORTANTE SABER:

Art. 1º [...] VI – contra a mulher por razões da condição de sexo


feminino:

O STJ entende que a qualificadora do feminicídio possui caráter


objetivo, pois para sua configuração basta que o crime seja cometido
contra mulher por razões da condição de sexo feminino, ou seja, que
a morte esteja vinculada à violência doméstica e familiar ou ao
menosprezo ao gênero feminino
I – A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e lesão
corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra
autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição;

Obs.: não entram aqui neste rol as lesões: grave, leve ou culposa.
É importante lembrar que é parente consanguíneo até terceiro grau.
Noutro ponto, os Guardas Municipais também entram, assim como Polícia
Penal e Força Nacional.
II – roubo:
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, §
2º, inciso V);
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A,
inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou
restrito (art. 157, § 2º-B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte
(latrocínio) (art. 157, § 3º);

Obs.: a grande novidade já que antes se limitava ao latrocínio.


Hipótese, portanto, de novatio legis in pejus, sem força retroativa.
A morte pode ser provocada por dolo (quis) ou culpa (um tiro
acidental).

Mesmo assim será enquadrado no latrocínio, pois ali ampara o


resultado morte tanto a título de culpa quanto de dolo.
III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima,
ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º); (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159,


caput, e §§ lº, 2º e 3º);

OBS: a extorsão, em geral, não é considerada crime hediondo,


mesmo aquela qualificada pela morte ou lesão grave, não sendo
acompanhada de sequestro.
V – Estupro (art. 213, caput e §§1º e 2º);

• O delito de estupro é rotulado como hediondo,


independentemente da modalidade.

VI – Estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);

STF e STJ entendem que o estupro de vulnerável (art. 224 do CP, na


redação anterior à Lei n. 12.015), já era hediondo.
VII – Epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º);

Somente a propagação de doença humana é que configura o crime


do art. 267, § 1º, do Código Penal, já que, em se tratando de
enfermidade que atinja animais ou plantas, o crime será o do art. 61,
Lei n. 9.605/1998, não hediondo por falta de previsão legal.
VII – B. falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e §§ 1º, 1º-A e
1º-B, com a redação dada pela Lei 9.677, de 2 de julho de 1998).

HOUVE UMA REINTERPRETAÇÃO PRINCIPIOLÓGICA DA PENA DESTE CRIME!

Na década de 2000, algumas mulheres, acreditando estar tomando pílulas


anticoncepcional, estavam tomando, em verdade, pílulas compostas de
farinha. Devido a isso, acabaram por engravidar. Diante disso, esse inciso VII-B
foi inserido na Lei de Crimes Hediondos como uma resposta simbólica à
sociedade.
Imagine o seguinte caso: pessoas que adulteram produtos
dermatológicos, tais como protetor solar, a serem vendidos na praia
por um preço abaixo da tabela, podem ser enquadrados no inciso
VII-B, cuja pena é de 10 a 15 anos.

DA SÉRIE SÓ NO BRASIL ... Note que isso pode ser considerado um


disparate, em face, por exemplo, de a pena para a traficância de 1
tonelada de maconha suscitar pena de 5 a 10 anos.
VIII – favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual
de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).
(Incluído pela Lei n. 12.978, de 2014).

Pune-se a mera prática de relação sexual com adolescente submetido à


prostituição – e nessa conduta não se exige reiteração, poder de mando, ou
introdução da vítima na habitualidade da prostituição. STJ, 6ª Turma.
VIII – favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual
de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).
(Incluído pela Lei n. 12.978, de 2014).

Menor de 14 anos não consente com sexo, sendo considerado como estupro. E essa
consideração legal advém de estudos jurídicos, médicos e biológicos, além de da proteção à
infância, para que não ocorra, tal como em tempos mais antigos, o casamento precoce de
meninas que entravam no primeiro ciclo menstrual.

A norma que criminaliza o estupro de vulnerável se apresenta para preservar a infância da


criança. Assim, no momento em que há precedente para não criminalizar o estupro de
vulnerável, abre-se um abismo contra a proteção dessa criança.
IX – furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que
cause perigo comum (art. 155, § 4º-A).

OBS.: O furto com emprego de explosivo é considerado crime hediondo. Já o


roubo com emprego de explosivo (artigo 157, §2º–A, II, CP) não é considerado
crime hediondo!

HÁ ALGUM CRIME HEDIONDO FORA DO CÓDIGO PENAL?


HÁ ALGUM CRIME HEDIONDO FORA DO CÓDIGO PENAL?
OBS.: O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo não são crimes hediondos, mas equiparados
a crimes hediondos.

Resposta: Existe, sim, e pela alteração do Pacote Anticrime, não é apenas o Genocídio:
I – o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei n. 2.889, de 1º de outubro de
1956;
II – o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da
Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
III – o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei n. 10.826, de 22
de dezembro de 2003;
IV – o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art.
18 da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003
V – o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou
equiparado
ATENÇÃO AQUI GALERA ...

A associação para o genocídio e a incitação aos genocídios por estar


naqueles tipos penais TAMBÉM SÃO HEDIONDOS.

Crimes hediondos que necessitam de cumulação de agentes:

• Homicídio por grupo de extermínio;


• Organização criminosa para cometimento de crime hediondo ou
equiparado;
• Associação criminosa para genocídio.
CARÁTER HEDIONDO E CONSEQUÊNCIAS

Art. 2º da Lei n. 8.072/1990. Os crimes hediondos, a prática da


tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de:

I – anistia, graça e indulto;

SABEMOS QUE É INSUSCETÍVEL DE ANISTIA, GRAÇA E INDULTO...TÁ, MAS E O INDULTO


HUMANITÁRIO?
CARÁTER HEDIONDO E CONSEQUÊNCIAS

SABEMOS QUE É INSUSCETÍVEL DE ANISTIA, GRAÇA E INDULTO...TÁ, MAS E O


INDULTO HUMANITÁRIO?

Chama-se indulto humanitário aquele concedido por razões de grave


deficiência física ou em virtude de debilitado estado de saúde do executado.

Temos decisões admitindo o indulto humanitário com fundamento no princípio


da humanidade das penas, até mesmo para condenados por crimes hediondos
e equiparados (STJ). O STF, no HC 118/213 SP, aplicou indulto humanitário
para tráfico de drogas.
CARÁTER HEDIONDO E CONSEQUÊNCIAS
Insuscetível de Fiança

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e 9 drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
II - fiança.

O referido inciso foi alterado pela Lei n° 11.464/2007. Antes, o mesmo inciso
vedava fiança, bem como a liberdade provisória, atualmente, veda tão
somente a fiança, assim, é possível liberdade provisória sem pagamento de
fiança.
DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE
Art. 2º - § 3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente
se o réu poderá apelar em liberdade.

A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei n. 7.960, de 21 de dezembro de 1989,


nos crimes previstos neste artigo (hediondos + TTT), terá o prazo de 30 (trinta) dias,
prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

Art. 2º - § 4º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei n. 7.960, de 21 de


dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias,
prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.
(Incluído pela Lei n. 11.464, de 2007)
SAÍDA TEMPORÁRIA

O condenado que cometer crime hediondo com resultado morte perde o


direito a saída temporária.

A saída tem a ver com o remanejamento do preso, inserção social; e a


permissão de saída tem a ver com a possibilidade de ir ao médico, frequentar
cursos e ir a funerais.

Obs.: se trata de lei prejudicial, e os que estão em plena execução de pena não serão
atingidos por essa medida.

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