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DIREITO PENAL JOÃO PEREIRA

IV - à traição, de emboscada, ou mediante


DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
Prof. João Pereira V - para assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime;
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei
nº 13.142, de 2015)

Instagram: www.instagram.com/professorjoaopereira VIII - Com emprego de arma de fogo de uso restrito


Facebook: www.facebook.com/professorpereira ou proibido. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019) (Vigência)

CONTEÚDO Homicídio contra menor de 14 (quatorze)


anos (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)

1. CRIMES CONTRA A PESSOA (ARTS. 121 A 154) IX - contra menor de 14 (quatorze) anos (Incluído
pela Lei nº 14.344, de 2022):
2. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (ARTS. 155 A 183)
3. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL (ARTS. 213 A 234-C) Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
4. DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA (ART. 286 A 288-A) § 2o-A Considera-se que há razões de condição de
5. DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA (ART. 289 A 311-A) sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei
nº 13.104, de 2015)
6. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ARTS. 312 A 337-
A) I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei
nº 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de
mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
1. DOS CRIMES CONTRA A PESSOA (ART. 121 A
154) § 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14
(quatorze) anos é aumentada de:
I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa
CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A VIDA com deficiência ou com doença que implique o aumento
de sua vulnerabilidade;

Homicídio simples II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente,


padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
Art. 121. Matar alguém: tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. qualquer outro título tiver autoridade sobre ela.

Caso de diminuição de pena Homicídio culposo

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo § 3º Se o homicídio é culposo:


de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de Pena - detenção, de um a três anos.
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Aumento de pena

Homicídio qualificado § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de


1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de
§ 2° Se o homicídio é cometido: regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
por outro motivo torpe; diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar
prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
II - por motivo fútil; aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de
possa resultar perigo comum; 2003)

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§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz Homicídio privilegiado (Causas de diminuição
poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da de pena (§ 1º): o § 1º do art. 121 prevê três hipóteses
infração atingirem o próprio agente de forma tão grave em que o homicídio tem sua pena diminuída, classificado
que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela pela doutrina como privilegiado. São elas:
Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
a) Motivo de relevante valor social: diz respeito aos
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a interesses de toda uma coletividade, logo, motivo nobre
metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o (ex.: indignação contra um traidor da pátria).
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
b) Motivo de relevante valor moral: liga-se aos
grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de
interesses individuais, particulares do agente, entre eles
2012)
os sentimentos de piedade, misericórdia e compaixão.
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um Assim, o homicídio praticado com o intuito de livrar um
terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído doente, irremediavelmente perdido, dos sofrimentos que
pela Lei nº 13.104, de 2015) o atormentam (eutanásia) goza de privilégio da atenuação
da pena.
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses
posteriores ao parto; c) Sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima: neste caso, o
II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com
sujeito ativo, logo em seguida a injusta provocação da
deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem
vítima, reage, de imediato, sob intenso choque emocional,
condição limitante ou de vulnerabilidade física ou
capaz de anular sua capacidade de autocontrole durante o
mental; (Redação dada pela Lei nº 14.344, de 2022)
cometimento do crime. Em regra, os tribunais têm
III - na presença física ou virtual de descendente ou aceitado a violenta emoção do marido que colhe a mulher
de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº em flagrante adultério.
13.771, de 2018)
Natureza das privilegiadoras: em todas as
IV - em descumprimento das medidas protetivas de hipóteses, as privilegiadoras são de natureza SUBJETIVA,
urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. pois dizem respeito à motivação do crime (valor social ou
22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído moral) ou com o estado emocional do agente (sob domínio
pela Lei nº 13.771, de 2018) de violenta emoção).

Objetividade jurídica: tutela-se a vida IMPORTANTE: Reconhecido o homicídio


extrauterina, iniciada com o parto. privilegiado, a redução da pena é obrigatória, segundo o
entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
ATENÇÃO: Se o agente age sob INFLUÊNCIA de
Sujeito passivo: qualquer pessoa. violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima, não
Conduta: matar pessoa após o seu nascimento, há causa de diminuição de pena, mas circunstância
pouco importando tratar-se ou não de vida viável. atenuante (art. 65, III, “c”, do CP)

IMPORTANTE: Já está pacificado no STF e no STJ Crime hediondo: o homicídio será hediondo
que a transmissão dolosa (intencional e consciente) do quando qualificado (não importando a circunstância
vírus HIV implica na prática de crime de lesão corporal de qualificadora) ou, mesmo que simples, quando praticado
natureza gravíssima, adequando-se ao conceito de em atividade típica de grupo de extermínio (chacina,
enfermidade incurável (art. 129, § 2º, II, do CP) matança generalizada).

ATENÇÃO: responderá por homicídio aquele que


omitir seu dever legal de evitar o resultado morte, HOMICÍDIO QUALIFICADO
ignorando sua condição de garante ou garantidor, nos
termos do art. 13 § 2º: dever + poder (de prestar O art. 121, § 2º, descreve qualificadoras subjetivas,
atendimento). ligadas aos motivos ou finalidades determinantes do
crime, e qualificadoras objetivas, relacionadas ao meio e
Consumação e tentativa: consuma-se com a modo de execução ou condição especial da vítima.
morte, caracterizada pela cessação da atividade encefálica
do ofendido (crime material). Elevação da pena: em todas as hipóteses de
qualificadoras, a pena passa a ser de reclusão de 12 a 30
Tratando-se de crime plurissubsistente (admite anos.
fracionamento da execução), a tentativa é possível,
ocorrendo quando a morte é querida, mas não acontece Qualificadoras subjetivas:
por circunstâncias alheias à vontade do agente. a) Motivo torpe (I): é o motivo vil, ignóbil,
Homicídio simples – O caput do artigo 121 repugnante e abjeto. O próprio legislador dá o exemplo de
do Código Penal traz a figura do homicídio simples, torpeza: homicídio mercenário, caso em que o agente
possuindo a redação mais compacta de todos os tipos mata mediante paga ou promessa de recompensa. Trata-
penais incriminadores. É composto, portanto, pelo se de delito de concurso necessário (ou bilateral), no qual
núcleo matar e pelo seu elemento objetivo alguém, sem é indispensável a participação de, no mínimo, duas
que estejam presentes nenhumas situações qualificadoras pessoas: o mandante (aquele que paga ou promete futura
ou privilegiadoras. recompensa) e o executor (quem aceita, praticando o
combinado).
Assim, o ato de matar alguém tem sentido de um
ser humano por fim na vida de um outro ser humano.

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Outros exemplos de motivo torpe: canibalismo, permite-se ao aplicador encontrar casos outros que
vampirismo, rituais macabros, para recebimento de denotem insídia, crueldade ou perigo comum advindo da
seguro, para ocupar o cargo. conduta do agente (interpretação analógica).

b) Motivo fútil (II): é o motivo desproporcional, Homicídio x Tortura:


insignificante, caso em que o agente executa o crime por
I) Se a morte é o fim desejado pelo agente e a
mesquinharia.
tortura é o meio empregado, o crime será homicídio
Exemplos de motivo fútil: mera discussão de qualificado, nos moldes do art. 121, § 2º, III (crime
trânsito, matar dono de bar que se recusou a servir doloso);
bebida, matar porque ouviu comentário jocoso em relação
II) Se a tortura é o fim do agente, mas a morte
ao seu time de futebol, motorista mata o fiscal de trânsito
adveio culposamente, o crime será tortura qualificada pela
em razão da multa aplicada, patrão matou o empregado
morte, art. 1º, § 3º da lei 9.455/97 (crime preterdoloso).
por erro na prestação do serviço.

c) Para assegurar a execução, a ocultação, a b) À traição, de emboscada, ou mediante


impunidade ou vantagem de outro crime (V): a dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
qualificadora enuncia hipóteses de conexão (vínculo) entre impossível a defesa do ofendido (IV): o agente utiliza
o crime de homicídio e outros delitos. A doutrina subdivide algum recurso que dificulte ou impeça a defesa da vítima,
a conexão em teleológica (homicídio praticado para exemplificando o Código alguns modos de praticá-lo, como
assegurar a execução de outro crime, futuro) e a traição, emboscada e dissimulação, cabendo, desse
consequencial (quando o homicídio visa assegurar a modo, a interpretação analógica.
ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime,
passado). ATENÇÃO! A premeditação não qualifica o
homicídio
Exemplos: matar o marido para estuprar a esposa;
matar a única testemunha de um crime anteriormente c) Feminicídio (VI): denota a morte de mulher em
cometido. razão da condição do sexo feminino (leia-se, violência de
gênero quanto ao sexo). A incidência da qualificadora
d) Contra autoridade ou agente de segurança reclama situação de violência praticada contra a mulher,
pública no exercício da função, em decorrência dela em contexto caracterizado por relação de poder e
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente submissão, praticada por homem ou mulher sobre mulher
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa em situação de vulnerabilidade.
condição (VII): chamada de homicídio funcional, essa
qualificadora ocorre quando cometido contra autoridade Transexual: No caso de transexual que se
ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição identifica como mulher, a 6ª Turma do Superior Tribunal
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força de Justiça decidiu, em 05/04/2022, que a Lei Maria da
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou Penha — que protege as vítimas de violência doméstica —
em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro pode ser aplicada para mulheres transexuais (REsp
ou parente consanguíneo até 3° grau, em razão dessa 1.977.124).
condição. ATENÇÃO: A jurisprudência e doutrina majoritária
Parentes consanguíneos: os pais e os filhos (1º entendem que a qualificadora do feminicídio possui
grau), avós, netos e irmãos (2º grau), bisavós, bisnetos, natureza objetiva, pois incide nos crimes praticados contra
tios e sobrinhos (3º grau). a mulher por razão do seu gênero feminino. (STJ - REsp
1.707.113/MG)
ATENÇÃO: A qualificadora exclui o parentesco por Condição do sexo feminino: o § 2°-A
afinidade (sogro, cunhado, enteado). Entretanto, há estabelece duas situações:
posições no sentido de incluir o filho e irmão adotivo, por
interpretação extensiva, e não de analogia in malam O inciso I trata de violência doméstica, assim
partem. definida na Lei Maria da Penha em seu art. 5°: “Para os
efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
IMPORTANTE: Embora ainda não pacificado, gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
prevalece o entendimento de que as Guardas Municipais, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Poderá
os agentes de segurança viária e os agentes de segurança ocorrer no âmbito da unidade doméstica, no âmbito da
aposentados estão alcançadas para fins de homicídio família ou em qualquer relação íntima de afeto.
funcional.
O inciso II trata do menosprezo ou discriminação
à condição da mulher. Aqui o Feminicídio ocorre com a
Qualificadoras objetivas: morte (ou sua tentativa) da mulher por ela ser mulher.
Trata-se de um atentado contra a vida da mulher causada
a) Com emprego de veneno, fogo, explosivo, por, supostamente, possuir uma condição inferior; por
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou pertencer ao gênero feminino.
de que possa resultar perigo comum (III): o meio
insidioso é aquele dissimulado, já o cruel aumenta d) Com emprego de arma de fogo de uso
inutilmente o sofrimento da vítima. Resultar perigo restrito ou proibido (VIII): trata-se de
comum significa ser capaz de atingir número qualificadora objetiva, uma vez que ligada ao meio de
indeterminado de pessoas. Com a fórmula genérica,

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execução e não aos motivos ou à pessoa do agente. Assim, b) A pena é aumentada de 2/3: se o autor é
se comunica aos coautores. ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da
ATENÇÃO - Norma penal em branco: Essa
vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre
qualificadora trata-se de norma penal em branco, isto é,
ela.
necessita de complemento normativo (vindo de outro
Aqui o aumento diz respeito ao parentesco entre a
diploma, como uma lei ou portaria) para saber quais
vítima e o agente, bem como a outras relações pessoais
armas de fogo se adequam ao conceito de uso restrito ou
existentes entre eles. Justifica-se o agravamento da pena
proibido.
em razão da maior reprovação moral da conduta, hipótese
e) Contra menor de 14 (quatorze) anos (IX): A em que o agente abusa das relações familiares, de
Lei nº 14.344, de 24/05/2022 incluiu a qualificadora no intimidade ou de confiança que mantém com pessoa
crime de homicídio, levando em conta, não o motivo do menor de 14 anos.
crime ou modo/meio de execução, mas a condição etária
da vítima menor de 14 anos. Essa qualificação se deve à
Homicídio culposo (§ 3º): O sujeito realiza uma
vulnerabilidade intensificada da vítima, menos apta a
conduta voluntária, com violação do dever objetivo de
empreender autodefesa de forma eficaz.
cuidado a todos imposto, por imprudência, negligência ou
ATENÇÃO! É indispensável que a idade do ofendido imperícia, e assim produz um resultado naturalístico
seja do conhecimento do autor, sob pena de (morte) involuntário, não previsto nem querido, mas
responsabilizá-lo objetivamente. objetivamente previsível, que podia com a devida atenção
ter evitado.
Importante destacar, ainda, que essa qualificadora
considera a idade da vítima quando da prática do crime, ATENÇÃO! Se o homicídio culposo ocorreu na
ou seja, no momento da ação ou omissão, ainda que outro direção de veículo automotor, aplica-se o disposto no art.
seja o momento do resultado, por força do disposto no art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro (princípio da
4º do CP. especialidade).
Homicídio culposo majorado (§ 4°, primeira
parte): o dispositivo preleciona quatro causas de
Comunicabilidade das qualificadoras: aumento de 1/3 para o delito de homicídio culposo:
a) As qualificadoras subjetivas, por estarem a) inobservância de regra técnica de profissão, arte
inseridas na motivação interna do agente, não se ou ofício: nesta hipótese, diferentemente da imperícia
comunicam aos coautores ou partícipes em caso de (modalidade de culpa), o agente tem aptidão para
concurso de pessoas (art. 30 do CP). desempenhar sua atividade, mas acaba por provocar a
b) Já as qualificadoras objetivas, ligadas ao fato morte de alguém em razão do seu descaso,
criminoso em si, comunicam-se no concurso de pessoas, deliberadamente desatendendo aos conhecimentos
desde que conhecidas por todos os envolvidos. técnicos que possui.
b) omissão de socorro: quando o agente, agindo
 Homicídio privilegiado-qualificado: Admite- com culpa, deixa de prestar socorro à vítima, podendo
se a compatibilidade entre o privilégio e as qualificadoras, fazê-lo e não havendo qualquer risco pessoal a ele, terá a
desde que estas sejam de natureza objetiva. Exemplo: um sua pena aumentada de um terço. Assim, de acordo com
homicídio praticado mediante emboscada (qualificadora o sistema do nosso Código, o caso, em vez de configurar
de natureza objetiva), tendo o agente atuado impelido por o crime de omissão de socorro (art. 135 do CP), serve
um motivo de relevante valor moral. apenas como causa especial de aumento de pena.

ATENÇÃO! Homicídio privilegiado-qualificado não é c) não procurar diminuir as consequências do


considerado crime hediondo, prevalecendo o privilégio. comportamento: se o agente não procura diminuir as
consequências do seu ato também terá a pena
aumentada. Ex.: Negar-se a prestar auxílio financeiro ou
Causas de aumento de pena no homicídio amparo moral à família da vítima no hospital.
contra menor de 14 anos - § 2º-B
A Lei 14.344/22 incluiu no art. 121 o §2º-B, que d) foge para evitar a prisão em flagrante:
aumenta a pena do homicídio contra menor de quatorze Esquivando-se de responder pelo ato praticado, mediante
anos em dois patamares: fuga do local, demonstra o agente ausência de escrúpulo,
a) A pena é aumentada de 1/3 até a metade: bem como diminuta responsabilidade moral.
se a vítima é portadora de deficiência ou de doença que Homicídio doloso majorado (§ 4°, segunda
implique o aumento de sua vulnerabilidade. parte): A segunda parte do § 4° do art. 121, aplicada
A deficiência pode ser física ou mental. Ser portador apenas ao homicídio doloso, aumenta de 1/3 a pena do
de doença também permite o aumento, desde que homicídio (simples, privilegiado ou qualificado) quando
implique o aumento da vulnerabilidade do menor de 14 praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos ou
anos. Pode ser uma depressão ou até câncer, ficando sua maior de 60 (sessenta) anos. É indispensável que a idade
confirmação na dependência do caso concreto. do ofendido ingresse na esfera de conhecimento do
agente, sob pena de se caracterizar responsabilidade
ATENÇÃO! Seja na hipótese da vítima com objetiva.
deficiência, seja no caso de doença que lhe aumento a
vulnerabilidade, são circunstâncias que devem ser ATENÇÃO! Com a alteração promovida pela Lei nº
conhecidas do agente, sob pena de responsabilidade penal 14.344/2022, quando praticado contra pessoa menor de
objetiva. 14 anos, o crime de homicídio será qualificado por essa
razão, não podendo incidir também majorante com o

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mesmo fundamento, sob pena de bis in idem, ou seja, ou por outras formas de interação que não a física, como
duas regras punitivas, atinentes ao mesmo delito, chamadas com vídeo pela internet (Skype, por exemplo).
cuidando da mesma circunstância.
d) em descumprimento das medidas protetivas de
Perdão judicial (§ 5°): é causa extintiva de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art.
punibilidade (CP, art. 107, IX). O juiz, analisando as 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006: por meio da
circunstâncias que envolvem o caso concreto, decidirá Lei 13.771/18, inseriu-se nova majorante para as
sobre a sua aplicação. situações em que o homicida comete o crime apesar da
existência de medidas protetivas contra si decretadas nos
Exige-se a comprovação de que as consequências
termos da Lei Maria da Penha.
da infração se voltaram contra o próprio agente de forma
tão grave que a sanção penal se mostra desnecessária.  O inciso I do art. 22 da Lei Maria da Penha
Assim, aquele que comprovar a existência de um vínculo estabelece a medida de suspensão da posse ou restrição
afetivo de importância significativa entre ele e a vítima do porte de armas; o inciso II consiste no afastamento do
(pai/filho, marido/mulher, grandes amigos etc.) pode lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; e no
receber o perdão. Exemplo: o causador de um acidente inciso III temos a proibição de determinadas condutas,
que, apesar de ter matado a vítima, ficou tetraplégico, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus
sofrendo consequências que permitem presumir que a familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de
pena, no caso, se tornou desnecessária. distância entre estes e o agressor; b) contato com a
ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer
Majorantes de pena (§ 6º): o dispositivo
meio de comunicação; c) frequentação de determinados
aumenta de 1/3 até a metade a pena do homicídio quando
lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica
praticado por milícia privada, entendida como um grupo
da ofendida.
de pessoas, que, alegadamente, pretenderia garantir a
segurança de famílias, residências e estabelecimentos
comerciais ou industriais
HOMICÍDIO
Por grupo de extermínio entende-se a reunião de Doloso Culposo
pessoas, matadores, que se arvoram o direito de fazer
Simples (caput)
justiça pelas próprias mãos, assassinando pessoas Simples (§ 3º)
Privilegiado (§ 1º)
reconhecidas como marginais de alta periculosidade. Circunstanciado (§ 4º,
Qualificado (§ 2º)
1ª parte)
ATENÇÃO! A Lei n° 8.072/90 não foi alterada nesse Circunstanciado (§ 2º-B, §
Perdão Judicial (§ 5º)
ponto, não abrangendo expressamente no rol dos crimes 4º, 2ª parte, §§ 6º e 7º)
hediondos o homicídio (simples) praticado por milícia
privada.
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Causas de aumento de pena no feminicídio (§ ou a automutilação (Redação dada pela Lei nº 13.968,
7°): o dispositivo eleva de um terço até a metade a pena de 2019)
do feminicídio se o crime for praticado:
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
a) durante a gestação ou nos três meses posteriores a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material
ao parto: aplica-se a majorante desde o momento em que para que o faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de
gerado o feto até três meses após o nascimento, não se 2019)
olvidando de que o aborto não é pressuposto da causa de
aumento, e, caso do homicídio decorra a morte, querida Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
ou aceita, do ser humano em gestação, o agente (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
responde, em concurso formal, pelo homicídio majorado e § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio
pelo aborto. resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima,
b) contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três)
ou mental: ao se referir à idade da vítima (maior de anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
sessenta anos) o dispositivo repete o § 4o do art. 121.
Ressalta-se, porém, que, nesta majorante, § 2º Se o suicídio se consuma ou se da
diferentemente daquela do§ 4°, em que o aumento é fixo automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº
em um terço, o aumento é variável de um terço à metade. 13.968, de 2019)
Por igual, contempla a vítima com deficiência (física ou Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis)
mental). A vítima, no último caso, apresenta uma anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
fragilidade (debilidade) maior, de forma que a conduta do
agente se revela com alto grau de covardia. Como § 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº
exemplo, podemos citar a esclerose lateral amiotrófica. 13.968, de 2019)
c) na presença física ou virtual de descendente ou
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe
de ascendente da vítima: expressa o texto legal que o
ou fútil; (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
comportamento criminoso ocorra na presença do
ascendente ou do descendente da vítima. II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por
qualquer causa, a capacidade de resistência. (Incluído
 A majorante pode incidir tanto no caso de
pela Lei nº 13.968, de 2019)
presença física, isto é, o descendente ou o ascendente da
vítima podem estar no mesmo local onde o delito de morte § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta
é cometido, ou também podem presenciá-lo virtualmente, é realizada por meio da rede de computadores, de rede

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social ou transmitida em tempo real. (Incluído pela Lei de matar-se ou automutilar-se, oriunda da própria
nº 13.968, de 2019) vítima.
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é No auxílio, existe uma participação material do
líder ou coordenador de grupo ou de rede autor. Por exemplo, fornecendo uma arma, fornecendo
virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) veneno, ministrando instruções sobre meios de suicidar-
se ou de automutilar-se, montando um aparato para o
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo
suicídio ou automutilação.
resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra O agente faz nascer
quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o na vítima a ideia de
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, Induzimento
se matar ou
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, Participação automutilar-se
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 moral O autor reforça a
deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) vontade mórbida
Instigação
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é preexistente na
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra vítima
quem não tem o necessário discernimento para a prática O agente presta
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode efetiva assistência
oferecer resistência, responde o agente pelo crime de material,
Participação
homicídio, nos termos do art. 121 deste Auxílio emprestando objetos
material
Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) ou indicando meios,
sem intervir nos atos
Sujeito ativo: Qualquer pessoa (crime comum). É executórios
admissível concurso de pessoas nas suas duas formas:
coautoria ou participação.
IMPORTANTE: A intervenção física do agente não
ATENÇÃO: O ato suicida não é previsto como crime pode extrapolar o mero auxílio e acabar adentrando em
por razões de política criminal, de forma que a pessoa atos de execução da morte ou lesão, senão ocorrerá
que tenta suicidar-se não comete infração penal. homicídio ou crime de lesão corporal. Por exemplo, o
Sujeito passivo: Qualquer pessoa que tenha indivíduo, na hesitação da vítima, pega a lâmina de
capacidade de resistência à prática do suicídio ou da barbear e faz vários cortes em seus pulsos (da vítima).
automutilação. Consentimento da vítima: Não terá nenhuma
IMPORTANTE: Se essa capacidade é nula ou relevância o consentimento da vítima nesses atos, eis
inexistente, não ocorre o crime do artigo 122, que estamos diante de bens jurídicos indisponíveis:
“caput”, CP, nem mesmo as figuras qualificadas pelos vida e integridade física. Nem mesmo a “eutanásia” nos
resultados lesão grave ou gravíssima (art. 122, § 1º, casos de doentes terminais são permitidos,
CP) ou morte (art. 122, § 2º, CP), mas sim aquelas configurando, de regra, homicídio privilegiado
previstas nos §§ 6º e 7º, do mesmo artigo 122, CP. Estes (artigo 121, § 1º, CP).
parágrafos por último mencionados tratam, Automutilação é a conduta de causar lesões em
respectivamente dos resultados lesões gravíssimas e si próprio (por exemplo, amputar ou mutilar um dos
morte. dedos da mão ou do pé, se queimar com cigarros,
 Não haverá crime se o induzimento for genérico, ingerir substâncias que possam causar mal–estar).
dirigido a pessoas incertas (ex.: espetáculos, obras Princípio da alteridade (ou
literárias endereçadas ao público em geral, discos etc.). transcendentalidade: Tal princípio veda a punição de
Objetividade jurídica: Os bens jurídicos condutas que não ultrapassem o âmbito de
protegidos são a vida humana e a integridade física da disponibilidade do agente, resultando que a autolesão,
pessoa. por si só, não é punida, bem como o suicídio. O que a lei
incrimina é o induzimento, a instigação ou o auxílio
Crime formal: Não há exigência dos resultados material por terceiro a que alguém suicide ou que se
lesões graves ou morte para que haja o crime e a pena. mutile.
O induzimento, a instigação e o auxílio material ao
suicídio ou à automutilação configuraram o crime, com Tipo misto alternativo: A prática de mais de
ou sem tais resultados, configurando, a partir da uma conduta descrita no caput não enseja por si só
Lei 13.968/19, crime formal. concurso de crimes, e sim crime único.

Conduta: O tipo penal prevê três condutas (crime Elemento subjetivo: O tipo não exige nenhum
de ação múltipla, de conteúdo variado ou tipo misto elemento subjetivo especial, então estamos diante de
alternativo), a saber: induzir, instigar e prestar auxílio um dolo genérico. Nesse passo, pode-se afirmar que a
material. As duas primeiras (induzimento e instigação) descrição típica permite que a finalidade do agente se
são chamadas de “participação ou concurso moral”, direcione para duas possibilidades, o suicídio da vítima
enquanto o auxílio é chamado de “participação ou (sua morte) ou a automutilação (a lesão). Não há
concurso físico ou material”. previsão de punição de modalidade culposa.

No induzimento o agente cria a ideia do suicídio Consumação: Tratando-se de crime formal,


ou da automutilação que não existia na vítima. Já na independente de resultado, a consumação se dá com o
instigação o agente apenas incentiva uma ideia anterior mero induzimento, instigação ou auxílio. No caso do
auxílio material o crime estará consumado com o

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fornecimento da ajuda material, venha ou não a vítima Ressalte-se que a conduta típica, para a
a suicidar-se ou automutilar-se. configuração do delito em estudo, deve se voltar a uma
pessoa determinada. Ex.: o agente se utilizar de chamada
Tentativa: Sendo o crime formal em sua redação
de vídeo ou mesmo o serviço de mensagens do Facebook.
atual, surge possível polêmica quanto à tentativa. Será
viável a tentativa, vez que se trata de conduta c) Parágrafo quinto – metade da pena: traz a
plurissubsistente, com o “iter criminis” fracionável, causa de aumento de pena que incide no caso de o agente
sendo possível que alguém impeça o infrator de ser o líder ou o coordenador de grupo ou de rede virtual.
fornecer o auxílio à vítima. Por exemplo, um indivíduo, Neste caso, a lei fixa a fração em metade. O maior
internado num manicômio, pede uma arma para se desvalor da conduta reside no fato de o sujeito ativo ter
matar, e quando o infrator vai lhe levar, é submetido a uma posição de liderança ou de coordenação em grupo ou
uma revista pessoal, sendo encontrada a arma e rede virtual, ou seja, com formação realizada pela
apurado o seu fim de auxílio ao suicídio alheio. Há internet. Com isso, sua conduta possui maior
tentativa (artigo 122 c/c 14, II, CP). Quanto aos verbos probabilidade de eficácia e menor controle, já que sua
induzir ou instigar, a tentativa somente se daria por própria posição demanda dele tal responsabilidade no
escrito, como é regra nos crimes formais. grupo.
Formas qualificadas (§§ 1º e 2º): A ocorrência Alteração na tipificação da conduta (§§ 6º e
dos resultados naturalísticos lesão grave ou gravíssima 7º): Os parágrafos sexto e sétimo preveem hipóteses de
ou morte, tornará o crime qualificado, ou seja, com não configuração do delito do artigo 122, mas de crime
novos limites mínimo e máximo de pena abstratamente mais grave, ou seja, lesão corporal gravíssima (art. 129,
cominada, conforme previsão dos parágrafos primeiro e § 2º do CP) ou homicídio (art. 121, CP) nas hipóteses em
segundo de referido dispositivo. O resultado lesão grave que a vítima seja considerada vulnerável, ou seja, não
ou gravíssima tornará a conduta punível com a pena de possa oferecer resistência ao induzimento ou à instigação.
reclusão, de 1 a 3 anos. Se o resultado for a morte, seja Assim, configura crime de lesão corporal gravíssima ou
por consumação do suicídio, seja como consequência da homicídio se o crime qualificado pelo resultado for
automutilação, a pena será de reclusão, de 2 a 6 anos. praticado contra:
Anote-se que o dispositivo menciona lesão corporal a) Menor de 14 anos de idade: a lei presume de
grave e gravíssima. Ocorre que o Código Penal não forma absoluta a incapacidade do menor de 14 anos a
menciona lesão gravíssima, denominando as hipóteses de resistir a uma ideia de suicídio ou automutilação. Deste
lesão qualificada, de forma genérica, como “lesão corporal modo, se a vítima com referida idade se mata ou se
de natureza grave”. Como há duas gradações diferentes mutila, neste último caso com configuração de lesão de
da pena, a doutrina passou a diferenciá-las como lesão natureza gravíssima, o agente responderá pelo crime de
grave e lesão gravíssima, não havendo, entretanto, a homicídio ou de lesão corporal gravíssima,
última denominação no texto legal. respectivamente.
ATENÇÃO: se resulta lesão corporal leve o ato se b) Vítima que, por enfermidade ou deficiência
amoldará no caput, forma simples. mental, não tem o necessário discernimento contra
a prática do ato: cuida-se de vítima que, por
enfermidade (como esquizofrenia) ou deficiência mental
Formas majoradas (§ 3º, 4º e 5º): (como quem nasceu com microcefalia), não tem
capacidade de decidir, de forma consciente e livre, sobre
a) Parágrafo terceiro – duplicação da pena: o fim de sua própria vida ou sobre a automutilação.
contém elemento subjetivo especial, inserindo causas de
aumento de pena (duplicação) pelo motivo (egoístico, c) Vítima que, por qualquer outra causa, não
torpe ou fútil) ou condição especial da vítima (menor ou pode oferecer resistência: a última hipótese abarca
tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de qualquer causa que torne o sujeito passivo mais
resistência). vulnerável, sem possibilidade de resistir ao induzimento,
à instigação ou ao auxílio material ao suicídio ou à
Motivo egoístico consiste no interesse pessoal do automutilação. É o caso de alguém que abusou do
agente em obter alguma vantagem. (desejo de receber consumo de bebida alcoólica ou que usou cocaína a ponto
herança ou seguro de vida, eliminação de rival em caso de não ter o domínio de sua própria vontade.
amoroso).
Punição: Os dispositivos em comento determinam
Motivo torpe é o motivo repugnante, vil, abjeto, que, caso o sujeito passivo seja algum dos elencados
revelando total desprezo do agente pela vida alheia acima, a punição deve ocorrer de acordo com o resultado
(induzir alguém ao suicídio por conta da cor de sua pele). obtido:
Motivo fútil é aquele motivo insignificante, banal, a) Lesão corporal gravíssima: Se o resultado for
motivo que normalmente não levaria ao crime, há uma uma lesão corporal gravíssima, sendo a vítima uma das
desproporcionalidade entre o crime e a causa. (instigar acima mencionadas, o agente deve responder nos termos
alguém ao suicídio por seu time de futebol haver perdido do artigo 129, § 2º, do Código Penal.
uma partida).
b) Morte: se a vítima for uma das destacadas pelo
b) Parágrafo quarto – até o dobro da pena: parágrafo 7º do artigo 121 e lhe sobrevier o óbito como
insere dois meios de execução como formas de consequência da conduta típica, haverá a configuração do
majoração da pena até o dobro, daquele que instiga, homicídio, por expressa previsão legal, afastando-se a
induz, auxilia a pessoa a se suicidar ou automutilar por forma qualificada do parágrafo segundo do artigo 122 do
meio da rede de computadores, de rede social ou Código Penal.
transmitida em tempo real.

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Infanticídio e qualquer pessoa, nos demais casos (crimes comuns). Os
crimes previstos no art. 124 do Código Penal são de mão
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado própria (somente a gestante pode cometê-los). Admitem
puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: apenas participação, e são incompatíveis com a coautoria.
Pena - detenção, de dois a seis anos. Sujeito passivo: O feto. No aborto provocado por
Objetividade jurídica: tutela-se vida, tratando-se terceiro sem o consentimento da gestante (CP, art.125),
de forma especial de homicídio. É o homicídio praticado há duas vítimas: o feto e a gestante.
pela genitora contra o próprio filho, influenciada pelo ATENÇÃO! Na hipótese de vários os fetos (gravidez
estado puerperal, durante ou logo após o parto. Pelo de gêmeos, trigêmeos etc.), haverá concurso formal de
Princípio da Especialidade, a norma especial do art. 123 crimes, ou seja, haverá tantos abortos quantos forem os
derroga a norma geral do homicídio (art. 121). fetos, respondendo apenas por um crime, aumentado de
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, que só 1/6 até 1/2 (art. 70 do CP).
pode ser praticado pela mãe (parturiente), sob influência Conduta: o tipo traz duas formas de conduta: na
do estado puerperal. primeira parte do dispositivo, a mulher grávida, por
ATENÇÃO! Concurso de agentes: a doutrina, em intermédio de meios executivos químicos, físicos ou
sua maioria, admite concurso de agentes, seja na mecânicos, pratica o aborto (autoaborto). Na segunda
modalidade participação (quando há simples auxílio), seja parte, consente que outra pessoa lhe provoque aborto.
na coautoria (quando outrem pratica, juntamente com a Tipo subjetivo: pune-se o aborto somente a título
mãe, o núcleo do tipo), concluindo que o estado puerperal de dolo, consistente na consciente vontade de interromper
é elementar subjetiva do tipo, comunicável nos termos do a gravidez (ou consentir para tanto). Não se pune a
art. 30 CP. modalidade culposa.
Sujeito passivo: o ser humano, durante o parto ou Consumação e tentativa: consuma-se com a
logo após (nascente ou recém-nascido). morte do produto da concepção (crime material). A
Infanticídio putativo - a mãe, sob influência do tentativa é possível, pois delito plurissubsistente.
estado puerperal, logo após o parto, pensando ser seu
filho (vítima virtual), acaba, por engano, matando filho
alheio (vítima real), pratica o crime de infanticídio (Erro Aborto provocado por terceiro
sobre a pessoa). Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da
Conduta: pune-se a conduta da parturiente que, gestante:
sob influência do estado puerperal, mata o próprio filho, Pena - reclusão, de três a dez anos.
nascente ou neonato. Percebe-se a existência de duas
circunstâncias elementares importantes, sem as quais não Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da
se cogita de infanticídio: gestante: (Vide ADPF 54)
a) Elemento cronológico: causar a morte do próprio Pena - reclusão, de um a quatro anos.
filho, durante ou logo após o parto;
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior,
b) Elemento etiológico: ter agido esta sob a se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada
influência do estado puerperal. ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante
fraude, grave ameaça ou violência
 Entende-se por estado puerperal aquele que se
estende do início do parto até a volta da mulher às Objetividade jurídica: vida intrauterina.
condições pré-gravidez (puerpério), trazendo profundas
alterações psíquicas e físicas, transformando a mãe, Sujeito ativo: trata-se de crime comum, que pode
deixando-a sem plenas condições de entender o que está ser cometido por qualquer pessoa.
fazendo. Sujeito passivo: há dupla subjetividade passiva,
Tipo subjetivo: dolo direto ou eventual, figurando como vítimas o feto e a gestante.
consistente na consciente vontade de matar o próprio Conduta: consiste em interromper, violenta e
filho, estando a mãe sob a influência do estado puerperal. intencionalmente, uma gravidez, destruindo o produto da
Consumação e tentativa: consuma-se com a concepção, sem o consentimento válido da gestante.
morte do nascente ou neonato. É crime material. A ATENÇÃO: se a gestante for menor de quatorze
tentativa é admissível (delito plurissubsistente). anos, alienada ou débil mental, ou ainda se o
consentimento é obtido mediante fraude, seu
Aborto provocado pela gestante ou com seu
consentimento não será valido, logo, seria o mesmo que
consentimento
dizer que não houve consentimento (art. 126, parágrafo
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir único).
que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54) Tipo subjetivo: pune-se o crime a título de dolo,
Pena - detenção, de um a três anos. direto ou eventual.
ATENÇÃO! Agente que mata mulher sabendo estar
Objetividade jurídica: tutela-se a vida humana
grávida responde, em concurso formal, pelos crimes de
intrauterina.
homicídio e aborto.
Sujeito ativo: A gestante, nas modalidades
Consumação e tentativa: consuma-se com a
tipificadas pelo art. 124 do Código Penal (crimes próprios),
destruição do feto. Admite-se a tentativa (delito
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plurissubsistente) caso o resultado não seja alcançado por Causas especiais de exclusão da ilicitude - de
circunstâncias alheias à vontade do agente. acordo com a maioria da doutrina, o artigo em comento
traz duas causas especiais de exclusão da ilicitude: o
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode praticar este
aborto necessário e o sentimental.
delito (crime comum). O concurso de agentes é possível,
nas suas duas formas (coautoria e participação). ABORTO NECESSÁRIO (OU TERAPÊUTICO): quando
não há outro meio de salvar a vida da gestante. Não
Sujeito passivo: é apenas o produto da concepção.
pressupõe consentimento da gestante ou autorização
Conduta: a conduta típica permanece a mesma dos judicial. Indispensável se faz o preenchimento de três
artigos precedentes, ou seja, provocar (mediante ação ou condições:
omissão), a interrupção da gravidez, extinguindo o feto,
1) aborto praticado por médico: não é necessário
mas, aqui, com o consentimento válido da gestante.
que o médico seja especialista na área de ginecologia-
 Haverá delito impossível se as manobras obstetrícia. Caso seja necessária a realização do aborto
abortivas forem realizadas em mulher que erroneamente por pessoa sem a habilitação profissional do médico
se suponha grávida (absoluta impropriedade do objeto). (parteira, farmacêutico etc.), apesar de o fato ser típico,
estará o agente acobertado pela descriminante do estado
Tipo subjetivo: dolo, consistente na vontade de necessidade (art. 24), aplicando-se a mesma solução
consciente de provocar abortamento consentido. se a própria gestante pratica o aborto movida pelo espírito
Consumação e tentativa: consuma-se com a de salvar a própria vida;
interrupção da gravidez (crime material), sendo possível a 2) o perigo de vida da gestante: não basta o perigo
tentativa (delito plurissubsistente). para a saúde;
3) a impossibilidade do uso de outro meio para
Forma qualificada salvá-la: não pode o médico escolher o meio mais
cômodo, pois se houver outra maneira, que não a
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos interrupção da gravidez, para salvar a vida da gestante, o
anteriores são aumentadas de um terço, se, em agente responderá pelo crime.
consequência do aborto ou dos meios empregados para
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza ABORTO SENTIMENTAL (HUMANITÁRIO, ÉTICO OU
grave; e são duplicadas, se, por qualquer PIEDOSO): o inciso II trata do aborto no caso de gravidez
dessas causas, lhe sobrevém a morte. resultante de estupro (aborto sentimental). A exclusão do
crime depende de três condições:
Causa especial de aumento de pena - A redação
1) que o aborto seja praticado por médico: caso
do artigo evidencia que as majorantes somente se aplicam
contrário, haverá crime, não se ajustando qualquer causa
ao aborto praticado por terceiro, sem ou com o
legal (ou extralegal) de justificação. Não existindo
consentimento da gestante, definidos nos arts. 125 e 126.
situação de perigo para a vida da gestante, diferente da
São hipóteses de crimes qualificados pelo resultado, de
indicação do inc. I, parece incabível estado de necessidade
natureza preterdolosa (aborto doloso e lesão corporal ou
ou qualquer outra descriminante. Quando praticado pela
morte culposos).
própria gestante (autoaborto), a depender das
 Se em consequência do aborto ou dos meios circunstâncias, pode caracterizar hipótese de
empregados para provocá-lo a gestante sofre lesão inexigibilidade de conduta diversa (causa supralegal de
corporal de natureza leve, o terceiro responde somente exclusão da culpabilidade);
pelo aborto simples, sem ou com o seu consentimento,
2) que a gravidez seja resultante de estupro: o
restando absorvida a lesão corporal.
médico poderá negar-se a realizar o aborto se desconfiar
IMPORTANTE: Aquele que mata dolosamente uma não ter existido estupro. Para tanto, é prudente que ele se
mulher, ciente da sua gravidez, e assim provoca a morte acautele e se convença das alegações da gestante.
do feto, responde por homicídio doloso e também por
3) prévio consentimento da gestante ou seu
aborto, ainda que ausente a intenção de provocar a morte
representante legal: de preferência, que esse
do feto (quando se mata uma mulher grávida há pelo
consentimento seja o mais formal possível (acompanhado
menos dolo eventual quanto ao aborto). Entretanto, se o
de boletim de ocorrência), inclusive com testemunhas.
terceiro ignorava a gravidez, será responsabilizado apenas
por homicídio doloso, sob risco de caracterização da
responsabilidade penal objetiva.
ABORTO EUGÊNICO (Anencefalia) - O STF
reconheceu o direito da gestante de submeter-se à
antecipação terapêutica de parto na hipótese de
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por anencefalia, previamente diagnosticada por profissional
médico: (Vide ADPF 54) habilitado, sem necessidade de apresentar autorização
Aborto necessário judicial ou qualquer outra forma de permissão do Estado.
A decisão se deu em 12/04/2012, por maioria de
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
votos do Plenário da Corte, na Arguição de
Aborto no caso de gravidez resultante de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54,
estupro ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Saúde (CNTS), declarando a inconstitucionalidade de
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de
precedido de consentimento da gestante ou, quando
feto anencéfalo é conduta tipificada nos arts. 124, 126 e
incapaz, de seu representante legal.
128, incs. I e II, todos do Código Penal.

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02. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil)
Terêncio, em razão da condição de sexo feminino, efetua
Previsão disparo de arma de fogo contra sua esposa Efigênia,
Nomenclatura Comentário
legal perceptivelmente grávida, todavia atingindo, por falta de
Aborto natural habilidade no manejo da arma, Nereu, um vizinho, que
_ Não há crime
Aborto acidental morre imediatamente. Desconsiderando os tipos penais
Art. 124, Admite previstos no Estatuto do Desarmamento e levando em
Autoaborto conta apenas as informações contidas no enunciado, é
1ª parte participação.
Coautor correto afirmar que Terêncio praticou crime(s)de:
Aborto consentido ou Art. 124,
responde pelo
procurado 2ª parte a) feminicídio majorado.
art. 126
Aborto Sem b) aborto, na forma tentada, e homicídio.
Art. 125 Admite
provocado consentimento c) homicídio culposo, feminicídio majorado, na forma
coautoria e
por Com tentada, e aborto, na forma tentada.
Art. 126 participação
terceiro consentimento
Resulta lesão d) aborto, na forma tentada, e feminicídio majorado.
grave ou e) homicídio culposo e aborto, na forma tentada.
Aborto qualificado Art. 127
morte culposa
da gestante
Dispensa 03. (2016 – FCC - AL-MS - Agente de Polícia
autorização Legislativo) Micaela, de 19 anos de idade, após manter
Necessário ou Art. 128,
judicial ou um relacionamento ocasional com Rodrigo, de 40 anos de
terapêutico I
consentimento idade, acaba engravidando. Após esconder a gestação
da gestante durante meses de sua família e ser desprezada por
Aborto Dispensa Rodrigo, que disse que não assumiria qualquer
legal autorização responsabilidade pela criança, Micaela entra em trabalho
Sentimental
judicial, mas de parto durante a 40a semana de gestação em sua
ético, Art. 128,
já se exigiu a residência e sem pedir qualquer auxílio aos familiares que
humanitário ou II
confecção de ali estavam, acaba parindo no banheiro do imóvel. A
piedoso
Boletim de criança do sexo masculino nasce com vida e Micaela,
Ocorrência. agindo ainda sob efeito do estado puerperal, corta o
A lei não cordão umbilical e coloca o recém-nascido dentro de um
permite, mas saco plástico, jogando-o no lixo da rua. O bebê entra em
Aborto eugênico ou no caso de óbito cerca de duas horas depois. Neste caso, à luz do
_
eugenésico feto Código Penal, Micaela cometeu crime de
anencefálico, o
a) homicídio culposo.
STF permite
Praticado para b) homicídio doloso.
ocultar
c) aborto.
Aborto honoris causa _ gravidez
adulterina. É d) lesão corporal seguida de morte.
criminoso.
e) infanticídio.
Motivado por
incapacidade
financeira de
Aborto miserável _ 04. (2015 - COPESE – UFPI - Prefeitura de Teresina
sustentar a
– PI - Guarda Civil Municipal) Considera-se causa de
vida do filho. É
diminuição de pena, o fato de o agente ter praticado o
criminoso.
homicídio:
a) Por motivo fútil.
EXERCÍCIOS - CRIMES CONTRA A VIDA
b) Com uso de veneno, fogo, asfixia ou outro meio
01. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil) insidioso ou cruel.
Abigail, depois de iniciado parto caseiro, mas antes de
completá-lo, sob influência do estado puerperal, mata o c) Impelido por relevante valor moral ou social.
próprio filho. Abigail praticou crime de: d) Com recebimento de recompensa.
a) homicídio qualificado. e) À traição ou emboscada.
b) consentimento para o aborto
c) homicídio. 05. (2014 – FGV - Prefeitura de Osasco – SP - Guarda
d) autoaborto. Civil Municipal) Roberto estava na fila de um banco,
quando, por descuido, esbarrou em Renato que estava a
e) infanticídio. sua frente, fazendo com que caísse no chão a pasta que
estava na mão de Renato. Não obstante o pedido de
desculpas, Renato ficou enfurecido, saiu do banco, foi até
seu veículo, pegou uma pistola e aguardou na esquina a

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saída de Roberto do banco. Assim que a vítima cruzou a parto, estando, ainda, sob a influência do estado
esquina, Renato sacou a arma e desferiu cinco disparos puerperal, pratica o crime de infanticídio.
pelas costas de Roberto, levando-o a imediato óbito.
Renato cometeu crime de:
08. (2014 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia) A
a) homicídio simples;
conduta de induzir, instigar ou auxiliar outra pessoa a
b) homicídio qualificado pelo motivo torpe; suicidar-se, que tem como resultado lesão corporal de
natureza leve,
c) homicídio duplamente qualificado pelo motivo torpe e
com recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa a) tem pena duplicada se cometida por motivo egoístico.
do ofendido
b) tem pena agravada se a vítima tem diminuída, por
d) homicídio duplamente qualificado pelo motivo fútil e qualquer causa, a capacidade de resistência.
com recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa
c) não é prevista como crime.
do ofendido
d) tem pena aumentada se a vítima for menor de idade.
e) homicídio triplamente qualificado pelo motivo torpe,
emprego de arma de fogo e com recurso que dificultou e) é punida com pena de 1 (um) a 3 (três) anos.
ou tornou impossível a defesa do ofendido

09. (2014 – FCC - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Técnico


06. (2014 – VUNESP -PC-SP -Atendente de Judiciário - Segurança) De acordo com o Código Penal,
Necrotério Policial) Assinale a alternativa que traz as o crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
duas hipóteses de aborto legal, praticado por médico, terá a pena duplicada se
expressamente previstas no art. 128 do CP.
a) Se o feto sofre de doença incurável, sendo praticado I. o crime ocorrer por motivo egoístico.
com o consentimento da gestante; se há má-formação
fetal que inviabilize a vida extrauterina. II. a vítima for menor ou tiver diminuída, por qualquer
causa, a capacidade de resistência.
b) Se há má-formação fetal que inviabilize a vida
extrauterina; se não há outro meio de salvar a vida da III o suicídio se consumar.
gestante. IV. da tentativa de suicídio resultar lesão corporal de
c) Se não há outro meio de salvar a vida da gestante; se natureza grave.
praticado com o consentimento dela, tendo sido a
gravidez resultada de estupro. Está correto o que se afirma APENAS em
d) Se o feto sofre de doença incurável, sendo praticado a) III e IV.
com o consentimento da gestante; se praticado com o
consentimento da gestante, tendo sido a gravidez b) II e IV.
resultada de estupro. c) I e III.
e) Se a gestante é menor de idade, sendo o d) I e II.
procedimento autorizado pelos responsáveis; se
praticado com o consentimento da gestante, tendo sido a e) II e III.
gravidez resultada de estupro.

10. (2013 – FCC - TRT - 15ª Região - Técnico


07. (2014 – FUNCAB - SSP-SE - Papiloscopista) Judiciário - Segurança) O autor de homicídio praticado
Quanto ao crime de infanticídio, é correto o que se afirma com a intenção de livrar um doente, que padece de
na alternativa: moléstia incurável, dos sofrimentos que o atormentam
(eutanásia), perante a legislação brasileira,
a) Se a mãe não quis ou assumiu o risco da morte do filho,
não se configura crime de infanticídio, em qualquer das a) não cometeu infração penal.
formas, eis que inexiste para o crime de infanticídio forma b) responderá por crime de homicídio privilegiado.
culposa.
c) responderá por homicídio qualificado pelo motivo
b) É um crime comum, de perigo, formal, plurissubjetivo, torpe.
comissivo, instantâneo de efeitos permanentes,
complexo. d) responderá por homicídio simples.
c) É sujeito passivo, no crime de infanticídio, a mãe que e) responderá por homicídio qualificado pelo motivo fútil.
mata o próprio filho durante ou logo após o parto sob a
influência do estado puerperal e, sujeito ativo, seu próprio
filho. 11. (Vunesp - Delegado de Polícia - SP/2014) "X"
estaciona seu automóvel regularmente em uma via
d) Pratica o crime de infanticídio a mãe que mata o óvulo
pública com o objetivo de deixar seu filho, "Z", na pré-
fecundado após a nidação, o embrião ou o feto sob a
escola, entretanto, ao descer do veículo para abrir a porta
influência do estado puerperal.
para "Z", não percebe que, durante esse instante, a
e) O estado puerperal pode durar muito tempo, portanto, criança havia soltado o freio de mão, o suficiente para que
a mãe que mata seu próprio filho uma semana após o o veículo se deslocasse e derrubasse um idoso, que vem

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a falecer em razão do traumatismo craniano causado pela b) o homicídio privilegiado-qualificado não é admitido,
queda. Em tese, "X" tendo em conta a incompatibilidade entre a hediondez e o
privilégio.
a) responderá pelo crime de homicídio culposo com pena
mais severa do que a estabelecida no Código Penal, nos c) a tortura não pode ser considerada qualificadora, uma
termos do Código de Trânsito Brasileiro. vez que possui tratamento próprio em legislação
específica,
b) responderá pelo crime de homicídio culposo,
entretanto, a ele poderá ser aplicado o perdão judicial. d) o motivo fútil não se comunica em caso de concurso de
agentes, em razão de sua natureza objetiva.
c) não responde por crime algum, uma vez que não agiu
com dolo ou culpa.
d) responderá pelo crime de homicídio doloso por dolo 15. (Vunesp - Escrivão de Polícia- SP/2013) Analise
eventual. as informações apresentadas a seguir e classifique-as
como (V) verdadeira ou (F) falsa.
e) responderá pelo crime de homicídio culposo em razão
de sua negligência. O crime de homicídio é qualificado, nos expressos termos
do § 2º do art. 121 do CP, se cometido
( ) para assegurar a execução, a ocultação, a
12. (Vunesp - Juiz de Direito Substituto- SP/2014)
impunidade ou vantagem de outro crime.
Analise estas duas hipóteses isoladas: 1º) o agente matou
o indivíduo que estuprou sua filha menor e 2º) o agente, ( ) por funcionário público no exercício de suas
que é traficante de drogas, matou seu concorrente para funções.
dominar o comércio de drogas no bairro. Relativamente ao
( ) durante o repouso noturno.
crime de homicídio, escolha a opção que indique,
respectivamente, o que, em tese, cada uma destas A classificação correta, de cima para baixo, é:
situações poderia significar num eventual Júri:
a) V, V, F.
a) atenuante genérica; agravante genérica.
b) F, V, V.
b) atenuante genérica; causa de aumento de pena.
c) V, F, V.
c) causa de diminuição de pena; qualificadora.
d) V, F, F.
d) causa de diminuição de pena; agravante genérica.
e) V, V, V.

13. (UEL- Delegado de Polícia - PR/2013) Leia o texto


a seguir. Paulo, diante de séria discussão com Pedro, 16. (Vunesp - Escrivão de Polícia- SP/2013) A
dirigiu-se até a sua residência e, visando causar mal hipótese do art. 121, § 5º do CP, doutrinariamente
injusto contra este, apanhou uma arma de fogo e, de denominada de perdão judicial, aplica-se ao homicídio
dentro de seu quintal mas em direção à via pública, a) cometido por relevante valor moral.
efetuou vários disparos contra a pessoa de Pedro. Vale
ressaltar que Paulo tinha registro de sua arma de fogo e b) culposo.
que Pedro foi socorrido por terceiros e não veio a óbito. c) privilegiado (caso de diminuição de pena).
Diante do caso exposto, Paulo responderá pelo crime de
d) cometido sob o domínio de violenta emoção, logo em
a) tentativa de homicídio, em concurso material com o seguida a injusta provocação da vítima.
crime de disparo de arma de fogo, por força do Art. 69 do
Código Penal. e) cometido por relevante valor social.

b) tentativa de homicídio, em concurso formal com o crime


de disparo de arma de fogo, por força do Art. 70 do Código 17. (UEG- Delegado de Polícia- G0/2013) Caio,
Penal. desejando matar Túlio, dispara projéteis de arma de fogo
c) tentativa de homicídio, não respondendo pelo crime de contra seu desafeto. Túlio, alvejado, cai e permanece
disparo de arma de fogo, haja vista que este é crime inerte no chão enquanto Caio retira-se do local.
subsidiário. Observando a cena, Lívio aproxima-se com intenção de
despojar a vítima de seus bens e, ao retirar o relógio, nota
d) tentativa de homicídio, em continuidade delitiva com o que Túlio esboça reação quando, então, Lívio utiliza uma
crime de disparo de arma de fogo, por força do Art. 71 do pedra para acertar-lhe a cabeça. Túlio vem a óbito e no
Código Penal. exame cadavérico o legista atesta que a morte ocorreu por
e) disparo de arma de fogo, não respondendo pela concussão cerebral. No caso, responderão Caio e Lívio,
tentativa de homicídio, haja vista que o crime definido no respectivamente, por:
Art. 15 da Lei10.826/2003 tutela a segurança pública. a) homicídio consumado e roubo próprio.
b) homicídio tentado e latrocínio.
14. (UEG- Agente de Polícia - GO/2013) Quanto às c) homicídio tentado e roubo impróprio.
qualificadoras no crime de homicídio, tem-se que
d) homicídio consumado e latrocínio.
a) torpe é o motivo vil, moralmente reprovável,
repugnante, como no caso do homicídio mercenário.

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18. (MPE-SP - Promotor de Justiça - SP/2015) O b) O afastamento da qualificadora, tendo em vista que
agente que, para livrar sua esposa, deficiente física em esta somente pode ser aplicada aos crimes de aborto
fase terminal em razão de doença incurável, de graves provocado por terceiro, com ou sem consentimento da
sofrimentos físico e moral, pratica eutanásia com o gestante, mas não para o delito de autoaborto de Pâmela.
consentimento da vítima, deve responder, em tese:
c) A desclassificação para o crime de lesão corporal grave,
a) por homicídio qualificado pelo feminicídio, pois o afastando a condenação pelo aborto.
consentimento da ofendida nenhuma consequência.
d) O reconhecimento da tentativa do crime de aborto
b) por homicídio qualificado pelo feminicídio, agravado qualificado pelo resultado.
pelo fato de ter sido praticado contra pessoa deficiente, já
que o consentimento da ofendida é irrelevante para efeitos
penais. GABARITO – CRIMES CONTRA A VIDA
c) por homicídio privilegiado, já que agiu por relevante 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
valor social, que compreende também os interesses E D E C D C A C D B
coletivos, entre eles os humanitários. 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
d) por homicídio privilegiado, já que agiu por relevante C C C A D B B D C A
valor moral, que compreende também seus interesses
individuais, entre eles a piedade e a paixão.
2. DAS LESÕES CORPORAIS (ARTS. 129)
e) por homicídio privilegiado, pois o estado da vítima faz
com que pratique o crime sob o domínio de violenta
emoção. CAPÍTULO II
DAS LESÕES CORPORAIS

19. (FGV- Exame de Ordem 2015.1) Paloma, sob o Lesão corporal


efeito do estado puerperal, logo após o parto, durante a Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde
madrugada, vai até o berçário onde acredita encontrar-se de outrem:
seu filho recém-nascido e o sufoca até a morte,
retornando ao local de origem sem ser notada. No dia Pena - detenção, de três meses a um ano.
seguinte, foi descoberta a morte da criança e, pelo circuito
Lesão corporal de natureza grave
interno do hospital, é verificado que Paloma foi a autora
do crime. Todavia, constatou-se que a criança morta não § 1º Se resulta:
era o seu filho, que se encontrava no berçário ao lado,
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por
tendo ela se equivocado quanto à vítima desejada.
mais de trinta dias;
Diante desse quadro, Paloma deverá responder pelo crime
II - perigo de vida;
de
III - debilidade permanente de membro, sentido ou
a) homicídio culposo.
função;
b) homicídio doloso simples.
IV - aceleração de parto:
c) infanticídio.
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
d) homicídio doloso qualificado
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
20. (FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado -
II - enfermidade incurável;
XXII - Primeira Fase) Acreditando estar grávida, Pâmela,
18 anos, desesperada porque ainda morava com os pais e III perda ou inutilização do membro, sentido ou
eles sequer a deixavam namorar, utilizando um função;
instrumento próprio, procura eliminar o feto sozinha no
banheiro de sua casa, vindo a sofrer, em razão de tal IV - deformidade permanente;
comportamento, lesão corporal de natureza grave. V - aborto:
Encaminhada ao hospital para atendimento médico, fica
constatado que, na verdade, ela não se achava e nunca Pena - reclusão, de dois a oito anos.
esteve grávida. O Hospital, todavia, é obrigado a noticiar Lesão corporal seguida de morte
o fato à autoridade policial, tendo em vista que a jovem
de 18 anos chegou ao local em situação suspeita, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias
lesionada. Diante disso, foi instaurado procedimento evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
administrativo investigatório próprio e, com o recebimento assumiu o risco de produzi-lo:
dos autos, o Ministério Público ofereceu denúncia em face Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
de Pâmela pela prática do crime de “aborto provocado pela
gestante", qualificado pelo resultado de lesão corporal Diminuição de pena
grave, nos termos dos Art. 124 c/c o Art. 127, ambos do
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo
Código Penal. Diante da situação narrada, assinale a opção
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de
que apresenta a alegação do advogado de Pâmela.
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
a) A atipicidade de sua conduta. vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

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Substituição da pena  A dor, por si só, não caracteriza lesão corporal.
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda As lesões podem ser divididas quanto ao elemento
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos subjetivo e intensidade:
mil réis a dois contos de réis:
Quanto ao elemento Quanto à intensidade
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo subjetivo
anterior; a) dolosa simples a) leve (caput);
II - se as lesões são recíprocas. (caput); b) grave (§ 1º);
b) dolosa qualificada (§§ c) gravíssima (§ 2º);
Lesão corporal culposa 1º, 2º e 3º); d) seguida de morte (§
§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de c) dolosa privilegiada (§§ 3º).
1965) 4º e 5º);
d) culposa (§ 6º).
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Aumento de pena Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ATENÇÃO: a lei não pune a autolesão (Princípio da
ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 Alteridade: ninguém pode ser punido por causar mal
deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de apenas a si próprio).
2012)
Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Em alguns
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º casos o tipo penal exige uma situação diferenciada em
do art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) relação à vítima – na lesão corporal grave ou gravíssima
Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº a vítima deve ser mulher grávida (para possibilitar a
10.886, de 2004) aceleração do parto ou o aborto – CP, art. 129, § 1º, IV,
e § 2º, V); na lesão qualificada pela violência doméstica a
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, vítima precisa ser ascendente, descendente, irmã,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com cônjuge ou companheira do agressor.
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de Conduta: consiste em ofender - direta ou
coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº indiretamente - a integridade corporal ou a saúde de
11.340, de 2006) outrem, quer causando uma enfermidade, quer agravando
a que já existe.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
(Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Tipo subjetivo: Em geral é o dolo, direto ou
eventual, (animus laedendi ou animus nocendi) – caput e
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, §§ 1º, 2º e 9º. Mas há também a culpa (§ 6º) e o
se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, preterdolo (§ 3º).
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei
nº 10.886, de 2004) Consumação e tentativa: Consuma-se com a
efetiva lesão à integridade corporal ou à saúde da vítima
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será (crime de dano). A tentativa é admissível nas modalidades
aumentada de um terço se o crime for cometido contra dolosas, mas incabível na lesão culposa e na lesão corporal
pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº seguida de morte.
11.340, de 2006)
Graus de intensidade da lesão corporal dolosa
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou - a lesão corporal dolosa pode ser de natureza leve, grave,
agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição gravíssima e seguida de morte.
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou 1. Lesão corporal leve ou simples (art. 129,
em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro caput): por exclusão, a lesão corporal dolosa que não seja
ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão grave, gravíssima ou praticada com violência doméstica e
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois familiar contra a mulher. A prova da materialidade é feita
terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) com o exame de corpo de delito.

§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por ATENÇÃO! O princípio da insignificância pode ser
razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º- invocado no caso de a lesão ser ínfima, levíssima, como
A do art. 121 deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, um puxão de cabelo, beliscão etc.
de 2021) 2. Lesão corporal de natureza grave (art. 129,
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro § 1º): hipótese de lesões qualificadas pelo resultado,
anos). (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) podendo o evento ser querido ou aceito pelo agente (dolo
direto ou eventual) ou culposamente provocado (culpa),
Lesão corporal é a ofensa humana direcionada à caso em que teremos o preterdolo.
integridade corporal ou à saúde de outra pessoa. Depende
a) Incapacidade para as ocupações habituais, por
da produção de algum dano no corpo da vítima, interno ou
mais de trinta dias: entende-se por ocupação habitual
externo, englobando qualquer alteração prejudicial à sua
qualquer atividade corporal costumeira, tradicional, não
saúde, inclusive problemas psíquicos. São exemplos de
necessariamente ligada a trabalho, abrangendo também o
ofensa à integridade física as fraturas, fissuras,
estudo.
escoriações, queimaduras e luxações, a equimose e o
hematoma.

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b) Perigo de vida: o perigo precisa ser comprovado ATENÇÃO! Tratando-se de órgãos duplos, a lesão,
por perícia. A simples região da lesão, por si só, não indica para ser qualificada como gravíssima, deve atingir ambos.
perigo de vida.
 É também gravíssima a lesão que produz a
c) Debilidade permanente de membro, sentido ou impotência generandi (em um e outro sexo) ou a coeundi.
função: resultando do evento diminuição (redução) ou
d) Deformidade permanente: caracteriza
enfraquecimento da capacidade funcional de membro,
deformidade permanente o dano estético, aparente,
sentido ou função, cuja recuperação seja incerta e por
considerável, irreparável pela própria força da natureza e
tempo indeterminado (não significa perpetuidade), a lesão
capaz de provocar impressão vexatória (desconforto para
será de natureza grave.
quem olhe e humilhação para a vítima).
IMPORTANTE: Membros são os braços, pernas,
e) Aborto: por fim, considera-se de natureza
mãos e pés. Os dedos integram os membros, e a perda ou
gravíssima a lesão se dela resulta o abortamento. Trata-
a diminuição funcional de um ou mais dedos acarreta na
se de crime preterdoloso, havendo dolo na lesão e culpa
debilidade permanente das mãos ou dos pés. Sentidos
no aborto (interrupção da gravidez).
são: visão, audição, tato, olfato e paladar. Função é a
atividade inerente a um órgão ou aparelho do corpo ATENÇÃO! É possível a coexistência de
humano. qualificadoras, inclusive de natureza grave (§ 1º) e
gravíssima (§ 2º). Nesse caso, o crime permanece único,
ATENÇÃO! Na hipótese de órgãos duplos (olhos,
aplicando-se as penas do parágrafo mais grave (§ 2º).
ouvidos), a perda de um deles caracteriza lesão grave pela
debilidade permanente e a perda de ambos configura 4. Lesão corporal seguida de morte (§ 3°):
lesão gravíssima pela perda ou inutilização. também chamada pela doutrina de homicídio preterdoloso
(ou preterintencional), aqui o agente, querendo apenas
d) Aceleração de parto: é a antecipação do parto
ofender a integridade ou a saúde de outrem, acaba por
(parto prematuro) em decorrência da lesão corporal
matá-lo culposamente.
produzida na gestante. A criança nasce viva e continua a
viver, exigindo-se o conhecimento da gravidez da vítima, ATENÇÃO! Não se trata de crime contra a vida, pois
pois se o agente a ignorava, não responderá pela falta o animus necandi, logo, não é da competência do júri.
qualificadora.
Lesão corporal dolosa privilegiada (§ 4°):
ATENÇÃO! Se o feto for expulso morto do ventre Causa de diminuição de pena que incide unicamente no
materno o crime será de lesão corporal gravíssima em tocante às lesões dolosas, qualquer que seja sua
razão do aborto. modalidade. O dispositivo repete as mesmas situações
descritas em relação ao privilégio no crime de homicídio
3. Lesões corporais gravíssimas (art. 129, §
doloso (art. 121).
2º): É a segunda forma qualificada prevista no artigo,
sendo a nomenclatura dada pela doutrina. A lesão corporal  Não é cabível na lesão corporal culposa.
é considerada gravíssima se dela resultar:
Lesões corporais leves e substituição da pena
a) Incapacidade permanente para o trabalho: aqui, (art. 129, § 5º): O juiz, não sendo graves as lesões, pode
ao contrário do que ocorria no inciso I do § 1º, a substituir a pena de detenção pela pena de multa em duas
incapacidade é para o trabalho (labuta, profissão, situações:
emprego, ofício etc.), permanente (não mais temporária),
absoluta (não basta ser relativa), duradoura no tempo e I – se ocorrer qualquer das hipóteses do § 4º do art.
sem previsibilidade de cessação. 129 (se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de
b) Enfermidade incurável: entende-se esta como violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
sendo a alteração permanente da saúde em geral por vítima); e
processo patológico, ou seja, a transmissão intencional de
uma doença para a qual não existe cura no estágio atual II – se as lesões forem recíprocas.
da medicina. A doutrina também considera incurável a  O dispositivo é aplicável somente à lesão corporal
enfermidade se o restabelecimento da saúde depender de leve.
intervenções cirúrgicas arriscadas ou tratamentos
incertos, não estando a vítima obrigada a aventurar-se por Lesão corporal culposa (§ 6°): É a conduta típica
caminhos para os quais a própria medicina ainda não descrita pelo caput, quando praticada mediante culpa.
reconhece sucesso. Trata-se de tipo penal aberto, devendo o intérprete utilizar
um juízo de valor para, com base no critério do homem
 O STJ, através da sua 5ª Turma, decidiu que a médio, constatar se quando da conduta, cometida com
transmissão consciente da síndrome da imunodeficiência imprudência, negligência ou imperícia, era possível ao
adquirida (vírus HIV) caracteriza lesão corporal de agente prever objetivamente a produção do resultado.
natureza gravíssima, enquadrando-se a enfermidade
perfeitamente no conceito de doença incurável, previsto  Caso a lesão corporal culposa se dê na direção de
no artigo 129, § 2°, II, do CP (HC 160.982/DF). veículo automotor, a conduta será ajustada ao disposto no
art. 303 da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro).
c) Perda ou inutilização de membro, sentido ou
função: É circunstância mais grave do que a do parágrafo ATENÇÃO! Não há distinção com base na gravidade
anterior, pois não mais se fala em debilidade, mas sim em dos ferimentos.
perda (amputação ou mutilação) ou inutilização (membro, IMPORTANTE: Existem várias decisões do STJ
sentido ou função inoperante, isto é, sem qualquer reconhecendo no crime culposo a perfeita aplicação do
capacidade de exercer suas atividades próprias). princípio da insignificância.

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Lesão corporal culposa e aumento de pena terço) quando a vítima for pessoa portadora de
(art. 129, § 7º): A pena será aumentada de 1/3 se o deficiência. Esse dispositivo foi acrescentado pela Lei
crime resultar de inobservância de regra técnica de 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Deve tratar-se de
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixar de prestar pessoa portadora de deficiência e ligada ao autor do crime
imediato socorro à vítima, não procurar diminuir as pelos laços de violência doméstica indicados pelo § 9º do
consequências do seu ato, ou fugir para evitar prisão em art. 129 do CP.
flagrante (CP, art. 121, § 4º, 1ª parte).
ATENÇÃO! Pessoa portadora de deficiência é
Aumento de pena na lesão corporal dolosa aquela que, em consequência de alguma enfermidade,
(art. 129, § 7º): Na hipótese de lesão corporal dolosa, permanente ou transitória, enfrenta debilidade em sua
qualquer que seja sua modalidade, a pena será capacidade física ou mental.
aumentada de 1/3 se o crime for praticado contra pessoa
Lesão corporal contra autoridade ou agente de
menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos,
segurança pública (§ 12): a Lei 13.142/15 alterou o art.
ou então por milícia privada, sob o pretexto de prestação
129 para acrescentar o § 12, que majora a pena da lesão
de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
corporal (dolosa, leve, grave, gravíssima ou seguida de
Perdão judicial (§ 8º): na lesão corporal culposa, morte) de um a dois terços quando praticada contra
aplica-se o perdão judicial na forma estabelecida para o autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
homicídio culposo, previsto no § 5° do art. 121, podendo Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
o juiz deixar de aplicar a pena quando as consequências Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
que a sanção penal se torne desnecessária. companheiro ou parente consanguíneo até o 3º grau, em
razão dessa condição.
Violência doméstica e familiar (§ 9°): trata-se
de qualificadora da lesão corporal dolosa de natureza leve
(art. 129, caput), cuja pena passa a ser de 3 meses a 3
Qualificadora para a lesão corporal simples
anos de detenção, deixando, assim, de ser crime de menor
cometida contra a mulher (§ 13):
potencial ofensivo.
O § 13 do art. 129 do CP, inserido pela Lei nº
 Se além das hipóteses previstas no § 9°, a vítima
14.188/2021, traz qualificadora para a lesão corporal
(homem ou mulher) for portadora de deficiência, incidirá
simples cometida contra a mulher, punindo duas situações
um aumento de pena de um terço (§ 11).
distintas:
A violência doméstica ocorrerá quando o crime for
a) Lesão corporal praticada contra mulher no
praticado contra:
contexto de violência doméstica e familiar;
a) ascendente, descendente ou irmão: não
b) Lesão corporal praticada contra mulher em razão
importa se o parentesco é legítimo ou ilegítimo, faz incidir
de menosprezo ou discriminação ao seu gênero.
o tipo majorante. Nesses casos, é dispensável a
coabitação entre o autor e a vítima, bastando existir a
referida relação parental.
a) Lesão corporal praticada contra mulher no
b) cônjuge ou companheiro: a lei buscou contexto de violência doméstica e familiar
proteger, também, a vítima companheira (união estável),
até então desamparada por qualquer agravante, em É preciso contextualizar o tema de acordo com a
respeito ao princípio da legalidade estrita. definição de “violência doméstica e familiar” encontrada
no art. 5º da Lei n.° 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
c) com quem conviva ou tenha convivido:
haverá violência doméstica na agressão contra pessoa Desse modo, conclui-se que, mesmo no caso de
(que não ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou lesão corporal praticada no contexto de violência
companheiro) com quem o agente conviva ou tenha doméstica e familiar, será indispensável que o crime
convivido, como na república de estudantes, por exemplo. envolva o gênero (“razões de condição de sexo feminino”).

d) prevalecendo-se o agente das relações A definição de “razões de condição de sexo


domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: a feminino” é dada pelo § 2º-A do art. 121 do CP:
hipótese necessariamente pressupõe que o agente se “Considera-se que há “razões de condição de sexo
valha da vantagem doméstica, de coabitação ou de feminino” quando o crime envolve:
hospitalidade em relação à vítima, por exemplo, as
agressões praticadas pela babá contra a criança. I - violência doméstica e familiar;

Violência doméstica e familiar (§ 10): se II - menosprezo ou discriminação à condição de


presentes as mesmas circunstâncias do parágrafo anterior mulher.
(crime praticado contra ascendente, descendente, irmão, Ex.1: marido que pratica lesão corporal contra a
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha mulher porque acha que ela não tem “direito” de se
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das separar dele.
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade),
aumenta-se em 1/3 a pena da lesão corporal de natureza Ex.2: companheiro que pratica lesão corporal contra
grave, gravíssima e seguida de morte (§§ 1°, 2° e 3°). a sua companheira porque quando chegou em casa o
jantar não estava pronto.
Pessoa portadora de deficiência e aumento de
pena na lesão corporal leve com violência doméstica
(art. 129, § 11): A pena da lesão corporal leve cometida
com violência doméstica será aumentada de 1/3 (um

| 16 |
ATENÇÃO! Ainda que a violência aconteça no pelo local e presenciou o crime. Rodrigo consegue segurar
ambiente doméstico ou familiar e mesmo que tenha a Paulo para efetuar a prisão. Entretanto, Paulo desfere um
mulher como vítima, não se aplicará o art. 129, § 13 do soco no rosto de Rodrigo, lesionando-o, e consegue
CP se não existir, no caso concreto, uma motivação empreender fuga. Nesse caso, Paulo, além do delito de
baseada no gênero (“razões de condição de sexo furto,
feminino”). a) cometeu crime de desobediência e lesão corporal
Ex: duas irmãs, que vivem na mesma casa, dolosa.
disputam a herança do pai falecido; determinado dia, b) cometeu crimes de resistência e lesão corporal dolosa.
durante uma discussão sobre a herança, uma delas pratica c) não cometeu nenhum crime.
lesão corporal contra a outra; esse crime foi cometido com
d) cometeu crime de lesão corporal dolosa.
violência doméstica, já que envolveu duas pessoas que
tinha relação íntima de afeto, mas não se aplicará o § 13 e) cometeu crime de resistência qualificada, pois o ato não
do art. 129 porque não foi uma lesão baseada no gênero foi executado em razão da resistência.
(não houve violência de gênero, menosprezo à condição
de mulher), tendo a motivação do delito sido meramente 03. (2015 – FGV - Prefeitura de Paulínia – SP -
patrimonial. Guarda Municipal) Determinado Guarda Municipal, fora
do exercício de sua função, mas ainda com a roupa do
serviço, chega a sua residência cansado do trabalho e, em
b) Menosprezo ou discriminação à condição de virtude de sua conduta descuidada, realiza um brusco
mulher movimento, que faz com que seu filho caia da escada e
Para ser enquadrado neste inciso, é necessário que, sofra lesões gravíssimas, ficando em coma por cerca de
além de a vítima ser mulher, fique caracterizado que o 02 meses. Após sua recuperação, a vítima, que ficou
crime foi motivado ou está relacionado com o menosprezo tetraplégica, decide representar em face do pai,
ou discriminação à condição de mulher. demonstrando interesse em vê-lo processado
criminalmente. O pai fica arrasado, pois, além de seu filho
Ex: funcionário de uma empresa que pratica lesão ter ficado tetraplégico, não o perdoou por sua
corporal contra a sua colega de trabalho em virtude de ela imprudência. De acordo com a situação narrada, o crime
ter conseguido a promoção em detrimento dele, já que, praticado pelo funcionário foi de:
em sua visão, ela, por ser mulher, não estaria capacitada
a) lesão corporal gravíssima, podendo ser aplicada pena
para a função.
de 02 a 08 anos de reclusão;
b) lesão corporal culposa, sendo que a consequência do
crime para a vítima é tratada pelo Código Penal como
EXERCÍCIOS – LESÕES CORPORAIS
causa de aumento de pena de 1/3 a 1/2;
01. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil) c) lesão corporal grave, pois resultou em debilidade
Assinale a hipótese que contempla um crime de permanente de membro, sentido ou função, cuja pena em
violência doméstica (art. 129, § 9o, CP). abstrato é de 01 a 05 anos de reclusão;
a) Manolo, ao chegar bêbado em casa e sem qualquer d) lesão corporal culposa, sendo possível a aplicação do
intenção especial, passa a bater em seu filho Ernesto, de perdão judicial;
18 anos, que, por respeito ao pai, não revida. No evento,
Ernesto suporta lesões leves. e) lesão corporal culposa, cabendo aplicação de causa de
diminuição de pena em razão das consequências do crime
b) Casemiro, desejando lesionar a própria mãe, tenta para o autor do fato.
golpeá-la com um bastão, mas erra o alvo, atingindo um
vaso. Aterrorizada, a vítima se encolhe esperando novo
golpe, mas Casemiro, que poderia prosseguir com a ação, 04. (2014 – VUNESP - PC-SP - Atendente de
se apieda, cessando a execução do crime. Necrotério Policial) No que concerne ao crime de lesão
c) Bertoldo, em casa, ao efetuar reparos em um lustre, corporal culposa,
culposamente deixa cair uma ferramenta sobre a cabeça a) se o agente comete o crime impelido por motivo de
da esposa, que segurava a escada, ferindo-a levemente. relevante valor social ou moral, o juiz pode reduzir a pena
d) Durante uma discussão com a ex-esposa sobre a de um sexto (1/6) a um terço (1/3).
guarda dos filhos, Gervásio desfere um soco na boca da b) aumenta-se a pena de 1/4 (um quarto) se o agente
mulher, quebrando vários de seus dentes, o que, deixa de prestar imediato socorro à vítima ou não procura
consoante laudo pericial, lhe causa debilidade permanente diminuir as consequências do seu ato.
de função. c) aumenta-se a pena de 1/4 (um quarto) se o crime
e) Marinalva. que coabita com a amiga Soraia. irritada resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
com o fato de a amiga não ajudar na limpeza da casa, dá arte ou ofício.
um empurrão nesta, que se desequilibra e bate com a d) o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
cabeça na parede, ficando desacordada por cinco minutos. consequências da infração atingirem o próprio agente de
Ao acordar, a vítima, apesar de sentir dores por dois dias, forma tão grave que a sanção penal se torne
se recupera plenamente, contando com a assistência de desnecessária.
Marinalva, a qual não pretendia o resultado.
e) se o agente comete o crime sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima,
02. (2016 – FCC - AL-MS - Agente de Polícia o juiz pode reduzir a pena de um sexto (1/6) a um terço
Legislativo) Paulo, após subtrair a bolsa de Regina, é (1/3).
perseguido pelo cidadão Rodrigo, particular que passava

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05. (2014 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia) c) somente pelo crime de resistência.
Considere que João e José se agrediram mutuamente e d) pelos crimes de resistência e lesões corporais leves.
que as lesões recíprocas não são graves. Nesta hipótese,
e) pelos crimes de desobediência e resistência.
o art. 129, § 5.º do CP prescreve que ambos podem:
a) ser beneficiados com a exclusão da ilicitude
10. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia)
b) ser beneficiados com o perdão judicial.
Fabrício conduzia um trator no interior de sua fazenda,
c) ter as penas de reclusão substituídas por prisão simples. arando a terra para uma plantação, quando, por descuido,
d) ser beneficiados com a exclusão da culpabilidade. atropelou Laurete, que foi internada e perdeu uma das
e) ter as penas de detenção substituídas por multa. pernas. Assim, Fabrício:
a) praticou o crime de lesão corporal previsto no Código
de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997).
06. (2014 – FCC - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Técnico
Judiciário - Segurança) De acordo com o Código Penal, b) praticou o crime de lesão corporal grave pela debilidade
se o resultado da lesão corporal for grave, o autor do crime permanente de membro, previsto no artigo 129, § 1º, III,
estará sujeito à pena de reclusão de dois a oito anos na do CP.
hipótese de c) praticou o crime de lesão corporal grave pela perda de
a) incapacidade para as funções habituais, por mais de membro, previsto no artigo 129, § 2º, III, do CP.
trinta dias. d) praticou o crime de lesão corporal culposa, previsto no
b) incapacidade permanente para o trabalho. artigo 129, § 6º do CP.
c) perigo de vida. e) não praticou crime.
d) debilidade permanente de membro, sentido ou função.
e) aceleração de parto. GABARITO – LESÕES CORPORAIS
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
07. (2014 – FCC - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Técnico A D D D E B A C D D
Judiciário - Segurança) No Código Penal, nos crimes de
injúria, infanticídio e lesão corporal, os bens jurídicos
3. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (ARTS. 130 A 136)
tutelados são, respectivamente, a
a) honra, a vida e a integridade física.
b) vida, a honra e a integridade física. CAPÍTULO III
c) honra, a integridade física e a vida. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
d) integridade física, a vida e a honra. Perigo de contágio venéreo
e) vida, a integridade física e a honra.
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações
sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia
08. (2013 – FCC - TRT - 15ª Região - Técnico venérea, de que sabe ou deve saber que está
Judiciário - Segurança) A respeito do crime de lesões contaminado:
corporais, é correto afirmar:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
a) É grave a lesão quando provocar aborto, mas não o é
quando provocar apenas aceleração de parto. § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
b) Se o agente agrediu a vítima, assumindo o risco de Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
causar-lhe a morte, responderá por lesão corporal seguida
de morte, se ela vier a óbito. § 2º - Somente se procede mediante representação.

c) O perigo de vida só é causa de agravamento de pena Objetividade jurídica: é a incolumidade física e a


quando for efetivo, concreto e resultar de diagnóstico saúde da pessoa, exposta por meio de relações sexuais ou
médico fundamentado. qualquer ato libidinoso, ao contágio de moléstia venérea.
d) A lesão corporal que ocasionou a incapacidade do Sujeito ativo: qualquer pessoa, desde que
ofendido para as ocupações habituais por mais de trinta portadora de moléstia venérea, seja homem ou mulher,
dias não depende de exame de corpo de delito pode ser sujeito ativo do crime.
complementar.
Sujeito passivo: qualquer pessoa pode ser vítima.
e) Se da lesão resultar a perda de um olho não ocorrerá
Irrelevante o consentimento desta. A doutrina reconhece
debilidade permanente de função, por tratar-se de órgão
a existência do delito ainda que a exposição tenha ocorrido
duplo.
entre cônjuges.
Conduta: expor é colocar alguém ao alcance de
09. (2013 – FCC - TRT - 15ª Região - Técnico
determinada situação de perigo (contaminação) mediante
Judiciário - Segurança) No momento em que um
a prática de relações sexuais ou qualquer outro ato
policial, em cumprimento a mandado judicial, deu voz de
libidinoso capaz de contagiá-lo com a moléstia venérea.
prisão a Brutus, seu irmão Paulus interveio e impediu a
execução do ato, agredindo o policial a socos e pontapés, Elemento subjetivo: Na modalidade simples
causando-lhe ferimentos leves. Paulus responderá (caput) é o dolo de perigo, que pode ser direto ou
a) pelo crime de desobediência. eventual. Na figura qualificada (§ 1º), cuida-se de crime
de perigo com dolo de dano, uma vez que o sujeito tem a
b) somente pelo crime de lesões corporais leves.

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intenção de transmitir a moléstia de que está Conduta: pune-se aquele que, de qualquer forma
contaminado, sendo dispensável a efetiva transmissão. (crime de ação livre), coloca pessoa certa e determinada
em perigo de dano direto, efetivo e iminente.
Consumação e tentativa: consuma-se no
momento da prática do aro sexual capaz de transmitir a Tipo subjetivo: consistente na vontade consciente
moléstia venérea (crime formal). A tentativa é possível. de, mediante ação ou omissão, colocar a vida ou a saúde
de pessoa(s) determinada(s) em perigo. O dolo pode ser
ATENÇÃO! A Aids não é moléstia venérea.
direto ou eventual.
Consumação e tentativa: consuma-se com o
Perigo de contágio de moléstia grave surgimento do risco (crime de perigo concreto). Se
resultar dano, como a morte ou lesões graves, o crime de
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem perigo restará absorvido pelo crime mais grave. Admite-
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de se a forma tentada.
produzir o contágio:
Causa de aumento de pena (parágrafo único):
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Trata-se de causa de aumento de pena inerente à
segurança viária, ou seja, é crime de trânsito localizado
Objetividade jurídica: é a vida e a saúde da
no Código Penal. Sua principal finalidade é punir mais
pessoa.
severamente (aumento de 1/6 a 1/3) o transporte de
Sujeito ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher, “boias-frias” sem as cautelas necessárias. Abrange,
desde que contaminada de moléstia grave contagiosa também, o transporte efetuado por empresas, públicas ou
(crime próprio). privadas, ou propriedades de qualquer natureza (sítios ou
fazendas, fábricas, lojas, empresas em geral etc.).
Sujeito passivo: também qualquer pessoa, desde
que não esteja contaminada por igual moléstia.
Conduta: pune-se a prática de qualquer meio Abandono de incapaz
direto (contato físico entre os sujeitos, v.g., aperto de
mão) ou indireto (sem contato físico, transmitindo-se a Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu
moléstia através da utilização de objetos, v.g., como cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer
seringas, talheres etc.) capaz de transmitir moléstia motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do
(delito de ação livre). abandono:

Tipo subjetivo: Consiste no dolo direto de expor a Pena - detenção, de seis meses a três anos.
vítima ao perigo de contágio da moléstia grave. Não se § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de
admite a figura culposa. natureza grave:
Consumação e tentativa: é crime formal, Pena - reclusão, de um a cinco anos.
bastando a prática de ato perigoso capaz de transmitir o
mal visado. Se resultar lesão de natureza leve, ficará esta § 2º - Se resulta a morte:
absorvida (mero exaurimento). Entretanto, se resultar Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
lesão de natureza grave ou morte, o agente causador da
transmissão responde por estes crimes em concurso. Aumento de pena

 A tentativa é perfeitamente possível (delito § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-


plurissubsistente). se de um terço:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;

Perigo para a vida ou saúde de outrem II - se o agente é ascendente ou descendente,


cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo
direto e iminente: III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos
(Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato
não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a Objetividade jurídica: neste dispositivo o
um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a legislador buscou proteger a vida e a integridade físico-
perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação psíquica da vítima, pessoa incapaz de sozinha se proteger
de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, (ou defender).
em desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois só
9.777, de 1998)
pode ser cometido por aquele que tem a vítima sob seu
Objetividade jurídica: a saúde e a vida da vítima. cuidado, guarda, vigilância ou autoridade (garantidor do
É expressa a natureza subsidiária deste delito, aplicando- incapaz).
se somente nas hipóteses em que o comportamento do Sujeito passivo: somente a pessoa assistida, ou
agente não constitua crime mais grave. seja, incapaz de defender-se dos riscos decorrentes do
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). abandono, pode ser sujeito passivo.

Sujeito passivo: deve ser pessoa certa e Conduta: é a de abandonar, infringindo o agente o
determinada. dever de guarda e assistência, por tempo relevante, capaz
de colocar o incapaz em risco. O crime pode ser praticado

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mediante ação (levar a vítima a um local ermo e ali deixá-  Marido da mulher infiel que abandona recém-
la) ou omissão (afastar-se da vítima do lugar onde se nascido adulterino não pratica o crime do art. 133, pois
encontra, deixando-a à própria sorte). não age para ocultar desonra própria, mas sim de terceiro.
O caso se enquadra no art. 133 do CP (abandono de
Tipo subjetivo: dolo de perigo (direto ou
incapaz).
eventual). Não admite a modalidade culposa.
Consumação e tentativa: consuma-se com o
Consumação e tentativa: consuma-se quando,
advento da situação de perigo experimentada pelo recém-
em razão do abandono, a vítima sofre concreta situação
nascido após este ter sido abandonado. O perigo deve ser
de risco (crime de perigo concreto). E crime instantâneo,
real. A tentativa é admissível.
logo o arrependimento do responsável não desnatura o
delito. Qualificadoras: configuram modalidades
preterdolosas do crime em estudo o § 1° (quando resulta
Qualificadoras: configuram modalidades
lesão corporal grave) e o § 2° (se resultar a morte).
preterdolosas do crime em estudo o § 1º (quando resulta
lesão corporal grave) e o § 2° (se resultar a morte). ATENÇÃO! A expressão lesão corporal de natureza
grave (§ 1º) foi utilizada em sentido amplo, para abranger
Causas de aumento de pena: o último parágrafo
tanto as lesões corporais graves (CP, art. 129, § 1º) como
(§ 3°) prevê causa especial de aumento de pena, aplicável
as lesões corporais gravíssimas (CP, art. 129, § 2º).
às formas simples e qualificada:
 A lesão corporal leve fica absorvida pelo
a) se o abandono ocorre em lugar ermo: lugar ermo
abandono de incapaz, por se tratar de crime de dano com
é o ambiente desabitado, sem frequência (ausência de
pena inferior à do crime de perigo.
pessoas), habitualmente isolado.
b) se o agente é ascendente ou descendente,
cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima: o inciso II Omissão de socorro
aumenta a pena daquele que carrega maior dever de
assistência. A enumeração é taxativa, não comportando Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando
analogias (fica excluída da majorante, por exemplo, a possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada
união estável); ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir,
c) se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos: nesses casos, o socorro da autoridade pública:
acrescentado pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), o
inciso III aumenta a pena de um terço quando a vítima Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
abandonada for maior de 60 anos. Justifica-se o aumento Parágrafo único - A pena é aumentada de metade,
em face da maior dificuldade de autodefesa apresentada se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e
pela pessoa idosa. triplicada, se resulta a morte.

Objetividade jurídica: é a segurança do indivíduo,


Exposição ou abandono de recém-nascido protegendo-se a vida e a saúde das pessoas que vivem
em sociedade.
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para
ocultar desonra própria: Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Diferentemente dos arts. 133 e 134, dispensam-se
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. vínculos especiais entre os sujeitos do delito.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza Sujeito passivo: segundo a enumeração do artigo,
grave: são pessoas a quem a assistência deve ser prestada, ou
Pena - detenção, de um a três anos. seja, criança abandonada, criança extraviada, pessoa
inválida e ao desamparo, pessoa ferida e ao desamparo, e
§ 2º - Se resulta a morte: pessoa em grave e iminente perigo.
Pena - detenção, de dois a seis anos. a) Criança abandonada: é a pessoa com idade
inferior a 12 anos (Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança
Objetividade jurídica: é a vida e a integridade e do Adolescente, art. 2º) que foi intencionalmente
físico-psíquica da vítima recém-nascida. deixada em algum lugar por quem devia exercer sua
Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio ou vigilância, e por esse motivo não pode prover sua própria
especial. Somente pode ser cometido pela mãe que subsistência.
concebeu o filho de forma irregular e, ainda, pelo pai b) Criança extraviada: é a pessoa com idade inferior
adulterino. a 12 anos que está perdida, isto é, não sabe retornar por
Sujeito passivo: só pode ser o recém-nascido. conta própria ao local em que reside ou possa encontrar
resguardo e proteção.
Conduta: expor (ação) ou abandonar (omissão)
recém-nascido, colocando-o em perigo concreto (real), c) Pessoa inválida e ao desamparo: invalidez é a
visando ocultar desonra própria. característica inerente à pessoa que não pode, por conta
própria, praticar os atos cotidianos de um ser humano.
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade Pode advir de problema físico ou mental. Mas não basta a
consciente de abandonar recém-nascido para ocultar invalidez. Exige-se ainda esteja a pessoa ao desamparo,
desonra própria (elemento subjetivo do tipo). Sem esta isto é, incapacitada para se livrar por si só da situação de
finalidade especial, desaparece o privilégio, incidindo o perigo.
artigo 134 do CP. Não se pune a forma culposa.

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d) Pessoa ferida e ao desamparo: é aquela que natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. (Incluído
sofreu lesão corporal, não necessariamente grave, pela Lei nº 12.653, de 2012).
acidentalmente ou provocada por terceira pessoa. É
imprescindível que também se encontre ao desamparo, ou Objetividade jurídica: é a segurança do indivíduo,
seja, impossibilitada de afastar o perigo por suas próprias protegendo-se a vida e a saúde das pessoas que vivem
forças. em sociedade.

e) Pessoa em grave e iminente perigo: o perigo Sujeito ativo: o crime pode ser praticado por
deve ser sério e fundado, apto a causar um mal relevante administradores e/ou funcionários do hospital.
em curto espaço de tempo. Não é necessário seja a vítima ATENÇÃO! Embora se trate de crime comum, só
inválida, nem que esteja ferida. pode ser cometido por funcionários de hospitais
Duas são as formas de conduta: particulares, vez que na rede pública de saúde a cobrança
de qualquer valor para o atendimento médico é proibida;
a) Assistência imediata: ocorre quando o agente se se houver exigência dessa natureza, pode configurar o
omite em prestar auxílio diretamente. crime de concussão.
b) Assistência mediata: ocorre quando o agente, Sujeito passivo: figura como vítima a pessoa em
sem condições de prestar auxílio diretamente, não solicita estado de emergência.
socorro à autoridade pública sem demora.
Conduta: consiste em negar atendimento
 O artigo limita o dever de agir (socorrer), ao emergencial, exigindo do potencial paciente (ou de seus
estabelecer a seguinte condição: “quando possível fazê-lo familiares), como condição para a execução dos
sem risco pessoal”. procedimentos de socorro:
ATENÇÃO! Cuida-se de típica hipótese de crime a) cheque caução (cheque em garantia), nota
omissivo próprio ou puro, pois a omissão está descrita promissória (promessa de pagamento) ou qualquer
diretamente no tipo penal. garantia (endosso de uma duplicata ou letra de câmbio,
Tipo subjetivo: pune-se o dolo direto ou o eventual por exemplo).
(de assumir o risco). Não admite forma culposa. b) o preenchimento prévio de formulários
Consumação e tentativa: no caso de "criança administrativos, quase sempre na forma de contratos de
adesão favorecendo abusivamente uma das partes (o
abandonada ou extraviada", trata-se de crime de perigo
hospital).
abstrato (ou presumido). Nos demais casos, de perigo
concreto, devendo ser demonstrado o risco sofrido pela  O agente, no caso, aproveita-se de um momento
vítima certa e determinada. de extrema fragilidade emocional do doente (ou de seus
 Tratando-se de crime omissivo próprio, a familiares) para, mediante uma das indevidas exigências
tentativa (conatus) não é admissível, pois não há como acima descritas, garantir para o hospital o ressarcimento
das despesas realizadas no socorro.
fracionar o iter criminis (delito unissubsistente).
Tipo subjetivo: somente se admite a forma dolosa,
Causas de aumento de pena (parágrafo único):
acrescida de elemento subjetivo específico, pois a
configuram modalidades preterdolosas do crime em
exigência deve se impor como condição para o
estudo, nos casos em que da omissão resultar lesão
corporal grave (a pena é aumentada da metade) ou se atendimento médico hospitalar emergencial.
resultar a morte (a pena é triplicada). Consumação e tentativa: consuma-se com a
 Omissão de socorro e vítima idosa: Em caso indevida exigência, condicionando o atendimento de
emergência (delito de perigo concreto, real e imediato),
de omissão de socorro envolvendo vítima idosa, é dizer,
sendo possível, em tese, a tentativa (delito
pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos,
plurissubsistente).
incide o crime tipificado pelo art. 97 da Lei 10.741/2003 –
Estatuto do Idoso. Causas de aumento da pena (parágrafo único):
 Omissão de socorro e morte instantânea: nos termos do que dispõe o parágrafo único, a pena é
Não há crime de omissão de socorro quando alguém deixa aumentada até o dobro se da negativa de atendimento
resulta lesão corporal de natureza grave (§§ 1º e 2º do
de prestar assistência a pessoa manifestamente morta.
art. 129), e até o triplo se resulta a morte. Trata-se de
figura preterdolosa (ou preterintencional), sendo os
resultados majorantes decorrentes de culpa.
Condicionamento de atendimento médico-
hospitalar emergencial (Incluído pela Lei nº 12.653, de
2012).
Maus-tratos
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de
de formulários administrativos, como condição para o
atendimento médico-hospitalar emergencial: (Incluído educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-
pela Lei nº 12.653, de 2012). a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e abusando de meios de correção ou disciplina:
multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza
se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de
grave:

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Pena - reclusão, de um a quatro anos. Qualificadoras: configuram modalidades
preterdolosas do crime em estudo o § 1° (quando resulta
§ 2º - Se resulta a morte:
lesão corporal grave) e o § 2° (se resultar a morte).
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
 A lesão corporal leve é absorvida pelo crime de
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é maus-tratos.
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze)
Causa de aumento de pena: constituindo a pouca
anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990)
idade da vítima (14 anos) causa de aumento de pena de
Objetividade jurídica: tutela-se a vida e a 1/3, afasta-se, automaticamente, a incidência da
incolumidade das pessoas que se encontram, para fins de circunstância agravante prevista no art. 61, II, h, em
educação, ensino, tratamento ou custódia, sob guarda, razão do princípio do non bis in idem.
autoridade ou vigilância do agente.
Sujeito ativo: só pode ser cometido por aquele que
EXERCÍCIOS – PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA
tenha autoridade, guarda ou vigilância em relação à vítima
SAÚDE
(crime próprio).
Sujeito passivo: A vítima deve ser pessoa
subordinada ao responsável pela conduta criminosa. 01. (2016 – FCC - AL-MS - Agente de Polícia
 A esposa e o filho maior de idade não podem ser Legislativo) Paulo é atropelado e, em estado grave, é
socorrido de ambulância a um determinado Hospital para
vítimas do delito, vez que não são subordinados à
atendimento emergencial. Chegando ao nosocômio, a
autoridade do agente.
gerente Flávia exige da esposa do atropelado a
ATENÇÃO! Maus-tratos contra idoso: Se a apresentação de um cheque-caução no valor de R$
vítima for idosa, incide o crime tipificado pelo art. 99 da 20.000,00 e o preenchimento de formulários
Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso. administrativos como condição para iniciar o atendimento
médico-hospitalar emergencial. Neste caso, a gerente
Conduta: trata-se de crime de ação múltipla (ou de
Flávia
conteúdo variado), ou seja, o tipo penal contém várias
modalidades de conduta, vários verbos, mas responde o a) cometeu crime de homicídio doloso.
agente por um só crime. Vejamos as condutas tipificadas b) cometeu crime de omissão de socorro.
por meio do núcleo expor: c) não cometeu crime, agindo de forma absolutamente
I - privação de alimentos ou de cuidados legal segundo normas que regem o atendimento
indispensáveis: a conduta é omissiva, na qual o agente se hospitalar no Brasil.
abstém de praticar atos de cuidado em relação a seu d) cometeu crime de lesão corporal de natureza grave.
subordinado. e) cometeu crime de condicionamento de atendimento
médico-hospitalar emergencial.

II - sujeição a trabalho excessivo ou inadequado:


nos dois casos devem ser consideradas as condições 02. (2017 – IBADE - PC-AC - ) Naiara, adolescente, ao
físicas da vítima, pois somente dessa forma poderá ser chegar à própria casa depois do colégio, encontra seu pai
constatada a ocorrência ou não do delito. caído, com um ferimento na cabeça, aparentemente
produzido por disparo de arma de fogo realizado por ele
III - abuso de meio corretivo ou disciplinar: perceba mesmo, todavia ainda respirando. Desesperada, corre até
que não se pune a conduta do agente que se utiliza de a casa de seu tio Hermínio, cunhado da vítima, solicitando
meios corretivos com o escopo de educar, ensinar, tratar ajuda. Como houvera uma rusga entre Hermínio e a
ou custodiar. vítima, aquele se recusa a prestar auxílio, limitando-se a
Maus tratos x Tortura: Exige-se, no caso da dizer à sobrinha: “tomara que morra”. Naiara, então, vai
tortura, que a vítima seja submetida a intenso sofrimento à casa de um vizinho, que se compromete a ajudá-la. Ao
físico ou mental, enquanto no delito de maus-tratos basta retornarem ao local do fato, encontram a vítima ainda
a provocação de simples perigo. A intenção do agente, ao viva, mas dando seus últimos suspiros, vindo a óbito em
torturar, é calcada no horror, visando causar sofrimento à menos de um minuto. Do momento em que Naiara viu a
vítima. No crime de maus-tratos, o agente atua com abuso vítima ferida até sua morte não transcorreram mais do
do exercício de um direito regular. que quinze minutos. Realizado o exame cadavérico, o
laudo pericial indica que o ferimento seria
Tipo subjetivo: consubstancia-se o dolo na inexoravelmente fatal, ainda que o socorro tivesse sido
consciência de maltratar a vítima, expondo-a a perigo. prestado de imediato. Nesse contexto, com base nos
Ressalte-se que, além da vontade de praticar o ato, o estudos sobre a omissão e acerca do bem jurídico-penal,
agente deve ter consciência de que o faz mediante abuso. é correto afirmar que a conduta de Hermínio caracteriza:
Ausente a consciência do abuso, não há falar em crime. a) homicídio qualificado.
Não há modalidade culposa.
b) induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
Consumação e tentativa: consuma-se com a c) homicídio culposo.
criação de um risco real. Embora de difícil configuração,
admite-se a tentativa nas modalidades comissivas, d) conduta atípica.
plurissubsistentes (ex.: o agente, na iminência de e) omissão de socorro.
espancar o filho com instrumento cortante, vem a ser
impedido por terceiros, não consumando o crime por
circunstâncias alheias à sua vontade).

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03. (2015 – VUNESP - PC-CE - Delegado de Polícia estava a toda marcha, concebendo-se, portanto, o
Civil de 1ª Classe) O crime de maus-tratos tem pena propósito de deixá-lo morrer, o que ocorreu. O cuidador:
aumentada de 1/3 (art. 136, §3o do CP) se a) não praticou crime algum, pois não houve nexo de
a) praticado contra ascendente, descendente, irmão ou causalidade da sua conduta e a morte do idoso.
cônjuge. b) praticou crime de omissão de socorro, com pena
b) resulta em lesão corporal, ainda que leve. triplicada pela morte.
c) o agente prevalece-se de relações familiares ou c) praticou crime de homicídio doloso na modalidade
domésticas. omissão imprópria.
d) praticado contra pessoa menor de 14 anos. d) praticou o crime de omissão de socorro (artigo 135 do
e) praticado por agente público. CP) na modalidade omissão imprópria.
e) praticou crime de homicídio culposo na modalidade
omissão própria.
04. (2013 – UEG - PC-GO - Delegado de Polícia - 2ª
prova) Mévio, com aninus necandi, deixa de prestar
auxílio a seu colega durante a escalada de uma montanha 07. (2013 – FCC - DPE-RS - Analista - Processual)
íngreme e perigosa. Ao negar-se a estender a mão ao Sobre a exigência de nota promissória como garantia para
colega que havia se desequilibrado, Mévio observa-o cair a realização de procedimento de emergência em hospital
num precipício e morrer. Sobre a conduta de Mévio, tem- em virtude de grave acidente, é correto afirmar que
se o seguinte: a) caracteriza crime de omissão de socorro.
a) estando na posição de garante, responderá por b) caracteriza crime de condicionamento de atendimento
homicídio culposo, uma vez que possuía o dever legal de médico-hospitalar emergencial.
impedir o resultado.
c) caracteriza crime de extorsão.
b) responderá pelo crime de omissão de socorro, com a
d) caracteriza crime de prevaricação.
pena triplicada pelo resultado morte.
e) não caracteriza crime.
c) por haver assumido o risco do resultado morte,
responderá pelo crime de homicídio doloso, na espécie
dolo eventual. 08. (2012 – FCC - DPE-PR - Defensor Público) Maria
d) responderá pelo crime de homicídio doloso, posto que reside sozinha com sua filha de 5 meses de idade e
desejou diretamente o resultado morte. encontra-se em benefício previdenciário de licença
maternidade de 6 meses. Todas as tardes a filha de Maria
dorme por cerca de duas horas, momento no qual Maria
05. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Delegado de Polícia) realiza as atividades domésticas. Em determinado dia,
Gertrudes, para ir brincar o carnaval, deixou dormindo em neste horário de dormir da filha, Maria foi até ao
seu apartamento seus filhos Lúcio, de cinco anos de idade, supermercado próximo de sua casa, uma quadra de
e Lígia, de sete anos de idade. As crianças acordaram e, distância, para comprar alguns mantimentos para a
por se sentirem sós, começaram a chorar. Os vizinhos, alimentação de sua filha. Normalmente esta saída levaria
ouvindo os choros e chamamentos das crianças pela de 10 a 15 minutos, mas neste dia houve uma queda no
janela do apartamento, que ficava no terceiro andar do sistema informatizado do supermercado o que atrasou o
prédio, arrombaram a porta, recolheram as crianças e retorno à sua casa por 40 minutos. Ao chegar próximo à
entregaram-nas ao Conselho Tutelar. Logo, pode-se sua casa, Maria constatou várias viaturas da polícia e
afirmar que Gertrudes deve responder pelo crime de: corpo de bombeiros na frente de sua residência, todos
a) perigo a vida ou saúde de outrem e os vizinhos não acionados por um vizinho que percebeu o choro insistente
praticaram crime, pois estavam agindo em legítima defesa de uma criança por 15 minutos, acionando os órgãos de
de terceiros. segurança. Ao prestarem socorro à criança, com o
b) abandono de incapaz e os vizinhos não praticaram arrombamento da porta de entrada da casa, os agentes
crime, pois estavam agindo em legítima defesa de dos órgãos de segurança verificam que a criança estava
terceiros. sozinha em casa, mas apenas assustada e sem qualquer
lesão. A conduta de Maria é caracterizada como
c) perigo a vida ou saúde de outrem e os vizinhos não
praticaram crime, pois estavam agindo em estado de a) crime de abandono de incapaz.
necessidade de terceiros. b) crime de abandono de incapaz majorado.
d) abandono de incapaz e os vizinhos não praticaram c) crime de abandono de recém nascido.
crime, pois estavam agindo em estado de necessidade de d) atípica
terceiros.
e) contravenção penal.
e) pelo crime de abandono material e os vizinhos não
praticaram crime, pois estavam agindo em estado de
necessidade exculpante de terceiros. 09. (2010 – FCC - METRÔ-SP - Advogado) A respeito
dos Crimes contra a Pessoa, é correto afirmar que
a) o crime de omissão de socorro pode ser cometido por
06. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia)
pessoa que não se encontra presente no local onde está a
Um profissional foi contratado para cuidar de um homem
vítima.
muito idoso. Certo dia, deixou o idoso sentado em uma
praça pública para pegar sol. Em determinado momento, b) o crime de auto aborto é punível por culpa, quando
o idoso saiu andando, pensando que tinha sido esquecido resultar de imprudência, negligência ou imperícia por
pelo cuidador. O cuidador ficou inerte ao ver o idoso cruzar parte da gestante.
a rua próxima, mesmo vendo avançar um veículo, que

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c) o reconhecimento do perigo de vida no delito de lesões Conduta: a ação criminosa consiste em participar
corporais graves depende de exame de corpo de delito (tomar parte) do tumulto. A participação pode ser material
complementar. (tomar parte na luta - partícipe da rixa) ou moral
d) o crime de maus tratos não pode ser cometido por (incentiva os contendores - partícipe do crime de rixa).
professores contra os seus alunos, mas somente pelos IMPORTANTE: Não haverá rixa quando possível
pais ou tutores da vítima. definir, no caso concreto, dois grupos contrários lutando
e) quem induz alguém a suicidar-se não responde pelo entre si. Nessa hipótese, os integrantes de cada grupo
delito se da tentativa de suicídio resultam apenas lesões serão responsabilizados pelas lesões corporais causadas
corporais graves. nos integrantes do grupo contrário.
Tipo subjetivo: o dolo é o de perigo (direto ou
10. (NCE-UFRJ - 2005 - PC-DF - Delegado de Polícia) eventual), consistente na vontade consciente de tomar
Quando conduzia veículo automotor, sem culpa, Fulano parte da briga, ciente dos riscos que essa participação
atropela um pedestre, deixando de prestar-lhe socorro, pode provocar para a incolumidade física de alguém
constituindo tal conduta, em tese, a prática de: (rixoso ou não), sendo irrelevante o motivo da rixa. Não
a) omissão de socorro, prevista no art. 135 do Código há conduta culposa.
Penal;  Inexistirá dolo, se a intenção daquele que
b) lesão corporal culposa, com o aumento de pena previsto participa da ação criminosa é a de separar os contendores.
no artigo 129, § 7º, do Código Penal;
Consumação e tentativa: por ser crime de mera
c) expor a vida de outrem a perigo, previsto no artigo 132, conduta, consuma-se com o início do conflito. Pode um
do Código Penal; dos contendores envolver-se na briga após seu início, caso
d) omissão de socorro, prevista no artigo 304, da Lei n. em que, para este, o crime se consumará no momento em
9.503/97; que atuar na disputa. A tentativa não é admissível, não
e) lesão corporal culposa na condução de veículo havendo fracionamento da execução.
automotor, com o aumento de pena previsto no artigo Rixa qualificada: nos termos do que dispõe o
303, § único, da Lei nº 9.503/97. parágrafo único do art. 137, ocorrendo morte ou lesão
corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da
GABARITO – PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA participação na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis)
SAÚDE meses a 2 (dois) anos. O CP adotou o sistema da
autonomia, isto é, a rixa é punida por si mesma,
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
independentemente do resultado agravador (morte ou
E D D D D C B D A D lesão grave), o qual, se ocorrer, somente qualificará o
crime.
4. DA RIXA (ART. 137) ATENÇÃO! A doutrina dominante adota o
entendimento de que apenas o causador dos graves
ferimentos ou morte (se identificado) é que responderá
CAPÍTULO IV - DA RIXA também pelos crimes de lesão corporal dolosa, de
natureza grave, ou homicídio.
Rixa
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os
contendores: EXERCÍCIOS - RIXA

Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou 01. (2011 - MPE-MS - MPE-MS - Promotor de Justiça)
multa. O crime de rixa na forma tentada quando ocorre?
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal a) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando um
de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na dos rixosos desiste de participar do conflito;
rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. b) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando a
maioria dos rixosos propõe a cessação do conflito;
Objetividade jurídica: apesar de a rixa ameaçar e
c) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando os
perturbar a ordem e a paz pública, não são esses os bens
rixosos não conseguem consumá-lo por circunstâncias
diretamente protegidos pelo tipo de rixa, mas sim a
alheias à sua vontade;
incolumidade (física e mental) da pessoa humana.
d) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando todos
 Trata-se de crime de perigo presumido (ou os rixosos desistem de prosseguir no conflito;
abstrato), punindo-se a simples troca de agressões.
e) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando os
Sujeitos do crime: o crime é comum (pode ser rixosos abandonam o local do conflito.
praticado por qualquer pessoa) e de concurso necessário
(plurissubjetivo), cuja configuração exige a participação
02. (2016 – UFMT - DPE-MT - Defensor Público) É
de, no mínimo, três contendores, computando-se, nesse
crime plurissubjetivo:
número, eventuais inimputáveis, pessoas não
identificadas ou que tenham morrido durante a briga. a) Homicídio.
b) Infanticídio.
ATENÇÃO! A rixa, apesar de crime comum, possui
um aspecto diferenciado, pois o sujeito ativo é, ao mesmo c) Rixa.
tempo, passivo, em virtude das mútuas agressões. d) Aborto.

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e) Furto. CAPÍTULO V
DOS CRIMES CONTRA A HONRA
03. (2008 – VUNESP - MPE-SP - Promotor de Justiça) Introdução
Com relação ao crime de rixa, descrito no art. 137, caput,
do Código Penal (“Participar de rixa, salvo para separar os Três são os crimes contra a honra definidos no
contendores”), assinale a alternativa incorreta. Código Penal: calúnia (art. 138), difamação (art. 139) e
injúria (art. 140). Cada um desses delitos possui um
a) É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário.
significado próprio, razão pela qual não podem ser
b) Há presunção de perigo, que decorre da simples confundidos entre si.
existência material da contenda.
Classificação: São delitos formais, de consumação
c) É possível uma pessoa ser sujeito ativo e passivo do
antecipada ou de resultado cortado, ou seja, ainda que a
mesmo crime.
lesão ao bem esteja prevista, não é necessária sua
d) É infração de forma livre, podendo ser cometida por ocorrência, bastando que o meio seja relativamente
qualquer meio eleito pelo agente. idôneo, ou seja, capaz eventualmente de atingir o
e) Quem provoca a rixa por imprudência, sem dela resultado.
participar, responde também pelo crime.
Conceito de honra: Honra é o conjunto das
qualidades físicas, morais e intelectuais de um ser
04. (ACAFE - 2014 - PC-SC - Agente de Polícia) De humano, que o fazem merecedor de respeito no meio
acordo com o Código Penal, analise as afirmações a seguir social e promovem sua autoestima.
e assinale a alternativa correta.
Espécies de honra:
I É considerado crime exigir cheque-caução, nota
promissória ou qualquer garantia, bem como o a) Honra objetiva - A honra objetiva é a visão que
preenchimento prévio de formulários administrativos as demais pessoas da coletividade têm acerca das
como condição para o atendimento médico-hospitalar qualidades físicas, morais e intelectuais de alguém, ou
emergencial. seja, é a reputação de cada indivíduo no meio social.
II É considerado crime participar de rixa, salvo para b) Honra subjetiva – é o sentimento que cada
separar os contendores. pessoa possui acerca das suas próprias qualidades físicas,
III Comete o crime de calúnia quem difamar alguém, morais e intelectuais, o juízo que cada um faz de si mesmo
imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação. (autoestima).
IV Comete o crime de furto quem subtrair coisa móvel Elemento subjetivo: Em regra é o dolo, direto ou
alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça a eventual, não havendo crime contra a honra de natureza
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido culposa. No subtipo de calúnia, definido pelo art. 138, §
à impossibilidade de resistência. 1º, do Código Penal, admite-se exclusivamente o dolo
a) Apenas III e IV estão corretas. direto, pois consta a expressão “sabendo falsa a
imputação”.
b) Apenas II e III estão corretas,
c) Apenas I e II estão corretas. Exceção da verdade - é um incidente processual
concedido ao réu a fim de provar que os fatos imputados
d) Apenas I, II e III estão corretas.
ao autor são verdadeiros. Em outras palavras, é uma
e) Todas as afirmações estão corretas. forma de defesa indireta, através da qual o acusado
pretende provar a veracidade do que alegou,
05. (VUNESP - 2007 - OAB-SP - Exame de Ordem - 2 demonstrando ser o ofendido, realmente autor de fato
- Primeira Fase) A respeito da rixa, conduta tipificada imputado.
pelo art. 137 do Código Penal, assinale a alternativa ATENÇÃO! A exceção da verdade é instituto, em
correta. regra, aplicável diante do crime de calúnia, por exceção
a) O agente que participa de rixa responde pela prática do ao crime de difamação e vedado ao crime de injúria.
delito como partícipe.
b) O agente que participa de rixa responde pela prática do
delito como autor. Calúnia
c) Não se admite a responsabilização de agente como Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe
partícipe no crime de rixa. falsamente fato definido como crime:
d) O crime de rixa não admite concurso de agentes,
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
porque é um crime plurissubjetivo.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa
a imputação, a propala ou divulga.
GABARITO - RIXA
01 02 03 04 05 § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
C C E C B Objetividade jurídica: protege-se a honra
objetiva da vítima, isto é, sua reputação perante a
sociedade.
5. DOS CRIMES CONTRA A HONRA (ARTS. 138 A 145)
Sujeito ativo: em regra, qualquer pessoa pode ser
sujeito ativo deste crime.

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 Excepcionalmente, não podem ser autores Exceção da verdade - Em razão de ser a falsidade
pessoas que desfrutam de inviolabilidade (senadores, da imputação uma elementar do crime de calúnia, a regra
deputados, vereadores, estes nos limites do município em é a admissibilidade da exceção da verdade.
que exerçam a vereança).
Entretanto, a exceção da verdade não poderá ser
utilizada em três situações expressamente previstas pelo
§ 3º do art. 138 do Código Penal:
ATENÇÃO: os advogados, em razão do disposto no
art. 7º, § 2º, do EOAB, não estão imunes ao delito de a) se, constituindo o fato imputado crime de
calúnia, ocorrendo a inviolabilidade profissional apenas ação privada, o ofendido não foi condenado por
com relação a difamação e a injúria, desde que cometidas sentença irrecorrível: inciso I – Exemplo: João imputa
no exercício regular de suas atividades. a Pedro a prática de um crime de injúria, pois, em
determinada data, ele teria chamado Maria de
Sujeito passivo: qualquer pessoa, até mesmo o
“prostituta”. Maria, entretanto, não ajuizou queixa-crime
"desonrado" pode ser vítima de calúnia. Para a maioria, o
contra Pedro. Não é permitido a João, contra a vontade de
menor (inimputável), praticando fato definido como crime
Maria, provar ter sido ela realmente injuriada por Pedro.
(chamado de ato infracional), pode ser vítima de calúnia.
b) se o fato é imputado a qualquer das pessoas
 A calúnia contra os mortos também é punida (art.
indicadas no n.º I do art. 141: inciso II – Não se
138, § 2°).
admite a exceção da verdade quando o fato é imputado
 A pessoa jurídica pode ser vítima de calúnia contra o Presidente da República ou contra chefe de
(apenas quanto a crimes ambientais) e difamação, mas governo estrangeiro.
nunca de injúria.
c) se do crime imputado, embora de ação
Conduta: imputar a alguém, implícita ou pública, o ofendido foi absolvido por sentença
explicitamente, mesmo que de forma reflexa, determinado irrecorrível: inciso III – O crime imputado pode ser de
fato criminoso, sabendo ser falso. O agente, para tanto, ação penal pública ou de ação penal privada. Em qualquer
pode utilizar-se de palavras, gestos ou escritos. hipótese, se o ofendido pela calúnia foi absolvido por
sentença irrecorrível, a garantia constitucional da coisa
IMPORTANTE! É fundamental que a ofensa se julgada impede o uso da exceção da verdade (CF, art. 5.º,
dirija contra pessoa certa e fato determinado. inc. XXXVI).
 Haverá calúnia ainda quando o fato imputado
jamais ocorreu ou, quando real o acontecimento, não foi
a pessoa apontada seu autor. Difamação
ATENÇÃO! A falsa imputação de contravenção Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato
penal não caracteriza calúnia, e sim difamação. ofensivo à sua reputação:
Consumação e tentativa: consuma-se no Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
momento em que a imputação chega ao conhecimento de
Exceção da verdade
terceira pessoa. A tentativa é admitida quando a calúnia
for proferida por escrito e este não chega a terceira pessoa Parágrafo único - A exceção da verdade somente se
por circunstâncias alheias à vontade do agente. admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é
relativa ao exercício de suas funções.
 É suficiente que uma única pessoa saiba da
atribuição falsa. Objetividade jurídica: assim como na calúnia,
Subtipo da calúnia (art. 138, § 1º): o dispositivo aqui também se protege a honra objetiva da vítima, isto
equipara a conduta daquele que, sabendo ser falsa (dolo é, sua reputação perante terceiros.
direto) a imputação, leva adiante a ofensa, transmitindo- Sujeito ativo: qualquer pessoa, não inviolável,
a a outras pessoas. pode praticar este crime.
Calúnia contra os mortos - a calúnia contra os ATENÇÃO: Os advogados, no exercício da atividade
mortos também é punida, mas, sendo a honra um atributo profissional, são invioláveis com relação a difamação e a
dos vivos, seus parentes é que serão os sujeitos passivos, injúria (art. 7º, § 2º, do EOAB).
interessados na preservação da sua memória.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, inclusive as
ATENÇÃO! Não há regra semelhante (contra os pessoas jurídicas.
mortos) no tocante aos demais crimes contra a honra.
ATENÇÃO! Menores, loucos e “desonrados” podem
ser sujeitos passivos.
Exceção da verdade  Diferentemente da calúnia, não se pune a
difamação contra os mortos.
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
Conduta: consiste na imputação de fato ofensivo à
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação
reputação de alguém, desde que tal fato não seja
privada, o ofendido não foi condenado por sentença
irrecorrível; criminoso. Se for criminoso, constitui calúnia.
 Veja-se que, ao contrário do que ocorre na
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas
calúnia, não existe o elemento normativo do tipo
indicadas no nº I do art. 141;
“falsamente”, portanto, subsiste o crime de difamação
III - se do crime imputado, embora de ação pública, ainda que seja verdadeira a imputação.
o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
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ATENÇÃO! Quem imputa a alguém uma sinais) ou omissão (ignorar cumprimento), ofendendo-lhe
contravenção penal, incorre em difamação, pois para a dignidade ou o decoro.
configurar calúnia, é preciso que o fato esteja definido
 Na injúria não há imputação de fatos criminosos
como crime.
(calúnia) ou desonrosos (difamação), mas emissão de
Consumação e tentativa: o crime somente se conceitos negativos sobre a vítima.
consuma quando terceiro (ainda que um só) conhecer da
ATENÇÃO: imputação de fato desonroso genérico,
imputação desonrosa. A tentativa mostra-se possível
vago, impreciso e indeterminado, caracteriza crime de
apenas na forma escrita (carta difamatória interceptada
injúria (ex.: fulano é assaltante de bancos), pois a calúnia
pelo difamado).
e a difamação pressupõem imputação de fato
Exceção da verdade (parágrafo único) - Como determinado.
regra geral, não se admite a exceção da verdade no crime
Consumação e tentativa: consuma-se com a
de difamação, eis que é irrelevante provar a veracidade
chegada da informação ao conhecimento da pessoa à qual
do fato atribuído à vítima, pois ainda assim subsistiria o
o agente queria ofender. A maioria da doutrina admite a
crime. Excepcionalmente, entretanto, admite-se se o
tentativa apenas na forma escrita.
ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao
exercício de suas funções. IMPORTANTE: Mesmo que a Injúria não seja
proferida na presença do ofendido e este tomar
 Exceção de notoriedade: parcela da doutrina
conhecimento por terceiro, por correspondência ou
tem sustentado que não se justifica punir alguém porque
qualquer outro meio, também configurará o crime em tela.
repetiu o que todo mundo sabe e todo mundo diz, ou seja,
fato de amplo domínio público (exceção de notoriedade). Exceção de verdade: na injúria, como não há
imputação de fato, mas a opinião que o agente emite
sobre o ofendido, a exceção da verdade nunca é permitida.
Injúria Perdão judicial: no § 1º o legislador estabeleceu,
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a em caso de provocação ou retorsão, poder o juiz deixar de
dignidade ou o decoro: aplicar a pena (perdão judicial). A maioria da doutrina
entende tratar-se de um direito subjetivo do acusado, isto
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. é, presentes os requisitos, o perdão é obrigatório.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:  O perdão judicial, no caso da provocação,
I - quando o ofendido, de forma reprovável, aproveita apenas àquele que revidou; já na retorsão,
provocou diretamente a injúria; aproveita a todos os envolvidos: quem primeiro ofendeu e
aquele que revidou.
II - no caso de retorsão imediata, que consista em
outra injúria. Injúria real: o § 2° tipifica a injúria real, uma
qualificadora da injúria. Para sua tipificação, a lei exige
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de que a violência (ou vias de fato) seja aviltante, agindo o
fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se agente com o propósito de ofender, ultrajar a vítima.
considerem aviltantes: Temos como exemplos: puxões de orelhas ou de cabelos,
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, cuspir em alguém ou em sua direção etc.
além da pena correspondente à violência.  No caso de ocorrer lesões corporais (art. 129 do
§3o Se a injúria consiste na utilização de elementos CP), o agente responderá por este crime, bem como pela
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a injúria, em razão da autonomia.
condição de pessoa idosa ou portadora de Injúria qualificada por preconceito (§ 3°): o
deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) crime é praticado através de xingamentos envolvendo a
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído raça, cor, etnia, religião ou origem da vítima, exigindo seja
pela Lei nº 9.459, de 1997) a ofensa dirigida a pessoa ou pessoas determinadas.
 O único crime contra a honra que está sujeito à
Objetividade jurídica: a honra subjetiva da
pena de reclusão é a injúria racial.
vítima, ou seja, a autoestima, aquilo que a pessoa pensa
de si mesma, a sua dignidade ou decoro. ATENÇÃO: O STF, em 28/10/2021, equiparou a
injúria racial ao racismo, tornando-a imprescritível. De
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum),
acordo com entendimento do plenário do órgão, a injúria
desde que não inviolável nas suas opiniões e palavras.
é espécie do crime de racismo, portanto, sua
ATENÇÃO: Os advogados, no exercício da atividade imprescritibilidade estaria de acordo com o art. 5º, XLII,
profissional, são invioláveis com relação a difamação e a CF. (HC 154.248)
injúria (art. 7º, § 2º, do EOAB).
Injúria contra funcionário público: Se a ofensa
Sujeito passivo: qualquer pessoa capaz de é realizada na presença do funcionário público, no
compreender as ofensas prolatadas contra ela. Se a vítima exercício da função ou em razão dela, não se trata de
não tiver capacidade de compreender as qualidades simples agressão à sua honra, mas de desacato, arrolado
negativas que lhe são atribuídas, não ocorrerá o crime. pelo legislador entre os crimes contra a Administração
Pública (CP, art. 331).
IMPORTANTE! A pessoa jurídica, por não possuir
honra subjetiva, não pode ser sujeito passivo desse crime.  A ofensa efetuada contra funcionário público e em
razão das suas funções, mas na ausência deste, configura
Conduta: consiste em ofender (insultar) pessoa
determinada, por ação (palavras ofensivas, gestos ou
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o crime de injúria agravada (art. 140, caput, c/c o art. § 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou
141, II, ambos do CP). promessa de recompensa, aplica-se a pena em
dobro. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
CRIMES CONTRA A HONRA
Imputar fato definido § 2º Se o crime é cometido ou divulgado em
Art. quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial
Calúnia como crime,
138 de computadores, aplica-se em triplo a pena. (Incluído
sabidamente falso Honra
Imputar fato objetiva pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
Art. desonroso, em regra, (reputação)
Difamação
139 não importando se
verdadeiro ou falso Causas de aumento da pena - O art. 141
Honra aumenta de um terço a pena dos crimes contra a honra
Art. Atribuir qualidade subjetiva quando cometidos:
Injúria
140 negativa (dignidade
Inciso I – Contra honra do Presidente da
ou decoro)
República, ou contra chefe de governo estrangeiro:
A conduta criminosa, além de atentar contra a honra de
EXCEÇÃO DA VERDADE uma pessoa, ofende também os interesses da nação.
Difamação – Injúria: Inciso II – Contra honra do funcionário público
Calúnia –
Regra: não NUNCA e dos Presidentes do Senado, da Câmara e do STF:
Regra: admite
admite admite no caso de funcionário público é imprescindível a relação
Exceções: de causalidade entre a ofensa e o exercício da função
I - se, constituindo o pública. Já em relação aos Presidentes do Senado, da
fato imputado crime Câmara e do STF, a lei não faz essa exigência.
de ação privada, o
Inciso III – Na presença de várias pessoas, ou
ofendido não foi
por meio que facilite a divulgação da calúnia, da
condenado por
difamação ou da injúria: na primeira parte do inciso III
sentença Exceção:
(“na presença de várias pessoas”), devem existir no
irrecorrível; Só será admitida se
mínimo três pessoas. A parte final do dispositivo em
II - se o fato é admite se o
estudo (“ou por meio que facilite a divulgação da calúnia,
imputado a ofendido é Não há
da difamação ou da injúria”) diz respeito a instrumentos e
qualquer das funcionário público exceção
objetos que facilitem a propagação da ofensa, ainda que
pessoas indicadas e a ofensa é relativa
não se esteja na presença de várias pessoas.
no nº I do art. 141; ao exercício de suas
III - se do crime funções. Inciso IV – Contra criança, adolescente,
imputado, embora pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou pessoa com
de ação pública, o deficiência, exceto na hipótese prevista no § 3º do
ofendido foi art. 140 deste Código: A Lei nº 14.344/2022
absolvido por acrescentou ao inc. IV do art. 141 as vítimas criança e
sentença adolescente, alertando, ao final, que essa majorante não
irrecorrível. coexiste com a injúria qualificada pelo preconceito,
evitando-se bis in idem. Esse risco, contudo, só existe no
caso de vítima maior de 60 anos, pois o citado parágrafo
Disposições comuns não contempla discriminação em razão da condição de
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo pessoa criança ou adolescente.
aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é
cometido: ATENÇÃO! Somente se aplica a majorante quando
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe o sujeito tinha conhecimento da idade ou da peculiar
de governo estrangeiro; condição da vítima.

II - contra funcionário público, em razão de suas Ofensa mercenária (§ 1º): a pena é aplicada em
funções, ou contra os Presidentes do Senado Federal, da dobro para qualquer crime contra a honra praticado
Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal mediante paga ou promessa de recompensa. Paga e
Federal; (Redação dada pela Lei nº 14.197, de 2021) promessa de recompensa caracterizam o crime
mercenário ou crime por mandato remunerado, motivado
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que pela cupidez, isto é, pela ambição desmedida, pelo desejo
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. imoderado de riquezas.
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou Ofensas pela internet (§ 2º): Há previsão de
portadora de deficiência, exceto no caso de pena em triplo para os crimes contra a honra pela
injúria. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) internet, se justificando em razão da maior extensão do
IV - contra criança, adolescente, pessoa maior de dano provocado, pois no ambiente virtual, a ofensa ganha
60 (sessenta) anos ou pessoa com deficiência, exceto na alcance imensurável, principalmente nas redes sociais.
hipótese prevista no § 3º do art. 140 deste Código
(Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022).
Exclusão do crime

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Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se
punível: praticou a ofensa. (Incluído pela Lei nº 13.188, de
2015)
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da
causa, pela parte ou por seu procurador; Conceito: Retratar-se significa retirar o que foi dito,
II - a opinião desfavorável da crítica literária, desdizer-se, assumir que errou.
artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção Natureza jurídica: Trata-se de causa de
de injuriar ou difamar; extinção da punibilidade conforme se extrai do art.
107, inciso VI, do Código Penal. Tem natureza subjetiva,
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário
não se comunicando aos demais querelados que não se
público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício. retrataram.

Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde Alcance: É cabível unicamente na calúnia e na
pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade. difamação. Na injúria, por sua vez, a retratação do
agente não leva à extinção da punibilidade, pois a lei não
O art. 142 do Código Penal contém causas admite e também porque não há imputação de fato, mas
especiais de exclusão da ilicitude, incidentes no atribuição de qualidade negativa e atentatória à honra
tocante à injúria e à difamação. Não se caracterizam tais subjetiva da vítima.
crimes contra a honra por ausência de ilicitude, nada
Ação penal privada: A retratação somente é
obstante o fato seja típico.
possível nos crimes de calúnia e de difamação de ação
ATENÇÃO! Esse dispositivo não se aplica ao crime penal privada.
de calúnia.
Forma: A retratação deve ser total e incondicional,
São três as hipóteses de exclusão da ilicitude: cabal, em decorrência de funcionar como condição
restritiva da pena. Precisa abranger tudo o que foi dito
a) a ofensa irrogada em juízo, na discussão da pelo criminoso. É ato unilateral, razão pela qual
causa, pela parte ou por seu procurador: inciso I prescinde de aceitação do ofendido.
(Imunidade Judiciária) - alcança tanto a ofensa oral
(exemplos: alegações em audiência, debates no plenário Momento: A retratação há de ser anterior à
do júri etc.) como também a ofensa escrita (exemplos: sentença de primeira instância na ação penal (“antes da
petições em geral, memoriais, razões e contrarrazões de sentença”). Ainda que tal sentença não tenha transitado
recursos etc.). em julgado, a retratação posterior é ineficaz.

b) a opinião desfavorável da crítica literária, ATENÇÃO! O artigo em comento foi alterado pela
artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção Lei 13.188/15, nele acrescentando parágrafo único,
de injuriar ou difamar: inciso II (Imunidade literária, anunciando que, nos casos em que o querelado tenha
artística ou científica) - Esse dispositivo tem em vista praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios
defender o elevado interesse da cultura, que é resguardar de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar
a liberdade de crítica em relação às ciências, artes e letras, o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a
tolerando a análise crítica, por mais rígida que seja, com ofensa.
o emprego dos termos e expressões necessários para
IMPORTANTE: O STF julgou inconstitucional a Lei
exteriorizar o pensamento de quem julga.
5.250/1967 (Lei de Imprensa), aplicando-se aos crimes
c) o conceito desfavorável emitido por funcionário contra a honra praticados por meio da imprensa (oral ou
público, em apreciação ou informação que preste no escrita) as disposições previstas nos arts. 138 a 145 do
cumprimento do dever de ofício: inciso III (Imunidade Código Penal.
funcional) - Cuida-se de modalidade especial de estrito
cumprimento de dever legal. Essa causa de exclusão da
ilicitude é necessária para assegurar a independência e Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se
tranquilidade dos servidores públicos, para o perfeito infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga
desempenho das suas funções, podendo, em suas ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se
manifestações, empregar termos ou expressões de recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá
sentido ofensivo, mas que são imprescindíveis para a fiel satisfatórias, responde pela ofensa.
exposição dos fatos ou argumentos. Exemplo: Delegado
de Polícia que, ao relatar o inquérito, refere-se ao indiciado Pedido de explicações - O pedido de explicações
como sujeito “perigoso, covarde e impiedoso”. diz respeito a um procedimento anterior ao início da ação
penal de iniciativa privada. Pode ocorrer que o agente,
 Responde pela injúria ou pela difamação quem embora não afirmando fatos ofensivos à honra da vítima,
lhe dá publicidade (CP, art. 142, parágrafo único). deixe pairar no ar alguma dúvida, valendo-se de
expressões equívocas, com duplo sentido etc.
 Pode ser que o agente, supostamente autor de
Retratação
um crime contra a honra, não queira se explicar nessa
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se medida preliminar. Embora, pela redação do art. 143 do
retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento Código Penal, pareça que o agente será condenado pela
de pena. ofensa que praticou, caso não se explique em juízo, ou
mesmo se explicando, não o fazendo satisfatoriamente, na
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado
verdade isso não importará em confissão ou mesmo em
tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de
uma condenação antecipada.
meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim

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03. (2013 - TRT - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Juiz do
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo
Trabalho) Qual das figuras abaixo significam,
somente se procede mediante queixa, salvo quando, no
respectivamente: imputar falsamente fato definido com o
caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
crime e ofender a dignidade e o decoro. Aponte a
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do alternativa correta.
Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. a) calúnia e difamação.
141 deste Código, e mediante representação do ofendido,
no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso b) injúria e calúnia.
do § 3o do art. 140 deste Código. (Redação dada pela c) injúria e difamação.
Lei nº 12.033. de 2009) d) calúnia e injúria.
Ação penal privada: É a regra geral nos crimes e) difamação e injúria.
contra a honra, pois “somente se procede mediante
queixa”. Contudo, há exceções. 04. (2013 – VUNESP - TJ-SP - Juiz) A, perante várias
Ação penal pública incondicionada: A ação será pessoas, afirmou falsamente que B, funcionário público
pública incondicionada na injúria real, se da violência aposentado, explorava a atividade ilícita do jogo do bicho,
resulta lesão corporal (art. 145, caput, parte final). quando exercia as funções públicas. Ante a imputação
falsa, é correto afirmar que A cometeu o crime de
 A injúria real praticada com emprego de vias de
a) difamação, não se admitindo a exceção da verdade.
fato é crime de ação penal privada.
b) calúnia, admitindo-se a exceção da verdade.
Ação pública condicionada à requisição do
c) calúnia, não se admitindo a exceção da verdade.
Ministro da Justiça: Nos crimes contra a honra do
Presidente da República ou de chefe de governo d) difamação, admitindo-se a exceção da verdade.
estrangeiro (CP, art. 145, p. único, 1.ª parte).
Ação penal pública condicionada à 05. (2014 – CONSULPAM – SURG - Agente de
representação do ofendido: Nos crimes contra a honra Trânsito) Tomando por base os tipos penais de crimes
praticados contra funcionário público, em razão de suas contra a honra, complete as lacunas abaixo para, ao final,
funções (CP, art. 145, p. único, 2.ª figura); de injúria escolher a sequência CORRETA:
qualificada pelo preconceito, na forma do art. 140, § 3º,
do Código Penal (CP, art. 145, p. único, in fine, com I - Imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação.
redação dada pela Lei 12.033/2009). II - Ofender alguém em sua dignidade ou o decoro.
ATENÇÃO! No tocante ao crime contra a honra de III - Imputar falsamente a alguém fato definido como
funcionário público, em razão de suas funções, se não há crime.
relação entre o delito contra a honra e o exercício das a) injúria, difamação, calúnia.
funções públicas, a ação penal é privada. Também é
b) difamação, calúnia, injúria.
privada a ação penal quando a ofensa se dirige a pessoa
que já deixou a função pública. c) difamação, injúria, calúnia.
d) calúnia, injúria, difamação.

EXERCÍCIOS – CRIMES CONTRA A HONRA 06. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil)
01. (2014 - TJ-AC - TJ-AC - Juiz Leigo) Quando o Encaminhar uma mensagem de texto a um policial civil
agente imputa ou atribui a alguém falsamente a prática de que se encontra em outro município, xingando-o de
fato definido como crime, acaba praticando: ladrão, configura crime de:
a) injúria a) injúria.
b) difamação b) difamação
c) calúnia c) desacato
d) injúria real d) denunciação caluniosa
e) calúnia.
02. (2013 – VUNESP - TJ-SP - Advogado) A respeito
dos crimes contra a honra, insculpidos no Código Penal, 07. (2014 – UFMT - MPE-MT - Promotor de Justiça)
assinale a alternativa correta. Semprônio, hígido mentalmente, com o propósito
a) Configura o crime de injúria imputar a alguém fato inequívoco de ofender Mévio, perante terceiros, qualifica-
ofensivo à sua reputação. o de “vil, abjeto e burro”. A conduta de Semprônio
caracteriza
b) Configura o crime de calúnia imputar a alguém
falsamente fato definido como crime. a) Crime de calúnia
c) Configura o crime de difamação ofender a dignidade ou b) Crime de injúria.
o decoro de alguém. c) Crime de difamação.
d) A calúnia somente admite a exceção da verdade em d) Irrelevante penal.
caso de o ofendido ser funcionário público, em exercício e) Fato atípico.
de suas funções.
e) A calúnia contra os mortos não é punível.

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08. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Escrivão de Polícia a) Somente a afirmativa I está correta.
Civil) Leia as alternativas a seguir e assinale a b) Somente a afirmativa III está correta.
correta.
c) Todas as afirmativas estão incorretas.
a) A pessoa jurídica só pode ser sujeito passivo em crimes
d) Somente a afirmativa II está correta.
patrimoniais.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
b) A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo em crime de
difamação.
c) A pessoa jurídica pode figurar como sujeito ativo de 13. (2014 – VUNESP - TJ-PA - Juiz de Direito
crime contra a administração pública previsto no Código Substituto) “X” é negro e jogador de futebol profissional.
Penal. Durante uma partida é chamado pelos torcedores do time
adversário de macaco e lhe são atiradas bananas no meio
d) Os inimputáveis não podem ser vítimas de crimes
do gramado. Caso sejam identificados os torcedores, é
contra a honra.
correto afirmar que, em tese,
e) O inimputável por embriaguez proveniente de caso
a) responderão pelo crime de preconceito de raça ou de
fortuito não pode figurar como sujeito passivo.
cor, nos termos da Lei n.º 7.716/89.
b) responderão pelo crime de racismo, nos termos da Lei
09. (2016 – UFMT - DPE-MT - Defensor Público) A n.º 7.716/89.
respeito dos crimes contra a honra, insculpidos no Código
c) responderão pelo crime de difamação, nos termos do
Penal, assinale a afirmativa correta.
art. 139 do Código Penal, entretanto, com o aumento de
a) Configura o crime de injúria imputar a alguém fato pena previsto na Lei n.º 7.716/89.
ofensivo a sua reputação.
d) não responderão por crime algum, tendo em vista que
b) Configura o crime de difamação ofender a dignidade ou esse tipo de rivalidade entre as torcidas é própria dos
o decoro de alguém. jogos de futebol, restando apenas a punição na esfera
c) A calúnia somente admite a exceção da verdade em administrativa.
caso de o ofendido ser funcionário público, em exercício e) responderão pelo crime de injúria racial, nos termos do
de suas funções. art. 140, § 3.º do Código Penal.
d) Configura o crime de calúnia imputar a alguém
falsamente fato definido como crime.
14. (2013 – FCC - MPE-CE - Técnico Ministerial) Nos
e) A calúnia contra os mortos não é punível. crimes contra a honra, sobre a exceção da verdade, é
correto afirmar que
10. (Defensor Público- DPE/GO- 2011) "A" afirma, na a) cabe no caso de calúnia, desde que constituindo o fato
presença de várias pessoas, que "B" trai seu marido "C" imputado crime de ação privada, o ofendido não tenha
com o vizinho. Nesses termos, é correto afirmar que "A" sido condenado por sentença irrecorrível.
cometeu crime de b) para ter cabimento em caso de difamação exige-se que
a) calúnia, admitindo-se a exceção da verdade. o crime tenha sido cometido por funcionário público.
b) calúnia, não se admitindo a exceção da verdade. c) somente não é cabível nos casos de injúria.
c) difamação, admitindo-se a exceção da verdade. d) a exceção da verdade foi abolida por súmula vinculante
d) difamação, não se admitindo a exceção da verdade. do Supremo Tribunal Federal.
e) injúria, não se admitindo a exceção da verdade. e) depende de requisição do Procurador-Geral da
República, em caso de calúnia contra o Presidente da
República.
11. (2012 - FUNDAÇÃO SOUSÂNDRADE – EMAP -
Guarda Portuário) Aquele que por meio de palavras ou
atos que redundem em vexame, humilhação, desprestígio 15. (2012 – IPAD - PC-AC - Agente de Polícia Civil)
ou irreverência, a servidor público, civil ou militar, no Sobre os crimes contra a honra, assinale a alternativa
exercício da função ou em razão dela, comete o crime de: correta.
a) desacato. a) A calúnia consiste em imputação a alguém de fato
ofensivo à sua reputação.
b) desobediência.
b) Incorre nas penas previstas para o crime de difamação
c) resistência.
aquele que atribui a alguém a prática de crime.
d) calúnia.
c) O querelado que, antes da sentença, se retrata
e) difamação. cabalmente da calúnia, fica isento de pena.
d) Os crimes contra a honra serão objeto, em regra, de
12. (2015 - TRT 16R - TRT - 16ª REGIÃO (MA) - Juiz ação penal pública incondicionada.
do Trabalho Substituto) Considerando as afirmativas e) O fato de a ofensa haver sido irrogada em juízo, na
abaixo, assinale a alternativa CORRETA: discussão da causa, pela parte ou por seu procurador é
I. Os crimes de Calúnia (Art. 138 do CP), Difamação (Art. irrelevante para a punição daquele que comete os fatos
139 do CP) e Injúria (Art. 140 do CP) atingem a honra previstos na Lei Penal como crime de difamação.
objetiva da vítima.
II. A crítica literária desfavorável constitui crime contra a 16. (2009 – FUNRIO – DEPEN - Agente
honra. Penitenciário) Com relação a exceção da verdade, nos
III. É punível a injúria contra os mortos. crimes contra a honra é correto afirmar:

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a) não se admite a exceção da verdade nos crimes de
calúnia tentada GABARITO – CRIMES CONTRA A HONRA
b) A exceção da verdade, no crime de difamação, somente 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é
C B D A C A B B D D
relativa ao exercício de suas funções
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
c) admite-se a exceção da verdade nos crimes de injúria
A C E C C B A D C C
d) admite-se a exceção da verdade nos crimes de
difamação, se o ofendido for incapaz e a ofensa tiver sido
publicada em meio de grande circulação 6. DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL (ARTS.
e) não se admite a exceção da verdade nos crimes de 146 A 154-B)
injúria, salvo se o ofendido for falecido

CAPÍTULO VI
17. (2015 – VUNESP - TJ-SP - Juiz Substituto) A
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
respeito da retratação nos crimes contra a honra, pode- -
se afirmar que fica isento de pena o querelado que, antes SEÇÃO I
da sentença, retrata-se cabalmente DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL
a) da calúnia ou difamação. Constrangimento ilegal
b) da calúnia, injúria ou difamação.
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência
c) da injúria ou difamação. ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por
d) da calúnia ou injúria. qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não
fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
18. (2015 – FCC - TRT - 6ª Região (PE) - Juiz do Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Trabalho Substituto) A manifestação do advogado, no
exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, é Aumento de pena
acobertada por imunidade nos crimes de § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em
a) difamação e desacato. dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais
b) injúria e calúnia. de três pessoas, ou há emprego de armas.

c) injúria e desacato. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as


d) difamação e injúria. correspondentes à violência.

e) desacato e calúnia. § 3º - Não se compreendem na disposição deste


artigo:

19. (2013 – FCC - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Juiz do I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o
Trabalho Substituto) Em princípio, nos crimes contra a consentimento do paciente ou de seu representante legal,
honra dispostos no Código Penal cabe: se justificada por iminente perigo de vida;
a) retratação na injúria, exceto se racial. II - a coação exercida para impedir suicídio.
b) retratação na injúria em geral.
Objetividade jurídica: o tipo tutela a liberdade
c) exceção da verdade na calúnia contra os mortos. individual das pessoas.
d) exceção da verdade na injúria.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
e) exceção da verdade na difamação contra particular.
 Tratando-se de funcionário público, outro poderá
ser o crime (Lei 13.869/2019 – Abuso de Autoridade).
20. (2013 - NC-UFPR - TJ-PR - Juiz) Assinale a
alternativa INCORRETA: Sujeito passivo: qualquer pessoa capaz de decidir
sobre os seus atos pode ser vítima (excluem-se, assim, os
a) No que se refere ao delito de difamação, a exceção da
menores de pouca idade, os loucos, os embriagados etc.).
verdade somente se admite se o ofendido é funcionário
público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
b) No que se refere ao delito de calúnia, admite-se a prova Conduta: o núcleo do tipo é constranger, que
da verdade, salvo: se, constituindo o fato imputado crime significa coagir alguém a fazer ou deixar de fazer algo,
de ação privada, o ofendido não foi condenado por retirando sua liberdade de autodeterminação.
sentença irrecorrível; se o fato é imputado contra o
Presidente da República ou contra chefe de governo ATENÇÃO! O crime de constrangimento ilegal é
estrangeiro; se do crime imputado, embora de ação crime classificado como subsidiário, somente sendo
pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. punido de forma autônoma caso não constitua crime mais
c) O querelado que, antes do recebimento da denúncia, grave, que o absorve. Como exemplo, o crime de estupro,
retrata-se cabalmente da calúnia ou da difamação, fica em que a vítima sempre é constrangida a praticar um ato
isento de pena. contra a sua vontade.
d) No que se refere ao delito de injúria, o juiz pode deixar  O agente precisa impor à vítima um
de aplicar a pena quando o ofendido, de forma reprovável, comportamento certo e determinado.
provocou diretamente a injúria, bem como no caso de
retorsão imediata, que consista em outra injúria.

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Tipo subjetivo: consiste no dolo de coagir alguém na sua segurança jurídica, abalando, desse modo, a sua
a fazer o que a lei proíbe ou deixar de fazer o que a lei não faculdade de determinar-se livremente.
manda. Não há forma culposa.
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode ser sujeito
Consumação e tentativa: consuma-se no ativo (crime comum).
momento em que a vítima age ou deixa de agir,
Sujeito passivo: figura como vítima apenas a
infringindo o mandamento legal, independentemente do
pessoa física, certa e determinada, capaz, de fato, de
tempo da coação. A tentativa é admitida.
entender o mal prometido
Causas de aumento da pena (art. 146, § 1º):
Conduta: consiste na promessa de causar mal
Dizem respeito à execução do crime: a) reunião de mais
injusto e grave. É crime de ação livre, podendo ser
de três pessoas: é imprescindível que ao menos quatro
praticado por palavras, escritos ou gestos, ou qualquer
pessoas tenham se envolvido nos atos executórios,
outro meio simbólico.
ingressando nesse número os inimputáveis e os sujeitos
não identificados; b) emprego de armas: incide o A ameaça pode ser:
aumento quando se tratar de arma própria ou imprópria
(instrumentos com potencialidade lesiva, pouco 1) explícita: clara e induvidosa;
importando se fabricados ou não com finalidades bélicas). 2) implícita: de forma velada;
Concurso material obrigatório (art. 146, § 2º): 3) direta: o mal prometido atinge a própria vítima
O agente que, com violência, constrange ilegalmente a da ameaça;
vítima, vindo a feri-la, deve responder pelo
constrangimento ilegal (simples ou agravado, conforme o 4) indireta: o mal prometido será causado em
caso), em concurso material com o crime resultante da terceira pessoa;
violência (lesão corporal leve, grave ou gravíssima, 5) incondicional: não depende, para efetivar-se, de
tentativa de homicídio etc.). acontecimento futuro;
Causas de exclusão do crime (art. 146, § 3º): 6) condicional: depende, para efetivar-se, de um
São causas especiais de exclusão da ilicitude, por se acontecimento futuro.
constituírem em manifestações inequívocas do estado de
necessidade de terceiro. ATENÇÃO! Não existirá o crime se o agente
prometer realizar mal justo (legítimo), como, por
Não caracterizará constrangimento ilegal: exemplo, ajuizar uma ação, protestar um cheque, ou pedir
a) a intervenção médica ou cirúrgica, sem o a instauração de um inquérito policial.
consentimento do paciente ou de seu representante legal, Tipo subjetivo: pune-se a vontade consciente de
se justificada por iminente perigo de vida (inc. I) – pouco amedrontar a vítima, manifestando idônea intenção
importa o motivo da discordância com a intervenção maléfica, mesmo que não seja o desígnio do agente
médica ou cirúrgica. cumprir o mal anunciado.
b) a coação exercida para impedir suicídio (inc. II) Consumação e tentativa: trata-se de delito
– o constrangimento, neste caso, é legal. formal, consumando-se no momento em que a vítima
ATENÇÃO! Lei de Tortura: constitui crime de toma conhecimento do mal prometido,
tortura constranger alguém com emprego de violência ou independentemente da real intimidação, bastando
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico e mental, capacidade para tanto. A maioria da doutrina admite a
com o fim de obter informação, declaração ou confissão tentativa na forma escrita (carta ameaçadora
da vítima ou de terceira pessoa ou para provocar ação ou interceptada).
omissão de natureza criminosa ou em razão de ATENÇÃO: A ação penal é pública condicionada a
discriminação racial ou religiosa (art. 1º, I da Lei representação (manifestação da vítima).
9.455/97).
IMPORTANTE: O crime de ameaça é subsidiário
IMPORTANTE: Não se caracteriza o crime quando em relação a outros delitos mais graves. Se após a ameaça
a privação da liberdade ocorre com o consentimento da for praticada lesão corporal contra a mesma vítima, aquele
vítima, validamente manifestado. delito será por este absorvido.

Ameaça Perseguição (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)


Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por
gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou
mal injusto e grave: psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua
esfera de liberdade ou privacidade.
Parágrafo único - Somente se procede mediante
representação. Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa.
Objetividade jurídica: tutela-se a liberdade
individual ameaçada pela promessa de realização de um § 1º A pena é aumentada de metade se o crime é
mal injusto e grave. Justifica-se a incriminação, vez que a cometido:
conduta representa um ataque à liberdade pessoal do I – contra criança, adolescente ou idoso;
ameaçado, perturbando a sua tranquilidade e a confiança

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II – contra mulher por razões da condição de sexo desenvolvimento ou que vise a degradar ou a
feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste controlar suas ações, comportamentos, crenças e
Código; decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, chantagem,
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas
ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou
ou com o emprego de arma.
qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo psicológica e autodeterminação: (Incluído pela
das correspondentes à violência. Lei nº 14.188, de 2021)

§ 3º Somente se procede mediante Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois)


representação. anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais
grave. (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
Sujeitos: sujeito ativo é qualquer pessoa. Trata-se
de um crime comum. Na mesma esteira, o sujeito Considerações gerais: a Lei nº 14.188/2021
passivo também pode ser qualquer pessoa. É, assim, acrescentou um novo crime no art. 147-B do Código
um crime bicomum. Penal: o delito de violência psicológica contra a mulher.

Objeto jurídico: é a liberdade individual e a O crime consiste em causar dano emocional à


tranquilidade pessoal, haja vista ter sido inserido no mulher que a prejudique e perturbe seu pleno
capítulo dos crimes contra a liberdade individual. desenvolvimento ou com o objetivo de degradar ou
controlar suas ações, comportamentos, crenças e
Conduta: o elemento nuclear da ação criminosa decisões.
vem caracterizado no verbo “perseguir”, que significa ir ao
encalço de atormentar, importunar, aborrecer. E, na Esse dano emocional pode ser praticado,
sequência, o verbo indicador da ação criminosa é exemplificativamente, por meio de ameaça,
complementado pela expressão “reiteradamente”, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
indicando que a tipificação depende da reiteração da chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir
conduta, i.e., deve haver uma sucessão de atos e ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
comportamentos, de modo que a prática de um ato isolado psicológica e autodeterminação.
não será suficiente para a configuração do crime.
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, podendo
A perturbação reiterada deverá gerar uma das três ser praticado por qualquer pessoa (homem ou mulher).
situações:
Sujeito passivo: consiste em crime próprio, tendo
a) ameaça à integridade física ou psicológica; em vista que a vítima deve ser mulher (criança, adulta,
idosa, desde que do sexo feminino).
b) restrição da capacidade de locomoção;
ATENÇÃO! Prevalece na doutrina e jurisprudência
c) invasão ou perturbação da liberdade ou que a Lei Maria da Penha pode ser aplicada para a mulher
privacidade. transgênero, ainda que não tenha se submetido a cirurgia
Forma majorada (§1°): O tipo prevê a de redesignação sexual. Logo, a mulher transgênero pode
modalidade majorada, aumentando-se de metade a pena ser vítima desse crime.
quando o crime for praticado; Elemento subjetivo: o crime é punido a título de
a) contra criança, adolescente ou idoso (criança: dolo.
até 12 anos incompletos; adolescente: 12 completos a 18 Vale ressaltar, contudo, que o dolo do agente está
incompletos; idoso: a partir de 60 anos). ligado às condutas (ameaça, constrangimento,
b) contra mulher por razões da condição humilhação, manipulação etc.).
de sexo feminino (quando houver violência doméstica e Em outras palavras, não se exige que o agente
familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de queira causar “dano emocional” à vítima. Exige-se que ele
mulher – art. 121, § 2º-A do CP; pratique alguma das condutas acima listadas com
c) mediante concurso de duas ou mais pessoas (o consciência e vontade.
concurso de agentes não exige capacidade penal do IMPORTANTE: diferente do feminicídio (art. 121, §
concorrente; 2º, VI) e da lesão corporal do § 13 do art. 129, o crime de
d) com o emprego de arma (arma branca e de violência psicológica não exige expressamente que tenha
fogo). sido cometido “por razões da condição do sexo feminino”.

Concurso de crimes (§ 2º): caso o ato de Tipo misto alternativo; trata-se de tipo misto
perseguir culmine com violência, i.e., agressão física da alternativo, ou seja, o legislador descreveu várias
qual resultem lesões corporais, o agente deverá responder condutas (verbos), porém, se o sujeito praticar mais de
em concurso formal de crimes. um verbo, no mesmo contexto fático e contra o mesmo
objeto material, responderá por um único crime, não
Ação penal (§ 3º): é pública condicionada à havendo concurso de crimes nesse caso.
representação.
Consumação: o crime se consuma com a
provocação do dano emocional à vítima. É o que se extrai
da locução “causar dano emocional à mulher”. Trata-se,
Violência psicológica contra a
portanto, de crime material, que exige um resultado
mulher (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
naturalístico.
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher
que a prejudique e perturbe seu pleno
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A tentativa, em tese, é possível, no entanto, é Sujeito passivo: qualquer pessoa. O
improvável de ocorrer na prática. consentimento da vítima exclui o crime, desde que
consciente e válido.
ATENÇÃO! Não se trata de crime habitual: é
muito comum que a violência psicológica seja praticada Conduta: consiste na privação (total ou parcial) da
mediante reiterados atos. A pessoa humilha em um dia, liberdade de alguém. Os meios para tanto são o sequestro
pede desculpas no outro, volta a humilhar em seguida e e o cárcere privado. O cárcere privado é uma espécie de
assim por diante. sequestro. Enquanto o primeiro se dá em um recinto
fechado, enclausurado, confinado, o segundo se dá em
Vale ressaltar, contudo, que, para configurar o
local em que não há confinamento, tendo a vítima uma
crime, não se exige reiteração de condutas. Não se trata
certa mobilidade (um sítio, uma ilha deserta, etc.).
de crime habitual.
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
Desse modo, é possível que o agente numa única
consciente de privar a vítima de sua liberdade de
oportunidade, pratique ameaças, constrangimento e
locomover-se, dispensando um fim especial.
humilhação contra a mulher, causando-lhe dano
emocional. A partir desse dia, a mulher decide se afastar Consumação e tentativa: considera-se
do agressor. O crime, contudo, já terá se consumado. consumado o delito com a privação da liberdade da vítima.
Tratando-se de delito plurissubsistente, a tentativa é
possível.
Ação penal: trata-se de crime de ação penal
ATENÇÃO! É crime de natureza permanente, ou
pública incondicionada.
seja, só com a devolução da liberdade da vítima cessa a
sua consumação. Também é de dano, pois somente se
consuma com a lesão do bem jurídico tutelado, que é a
Crime subsidiário: há uma subsidiariedade liberdade.
expressa no preceito secundário do art. 147-B do CP (“Se
a conduta não constitui crime mais grave”). Qualificadoras (art. 148, §§ 1º e 2º): O § 1º
elenca cinco qualificadoras:
Isso significa que, se a conduta praticada puder se
enquadrar em um delito mais grave, não será o crime do a) Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge
art. 147-B do CP. ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos
(inc. I): a maior gravidade da conduta repousa no fato de
É o caso, por exemplo, do agente que pratica ter sido o crime praticado no âmbito das relações
cárcere privado contra a mulher, devendo responder pelo familiares, no seio da união estável, ou ainda contra
delito do art. 148 do CP, que tem pena de reclusão, de um pessoa idosa, mais frágil em razão da avançada idade, e,
a três anos. consequentemente, com menor possibilidade de defesa.
 O pai que sequestra o próprio filho, descumprindo
Sequestro e cárcere privado ordem judicial, comete somente o crime de desobediência
(CP, art. 330).
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante
sequestro ou cárcere privado: b) Se o crime é praticado mediante internação da
vítima em casa de saúde ou hospital (inc. II): crime
Pena - reclusão, de um a três anos. conhecido como internação fraudulenta, pode ser
praticado por médico ou por qualquer outra pessoa;
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
c) Se a privação da liberdade dura mais de 15
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge
(quinze) dias (inc. III): quanto mais longa a supressão da
ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta)
liberdade, maiores são as possibilidades de a vítima
anos;
suportar danos físicos e psíquicos;
II - se o crime é praticado mediante internação da
d) Se o crime é praticado contra menor de dezoito
vítima em casa de saúde ou hospital;
anos (inc. IV): Aplica-se às hipóteses em que a vítima é
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze criança ou adolescente.
dias.
e) Se o crime é praticado com fins libidinosos (inc.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 V): A qualificadora consiste na privação da liberdade de
(dezoito) anos; uma pessoa, homem ou mulher, com fins sexuais.
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. Qualificação pelo resultado (§ 2º) - qualifica o
crime se resultar à vítima, em razão de maus-tratos ou da
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos
natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral.
ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou
Os maus-tratos consistem na conduta agressiva do agente
moral:
que ofende a moral, o corpo ou a saúde da vítima, sem
Pena - reclusão, de dois a oito anos. produzir lesão corporal. A natureza da detenção diz
respeito ao aspecto físico da privação da liberdade do
Objetividade jurídica: o bem jurídico tutelado é a ofendido, tal como prendê-la em local frio e úmido, sem
liberdade de ir, vir e ficar (liberdade de movimento). luz solar, etc.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).

Redução a condição análoga à de escravo

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Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de alheias a sua vontade, não consegue o agente compelir a
escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a vítima.
jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
Majorante de pena: o § 2° aumenta a pena de
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer
metade se o crime é cometido: I) contra criança ou
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o
adolescente, isto é, pessoa até os dezoito anos
empregador ou preposto:
incompletos; II) por motivo de preconceito de raça, cor,
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além etnia, religião ou origem.
da pena correspondente à violência.
ATENÇÃO: O consentimento da vítima é irrelevante
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: para a consumação, se perfazendo o crime com a sujeição
do indivíduo a condições degradantes.
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por
parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho;
Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei nº 13.344,
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho de 2016)
ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar,
transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a
cometido: finalidade de:
I – contra criança ou adolescente; I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, corpo;
religião ou origem. II - submetê-la a trabalho em condições análogas à
de escravo;
Objetividade jurídica: O direito à liberdade de
qualquer indivíduo, e não somente do trabalhador. A lei III - submetê-la a qualquer tipo de
penal busca impedir seja uma pessoa submetida à servidão;
servidão e ao poder de fato de outrem, assegurando sua
IV - adoção ilegal; ou
autodeterminação.
V - exploração sexual.
Sujeitos do crime: qualquer pessoa, pois se trata
de crime comum. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e
multa.
Conduta: consiste na sujeição de uma pessoa ao
domínio da outra. A pessoa escravizada passa a ser § 1o A pena é aumentada de um terço até a metade
tratada como um objeto. se:
Trata-se de delito de ação vinculada, sendo I - o crime for cometido por funcionário público no
enumerados taxativamente quais comportamentos exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
caracterizam a conduta: las;
1) submeter a vítima a trabalhos forçados ou a II - o crime for cometido contra criança, adolescente
jornada exaustiva (caput); ou pessoa idosa ou com deficiência;
2) sujeitá-la a condições degradantes de trabalho III - o agente se prevalecer de relações de
(caput); parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade,
de dependência econômica, de autoridade ou de
3) restringir, por qualquer meio, sua locomoção em
superioridade hierárquica inerente ao exercício de
razão de dívida contraída com o empregador ou preposto
emprego, cargo ou função; ou
(caput);
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
4) cercear o uso de qualquer meio de transporte por
território nacional.
parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho (§ 1°, I); § 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o
agente for primário e não integrar organização
5) manter vigilância ostensiva no local de trabalho
criminosa.
ou se apoderar de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho (§ O art. 149-A do Código Penal dispõe que, para
1º, II). efeitos de configuração do crime de tráfico de pessoas,
ATENÇÃO! Praticando o agente mais de um desses exige-se três características indispensáveis: 1) os atos (o
comportamentos, em face da mesma vítima, haverá um que se faz); 2) os meios (como se faz); 3) a finalidade de
único crime (princípio da alternatividade), servindo as exploração (por que se faz).
várias ações criminosas, no entanto, na dosagem da pena- 1) Quanto aos atos (o que se faz) - São esses,
base (art. 59 do CP). portanto, os atos praticados por aqueles que praticam o
Tipo subjetivo: somente se admite a forma dolosa. delito de tráfico de pessoas: agenciar (servir de agente ou
intermediário), aliciar (atrair, convencer), recrutar (reunir
Consumação e tentativa: consuma-se com a as vítimas, com a finalidade de serem traficadas),
efetiva redução da vítima a condição análoga à de escravo. transportar (conduzir de um lugar para outro), transferir
Trata-se de crime material e permanente. A tentativa é (passar de um lugar para outro), comprar (adquirir
perfeitamente admissível, quando por circunstâncias alguém, como se fosse uma coisa, mediante o

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pagamento), alojar (hospedar) ou acolher pessoa nessa relação de parentesco, devendo serem aplicados os
(abrigar). arts. 1.591 a 1.595 do Código Civil, que reconhecem
relação de parentesco em três ordens: a) vínculo conjugal;
2) Quanto aos meios (como se faz) - No que diz
b) consanguinidade; e c) afinidade.
respeito aos meios, todos esses comportamentos devem
ser praticados mediante: grave ameaça (promessa de um IV – a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
mal injusto, futuro e grave), violência (física), coação território nacional - Ocorre, aqui, o chamado tráfico
(intimidação), fraude (ardil, engano) ou abuso (uso internacional de pessoas, quando a vítima do tráfico for
excessivo de alguém que tem algum poder sobre a retirada do território nacional.
vítima).
Causa de Diminuição de Pena (§ 2º) - Cuida-se
3) Quanto à finalidade de exploração (por que de uma causa especial de diminuição de pena, que deverá
se faz) - Merece ser frisado, ainda, que o tipo penal prevê ser obrigatoriamente aplicada desde que o agente seja
o chamado especial fim de agir, configurado nas primário e, cumulativamente, também não integre
finalidades de: I – remover-lhe órgãos, tecidos ou partes organização criminosa.
do corpo; II – submetê-la a trabalho em condições
análogas à de escravo; III – submetê-la a qualquer tipo
de servidão; IV – adoção ilegal; ou V – exploração sexual. EXERCÍCIOS
Objetividade jurídica: o bem juridicamente 01. (2012 - TRT 3R - TRT - 3ª Região (MG) - Juiz do
protegido pelo tipo penal em estudo é a liberdade da Trabalho) Constituem crimes contra a liberdade pessoal,
vítima, bem como a sua vida ou integridade física. exceto:
Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode praticar a a) Constrangimento ilegal.
infração penal prevista no art. 149-A, sendo, portanto, b) Ameaça.
considerado um delito comum, que não exige qualquer
qualidade especial do sujeito ativo. c) Sequestro.
d) Redução à condição análoga a de escravo.
Sujeito passivo: Da mesma forma, qualquer
pessoa também poderá figurar como sujeito passivo do e) Violação de domicílio.
crime em estudo.
Consumação e Tentativa: Pelo que se depreende 02. (2015 – FCC - TJ-PI - Juiz Substituto) No que se
da redação típica, estamos diante de um crime formal, de refere aos crimes contra a liberdade pessoal, é correto
consumação antecipada, não havendo, portanto, afirmar:
necessidade de que a vítima seja, efetivamente, traficada, a) A intervenção médica ou cirúrgica, sem o
ou seja, removida ou levada para algum outro lugar para consentimento da vítima ou de seu representante legal,
que o crime se configure, bastando que o agente tão não exclui, em qualquer situação, o constrangimento
somente atue com uma das finalidades exigidas pelo tipo ilegal.
penal do art. 149-A do Código Penal. b) O crime de constrangimento ilegal não se reveste de
Elemento Subjetivo: Os comportamentos subsidiariedade em relação a outros delitos.
previstos no tipo penal do art. 149-A do Código Penal c) Constitui figura equiparada à de redução a condição
somente podem ser praticados dolosamente, não havendo análoga à de escravo o ato de cercear o uso de qualquer
previsão para a modalidade de natureza culposa. meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de
retê-lo no local de trabalho.
Causas Especiais de Aumento de Pena - diz o §
1º do art. 149-A, do diploma repressivo, que a pena é d) O crime de cárcere privado é permanente e formal, não
aumentada de um terço até a metade se: admitindo a tentativa.

I – o crime for cometido por funcionário público no


exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las - 03. (2013 – CESPE - TRT - 5ª Região (BA) - Juiz do
Funcionário público, nos termos do mencionado art. 327, Trabalho) Com relação aos crimes contra a liberdade
para efeitos penais, não somente é aquele ocupante de pessoal, assinale a opção correta.
um cargo, que poderíamos denominar funcionário público a) O fato de a vítima consentir no seu sequestro, realizado
em sentido estrito, mas também aquele que exerce por seu namorado, a fim de exigir certa quantia em
emprego ou função pública; dinheiro de seus pais, exclui a tipicidade penal, não
havendo, portanto, crime de sequestro ou cárcere privado.
II – o crime for cometido contra criança,
adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência - O art. 2º b) Para a consumação do crime de ameaça, exige-se a
da Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) ocorrência de mal injusto à vítima.
estabeleceu que se considera criança a pessoa com até 12 c) A privação de liberdade de outrem, mediante sequestro
anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 ou cárcere privado, consuma-se após vinte e quatro horas
e 18 anos de idade. Idoso é aquele, de acordo com o art. do início da execução do ato.
1º da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, com idade d) O empregador que retiver a carteira de trabalho do
igual ou superior a 60 (sessenta) anos. empregado com a finalidade de fazer que ele permaneça
III – o agente se prevalecer de relações de no local de trabalho responderá pela prática do crime de
parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, constrangimento ilegal.
de dependência econômica, de autoridade ou de e) O policial que, para impedir determinada pessoa de se
superioridade hierárquica inerente ao exercício de suicidar, usar de coação mediante violência poderá ser
emprego, cargo ou função - O inc. III não indicou beneficiado com o perdão judicial.
expressamente quais seriam as pessoas consideradas

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04. (2017 - Fundação La Salle - SUSEPE-RS - Agente 08. (2008 - TRT 15R - TRT - 15ª Região - Juiz do
Penitenciário) Quem constranger alguém, mediante Trabalho) No crime de ameaça é incorreto asseverar:
violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver a) a ameaça para constituir o crime tem de ser idônea,
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de séria e concreta, capaz de efetivamente impingir medo à
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o vítima;
que ela não manda estará incorrendo no crime de:
b) o crime de ameaça consiste na promessa feita pelo
a) ameaça. sujeito ativo de mal justo ou injusto e grave a qualquer
b) constrangimento ilegal. pessoa, violando a liberdade psíquica;
c) extorsão. c) o crime de ameaça consiste na promessa feita pelo
d) estelionato. sujeito ativo de mal injusto e grave a qualquer pessoa,
violando a liberdade psíquica;
e) extorsão indireta.
d) a falta de consciência ou de capacidade mental para
entender a gravidade do mal ameaçado afasta a
05. (2014 – UFMT -MPE-MT - Promotor de Justiça) possibilidade do crime;
No que se refere ao tipo penal de constrangimento ilegal,
e) a ação penal é pública condicionada à representação do
previsto no art. 146 do Código Penal, assinale a afirmativa
ofendido.
INCORRETA.
a) O crime poderá ser perpetrado nas modalidades dolosa
e culposa. 09. (2014 – FCC - TRT - 18ª Região (GO) - Juiz do
Trabalho) NÃO configura o crime de redução à condição
b) A vontade do autor deve ser ilegítima, pois, sendo
análoga de escravo
legítima, haverá o crime de exercício arbitrário das
próprias razões. a) submeter a vítima a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, sujeitando-a a condições degradantes de
c) É crime comum, pois, se a conduta for praticada por
trabalho.
funcionário público, no exercício de suas funções, há crime
de abuso de autoridade. b) constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a celebrar contrato de trabalho.
d) Trata-se de crime subsidiário, ou seja, só é punido
autonomamente se não constituir elementar, qualificadora c) restringir, por qualquer meio, a locomoção do
ou meio de execução de outro crime. trabalhador em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto.
e) Além das penas cominadas, aplicam-se ao autor do
crime as correspondentes à violência. d) cercear o uso de qualquer meio de transporte por parte
do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
e) manter vigilância ostensiva no local de trabalho ou se
06. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Escrivão de Polícia
apoderar de documentos ou objetos pessoais do
Civil) O crime de ameaça:
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
a) não pode ser praticado por meios simbólicos.
b) é de ação penal privada.
10. (2015 – VUNESP - TJ-SP - Juiz Substituto) A mídia
c) pressupõe injustiça do mal prometido. tem noticiado casos em que trabalhadores, em sua grande
d) quando usado como meio executório de um roubo, maioria estrangeiros, são submetidos a trabalhos forçados
coexiste com este em concurso de crimes. e jornadas exaustivas, configurando assim o crime de
redução à condição análoga à de escravo. Sobre esse
delito, assinale a alternativa que não o tipifica.
07. (2013 - TRT 14R - TRT - 14ª Região (RO e AC) -
Juiz do Trabalho) Analise as proposições abaixo e após a) Recusar o fornecimento de alimentação ou água
marque a alternativa correta: potável.

I. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de b) Restringir sua locomoção em razão de dívida contraída
constrangimento ilegal; quanto ao sujeito passivo, é com o preposto.
indispensável que possua capacidade de c) Vigilância ostensiva no local de trabalho.
autodeterminação. d) Apoderar-se de documentos ou objetos pessoais do
II. O constrangimento ilegal comporta condutas dolosas e trabalhador com o fim de retê-lo no local de trabalho.
culposas.
III. Nas hipóteses de constrangimento ilegal, ficando GABARITO
evidenciado o objetivo econômico, haverá concurso de
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
crimes com o de extorsão.
E C A B A C D B B A
IV. A ameaça se diferencia do constrangimento ilegal
porque neste último o agente busca uma conduta positiva
ou negativa da vítima e, na ameaça, o sujeito ativo SEÇÃO II
pretende tão somente atemorizar o sujeito passivo. DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO
a) Apenas os itens I e II são verdadeiros. DOMICÍLIO
b) Apenas os itens II e III são verdadeiros. Violação de domicílio
c) Apenas os itens III e IV são verdadeiros.
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou
d) Apenas os itens I e IV são verdadeiros. astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita
e) Apenas os itens II e IV são verdadeiros. de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:

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Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. nº II do parágrafo anterior - hospedaria é o recinto
destinado a receber pessoas que ali permanecem por um
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em
período predeterminado, mediante pagamento, como
lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma,
hotéis. Estalagem também é o local adequado para
ou por duas ou mais pessoas:
receber hóspedes, mediante remuneração, mas em
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da proporção menor do que a hospedaria (pousadas, abrigos
pena correspondente à violência. e pensões). Qualquer outra habitação coletiva, por sua
vez, é fórmula genérica indicativa de lugar coletivo e
§ 2º- (Revogado pela Lei nº 13.869, de aberto ao público (parques, áreas de lazer e campings).
2019) (Vigência)
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência gênero - Taverna é o local em que são vendidas e servidas
em casa alheia ou em suas dependências: refeições e bebidas. Casas de jogo são, em regra,
I - durante o dia, com observância das formalidades proibidas no Brasil (exemplo: cassinos). A expressão
legais, para efetuar prisão ou outra diligência; “outras do mesmo gênero” engloba os demais lugares de
diversão pública (cinemas, teatros e casas de
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum espetáculos).
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.
 Tais estabelecimentos, depois de fechados,
§ 4º - A expressão "casa" compreende: tornam-se privados, presumindo-se a proibição de neles
I - qualquer compartimento habitado; se penetrar sem licença.

II - aposento ocupado de habitação coletiva; Sujeito ativo: qualquer pessoa pode cometer o
crime.
III - compartimento não aberto ao público, onde
alguém exerce profissão ou atividade. ATENÇÃO! O proprietário do imóvel pode ser autor
deste delito, por exemplo, quando locador e invadir a casa
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa": do inquilino (locatário) sem autorização deste.
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que
habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do esteja na posse direta do imóvel.
n.º II do parágrafo anterior;
 Na hipótese de habitação familiar, o conflito de
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. decisões será resolvido pela prevalência da vontade dos
pais, em relação aos filhos. Se houver igualdade entre os
Objetividade jurídica: tutela-se a liberdade
vários moradores (ex.: república de estudantes),
privada do indivíduo, seu sossego e tranquilidade.
prevalece a decisão daquele que proibiu.
Conceito de casa: coube à lei, no § 4° (conceito
ATENÇÃO! Comete o crime o empregado que
positivo) e no § 5º (conceito negativo), delimitar o
permite a entrada de estranhos em seu cômodo, contra a
conceito penal de "casa". Deduz-se do § 4° que abrange
vontade do empregador, dono da casa.
mais do que indica o seu significado comum, diverso,
ainda, do conceito civil de domicílio. De acordo com esse Conduta: pune-se "entrar" ou "permanecer" em
parágrafo, a palavra "casa" compreende: residência alheia contra a vontade do possuidor direto.
Qualquer das condutas (entrar ou permanecer) deve ser
I - qualquer compartimento habitado - Deve ser
praticada de forma clandestina (às ocultas, sem
habitado por alguém, para morar, viver ou usar. Até
consentimento do morador), astuciosa (mediante
mesmo um automóvel pode ser classificado como
emprego de fraude) ou contra a vontade expressa
compartimento habitado, como por exemplo um trailer.
(manifestação certa e precisa, induvidosa) ou tácita
 Não é necessário a habitação permanente, (deduzida das circunstâncias) de quem de direito.
resultando que o fato de ter alguém habitando ainda que
 Trata-se de crime de mera conduta, porque se
transitoriamente, já é elemento necessário para
protege o aspecto psicológico de quem mora na casa, e
conceituar como casa.
não a casa em si.
II - aposento ocupado de habitação coletiva -
IMPORTANTE: Não há o crime na violação de
quartos de pensões, repúblicas, hotéis e motéis, que
lugares de uso comum (restaurantes, bares, lojas, hotéis),
estejam ocupados por alguém;
desde que não se estenda à parte interna desses locais,
III - compartimento não aberto ao público, onde resguardados pela lei.
alguém exerce profissão ou atividade – escritório do
Tipo subjetivo: admite-se apenas a conduta
advogado, consultório do médico ou dentista, balcão do
dolosa.
padeiro etc.
Consumação e tentativa: consuma-se tão logo o
 Também estão protegidas pela lei as
agente entre completamente na casa (ou dependência)
dependências da casa (jardins, garagens, quintais,
alheia, ou, quando ciente de que deve sair, fica no local
terraços e pátios), desde que fechados, cercados ou se
por tempo maior que permitido, desobedecendo a ordem
existentes obstáculos de fácil visualização vedando a
de retirada. Na primeira hipótese o crime é instantâneo, e
passagem do público.
na segunda, permanente. Apesar de ser delito de mera
Não é considerado casa: O § 5°, em dois incisos, conduta, excepcionalmente admite-se a tentativa, na
esclarece o que não se pode compreender por "casa": modalidade entrar.
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra
habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do
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Qualificadoras (§ 1º): o dispositivo traz cinco IMPORTANTE: Entrada em domicílio sem
qualificadoras para as situações em que o crime é autorização judicial – STF: O Plenário do Supremo
cometido: Tribunal Federal (STF) concluiu, na sessão do dia
05/11/2015, o julgamento do Recurso Extraordinário (RE)
a) durante a noite: a verificação da circunstância
603616, com repercussão geral reconhecida, e, por
noite é controvertida. Para uns, haverá noite no período
maioria de votos, firmou a tese de que “a entrada forçada
compreendido entre as 18h e 06h. Já outros consideram
em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em
haver noite pela ausência de luz solar, apegando-se ao
período noturno, quando amparada em fundadas razões,
critério físicoastronômico, considerando dia o intervalo de
devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que
tempo situado entre a aurora e o crepúsculo.
dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob
b) em lugar ermo: praticar o crime em lugar ermo pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
(deserto, faltando habitantes ainda que agente ou da autoridade e de nulidade dos atos
momentaneamente) facilita a prática do crie, dificultando praticados”.
o auxílio à vítima, revelando maior ameaça ao bem jurídico
tutelado;
SEÇÃO III
c) com emprego de violência: trata-se do emprego
DOS CRIMES CONTRA A
de força física, podendo ser praticada contra pessoa ou
coisa, não distinguindo o Código entre uma ou outra; INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA

d) com emprego de arma: o emprego de arma Violação de correspondência


também qualifica o crime. A arma pode ser de qualquer Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de
espécie (própria ou imprópria), havendo a majoração correspondência fechada, dirigida a outrem:
ainda que o agente dela se apodere apenas no interior do
imóvel, durante a ação criminosa (ex.: apoderar-se de Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
faca que se encontrava no jardim). Revogação: O caput do art. 151 do CP foi revogado
 Com a revogação da Súmula 174 do STJ, não pelo art. 40 da Lei 6.538/78, que trata das infrações
qualifica mais o crime o emprego de arma de brinquedo contra o serviço postal e o serviço de telegrama.
(simulacro de arma de fogo);
Sonegação ou destruição de correspondência
e) por duas ou mais pessoas: ao exigir que o crime
§ 1º - Na mesma pena incorre:
seja cometido (executado) por duas ou mais pessoas
(dispensando ajuste prévio), a hipótese não considera I - quem se apossa indevidamente de
eventuais partícipes no cômputo mínimo de agentes. correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou
em parte, a sonega ou destrói;
Exclusão do crime (§ 3º): sabendo que nenhuma
liberdade pública é absoluta, menciona o § 3° casos em Revogação: O art. 151, § 1º, inciso I, do Código
que, apesar de típica, cessa a antijuridicidade da ação Penal foi revogado pelo art. 40, § 1º, da Lei 6.538/1978,
(entrada ou permanência lícita): lei específica e mais recente.
I - durante o dia, com observância das formalidades Violação de comunicação telegráfica,
legais, para efetuar prisão ou outra diligência: a permissão radioelétrica ou telefônica
aqui escrita foi retratada na própria Constituição Federal.
Por "diligência" não se pense apenas na judicial, II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem
abrangendo também a policial ou administrativa, desde ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou
que legais, obviamente. radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica
entre outras pessoas;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando
algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o III - quem impede a comunicação ou a conversação
ser: trata-se de prisão em flagrante, quando qualquer do referidas no número anterior;
povo pode e as autoridades devem prender (CPP, art.
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho
301).
radioelétrico, sem observância de disposição legal.
 O art. 5º, XI, da CF utiliza a palavra “delito” em
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano
sentido amplo, alcançando crimes e contravenções.
para outrem.
ATENÇÃO! Além das hipóteses acima
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de
mencionadas, temos outras situações que excluem o
função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou
crime: art. 23 do CP (legítima defesa, estado de
telefônico:
necessidade, estrito cumprimento de dever legal e
exercício regular de direito) e art. 5°, XI, da Constituição Pena - detenção, de um a três anos.
Federal (em caso de desastre ou para prestar socorro).
§ 4º - Somente se procede mediante representação,
 Princípio da Consunção - as condutas que salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.
sejam mero meio para a prática do crime-fim restam por
ele absorvidas, ainda que sejam, isoladamente, condutas  A primeira parte do art. 151, § 1º, II, do CP está
criminosas. Assim, se o agente se vale da invasão de em vigor unicamente nas hipóteses em que a violação é
domicílio (que é crime autônomo) como mera etapa para efetuada por pessoas comuns.
a prática de um outro delito, como o furto, por exemplo, Aplica-se o art. 56, § 1º, da Lei 4.117/1962 –
este irá absorver aquele, respondendo o agente apenas Código Brasileiro de Telecomunicações, nas hipóteses em
pelo crime-fim.

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que a violação é praticada por funcionário do governo Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa,
encarregado da transmissão da mensagem. conteúdo de documento particular ou de correspondência
confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja
A parte final do art. 151, § 1º, II, do CP foi
divulgação possa produzir dano a outrem:
derrogada pela Lei 9.296/1996, que regulamenta o art.
5º, XII, parte final, da CF. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
 A modalidade do crime prevista no art. 151, §1º, § 1º Somente se procede mediante representação.
III, está em vigor, nos termos definidos pelo CP.
§ 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações
O art. 151, § 1º, IV, do CP foi substituído pelo art. sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas
70 da Lei 4.117/1962 – Código Brasileiro de ou não nos sistemas de informações ou banco de dados
Telecomunicações. da Administração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)
Causa de aumento da pena: As penas, em todas
as hipóteses, aumentam-se de metade, se há dano para Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
outrem. Esse dano pode ser econômico ou moral, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
pertinente a qualquer pessoa.
§ 2o Quando resultar prejuízo para a Administração
Figura qualificada (art. 151, § 3º): Aplicável às Pública, a ação penal será incondicionada. (Incluído pela
hipóteses não revogadas pela Lei 4.117/1962 – Código Lei nº 9.983, de 2000)
Brasileiro de Telecomunicações, e pela Lei 6.538/1978 –
Serviços Postais. Objetividade jurídica: tutela-se a liberdade
individual, mais especificamente a conservação dos
Ação penal: em regra, a ação penal é pública segredos (detalhes íntimos da vida do indivíduo).
condicionada à representação do ofendido, salvo nos
casos do § 3°, em que a pena será perseguida Sujeito ativo: somente o destinatário ou o
independentemente do pedido-autorização das vítimas. detentor do documento particular ou de correspondência
confidencial pode figurar como agente do delito em tela
(crime próprio).
Correspondência comercial Sujeito passivo: todo aquele que, direta ou
indiretamente, tenha interesse na conservação do segredo
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado
(remetente, destinatário ou terceira pessoa).
de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo
ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir Conduta: consiste em divulgar (transmitir, tornar
correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo: público), sem justa causa, segredo.
Pena - detenção, de três meses a dois anos. Tipo subjetivo: consiste na vontade consciente de
divulgar segredo de correspondência sem que, para tanto,
Parágrafo único - Somente se procede mediante
haja justa causa (prescinde-se de qualquer finalidade
representação.
especial). Não há previsão legal de modalidade culposa.
Objetividade jurídica: tutela-se a liberdade Consumação e tentativa: a maioria da doutrina
individual (inviolabilidade de correspondência). entende ser imprescindível a divulgação do segredo a
Sujeito ativo: é crime próprio, somente figurando número indeterminado de pessoas, pois somente desta
como autor o sócio ou qualquer empregado do forma poderá advir perigo de dano real e efetivo ao titular
estabelecimento comercial ou industrial. do segredo.

Sujeito passivo: será o próprio estabelecimento Divulgação de informações sigilosas da


comercial ou industrial (pessoa jurídica) remetente ou Administração Pública (§ 1º-A): delito instituído com o
destinatário, bem como seus respectivos sócios (pessoas fim de tutelar as informações sigilosas ou reservadas de
físicas). interesse da Administração Pública.

Conduta: a mesma do art. 152, salientando,  Informações são os dados sobre alguém ou
apenas, que nesse delito o agente se vale de sua qualidade algo. Sigilosa é a informação confidencial, secreta.
de sócio ou empregado. Reservada é a informação merecedora de cuidados
especiais relativamente às pessoas que dela possam ter
Tipo subjetivo: pune-se apenas a modalidade ciência.
dolosa.
Sujeito ativo: trata-se de crime comum: pode ser
Consumação e tentativa: consuma-se com a praticado por qualquer pessoa.
prática de um dos núcleos do tipo, criando-se a concreta
possibilidade de dano. Trata-se de crime de ação múltipla  Se o sujeito ativo for funcionário público, a ele
(de conteúdo variado). A tentativa é admissível (delito será imputado o crime de violação de sigilo funcional (CP,
plurissubsistente). art. 325).
Sujeito passivo: o Estado. Nada impede a
existência de um particular como sujeito passivo mediato
SEÇÃO IV ou secundário, desde que possa ser prejudicado pela
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS divulgação das informações sigilosas ou reservadas.
SEGREDOS
Ação penal: os §§ 1º e 2° dispõem sobre a ação
Divulgação de segredo penal a ser proposta. Em regra, procede-se somente
mediante representação do ofendido. Excepcionalmente,

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no caso tipificado no § 1º-A, a ação será pública § 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo
incondicionada quando da revelação resultar dano para a de comunicações eletrônicas privadas, segredos
Administração Pública. comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim
definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do
dispositivo invadido: (Incluído pela Lei nº 12.737, de
Violação do segredo profissional 2012) Vigência

Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo,


Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício
multa. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a
outrem:
§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. a dois terços se houver divulgação, comercialização ou
Parágrafo único - Somente se procede mediante transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou
representação. informações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de
2012) Vigência
Objetividade jurídica: a liberdade individual
voltada à inviolabilidade dos segredos, agora profissionais. § 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se
Sujeito ativo: será toda pessoa que, em razão de o crime for praticado contra: (Incluído pela Lei nº 12.737,
função, ministério, ofício, ou profissão, divulgar, de de 2012) Vigência
qualquer maneira, segredo de que tenha conhecimento
(crime próprio). I - Presidente da República, governadores e
prefeitos; (Incluído pela Lei nº 12.737, de
Sujeito passivo: qualquer pessoa titular de
2012) Vigência
segredo confiado ao agente do crime.
Conduta: a ciência de tais segredos deve decorrer II - Presidente do Supremo Tribunal
do exercício de função, ministério, ofício ou profissão, Federal; (Incluído pela Lei nº 12.737, de
circunstâncias que se prestam a agravar a conduta 2012) Vigência
praticada pelo agente.
Tipo subjetivo: é a vontade de revelar o segredo III - Presidente da Câmara dos Deputados, do
(dolo direto) Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da
Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
Consumação e tentativa: consuma-se com a Municipal; ou (Incluído pela Lei nº 12.737, de
revelação do segredo, sendo que o eventual dano 2012) Vigência
(material ou moral) é mero exaurimento (crime formal ou
de consumação antecipada). Quanto à possibilidade da
tentativa, temos de distinguir: se o crime for praticado de IV - dirigente máximo da administração direta e
forma oral, não se admite o conatus, vez que inadmissível indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito
o fracionamento da execução; no entanto, se o agente Federal. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
executar o crime de forma escrita, torna-se
plurissubsistente, admitindo-se a forma tentada. Bem jurídico protegido: O bem jurídico protegido
neste crime é a privacidade, gênero do qual são espécies
a intimidade e a vida privada. Desse modo, esse novo tipo
Invasão de dispositivo informático (Incluído penal tutela valores protegidos constitucionalmente (art.
pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 5º, X, da CF/88).
Sujeitos: Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático de uso (crime comum). Obviamente que não será sujeito ativo
alheio, conectado ou não à rede de computadores, com o desse crime a pessoa que tenha autorização para acessar
fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações os dados constantes do dispositivo. Sujeito passivo é a
sem autorização expressa ou tácita do usuário do vítima, que pode ser qualquer pessoa, proprietária ou
dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para obter usuária dispositivo violado.
vantagem ilícita: (Redação dada pela Lei nº 14.155, de
2021) Qualidade do sujeito passivo e aumento da
pena (art. 154-A, § 5º): O § 5º do art. 154-A do Código
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e Penal contempla causas de aumento da pena. A pena será
multa. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021) aumentada de um terço à metade se o crime for praticado
contra as pessoas elencadas no dispositivo. O aumento é
justificado pela relevância dos dados e informações
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece,
distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de contidos nos dispositivos informáticos de tais pessoas,
computador com o intuito de permitir a prática da conduta indispensáveis para a gestão da coisa pública.
definida no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de Conduta: - análise das elementares do tipo:
2012) Vigência
Invadir: Ingressar, sem autorização, em
determinado local. A invasão de que trata o artigo é
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 “virtual”, ou seja, no sistema ou na memória do dispositivo
(dois terços) se da invasão resulta prejuízo
informático.
econômico. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)

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Dispositivo informático: Em informática, dispositivo b) Segredos comerciais ou industriais;
é o equipamento físico (hardware) que pode ser utilizado
c) Informações sigilosas (o sigilo que qualifica o
para rodar programas (softwares) ou ainda para ser
crime é aquele assim definido em lei).
conectado a outros equipamentos, fornecendo uma
funcionalidade. Exemplos: computador, → Também incide a qualificadora no caso do invasor
tablet, smartphone, memória externa (HD externo), entre conseguir obter o controle remoto do dispositivo invadido.
outros.
Causa de aumento de pena (§ 4º): a pena é
De uso alheio: O dispositivo no qual o agente aumentada de um a dois terços se houver divulgação
ingressa deve ser de uso de terceiro. (propagação, tornar público ou notório), comercialização
(atividade relacionada à intermediação ou venda) ou
Conectado ou não à rede de computadores: Apesar
transmissão (transferência) a terceiros, a qualquer título,
do modo mais comum de invasão em dispositivos ocorrer
dos dados ou informações obtidas.
por meio da internet, a Lei admite a possibilidade de
ocorrer o crime mesmo que o dispositivo não esteja Causa de aumento de pena (§ 5º): a pena é
conectado à rede de computadores. É o caso, por aumentada de um terço à metade se o crime for praticado
exemplo, do indivíduo que, na hora do almoço, aproveita contra: (1) Presidente da República, governadores e
para acessar, sem autorização, o computador do colega prefeitos; (2) Presidente do Supremo Tribunal Federal; (3)
de trabalho. Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,
de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara
→ Atenção: não exige mais o tipo que a invasão
Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; (4)
ocorra “mediante violação indevida de mecanismo de
Dirigente máximo da administração direta e indireta,
segurança” (firewall, antivírus, anti-malware,
federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
antispyware, senha para acesso).
Com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações sem autorização expressa ou tácita do titular Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de
do dispositivo: ocorre quando, por exemplo, 2012) Vigência
um cracker ingressa no computador de uma atriz para
obter suas fotos lá armazenadas. Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A,
somente se procede mediante representação, salvo se o
Ou com o fim de instalar vulnerabilidades para obter crime é cometido contra a administração pública direta ou
vantagem ilícita: é o caso, por exemplo, do indivíduo que indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados,
invade o computador e instala programa espião que revela Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas
as senhas digitadas pela pessoa ao acessar sites de concessionárias de serviços públicos.
bancos.
Ação penal: no crime de invasão de dispositivo
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade informativo, em regra, a ação penal é condicionada à
consciente de invadir dispositivo informático alheio. Não representação da vítima, salvo se o crime é cometido
se admite a modalidade culposa. contra a administração pública direta ou indireta de
Consumação e tentativa: trata-se de crime qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal
formal (ou de consumação antecipada), perfazendo-se no ou Municípios ou contra empresas concessionárias de
momento em que o agente invade o dispositivo serviços públicos, hipóteses em que a ação será pública
informático da vítima, mediante violação indevida de incondicionada.
mecanismo de segurança, ou nele instala
vulnerabilidades, independentemente da produção do
resultado visado pelo invasor (adulteração ou destruição EXERCÍCIOS
de dados ou informações da vítima ou obtenção de
vantagem ilícita). A tentativa é possível (delito 01. (2017 – IBADE - PC-AC - Delegado de Polícia
plurissubsistente). Civil) Assinale a alternativa que contempla uma hipótese
de violação de domicílio.
Figura equiparada (§ 1º): Na mesma pena
a) Pafúncio e Marocas, casados, em virtude de um
incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde
desentendimento, resolvem se separar, após o que,
dispositivo ou programa de computador com o intuito de
conforme acordado entre ambos, Pafúncio deixa o lar
permitir a prática da conduta definida no caput.
conjugal para morar em outra casa. Semanas depois,
É o caso, por exemplo, do indivíduo que desenvolve embora já proposta a ação de divórcio, Pafúncio retorna
um programa do tipo “cavalo de troia” (trojan horse), ou ao imóvel e ali se instala sem a ciência de Marocas, que
seja, um malware (software malicioso) que, depois de naquele momento viajava com o novo namorado.
instalado no computador, libera uma porta para que seja b) Clarabela, ao passear pelas ruas internas de um
possível a invasão da máquina. condomínio de casas, no qual entrou regularmente,
Causa de aumento de pena (§ 2º): Aumenta-se percebe um canteiro de rosas no jardim de um dos
a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se da invasão imóveis. Como o jardim não é murado, delimitado por
resulta prejuízo econômico. cercas ou possui qualquer outro obstáculo ao livre acesso
de pessoas, Clarabela nele ingressa, de lá colhendo uma
Qualificadora (§ 3°): punido com reclusão, de muda de flor para levar consigo.
dois a cincos anos, e multa, se, com a invasão, o agente c) Jeremias, após o trabalho, por volta das 18h, notando
conseguir obter o conteúdo de: que não chegará a tempo para ver o jogo televisionado de
a) Comunicações eletrônicas privadas (e-mails, seu time de coração, entra no saguão de um hotel,
SMS, diálogos em programas de troca de mensagens etc);

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misturando-se a hóspedes e funcionários, pois ali há um alheia contra a vontade expressa ou tácita do morador é
telão transmitindo a partida. infração penal que consta no rol dos delitos contra a
d) Ferdinando, fotógrafo, é contratado para trabalhar em pessoa.
um evento privado. No dia agendado, erra o endereço e (C) Certo (E) Errado
ingressa - de forma não autorizada - no aniversário de
Violeta. Instado pelos seguranças a deixar o local, ainda
06. (2010 – CESPE - DETRAN-ES - Advogado) Uma
desconhecendo seu equívoco, Ferdinando se recusa a sair,
barraca de camping que seja habitada por uma família por
o que só acontece com a chegada da polícia militar.
alguns dias não se equipara à sua casa para fins da prática
e) Acácio, andarilho, entra em um apartamento de do delito de violação de domicílio, visto que seus
propriedade de Nestor, o qual se encontra vazio e habitantes não a ocupam em caráter permanente.
destinado à locação. Embora sua intenção inicial fosse
(C) Certo (E) Errado
apenas pernoitar no imóvel, Acácio decide fazer do local
sua nova moradia.
07. (2006 – CESPE - DPE-DF - Procurador) A violação
de domicílio é crime de mera conduta, não se exigindo
02. (2015 – VUNESP - MPE-SP - Analista de
resultado determinado.
Promotoria) Aproveitando-se da porta que estava
apenas encostada, Pedro ingressou sozinho e durante o (C) Certo (E) Errado
dia na residência de José, sabendo que no local não havia
ninguém, subtraindo dali dois relógios de pulso que depois 08. (2016 – Quadrix - CRO – PR - Recepcionista)
se apurou estarem quebrados. Assinale a alternativa Carla trabalha como recepcionista em uma empresa e,
correta a respeito da conduta de Pedro. após algum tempo, começa a atender ligações com
a) Praticou o crime de furto qualificado pela destreza, já conteúdo sigiloso, relativo a grandes contratos que serão
que se aproveitou de um momento em que a casa estava fechados pela diretoria. Ao ter conhecimento de tais
vazia para ali ingressar (artigo 155, § 4° , inciso II, CP). informações, ela as transmite a outro grupo que se
b) Caso Pedro seja primário, e os relógios, ainda que beneficiará do conteúdo. Ao fazer isso, Carla violou o
quebrados, forem de pequeno valor, poderá ser segredo profissional, um crime previsto no art. 154 do
condenado por furto privilegiado (art. 155, § 2° , CP). Código Penal Brasileiro, que diz:
c) Pedro praticou o crime de furto e, em razão de ter a) É permitida a divulgação de informações obtidas
ingressado em residência alheia, não poderá ser através de terceiros, desde que beneficiem um grupo
beneficiado com a substituição da pena corporal por específico.
restritiva de direitos, nos termos do artigo 44, III, CP (a b) Divulgar segredos de que tenha ciência em razão de
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a sua função e em benefício próprio não é crime.
personalidade do condenado, bem como os motivos e as c) Divulgar segredo de que tenha ciência em razão de sua
circunstâncias indicam que esta substituição seja função é crime.
suficiente).
d) Divulgar informações obtidas graças à sua função não
d) Praticou o crime de invasão de domicílio, previsto no é crime.
artigo 150, do Código Penal.
e) Não divulgar informações sigilosas de que tenha ciência
e) Caso condenado por furto, Pedro poderá ter diminuição em razão de sua função é crime.
da sua pena, desde que fique comprovado que praticou
furto famélico (procurava algo que pudesse vender para
comprar alimento). 09. (2015 – UFMT - IF-MT - Professor - Direito) Sobre
a tipificação dos delitos informáticos segundo a Lei nº
12.737/2012, assinale a afirmativa correta.
03. (2016 - MPE-SC - MPE-SC - Promotor de Justiça)
No crime de violação de domicílio, previsto no art. 150 do a) Pratica crime de invasão de dispositivo informático
Código Penal, existe uma circunstância de especial aquele que, com autorização expressa do titular do
aumento de pena segundo a qual aumenta-se a pena de dispositivo, instala vulnerabilidades para obter vantagem
um terço, se o fato é cometido por funcionário público, ilícita.
fora dos casos legais, ou com inobservância das b) Pratica o crime de perturbação de serviço telemático,
formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso de telefônico ou informático aquele que interrompe o serviço
poder. telemático, telefônico ou informático, salvo se cometido
(C) Certo (E) Errado por ocasião de calamidade pública.
c) Pratica crime de invasão de dispositivo informático
aquele que adultera ou destrói dados ou informações sem
04. (2013 – CESPE – DEPEN - Agente Penitenciário) autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo.
Considere que Adolfo, querendo apoderar-se de bens
existentes no interior de uma casa habitada, tenha d) Pratica o crime de falsificação de documento público
adentrado o local e subtraído telas de LCD e forno micro- aquele que falsifica, no todo ou em parte, cartão de crédito
ondas. Nessa situação, aplicando-se o princípio da ou de débito, obtendo ou não vantagem ilícita.
consunção, Adolfo não responderá pelo crime de violação
de domicílio, mas somente pelo crime de furto. 10. (2013 - CESPE - SEGESP - Perito Criminal) A
(C) Certo (E) Errado legislação atual tipifica como delito informático a invasão
de dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede
de computadores, mediante violação indevida de
05. (2011 – CESPE - PC-ES - Auxiliar de Perícia mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar
Médico-legal) O crime de entrar ou permanecer em casa ou destruir dados ou informações sem autorização

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expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar § 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo,
vulnerabilidades, em qualquer circunstância. considerada a relevância do resultado gravoso: (Incluído
(C) Certo (E) Errado pela Lei nº 14.155, de 2021)

I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois


GABARITO terços), se o crime é praticado mediante a utilização de
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela
A B C C C E C C C C Lei nº 14.155, de 2021)

II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o


2. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO crime é praticado contra idoso ou vulnerável. (Incluído
pela Lei nº 14.155, de 2021)
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (ARTS. 154 A 183)
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se
TÍTULO II a subtração for de veículo automotor que venha a ser
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO transportado para outro Estado ou para o
CAPÍTULO I - DO FURTO exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
Furto
§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco)
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa anos se a subtração for de semovente domesticável de
alheia móvel: produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local
da subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)
anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
praticado durante o repouso noturno.
possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno
valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de
Objetividade jurídica: É a propriedade e a posse
reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços,
legítima de coisa móvel.
ou aplicar somente a pena de multa.
ATENÇÃO: ladrão que subtrai ladrão pratica furto,
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica tendo como vítima, porém, o real dono da coisa (legítimo
ou qualquer outra que tenha valor econômico. possuidor).

Furto qualificado Sujeito ativo: qualquer pessoa pode ser sujeito


ativo do furto, salvo o próprio dono da coisa.
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e
Sujeito passivo: qualquer pessoa, física ou
multa, se o crime é cometido:
jurídica, proprietária ou possuidora da coisa móvel
subtraída.
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à
subtração da coisa; Conduta: é punível a subtração, a retirada da coisa
alheia de quem a detém.
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude,
escalada ou destreza; Apoderamento
Consequência
de coisa alheia
III - com emprego de chave falsa; Coisa de ninguém
(res nullius)
Fato atípico
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. Coisa abandonada
(res derelicta)
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) Coisa perdida Haverá crime de apropriação de
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de (res deperdita) coisa achada (art. 169, parágrafo
artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído único, II, do CP), pois apesar de
pela Lei nº 13.654, de 2018) alheia, não há subtração, mas
apropriação.
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8
 A coisa deve ser móvel. Para fins penais são
(oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é
considerados coisas móveis os bens capazes de ser
cometido por meio de dispositivo eletrônico ou
transportados de um para outro local sem que percam sua
informático, conectado ou não à rede de computadores,
com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a real identidade (os navios e aeronaves, ao contrário do
utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro Direito Civil, são móveis para o Direito Penal).
meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de
 Furto famélico: É o furto cometido por quem
2021)
subtrai alimentos para saciar a fome e preservar a vida
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própria ou de terceiro, quando comprovada uma situação ultrapassa um salário mínimo, segundo a pacífica
de extrema penúria, não há crime em face da exclusão da jurisprudência).
ilicitude pelo estado de necessidade (CP, art. 24, caput).
 O pequeno valor do prejuízo (requisito do furto
 Furto de uso: Consiste na subtração de coisa privilegiado) não se confunde com o prejuízo
apenas para usá-la momentaneamente, devolvendo-a, insignificante, que exclui a própria tipicidade.
logo em seguida, ao real proprietário. Faltando animus
furandi, configura-se um indiferente penal. ATENÇÃO! Súmula nº 511 do STJ: “É possível o
reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155
 Cadáver: A subtração de cadáver ou de parte do CP nos casos de crime de furto qualificado, se
dele caracteriza o crime definido pelo art. 211 do Código estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno
Penal (Destruição, subtração ou ocultação de cadáver). valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva”.
Entretanto, se o cadáver ostentar valor econômico e
encontrar-se na posse legítima de uma pessoa, física ou Furto de energia (§ 3°): É possível a subtração
jurídica, estará delineado o delito de furto (exemplo: de energia elétrica ou “qualquer outra que tenha valor
cadáver pertencente a uma Faculdade de Medicina ou a econômico”. É indispensável tratar-se de energia cujo
um hospital). apossamento seja possível, isto é, que possa ser
dissociada da sua origem.
Furto e princípio da insignificância ou
criminalidade de bagatela: Este princípio é ATENÇÃO! O STF já decidiu pela inexistência de
pacificamente reconhecido pela doutrina e pela furto na ligação clandestina de TV a cabo, com o
jurisprudência no crime de furto, funcionando como causa argumento de que este objeto não seria “energia”. Já o
de exclusão da tipicidade. STJ entende que é típica a conduta de furto de sinal de TV
a cabo.
 O STJ definiu como parâmetro econômico da
insignificância o objeto que valha cerca de 10% do salário  A subtração de sêmen também é considerada
mínimo furto (energia genética).

Tipo subjetivo: É o dolo (animus furandi). Pune-se Qualificadoras do art. 155, § 4º: Dizem respeito
a vontade consciente de apoderar-se definitivamente de ao meio de execução empregado pelo agente na prática
coisa alheia (animus rem sibi habendi), para si ou para do crime.
outrem. Não se admite a modalidade culposa.
Inciso I – Com destruição ou rompimento de
Consumação e tentativa: Consuma-se o crime obstáculo à subtração da coisa: Nas duas hipóteses
quando a coisa subtraída passa para o poder do agente, (destruição e rompimento) opera-se um dano a
com a inversão da posse do bem, ainda que por breve determinado objeto. Na destruição o dano é total, e parcial
tempo, sendo desnecessária a posse mansa e pacífica ou no rompimento. Ex.: destruir cerca elétrica de proteção,
desvigiada. Com isso fica consagrada a adoção da Teoria quebrar um cadeado, arrombar porta.
da “Amotio”. A tentativa é possível.
 Se a violência for exercida contra o próprio objeto
IMPORTANTE: Casos envolvendo dispositivos visado não incide a qualificadora (quebrar vidro do veículo
antifurto inseridos em veículos automotores ou para furtar o próprio carro).
estabelecimentos não caracterizam crime impossível, e
sim tentativa de furto. Inciso II – Com abuso de confiança, ou mediante
fraude, escalada ou destreza: Abuso de confiança
Causa de aumento de pena (furto noturno ou consiste na traição, pelo agente, da confiança que, oriunda
circunstanciado) - § 1°: Pune-se mais severamente (+ de relações entre ele e a vítima, faz com que o objeto do
1/3) o crime quando praticado no período em que a furto ficasse exposto ao seu fácil alcance (ex. empregado
localidade costumeiramente recolhe-se para o repouso de confiança); Fraude é o meio enganoso utilizado pelo
noturno diário. Assim, o furto durante repouso noturno agente para diminuir a vigilância sobre um bem móvel,
constitui majorante e não uma qualificadora. facilitando sua subtração (ex. test drive); Escalada
representa todo e qualquer meio anormal de o agente
ATENÇÃO! Para a maioria (inclusive STF e STJ), a ingressar em determinado local (ex. saltar um muro);
incidência do aumento dispensa que a casa esteja Destreza é a especial habilidade física ou manual que
habitada ou com moradores repousando. permite ao agente retirar bens em poder direto da vítima
sem que ela perceba a subtração (ex. batedor de carteira).
 O STJ decidiu ser possível a aplicação da
majorante também no furto qualificado, pois não há  FAMULATO: furto de um empregado contra o
incompatibilidade entre esta circunstância e aquelas que patrão com abuso de confiança.
qualificam o delito.
ATENÇÃO: A escalada envolve o uso de via anormal
Furto privilegiado (ou mínimo) - § 2°: A para ingressar no local em que se encontra a coisa visada.
aplicação do privilégio (substituição da reclusão por Não implica, necessariamente, subida, mas a utilização de
detenção, diminuição de um a dois terços, ou aplicação qualquer meio incomum, como, por exemplo, a
somente da pena de multa) precisa obedecer a dois penetração via subterrânea.
critérios: ser o agente primário (não reincidente) e de
pequeno valor a coisa subtraída (aquela que não

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Furto qualificado pela Apropriação indébita Causas de aumento de pena do furto mediante
confiança fraude cometido por meio de dispositivo eletrônico
Há mero contato com a O agente exerce a posse ou informático (§ 4º-C):
coisa, sem implicar posse. desvigiada em nome de
outrem. Inciso I: A pena é aumentada (1/3 a 2/3) em razão
do fato representar, de algum modo, uma ameaça à
Há dolo desde o início. O dolo é superveniente à
posse. soberania nacional. Além disso, essa circunstância
acarreta uma maior dificuldade na identificação e eventual
responsabilização penal dos envolvidos, justificando uma
Furto qualificado pela Estelionato maior reprimenda.
fraude
A fraude visa a diminuir A fraude visa a fazer com Inciso II: Idoso: o conceito de idoso no Brasil é
a vigilância da vítima e que a vítima incida em erro dado pelo art. 1º da Lei nº 10.741/2003, ou seja, a pessoa
possibilitar a subtração. e entregue com idade igual ou superior a 60 anos.
espontaneamente o objeto Já a pessoa vulnerável, como não foi dado um
ao agente. conceito específico, deve-se utilizar a definição do art.
A vontade de alterar a A vontade de alterar a posse 217-A, caput e § 1º, do CP. Desse modo, podem ser
posse no furto é é bilateral (agente e vítima considerados vulneráveis:
unilateral (apenas o querem).
agente quer). a) a pessoa menor de 14 anos;
b) a pessoa que, em razão de enfermidade ou
Inciso III – Com emprego de chave falsa: Chave deficiência mental, não tem o necessário discernimento
falsa é qualquer instrumento, com ou sem forma de chave, para a prática de determinados atos.
de que se vale o agente para fazer funcionar, no lugar da
chave verdadeira, o mecanismo de uma fechadura ou Atenção – elemento subjetivo: para que o autor
dispositivo semelhante, permitindo ou facilitando a responda pelas causas de aumento de pena é
subtração do bem. (ex. chave mixa). indispensável que exista dolo (consciência e vontade), ou
seja, é necessário que o agente saiba que, no caso
Inciso IV – Mediante concurso de duas ou mais concreto, está sendo utilizado um servidor mantido no
pessoas: Cuida-se de crime acidentalmente coletivo: pode exterior ou que a vítima seja idosa ou vulnerável.
ser praticado por uma única pessoa, mas a pluralidade de Qualificadora do art. 155, § 5º – subtração de
sujeitos acarreta o aumento da pena. A qualificadora é veículo automotor que venha a ser transportado para
aplicável ainda que um dos envolvidos seja inimputável ou outro Estado ou para o exterior: diz respeito a um
desconhecido. resultado posterior à subtração, fundamentando-se na
maior dificuldade de recuperação do bem pela vítima.
 Se o crime foi cometido por associação criminosa,
já decidiu o STJ que a incidência da presente qualificadora  A pessoa contratada apenas para o transporte,
não acarreta bis in idem, respondendo os autores pelos não tendo qualquer participação no delito anterior,
crimes de associação criminosa e furto qualificado pelo responde somente por receptação ou favorecimento real,
concurso de agentes. a depender do caso.

Qualificadora do art. 155, § 4º-A – Essa Qualificadora do art. 6º (abigeato): Com a


qualificadora, cuja pena é de 04 a 10 anos de reclusão, finalidade de dar um tratamento mais severo à subtração
foi incluída pela Lei nº 13.654, de 23/04/2018, incidindo de semovente domesticável de produção, ainda que
quando, para praticar o furto, haja emprego de explosivo abatido ou dividido em partes no local da subtração, a Lei
ou artefato semelhante, que cause perigo comum. A nº 13.330/2016, inseriu o § 6º ao art. 155 do Código
preocupação aqui é aumentar a repressão ao furto de Penal, prevendo mais uma modalidade qualificada para o
caixas eletrônicos, infração que a todo tempo ganha delito de furto, cominando uma pena de reclusão de 2
espaço nos noticiários. (dois) a 5 (cinco) anos para aqueles que praticarem essa
modalidade de subtração.
(Furto mediante fraude cometido por meio de
dispositivo eletrônico ou informático) Por semovente domesticável de produção entende-
Qualificadora do art. 155, § 4º-B: essa se um animal não selvagem, destinado à produção
qualificadora, cuja pena é de 04 a 08 anos de reclusão, pecuária de alimentos, a exemplo do que ocorre com os
foi incluída pela Lei nº 14.155/2021, incidindo se o furto gados bovinos, suínos, ovinos, equinos, bufalinos,
mediante fraude (§ 4º, II) é cometido por meio de caprinos e os asininos, ou seja, que dizem respeito à
dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à criação para o abate de mercado de bois, vacas, porcos,
rede de computadores, com ou sem a violação de carneiros, ovelhas, cavalos, búfalos, burros, cabras e
mecanismo de segurança ou a utilização de programa bodes.
malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento
análogo.  Os bípedes também estão inseridos nesse
conceito, como é o caso das galinhas, codornas, faisões,
Atenção: antes da Lei nº 14.155/2021 essa conduta perus etc.
se amoldava ao crime de furto mediante fraude (art. 155,
§ 4º, II, do CP). Qualificadora do art. 155, § 7º – Essa
qualificadora foi incluída pela Lei nº 13.654, de
23/04/2018, incidindo quando o objeto material for

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substância explosiva. A preocupação aqui é aumentar a EXERCÍCIOS
repressão à subtração de explosivos para serem utilizados
nos furtos de caixas eletrônicos, infração que a todo tempo
ganha espaço nos noticiários. 01. (2012 – CEC - Prefeitura de Pinhais – PR - Guarda
Municipal) Assinale (V) se a assertiva for Verdadeira e
ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90 (F) se a assertiva for Falsa, a respeito dos crimes contra o
inclui no rol dos hediondos o crime de furto qualificado patrimônio:
pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que
cause perigo comum (art. 155, § 4º-A). ( ) A energia elétrica é equiparada pelo legislador a
“coisa alheia móvel" e, assim, pode ser objeto do crime de
furto.
Furto de coisa comum
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou ( ) A pessoa que, logo depois de subtraída a coisa,
sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim
detém, a coisa comum: de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da
coisa para si ou para terceiro, comete o crime de roubo
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou próprio.
multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação. ( ) O crime de apropriação indébita consuma-se
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum quando o agente transforma a posse em propriedade, ou
fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito seja, quando se inverte a posse em domínio.
o agente.
( ) Disposição de coisa alheia como própria é uma
Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio. É
modalidade de estelionato.
uma espécie menos grave de furto. O objeto jurídico é a
propriedade, posse ou detenção de coisa comum
(pertencente a várias pessoas, inclusive ao sujeito ativo). ( ) O crime de receptação é punível, ainda que
desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, que só proveio a coisa.
pode ser praticado pelo condômino, coerdeiro ou sócio da
coisa comum.
Marque a alternativa que corresponde, de cima para
Sujeito passivo: É o outro (ou outros) condômino, baixo, às respostas dadas:
coerdeiro ou sócio, bem como o terceiro que detenha a) V – V – F – V – V
legitimamente a coisa.
b) V – V – F – F – V
Conduta: a conduta tipificada é a mesma do art. c) F – F – V – V – F
155 (apoderar-se), recaindo, agora, sobre coisa comum.
O bem visado pelo agente deve estar na legítima posse de d) V – F – V – V – V
outrem (condômino, coerdeiro ou sócio, ou de terceiro). e) V – F – V – V – F
 Se o sócio desvia coisa da sociedade de que faz
parte e em cuja direção se encontra, não ocorre furto de
02. (2009 – MOVENS - PC-PA - Investigador) Acerca
coisa comum, podendo ocorrer apropriação indébita.
dos crimes contra o patrimônio, assinale a opção correta.
Tipo subjetivo: pune-se a conduta dolosa apenas a) A fraude eletrônica para transferir valores de conta
(de subtrair coisa comum). bancária por meio da internet constitui crime de
estelionato.
Consumação e tentativa: a maioria da doutrina
b) A obtenção da vantagem indevida é condição
entende ser suficiente a retirada da coisa da esfera de
indispensável para a consumação do crime de extorsão.
posse e disponibilidade da vítima. Admite-se a tentativa.
c) Mesmo que o agente não obtenha sucesso na subtração
 A ação penal é pública condicionada à de bens da vítima, haverá crime de latrocínio se o
representação (art. 156, § 1º, do CP). homicídio for consumado.

Causa especial de exclusão da ilicitude (art. d) No crime de furto em residência, para efeitos de
156, § 2º): Sua aplicação depende de dois requisitos: a) aplicação da pena, é irrelevante o horário em que o agente
fungibilidade da coisa comum; e b) que seu valor não pratica o delito.
exceda a quota a que tem direito o agente.

 Coisa fungível é a de natureza móvel e suscetível 03. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil)
de ser substituída por outra da mesma espécie, qualidade Desejando roubar um estabelecimento comercial,
e quantidade (art. 85 do Código Civil). É imprescindível Celidônio rouba primeiramente um carro, deixando-o
que seu valor não exceda a quota a que tem direito o ligado em frente ao estabelecimento para a facilitação de
agente. sua fuga. Quando Celidônio se afasta, Arlindo casualmente
passa pelo local e, vendo o veículo ligado, opta por
subtraí-lo, dirigindo ininterruptamente até ingressar em

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outro Estado da Federação. Nesse contexto, é correto falar d) com abuso de confiança.
que Arlindo cometeu crime de:
e) mediante emprego de arma de fogo.
a) furto.
b) roubo.
07. (2013 – FCC - TRT - 15ª Região - Técnico
c) receptação Judiciário - Segurança) Paulo exercia, há muitos s, as
funções de caseiro da chácara de Pedro, que nele
d) roubo majorado
depositava absoluta confiança, entregando-lhe as chaves
e) furto qualificado. da sede para limpeza. Um dia Paulo apanhou as chaves e
entrou no quarto, subtraindo a quantia de R$ 3.000,00
que se encontrava na gaveta do armário. Paulo cometeu
04. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Técnico crime de:
Judiciário - Informática) A respeito do crime de furto, a) apropriação de coisa achada.
considere:
b) apropriação indébita.
I. Peter cavou um túnel e, com grande esforço, conseguiu
entrar no interior de uma loja, dali subtraindo produtos c) furto simples.
eletrônicos.
d) estelionato.
II. Paulus, com o auxílio de uma corda, entrou pela janela
e) furto qualificado pelo abuso de confiança.
em uma residência, de onde subtraiu objetos.
III. Plinius escalou uma árvore, galgou o telhado de um
supermercado e removeu várias telhas, entrando no local, 08. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia)
de onde subtraiu diversos objetos. Num período em que faltam corpos hums para estudo nos
institutos de anatomia das universidades de medicina,
Ficou caracterizada a qualificadora da escalada
Claudionor, funcionário de uma universidade privada,
a) nos furtos cometidos por Peter e Paulus, apenas. vende um cadáver desta universidade para outra, sem o
conhecimento dos administradores da instituição em que
b) nos furtos cometidos por Peter, Paulus e Plinius. trabalha. Assim, Claudionor:
c) nos furtos cometidos por Peter e Plinius, apenas. a) não praticou nenhum crime, haja vista o cadáver não
d) nos furtos cometidos por Paulus e Plinius, apenas. poder ser objeto de crime.

e) no furto cometido por Plinius, apenas. b) praticou o crime de destruição, subtração ou ocultação
de cadáver.
c) praticou o crime de vilipêndio a cadáver.
05. (2014 – IPAD - Prefeitura de Recife – PE - Agente
de Segurança Municipal - Guarda Municipal) d) praticou o crime de violação de sepultura.
Beltrano, aproveitando-se da greve da força estadual de e) praticou o crime de furto.
segurança pública, invade casa de eletrodomésticos a
noite, arromba a porta de acesso e subtrai televisão. Após
ampla divulgação do acontecido pelos meios de imprensa,
09. (2012 – FGV - Senado Federal - Policial
Beltrano arrependido devolve a televisão. Considerando o
Legislativo Federal) Tício, funcionário público federal,
exposto, e correto afirmar que Beltrano:
quando visitava colega servidor lotado em outro público,
a) Não cometeu crime algum, visto que devolveu a se interessa por um bem móvel que guarnecia o visitado.
televisão. Objetivando levar para si aquele objeto do patrimônio
público, após desviar a atenção do colega afastando-o do
b) Cometeu o crime de roubo, visto que agiu quando a local, o coloca no interior de sua bolsa, saindo em seguida
força de segurança do Estado se encontrava de greve. sem ser notado. Diante desse quadro fático, em tese, Tício
c) Cometeu o crime de apropriação indébita, visto que praticou o crime de
inobstante tenha subtraido devolveu o objeto a) peculato furto.
d) Cometeu o crime de furto, sendo irrelevante para b) apropriação indébita.
consumação do citado crime a devolução da televisão.
c) estelionato.
e) Cometeu o crime de estelionato visto que agiu com ardil
se aproveitando da greve da força de segurança do d) peculato apropriação.
Estado.
e) furto qualificado pela fraude.

06. (2014 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia)


10. (2010 – CONSULTEC - TJ-BA - Conciliador) Dois
Qualifica o crime de furto, nos termos do art. 155, § 4.º
rapazes, A e B, moradores do mesmo condomínio,
do CP, ser o fato praticado.
praticam as seguintes condutas: A subtrai, com animus
a) em local ermo ou de difícil acesso. furandi, um aparelho de ginástica, que fica na área comum
do condomínio, e o coloca no quarto de seu apartamento.
b) contra ascendente ou descendente. B, aproveitando-se de que um vizinho viajou, pega as
c) durante o repouso noturno. chaves do automóvel dele para “dar uma volta” durante a

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noite, devolvendo, horas depois, o referido automóvel, VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com
intacto e com o tanque cheio, no mesmo lugar emprego de arma branca; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
Se A e B forem descobertos, as infrações penais que eles
responderão são § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois
terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
a) A, por furto qualificado, e B, por crime nenhum.
b) A, por furto de coisa comum, e B, por crime nenhum. I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego
de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
c) ambos por furto qualificado.
d) A, por furto de coisa comum e B, por apropriação II – se há destruição ou rompimento de obstáculo
indébita. mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo
que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654,
e) A, por furto qualificado, e B, por estelionato.
de 2018)

GABARITO § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
D C E B D D E E E B aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela


CAPÍTULO II Lei nº 13.654, de 2018)
DO ROUBO E DA EXTORSÃO

I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7


Roubo (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº
13.654, de 2018)
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou
para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido
(trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, de
à impossibilidade de resistência:
2018)

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.


Objetividade jurídica: o crime de roubo é um
crime complexo, unidade jurídica que se completa pela
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de reunião de dois tipos penais: furto (art. 155 do CP) e
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou constrangimento ilegal (art. 146 do CP). Tutela-se, a um
grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime só tempo, o patrimônio e a liberdade individual da vítima.
ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Sujeito ativo: a exemplo do furto, também aqui
qualquer pessoa pode praticar o crime, exceto o
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até proprietário do bem, que pode ser responsabilizado por
metade: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018) exercício arbitrário das próprias razões.

I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, Sujeito passivo: é o proprietário, possuidor ou o
de 2018) mero detentor da coisa, bem como a pessoa contra quem
se dirige a violência ou grave ameaça, ainda que desligada
da lesão patrimonial (segurança pessoal do possuidor do
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
bem móvel, por exemplo).

III - se a vítima está em serviço de transporte de Conduta: duas formas de roubo estão previstas no
valores e o agente conhece tal circunstância. tipo em estudo: o roubo próprio (caput) e o impróprio (§
1º).
IV - se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou para o Roubo próprio: aqui o agente, antes de apoderar-
exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) se do patrimônio alheio, emprega:

a) violência - para que se caracterize a violência


V - se o agente mantém a vítima em seu poder,
restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de contra a pessoa, basta a simples lesão leve ou vias de fato,
1996)
b) grave ameaça - coação psicológica, a promessa
de causar um mal injusto, grave e possível, ou
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem c) ou qualquer outro meio capaz de impossibilitar a
sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela vítima de resistir ou defender-se - refere-se à violência
Lei nº 13.654, de 2018) imprópria (emprego de drogas, soníferos, hipnose etc.).

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Roubo impróprio (roubo por aproximação) - §
1°: nesta hipótese, após subtrair a coisa, o agente b) Se a vítima está em serviço de transporte de
constrange a vítima mediante violência ou grave ameaça valores e o agente conhece tal circunstância: o serviço de
para assegurar a impunidade do crime ou a detenção do transporte de valores pode ser realizado por dever de
bem (trata-se de um crime de furto que se transforma em ofício ou mesmo acidentalmente. Os “valores” a que se
roubo em face das circunstâncias do caso concreto). refere o texto legal tanto podem ser representados por
dinheiro como também por qualquer outro bem de cunho
 Para configurar roubo impróprio é imprescindível econômico, dos quais são exemplos as pedras preciosas e
o prévio apoderamento da coisa. os títulos ao portador.

ATENÇÃO! O delito de roubo, em qualquer de suas c) Subtração de veículo automotor transportado


formas, não admite o princípio da insignificância. para outro Estado ou para o exterior: a exemplo do
acréscimo ao art. 155, a lei buscou, com a severidade da
Subtração por arrebatamento (trombada) - pena, minimizar o recorrente roubo de veículos
pode caracterizar, dependendo do caso concreto, tanto automotores e sua posterior remessa a outros Estados ou
furto como roubo. Se o contato físico contra a vítima tiver países, tratando-se de causa de aumento de pena que diz
o propósito único de distraí-la, sem capacidade de respeito a um resultado posterior à subtração.
machucá-la, o crime será de furto. Se for dirigida à pessoa
da vítima, provocando-lhe lesão corporal ou vias de fato, d) Se o agente mantém a vítima em seu poder,
com a intenção de eliminar ou reduzir sua defesa, o crime restringindo sua liberdade: Nesta hipótese, o agente, para
será de roubo. consumar o crime ou garantir o sucesso da fuga, mantém
a vítima em seu poder, restringindo a sua liberdade de
Tipo subjetivo: o dolo consistente na vontade locomoção. Não se confunde com a hipótese do agente
consciente de apoderar-se, para si ou para outrem, privar desnecessariamente a liberdade de locomoção da
mediante violência ou grave ameaça, de coisa alheia vítima, por período prolongado, caso em que teremos
móvel. Não se admite a modalidade culposa. roubo em concurso material com o delito de sequestro, eis
que texto legal se reporta à restrição da liberdade, e
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA não à sua privação.
Roubo próprio Roubo improprio
e) Se a subtração for de substâncias explosivas ou
Consuma-se com a Consuma-se com o
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem
subtração da coisa emprego da violência ou
sua fabricação, montagem ou emprego: Essa majorante
(apoderamento) grave ameaça.
foi acrescida pela Lei nº 13.654/2018, referindo-se à
 A maioria da doutrina admite a tentativa nas duas
subtração de substâncias explosivas ou de acessórios que,
hipóteses.
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
montagem ou emprego. Aplicam-se, no geral, as mesmas
ATENÇÃO! Súmula 582 do STJ: Consuma-se o circunstâncias da qualificadora do furto, com a óbvia
crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante diferença de que aqui a subtração se dá mediante violência
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por ou grave ameaça.
breve tempo e em seguida à perseguição imediata do
agente e recuperação da coisa roubada, sendo f) Se a violência ou grave ameaça é exercida com
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. emprego de arma branca: Essa majorante foi acrescida
pela Lei nº 13.964/2019 – Pacote Anticrime, referindo-se
Várias vítimas – se, no mesmo contexto fático, ao emprego de arma branca para a violência ou a grave
caracteriza o concurso formal de delitos, respondendo o ameaça durante o roubo. Arma branca é todo o objeto
agente por tantos roubos quantos forem os patrimônios construído com o objetivo de atacar algo ou alguém, mas
lesados. de maneira manual, como espadas, punhais, soco inglês,
etc. Também abrange qualquer objeto que possa ser
MUITA ATENÇÃO: Com a revogação do inciso I do utilizado para atacar alguém, mas que a princípio não tem
§ 2º do art. 157 do CP, pela Lei nº 13.654/2018 (se a esta finalidade (chave de fenda, foice, garrafa).
violência ou ameaça é exercida com emprego de arma),
houve uma “novatio legis in mellius” (lei nova favorável
ao réu). É que sempre se entendeu que o termo “arma”
abrangia tanto as armas próprias (revólver; punhal, etc.) Roubo circunstanciado pelo emprego de arma
como as impróprias (martelo, faca de cozinha, facão de de fogo (uso permitido) ou pelo emprego de
roça, etc.). A constatação de existência de qualquer tipo explosivo:
de arma, permitia o aumento de um terço até a metade.
Hoje, não mais. Está abolida a causa de aumento quanto I – Se a violência ou ameaça é exercida com
às armas diversas das que sejam de fogo. emprego de arma de fogo: A Lei nº 13.654/2018 estipulou
a majoração em 2/3 para a pena do roubo no qual se
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - 1/3 até a emprega especificamente qualquer tipo de arma de fogo.
metade (roubo circunstanciado) - § 2º: são aplicáveis A restrição é benéfica para os roubos cometidos com
tanto ao roubo próprio (caput) quanto ao impróprio (§ 1°). armas outras, próprias ou impróprias, que não sejam
armas de fogo, devendo retroagir para retirar a
a) Concurso de duas ou mais pessoas: para fins de majorante.
aplicação da majorante do concurso de pessoas
computam-se os inimputáveis ou pessoas não II – Se há destruição ou rompimento de obstáculo
identificadas que tenham participado do crime. mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo

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que cause perigo comum: Trata-se aqui da situação na patrimônio, duas ou mais pessoas são mortas, há um só
qual o agente emprega violência ou grave ameaça à crime de latrocínio.
pessoa para praticar a subtração por meio de explosivos.
Imaginemos o caso em que um grupo criminoso invade Latrocínio e concurso de agentes: A
um estabelecimento comercial durante o expediente, jurisprudência do STF se consolidou no sentido de que o
subjuga as pessoas presentes e instala um dispositivo coautor que participa do roubo armado responde pelo
explosivo para abrir um cofre. Imputa-se o crime de roubo latrocínio, ainda que o disparo tenha sido efetuado só pelo
com pena majorada em dois terços. comparsa. E de que é desnecessário saber qual dos
coautores desferiu o tiro, pois todos respondem pelo fato.
Roubo circunstanciado pelo emprego de arma
de fogo de uso restrito ou proibido: A Lei nº ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90
13.964/2019 – Pacote Anticrime, acrescentou o § 2º-B inclui no rol dos hediondos o crime de roubo quando: a)
instituindo nova causa de aumento de pena – o dobro – circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art.
caso a violência ou grave ameaça seja exercida com 157, § 2º, inciso V); b) circunstanciado pelo emprego de
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego
de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, §
2º-B); c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave
Roubo qualificado (art. 157, § 3º, do CP): O ou morte (art. 157, § 3º).
roubo qualificado apresenta-se sob duas espécies: (a)
roubo qualificado pela lesão corporal grave; e (b) roubo Consumação e tentativa: Como o latrocínio é
qualificado pela morte, também denominado de latrocínio. crime complexo, envolvendo subtração (roubo) e morte
(homicídio), é possível que uma delas se aperfeiçoe e a
ATENÇÃO: O roubo qualificado é crime qualificado outra não. Logo, quatro situações podem ocorrer, cada
pelo resultado, mas não necessariamente preterdoloso uma possuindo sua respectiva solução:
(dolo no antecedente e culpa no consequente), pois o
resultado agravador – lesão corporal grave ou morte – A) subtração e morte consumadas = latrocínio
pode ter sido provocado dolosa ou culposamente. consumado
B) subtração e morte tentadas = latrocínio tentado
I – Se da violência resulta lesão corporal grave (art. C) subtração tentada e morte consumada =
157, § 3º, I): O legislador utilizou a expressão “lesão latrocínio consumado
corporal grave” em sentido amplo, abrangendo a lesão D) subtração consumada e morte tentada =
corporal grave propriamente dita e também a lesão latrocínio tentado.
corporal gravíssima (CP, art. 129, §§ 1º e 2º,
respectivamente). Com o advento da Lei nº 13.654/2018 MORTE + SUBTRAÇÃO = LATROCÍNIO
a pena máxima foi aumentada de 15 para 18 anos. Consumada Consumada Consumado
Consumado
IMPORTANTE: A lesão corporal leve (CP, art. 129, Consumada Tentada
(Súmula 610 do STF)
caput) produzida em decorrência do roubo não constitui
Tentada Tentada Tentado
qualificadora, sendo absorvida pelo crime mais grave, pois
funciona como seu meio de execução. Tentada Consumada Tentado

 O resultado agravador pode ter sido suportado Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio,
pela vítima da subtração ou por terceira pessoa. quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o
agente a subtração de bens da vítima.
II – Se da violência resulta morte – (art. 157, § 3º,
II): o roubo qualificado pela morte é também denominado
de latrocínio. É crime complexo: resulta da fusão dos Extorsão
delitos de roubo (crime-fim) e homicídio (crime-meio) e
pluriofensivo, já que ofende o patrimônio e a vida humana.
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para
 No latrocínio, a vontade do agente deve estar
outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que
voltada ao patrimônio, valendo-se da morte como meio
se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
para alcançar o fim desejado.

ATENÇÃO! Se a intenção inicial do agente era Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
apenas a morte da vítima, mas, após a consumação do
crime de homicídio, resolve subtrair seus bens, § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais
responderá pelo crime de homicídio, em concurso com pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena
furto. de um terço até metade.

 Para que haja latrocínio é necessário, também, § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante
que a morte decorra da violência empregada durante e em violência o disposto no § 3º do artigo anterior. Vide Lei nº
razão do assalto. Ausente qualquer desses pressupostos, 8.072, de 25.7.90
o agente responderá por crime de homicídio doloso em
concurso com o roubo.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da
Latrocínio e pluralidade de mortes: Se no liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a
contexto de um roubo, voltado contra um único obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão,

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de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta Causas de aumento de pena em 1/3 até a
lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas metade (§ 1°):
previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.
(Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009) a) Crime cometido por duas ou mais pessoas: a
Objetividade jurídica: protege-se o patrimônio e, pena será obrigatoriamente aumentada, sendo
secundariamente, a inviolabilidade da pessoa da vítima. indispensável que todos os envolvidos na empreitada
criminosa realizem atos executórios da extorsão,
Sujeito ativo: não se exige nenhuma qualidade mediante a utilização de violência à pessoa ou grave
especial do agente, razão pela qual o crime pode ser ameaça, não computado eventuais partícipes.
cometido por qualquer pessoa.
b) Crime cometido mediante emprego de arma:
Sujeito passivo: a vítima é tanto aquela que sofre prevalece na doutrina e jurisprudência o conceito de arma
a violência ou grave ameaça quanto a titular do bem no sentido amplo, compreendendo os objetos
atacado (podendo ser a mesma pessoa, ou pessoas confeccionados sem finalidade bélica, porém capazes de
diversas). intimidar, ferir o próximo (ex.: faca de cozinha, navalha,
foice, tesoura, guarda-chuva, pedra etc.).
Conduta: a conduta de constranger significa coagir
alguém a fazer algo, tolerar que se faça ou deixar de fazer  A ameaça exercida com emprego de simulacro de
alguma coisa. Dá-se mediante violência (física) ou grave arma de fogo é incapaz de gerar a majorante.
ameaça, a fim de obter uma indevida vantagem
econômica. Extorsão qualificada (art. 158, § 2º): Há duas
modalidades de extorsão qualificada: com resultado lesão
 A vantagem, além de ser indevida, deve ser corporal grave e com resultado morte. Ambas somente se
econômica, sob pena de afastar-se o crime de extorsão. caracterizam quando a extorsão é praticada mediante
violência, não se podendo, pois, falar em extorsão
Roubo x Extorsão: no roubo, o agente emprega qualificada quando cometida com grave ameaça. No mais,
violência ou grave ameaça para subtrair o bem, buscando aplicam-se todas as regras legais acerca do roubo
imediata vantagem, dispensando, para tanto, a qualificado.
colaboração da vítima; na extorsão, o sujeito ativo
emprega violência ou grave ameaça para fazer com que a ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90
vítima lhe proporcione indevida vantagem mediata inclui no rol dos hediondos o crime de extorsão quando
(futura), sendo, portanto, de suma importância a qualificada pela restrição da liberdade da vítima,
participação do constrangido. ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º).

Roubo – art. 157 Extorsão – art.158 Qualificadora pela restrição da liberdade da


vítima (sequestro relâmpago) § 3°: o dispositivo
O agente faz com que a
O ladrão subtrai. qualifica o crime quando cometido mediante a restrição da
vítima lhe entregue.
liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a
A colaboração da vítima A colaboração é
obtenção da vantagem econômica. A pena de reclusão
é dispensável. indispensável.
passa a ser de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa.
A vantagem buscada é A vantagem buscada é
imediata. mediata. Qualificadoras pelo resultado: a parte final do §
3º qualifica a extorsão se resulta lesão corporal grave ou
 É possível a caracterização do crime de extorsão morte, aplicando-se as penas previstas no crime de
diante da conduta do agente que invade dispositivo extorsão mediante sequestro (art. 159, §§ 2° e 3°), ou
informático, subtrai dados e informações do titular, e em seja, reclusão de 16 a 24 anos e reclusão 24 a 30 anos,
seguida, exige vantagem para não os utilizar contra o respectivamente.
interesse deste último.
 Nessa modalidade criminosa o agente constrange
Tipo subjetivo: É o dolo. Não se admite a a vítima, com o emprego de violência à sua pessoa ou
modalidade culposa. Exige-se também um especial fim de grave ameaça seguida da restrição da sua liberdade como
agir (elemento subjetivo específico), representado pela forma de obter a indevida vantagem econômica.
expressão “com o intuito de obter para si ou para outrem
indevida vantagem econômica”. ATENÇÃO! O sequestro relâmpago difere da
extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), uma vez que
Consumação e tentativa: A extorsão é crime não há privação, mas restrição da liberdade. Não há
formal, de consumação antecipada ou de resultado encarceramento da vítima nem a finalidade de
cortado: consuma-se no momento em que a vítima, recebimento de resgate para sua soltura, e sim o desejo
depois de sofrer a violência ou grave ameaça, realiza o de obter, em face do constrangimento, e não da privação
comportamento desejado pelo criminoso, ainda que em da liberdade, uma indevida vantagem econômica.
razão de sua conduta o agente não obtenha a indevida
vantagem econômica. A tentativa é possível (delito
plurissubsistente). Extorsão mediante sequestro

 Súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter,
consuma-se independentemente da obtenção da para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
vantagem indevida”. condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de
25.7.90 (Vide Lei nº 10.446, de 2002)

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Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. (Redação
dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)  Trata-se de crime permanente, isto é, admite
flagrante a qualquer tempo da privação.
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro)
horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior Qualificadoras: Os §§ 1º, 2º e 3º do art. 159 do
de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando Código Penal preveem as modalidades qualificadas do
ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Redação delito. Tendo em vista as características que lhe são
dada pela Lei nº 10.741, de 2003) peculiares, faremos a análise individualizada de cada uma
das qualificadoras elencadas.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. (Redação dada
Privação da liberdade da vítima ultrapassa o período
pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
de vinte e quatro horas: A primeira qualificadora é de
natureza objetiva, pois que a lei penal determina que, se
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza a privação da liberdade durar mais do que 24 horas, a
grave: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 pena cominada será de reclusão, de 12 (doze) a 20 (vinte)
anos.
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
(Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) Se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior
de 60 (sessenta) anos: a qualificadora referente à idade
§ 3º - Se resulta a morte: Vide Lei nº 8.072, de do sequestrado leva em consideração, em primeiro lugar,
25.7.90 a maior facilidade de que dispõem os agentes, já que, em
geral, vítimas menores ou idosas possuem menor
capacidade de resistência. Além disso, o sequestro de
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. pessoas nessas circunstâncias é capaz de incutir maior
(Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990) temor nos familiares, causando abalos psicológicos de
natureza ainda mais grave do que em circunstâncias
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o diversas.
concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a
libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um Crime cometido por bando ou quadrilha: aqui, como
a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996) se pode notar, justifica-se a elevação da pena em razão
da maior periculosidade ostentada pelos agentes.
Objetividade jurídica: busca-se proteger o
patrimônio e a liberdade de locomoção da vítima, bem  O art. 24 da Lei 12.850/2013 – Lei do Crime
como sua integridade física. Organizado conferiu nova redação ao art. 288 do Código
Penal, e substituiu sua nomenclatura original – “quadrilha
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode praticar ou bando” – por “associação criminosa”.
(crime comum).
Lesão grave e morte: quanto aos§§ 2° e 3º, a
Sujeito passivo: será vítima tanto a pessoa que exemplo do que ocorre no crime de roubo, a lesão corporal
teve sua liberdade tolhida, quanto aquela que sofreu lesão ou a morte pode decorrer de culpa ou dolo do agente,
patrimonial em virtude da extorsão. sendo certo que podem ser praticadas tanto na vítima
privada da sua liberdade como na da extorsão, ou contra
Conduta: o tipo objetivo do delito é "sequestrar", qualquer outra pessoa, desde que, obviamente, inserida
abrangendo o cárcere privado. O direito de ir e vir pode no contexto fático do delito aqui estudado.
ser impedido mediante qualquer meio (violência, grave
ameaça etc.), com a finalidade de obtenção de qualquer ATENÇÃO! No roubo e na extorsão só existe a
vantagem, como condição ou preço do resgate. qualificadora quando a lesão corporal de natureza grave
ou a morte resultam da “violência”. Na extorsão mediante
IMPORTANTE: Muito embora a redação do sequestro a qualificadora resta delineada quando o
dispositivo diga "qualquer vantagem", a doutrina entende resultado agravador emana do “fato”, e não
que esta deve ser econômica, porquanto se trata de delito necessariamente da violência.
patrimonial.
Delação premiada (art. 159, § 4º): Tratando-se
ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90 de causa especial de diminuição da pena, o
inclui no rol dos hediondos o crime de extorsão mediante reconhecimento da delação premiada é tarefa exclusiva do
sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1o, Poder Judiciário. A delação premiada, na extorsão
2o e 3o). mediante sequestro, depende de quatro requisitos
cumulativos:
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
consciente de privar a vítima de sua liberdade, aliada à a) cometimento de um crime de extorsão mediante
finalidade de obter ilícita vantagem em troca de sua sequestro;
soltura.
b) crime praticado em concurso de pessoas;
Consumação e tentativa: consuma-se com a
privação da liberdade da vítima, configurando o c) denúncia por parte de um dos criminosos à
recebimento do resgate mero exaurimento a ser autoridade devendo delatar o fato à autoridade,
considerando pelo magistrado na dosagem da pena. A compreendida como qualquer agente público ou político
tentativa é admissível (crime plurissubsistente).
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com legitimidade para encetar diligências aptas a
promover a libertação da vítima; e EXERCÍCIOS

d) facilitação na libertação do sequestrado, devendo


ser eficaz, no sentido de contribuir decisivamente para a 01. (2017 - MPE-RS - MPE-RS - Secretário de
libertação da pessoa sequestrada, não sendo a pena Diligências) Considere as seguintes afirmações a
diminuída se o sequestrado foi solto por outro motivo respeito dos crimes contra o patrimônio.
qualquer, diverso da informação prestada pelo criminoso.
I. Tratando-se de crime de roubo, o juiz poderá substituir
 Presentes os requisitos legais, a pena deve ser a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
diminuída. dois terços, ou aplicar somente a pena de multa, se o
criminoso é primário e se é de pequeno valor a coisa
ATENÇÃO: Se o resultado agravador for produzido objeto do roubo.
por caso fortuito, força maior ou culpa de terceiro, não
II. No delito de estelionato a pena será aplicada em dobro
incide a qualificadora.
se o crime for cometido contra idoso.

Extorsão indireta III. O delito de receptação não admite a forma qualificada.


Quais são INCORRETAS?
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida,
a) Apenas I.
abusando da situação de alguém, documento que pode
dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou b) Apenas II.
contra terceiro:
c) Apenas III.

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. d) Apenas I e III.

Objetividade jurídica: é o patrimônio e a


liberdade individual nas relações entre credores e 02. (2014 – CONSULPAM – SURG - Agente de Trânsito)
devedores. Tomando por base os tipos penais de crimes contra o
patrimônio, complete as lacunas abaixo para, ao final,
Sujeito ativo: qualquer pessoa. É aquele que exige escolher a sequência CORRETA:
ou recebe documento que pode dar causa a procedimento I - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
criminal contra a vítima ou terceiro. mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois
de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
Sujeito passivo: é tanto aquele que entrega o de resistência.
documento, quanto, eventualmente, terceira pessoa que
pode ser prejudicada pela sorte do documento que foi II - Constranger alguém, mediante violência ou grave
dado em garantia. ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem
indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça
Conduta: para a tipificação do crime, deve haver ou deixar fazer alguma coisa.
abuso da situação em que se encontra a vítima (pessoa III - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em
aflita compelida a entregar o documento). prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
Devem estar presentes na extorsão indireta: fraudulento.
a) Exigência ou recebimento de documento que IV - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando
possa dar causa a processo penal contra a vítima ou da situação de alguém, documento que pode dar causa a
terceiro; procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.
b) Abuso da situação de necessidade do sujeito
a) estelionato, extorsão indireta, roubo, extorsão
passivo;
c) Intuito de garantir, de forma ameaçadora, o b) roubo, extorsão, estelionato, extorsão indireta.
pagamento de dívida.
c) estelionato, apropriação indébita, fraude, d.
Tipo subjetivo: é o dolo, consubstanciado na d) estelionato, roubo, extorsão indireta, extorsão
vontade consciente de obter documento que pode dar
causa à instauração de procedimento criminal, abusando
da situação aflitiva da vítima. 03. (2013 – UEPA - PC-PA - Escriturário) Em relação aos
crimes patrimoniais, deve ser indiciado:
a) por estelionato o agente que, fazendo-se passar por
Consumação e tentativa da extorsão indireta auditor fiscal, subtrai do escritório de uma empresa dois
Classificação notebooks que estavam sobre mesas de trabalho,
Modalidade quanto ao Tentativa enquanto os funcionários se afastam para buscar os livros
resultado contábeis por ele exigidos.
Admissível b) por apropriação indébita, o funcionário que retira do
Exigir Crime formal apenas na forma cofre da empresa certa quantia em dinheiro, sem saber
escrita que havia no local uma câmera, instalada justamente para
Receber Crime material Admissível monitorar o comportamento dos funcionários.

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c) por receptação, o comerciante que faz um acordo com b) extorsão.
assaltantes de seu bairro, por meio do qual se c) roubo.
compromete a comprar, para fins de revenda, peças de d) furto.
celulares que eles roubarem dali por diante. e) estelionato.
d) por extorsão mediante sequestro o indivíduo que, após
tomar um casal de namorados como reféns, libera o rapaz
06. (2014 – FUNDATEC - SUSEPE-RS - Agente
para buscar dinheiro, como condição para libertar a moça
Penitenciário) Tício subtrai coisa alheia móvel de Mélvio
que continuará em seu poder até o recebimento dos
e, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência ou
valores.
grave ameaça contra Mélvio, a fim de assegurar a
e) por extorsão, o indivíduo que chantageia seu impunidade do crime ou a detenção da coisa para si. O
concorrente em um concurso público, ameaçando crime cometido por Tício foi:
apresentar provas de um crime por ele cometido, como
a) Extorsão.
forma de forçá-lo a desistir da vaga, que assim será
destinada ao coator. b) Furto.
c) Extorsão indireta.
04. (2008 – CESPE – PRF - Policial Rodoviário d) Roubo.
Federal) A respeito dos crimes contra o patrimônio,
assinale a opção correta. e) Lesão corporal grave.

a) Considere a seguinte situação hipotética. Roberto tinha e) furto.


a intenção de praticar a subtração patrimonial não-
violenta do automóvel de Geraldo. No entanto, durante a
execução do crime, estando Roberto já dentro do veículo, 07. (2014 – FUNCAB - PJC-MT - Investigador)
Geraldo apareceu e foi correndo em direção ao veículo. Eufrosina, experiente psicóloga e conhecedora profunda
Roberto, para assegurar a detenção do automóvel, das técnicas de hipnose, propõe a sua amiga Ambrosia
ameaçou Geraldo gravemente, conseguindo, assim, hipnotizá-la, sob o argumento de curá-la de um trauma da
cessar a ação da vítima e se evadir do local. Nessa infância. Acreditando na cura, Ambrosia aceita a terapia.
situação, Roberto responderá pelos crimes de ameaça e Estando sob os efeitos da hipnose e das determinações de
furto, em concurso material. Eufrosina, Ambrosia entrega-lhe um colar de brilhantes,
que já era cobiçado pela psicóloga há anos. Eufrosina vai
b) Considere a seguinte situação hipotética. Fernando, embora surrupiando a joia. Assim, Eufrosina praticou o
pretendendo roubar, com emprego de arma de fogo crime de:
municiada, R$ 20.000,00 que Alexandre acabara de sacar
em banco, abordou-o no caminho para casa. Alexandre, a) roubo próprio.
no entanto, reagiu, e Fernando o matou mediante o b) furto simples.
disparo de seis tiros, empreendendo fuga em seguida, sem
consumar a subtração patrimonial. Nessa situação, c) furto qualificado
Fernando responderá por crime de latrocínio tentado. d) roubo impróprio.
c) Considere a seguinte situação hipotética. Renato, e) apropriação indébita.
valendo-se de fraude eletrônica, conseguiu subtrair mais
de R$ 3.000,00 da conta bancária de Ernane por meio do
sistema de Internet banking da Caixa Econômica Federal.
08. (Vunesp - Juiz de Direito - RJ/2014) Nos estritos
Nessa situação, Renato responderá por crime de
termos do CP, aquele que faz ligação clandestina de
estelionato.
energia elétrica junto a poste instalado na via pública e a
d) Uma das distinções entre o crime de concussão e o de utiliza em proveito próprio
extorsão é que, no primeiro tipo penal, o funcionário a) comete fato típico equiparado a furto.
público deve exigir a indevida vantagem sem o uso de b) comete fato típico equiparado a apropriação indébita.
violência ou de grave ameaça, que são elementos do c) não comete crime algum, por falta de expressa previsão
segundo tipo penal referido. legal.
d) comete estelionato.
e) No crime de extorsão mediante sequestro, faz jus à
delação premiada o co-autor que delatou os comparsas e
indicou o local do cativeiro, ainda que reste comprovado
09. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Escrivão de Polícia
que a vítima tenha sido liberada após configurada a
Civil) A fim de subtrair pertences de Bartolomeu,
expectativa de êxito da prática delituosa, isto é, após o
Marinalda coloca barbitúricos em sua bebida, fazendo-o
recebimento do dinheiro exigido como preço do resgate.
desfalecer. Em seguida, a mulher efetiva a subtração e
deixa o local, sendo certo que o lesado somente vem a
acordar algumas horas depois. Nesse contexto, é correto
05. (Vunesp- Delegado de Polícia- CE/2015) Aquele afirmar que Marinalda praticou crime de:
que com prévia intenção de vantagem patrimonial, seduz
outra pessoa, convidando-a à pratica de ato sexual e, a) furto qualificado.
durante o coito, amarra a vítima ao leito, impossibilitando
b) apropriação indébita.
sua reação, a fim de que possa subtrair-lhe os pertences
pessoais (dinheiro, telefone celular e automóvel), comete c) estelionato.
crime de
d) extorsão.
a) extorsão mediante sequestro.

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e) roubo. Sujeito ativo: Somente o proprietário do imóvel
contíguo àquele em que é realizada a alteração de limites
(crime próprio).
10. (2013- FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia)
Vitorina, ex-funcionária da empresa de fornecimento de Sujeito passivo: será o proprietário ou possuidor
energia elétrica, vestindo um uniforme antigo, foi até a (legítimos) do imóvel cuja área é alterada em suas divisas.
casa de Pauliana dizendo que estava ali para receber os
valores da conta mensal de fornecimento de energia Conduta: é crime de ação múltipla (ou conteúdo
elétrica. Acreditando em Vitorina, Pauliana, pagou os variável) cujos núcleos são suprimir ou deslocar.
valores a esta, que utilizou o dinheiro para comprar alguns
vestidos. Entretanto, como sempre, as contas dessa Tipo subjetivo: além do dolo, consistente na
empresa eram e deveriam ser pagas na rede bancária. vontade consciente de suprimir ou deslocar tapume,
Logo, Vitorina praticou o crime de: marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha
divisória, exige-se também finalidade especial: intenção
a) furto. de apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel
b) roubo. alheia, ocupando ou invadindo.

c) estelionato. Consumação e tentativa: crime é formal, de


d) apropriação indébita. consumação antecipada ou de resultado cortado:
consuma-se com a efetiva supressão ou deslocamento do
e) extorsão. tapume, marco ou outro sinal divisório,
independentemente da apropriação total ou parcial do
imóvel alheio, que funciona como exaurimento do delito.
GABARITO A tentativa é possível.
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D B D D C D A A E C Usurpação de águas (§ 1º, I): é crime comum e
formal, admitindo-se a tentativa. O sujeito passivo será o
proprietário ou possuidor da água desviada ou represada.
CAPÍTULO III
Esbulho possessório (§ 1º, II): tratando-se de
DA USURPAÇÃO
crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
Sujeito passivo é aquele que detém a posse legitima do
Alteração de limites imóvel invadido, abrangendo o possuidor indireto.

Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou  A lei exige para o esbulho, atos de invasão, de
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para entrada hostil no imóvel, por quatro pessoas, já que o
apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia: dispositivo reclama que o agente tenha o concurso de mais
de duas pessoas (ele, agente, e mais três).
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
Concurso material (§ 2°): haverá concurso
material se da violência empregada se configurar qualquer
§ 1º - Na mesma pena incorre quem: dos delitos contra a pessoa (lesão corporal, homicídio).

Usurpação de águas Ação penal: se a propriedade é particular e não há


o emprego de violência, determina o § 3° que a ação penal
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de será privada.
outrem, águas alheias;
Supressão ou alteração de marca em animais
Esbulho possessório
Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de
ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno propriedade:
ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também
na pena a esta cominada. Objetividade jurídica: tutela-se aqui a posse e a
propriedade dos semoventes, considerados coisa móvel
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há para efeitos penais.
emprego de violência, somente se procede mediante
queixa. Sujeito ativo: qualquer pessoa pode praticar este
crime.
Objetividade jurídica: É o patrimônio,
relativamente à propriedade e à posse legítima de bens Sujeito passivo: será o proprietário do animal.
imóveis.
Conduta: o tipo incrimina duas ações (crime de
ação múltipla): suprimir (extinguir, fazer com que
desapareça, ocultar) ou alterar (modificar, transformar)
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marca ou sinal indicativo de propriedade em gado ou Tipo subjetivo: o tipo subjetivo é o dolo,
rebanho alheio. consistente na vontade consciente de destruir, inutilizar
ou deteriorar coisa alheia.
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
consciente de suprimir ou alterar, indevidamente, em  Dano à cela para fuga do preso: para o STJ o
gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de preso que destrói ou inutiliza as grades da cela onde se
propriedade. encontra, com o intuito exclusivo de empreender fuga, não
comete crime de dano. Já o STF decidiu que comete o
Consumação e tentativa: consuma-se com a crime de dano qualificado o preso que, para fugir, danifica
efetiva supressão ou alteração da marca ou sinal. a cela do estabelecimento prisional em que esta recolhida.

 Caso o agente efetivamente se apodere do animal Consumação e tentativa: consuma-se com a


(furto), a alteração ou supressão (não importando se ocorrência do efetivo dano, pouco importando se o agente
antecedente ou subsequente) ficará absorvida pelo crime auferiu qualquer tipo de lucro com sua conduta. A
patrimonial (princípio da consunção). tentativa é admissível.

Dano qualificado (parágrafo único):


CAPÍTULO IV
DO DANO
a) Se o crime é praticado com violência à pessoa
ou grave ameaça: no inciso I, a violência deve ser anterior
Dano ou concomitante ao dano, se posterior, haverá concurso
material.
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa
alheia: b) Se o crime é praticado com emprego de
substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. crime mais grave: no inciso II a infração é subsidiária,
podendo haver crime contra a incolumidade pública se
causar risco maior.
Dano qualificado
c) Se o crime é praticado contra o patrimônio da
Parágrafo único - Se o crime é cometido: União, Estado, Município, empresa concessionária de
serviços públicos ou sociedade de economia mista: no
I - com violência à pessoa ou grave ameaça; inciso III, tem-se como patrimônio todos aqueles bens
pertencentes à Administração Pública, seja de uso comum
II - com emprego de substância inflamável ou ou não (abrangendo, inclusive, os dominicais).
explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
ATENÇÃO: A partir da edição da Lei nº
13.531/2017, a qualificadora abrange toda a
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Administração Pública, acrescendo ao rol do art. 163, §
Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação único, III do CP, o Distrito Federal, as autarquias,
pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou fundações públicas e empresas públicas, que não eram
empresa concessionária de serviços públicos; (Redação contempladas até então.
dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
d) Se o crime é praticado por motivo egoístico ou
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo com prejuízo considerável para a vítima: no inciso IV, deve
considerável para a vítima: o sujeito ativo agir com a intenção de causar o prejuízo
maior, sendo que será ele avaliado de acordo com a
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, condição econômico-financeira da vítima (relação
além da pena correspondente à violência. prejuízo/fortuna).

Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio ATENÇÃO! De acordo com o STF, é inaplicável o


alheio (móveis ou imóveis). princípio da insignificância quando a lesão produzida pelo
agente atinge bem de grande relevância para a população.
Sujeito ativo: é crime comum, que pode ser
praticado por qualquer pessoa. Introdução ou abandono de animais em
propriedade alheia
Sujeito passivo: será o proprietário (e o
possuidor) da coisa danificada. Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em
propriedade alheia, sem consentimento de quem de
Conduta: crime de conteúdo variável, sendo os direito, desde que o fato resulte prejuízo:
núcleos: destruir, inutilizar ou deteriorar. Admitem-se as
formas comissiva e omissiva.
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou
ATENÇÃO! O ato de “pichação” atualmente se multa.
encontra tipificado no art. 65 da Lei 9.605/98 (crimes
contra o meio ambiente). Objetividade jurídica: tutela-se a propriedade e a
posse de bem imóvel contra eventuais danos causados por

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animais arbitrariamente nele introduzidos ou Ação penal privada: Este artigo determina a
abandonados (pastoreio ilegítimo ou pastagem indevida). espécie de ação penal para os crimes de dano simples (art.
163, caput), de dano qualificado por motivo egoístico ou
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode figurar como com prejuízo considerável para a vítima (art. 163, IV), e
sujeito ativo (crime comum). introdução ou abandono de animais em propriedade alheia
(art. 164).
Sujeito passivo: será o proprietário ou possuidor
do imóvel.  Como o dispositivo se refere unicamente a tais
hipóteses, nos demais delitos previstos no Capítulo IV do
Conduta: o tipo admite tanto a forma comissiva Título II da Parte Especial do Código Penal, a ação será
(introduzir), quanto a omissiva (deixar), nesta última pública incondicionada.
hipótese o dono do animal sabe que este está em
propriedade alheia e nada faz para retirá-lo. Há o crime EXERCÍCIOS
ainda quando, inicialmente, o agente tenha sido
autorizado a introduzir o animal na propriedade alheia, 01. (2015 – FUNIVERSA - SAPeJUS – GO - Agente de
mas, posteriormente advertido pelo proprietário para que Segurança Prisional) Segundo a Constituição da
o retirasse, abandona-o no local. República Federativa do Brasil, no artigo 5.º, caput: “todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
 O tipo contém elementos normativos: "sem o natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
consentimento" e "desde que do fato resulte prejuízo" residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
(econômico). liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Diante do exposto, percebe-se que o direito à propriedade
Tipo subjetivo: é o dolo, consubstanciado na é um direito fundamental de caráter inviolável e, destarte,
vontade consciente de introduzir animal em propriedade legitima o legislador ordinário a tipificar condutas que
alheia, sem o consentimento do proprietário ou possuidor. atentem contra o patrimônio de terceiros. A respeito do
crime de d previsto no Código Penal pátrio, assinale a
Consumação e tentativa: trata-se de crime alternativa correta.
material. Só se consuma com a ocorrência de dano ao a) O crime de dano é um crime contra o patrimônio,
proprietário ou possuidor do imóvel. Se não houver destarte, para sua configuração, faz-se necessário que o
prejuízo econômico o fato será um indiferente penal. A agente vise à obtenção de lucro.
tentativa não é possível.
b) O crime de dano poderá ser perpetrado pela
negligência, imprudência ou imperícia.
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico
ou histórico c) O crime de dano simples é de ação privada,
enquadrando-se no conceito de infração de menor
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa potencial ofensivo, assim, ser-lhe-á aplicado o
tombada pela autoridade competente em virtude de valor procedimento sumaríssimo previsto na Lei n.º
artístico, arqueológico ou histórico: 9.099/1995.
d) Prevê o Código Penal brasileiro que haverá o crime de
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. dano qualificado se o crime for perpetrado em desfavor do
patrimônio da União, de estado, de município, de
Revogação: Este artigo foi tacitamente revogado empresas públicas ou de fundações instituídas pelo Poder
pelo art. 62 da Lei 9.605/1998 – Lei dos Crimes Público.
Ambientais.
e) Por expressa previsão de legen, haverá o crime de dano
qualificado se o agente empregar substância inflamável ou
explosiva, mesmo se o fato constituir um crime mais
Alteração de local especialmente protegido grave.

Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade


competente, o aspecto de local especialmente protegido 02. (2012 – FAURGS - TJ-RS - Conciliador Criminal)
por lei: José Paulo, imprudente na condução de veículo
automotor, colidiu com viatura da polícia militar do Estado
do Piauí, destruindo-a parcialmente. Por sorte, a viatura
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
encontrava-se parada e desocupada no momento do
acidente. Nesse caso, é correto afirmar que José Paulo
Revogação: O art. 166 do Código Penal foi
tacitamente revogado pelo art. 63 da Lei 9.605/1998 – Lei a) responderá pelo delito de dano culposo.
dos Crimes Ambientais.
b) responderá pelo delito de dano qualificado, por ter
destruído patrimônio pertencente ao Estado do Piauí.
Ação penal
c) responderá pelo delito de dano simples, nos termos do
caput do artigo 163 do Código Penal.
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu
parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante d) responderá pelo delito de dano qualificado e deverá
queixa. reparar integralmente o dano causado ao patrimônio
público.

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e) não praticou delito de dano. I. No crime de furto, se o criminoso é primário, e a coisa
furtada é de pequeno valor, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção.
03. (2016 – IESES - TJ-MA - Titular de Serviços de
II. Considera-se qualificado o dano praticado com
Notas e de Registros - Remoção) Podemos definir
violência à pessoa ou grave ameaça, com emprego de
como crimes de usurpação e dano segundo o Código Penal
substância inflamável ou explosiva (se o fato não constitui
Brasileiro, respectivamente:
crime mais grave), contra o patrimônio da União, Estado,
a) Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro Município, empresa concessionária de serviços públicos ou
sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no sociedade de economia mista ou ainda por motivo
todo ou em parte, de coisa imóvel alheia. Destruir, egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima.
inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
III. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
b) Suprimir ou alocar tapume, marco, ou qualquer outro contra o patrimônio em prejuízo do cônjuge, na constância
sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se de da sociedade conjugal, desde que não haja emprego de
coisa móvel alheia. Destruir coisa alheia. grave ameaça ou violência à pessoa ou que a vítima não
seja idosa nos termos da Lei 10.741/2003.
c) Destruir ou danificar sinal indicativo de linha divisória,
no todo ou em parte. Aniquilar coisa alheia. Assinale:
d) Invadir limites de território privado sem autorização, ou a) se somente a afirmativa I estiver correta.
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, no todo
ou em parte. Depreciar coisa alheia. b) se somente a afirmativa II estiver correta.
c) se somente a afirmativa III estiver correta.

04. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Delegado de Polícia d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
Civil) Bráulio, inconformado com uma mensagem privada
e) se todas as afirmativas estiverem corretas.
de conteúdo romântico observada no aparelho de telefonia
celular de sua namorada, decide dele se apossar como
vingança. Contudo, enfrenta oposição da namorada, que
07. (2010 - TRT 21R (RN) - TRT - 21ª Região (RN) -
se posta entre o autor e o aparelho. Assim, Bráulio, para
Juiz do Trabalho) Durante o movimento grevista, três
assegurar seu intento, empurra com violência a namorada
empregados filiados ao sindicato da categoria profissional
contra a parede, ferindo-a levemente. Assegurando a
praticaram as seguintes condutas: o primeiro, fez uma
posse do telefone, Bráulio deixa a casa da namorada, vai
ligação clandestina, por meio de um fio, entre o poste de
até um terreno baldio e, pegando uma grande pedra que
energia da rua e o carro de som do sindicato, parado na
ali se encontra, com ela golpeia o aparelho, de modo a
calçada do portão de entrada da empresa, propiciando o
torná-lo inservível, o que era sua intenção desde o início.
funcionamento contínuo do equipamento e dos alto-
Analisando o caso proposto, assinale a opção que
falantes; o segundo, escalou o muro lateral do
corretamente realiza a subsunção do comportamento do
estabelecimento, passou por cima da cerca elétrica e, em
autor à norma penal.
seguida, retirou e se apropriou da câmera de filmagem
a) Dano qualificado instalada na parede interna, levando-a consigo na
mochila; o terceiro, que estava trabalhando normalmente,
b) Furto e lesão corporal.
dirigiu-se, de forma sorrateira, ao setor administrativo da
c) Lesão corporal. empresa, abriu o arquivo das pastas de contratos e
cheques de clientes e os rasgou. Os crimes cometidos
d) Roubo pelos três empregados foram, respectivamente:
e) Dano qualificado e lesão corporal. a) furto; furto qualificado e dano;
b) apropriação indébita; roubo e estelionato;
05. (2017 – VUNESP - Prefeitura de Andradina – SP c) furto qualificado; roubo e estelionato;
- Assistente Jurídico e Procurador Jurídico) Entre
outras possibilidades, o crime de dano do art. 163 do CP d) apropriação indébita; furto qualificado e dano
é qualificado se cometido qualificado;

a) por motivo fútil. e) nenhuma das respostas é correta.

b) por duas ou mais pessoas.


c) durante o repouso noturno. 08. (2008 – FGV - TJ-MS - Juiz) São crimes contra o
patrimônio:
d) em situação de calamidade pública.
a) roubo, furto, estelionato e lesão corporal.
e) contra o patrimônio da União, Estado ou Município.
b) roubo, furto, estelionato e usurpação de águas.
c) roubo, furto, estelionato e peculato.
06. (2010 – FGV - PC-AP - Delegado de Polícia)
Relativamente aos crimes contra o patrimônio, analise as d) roubo, furto, estelionato e moeda falsa.
afirmativas a seguir:
e) roubo, furto, estelionato e injúria.

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09. (2014 - FMP Concursos - TJ-MT - Remoção) quem seja confiada a posse ou a detenção de determinado
Pratica o crime de dano qualificado o agente que destruir, bem móvel.
inutilizar ou deteriorar coisa alheia (art. 163 do CP)
 Se funcionário público, apropriando-se de coisa,
a) com violência a animais.
pública ou particular, em seu poder em razão do ofício,
b) com emprego de qualquer substância perigosa para a caracteriza-se o crime do art. 312 do CP (peculato).
saúde.
Sujeito passivo: será aquele atingido em seu
c) com emprego de chave falsa. patrimônio pela indevida apropriação; pode ser pessoa
d) com emprego de astúcia. física ou jurídica, não necessariamente aquele que
entregou o bem ao agente.
e) contra o patrimônio de empresa concessionária de
serviços públicos. Conduta: trata-se de crime de ação única, cujo
comportamento nuclear se consubstancia no verbo
apropriar-se (assenhorar-se, tomar para si) coisa alheia
10. (2014 – VUNESP - PC-SP - Delegado de Polícia) móvel, de que tem a posse ou detenção, passando a agir
Para subtrair um automóvel, “X”, de forma violenta, arbitrariamente como se dono fosse.
danificou a sua porta. Nesse caso, “X” deverá responder
a) pelo crime de roubo, visto que se utilizou de violência Pode ocorrer:
para danificar a porta.
Pela retenção: o agente demonstra ânimo de não
b) apenas pelo crime de furto, em razão do princípio da devolver;
subsidiariedade.
Pela disposição da coisa: através do consumo
c) apenas pelo crime de furto, em razão do princípio da
próprio indevido.
consunção.
d) pelos crimes de furto e de dano. Para que se perfaça o crime de apropriação indébita
pressupõe-se o atendimento dos seguintes requisitos:
e) apenas pelo crime de furto, em razão do princípio da
especialidade.
1) a vítima deve entregar voluntariamente o bem:
quer isto dizer que a posse ou a detenção deve ser legítima
(com a concordância expressa ou tácita do proprietário).
GABARITO Não pode ser empregada, na execução do crime, violência,
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 grave ameaça ou fraude, pois, do contrário, configurar-se-
C E A E E E A B E C á delito de roubo (ar. 157) ou estelionato (art. 171).

2) posse ou detenção desvigiada: a posse ou a


CAPÍTULO V detenção exercida pelo agente deve ser desvigiada
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA (confiada sem vigilância).

ATENÇÃO: Se o funcionário, no estabelecimento


Apropriação indébita
comercial, aproveita-se de momento de distração do
patrão para se apropriar de mercadorias, será autor de
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que furto, e não do delito em estudo;
tem a posse ou a detenção:
3) a ação do agente deve recair sobre coisa alheia
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. móvel (possível de ser transportada de um local para
outro.) Coisa alheia quer dizer coisa de propriedade atual
Aumento de pena de outrem, esteja, ou não, na posse direta ou imediata do
proprietário.

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o 4) inversão do ânimo da posse: após obter


agente recebeu a coisa: legitimamente a coisa, o agente passa a agir como se
fosse seu dono. Apura-se a inversão por meio de atos de
I - em depósito necessário; disposição, como venda e locação, ou pela recusa mesma
em restituir a coisa.
II - na qualidade de tutor, curador, síndico,
liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário Tipo subjetivo: é o dolo subsequente à posse da
judicial; coisa, representado pela vontade consciente de se
apropriar de objeto alheio móvel (animus rem sibi
habendi).
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
ATENÇÃO: quem transporta malote lacrado ou
Objetividade jurídica: é a proteção da cadeado para outrem não tem a posse sobre o conteúdo.
propriedade. Portanto, se durante o transporte, o agente inverte o
animus da posse e rompe o lacre ou cadeado para
Sujeito ativo: prevalece tratar-se de crime apropriar-se de valor que há dentro do malote, comete
comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa a

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furto com rompimento de obstáculo, e não apropriação § 2o É extinta a punibilidade se o agente,
indébita. espontaneamente, declara, confessa e efetua o
pagamento das contribuições, importâncias ou valores e
Consumação e tentativa: por tratar-se de crime presta as informações devidas à previdência social, na
material, consuma-se com a exteriorização da inversão do forma definida em lei ou regulamento, antes do início da
animus da posse, transformando-a em domínio, ou seja, ação fiscal.
quando o agente pratica atos incompatíveis com a
possibilidade de posterior restituição da coisa. Prevalece § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
ser possível a tentativa, como, por exemplo, venda aplicar somente a de multa se o agente for primário e de
frustrada. bons antecedentes, desde que:

Causas de aumento da pena (art. 168, § 1º): O


I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e
§ 1º traz hipóteses de apropriação indébita agravada ou
antes de oferecida a denúncia, o pagamento da
circunstanciada, em que a pena é aumentada de 1/3 (um
contribuição social previdenciária, inclusive acessórios;
terço). Assim, a pena será aumentada se o agente recebe
ou
a coisa:

Inciso I – Em depósito necessário: A causa de II – o valor das contribuições devidas, inclusive


aumento de pena em análise aplica-se ao depósito acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela
necessário miserável (art. 647, II, do CC), aquele em que previdência social, administrativamente, como sendo o
a vítima é atingida por alguma calamidade (incêndio, mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
inundação), não tinha outra opção a não ser confiar a
guarda da coisa ao depositário, que se aproveitou da sua § 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não
fragilidade e do momento de dificuldade para trair sua se aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo
confiança e apropriar-se do bem. valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele
estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo
Inciso II – Na qualidade de tutor, curador, síndico, para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído
liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário pela Lei nº 13.606, de 2018)
judicial: Faz-se presente aqui a figura do particular
nomeado pelo juiz como depositário. A razão de existir da Objetividade jurídica: tutela-se, nesta espécie de
causa de aumento de pena repousa na relevância das apropriação, exatamente o patrimônio de todos aqueles
funções exercidas pelas pessoas indicadas pelo texto que fazem parte do sistema de seguridade, mais
legal, que recebem coisas alheias para guardar consigo, precisamente o previdenciário.
necessariamente, até o momento adequado para
devolução. Sujeito ativo: será o responsável tributário, ou
seja, aquele que, por lei, está obrigado a repassar a
Inciso III – Em razão de ofício, emprego ou contribuição recolhida dos contribuintes à Previdência
profissão: A pena mais grave se justifica pela maior Social.
reprovabilidade do fato praticado por pessoas que, em
decorrência de suas atividades profissionais, ingressam na  Por falta de previsão legal, não é possível imputar
posse ou detenção de coisas alheias, para restituí-las o delito à pessoa jurídica, mas tão somente aos seus
futuramente, mas não o fazem. administradores.

Apropriação indébita previdenciária (Incluído Sujeito passivo: é a União, que por meio da
pela Lei nº 9.983, de 2000) Receita Federal do Brasil arrecada e fiscaliza as
contribuições previdenciárias.
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social
as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e Conduta: prevê o tipo apenas uma ação nuclear,
forma legal ou convencional: que é a de deixar de repassar à previdência social os
valores recolhidos dos contribuintes no prazo e forma legal
(no caso de previdência oficial) ou convencional
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
(previdência privada).
multa.
Tipo subjetivo: o STF e o STJ têm se posicionado
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar pela exigência somente do dolo genérico.
de: I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra
importância destinada à previdência social que tenha sido Consumação e tentativa: o entendimento
descontada de pagamento efetuado a segurados, a dominante na doutrina é o de que se trata de crime formal,
terceiros ou arrecadada do público; dispensando o locupletamento do agente ou o efetivo
prejuízo ao Erário.
II – recolher contribuições devidas à previdência
social que tenham integrado despesas contábeis ou custos Formas assemelhadas (§ 1 °): diferentemente
relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços; do caput, as condutas descritas no § 1º incriminam o
contribuinte-empresário. As condutas são:
III - pagar benefício devido a segurado, quando as
respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados I - Não repassar à Previdência os valores das
à empresa pela previdência social. contribuições devidas pelo segurado: o sujeito ativo (seja
agente público ou não) não repassa à Previdência os
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valores das contribuições devidas pelo segurado. O Parágrafo único - Na mesma pena incorre:
proprietário de empresa, por exemplo, está obrigado por
lei a reter o valor que deveria ser recolhido pelo seu Apropriação de tesouro
empregado, segurado da Previdência e, posteriormente,
repassá-los ao órgão governamental. Aqui, depois de reter
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se
o valor devido, não o repassa.
apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito
o proprietário do prédio;
II - Não recolher contribuições devidas à
previdência social que tenham integrado despesas
contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à Apropriação de coisa achada
prestação de serviços: nesta hipótese o contribuinte
(empresário) contabiliza o valor da contribuição devida em II - quem acha coisa alheia perdida e dela se
razão da manutenção de funcionários no preço final do apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao
produto, mas não promove o devido recolhimento. dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade
competente, dentro no prazo de quinze dias.
III - Não pagar benefício devido a segurado, quando
as respectivas cotas ou valores já tiverem sido Objetividade jurídica: é o patrimônio que, de
reembolsados à empresa pela previdência social: trata de alguma forma, se encontra fora da esfera de vigilância do
benefícios pagos pelo governo aos segurados, como seu proprietário ou possuidor.
salário-família ou salário maternidade. A conduta consiste
em não repassar aos funcionários tais benefícios quando Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). O
os mesmos já tiverem sido reembolsados à empresa. dever de restituição, nessas hipóteses, recai sobre todos
os indivíduos.
Extinção da punibilidade (§ 2°): Houve
revogação tácita do dispositivo pelo art. 9º, caput, da Lei Sujeito passivo: figura o proprietário do bem, que
10.684/2003. Se o agente for beneficiado pela concessão tem a coisa retirada de sua esfera de disponibilidade em
do parcelamento dos valores devidos a título de virtude de erro (próprio ou de terceiro), caso fortuito ou
contribuição social previdenciária, ou qualquer acessório, força da natureza.
o pagamento integral do débito importará na extinção da
punibilidade, com fulcro no art. 83, § 4º, da Lei Conduta: O núcleo do tipo é “apropriar-se”, ou
9.430/1996, com a redação conferida pela Lei seja, entrar na posse de algo, comportando-se em relação
12.382/2011. à coisa como se fosse seu dono. A diferença existente
entre a apropriação indébita (vista no art. 168) e a figura
Perdão judicial e privilégio (§ 3°): o § 3° faculta criminosa em estudo é a forma como a coisa chega às
ao juiz perdoar ou aplicar somente pena pecuniária mãos do agente. Na primeira (art. 168), o proprietário,
quando, primário e portador de bons antecedentes, o voluntariamente, confia (entrega) a coisa ao autor; na
agente: a) promove o pagamento dos débitos segunda (art. 169), o agente adquire a posse ou detenção
previdenciários após o início da execução fiscal, mas antes por erro, caso fortuito ou força da natureza.
do oferecimento da denúncia; b) se apropria de valor
incapaz de movimentar a máquina administrativa no  Por ERRO entende-se a falsa percepção da
sentido de receber o montante devido. realidade, que pode recair sobre:

 A competência para processar e julgar o delito é, a) a pessoa: João deve certa quantia a Antonio,
em regra, da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF), por se mas, ao efetuar o pagamento, o faz em favor de um
tratar de crime praticado em detrimento dos interesses da homônimo, que nada opõe;
União, órgão federativo responsável pela instituição das
contribuições previdenciárias. b) o objeto: João adquire um anel com revestimento
dourado, mas recebe do vendedor objeto semelhante feito
Vedação ao perdão judicial (§ 4º): Analisando de ouro;
conjuntamente o § 3.º e o novo § 4.º teremos que em
caso de parcelamento de contribuições previdenciárias c) a obrigação: João efetua o pagamento a seu
cujo valor seja superior ao estabelecido fornecedor, mas, por engano, paga novamente.
administrativamente pela previdência social como sendo
o mínimo para ajuizamento de suas execuções fiscais, Tipo subjetivo: é o dolo que se consubstancia na
será vedado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar vontade de, uma vez recebida a coisa por erro, caso
somente a pena de multa, mesmo se o agente for fortuito ou força da natureza, dela se apropriar, não
primário e de bons antecedentes. desfazendo o erro.

 É de se observar que somente se caracteriza este


Apropriação de coisa havida por erro, caso delito se o agente percebe o erro após ter recebido a coisa,
fortuito ou força da natureza pois, se o constata no momento mesmo em que se dá a
transmissão, e permanece propositadamente em silêncio,
há estelionato em virtude da manutenção da vítima em
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda
erro.
ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

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É a falsa percepção da realidade. Pode se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a
Erro recair sobre a pessoa ou sobre a coisa detenção tipifica o crime de:
(identidade, qualidade ou quantidade). a) furto.
É o efeito produzido por uma causa
Caso estranha, não imputável às partes. b) roubo.
fortuito Exemplo: ave que alça voo e pousa no c) extorsão.
terreno do vizinho
São os eventos climáticos. Exemplo: d) extorsão indireta.
Força da
vendaval que desprende roupa do varal e) apropriação indébita.
natureza
e a faz cair no terreno do vizinho.

02. (2016 - MPE-GO - MPE-GO - Promotor de Justiça


Consumação e tentativa: consuma-se no Substituto) Caio entrega a Tício, seu amigo e funcionário
momento em que o agente age como se dono fosse, do Detran, uma quantia em dinheiro para que este último
transformando a posse em propriedade, como se dá na pague uma multa naquele público. Tício, no entanto,
apropriação do art. 168. apropria-se do dinheiro. Nesse caso, Tício deverá ser
responsabilizado pelo crime de:
Apropriação de tesouro (parágrafo único, I): tutela-
se o patrimônio, mais especificamente a quota de tesouro a) apropriação indébita
encontrado em prédio de sua propriedade (art. 1.264 CC). b) peculato furto
O sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa. c) peculato apropriação
A vítima (sujeito passivo) será o proprietário do imóvel.
d) peculato mediante o erro de outrem
 Por tesouro entende-se o depósito antigo de
coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória
03. (2015 – FGV - Prefeitura de Paulínia – SP -
(art. 1.264 CC).
Guarda Municipal) Um funcionário da Farmácia Vida Boa
é o responsável pelo pagamento das contas da sociedade
ATENÇÃO: achar tesouro não é crime. A conduta
empresarial junto ao estabelecimento financeiro. Em
só passará a ser criminosa a partir do momento em que
determinada data, quando levava R$ 2.000,00 ao Banco
houver a recusa do inventor em dividir o valioso achado
para depósito a pedido do gerente da sociedade, decide,
com o proprietário do prédio.
no caminho, ficar com R$ 1.000,00 para si e apenas
depositar na conta os outros R$ 1.000,00. Não falsifica,
 Caso o descobridor não tenha permissão para
porém, qualquer comprovante de depósito, mas
estar no imóvel em que descobriu o tesouro, e dele se
simplesmente não o entrega ao responsável.
apropria, estaremos diante do crime de furto (art. 155 do
Considerando a situação narrada, a conduta do funcionário
CP).
configura:
Apropriação de coisa achada (Parágrafo único, II): a) apenas ilícito civil, sendo penalmente atípica;
o dispositivo pune a conduta daquele que acha coisa
perdida e não a devolve ao dono ou legítimo possuidor b) crime de furto;
(quando conhecido) ou à autoridade competente, dentro c) crime de estelionato;
no prazo de 15 dias (crime a prazo).
d) crime de receptação;
 Entende-se por "perdida" a coisa que o foi em e) crime de apropriação indébita.
local público desde que não tenha sido abandonada pelo
seu dono.
04. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Analista
ATENÇÃO! A apropriação de coisa abandonada (res
Judiciário - Área Administrativa) Lucius, funcionário
derelicta) e da coisa de ninguém ou que nunca teve
público, escrevente de cartório de secretaria de Vara
proprietário ou possuidor (res nullius) não constitui crime.
Criminal, apropriou-se de um relógio valioso que foi
remetido ao Fórum juntamente com os autos do inquérito
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o policial no qual foi objeto de apreensão. Lucius cometeu
disposto no art. 155, § 2º. crime de
a) apropriação de coisa achada.
Apropriação indébita privilegiada - A exemplo
do artigo 155, § 2º, que traz figura semelhante para o b) apropriação indébita simples.
delito de furto, poderá o juiz substituir a pena de reclusão
c) apropriação indébita qualificada pelo recebimento da
pela de detenção, reduzi-la de um a dois terços, ou aplicar
coisa em razão de ofício, emprego ou profissão.
somente a pena de multa, desde que seja primário o
agente e de pequeno valor a coisa apropriada. d) apropriação de coisa havida por erro.
e) peculato.
EXERCÍCIOS

01. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Perito em 05. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Analista
Telecomunicação) Segundo o Código Penal, apropriar- Judiciário - Biblioteconomia) Penélope, funcionária

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pública, recebeu doações de roupas feitas para a
Secretaria de Assistência Social, local em que exercia as
09. (2014 – FCC - TRT - 18ª Região (GO) - Juiz do
suas funções, destinadas a campanha de solidariedade,
Trabalho) No crime de apropriação indébita,
para serem distribuídas a pessoas pobres. De posse
dessas mercadorias, apropriou-se de várias peças. Nesse a) o dolo é antecedente à posse.
caso, Penélope
b) a ação penal é sempre pública incondicionada,
a) cometeu crime de apropriação indébita simples. independentemente da condição da vítima.
b) cometeu crime de peculato doloso. c) o Juiz pode reduzir a pena se primário o criminoso e de
pequeno valor a coisa apropriada.
c) cometeu crime de apropriação indébita qualificada pelo
recebimento da coisa em razão de ofício, emprego ou d) é possível o perdão judicial no caso de apropriação
profissão. indébita culposa.
d) cometeu crime de peculato culposo. e) há aumento da pena quando o agente recebe a coisa
em razão de emprego, mas não de profissão.
e) não cometeu delito por tratar-se de bens recebidos em
doação.

10. (2012 – FCC - TRT - 20ª REGIÃO (SE) - Juiz do


Trabalho) No crime de apropriação indébita
06. (2010 - PC-SP - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil)
previdenciária, a possibilidade de o juiz deixar de aplicar
O sujeito A, proprietário de oficina mecânica, pegou o
a pena, se presentes determinadas situações
carro de B, que lhe havia sido entregue para reparos,e não
expressamente previstas em lei, constitui hipótese de
mais o devolveu. Cometeu o delito de
a) renúncia.
a) estelionato.
b) absolvição imprópria.
b) apropriação indébita.
c) indulto.
c) furto simples.
d) perdão judicial.
d) furto privilegiado.
e) excludente legal da culpabilidade.
e) roubo.

07. (2014 – FGV - MPE-RJ - Estágio Forense) Jonas, GABARITO


advogado de Paulo, com procuração regularmente 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
outorgada nos autos de uma determinada ação de E A E E B B E E C D
ressarcimento de ds morais, retira de uma agência
bancária situada no fórum o valor em espécie
correspondente à indenização objeto da condenação, CAPÍTULO VI
constante do mandado judicial de pagamento. Entretanto, DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
entrega apenas uma parte do valor ao seu cliente, retendo
para si, indevidamente, 1/3 (um terço) da quantia
Estelionato
recebida. O delito cometido pelo causídico é:
a) estelionato - Artigo 171, caput, do Código Penal; Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem
b) furto fraude - Artigo 155, §4º, II, do Código Penal; ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
c) apropriação indébita simples - Artigo 168 do Código fraudulento:
Penal;
d) receptação simples - Artigo 180, caput, do Código Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de
Penal; quinhentos mil réis a dez contos de réis.

e) apropriação indébita qualificada - Artigo 168, §1º, III


§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno
do Código Penal.
valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
disposto no art. 155, § 2º.
08. (2013 – FCC - TJ-PE - Titular de Serviços de
Notas e de Registros) Para que haja consumação do § 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
crime de apropriação indébita, a coisa necessariamente
precisa ser Disposição de coisa alheia como própria
a) subtraída.
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação
b) utilizada. ou em garantia coisa alheia como própria;
c) destruída.
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa
d) perdida. própria
e) assenhorada.

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II - vende, permuta, dá em pagamento ou em I - a Administração Pública, direta ou indireta;
garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro,
II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº
mediante pagamento em prestações, silenciando sobre
13.964, de 2019)
qualquer dessas circunstâncias;
III - pessoa com deficiência mental; ou (Incluído
Defraudação de penhor pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou
III - defrauda, mediante alienação não consentida incapaz. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia,
quando tem a posse do objeto empenhado; Noção inicial: O estelionato é crime patrimonial
praticado mediante fraude. A fraude consiste na lesão
patrimonial por meio de engano.
Fraude na entrega de coisa
Objetividade jurídica: é a proteção do patrimônio
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade da pessoa enganada.
de coisa que deve entregar a alguém;
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Fraude para recebimento de indenização ou
valor de seguro Sujeito passivo: qualquer pessoa que sofra lesão
patrimonial ou que foi enganada pela ação fraudulenta
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa empreendida pelo agente.
própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as
conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver ATENÇÃO! No estelionato exige-se que a vítima
indenização ou valor de seguro; seja pessoa certa e determinada. Do contrário, se ação
fraudulenta ocorrer em detrimento do povo ou de número
indeterminado de pessoas ("pirâmide", “vídeo-bingos”),
Fraude no pagamento por meio de cheque ocorrerá crime contra a economia popular.

VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos  Se pessoa idosa, a pena será dobrada, nos termos
em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. do § 4º, acrescentado pela Lei 13.228/2015.

Fraude eletrônica Conduta: são elementares imprescindíveis para a


existência do crime: a fraude, a vantagem ilícita e o
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 prejuízo alheio.
(oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a
utilização de informações fornecidas pela vítima ou por A fraude é utilizada pelo agente para induzir ou
terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos manter a vítima em erro: Induzir: o agente cria a falsa
telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou percepção da realidade. Manter: o agente aproveita-se do
por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído engano espontâneo da vítima.
pela Lei nº 14.155, de 2021)
IMPORTANTE: A fraude em certames de interesse
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, público (concurso público, avaliação ou exame públicos,
considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta- processo seletivo para ingresso no ensino superior ou
se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é exame ou processo seletivo previstos em lei) configura o
praticado mediante a utilização de servidor mantido fora crime previsto no art. 311-A, criado pela lei 12.550/11
do território nacional. (Incluído pela Lei nº 14.155, de (“Cola eletrônica”).
2021)
 Na execução do crime pode o agente valer-se de
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.
cometido em detrimento de entidade de direito público ou
de instituto de economia popular, assistência social ou É a encenação material mediante uso
beneficência. de objetos ou aparatos aptos a
Artifício
enganar, como o "bilhete premiado", a
utilização de disfarce etc.
Estelionato contra idoso ou
vulnerável (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021) Ardil É a astúcia, conversa enganosa.
O silêncio, por exemplo (estelionato
Outro meio
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao por omissão), muito comum para
fraudulento
dobro, se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável, manter a vítima em erro.
considerada a relevância do resultado gravoso. (Redação
dada pela Lei nº 14.155, de 2021) Vantagem patrimonial - para a caracterização do
crime, a vítima deve sofrer um prejuízo patrimonial que
§ 5º Somente se procede mediante representação, corresponda à vantagem indevida obtida pelo agente.
salvo se a vítima for: (Incluído pela Lei nº 13.964, de Quando o tipo se refere à "vantagem indevida” e "prejuízo
2019) alheio", fica claro que quem obtém ilicitamente algum
bem, evidente que está lesando o patrimônio de alguém e
está lhe proporcionando um "prejuízo".

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constituindo o estelionato um post factum (fato posterior)
Dinheiro falso: Quem faz compras com moeda impunível.
falsa, valendo-se de artifício para o fim de obter vantagem
ilícita em prejuízo alheio, em regra, pratica crime de II - Alienação ou oneração fraudulenta de coisa
moeda falsa (art. 289 ou art. 290). Entretanto, se a própria: o agente vende coisa (móvel ou imóvel) sua
falsificação for grosseira, será estelionato (art. 171), e a (própria), porém onerada, silenciando sobre a existência
competência é da Justiça Estadual- Súmula 73 do STJ. do gravame. Crime próprio (exige do agente a qualidade
de dono da coisa gravada).
Estelionato e falsidade documental: Quanto ao
sujeito que falsifica um documento e, posteriormente, dele III - Defraudação de penhor: é pressuposto do tipo
se vale para enganar alguém, obtendo vantagem ilícita em a existência de contrato pignoratício (penhor). O sujeito
prejuízo alheio, responde apenas pelo estelionato, que ativo será o devedor que conserva a posse da coisa
absorve a falsidade documental – é a posição adotada pela empenhada, e, passivo, o credor titular do penhor (art.
Súmula 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no 1.43 I do CC).
estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido”. IV- Fraude na entrega de coisa: substância é a
natureza da coisa, é a sua essência (o agente substitui
Fraude ou torpeza bilateral - dá-se a fraude diamantes por vidro). Qualidade é o seu atributo, seu
bilateral quando os sujeitos querem enganar um ao outro. modo de ser (o agente substitui a coisa por outra
O tipo não exige que a vítima tenha boa intenção, aparentemente igual, mas economicamente inferior).
subsistindo o estelionato. Assim, se o ofendido se deixou Quantidade é relacionada a números como peso,
enganar pelo engodo de outrem, ainda que movido por dimensão etc. (o agente entrega, dolosamente, menos do
ganância, nem por isso se apaga a conduta criminosa do que estaria obrigado).
estelionatário. Exemplo: “conto da guitarra”, em que o
sujeito passivo pretende, com a aquisição da “máquina”, IV- Fraude na entrega de coisa: substância é a
fabricar dinheiro. natureza da coisa, é a sua essência (o agente substitui
diamantes por vidro). Qualidade é o seu atributo, seu
Clonagem de cartão bancário: Ocorre o delito de modo de ser (o agente substitui a coisa por outra
furto qualificado pela fraude quando há clonagem de aparentemente igual, mas economicamente inferior).
cartão bancário para efetuar saque indevido perante Quantidade é relacionada a números como peso,
terminal eletrônico de instituição financeira. dimensão etc. (o agente entrega, dolosamente, menos do
que estaria obrigado).
Estelionato x Furto mediante fraude - No furto
mediante fraude, o agente aplica o ardil para que a vítima V- Fraude para recebimento de indenização ou valor
diminua a vigilância da vítima sobre o bem para ter mais de seguro: o sujeito ativo será o segurado, e, passivo, a
facilidade de subtração a coisa. Já no estelionato, a agente seguradora. É crime formal, perfazendo-se com o
aplica o ardil para que a vítima, iludida, lhe entregue a emprego da fraude, independente do recebimento da
coisa voluntariamente. indenização.

Tipo subjetivo: pune-se o dolo, consistente na VI - Fraude no pagamento por meio de cheque: o
vontade de induzir ou manter alguém em erro a fim de sujeito ativo é o emitente. Existem duas condutas:
obter indevida vantagem ilícita, para si ou para outrem.
No induzimento a erro, o dolo deve anteceder a ação. Na 1) Emissão de cheque sem provisão de fundos.
manutenção, será concomitante.
2) Frustração de seu pagamento mediante
Consumação e tentativa: o delito só se consuma contraordem ao banco sacado.
com o emprego da fraude, seguido da obtenção da
vantagem indevida e correspondente lesão patrimonial de ATENÇÃO! A emissão de cheque pós-datado sem
outrem. A ausência de qualquer elemento configura posterior fundo junto ao banco sacado, não configura o
tentativa. crime, pois tal prática costumeira desnatura o cheque,
deixando de ser ordem de pagamento à vista, revestindo-
Privilégio (§ 1o): são pressupostos do privilégio: se das características de nota promissória, logo, mera
a) primariedade do agente, isto é, não reincidência; b) garantia do crédito.
pequeno valor do prejuízo (dano igual ou inferior a um
salário mínimo). Fraude eletrônica - qualificadora (§ 2º-A): o
agente obtém vantagem ilícita por meio de informações
Figuras equiparadas (§ 2º): da vítima que ele obteve da própria vítima ou de um
terceiro que foram induzidos em erro. O grande diferencial
I - Disposição de coisa alheia como própria: o aqui é que a atuação do agente foi por meio eletrônico, ou
sujeito passivo será tanto o adquirente de boa-fé quanto seja, a vítima ou o terceiro foram induzidos a erro por
o real proprietário da coisa (crime de dupla subjetividade meio de:
passiva). Dispensa-se a tradição (no caso de coisa móvel),
a) Redes sociais (ex: Facebook, Instagram);
ou o registro (coisa imóvel). A tentativa é possível (delito
plurissubsistente). b) Contatos telefônicos (ex: simulando que se trata
de ligação da operadora de cartão de crédito);
 Se o furtador vender a coisa subtraída como se
própria fosse pratica apenas furto (art. 155 do CP), c) Envio de correio eletrônico fraudulento (ex: e-
mail que imita correspondência da loja, banco etc.);

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d) ou qualquer outro meio fraudulento análogo. PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO, com
exceções.
Furto mediante fraude por Estelionato mediante
dispositivo eletrônico ou fraude eletrônica Assim, a regra é que o crime exija a representação
informático (art. 155, § 4º- para início da ação penal, procedendo-se mediante ação
B) (art. 171, § 2º-A)
penal pública incondicionada apenas se a vítima for a
O agente subtrai coisa alheia O agente obtém vantagem Administração Pública, direta ou indireta; criança ou
móvel por meio de dispositivo ilícita com a utilização de adolescente; pessoa com deficiência mental; ou maior de
eletrônico ou informático, informações fornecidas 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
conectado ou não à rede de pela vítima ou por terceiro
computadores, com ou sem a induzido a erro por meio de
violação de mecanismo de redes sociais, contatos
AÇÃO PENAL NO CRIME DE ESTELIONATO
segurança ou a utilização de telefônicos ou e-mail
programa malicioso, ou por fraudulento, ou por Ação penal pública CONDICIONADA à
REGRA
qualquer outro meio qualquer outro meio representação da vítima
fraudulento análogo. fraudulento análogo. Ação penal pública INCONDICIONADA quando a
vítima for:
Pena: 4 a 8 anos. Pena: 4 a 8 anos. I - a Administração Pública, direta ou indireta;
EXCEÇÃO
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
Causa de aumento de pena (§ 2°-B): a pena é IV - maior de 70 anos de idade ou incapaz.
aumentada (1/3 a 2/3) em razão do fato representar, de
algum modo, uma ameaça à soberania nacional. Além
disso, essa circunstância acarreta uma maior dificuldade
na identificação e eventual responsabilização penal dos Duplicata simulada
envolvidos, justificando uma maior reprimenda.
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda
Atenção – elemento subjetivo: para que o autor que não corresponda à mercadoria vendida, em
responda pela causa de aumento de pena supra é quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
indispensável que exista dolo (consciência e vontade), ou (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
seja, é necessário que o agente saiba que, no caso
concreto, está sendo utilizado um servidor mantido no Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
exterior. multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)

Causa de aumento de pena (§ 3°): A razão do


Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele
aumento é que nesses casos há lesão do patrimônio de
que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de
diversas vítimas, afetando o próprio interesse social ou o
Registro de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de
interesse particular de numerosas vítimas.
1968)
 A presente majorante é aplicada quando figura
como vítima entidade autárquica da Previdência Social Objetividade jurídica: protege-se tanto o
(Súmula 24 do STJ). patrimônio particular quanto a boa-fé que deve integrar
as relações mercantis (espécie de deliquência
Estelionato contra idoso ou vulnerável - § 4º): empresarial).
A partir da Lei nº 14.155/2021, a pena aumenta-se de 1/3
ao dobro sendo a vítima: Sujeito ativo: apenas aquele que emite o falso
título. Os demais endossantes e o avalista, sozinhos, não
1) Idoso: o conceito de idoso no Brasil é dado pelo podem figurar no polo ativo, vez que endossar ou avalizar
art. 1º da Lei nº 10.741/2003, ou seja, a pessoa com o título não se enquadra na ação nuclear típica emitir
idade igual ou superior a 60 anos. (possível, no entanto, que sejam partícipes).
2) Vulnerável: como não foi dado um conceito
específico, deve-se utilizar a definição do art. 217-A, caput Sujeito passivo: poderá ser o sacado, quando
e § 1º, do CP. Desse modo, podem ser considerados aceita o título emitido de boa-fé (se de má-fé, pode,
vulneráveis: conforme o caso, ser partícipe do crime) ou o tomador,
que é aquele que desconta a duplicata.
a) a pessoa menor de 14 anos;
Conduta: o núcleo consiste em emitir (produzir,
b) a pessoa que, em razão de enfermidade ou
lançar, compor):
deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática de determinados atos.
a) Fatura - documento que comprova contrato de
Atenção – elemento subjetivo: para que o autor compra e venda mercantil;
responda pela causa de aumento de pena é indispensável
que exista dolo (consciência e vontade), ou seja, é b) Duplicata - título de crédito causal emitido com
necessário que o agente saiba que, no caso concreto, a base em obrigação proveniente de compra e venda
vítima seja idosa ou vulnerável. comercial ou prestação de certos serviços;
ATENÇÃO: Ação penal no crime de estelionato c) Nota de venda - instrumento de outorga do
(§ 5º): A Lei 13.964/2019 – Pacote Anticrime, crédito pelo fornecedor ao titular.
acrescentou o § 5º ao artigo 171, alterando a natureza da
ação penal, para tornar o crime de estelionato de AÇÃO

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Tipo subjetivo: consiste na vontade consciente de indevido para si ou para outrem. O agente precisa saber
emitir o título, dispensando a demonstração da intenção que a vítima é menor, alienada ou débil mental.
do agente em descontá-lo. O tipo não prevê modalidade
culposa. Consumação e tentativa: para que se configure o
deliro, não basta que o agente abuse das condições da
Consumação e tentativa: cuida-se de crime vítima, sendo necessário que, em conjunto com tal
formal, de consumação antecipada ou de resultado atitude, induza esta, em proveito próprio ou alheio, à
cortado: consuma-se com a simples emissão, com a prática de ato lesivo a si mesma ou a terceiro. A tentativa
colocação da fatura, da duplicata ou da nota de venda em é admissível, ocorrendo o fracionamento da conduta.
circulação, dispensando a causação de prejuízo
patrimonial à vítima. Não é possível a tentativa, por se
Induzimento à especulação
tratar de crime unissubsistente.

Forma equiparada (parágrafo único): O Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
empresário que emite duplicata deve manter, inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental
obrigatoriamente, no estabelecimento comercial, um livro de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à
especial chamado "Registro de duplicatas". Pune-se quem especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou
falsificar (inserção de dados inexatos) ou adulterar devendo saber que a operação é ruinosa:
(modificação dos dados já existentes) este livro.
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Abuso de incapazes
Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio da
pessoa ingênua, crédula ou de mentalidade inferior.
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo
qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir
Sujeito passivo: o sujeito passivo é a pessoa
efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
inexperiente, simplória ou de mentalidade inferior.

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Conduta: apesar de muito parecida com a do crime
anterior, não mais se refere a "qualquer ato que possa
 Não se confunde com o estelionato, pois, aqui, produzir efeito jurídico", mas ao jogo, aposta e à
em razão da própria condição do ofendido, é dispensável especulação com títulos ou mercadorias (elementos
o emprego de artifício ou ardil. Não se exige, também, a especializantes).
efetiva lesão patrimonial (crime formal), imperiosa para
configuração do estelionato, devendo, contudo, ser o ato  Não se confunde com o estelionato, pois o tipo
praticado apto a produzir efeitos patrimoniais buscados em estudo dispensa o emprego de artifício ou ardil ou
pelo agente. qualquer outra fraude por parte do agente.

Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio Tipo subjetivo: é o dolo de abusar da vítima,


pertencente a menor ou pessoa com debilidade ou induzindo-a à prática de jogo, aposta ou especulação com
alienação mental. títulos ou mercadorias. Há também o fim especial de
obtenção de proveito, próprio ou de terceiro, de natureza
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). patrimonial.

Sujeito passivo: a lei exige condição especial do  O agente deve ter conhecimento das condições
ofendido: de simplicidade, inexperiência ou inferioridade mental do
induzido. Se houver dúvida, deve abster-se da prática de
a) ser menor (idade inferior a 18 anos completos); qualquer ato, pois, do contrário, estará assumindo o risco
b) ser alienado mental (de forma mais abrangente de produzir o resultado danoso, respondendo pela prática
possível); delituosa (dolo eventual).
c) ser débil mental (aquele portador de enfermidade
psíquica). Consumação e tentativa: consuma-se o crime
com a prática, pelo induzido, do jogo, aposta ou
Conduta: a ação nuclear típica se resume ao verbo especulação. É crime formal, dispensando a obtenção da
abusar, ou seja, tirar vantagem. O tipo apresenta duas vantagem visada pelo agente ou a ocorrência de prejuízo
situações distintas: pela vítima. A tentativa é possível.

1) Vítima menor - desde que sofra abuso em razão


Fraude no comércio
de sua necessidade, paixão ou inexperiência.

2) Vítima alienada ou débil mental - não se exigindo Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade
nenhuma outra condição, basta a constatação da comercial, o adquirente ou consumidor:
enfermidade.
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita,
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade mercadoria falsificada ou deteriorada;
consciente de abusar de incapaz para obter proveito

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II - entregando uma mercadoria por outra:  Exige-se aqui, tal como no caput, que a conduta
se dê no exercício de atividade comercial.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou
multa. Privilégio: prevê o § 2° a possibilidade de aplicação
do disposto acerca do furto privilegiado, que permite a
redução da pena ou aplicação somente de multa, nos
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a
casos em que o agente é primário e é de pequeno valor o
qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo
objeto material.
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor
valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como
precioso, metal de ou outra qualidade: Outras fraudes

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se
em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor
de recursos para efetuar o pagamento:
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.

 Parte da doutrina defende que o art. 175 do CP Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
teria sido revogado pelas Leis 8.078/90 (Código de Defesa multa.
do Consumidor) e 8.137/90 (Crime contra a Ordem
Tributária), ambos diplomas com dispositivos Parágrafo único - Somente se procede mediante
semelhantes. representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,
deixar de aplicar a pena.
Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio e a
moralidade das relações comerciais. Objetividade jurídica: o dispositivo visa proteger
o patrimônio de pessoas que se dedicam a determinadas
Sujeito ativo: só quem exerce atividade comercial atividades, todas descritas no tipo. A lei busca proteger
(exercício habitual, contínuo e profissional do comércio). também a ordem e a estabilidade das relações jurídicas
É crime próprio. Faltando esta qualidade ao agente, entre os indivíduos.
configura-se o crime do art. 171, § 2°, IV.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito passivo: é o adquirente ou consumidor da
mercadoria viciada. O comerciante também pode ser Sujeito passivo: será aquele que se dedica à
vítima do delito em tela quando adquire produtos para atividade de oferta de bebidas, alimentos, alojamentos ou
revendê-los. meios de transporte. Pode ser pessoa física ou jurídica.

Conduta: o núcleo do tipo é enganar (falsear, Conduta: o tipo prevê três condutas, que ocorrem
ludibriar) o adquirente ou consumidor, no exercício de sem que o agente disponha de numerário para efetuar o
atividade comercial, de duas maneiras distintas: pagamento:

a) vendendo, como verdadeira ou perfeita, a) Tomar refeição em restaurante: somente se


mercadoria falsificada ou deteriorada; configura se a conduta (tomar refeição, incluindo bebida)
se der nas dependências do estabelecimento. A expressão
b) entregando uma mercadoria por outra "restaurante" deve ser entendida em sentido amplo,
(pressupõe-se, no caso, relação obrigacional abarcando lanchonetes, bares, pensões etc. (em suma,
preexistente). lugar cuja atividade seja a de fornecer alimentos para
consumo imediato).
Tipo Subjetivo: é o dolo de vender ou entregar
mercadoria falsificada, deteriorada ou diversa da que b) Alojar-se em hotel: a expressão "hotel", tomada
deveria receber o adquirente ou consumidor. no seu sentido amplo, abrange hospedarias, albergues,
pensões, motéis etc.
 O agente deve saber que a qualidade da
mercadoria entregue não é a esperada pela vítima, caso c) Utilizar-se de meio de transporte: ocorre quando
contrário, haverá erro de tipo. o agente utiliza meios de transporte cujo pagamento se dá
durante ou ao final da viagem, como ônibus, táxis etc.,
Consumação e tentativa: consuma-se o crime afastando-se aqueles em que o pagamento deve ser
com o engano da vítima, que só pode surtir efeito após a adiantado, como navios, aviões, metrô (nos casos em que
efetiva tradição da mercadoria (entrega ao adquirente ou o bilhete é comprado antes do embarque).
consumidor, que o aceita). A tentativa é admitida
 Em todas as modalidades do art. 176, deve o
Qualificadora: o § 1º, com pena de reclusão de um agente faltar ao pagamento por inexistência de recursos
a cinco anos, pune quem altera em obra que lhe é disponíveis, consistindo a fraude no silêncio quanto a esta
encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substitui, circunstância. Logo, nos casos em que o agente, dispondo
no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de numerário bastante, recusa-se a realizar o pagamento,
de menor valor. Reprova-se, ainda, a venda de pedra falsa não se configura o presente delito, mas reprovável caso
por verdadeira e a venda, como precioso, de metal de de calote, que pertence ao âmbito do direito civil.
outra qualidade.

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Tipo subjetivo: o dolo de inadimplemento da IX - o representante da sociedade anônima
obrigação, com a consciência de que não possui recursos estrangeira, autorizada a funcionar no País, que pratica os
para efetuar o pagamento. atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação
ao Governo.
Consumação e tentativa: O crime se consuma no
momento em que o agente realiza uma das três condutas § 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a
previstas no art. 176 do Código Penal, ainda que dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter
parcialmente, sendo imprescindível que ele não disponha vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas
de recursos para efetuar o pagamento dos serviços de que deliberações de assembleia geral.
se utilizou. É possível a tentativa, em face do caráter
plurissubsistente do delito.
Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio dos
investidores em sociedades por ações, contra a
Fraudes e abusos na fundação ou administração fraudulenta de seus dirigentes.
administração de sociedade por ações
Sujeito ativo: o crime só pode ser praticado por
Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por sócio-fundador da sociedade por ações (crime próprio).
ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao
público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a Sujeito passivo: o acionista da sociedade por
constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente ações.
fato a ela relativo:
Conduta: pratica a conduta descrita no tipo o
fundador de uma sociedade por ações que, em prospecto
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o
(pequeno impresso no qual se faz propaganda ou
fato não constitui crime contra a economia popular.
divulgação de algo) ou em comunicação (qualquer
maneira de transmitir uma mensagem) ao público ou à
§ 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não assembleia, faz afirmação falsa sobre sua constituição, ou
constitui crime contra a economia popular: (Vide Lei nº ainda, de modo fraudulento, oculta fato a ela relacionado.
1.521, de 1951) O delito somente pode ocorrer no momento da formação
da sociedade anônima ou da sociedade em comandita por
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, eis que são elas as espécies de sociedades por
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou ações.
comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação
falsa sobre as condições econômicas da sociedade, ou Tipo subjetivo: é o dolo. Não se admite a
oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas modalidade culposa.
relativo;
Figuras equiparadas (art. 177, § 1º):
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros Inciso I – fraude sobre as condições econômicas da
títulos da sociedade; sociedade: A fraude ocorre durante a administração da
sociedade. O objeto material é mais amplo do que no
caput, pois a afirmação falsa pode ser feita tanto em
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à prospecto ou comunicação ao público ou à assembleia
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos quanto em relatório, parecer ou balanço. É crime próprio
bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da – somente o diretor, gerente ou fiscal da sociedade pode
assembleia geral; cometê-lo.

IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por Inciso II – Falsa cotação de ações ou títulos da
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando sociedade: caracteriza-se o crime quando o sujeito ativo
a lei o permite; (diretor, gerente ou fiscal), ardilosamente, altera o
verdadeiro valor das ações ou de outros títulos da
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de sociedade, ou seja, consuma-se no instante em que
crédito social, aceita em penhor ou em caução ações da promove a sua falsa cotação. Trata-se de crime próprio,
própria sociedade; formal, e o objeto material consiste nas ações ou outros
títulos da sociedade.
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço,
Inciso III – Empréstimo ou uso indevido de bens ou
em desacordo com este, ou mediante balanço falso,
haveres da sociedade: O principal fundamento para que a
distribui lucros ou dividendos fictícios;
lei puna a conduta do diretor ou gerente (crime próprio)
que, em proveito próprio ou de terceiro, toma empréstimo
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por à sociedade ou usa dos bens ou haveres sociais, sem
interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue prévia autorização da assembleia geral, consiste no fato
a aprovação de conta ou parecer; de a sociedade empresária possuir patrimônio distinto do
patrimônio de seus sócios.
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V
e VII; Inciso IV – Compra e venda de ações emitidas pela
sociedade: A lei busca evitar que haja manipulação do
mercado e a atividade altamente especulativa.

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Sujeito passivo: será o portador ou endossatário
Inciso V – Penhor ou caução de ações da sociedade: do título, que ignore sua natureza ilegal.
Pune-se a conduta do diretor ou gerente da sociedade por
ações (crime próprio) que, como garantia de crédito Conduta: a conduta nuclear típica se consubstancia
social, aceita em penhor ou em caução ações da própria no verbo emitir, ou seja, criar, pôr em circulação o título
sociedade. sem que se obedeçam às disposições legais.

Inciso VI – Distribuição de lucros ou dividendos Tipo subjetivo: pune-se o dolo, direto ou eventual,
fictícios: A norma penal em questão visa evitar que o de emitir warrant ou conhecimento de depósito em
diretor ou gerente da sociedade (crime próprio) distribua desacordo com os preceitos legais, devendo o agente ter
lucros ou dividendos fictícios, que não condizem com a pleno conhecimento de que não os seguiu.
realidade dos lucros obtidos pela sociedade.
Consumação e tentativa: o crime se consuma
Inciso VII – Conluio para aprovação de contas ou com a emissão (efetiva circulação dos títulos),
parecer (art. 177, § 1º, VII): o dispositivo reprova a independentemente da causação de prejuízos dela
conduta do diretor, gerente ou fiscal que, agindo por decorrentes (delito formal ou de consumação a
intermédio de terceiro ou em conluio com acionista, obtém antecipada). Tratando-se de crime unissubsistente, a
a aprovação de conta ou parecer. tentativa é inadmissível.

Inciso VIII – Crimes do liquidante: no caso de Fraude à execução


liquidação da sociedade, cessam as atribuições dos sócios
gerentes ou administradores, assumindo a figura do
liquidante. No exercício dessa atividade, tendo a mesma Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando,
responsabilidade do administrador, pode cometer os destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas:
crimes previstos nos incisos anteriores, com exceção do
nº VI. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou
multa.
Inciso IX – Crimes do representante de sociedade
anônima estrangeira: as condutas puníveis previstas nos Parágrafo único - Somente se procede mediante
incisos I e II, bem como a previsão do caput (no caso de queixa.
afirmação falsa ao Governo, na ocasião de sua
constituição), aplicam-se ao dirigente de sociedade Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio do
anônima estrangeira autorizada a operar no Brasil. Além credor. Secundariamente, busca-se proteger a autoridade
do patrimônio dos acionistas, busca-se assegurar a das decisões judiciais.
veracidade das informações que devem ser prestadas ao
Poder Público brasileiro, em verdadeira defesa dos Sujeito ativo: é o devedor não comerciante (se
interesses nacionais. comerciante, o crime será o do art. 168 da Lei
11.101/2005).
Crime de negociação ilícita de voto (art. 177, §
2º): o dispositivo visa a punir a conduta fraudulenta do Sujeito passivo: será o credor.
acionista, que negocia seu voto nas deliberações de
assembleia geral, com a finalidade de obter vantagem Conduta: pune-se a conduta daquele que fraudar a
para si ou para outrem. Só o acionista pode praticar esse execução, por ação ou omissão. A fraude pode se dar de
crime. No polo passivo, figurarão os demais (acionistas) cinco formas:
que não intervierem na prática delitiva.
a) Alienação: o propósito fraudulento da alienação
Emissão irregular de conhecimento de depósito deve ser devidamente comprovado;
ou "warrant"
b) Desvio: é a destinação dada ao bem com a
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou finalidade de impossibilitar a penhora (exemplo: ocultação
warrant, em desacordo com disposição legal: do bem);

c) Destruição: é a eliminação do bem objeto da


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
execução;

Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio d) Danificação: é a ação de deteriorar o bem,


representado pelos títulos mencionados no tipo diminuindo seu valor, a fim de que se torne insuficiente à
(conhecimento de depósito e warrant) e, garantia da execução;
secundariamente, a fé pública.
e) Simulação de dívidas: consiste na apresentação
 Conhecimento de depósito e warrant são títulos de dívida inexistente como verdadeira.
de crédito emitidos por armazeneiros representativos
tanto das mercadorias depositadas em um armazém-geral Tipo subjetivo: consiste no dolo de fraudar a
como das obrigações assumidas por este em razão do execução, com a consciência e especial vontade de
contrato de depósito prejudicar o autor/credor.

Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).

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Consumação e tentativa: consuma-se no e) pelo crime de estelionato (Art. 171 CP), sem direito à
momento em que o agente emprega a fraude. A tentativa suspensão do processo.
é admissível.

04. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Delegado de Polícia


EXERCÍCIOS Civil) Sobre os crimes contra o patrimônio, assinale a
alternativa correta.
01. (2014 – FGV - Prefeitura de Osasco – SP Guarda
Civil Municipal) O crime de estelionato é praticado a) O crime de apropriação indébita pressupõe a posse ou
quando alguém: detenção lícita, mas vigiada, do agente sobre coisa móvel
alheia, com subsequente inversão do título da posse ou
a) constrange outrem, mediante violência ou grave detenção.
ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem
indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça b) Só se configura crime de estelionato quanto há prejuízo
ou deixar fazer alguma coisa; patrimonial a outrem, consistente em perder o que já se
possui ou em deixar de ganhar o que é devido, não
b) subtrai, para si ou para outrem, coisa alheia móvel bastando a mera obtenção de uma vantagem indevida
consistente em vantagem ilícita, em prejuízo alheio, com pelo agente.
abuso de confiança, ou mediante fraude;
c) Ocorre alienação ou oneração fraudulenta de coisa
c) obtém, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em própria quando o agente vende coisa de sua propriedade,
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, todavia inalienável, crime do qual participa o adquirente
mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio que, cientificado de todas as circunstâncias que envolvem
fraudulento; o negócio, opta por efetivá-lo.
d) se apropria de coisa alheia móvel, de que tem a posse d) Constitui crime de esbulho possessório o ingresso
ou a detenção, mediante grave ameaça ou recurso clandestino de duas pessoas em edifício alheio, com a
fraudulento; finalidade de usurpá-lo.
e) se apropria de coisa alheia com valor econômico vinda e) Pratica crime de apropriação de coisa achada aquele
ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza, que se apossa de uma carteira esquecida por colega sobre
mediante fraude. a mesa por este usada no escritório em que ambos
trabalham.

02. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Analista


Judiciário - Biblioteconomia) Placídio achou na rua um 05. (2014 - MPE-RS - MPE-RS - Secretário de
cartão de crédito e o utilizou para efetuar compras de Diligências) Astuto Mendes, ao tomar conhecimento de
roupas finas em um estabelecimento comercial. Essa que a empresa Engemax faria o conserto e a manutenção
conduta caracterizou o crime de em seu parque de informática, apresentou-se falsamente
a) apropriação indébita. como técnico da empresa Betamax Manutenção de
Computadores. Utilizando-se de uma carteira de
b) furto qualificado pela fraude. identidade e crachá falsificados, fez-se passar por um
c) estelionato. funcionário da empresa que prestava assistência técnica a
Engemax. Dessa forma, obteve autorização para recolher
d) extorsão simples. 24 computadores. De posse das máquinas, alienou-as
imediatamente. Astuto Mendes cometeu o crime de
e) receptação.
a) peculato.
b) apropriação indébita.
03. (2012 – FGV - PC-MA - Escrivão de Polícia) O
advogado Juarez, que se encontrava suspenso pela OAB c) estelionato.
em razão de diversas reclamações de clientes, contrata
novo serviço profissional para dar início à ação cível d) furto simples.
respectiva, recebendo certa importância em dinheiro como e) furto qualificado.
honorários e para pagar as despesas processuais
respectivas. Depois de vários meses sem dar qualquer
notícia ao cliente, este descobre que o profissional nunca 06. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia)
deu início à ação respectiva, tendo ficado com a quantia Carlindo, médico, conseguiu e utilizou o conteúdo da prova
que se recusa a devolver. do concurso público para provimento do cargo de médico
Efetuado o registro próprio, Juarez deve responder: do governo estadual, sendo o primeiro colocado no
concurso público. Logo, Carlindo:
a) pelo crime de apropriação indébita (Art. 168 CP), tendo
em tese direito à suspensão do processo. a) praticou o crime de estelionato (artigo 171 doCP).

b) pelo crime de estelionato (Art. 171 CP), tendo em tese b) praticou o crime de impedimento, perturbação ou
direito à suspensão do processo. fraude de concorrência (artigo 335 do CP).

c) pelo crime de apropriação indébita majorada (Art. 168, c) praticou o crime de violação do sigilo de proposta de
§ 1º CP), com direito à suspensão do processo. concorrência (artigo 326 do CP).

d) pelo crime de apropriação indébita majorada (artigo d) praticou o crime de fraude em certames de interesse
168 § 1º CP), sem direito à suspensão do processo. público (artigo 311-Ado CP).

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e) não praticou crime. c) O crime de roubo se consuma quando o agente se torna
possuidor da coisa subtraída, mediante violência ou grave
ameaça, ainda que o objeto subtraído não saia da esfera
07. (2010 – CONSULTEC - TJ-BA - Conciliador) De de vigilância da vítima.
acordo com a orientação sumular oriunda do Superior
d) No crime de apropriação indébita, assim como no de
Tribunal de Justiça, STJ, quando o falso se exaure no
estelionato, o agente detém, anteriormente à prática do
estelionato, sem mais potencialidade lesiva, haverá
crime, a posse lícita da coisa.
a) falso.
e) A destruição de patrimônio de empresa pública, a
b) estelionato. exemplo da Caixa Econômica Federal, configura dano
qualificado.
c) falso em concurso material com estelionato.
d) falso em continuidade delitiva com estelionato.
GABARITO
e) falso em concurso formal com estelionato.
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
C C B B C D B C A C
08. (2014 – IBFC - PC-RJ - Papiloscopista Policial de
3ª Classe) Suponha que um determinado indivíduo vá até
uma padaria e, utilizando uma cópia grosseira de uma CAPÍTULO VII
nota de R$ 10,00 (dez reais), consiga comprar pães, DA RECEPTAÇÃO
causando prejuízo ao referido estabelecimento. Este
indivíduo praticou: Receptação
a) Crime de petrechos para falsificação de moeda e será
julgado pela Justiça Federal. Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
b) Crime de moeda falsa e será julgado pela Justiça produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé,
Federal. a adquira, receba ou oculte: (Redação dada pela
c) Crime de estelionato e será julgado pela Justiça Lei nº 9.426, de 1996)
Estadual.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
d) Crime de falsificação de papéis públicos e será julgado
pela Justiça Estadual.
Receptação qualificada (Redação dada pela
e) Crime contra o Sistema Financeiro Nacional e será Lei nº 9.426, de 1996)
julgado pela Justiça Federal.
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir,
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
09. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário -
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em
Biblioteconomia) Brutus, no interior de uma loja, a
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
pretexto de adquirir roupas, solicitou ao vendedor vários
comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto
modelos para experimentar, mas, no interior do provador,
de crime:
escondeu uma das peças dentro de suas vestes, devolveu
as demais e deixou o local. Brutus cometeu crime de
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
a) furto qualificado pela fraude.
b) apropriação indébita. § 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito
do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio
c) furto simples. irregular ou clandestino, inclusive o exercício em
d) estelionato. residência.

e) furto de coisa comum.


§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua
natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou
pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida
10. (2015 – CESPE - Prefeitura de Salvador – BA -
por meio criminoso:
Procurador do Município – 2ª Classe) Assinale a opção
correta acerca dos crimes contra o patrimônio conforme
entendimento do STJ e da doutrina majoritária. Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou
ambas as penas.
a) Indivíduo que vender coisa própria inalienável, gravada
de ônus ou litigiosa, ou imóvel que tiver prometido vender
§ 4º - A receptação é punível, ainda que
a terceiro mediante pagamento em prestações, e silenciar
desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que
sobre quaisquer dessas circunstâncias, praticará o delito
proveio a coisa.
de induzimento à especulação.
b) Se, posteriormente à subtração dos bens, a vítima for § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário,
obrigada a fornecer senha para a realização de saques em pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias,
sua conta bancária, será configurado um delito único, ou deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o
seja, a extorsão. disposto no § 2º do art. 155.

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§ 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União,
de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de Consumação e tentativa: a receptação própria é
autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade crime material, consumando-se no momento em que a
de economia mista ou empresa concessionária de serviços coisa é incluída na esfera de disponibilidade do agente. As
públicos, aplica-se em dobro a pena prevista hipóteses de transporte, condução e ocultação são formas
no caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.531, permanentes do crime, possibilitando a prisão em
de 2017) flagrante a qualquer tempo. A modalidade imprópria de
receptação é formal, bastando a influência sobre o terceiro
 A receptação é crime acessório, de fusão ou de boa-fé.
parasitário, pois não tem existência autônoma,
reclamando a prática de um delito anterior. ATENÇÃO! A doutrina, na sua maioria, explica ser
admissível a tentativa somente na receptação própria.
ATENÇÃO: produto de contravenção não gera
receptação, vedando-se analogia incriminadora. Receptação qualificada pelo exercício de atividade
comercial ou industrial (art. 180, § 1º): O legislador
Autonomia da receptação: A receptação, embora descreve 7 (sete) novos núcleos: (a) montar (reunir e
classificada como crime acessório, pois pressupõe a compor convenientemente as peças de uma máquina,
prática de um crime anterior, não reclama o conhecimento engenho ou dispositivo, de modo que fique em condições
do autor deste último, nem a possibilidade de ser ele de funcionar); (b) desmontar (desfazer o que estava
efetivamente punido. montado); (c) remontar (reparar, consertar, remendar);
(d) vender (transferir a propriedade, a outrem, a título
Receptação e extinção da punibilidade do oneroso); (e) expor à venda (exibir alguma coisa, com o
crime anterior: A declaração da extinção da punibilidade propósito de transferir onerosamente sua propriedade); e
do crime anterior, qualquer que seja a sua causa, não (f) utilizar de qualquer forma (fazer uso da coisa).
impede a caracterização do crime e a punição do seu
responsável.  Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação
múltipla ou de conteúdo variado – a realização de dois ou
Objetividade jurídica: proteção do patrimônio mais núcleos em face do mesmo objeto material
daquele que, com a receptação, vê seu bem mais distante caracteriza um só crime.
de si.
IMPORTANTE: O sujeito ativo somente pode ser
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, desde cometido pela pessoa que se encontra no exercício de
que não haja concorrido, de alguma forma, para o crime atividade comercial ou industrial (crime próprio ou
anterior (pressuposto). especial).

Sujeito passivo: será a mesma vítima do delito Natureza da atividade qualificadora (§ 2º) -
antecedente. Não se exige regularidade ou licitude no desempenho da
atividade comercial ou industrial. O legislador instituiu
Conduta: o tipo penal deve ser dividido em duas uma norma penal explicativa ou complementar no § 2º do
partes: receptação própria (art. 180, caput, 1ª parte) e art. 180 do Código Penal, com o objetivo de equiparar à
imprópria (art. 180, caput, 2ª parte). Nos dois casos o tipo atividade comercial, para fins de receptação qualificada,
é misto alternativo (de ação múltipla ou de conteúdo qualquer forma de comércio irregular ou clandestino,
variado). inclusive o exercício em residência.

Na RECEPTAÇÃO PRÓPRIA o agente, sabendo ser a Receptação culposa (art. 180, § 3º): É crime
coisa produto de crime, a adquire, recebe, transporta, culposo previsto por um tipo penal fechado – o legislador
conduz ou oculta. aponta expressamente as formas pelas quais a culpa pode
se manifestar, especificando as circunstâncias indicativas
Já na RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA (“influir”) da previsibilidade a respeito da origem da coisa: (a)
incrimina-se a conduta do intermediário, isto é, da pessoa natureza ou desproporção entre o valor e o preço da coisa
que se coloca entre o autor do crime anterior e o terceiro adquirida ou recebida pelo agente; (b) condição de quem
de boa-fé, potencial adquirente da coisa produto de crime. a oferece; e (c) no caso de se tratar de coisa que deve
presumir-se obtida por meio criminoso. Tais formas,
Boa fé do terceiro na receptação imprópria - O também conhecidas como indícios da origem criminosa do
terceiro deve, obrigatoriamente, agir de boa-fé, pois, do bem, têm caráter objetivo.
contrário, será rotulado como receptador próprio, e aquele
que o influenciou responderá como partícipe da conduta O CP pressupõe que qualquer deles deve gerar a
descrita na primeira parte do caput. presunção de que a coisa procede de crime, pouco
importando, em princípio, que o acusado não tenha
 O objeto material da receptação é produto de realmente presumido tal procedência. Se, no caso
crime anterior (mesmo que modificado ou alterado). concreto, o acusado incidiu em erro escusável, ou se havia
razoáveis contraindícios no sentido da legitimidade de
ATENÇÃO! Para que se configure a receptação proveniência da coisa, não há falar em receptação culposa,
(própria ou imprópria), é imprescindível a existência de sob pena de responsabilidade penal objetiva.
delito precedente, figurando como objeto material a coisa
produto de crime, não necessariamente contra o  A receptação é o único crime contra o patrimônio,
patrimônio, podendo ser contra a administração pública, previsto no Código Penal, punido a título de dolo e de
por exemplo. culpa.

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Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-
Autonomia da receptação (norma penal autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar
explicativa) - art. 180, § 4º: A autonomia da seguro o proveito do crime:
receptação, apresentada pelo art. 180, § 4º, do Código Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
Penal, divide-se em dois diferentes aspectos:
Receptação de animal
1º) A receptação é punível ainda que desconhecido
o autor do crime antecedente - Se forem identificados
tanto o receptador como o autor do crime anterior, os Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar,
crimes por eles praticados serão tidos como conexos e, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a
sempre que possível, importarão na junção dos processos finalidade de produção ou de comercialização, semovente
e do julgamento. domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido
em partes, que deve saber ser produto de
2º) O receptador pode ser punido ainda que isento crime: (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
de pena o autor do crime de que proveio a coisa - É o que
se dá nas causas de exclusão da culpabilidade, também Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
conhecidas como dirimentes, e nas escusas absolutórias. multa. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

Perdão judicial (art. 180, § 5º, 1ª parte): Incide


unicamente na receptação culposa. Reclama dois Semovente é a definição jurídica dada ao animal
requisitos cumulativos: a) primariedade do agente; e b) criado em grupos (bovinos, suínos, caprinos etc.) que
as circunstâncias do crime devem indicar que o fato não integram o patrimônio de alguém, passíveis, portanto, de
se revestiu de especial gravidade. serem objetos de negócios jurídicos.

 Presentes os requisitos legalmente exigidos, o  A lei claramente não abrange os animais


juiz estará obrigado a reconhecer o perdão judicial, pois selvagens, mas somente os domesticáveis, mesmo que já
se trata de direito subjetivo do réu. abatidos ou divididos em partes.

Receptação privilegiada (art. 180, § 5º, parte Os animais devem ser, ainda, de produção, isto é,
final): Aplica-se à receptação dolosa o disposto no art. preparados para o abate e comercialização. Não abrange
155, § 2º, do Código Penal. Admite-se, portanto, a apenas os quadrúpedes, mas também os bípedes e ápodes
receptação privilegiada, também chamada de receptação (animais desprovidos de membros locomotores, como
mínima, que depende da primariedade do agente, répteis).
devendo ser de pequeno valor a coisa receptada.
Bem Juridicamente Protegido - O tipo penal que
 Presentes os requisitos legalmente exigidos, o prevê o crime de receptação de animal tem por finalidade
magistrado terá três caminhos a seguir: (1) substituir a proteger o patrimônio.
pena de reclusão por detenção; (2) diminuir a pena
privativa de liberdade de 1/3 a 2/3; ou (3) aplicar somente Objeto material - é o semovente domesticável de
a pena de multa. produção, ainda que abatido ou dividido em partes.

Receptação e natureza do objeto material (art. Sujeito Ativo - Qualquer pessoa pode ser sujeito
180, § 6º): A elevação da pena alcança somente a ativo do delito de receptação de animal, não havendo
receptação simples, seja própria ou imprópria, por qualquer qualidade ou condição especial exigida pelo tipo
expressa imposição legal. Não basta ao agente o dolo constante do art. 180-A do Código Penal.
sobre a origem criminosa do bem receptado – é
imprescindível o conhecimento (dolo) acerca da lesão Sujeito Passivo - Qualquer pessoa também poderá
provocada ao patrimônio público. figurar como sujeito passivo do crime de receptação de
animal, incluindo, aqui, não somente o proprietário, mas
Receptação própria e favorecimento real: O também o possuidor do semovente domesticável de
art. 349 do Código Penal esclarece que só existe produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que
favorecimento real quando o fato não configura crime de se confundirá com o sujeito passivo do crime anterior de
receptação. onde surgiu o produto do crime.

São duas as diferenças entre tais delitos:  Assim, o sujeito passivo do delito de furto, será
também o de receptação de animal.
1) A receptação é crime contra o patrimônio e o
favorecimento real é crime contra a Administração da Consumação e Tentativa - Em se tratando de um
Justiça; delito material, a receptação de animal se consuma
quando o agente, efetivamente, adquire, recebe,
2) Na receptação está presente o fim de lucro transporta, conduz, oculta, tem em depósito ou vende
(animus lucrandi), enquanto no favorecimento real a semovente domesticável de produção, ainda que abatido
conduta é realizada pelo agente sem finalidade lucrativa ou dividido em parte.
para si ou para terceiro, pois ele busca unicamente auxiliar
o autor do crime anterior a tornar seguro o proveito do  A tentativa é admissível, tendo em vista a
crime. possibilidade de fracionamento do iter criminis
considerando as condutas previstas no tipo.
Favorecimento real

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Elemento Subjetivo - O dolo é o elemento Imunidades relativas - O mesmo propósito do
subjetivo exigido pelo tipo penal que prevê o delito de anterior é inerente ao artigo 182, tratando de hipóteses
receptação de animal, não havendo previsão para a diversas, em que a instauração da ação penal está
modalidade de natureza culposa. condicionada à iniciativa da vítima (imunidade relativa).

 A expressão “que deve saber ser produto de Aqui, três são as hipóteses em que aquele que
crime” não induz a um delito culposo, mas sim a uma comete crime patrimonial é beneficiado pela existência de
infração penal praticada a título de dolo eventual. condição de procedibilidade: a) quando a vítima é seu
cônjuge, mas separado judicialmente; b) quando é seu
3. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS (ARTS. 181 A 183) irmão, bilateral ou não; c) quando é seu tio ou sobrinho,
devendo haver coabitação.
CAPÍTULO VIII
I - Cônjuge desquitado ou judicialmente separado:
DISPOSIÇÕES GERAIS
Com relação aos cônjuges, o que não se aplicava no
dispositivo anterior aqui se insere, não como forma de
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer imunidade, mas tão somente como pressuposto para que
dos crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei se inicie a ação penal.
nº 10.741, de 2003)
II - Irmão, legítimo ou ilegítimo: Relativamente ao
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; irmão, mais uma vez mostra-se inadequado o texto do
Código Penal, já que diferencia (a contrário senso) entre
II - de ascendente ou descendente, seja o o legítimo e o ilegítimo, quando a discriminação é vedada
parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. pela Constituição da República.

Imunidades absolutas (escusas absolutórias) III -Tio ou sobrinho, com quem o agente coabita:
- O artigo 181 do Código Penal revela o intuito do Em relação ao tio ou sobrinho, exige a lei que o agente
legislador de manter a harmonia em família, prevendo com ele coabite, não de forma passageira, mas duradoura
duas hipóteses de isenção de pena (exclusão da (pouco importando o local da prática do delito). O sentido
punibilidade) para aqueles que cometem crimes contra o de coabitação não abrange visitas esporádicas ou mesmo
patrimônio: temporárias, devendo haver efetiva residência em
comum, desde que, obviamente, no momento do crime.
a) Quando a vítima é seu cônjuge (na constância da
sociedade conjugal): destaca-se, a este respeito, que o  Se o crime ocorrer antes ou depois da coabitação,
crime deve ocorrer enquanto se mantém a sociedade o fato será indiferente.
conjugal. A separação de fato não afasta a incidência da
imunidade absoluta, pois não é idônea à dissolução da Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos
sociedade conjugal. anteriores:

 Se o casamento se der após, ou se o casal já I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em


estiver judicialmente separado ou divorciado, não há geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência
isenção. à pessoa;

b) Quando a vítima é ascendente ou descendente,


II - ao estranho que participa do crime.
sendo irrelevante a natureza do parentesco: o inciso II,
referindo-se aos ascendentes e descendentes abrange os
parentes em linha reta, sem grau de limitação e III – se o crime é praticado contra pessoa com idade
independentemente da natureza do parentesco. Assim, igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Incluído
abrange os crimes patrimoniais praticados pelo pai contra pela Lei nº 10.741, de 2003)
o filho, do neto contra o avô, e daí por diante.
Exclusão dos benefícios de isenção da pena e
 A imunidade penal absoluta em apreço não exigência de representação - Depois de arrolar,
alcança o parentesco por afinidade, ainda que na linha taxativamente, as imunidades absolutas (art. 181) e
reta. relativas (art. 182), o Código Penal indica as hipóteses em
que os responsáveis por crimes patrimoniais não podem
ser beneficiados pelas causas de isenção da pena, nem
Art. 182 - Somente se procede mediante
pela transformação de crimes de ação penal pública
representação, se o crime previsto neste título é cometido
incondicionada em ação penal pública condicionada à
em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)
representação.

I - do cônjuge desquitado ou judicialmente Inciso I – Se o crime é de roubo ou de extorsão,


separado; ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
violência à pessoa: Extrai-se deste inciso, em primeiro
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; lugar, que não se aplicam as imunidades (absolutas e
relativas) ao roubo e à extorsão, por serem crimes
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. pluriofensivos (atingem o patrimônio e a integridade física
ou a liberdade individual).

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 Também não podem ser concedidas as 04. (2013 – VUNESP - PC-SP - Papiloscopista
imunidades para qualquer outro crime patrimonial Policial) No que concerne ao crime de receptação, analise
cometido com emprego de grave ameaça ou violência à as seguintes assertivas:
pessoa. I. Não é punível se desconhecido o autor do crime de que
proveio a coisa.
Inciso II – Ao estranho que participa do crime: A
posição de cônjuge ou parente da vítima é condição II. Não é punível se isento de pena o autor do crime de
pessoal do responsável pelo crime patrimonial, não se que proveio a coisa.
estendendo ao estranho (coautor ou partícipe) que III. A pena para a figura simples dolosa (CP, art. 180,
contribui para o delito. caput) é aplicada em dobro caso se trate de bem da União.
As assertivas estão, respectivamente:
 Em relação ao estranho, falta interesse na
preservação da harmonia familiar que fundamenta as a) correta; correta; incorreta.
imunidades penais nos crimes contra o patrimônio. b) incorreta; correta; incorreta.
c) correta; correta; correta.
Inciso III – Se o crime é praticado contra pessoa
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos: Tal d) incorreta; incorreta; incorreta.
inciso foi acrescentado pela Lei 10.741/2003 – Estatuto do e) incorreta; incorreta; correta.
Idoso, com a finalidade de proporcionar especial proteção
ao idoso no campo dos crimes contra o patrimônio.
05. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Delegado de Polícia)
 A exclusão das imunidades é obrigatória. Sílvio e Mário, por determinação de Valmeia, prima de
Sílvio, tomaram vários eletrodomésticos da casa de
EXERCÍCIOS Joaquina, que havia saído para trabalhar. Após a divisão
em partes iguais, Valmeia, por necessitar para utilização
01. (2016 – IESES - TJ-PA - Titular de Serviços de em sua casa, comprou de Sílvio e Mário os
Notas e de Registros - Remoção) O ato de adquirir, eletrodomésticos que lhes couberam na divisão. Logo,
receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito pode-se afirmar que:
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou
a) Valmeia, Sílvio e Mário são coautores do crime de furto.
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou
oculte é tipificado como crime de: b) Sílvio e Mário são autores do crime de furto, enquanto
Valmeia é partícipe do crime de furto.
a) Receptação.
c) Sílvio e Mário são autores do crime de furto, enquanto
b) Apropriação indébita.
Valmeia é autora do crime de furto e receptação em
c) Induzimento à especulação. concurso material.
d) Estelionato. d) Sílvio e Mário são autores do crime de furto, enquanto
Valmeia é autora do crime de furto e receptação em
concurso formal.
02. (2017 – IBADE - Órgão: PC-AC - Agente de Polícia
Civil) Sobre o crime de receptação, é correto afirmar que: e) Sílvio e Mário são autores do crime de furto, enquanto
Valmeia é autora do crime de furto e receptação em
a) aquele que encomenda a prática de crime patrimonial
continuidade delitiva.
prévio não responde por receptação ao receber para si o
produto do crime.
b) não é possível a receptação que tenha como crime 06. (2009 – CESPE - PC-PB - Papiloscopista e
prévio uma outra receptação. Técnico em Perícia) Luiz, contando com o auxílio de
Tereza, subtraiu de uma loja uma filmadora e uma
c) cuida-se de crime subsidiário ao delito de favorecimento
máquina digital. Sabendo que os policiais estavam em seu
real.
encalço, foi até a casa de João e lhe pediu para guardar os
d) a receptação qualificada admite a modalidade culposa. bens subtraídos, de forma a garantir o lucro de sua
e) majoritariamente. entende-se que. se a infração penal empreitada criminosa. João aceitou a proposta de Luiz.
prévia for um ato infracional, não há receptação, pois esta Nessa situação hipotética, João praticou o crime de
tem como objeto material o produto de um crime. a) receptação.
b) favorecimento real.
03. (2013 – FCC - TJ-PE - Titular de Serviços de c) favorecimento pessoal.
Notas e de Registros) Admite realização também sob a
d) fraude processual.
modalidade estritamente culposa a figura legal de
e) roubo na modalidade coparticipação.
a) dano.
b) peculato mediante erro de outrem.
07. (2014 – VUNESP - TJ-PA - Juiz de Direito
c) furto.
Substituto) Com relação às modalidades de receptação,
d) receptação assinale a alternativa correta.
e) favorecimento pessoal. a) A receptação própria é um crime material, consuma-se
com a efetiva aquisição, recebimento, transporte,
condução ou ocultação da coisa produto de crime. A

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receptação imprópria, por sua vez, é um crime formal e, c) as condutas praticadas por Maurício são atípicas, pois
teoricamente, não admite a tentativa. os bens subtraídos também podem ser considerados de
b) Aquele que sabe sobre a origem da coisa produto de sua propriedade;
crime pratica a receptação na modalidade própria, d) Maurício é isento de pena pela prática da conduta
enquanto que aquele que deveria saber pratica o delito na engendrada em desfavor de sua mãe, mas não pela
modalidade imprópria. conduta praticada contra seu pai;
c) A modalidade dolosa da receptação é conhecida e) Maurício deverá responder pela prática de ambos os
doutrinariamente por receptação própria e a modalidade crimes, não havendo que se falar em aplicação de escusas
culposa por receptação imprópria. absolutórias.
d) Na receptação culposa exige-se o elemento subjetivo
especial do tipo constituído pelo fim especial de
GABARITO
desconhecer a origem da coisa produto de crime.
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
A A D E A B A A B E
08. (2011 – FCC - TRE-AP - Analista Judiciário - Área
Administrativa) Considere as seguintes assertivas com
relação aos crimes contra o patrimônio, de acordo com o
Código Penal: 3. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE
I. É isento de pena quem comete crime de furto em SEXUAL (ARTS. 213 A 234-C)
prejuízo de ascendente com 60 anos de idade.
II. Somente se procede mediante representação, se o TÍTULO VI
agente pratica crime de estelionato em prejuízo de irmão. DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
III. É isento de pena quem comete crime de extorsão CAPÍTULO I
contra cônjuge na constância da sociedade conjugal. DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL
Está correto que se afirma SOMENTE em
a) II.
Estupro
b) I e II.
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência
c) I e III. ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
d) II e III. permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:
e) III.
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
09. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia) § 1o Se da conduta resulta lesão corporal de
João, que morava com o irmão do seu pai, subtraiu R$ natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou
1.000,00 da carteira dele. Assim, a ação penal será: maior de 14 (catorze) anos:
a) pública incondicionada. Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
b) pública condicionada à representação. § 2o Se da conduta resulta morte:
c) privada simples.
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta)
d) privada personalíssima. anos
e) privada subsidiária da pública.
Objetividade jurídica: o dispositivo visa a
proteção da dignidade sexual da vítima.
10. (2015 – FGV - TCM-SP - Agente de Fiscalização - Sujeitos do crime: o delito é bicomum, isto é,
Ciências Jurídicas) Maurício estava na festa de qualquer pessoa pode praticar ou sofrer as consequências
aniversário de seu pai e sua mãe, que, juntos, da infração penal (em outras palavras: qualquer pessoa
comemoravam seus aniversários de 61 anos e 59 anos pode ser sujeito ativo assim como qualquer pessoa pode
respectivamente. Com a intenção de comprar bebidas, ser sujeito passivo).
subtrai R$ 1.000,00 (mil reais) da carteira de seu pai sem
que ninguém veja sua conduta. Já no dia seguinte pela Conduta: pune-se o ato de libidinagem violento,
manhã, ingressa no quarto de sua mãe para subtrair coagido, obrigado, forçado, buscando o agente
dólares, mas depara-se com a genitora trocando de constranger a vítima à conjunção carnal (conjunção entre
sapatos. Decide, então, ameaçá-la de morte e levar todo sexos opostos) ou praticar ou permitir que com ele se
o dinheiro que era apenas de sua mãe. Diante dessa pratique outro ato libidinoso.
situação, é correto afirmar que: O meio de execução é a violência ou a grave
a) Maurício é isento de pena pela prática dos dois crimes, ameaça.
em razão da escusa absolutória pelo fato de as vítimas
A violência deve ser material, isto é, emprego de
serem seus genitores;
violência física suficiente para impedir a vítima de reagir.
b) Maurício é isento de pena pela prática da conduta
engendrada contra o pai, mas não contra a mãe; A grave ameaça se dá através de violência moral,
direta, situação em que a vítima não vê alternativa a não
ser ceder ao ato sexual.

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Consumação e tentativa: o delito se consuma Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o
com a prática do ato de libidinagem buscado pelo agente, ato não constitui crime mais grave.
sendo perfeitamente possível a tentativa.
Revogação da contravenção penal de
Qualificadoras (§ 1º e § 2º): será qualificado o importunação ofensiva ao pudor - Em virtude da
estupro de que resultar lesão grave ou morte (figuras inserção deste tipo penal, a Lei 13.718/18 revoga a
preterdolosas - dolo no antecedente e culpa no contravenção penal do art. 61 do Decreto-lei 3.688/41
consequente). (importunação ofensiva ao pudor). Não se pode falar, no
entanto, em abolitio criminis relativa à contravenção, pois
Também será qualificado o estupro se a vítima tiver
estamos, na verdade, diante do princípio da continuidade
menos que 18 anos de idade. Logicamente, a vítima deve
ter idade superior a 14 anos, pois, se menor, haverá normativo-típica. O tipo do art. 61 da LCP é formalmente
estupro de vulnerável (art. 217-A do CP). revogado, mas seu conteúdo migra para outra figura para
que a importunação seja punida com nova roupagem.
ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90
Sujeitos do crime - Trata-se de crime comum, que
inclui no rol dos hediondos o crime de estupro (art.
não exige nenhuma qualidade especial do sujeito ativo,
213, caput e §§ 1o e 2o).
assim como pode vitimar qualquer pessoa.
Ação penal: pública incondicionada. Conduta – Trata-se de crime de forma livre,
consistente em praticar (levar a efeito, fazer, realizar) ato
libidinoso, isto é, ação atentatória ao pudor, praticada com
Violação sexual mediante fraude propósito lascivo ou luxurioso, não havendo delimitação
no tipo penal de quais atos configurariam “atos
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinosos”, de forma que devemos entender como
libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que libidinosos aqueles atos cuja finalidade seja a satisfação
impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da da lascívia própria ou alheia.
vítima:
Importunação sexual x Ato obsceno – A
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. importunação exige que o ato libidinoso seja praticado
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim contra alguém, ou seja, pressupõe uma pessoa específica
de obter vantagem econômica, aplica-se também a quem deve se dirigir o ato de autossatisfação. Com
multa. efeito, responde por importunação sexual quem, por
exemplo, se masturba em frente a alguém porque aquela
Objetividade jurídica: tutela-se a dignidade pessoa lhe desperta um impulso sexual; mas responde por
sexual da vítima, lesada mediante fraude do agente. ato obsceno quem se masturba em uma praça pública sem
visar a alguém específico, apenas para ultrajar ou chocar
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode figurar como
os frequentadores do local.
sujeito ativo.
Consumação e tentativa - Consuma-se o crime
Sujeito passivo: não se exige, também, qualidade
com a prática do ato libidinoso. Apesar de teoricamente
ou condição especial da vítima (crime bicomum). No caso
possível, na prática nos parece improvável a
da conjunção carnal fraudulenta, é imprescindível,
caracterização da tentativa, pois, se o agente inicia a
obviamente, sujeitos de sexos opostos.
execução de qualquer ato libidinoso, há de se reconhecer
 Tratando-se de vítima menor de 14 anos, o crime a consumação. Antes disso, ocorrem apenas atos
será o do art. 217-A do CP (estupro de vulnerável) preparatórios.
Conduta: pune-se o estelionato sexual, caso em Crime subsidiário – este delito somente restará
que o agente, sem usar de qualquer espécie de violência configurado se a conduta não constituir crime mais grave
ou grave ameaça, emprega fraude ou outro meio que (subsidiariedade expressa). Assim, se o agente pratica
impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da sexo oral com a vítima, sem a sua anuência, valendo-se
vítima. de grave ameaça, por exemplo, a conduta irá configurar o
crime de estupro, e não o crime do art. 215-A do CP.
ATENÇÃO: a fraude utilizada na execução do crime
não pode anular a capacidade de resistência da vítima, Art. 216. (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
caso em que estará configurado o delito de estupro de
vulnerável (art. 217-A do CP). Exemplo: agente que usa
psicotrópicos para vencer a resistência da vítima ("boa Assédio sexual
noite cinderela" etc.).
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de
Consumação e tentativa: consuma-se o delito obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-
com a prática do ato de libidinagem, sendo perfeitamente se o agente da sua condição de superior hierárquico ou
possível a tentativa. ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou
Ação penal: pública incondicionada. função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois)
anos.
Importunação sexual (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único. (VETADO)
13.718, de 2018)
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua
vítima é menor de 18 (dezoito) anos.
anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a
própria lascívia ou a de terceiro:

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Objetividade jurídica: trata-se de delito
pluriofensivo, resguardando a dignidade sexual do Sujeitos: Tanto o sujeito ativo como o sujeito
indivíduo e a liberdade de exercício do trabalho, o direito passivo podem ser qualquer pessoa. Trata-se, portanto,
de não ser discriminado. de crime bicomum.
Sujeito ativo: o crime só pode ser praticado por
Elemento subjetivo: É o dolo. Não se exige
superior hierárquico ou ascendente em relação de
especial fim de agir. Não admite modalidade culposa.
emprego, cargo ou função.
Sujeito passivo: do ofendido também se exige Caráter íntimo e privado: A cena registrada deve
uma qualidade ou condição especial: ser subalterno (ou ter sido praticado em caráter íntimo e privado. Se o agente
subordinado) do autor. filma um casal mantendo relações sexuais em uma praça,
por exemplo, não configura o crime.
 Note-se que o tipo penal, sem fazer menção ao
sexo dos envolvidos, admite o crime de assédio entre Sem autorização dos participantes: Se há
pessoas do mesmo sexo. autorização, o fato é atípico, salvo em se tratando de
Conduta: a ação típica consiste em constranger crime ou adolescente, situação na qual configura o crime
alguém com o intuito de obter vantagem ou favor sexual, do art. 240 do ECA.
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência (condição de mando)  Vale ressaltar que, para não ser crime a
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. É, em autorização deve ter sido dada por todos os participantes.
resumo, a insistência importuna de alguém em posição Se faltar a autorização de um dos participantes do ato,
privilegiada, que usa dessa vantagem para obter favores haverá crime. Imagine que Rodrigo irá manter relações
sexuais de um subalterno. sexuais com uma garota que conheceu na festa. Ele
autoriza que seu irmão Ricardo, escondido, filme a cena.
 Superior hierárquico é o funcionário que possui, Ocorre que a garota não autorizou o registro. Obviamente,
em relação a outros, maior autoridade na estrutura haverá o crime.
administrativa pública. Assim, não configura o crime de
assédio sexual entre funcionários do mesmo nível Tentativa: Na teoria, é possível. Isso porque se
hierárquico. trata de crime plurissubsistente. Crime plurissubsistente é
aquele no qual a execução pode ser fracionada em vários
 Ascendência significa a superioridade em termos atos.
de poder de mando, que alguém (empregador ou
empregado) possui na relação de emprego com outros, Ação penal: Trata-se de crime de ação pública
dentro da estrutura administrativa civil particular. Assim, INCONDICIONADA.
também não configura o crime de assédio sexual entre
empregados do mesmo escalão, como também no caso Figura equiparada – parágrafo único:
em que o agente assedia alguém que possui maior poder
de mando. Conduta: No caput, a cena registrada é verdadeira.
Neste parágrafo único, por outro lado, a fotografia,
vídeo ou áudio não é verdadeiro. Foi feita uma montagem,
ou seja, foram acrescentados elementos que não
CAPÍTULO I-A ocorreram na realidade.
(Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018)
DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL Sujeitos: Tanto o sujeito ativo como o sujeito
passivo podem ser qualquer pessoa. Trata-se, portanto,
Registro não autorizado da intimidade sexual de crime bicomum.
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, Elemento subjetivo: É o dolo. Não se exige
por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato especial fim de agir. Não se exige o agente tenha feito isso
sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem para se vingar da vítima ou alguma outra motivação
autorização dos participantes: (Incluído pela Lei nº especial. Não admite modalidade culposa.
13.772, de 2018)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e
multa. CAPÍTULO II
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL
realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer
outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de Sedução
nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter
íntimo. (Incluído pela Lei nº 13.772, de 2018) Art. 217 -(Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

Conduta: O agente produz (cria, financia) ou


registra (fotografa, filma, grava etc.) cena de nudez ou ato
Estupro de vulnerável
sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem
autorização dos participantes. Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro
ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Bem jurídico protegido: A intimidade sexual da
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze)
vítima.
anos.

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§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90
descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou inclui no rol dos hediondos o crime de estupro de
deficiência mental, não tem o necessário discernimento vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o).
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência. Ação penal: pública incondicionada.
§ 2o (VETADO)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de Corrupção de menores
natureza grave:
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze)
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos a satisfazer a lascívia de outrem:
anos.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco)
§ 4o Se da conduta resulta morte: anos.
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) Parágrafo único. (VETADO).
anos.
Objetividade jurídica: tutela-se a dignidade
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º sexual do vulnerável menor de 14 anos.
e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do
consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido Sujeito ativo: trata-se de crime comum, não
relações sexuais anteriormente ao crime. (Incluído pela exigindo qualidade ou condição especial do agente.
Lei nº 13.718, de 2018) Sujeito passivo: pessoa menor de 14 anos.
Objetividade jurídica: tutela a dignidade sexual Conduta: O crime se verifica quando o sujeito ativo
do vulnerável. induz (alicia, persuade) menor de 14 anos a satisfazer a
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). lascívia (sensualidade, libidinagem, luxúria) de outrem.

Sujeito passivo: só pode ser o menor de 14 anos  O ato a que o menor vulnerável é induzido não
de idade (caput) ou portadora de enfermidade ou pode consistir em conjunção carnal ou atos libidinosos
deficiência mental ou incapaz de discernimento para a diversos da cópula normal, caso em que configurado
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa não estará o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do
esteja em condições de oferecer resistência (§ 1º). CP).

Conduta: praticar atos de libidinagem com vítima Consumação e tentativa: consuma-se o delito
vulnerável, não importando o meio de execução com a prática do ato que importa na satisfação da lascívia
(violência, grave ameaça, fraude etc.). de outrem. Admite-se a tentativa.

Tipo subjetivo: o crime é punido a título de dolo, Ação penal: pública incondicionada.
devendo o agente ter ciência de que age em face de
pessoa vulnerável.
Satisfação de lascívia mediante presença de
Consumação e tentativa: consuma-se o delito criança ou adolescente
com a prática do ato de libidinagem, sendo perfeitamente
possível a tentativa. Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor
de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção
Qualificadoras: os §§ 3° e 4° trazem carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia
qualificadoras preterdolosas (dolo no antecedente e culpa própria ou de outrem:
no consequente), punidas com reclusão de 10 a 20 anos
quando da conduta resultar lesão grave, e 12 a 30 anos, Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
quando resultar morte.
Objetividade jurídica: tutela-se a dignidade
Consentimento e pessoas com deficiência (§ sexual do vulnerável menor de 14 anos.
5º): A Súmula 593 do STJ refere-se apenas a uma das
hipóteses de pessoa vulnerável, qual seja, a pessoa menor Sujeito ativo: trata-se de crime comum, não
de 14 anos. O novo § 5º, por sua vez, levou o exigindo qualidade ou condição especial do agente.
entendimento exposto na súmula para as outras duas Sujeito passivo: pessoa menor de 14 anos.
situações de vulnerabilidade previstas no § 1º do art. 217-
A: Conduta: o tipo admite duas formas de conduta:
a) Pessoa que, por enfermidade ou deficiência a) Praticar, na presença da vítima, conjunção carnal
mental, não tem o necessário discernimento para a prática ou outro ato libidinoso, querendo ou aceitando ser
do ato; observado.
b) Pessoa que, por qualquer causa, não pode
oferecer resistência. b) Induzir a vítima a presenciar conjunção carnal ou
outro aro libidinoso.

Súmula 593-STJ: O crime de estupro de  Em nenhuma das hipóteses a vítima participa do


vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática ato sexual, limitando-se a observar, pois, caso contrário,
de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante haverá estupro de vulnerável (art. 217-A do CP).
eventual consentimento da vítima para a prática do ato, Consumação e tentativa: a consumação do crime
sua experiência sexual anterior ou existência de se dá com a efetiva realização do ato sexual, sendo que,
relacionamento amoroso com o agente. na segunda modalidade criminosa, induzir a presenciar, o

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delito se caracteriza com a realização do núcleo, A tentativa parece perfeitamente possível em todas
independentemente da concretização do ato de as modalidades (o agente pratica os atos aptos a perfazer
libidinagem. O delito, nas duas formas, admite a tentativa. a conduta e não consegue seu propósito por circunstâncias
alheias à sua vontade).
Figuras equiparadas (§ 2°): o cliente do cafetão
Favorecimento da prostituição ou de outra (agenciador dos menores de 18 anos), que tenha
forma de exploração sexual de criança ou conhecimento da exploração sexual, será punido com as
adolescente ou de vulnerável. mesmas penas. O proprietário, gerente ou responsável
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à também incorrerão nas penas previstas no caput.
prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém  Nas hipóteses equiparadas é indispensável que o
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou participante do ato sexual saiba que a vítima é menor de
deficiência mental, não tem o necessário discernimento 18 e maior de 14 anos, sexualmente explorada.
para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que
a abandone: ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90
inclui no rol dos hediondos o crime de favorecimento da
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) prostituição ou de outra forma de exploração sexual de
anos. criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B,
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter caput, e §§ 1º e 2º).
vantagem econômica, aplica-se também multa.
Ação penal: pública incondicionada.
§ 2o Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato
libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de Divulgação de cena de estupro ou de cena de
14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de
artigo; pornografia (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar,


local em que se verifiquem as práticas referidas transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
no caput deste artigo. divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
comunicação de massa ou sistema de informática ou
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro
obrigatório da condenação a cassação da licença de audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro
localização e de funcionamento do de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua
estabelecimento. prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo,
Objetividade jurídica: tutela-se a dignidade nudez ou pornografia: (Incluído pela Lei nº 13.718, de
sexual de vulnerável que é submetido, induzido ou atraído 2018)
à prostituição. Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, não fato não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº
exigindo qualidade ou condição especial do agente. 13.718, de 2018)

Sujeito passivo: só pode figurar pessoa menor de Aumento de pena (Incluído pela Lei nº 13.718,
18 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, de 2018)
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, § 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3
seja homem ou mulher. (dois terços) se o crime é praticado por agente que
Conduta: seis são as ações nucleares típicas: mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a
submeter (sujeitar), induzir (inspirar, instigar), atrair vítima ou com o fim de vingança ou
(aliciar) a vítima à prostituição ou outra forma de humilhação. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
exploração sexual, facilitá-la (proporcionar meios, afastar Exclusão de ilicitude (Incluído pela Lei nº
dificuldades), ou impedir (opor-se) ou dificultar (criar 13.718, de 2018)
obstáculos) que alguém a abandone.
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as
A conduta do agente pode ser comissiva ou omissiva condutas descritas no caput deste artigo em publicação
(quando o agente tem o dever jurídico de impedir que a de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica
vítima ingresse na prostituição e nada faz, aderindo com a adoção de recurso que impossibilite a identificação
subjetivamente à sua conduta). da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja
Consumação e tentativa: nas modalidades maior de 18 (dezoito) anos. (Incluído pela Lei nº 13.718,
submeter, induzir, atrair e facilitar, consuma-se o delito de 2018)
no momento em que a vítima passa a se dedicar à
prostituição, colocando-se, de forma constante, à
disposição dos clientes, ainda que não tenha atendido Sujeitos do crime - o crime é comum, isto é, pode
nenhum. ser cometido por qualquer pessoa. Também não se exige
qualidade especial do sujeito passivo, mas, se a vítima
Já na modalidade de impedir ou dificultar o mantém ou manteve relação íntima de afeto com o autor,
abandono da prostituição, o crime se consuma no aumenta-se a pena de um a dois terços (§1º).
momento em que a vítima delibera por deixar a atividade
e o agente obsta esse intento, protraindo a consumação Conduta - são nove as ações nucleares que
durante todo o período de embaraço (crime permanente). compõem o tipo penal: oferecer (propor para aceitação),

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trocar (permutar, substituir), disponibilizar (permitir o Concurso de rapto e outro crime
acesso), transmitir (remeter de um lugar a outro), vender
Art. 222 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
(ceder em troca de determinado valor) ou expor à venda
(oferecer para a alienação), distribuir (proporcionar a CAPÍTULO IV
entrega indeterminada), publicar (tornar manifesto) ou DISPOSIÇÕES GERAIS
divulgar (difundir, propagar).
Art. 223 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
 O tipo é misto alternativo, razão pela qual a
prática de mais de uma ação nuclear, no mesmo contexto Art. 224 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
fático, configura apenas um crime. Ação penal
Consumação e tentativa - O crime se consuma no Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II
momento em que praticada uma das ações típicas. deste Título, procede-se mediante ação penal pública
Certas modalidades podem fazer com que o crime incondicionada. (Redação dada pela Lei nº 13.718, de
seja permanente, como a exposição à venda, a 2018)
disponibilização (acesso permanente por meio de página Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela
em endereço eletrônico, por exemplo) e a divulgação (que Lei nº 13.718, de 2018)
também pode ser promovida continuamente por meio
eletrônico). A Lei 13.718/18 altera a sistemática da ação
penal, que era em regra pública condicionada, podendo
A tentativa se afigura possível, exceto na conduta
ser incondicionada caso a vítima fosse menor de 18 anos
de oferecer, que não nos parece passível de fracionamento
ou vulnerável, passa a ser sempre pública
(até o ato de oferecimento, há apenas preparação).
incondicionada.
Aumento de pena (§ 1º): o dispositivo traz duas
Ora, a regra geral do Código Penal determina que
causas alternativas de aumento de pena, ou seja, basta
os crimes são de ação penal pública incondicionada a não
que ocorra uma ou outra:
ser que a lei disponha em sentido contrário. Dessa forma,
teria sido suficiente a simples revogação do art. 225, que
a) Se o agente que praticou o crime mantém ou
se tornou absolutamente desnecessário.
tinha mantido relação íntima de afeto com a vítima: a
natureza é objetiva no sentido de que não envolve a
intenção do agente.
Aumento de pena
b) Se o agente praticou o crime com o objetivo de Art. 226. A pena é aumentada:
se vingar da vítima ou de humilhá-la: a natureza é
subjetiva, aqui entendida como algo que envolve a I – de quarta parte, se o crime é cometido com o
intenção do agente. concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto
Exclusão da ilicitude (§ 2º): O dispositivo traz ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
duas situações em que não haverá o crime: curador, preceptor ou empregador da vítima ou por
qualquer outro título tiver autoridade sobre ela; (Redação
a) o agente divulga a fotografia ou o vídeo em dada pela Lei nº 13.718, de 2018)
publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou
acadêmica sem identificar a vítima; III - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)

O art. 226 do Código Penal contém majorantes


b) o agente divulga a fotografia ou o vídeo em
relativas aos crimes contra a dignidade sexual.
publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou
acadêmica identificando a vítima, desde que ela seja maior O inciso I aumenta a pena de quarta parte se o
de 18 anos e tenha dado autorização para isso. crime é cometido com o concurso de duas ou mais
pessoas, ao passo que o inciso II majora de metade a pena
 Em nenhuma hipótese será permitida a se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
identificação da vítima se ela for menor de 18 anos, sendo irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
nulo seu consentimento ou de seus representantes legais. empregador da vítima ou por qualquer outro título tem
autoridade sobre ela.
Ação penal: pública incondicionada.

IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime


CAPÍTULO III é praticado: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
DO RAPTO
Estupro coletivo (Incluído pela Lei nº 13.718, de
Rapto violento ou mediante fraude 2018)
Art. 219 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais
Rapto consensual agentes; (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

Art. 220 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) Estupro corretivo (Incluído pela Lei nº 13.718,
de 2018)
Diminuição de pena
b) para controlar o comportamento social ou sexual
Art. 221 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

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O inciso IV do art. 226, a partir da Lei nº Conduta: o núcleo do tipo descrito no caput é
13.718/2018, cria duas novas majorantes aplicáveis induzir (aliciar, persuadir) alguém a satisfazer a lascívia
apenas aos crimes de estupro (gênero que engloba o (sensualidade, libidinagem, luxúria) de outrem.
estupro propriamente dito, do art. 213 do CP e o estupro
Consumação e tentativa: consuma-se o deliro
de vulnerável do art. 217-A do CP).
com a prática do ato que importe na satisfação da lascívia
Estupro coletivo - Com relação ao estupro de outrem, independentemente deste considerar-se
coletivo, vale ressaltar que será aplicável a majorante satisfeito.
prevista no art. 226, IV, “a”, e não a majorante prevista
Formas qualificadas: O § 1° determina pena de
no art. 226, I, que prevê um aumento de 1/4. Portanto, a
dois a cinco anos se:
majorante do inciso I do art. 226 permanece em vigor,
mas apenas para os demais crimes dos arts. 213 a 218-C, a) a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de
exceto estupro e estupro de vulnerável. 18 (dezoito) anos: o maior rigorismo se justifica em
razão do desenvolvimento físico e psíquico incompleto
Estupro corretivo - Trata-se da conduta de quem
do(a) induzido(a), ainda não preparado(a) para se
pratica estupro ou estupro de vulnerável contra outrem,
entregar a aros dessa natureza. Ressalte-se que, se a
visando o controle do comportamento sexual ou social da
vítima contar com menos de 14 anos, haverá o crime
vítima. Seria o exemplo de um sujeito que estupra uma
previsto no art. 218 do CP, incluído pela Lei 12.015/2009.
mulher lésbica, pretendendo aplicar-lhe castigo ou
correção quanto às suas práticas e preferências sexuais.
 Neste caso o dolo do agente será específico, b) o agente é seu (da vítima) ascendente,
devendo pretender corrigir ou disciplinar a vítima. descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor
ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para
Ressalte-se que ambas as alíneas do art. 226, IV,
fins de educação, de tratamento ou de guarda: aqui
CP, somente se aplicam aos casos de estupro e estupro
temos hipóteses (taxativas) em que o crime é praticado
de vulnerável, até mesmo pelos explícitos “nomen juris”
por familiares da vítima (lenocínio familiar), bem como por
ali inseridos pelo legislador.
seu tutor ou curador. Neste ponto, a Lei 11.106/2005
alterou a redação original e acrescentou a possibilidade de
o companheiro figurar como sujeito ativo do crime
CAPÍTULO V
qualificado. Qualifica-se o delito, também, quando
DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA
intentado por qualquer pessoa a quem a vítima tenha sido
FIM DE
entregue para fins de educação, guarda (de direito ou de
PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE
fato) ou tratamento.
EXPLORAÇÃO SEXUAL
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Favorecimento da prostituição ou outra forma


de exploração sexual (Redação dada pela Lei nº
Mediação para servir a lascívia de outrem
12.015, de 2009)
Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou
outrem:
outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou
Pena - reclusão, de um a três anos. dificultar que alguém a abandone:

§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e


18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu ascendente, multa.
descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou
§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto,
curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de
madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor
educação, de tratamento ou de guarda: (Redação dada
ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se
pela Lei nº 11.106, de 2005)
assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
Pena - reclusão, de dois a cinco anos. proteção ou vigilância:

§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.


violência, grave ameaça ou fraude:
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de
Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena violência, grave ameaça ou fraude:
correspondente à violência.
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, correspondente à violência.
aplica-se também multa.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro,
Objetividade jurídica: tutela-se a moral sexual, aplica-se também multa.
bem como a liberdade sexual da vítima (quando objeto de
Objetividade jurídica: o dispositivo visa tutelar a
violência, grave ameaça ou fraude).
dignidade sexual.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Aquele que tiver sua lascívia satisfeita não comete crime,
ainda que haja instigado o mediador, pois a norma exige Sujeito passivo: também não se exige qualidade
o fim de satisfazer a lascívia de outrem (e não própria). especial do sujeito passivo.
Sujeito passivo: qualquer pessoa (não importa o  Se a vítima for menor de 18 anos, ou for
sexo). portadora de enfermidade ou deficiência mental ou
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incapaz de discernimento para a prática do ato, ou que, Ação penal: a ação penal será pública
por qualquer outra causa, sem condições de oferecer incondicionada.
resistência, a conduta será tipificada no art. 218-B do CP.
Conduta: cinco são as ações nucleares típicas:
induzir (inspirar, instigar), atrair (aliciar) alguém à Rufianismo
prostituição (comércio sexual) ou outra forma de Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia,
exploração sexual, facilitá-la (proporcionar meios, afastar participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se
dificuldades), impedir (opor-se) ou dificultar (criar sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
obstáculos) que alguém a abandone.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Consumação e tentativa: a consumação do delito
varia conforme a modalidade descrita no tipo: § 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de
14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por
a) Induzir, atrair e facilitar: consuma-se o delito no ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
momento em que a vítima passa a se dedicar à cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
prostituição ou outra forma de exploração sexual, empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou
colocando-se, de forma constante, à disposição dos outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
clientes, ainda que não tenha atendido nenhum. vigilância: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
b) Impedir ou dificultar o abandono da exploração Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e
sexual: consuma-se no momento em que a vítima delibera multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
por deixar a atividade e é obstada (crime permanente).
§ 2o Se o crime é cometido mediante violência,
Ação penal: a ação penal será pública grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou
incondicionada. dificulte a livre manifestação da vontade da
vítima: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem
Casa de prostituição
prejuízo da pena correspondente à violência. (Redação
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja,
ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário Objetividade jurídica: o dispositivo em comento
ou gerente: (Redação dada pela Lei nº visa especial proteção àqueles que se dedicam ao
12.015, de 2009) meretrício, que, por si só, não é crime, e são explorados
em razão disso.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, não
Objetividade jurídica: o dispositivo visa combater exigindo qualidade ou condição especial do agente.
a exploração sexual, proibindo espaços que venham a
 Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta,
servir de abrigo habitual para a prática de
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador,
comportamentos contra a dignidade sexual de alguém.
preceptor ou empregador da vítima, ou por quem
Sujeito ativo: qualquer pessoa, não só o assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proprietário, mas também qualquer um que tenha a posse proteção ou vigilância, a reclusão passa a ser de 3 a 6
ou gerência do estabelecimento destinado a exploração anos, e multa (§ 1º).
sexual.
Sujeito passivo: sujeito passivo será a pessoa que
Sujeito passivo: será a pessoa explorada se dedica à prostituição, tendo sua atividade explorada
sexualmente. Há doutrina incluindo, de forma secundária, pelo rufião (ou rufiã).
a sociedade no polo passivo da conduta criminosa.
 Se menor de 18 e maior de 14 anos, a reclusão
 Se o sujeito passivo for pessoa menor de dezoito passa a ser de 3 a 6 anos, e multa (§ 1º).
e maior de catorze anos, o crime será o do art. 218-B, §
Conduta: são duas as ações nucleares típicas: tirar
2°, inciso II, do Código Penal. Se menor de catorze, o
proveito da prostituição ou fazer-se sustentar, no todo ou
responsável pelo estabelecimento em que ocorra a
em pane, por quem a exerça.
exploração sexual responderá como partícipe do crime de
estupro de vulnerável. Na primeira (rufianismo ativo), o rufião obtém
vantagem proveniente diretamente dos lucros auferidos
Conduta: consiste em manter (sustentar,
pela prostituta, embora deles não necessite para seu
conservar, prover o necessário para que permaneça a
sustento.
atividade), por conta própria ou de terceiro,
estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, Já na segunda modalidade (rufianismo passivo) o
ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário agente participa indiretamente do proveito da
ou gerente. prostituição, vivendo às custas da meretriz, recebendo
dinheiro, alimentação, vestuário, moradia e outros
 Trata-se de crime habitual, conclusão que se
benefícios de que necessita para sua manutenção.
extrai do núcleo do tipo manter, isto é, comportamento
costumeiro, corrente e reiterado. Consumação e tentativa: por ser crime habitual,
a consumação ocorrerá com a prática de atos reiterados
Consumação e tentativa: consuma-se o crime
de obtenção de proveito ou de sustento por parte do
com a manutenção do estabelecimento, lembrando que,
rufião. Não cabe a tentativa.
por se tratar de crime habitual, não admite a tentativa.

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Ação penal: a ação penal será pública Causa de aumento de pena – art. 232-A, § 2º:
incondicionada. Dispõe o § 2º “A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) até
1/3 (um terço se:
I – o crime é cometido com violência: O delito
Tráfico internacional de pessoa para fim de
reveste-se de maior gravidade quando praticado com
exploração sexual (Redação dada pela Lei nº 12.015,
violência, consistente em emprego de força física contra
de 2009)
alguém, mediante lesão corporal ou vias de fato.
Art. 231. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016)
II – a vítima é submetida a condição desumana ou
Art. 231-A. (Revogado pela Lei nº 13.344, de 2016) degradante: A condição desumana ou degradante é
imposta ao estrangeiro cuja entrada no Brasil foi ilegal, ou
Art. 232 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009) então ao brasileiro que entrou ilegalmente no exterior.
Nessa hipótese, a conduta foi praticada contra a vontade
da vítima, é dizer, o estrangeiro não pretendia ingressar
Promoção de migração ilegal (Incluído pela Lei nº no Brasil, ou o brasileiro não queria entrar em país
13.445, de 2017) diverso.
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim Possibilidade de aplicação de pena para as
de obter vantagem econômica, a entrada ilegal de infrações penais conexas – art. 232-A, § 3º: O
estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país dispositivo prevê o concurso material obrigatório entre o
estrangeiro: delito de promoção de migração ilegal e as infrações
penais (crimes ou contravenções penais) com ele
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
relacionadas. Dessa forma, demais infrações penais
multa.
cometidas no mesmo contexto do crime de promoção de
§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por migração ilegal serão punidas em concurso de crimes, não
qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, podendo ser aplicado o princípio da consunção.
a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar
Ação penal: A ação penal é pública incondicionada.
ilegalmente em país estrangeiro.
§ 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3
(um terço) se: CAPÍTULO VI
DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR
I - o crime é cometido com violência; ou
II - a vítima é submetida a condição desumana ou Ato obsceno
degradante. Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou
§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem aberto ou exposto ao público:
prejuízo das correspondentes às infrações conexas. Pena - detenção, de três meses a um ano, ou
multa.
Objetividade jurídica: O bem jurídico penalmente
tutelado é a Administração Pública, no tocante à Objetividade jurídica: tutela-se o pudor público,
manutenção da soberania nacional relacionada à a moralidade coletiva. Inevitavelmente protegerá também
regulamentação e ao controle da entrada e saída de o pudor individual daquele que presencia o ato indecente
pessoas do Brasil. praticado pelo agente.
Sujeito ativo: Por se tratar de crime comum, pode Sujeito ativo: trata-se de crime comum, não
ser cometido por qualquer pessoa. Entretanto, vale exigindo qualidade ou condição especial do agente.
atentar para o fato de que o tipo penal em tela não pune
o migrante ilegal, mas sim a promoção da migração de Sujeito passivo: é a coletividade. Num segundo
terceiro, com o intuito de obter vantagem econômica. plano, sofrem as consequências do delito também aqueles
que eventualmente o presenciem.
Sujeito passivo: É o Estado, que deixa de exercer
o direito de controle sobre o trânsito de estrangeiros no Conduta: consiste em praticar ato obsceno em
país. lugar público, ou aberto ou exposto ao público. Ato
obsceno é o que pode ofender o pudor dos cidadãos,
Consumação e tentativa: No caput, o crime se causar escândalo e ferir a decência dos que forem
consuma com a entrada ilegal do estrangeiro em território testemunhas.
nacional ou com a entrada ilegal de brasileiro em país
estrangeiro. Na forma equiparada a consumação se dá  Não haverá o crime se o ato for praticado em
com a saída do brasileiro do território estrangeiro. lugar que não ofereça a publicidade requerida para que se
ofenda a coletividade.
A tentativa é possível nas situações em que o
agente adota as medidas necessárias para o ingresso ou Consumação e tentativa: para a consumação do
saída ilegal do estrangeiro, mas não alcança seu intento delito não se exige que o ato obsceno tenha sido
criminoso por circunstâncias alheias à sua vontade. presenciado por alguém, bastando a possibilidade.
Também é prescindível que o presente se sinta ofendido
Figura equiparada - art. 232-A, § 1.º: A forma com o ato, pois a tutela recai, primariamente, sobre a
equiparada pune a saída, não a entrada, de estrangeiro do coletividade.
território nacional para ingressar ilegalmente em outro
país.  A maioria da doutrina admite a tentativa.

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Ação penal: a ação penal será pública b) No inciso II é punível a conduta de quem realiza,
incondicionada. em lugar público ou acessível ao público, representação
teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno,
ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter.
Escrito ou objeto obsceno Mencionando a lei expressamente local público ou
acessível ao público , a representação ou exibição em
Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter lugar restrito não configura o crime.
sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou
de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa c) Por fim, no inciso III, pune-se quem realiza, em
ou qualquer objeto obsceno: lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio,
audição ou recitação de caráter obsceno.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou
multa. ATENÇÃO: no caso das condutas apontadas tanto
no caput como no parágrafo único envolverem criança ou
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem: adolescente, o agente não será punido pela prática do
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público crime em analise, mas de acordo com o que dispõem os
qualquer dos objetos referidos neste artigo; arts. 240 a 241-E do Estatuto da Criança e do Adolescente.

II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, Ação penal: a ação penal será pública
representação teatral, ou exibição cinematográfica de incondicionada.
caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha
o mesmo caráter;
CAPÍTULO VII
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, DISPOSIÇÕES GERAIS
ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter obsceno. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
ATENÇÃO: No caso do crime do art. 234 do CP, a Aumento de pena
doutrina tem entendido que com o advento da
Constituição Federal, está garantida a liberdade de Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a
expressão. Logo, não há que se falar em punição com pena é aumentada:
relação a esse crime, em razão da inadequação do crime I – (VETADO);
para com os princípios que instruem o direito penal
democrático. II – (VETADO);

Notadamente o Princípio da Ofensividade ou III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime


lesividade (nullum crimen sine iniuria), que exige que do resulta gravidez; (Redação dada pela Lei nº 13.718, de
fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem 2018)
jurídico tutelado, não sendo legítima a imputação criminal
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o
em caso da inexpressividade da lesão ao bem jurídico.
agente transmite à vítima doença sexualmente
transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador,
ou se a vítima é idosa ou pessoa com
Objetividade jurídica: tutela-se o pudor público. deficiência. (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, não
O inc. III aumenta a pena de metade a 2/3 se da
exigindo qualidade ou condição especial do agente.
conduta do agente resulta gravidez. O legislador busca,
Sujeito passivo: a coletividade é a vítima primária, com a presente majorante, punir mais severamente o
com ela concorrente qualquer pessoa que tenha contato comportamento do autor, considerando, para tanto, a
direto com o escrito ou objeto obsceno. nefasta consequência do crime para a vítima (e
familiares).
Conduta: o tipo traz cinco núcleos: fazer, importar,
exportar, adquirir ou ter sob sua guarda (crime de ação O inciso IV aumenta de 1/3 a 2/3, nas hipóteses de
múltipla ou de conteúdo variável), para fins de comércio, transmissão de doença sexualmente transmissível, e se
de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, envolver vítima idosa ou deficiente.
pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno
(interpretação analógica).
Consumação e tentativa: para que haja Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes
consumação, não há necessidade de efetiva ofensa, definidos neste Título correrão em segredo de
justiça. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
bastando a prática de uma das ações típicas.
Formas equiparadas (parágrafo único): o O princípio da publicidade (arts. 5º, LX e 93, IX da
parágrafo único, em três incisos, prevê algumas condutas CF) determina que os atos processuais são públicos, com
equiparadas, puníveis da mesma forma que o caput. acesso irrestrito. Essa regra, contudo, cede diante de
algumas exceções, dentre elas, quando da publicidade
Vejamos: decorra violação da intimidade da pessoa. Nos processos
a) O inciso I pune quem vende, distribui ou expõe à em que se apuram crimes contra a dignidade sexual, a
venda ou ao público qualquer dos objetos referidos no intimidade da vítima fica exposta, merecendo correr em
caput. Aqui também não se exige a efetiva lesão ao pudor segredo, sem que, com isso, fique ferido o devido processo
público, sendo bastante que o material seja capaz de legal.
escandalizar.

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Art. 234-C. (VETADO). (Incluído pela Lei nº c) mentalmente enferma, sem discernimento para o ato
12.015, de 2009) sexual.
d) com quatorze anos de idade completos.

EXERCÍCIOS e) com até dezoito anos de idade.

01. (VUNESP - 2018 - PC-SP - Escrivão de Polícia 04. (FCC - 2017 - POLITEC - AP - Perito Médico
Civil) Tendo em conta os crimes contra a dignidade sexual Legista) A mídia noticiou que um médico endoscopista foi
(artigos 213 a 234-B do Código Penal) e os crimes contra flagrado em sua clínica tendo relação sexual com uma
a fé pública (artigos 289 a 311 do Código Penal), assinale paciente de 35 anos enquanto ela estava sob efeito do
a alternativa correta. sedativo utilizado para o exame de endoscopia digestiva
a) Ocultar documento público ou particular verdadeiro, em alta. Desse modo, o médico foi acusado de ter cometido
prejuízo alheio, não configura o crime de supressão de crime de
documento (art. 305 do CP), sendo típicas apenas as a) estupro.
condutas de suprimir e destruir documento público ou
particular verdadeiro. b) atentado violento do pudor.

b) O cartão de crédito ou débito, para fins penais, é c) estupro de vulnerável.


equiparado a documento particular. d) sedução.
c) A conduta de manter estabelecimento em que ocorra e) assédio sexual.
exploração sexual é atípica, desde que não envolva menor
de 18 (dezoito) anos.
d) A conduta de atrair alguém à prostituição é atípica, 05. (IBADE - 2017 - PC-AC - Escrivão de Polícia Civil)
desde que não se trate de pessoa menor de 18 (dezoito) O crime de estupro de vulnerável (art. 217-Ado CP):
anos.
a) exige que a vítima seja mulher.
e) Os crimes de falso reconhecimento de firma ou letra
b) pressupõe violência ou grave ameaça como meios
(art. 300 do CP); certidão ou atestado ideologicamente
executórios.
falso (art. 301 do CP) e falsidade material de atestado ou
certidão (art. 301, parágrafo 1° do CP) são próprios de c) é uma hipótese de lenocínio.
funcionários públicos.
d) é subsidiário ao estupro (art. 213 do CP).
e) pode ser praticado mediante conjunção carnal ou ato
02. (FCC - 2018 - PGE-TO - Procurador do Estado) O libidinoso diverso.
crime de estupro de vulnerável, tipificado no art. 217-A,
do Código Penal, prevê a pena em abstrato de oito a
quinze anos de reclusão para aquele que tiver conjunção 06. (IPAD - 2012 - PC-AC - Agente de Polícia Civil)
carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de O tipo penal assim descrito: "constranger alguém com o
catorze anos. De acordo com o entendimento sumulado intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
pelo Superior Tribunal de Justiça, bem como pelo que prevalecendo-se o agente da sua condição de superior
estabelece a legislação, hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função" constitui o crime de:
a) a existência de relacionamento amoroso da vítima com
o agente é hipótese de excludente de antijuridicidade do a) estupro.
crime em questão.
b) atentado violento ao pudor.
b) o consentimento da vítima para a prática do ato afasta
o caráter delitivo do crime, constituindo causa de c) racismo.
excludente de ilicitude. d) corrupção de menores.
c) a experiência sexual anterior da vítima é relevante para e) assédio sexual.
a tipificação do delito.
d) incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
no caput do art. 217-A com alguém que, por enfermidade, 07. (FUNCAB - 2016 - CODESA - Guarda Portuário)
não tem o necessário discernimento para a prática do ato. Alaor, consciente sobre todas as circunstâncias do caso
concreto, mediante grave ameaça, obrigou Brenda,
e) o referido crime não está elencado na Lei no 8.072/1990 criança de 12 anos de idade, a masturbá-lo. Alaor praticou
como hediondo. crime de:
a) corrupção de menores.
03. (CESPE - 2018 - PC-MA - Escrivão de Polícia Civil) b) constrangimento ilegal.
Com relação ao crime de estupro, considera-se vulnerável
a vítima c) ameaça.

a) que morre em consequência da violência sexual. d) estupro de vulnerável.

b) que pratica o ato sexual mediante fraude ou e) estupro.


dissimulação.

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08. (NUCEPE - 2016 - SEJUS-PI - Agente d) Indivíduo que mantiver conjunção carnal com menor de
Penitenciário) TICIO é enfermeiro de uma maternidade, quinze anos de idade responderá pelo crime de estupro de
durante a madrugada verificando que uma paciente de 19 vulnerável, ainda que tenha cometido o ato sem o
anos de idade estava dormindo sob efeito de anestésicos emprego de violência e com o consentimento da menor.
praticou conjunção carnal com a mesma. Marque a
e) No caso de crime de violação sexual mediante fraude,
alternativa CORRETA.
o fato de o ofensor ser o filho mais velho do tio da vítima
a) Praticou o crime de estupro. fará incidir a causa especial de aumento de pena por
exercer relação de autoridade sobre a vítima, de acordo
b) Praticou o crime de estupro e de violência sexual
com o Código Penal.
mediante fraude.
c) Praticou o crime de estupro de vulnerável que também
é considerado hediondo. GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
d) Praticou o crime de estupro que também é considerado
B D C C E E D C C B
hediondo.
e) Caso seja condenado por crime hediondo terá direito a
progressão após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) se 4. DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA
for reincidente.
(ARTS. 286 A 288-A DO CÓDIGO PENAL)

09. (FUNCAB - 2016 - PC-PA - Investigador de


Polícia Civil) Configura estupro de vulnerável a(o): Incitação ao crime

a) prática de sexo anal consentido com adolescente de 14 Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
anos de idade que esteja submetido à prostituição. Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
b) constrangimento, mediante violência, de pessoa Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem incita,
portadora de enfermidade mental à prática de conjunção publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou
carnal, ainda que a vítima tenha o necessário delas contra os poderes constitucionais, as instituições
discernimento para a prática do ato sexual. civis ou a sociedade. (Incluído pela Lei nº 14.197, de
c) manutenção de relações sexuais com pessoa 2021)
desacordada em virtude de severa embriaguez, ainda que
Objetividade jurídica: a paz pública.
a vítima, depois de concluída a conduta e ao recuperar sua
consciência, passe a consentir para com o ato libidinoso, Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
d) indução de menor de 14 anos a presenciar a prática de Sujeito passivo: a coletividade, abalada na sua
atos libidinosos, a fim de satisfazer a lascívia de outrem. tranquilidade (crime vago).
e) assédio, no ambiente de trabalho cie adolescente Conduta: a conduta é incitar (induzir, estimular,
aprendiz, que conte com 16 anos de idade, visando a obter instigar), publicamente, atingindo um número indefinido
favorecimento de natureza sexual. de pessoas, a prática de determinado crime,
especificamente.
Tipo subjetivo: é o dolo, representando pela vontade
10. (CESPE - 2016 - PC-PE - Escrivão de Polícia Civil)
consciente de incitar, publicamente, a prática de crime
Em relação aos crimes contra a dignidade sexual e contra
(fato determinado), sabendo que se dirige a número
a família, assinale a opção correta.
indeterminado de pessoas. Não há previsão para punição
a) Situação hipotética: Mário, aliciador de garotas de na modalidade culposa.
programa, induziu Bruna, de quinze anos de idade, a
Consumação e tentativa: a consumação ocorre com
manter relações sexuais com várias pessoas, com a
a incitação dirigida a número indeterminado de pessoas,
promessa de uma vida luxuosa. Bruna decidiu não se
independentemente da prática do crime incitado (crime de
prostituir e voltou a estudar. Assertiva: Nessa situação,
perigo abstrato). A tentativa é admissível, desde que não
é atípica a conduta de Mário.
se trate de incitação oral.
b) Considere que em uma casa de prostituição, uma
ATENÇÃO: o tipo penal refere-se apenas a crime, não
garota de dezessete anos de idade tenha sido explorada
havendo o delito quando a incitação se dirige a prática de
sexualmente. Nesse caso, o cliente que praticar conjunção
contravenção penal ou ato apenas imoral ou antiético.
carnal com essa garota responderá pelo crime de
favorecimento à prostituição ou outra forma de exploração
sexual de vulnerável.
Apologia de crime ou criminoso
c) Situação hipotética: Em uma boate, João, segurança
do local, sorrateiramente colocou entorpecente na bebida Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato
de Maria, o que a levou a perder os sentidos. criminoso ou de autor de crime:
Aproveitando-se da situação, João levou Maria até seu Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
veículo, onde praticou sexo com ela, sem qualquer
resistência, dada a condição da vítima. Assertiva: Nessa Objetividade jurídica: a paz pública.
situação, João responderá pelo crime de violação sexual
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
mediante fraude

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Sujeito passivo: a coletividade (crime vago). A tentativa é inadmissível, pois os atos anteriores
praticados com a finalidade de formar a associação
Conduta: consiste a figura delituosa em fazer,
criminosa são meramente preparatórios.
publicamente, atingindo um número indeterminado de
pessoas, apologia (elogio, exaltação) de fato criminoso ou IMPORTANTE: A associação criminosa é crime
de autor de crime. autônomo, independendo da prática de delitos pelo grupo.
Os crimes cometidos geram concurso material entre o
ATENÇÃO: o tipo penal refere-se apenas a crime, não
crime praticado e o art. 288 do CP.
havendo o delito se o agente se referir a contravenção ou
ao contraventor. ATENÇÃO: O art. 8° da Lei 8.072/90(Crimes
Hediondos) prevê uma circunstância qualificadora do
Tipo subjetivo: é o dolo de fazer, publicamente,
crime de associação criminosa, elevando sua pena, bem
apologia de fato criminoso ou de autor de crime, sabendo
como traz a possibilidade de delação premiada com
que se dirige a número indeterminado de pessoas.
diminuição de pena:
IMPORTANTE: Este crime se diferencia do artigo
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena
anterior na forma de instigar: lá (art. 286) a instigação é
prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar
explícita; aqui (art. 287) o induzimento é implícito, feito
de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito
através de elogios, exaltação a fatos criminosos ou a seus
de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
autores.
Parágrafo único. O participante e o associado que
Consumação e tentativa: consuma-se o crime com a
denunciar à autoridade o bando ou quadrilha,
apologia, independentemente da efetiva perturbação da
possibilitando seu desmantelamento, terá a pena
ordem pública (perigo abstrato).
reduzida de um a dois terços.
ATENÇÃO: Se o agente, em contexto único, fizer
apologia de mais de um fato criminoso, ou de vários
autores de crime, haverá um só crime. A tentativa é Constituição de milícia privada (Incluído dada pela
admissível. Lei nº 12.720, de 2012)
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou
custear organização paramilitar, milícia particular, grupo
Associação Criminosa
ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, crimes previstos neste Código: (Incluído dada pela Lei nº
para o fim específico de cometer crimes: (Redação dada 12.720, de 2012)
pela Lei nº 12.850, de 2013)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. (Incluído
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
dada pela Lei nº 12.850, de 2013)
Objetividade jurídica: a paz pública.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se
Sujeito ativo: qualquer pessoa. Trata-se de crime
a associação é armada ou se houver a participação de
criança ou adolescente. (Redação dada pela Lei nº 12.850, coletivo, plurissubjetivo (ou de concurso necessário), de
de 2013) condutas paralelas (umas auxiliando as outras).
Não há consenso acerca do mínimo de integrantes,
Objetividade jurídica: a paz pública.
havendo corrente no sentido de que o número de agentes
Sujeito ativo: qualquer pessoa. Trata-se de crime deve coincidir com o da Associação Criminosa (art. 288 do
coletivo, plurissubjetivo (ou de concurso necessário), de CP), que é de três ou mais pessoas, e outra se alinhando
condutas paralelas (umas auxiliando as outras), ao conceito de organização criminosa, definida na Lei nº
computando-se eventuais inimputáveis ou pessoas não 12.850/13, que exige o número mínimo de quatro
identificadas, para o cômputo do mínimo de três pessoas.
associados.
Sujeito passivo: a coletividade.
ATENÇÃO: É irrelevante o fato do associado não haver
Conduta: são punidas as condutas de constituir
participado diretamente de eventuais crimes cometidos
(compor a organização, o grupo criminoso); organizar
por membros da associação, bastando sua participação,
(encontrar a melhor maneira de agir); integrar (fazer
de alguma forma, na organização.
parte); manter ou custear (sustentar, pagar o custo, não
Sujeito passivo: a coletividade. apenas financeiramente, mas com o fornecimento de
materiais, instrumentos bélicos etc.).
Conduta: pune-se a associação entre três ou mais
pessoas para o fim específico de cometer crimes (uma A conduta pode se voltar para constituir, organizar,
indeterminada série de crimes). integrar, manter ou custear:

Tipo subjetivo: é o dolo de associação, aliado a um a) organização paramilitar: paramilitares são


elemento subjetivo especial, que é a finalidade de cometer associações civis, armadas e com estrutura semelhante
crimes, sem a qual o delito não se configura. a militar. Possuem as características de uma força
militar e têm a estrutura e organização de uma tropa
Consumação e tentativa: Trata-se de crime ou exército, sem sê-lo;
permanente, que se consuma, em relação aos fundadores,
no momento em que aperfeiçoada a convergência de b) milícia particular: grupo de pessoas, civis ou não,
vontades entre três ou mais pessoas, e, quanto àqueles tendo como finalidade devolver a segurança retirada
que venham posteriormente a integrar-se ao grupo já das comunidades mais carentes, restaurando a paz.
formado, na adesão de cada um. Para tanto, mediante coação, os agentes ocupam

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determinado espaço territorial. A proteção oferecida a redação dada pela Lei nº 12.805/2013, define o crime
nesse espaço ignora o monopólio estatal de controle de associação criminosa como associarem-se 3 (três) ou
social, valendo-se de violência e grave ameaça; mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes.
A consumação de tal delito ocorrerá
c) grupo de extermínio (referido no tipo como
grupo ou esquadrão): por grupo de extermínio a) quando o grupo iniciar suas atividades criminosas.
entende-se a reunião de pessoas, matadores,
b) quando o grupo praticar ao menos dois delitos.
justiceiros que atuam na ausência ou inércia do poder
público, tendo como finalidade a matança c) quando, independentemente da prática de qualquer
generalizada, chacina de pessoas supostamente crime é demonstrada apenas a pretensão de
rotuladas como marginais ou perigosas. habitualidade.
Tipo subjetivo: é o dolo, exigindo um especial fim de d) quando o grupo, realizando os atos preparatórios de um
agir, consistente na prática de crimes previstos no Código único fato criminoso, denota animus socii.
Penal.
Consumação e tentativa: Trata-se de crime
permanente, que se consuma, em relação aos fundadores, 03. (Prefeitura de Nossa Senhora de Nazaré - PI -
no momento em que aperfeiçoada a convergência de Procurador Municipal) Marque a alternativa em que
vontades entre os agentes, e, quanto àqueles que venham consta um crime contra a fé pública.
posteriormente a integrar-se ao grupo já formado, na a) Apologia ao crime.
adesão de cada um.
b) Constituição de milícia privada.
IMPORTANTE: Trata-se de crime autônomo,
independendo da prática de delitos pelo grupo. Os crimes c) Formação de quadrilha.
cometidos geram concurso material entre o crime d) Incitação ao crime.
praticado e o art. 288-A do CP.
e) Moeda falsa.
ATENÇÃO: o grupo de extermínio que promove
matanças responde pelos crimes dos arts. 288-A e 121, §
6º, ambos do CP, em concurso material, não se cogitando 04. (FUNDATEC - 2018 - DPE-SC - Analista Técnico)
de bis in idem, pois são delitos autônomos e Assinale a alternativa correta em relação aos crimes
independentes, protegendo, cada qual, bens jurídicos contra a paz pública.
próprios.
a) A incitação ao crime, nos termos do artigo 286 do CP,
A tentativa é inadmissível, pois os atos anteriores destina-se ao estímulo de um número indeterminado de
praticados com a finalidade de formar a organização são pessoas à prática de crime determinado e futuro, sendo
meramente preparatórios. que a apologia ao crime e ao criminoso, nos termos do
artigo 287 do CP, diz respeito ao delito passado, haja vista
que se faz publicamente elogio ou exaltação a fato
EXERCÍCIOS criminoso ou a autor de crime.
01. (FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia) b) A associação criminosa do artigo 288 do CP pune a
Sobre os crimes contra a paz pública previstos no Código associação de 04 ou mais pessoas, as quais se unem, com
Penal, assinale a alternativa correta. hierarquia e estabilidade, à prática de diversos crimes.
a) Incitar, publicamente, a prática de crime ou c) A constituição de milícia privada, crime do artigo 288-A
contravenção penal constitui crime previsto no art. 286 do do CP, é a mesma associação criminosa do artigo 288 do
Código Penal, tratando-se de infração de menor potencial CP, diferenciando-se apenas no número de integrantes.
ofensivo.
d) Tanto a associação criminosa quanto a constituição de
b) A apologia de crime culposo não é punível, pois não milícia privada exigem o número de dois integrantes
pode haver instigação, direta ou indireta, à prática de ato apenas a sua configuração, sendo irrelevante se a prática
involuntário. de crimes condiz com os previstos no Código Penal ou em
Leis Especiais Penais.
c) Conforma entendimento dos Tribunais Superiores, a
associação criminosa (art. 288 do Código Penal) constitui e) A associação criminosa encontra previsão legal na Lei
delito parasitário, de modo que sua configuração depende de nº 12.850/2013, a qual definiu organização criminosa.
da efetiva prática de delitos pelo grupo.
d) O grupo de extermínio que promove assassinatos
05. (IESES - 2019 - TJ-SC - Titular de Serviços de
responde pelo crime do art. 121, § 6º do Código Penal,
Notas e de Registros – Provimento) Acerca do delito
restando absorvido o delito do art. 288-A do Código Penal
de associação criminosa, do art. 288 do Código Penal, é
(constituição de milícia privada), tendo em vista a
correto afirmar:
natureza expressamente subsidiária deste.
a) Sua configuração exige a associação de mais de três
e) O crime de apologia de crime ou criminoso (art. 287 do
pessoas para o fim específico de cometer crimes,
Código Penal) exige, além do dolo, um especial fim de agir
consumando-se independentemente de prévia
no sentido de violar a paz pública.
condenação de quaisquer de seus membros pela prática
de quaisquer dos crimes para os quais a associação foi
estabelecida.
02. (FUNDEP - Gestão de Concursos) - 2014 - DPE-
MG - Defensor Público) O art. 288 do Código Penal, com

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b) Sua configuração exige a associação de mais de três § 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como
pessoas para o fim específico de cometer crimes e a verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à
condenação de ao menos um de seus membros por, no circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com
mínimo, um desses crimes para os quais a associação foi detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
estabelecida, ainda que não se comprove a reiteração
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos,
criminosa.
e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal
c) Sua configuração exige a associação de três ou mais de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a
pessoas para o fim específico de cometer crimes e a fabricação ou emissão:
condenação de ao menos um de seus membros por, no
I - de moeda com título ou peso inferior ao
mínimo, um desses crimes para os quais a associação foi
determinado em lei;
estabelecida, ainda que não se comprove a reiteração
criminosa. II - de papel-moeda em quantidade superior à
autorizada.
d) Sua configuração exige a associação de três ou mais
pessoas para o fim específico de cometer crimes, § 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e
consumando-se independentemente de prévia faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda
condenação de quaisquer de seus membros pela prática autorizada.
de quaisquer dos crimes para os quais a associação foi
estabelecida. A competência para julgamento deste crime será da
Justiça Federal, pois presente o interesse da União, titular
GABARITO do direito de emitir e fazer circular a moeda.
01 02 03 04 05
B C E A D Objetividade jurídica – Tutela-se a fé pública, no
que tange à emissão de moeda.
 Os Tribunais superiores têm decidido que não se
5. DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA aplica o princípio da insignificância ao crime de falsificação
(ARTS. 289 A 311-A DO CÓDIGO PENAL) de moeda, ainda que ínfimo o valor de face.
Sujeito ativo - qualquer pessoa (crime comum).
O Código Penal Brasileiro traz em seu Título X os
crimes considerados praticados contra a fé pública, ou Sujeito passivo - o Estado (coletividade),
seja, aqueles que violam o sentimento coletivo de secundariamente a pessoa que eventual lesado pela
veracidade de determinadas informações, atos, símbolos, conduta do agente.
documentos etc., gerando uma insegurança jurídica nas
relações jurídicas. Conduta: pune-se no caput a conduta daquele que
falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou
É o crime de falso que pode atingir a fé pública, papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro.
como diz Nelson Hungria, ao descrever que somente
através dele é que se consegue atingir o sentido de fé  A conduta do agente pode recair sobre moeda
comum, geral das coisas dotadas de veracidade, esta metálica ou papel-moeda.
advinda de lei, pois mesmo que se tenha empregado o Para configuração do delito é imprescindível que a
falso contra um único indivíduo acabara por repercutir falsificação seja convincente, isto é, capaz de iludir os
sobre toda a coletividade. destinatários da moeda, sendo atípica a conduta, quando
O bem jurídico tutelado (objetividade jurídica) não haja qualquer possibilidade de iludir alguém. Do
em todo esse capítulo do Código Penal é a proteção da fé contrário, poderá se configurar o crime de estelionato.
pública. Este, aliás, é o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, na Súmula 73:
O sujeito passivo principal é o Estado, podendo,
de forma secundária, alcançar eventual lesado pela ação "A utilização de papel-moeda grosseiramente
criminosa. falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, de
competência da Justiça Estadual".
O elemento subjetivo dos tipos penais é o dolo,
não havendo previsão para a modalidade culposa.  É pacífico o entendimento dos tribunais que no
delito de moeda falsa não é aplicável o princípio da
insignificância para considerar a conduta atípica.
CAPÍTULO I Formas equiparadas (§ 1º): o § 1º traz figura
DA MOEDA FALSA equiparada ao caput ao prever a mesma pena para quem,
por conta própria ou alheia, importar (trazer de fora do
Moeda Falsa
país), exportar (remeter para fora do país), adquirir
Art. 289. Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, (conseguir de forma onerosa ou gratuita), vender
moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou (transferir a título oneroso), trocar (entregar a alguém
no estrangeiro: mediante o recebimento de outra coisa), ceder (transferir
a título gratuito), emprestar (entregar a outrem para
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. receber de volta posteriormente), guardar (preservar),
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta introduzir em circulação (fazer com que a moeda circule
própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, como legítima) moeda falsa.
troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação  Somente poderá ter sua conduta subsumida ao
moeda falsa. disposto neste parágrafo o agente que não concorreu, de

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qualquer modo, para a falsificação (do contrário, este bilhete que teve sinal identificador de recolhimento
comportamento caracteriza post factum impunível). suprimido, ou restitui nota, cédula ou bilhete que, embora
não contasse com as características anteriores, foram
Forma privilegiada (§ 2º): trata-se da hipótese
recolhidos para o fim de serem inutilizados.
daquele que tendo recebido de boa-fé, como verdadeira,
moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de Consumação e tentativa: a consumação do delito
conhecer a falsidade. ocorrerá com a formação da cédula a partir dos
fragmentos, com a supressão do sinal identificador de
Falsificação funcional (§ 3°): o § 3° não trata de
recolhimento, ou com a entrada da moeda em circulação.
circunstância qualificadora das condutas anteriores, mas
A ocorrência de dano não é exigida em nenhuma das
de figura delituosa diversa (e mais grave, punida com
hipóteses.
reclusão, de 3 a 15 anos, e multa). Trata-se de crime
próprio, pois só pode ser cometido por funcionário público Qualificadora (parágrafo único): se o agente for
(art. 327 do CP), diretor, gerente, ou fiscal de banco de funcionário público que trabalha na repartição onde o
emissão. dinheiro se achava recolhido, ou nela tem fácil ingresso,
em razão do cargo, a pena máxima será aumentada para
Desvio e circulação antecipada (§ 4°):
doze anos e multa.
equipara-se à conduta anterior, punindo quem desvia e
faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda Ação penal: é pública incondicionada.
autorizada. Neste caso, autorizou-se somente a emissão
da moeda, mas não a sua circulação, que depende da
análise de fatores econômicos. Não se exige qualidade Petrechos para falsificação de moeda
especial do agente, sendo possível a prática do crime por
qualquer pessoa (delito comum). Art. 291. Fabricar, adquirir, fornecer, a título
oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
Ação penal: é pública incondicionada. aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente
destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
CRIMES ASSIMILADOS AO DE MOEDA FALSA
Art. 290. Formar cédula, nota ou bilhete Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública
representativo de moeda com fragmentos de cédulas, envolvendo a emissão de moeda.
notas ou bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula  De acordo com a maioria, trata-se de caso
ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à excepcional em que o legislador pune comportamentos
circulação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir à ainda no estágio de preparação do crime de falsificação de
circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já moeda.
recolhidos para o fim de inutilização:
Sujeito ativo: Qualquer pessoa (crime comum)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
Sujeito Passivo: o Estado.
Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado
a doze anos e multa, se o crime é cometido por funcionário Conduta: pune-se a conduta de fabricar (criar,
que trabalha na repartição onde o dinheiro se achava manufaturar), adquirir (obter), fornecer (proporcionar,
recolhido, ou nela tem fácil ingresso, em razão do entregar) a título oneroso ou gratuito, possuir (ter a posse
cargo.(Vide Lei nº 7.209/1984) ou a propriedade), guardar (conservar, abrigar)
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública. especialmente destinado à falsificação de moeda.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Consumação e tentativa: consuma-se com a
prática de qualquer um dos núcleos, sendo alguns
Sujeito Passivo: o Estado (coletividade),
permanentes. A doutrina admite a tentativa.
secundariamente a pessoa que eventual lesado pela
conduta do agente. Ação penal: é pública incondicionada. A
competência é da Justiça Federal.
Conduta: Extrai-se a possibilidade de três condutas
delituosas:
I - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de EMISSÃO DE TÍTULO AO PORTADOR SEM
moeda com fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes PERMISSÃO LEGAL
verdadeiros: não deve ser confundida com a alteração da
cédula verdadeira, que constitui o crime do artigo 289, Art. 292. Emitir, sem permissão legal, nota,
mais grave. bilhete, ficha, vale ou título que contenha promessa de
pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte
II - Suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, indicação do nome da pessoa a quem deva ser pago:
para o fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de
sua inutilização: o agente, com o intuito de novamente Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
introduzir à circulação nota, cédula ou bilhete já Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como
recolhidos, elimina sinal que identifica a retirada. dinheiro qualquer dos documentos referidos neste artigo
III- Restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em incorre na pena de detenção, de quinze dias a três meses,
tais condições, ou já recolhidos para o fim de inutilização: ou multa.
nesse último caso o agente ou restitui à circulação cédula,
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública
nota ou bilhete que foram formados por fragmentos, como
descrito no item I, ou restitui à circulação nota, cédula ou

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Sujeito ativo: qualquer pessoa. A maioria da comercial ou industrial, produto ou mercadoria: (Incluído
doutrina ensina tratar-se de crime comum. pela Lei nº 11.035, de 2004)
Sujeito passivo: será o Estado (coletividade) e, a) em que tenha sido aplicado selo que se destine
secundariamente eventual lesado pela conduta dei a controle tributário, falsificado; (Incluído pela Lei nº
agente. 11.035, de 2004)
Conduta: a conduta incriminada é a de emitir b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação
(lançar, fazer circular), sem permissão legal, nota, bilhete, tributária determina a obrigatoriedade de sua aplicação.
ficha, vale ou título que contenha promessa de pagamento (Incluído pela Lei nº 11.035, de 2004)
em dinheiro ao portador ou a que falte indicação do nome
§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis,
da pessoa a quem deva ser pago.
quando legítimos, com o fim de torná-los novamente
Consumação e tentativa: a consumação ocorre utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:
com a entrada em circulação do título,
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
independentemente da ocorrência de dano. Admite-se a
tentativa. § 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de
alterado, qualquer dos papéis a que se refere o parágrafo
Forma privilegiada (parágrafo único): o
anterior.
dispositivo traz hipótese na qual aquele que recebe ou
utiliza como dinheiro qualquer dos documentos referidos § 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora
neste artigo incorre na pena de detenção, de quinze dias recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou
a três meses, ou multa. alterados, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois
de conhecer a falsidade ou alteração, incorre na pena de
Ação penal: é pública incondicionada.
detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 5o Equipara-se a atividade comercial, para os fins
CAPÍTULO II do inciso III do § 1o, qualquer forma de comércio irregular
DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou
PÚBLICOS outros logradouros públicos e em residências. (Incluído
pela Lei nº 11.035, de 2004)
FALSIFICAÇÃO DE PAPÉIS PÚBLICOS
Conforme as condutas enumeradas no caput do art.
Art. 293. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
293 do CP, a falsificação de papéis públicos pode ocorrer
I – selo destinado a controle tributário, papel de duas formas: ou fabricando falsamente os papéis
selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à públicos, ou alterando os que foram fabricados de forma
arrecadação de tributo; (Redação dada pela Lei nº 11.035, legal.
de 2004)
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
II - papel de crédito público que não seja moeda de
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
curso legal;
Sujeito passivo: será o Estado (alguns cumulam
III - vale postal
com a coletividade) e, secundariamente eventual lesado
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de pela conduta do agente.
caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido por
Conduta: consiste o crime em falsificar
entidade de direito público;
(contrafazer), fabricando (criando o objeto) ou alterando
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro (modificando objeto já existente):
documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a
I - selo destinado a controle tributário (selo
depósito ou caução por que o poder público seja
adesivado destinado à comprovação de tributo), papel
responsável;
selado (papel em que o selo lhe é inerente, adquirido nas
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de repartições tributárias) ou qualquer papel de emissão legal
transporte administrada pela União, por Estado ou por destinado à arrecadação de tributo (adotando fórmula
Município: genérica, prevê a lei que qualquer outro papel de emissão
legal, que se destine a arrecadar tributos, pode ser objeto
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. material do crime);
§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada II - papel de crédito público que não seja moeda de
pela Lei nº 11.035, de 2004) curso legal (é o título da dívida pública - apólices,
I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos obrigações do Tesouro -, emitido pela União, Estados ou
papéis falsificados a que se refere este artigo; (Incluído Municípios);
pela Lei nº 11.035, de 2004) III - vale postal (título emitido por uma unidade
II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, postal à vista de um depósito de quantia para pagamento
empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação selo na mesma ou em outra unidade postal. Este inciso foi
falsificado destinado a controle tributário; (Incluído pela revogado pelo art. 36 da Lei 6.538/78 que pune, de forma
Lei nº 11.035, de 2004) especial, o crime de falsificação do vale postal);

III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à IV - cautela de penhor (documento que representa
venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede, o pagamento da quantia tomada emprestada e que
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em autoriza o resgate do bem empenhado), caderneta de
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento

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mantido por entidade de direito público (caderneta de aumentada em um sexto. Contudo, deve ele ter se
depósito -abrangendo a de poupança - representa valor utilizado, de algum modo, as facilidades proporcionadas
depositado em instituição econômica ou outro pelo seu cargo.
estabelecimento mantido por entidade de direito público,
seja federal, estadual ou municipal);
CAPÍTULO III
V - talão (documento de quitação, com canhoto fixo,
DA FALSIDADE DOCUMENTAL
contendo os mesmos dizeres da parte destacável), recibo
(documento destinado a comprovar pagamento), guia FALSIFICAÇÃO DO SELO OU SINAL PÚBLICO
(documento oficial destinado à arrecadação), alvará
(documento expedido por autoridade administrativa ou Art. 296. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
judicial servindo ao levantamento de determinada I - selo público destinado a autenticar atos oficiais
quantia) ou qualquer outro documento n:lativo a da União, de Estado ou de Município;
arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução
por que o poder público seja responsável (utilizando mais II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de
uma vez fórmula genérica, a lei menciona como objeto direito público, ou a autoridade, ou sinal público de
material qualquer outro documento relativo a arrecadação tabelião:
de rendas públicas ou a depósito ou a caução por que o
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
poder público seja responsável);
§ 1º - Incorre nas mesmas penas:
VI - bilhete (documento que, obtido mediante
pagamento, autoriza seu portador a usar determinado I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
meio de transporte), passe (tem a mesma finalidade do
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal
bilhete, mas é obtido a título gratuito) nu conhecimento
verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio
(documento que certifica a entrega de coisas para o
ou alheio.
transporte) de empresa de transporte administrada pela
União, por Estado ou por Município (em todos os casos, a III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de
empresa prestadora de serviços deve ser ao menos marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos
administrada pelo Poder Público, não se exigindo seja de utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da
sua propriedade). Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)
§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete
PETRECHOS DE FALSIFICAÇÃO o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de
Art. 294. Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou sexta parte.
guardar objeto especialmente destinado à falsificação de
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode praticar o
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
delito em estudo.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública. Sujeito passivo: será o Estado.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). Conduta: consiste a conduta punível em falsificar
Sujeito passivo: será o Estado (coletividade). (contrafazer), fabricando (manufaturando) ou alterando
(modificando):
Conduta: a conduta que se pune é a de fabricar
(criar, manufaturar), adquirir (obter), fornecer I - selo público destinado a autenticar atos oficiais
(proporcionar, entregar), possuir (ter a posse ou a da União, de Estado ou de Município: o objeto material a
propriedade) ou guardar (conservar, abrigar) objeto que se refere a lei (selo público) é aquele utilizado pela
especialmente destinado à falsificação de qualquer dos União, Estados ou Municípios, com características próprias
papéis referidos no artigo anterior. destes entes, reservados a reconhecer como verdadeiros
atos deles emanados.
Consumação e tentativa: a consumação ocorre
com a prática de uma das condutas, sendo permanente  Não se confunde com o selo referido no artigo
nos núcleos possuir e guardar. 293, destinado a controle tributário;

 Este crime ficará absorvido pelo art. 293, caso o II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de
agente, ao adquirir o objeto destinado a falsificar, direito público, ou a autoridade, ou sinal público de
efetivamente contrafaça algum dos papeis de que trata tabelião: três são os objetos referidos no inciso:
este último dispositivo. a) selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito
Ação penal: é pública incondicionada. público: as entidades mencionadas pela lei são as pessoas
jurídicas de direito público, abrangendo autarquias e
fundações.
Art. 295. Se o agente é funcionário público, e b) selo ou sinal atribuído por lei a autoridade: a
comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a autoridade a que alude o dispositivo é aquela que
pena de sexta parte. autentica documentos utilizando selos ou sinais.
Majorante em razão da condição pessoal do c) sinal público de tabelião: o sinal público de
agente: O agente dos delitos previstos nos artigos 293 e tabelião é o escrito que integra sua assinatura, destinado
294, se for funcionário público, deve ter a pena

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a demonstrar a veracidade de seu ato ao atestar perante a previdência social, declaração falsa ou diversa
determinado documento. da que deveria ter sido escrita; (Incluído pela Lei nº 9.983,
de 2000)
 Não tipifica o delito do art. 296, II, do CP, quando
o acusado falsifica o carimbo para reconhecimento de III – em documento contábil ou em qualquer outro
firma em tabelionato. Esse carimbo não é sinal público. documento relacionado com as obrigações da empresa
perante a previdência social, declaração falsa ou diversa
Consumação e tentativa: consuma-se o crime no
da que deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983,
momento em que é praticada qualquer uma das condutas,
de 2000)
independentemente da ocorrência de dano efetivo.
Admite-se a tentativa. § 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos
documentos mencionados no § 3o, nome do segurado e
Forma equiparada (§ 1°): o dispositivo determina
seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do
que incorre nas mesmas penas do caput:
contrato de trabalho ou de prestação de serviços. (Incluído
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado: pela Lei nº 9.983, de 2000)
somente irá responder pela prática criminosa o agente que
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
não tenha praticado a falsificação, já que, se também o
fez, a conduta subsequente constituirá post factum Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
impunível.
Sujeito passivo: será o Estado. Particular
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal prejudicado também pode figurar no polo passivo.
verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio
ou alheio: este inciso não trata propriamente da Conduta: consubstancia-se o crime em falsificar
falsificação de selo ou sinal, mas de sua utilização (contrafazer) documento público, ou alterar (modificar)
indevida. documento público verdadeiro.

III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de  A falsificação pode ser total, hipótese em que o
marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos documento é inteiramente criado, ou parcial, adicionando-
utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da se, nos espaços em branco da peça escrita, novos (e
Administração Pública: o inciso III, acrescentado pela Lei relevantes) elementos.
9.983/2000, pune tanto a contrafação de marcas (sinal O § 2º do artigo 297 equipara ao documento
distintivo, etiqueta), logotipo (adesivo, decalque), siglas público:
(monograma, expressão que se compõe das iniciais de
outras palavras) ou símbolos (figura, imagem, emblema a) o emanado de entidade paraestatal: pessoas
representativo de alguma coisa), como a utilização jurídicas de Direito Privado dispostas paralelamente ao
indevida desses caracteres verdadeiros. Estado para executar atividades de interesse público.

Majorante de pena (§ 2°): a pena será b) o título ao portador ou transmissível por endosso:
aumentada se o crime for praticado por funcionário público é o cheque, a nota promissória, letra de câmbio etc.
que utiliza as facilidades proporcionadas pela sua função. c) as ações de sociedade comercial: considera-se
Ação penal: é pública incondicionada. equiparada qualquer espécie de ação proveniente de
sociedades anônimas e sociedades em comandita por
ações (preferenciais ou não).
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO d) os livros mercantis: não importando se
obrigatórios ou facultativos;
Art. 297. Falsificar, no todo ou em parte,
documento público, ou alterar documento público e) o testamento particular: não estão abrangidos os
verdadeiro: codicilos (escritos particulares de última vontade);
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Consumação e tentativa: o momento
consumativo se dá com a prática de uma das ações
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete
nucleares previstas no tipo (falsificação ou alteração). É
o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de
irrelevante que o agente faça uso do documento que
sexta parte.
produziu ou alterou; se o fizer, tal conduta (art. 304 CP)
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a será considerada post factum impunível.
documento público o emanado de entidade paraestatal, o
Tratando-se de crime plurissubsistente, em que o
título ao portador ou transmissível por endosso, as ações
iter criminis pode ser fracionado, a tentativa é admissível.
de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento
particular. O crime de falsificação de documento público é
de perigo abstrato, ou seja, para consumação basta a
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz
contrafação ou modificação do documento, não se
inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
exigindo a efetiva ocorrência de prejuízo.
I – na folha de pagamento ou em documento de
Majorante de pena (§ 1°): aumenta-se a pena se
informações que seja destinado a fazer prova perante a
o crime é cometido por funcionário público, desde que se
previdência social, pessoa que não possua a qualidade de
prevaleça do cargo que ocupa.
segurado obrigatório; (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000) Formas equiparadas (§ 3°): o § 3° equipara à
falsificação de documento público aquela realizada em
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do
documentos previdenciários, fazendo incidir as mesmas
empregado ou em documento que deva produzir efeito
penas previstas para a figura delitiva do caput. Note-se

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que a falsidade de que trata este parágrafo não é a  As condutas nucleares típicas são as mesmas do
material, mas, sim, ideológica, pois que, embora seja artigo 297, aplicando-se as mesmas observações
formalmente verdadeiro o documento, o conteúdo ali dispensadas àquele dispositivo. A distinção reside no
inserido não o é. objeto material (lá- art. 297 -, documento público; aqui -
art. 298 -, particular).
O inciso I tipifica a conduta do agente que insere ou
faz inserir na folha de pagamento ou em documento de O conceito de documento particular é obtido por
informações que seja destinado a fazer prova perante a exclusão, isto é, todo aquele não compreendido como
Previdência público ou equiparado a público.
Social, pessoa que não possui a qualidade de Falsificação de cartão: O cartão de crédito ou
segurado obrigatório. O dispositivo procura evitar que a débito se equipara aos documentos particulares, conforme
seguridade social seja submetida a graves prejuízos por o parágrafo único, acrescentado pela Lei n° 12.737/2012.
pagamentos a pessoas que não são revestidas da
Consumação e tentativa: a consumação do delito
qualidade de segurados.
se dá no momento em que ocorre a contrafação, total ou
Já o inciso II prevê punição para aquele que insere parcial, ou alteração do documento particular. É possível
ou faz inserir na Carteira de Trabalho ou em documento a tentativa.
que deva produzir efeito perante a Previdência Social,
Ação penal: é pública incondicionada.
declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita.
Aqui, procura-se, mais uma vez, evitar que a seguridade
social seja prejudicada por gastos indevidos ou por
prejuízos na arrecadação. FALSIDADE IDEOLÓGICA

Isto porque a carteira de trabalho serve como base Art. 299. Omitir, em documento público ou
para se obter o valor das contribuições previdenciárias do particular, declaração que dele devia constar, ou nele
empregado. inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que
devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
Por fim, o inciso III pune a conduta daquele que obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
insere ou faz inserir, em documento contábil ou em relevante:
qualquer outro documento relacionado com as obrigações
da empresa perante a Previdência Social, declaração falsa Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o
ou diversa da que deveria ter constado. Aqui, a finalidade documento é público, e reclusão de um a três anos, e
da lei é inibir as fraudes em relação aos lançamentos nos multa, se o documento é particular.
documentos das empresas, vez que é através deles que a Parágrafo único - Se o agente é funcionário público,
Previdência Social irá determinar os valores a serem e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a
recolhidos pelo empregador. falsificação ou alteração é de assentamento de registro
Forma omissiva equiparada: prevê o tipo, em seu § civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
4°, punição para o agente que omite, nos documentos
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
elencados no § 3°, o nome do segurado e seus dados
pessoais, bem como a remuneração e a vigência do Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
contrato de trabalho ou de prestação de serviços. Trata-
Sujeito passivo: será o Estado. Pessoa
se de falso ideológico, que somente será praticado na
prejudicada pela conduta do agente figura como vítima
forma omissiva (não admitindo tentativa).
secundária.
Ação penal: é pública incondicionada.
Conduta: pune-se quem omitir, em documento
público ou particular, declaração que dele devia constar,
ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito,
Art. 298. Falsificar, no todo ou em parte, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato
documento particular ou alterar documento particular juridicamente relevante.
verdadeiro: Trata-se de crime de ação múltipla, que prevê cinco
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. ações nucleares:

Falsificação de cartão (Incluído pela Lei nº a) omitir declaração: o agente, ao confeccionar o


12.737, de 2012) documento (público ou particular), deixa de mencionar
informação que nele deveria constar (crime omissivo
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, puro);
equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou
débito. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) b) inserir declaração falsa: o agente introduz ideia
falsa no documento (público ou particular) que redige;
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
c) inserir declaração diversa da que deveria ser
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). escrita: o agente substitui o conteúdo verdadeiro por outro
que, embora contenha informações diversas, tem a
Sujeito passivo: será o Estado, bem como
mesma natureza;
eventual terceiro prejudicado com a conduta do agente.
d) fazer inserir declaração falsa: aqui a falsidade é
Conduta: consiste a ação delituosa em falsificar
mediata, pois o agente induz terceiro a inserir informação
(contrafazer), no todo ou em parte, documento particular
falsa no documento (público ou particular). Aquele que foi
ou alterar (modificar) documento particular verdadeiro.
induzido pelo agente somente irá responder pela
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falsificação se tinha consciência do conteúdo inverídico da irregular, independentemente da devolução do documento
informação; àquele que solicitou o reconhecimento, bem como da
ocorrência de dano efetivo.
e) fazer inserir declaração diversa da que devia
constar: trata-se também de falsidade mediata, em que o A tentativa é admissível.
agente induz terceiro a substituir uma informação
Ação penal: é pública incondicionada.
verdadeira por outra da mesma natureza.
Consumação e tentativa: consuma-se o crime
com a prática de uma das figuras típicas previstas no art. CERTIDÃO OU ATESTADO IDEOLOGICAMENTE
299. FALSO
 Tratando-se de crime formal, dispensa-se Art. 301. Atestar ou certificar falsamente, em
ocorrência de dano efetivo, sendo suficiente que o razão de função pública, fato ou circunstância que habilite
documento ideologicamente falso tenha potencialidade alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de
lesiva (se o falsário usa o documento, o crime previsto no serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
art. 304 do CP fica absorvido).
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
IMPORTANTE: Exige-se, ainda, para configuração
do delito, o propósito de lesar direito, criar obrigação ou Falsidade material de atestado ou certidão
alterar a veracidade sobre o fato juridicamente relevante. § 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou
Se ausentes tais finalidades, a conduta é atípica. certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado
Majorante de pena (parágrafo único): se o verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que
agente é funcionário público, e comete o crime habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou
prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta de serviço de caráter público, ou qualquer outra
parte. vantagem:

Ação penal: é pública incondicionada. Pena - detenção, de três meses a dois anos.

ATENÇÃO: No crime de falsidade ideológica, o § 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro,


documento é materialmente verdadeiro, mas seu aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de multa.
conteúdo não reflete a realidade, seja porque o agente
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
omitiu declaração que dele deveria constar, seja porque
nele inseriu ou fez inserir declaração falsa ou diversa da Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, que só
que devia ser escrita. pode ser cometido por quem ocupa função pública. Ao
contrário do delito anterior, não se exige que o agente
esteja no exercício da função; basta que cometa uma das
FALSO RECONHECIMENTO DE FIRMA OU condutas típicas em razão dela.
LETRA Sujeito passivo: será o Estado.
Art. 300. Reconhecer, como verdadeira, no Conduta: pune-se a conduta do funcionário público
exercício de função pública, firma ou letra que o não seja: que, no desempenho da função, atesta (afirma
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o oficialmente) ou certifica (afirma a certeza) falsamente,
documento é público; e de um a três anos, e multa, se o fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo
documento é particular. público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público,
ou qualquer outra vantagem.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Consumação e tentativa: parte da doutrina
Sujeito ativo: o crime é próprio, ou seja, só pode entende que o crime estará perfeito no momento em que
ser praticado por quem exerce função pública, com se encerra o atestado ou a certidão, independentemente
poderes para reconhecer firmas ou letras (tabelião de da entrega ao destinatário. Outra parte considera que a
notas, oficial do Registro Civil, os cônsules etc.). conduta se perfaz somente quando o atestado ou a
certidão é entregue a terceiro, argumentando que,
Sujeito passivo: será o Estado, tendo ao seu lado
enquanto se encontra em poder do agente, o documento
eventual particular prejudicado pelo comportamento do
não ingressou no mundo jurídico, não se havendo falar em
agente.
consumação.
Conduta: pune-se a conduta de reconhecer, como
Falsidade material de atestado ou certidão (§
verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra
1º): o dispositivo traz um crime autônomo, consistente
que o não seja. A ação nuclear típica é a de reconhecer,
em falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão,
isto é, admitir, atestar algo como verdadeiro, no caso
ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadeiro,
presente, firma (assinatura por extenso ou rubrica) ou
para prova de faro ou circunstância que habilite alguém a
letra (manuscrito; escrito de próprio punho).
obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de
 A natureza do documento irá influenciar na pena caráter público, ou qualquer outra vantagem.
cominada ao reconhecimento irregular, punindo-se com
 A jurisprudência considera o crime comum (pode
maior severidade o agente que pratica a ação criminosa
ser praticado por qualquer pessoa).
em documento público, em razão, obviamente, da maior
segurança que transmite e da credibilidade que o cerca. Pena de multa (§ 2º): se o crime é praticado com
o fim de lucro, aplica-se, além da pena privativa de
Consumação e tentativa: consuma-se o crime no
liberdade, a de multa.
momento em que o agente efetua o reconhecimento

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Ação penal: é pública incondicionada.  Observar que os artigos referidos (297 a 302)
referem-se a documentos públicos ou particulares.
Consumação e tentativa: o crime se consuma no
FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO momento em que o agente utiliza o documento,
Art. 302. Dar o médico, no exercício da sua independentemente da obtenção do proveito. Tendo em
profissão, atestado falso: vista não haver possibilidade de fracionamento da
conduta, a tentativa de uso é inadmissível.
Pena - detenção, de um mês a um ano.
 Segundo entendimento do STF o uso de
Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim documento falso não se legitima pela autodefesa,
de lucro, aplica-se também multa. configurando o crime.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública. A doutrina chama esse delito de “crime remetido”,
em razão de seu tipo remeter a outros delitos.
Sujeito ativo: somente o médico, no exercício da
sua função (crime próprio). Ação penal: é pública incondicionada.
 Se praticado por dentista, veterinário,
enfermeiros etc., incidirão as penas previstas no artigo
299 (falsidade ideológica). SUPRESSÃO DE DOCUMENTO

Sujeito passivo: será o Estado, diretamente Art. 305. Destruir, suprimir ou ocultar, em
interessado no conteúdo do atestado médico fornecido, benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio,
que pode conter informações de interesse à manutenção documento público ou particular verdadeiro, de que não
da saúde pública. Também pode figurar como vítima podia dispor:
secundária o indivíduo que vem a sofrer danos pela Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o
utilização do atestado falso. documento é público, e reclusão, de um a cinco anos, e
Conduta: consubstancia-se o crime em dar o multa, se o documento é particular.
médico, no exercício regular da profissão, atestado falso,
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
isto é, escrever informações total ou parcialmente
inverídicas, entregando, em seguida, o documento Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o
ideologicamente falso ao interessado. proprietário do documento (crime comum).
Consumação e tentativa: a consumação ocorre Sujeito passivo: será o Estado e,
no momento em que o médico fornece o atestado falso, secundariamente, eventual lesado pela ação criminosa.
independentemente de ulteriores consequências. A
Conduta: a conduta punível é a de destruir
tentativa é possível.
(arruinar, eliminar), suprimir (extinguir, acabar) ou
Pena de multa (parágrafo único): se o crime é ocultar (esconder, sonegar), em benefício próprio ou de
praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou
privativa de liberdade, a de multa. particular verdadeiro (se falso, não há o crime), de que
não podia dispor.
Ação penal: é pública incondicionada.
Consumação e tentativa: o momento
consumativo do crime se dá no momento da destruição,
REPRODUÇÃO OU ADULTERAÇÃO DE SELO OU da supressão ou da ocultação, ainda que a finalidade
PEÇA FILATÉLICA visada não seja alcançada (delito formal ou de
consumação antecipada). A tentativa é admissível.
Art. 303. Esse artigo foi revogado pelo artigo 39
da Lei nº 6.538/78 (Lei dos Serviços Postais), que lhe deu Ação penal: é pública incondicionada.
nova redação com pena inferior ao CP.

Revogado. CAPÍTULO IV
DE OUTRAS FALSIDADES

USO DE DOCUMENTO FALSO FALSIFICAÇÃO DO SINAL EMPREGADO NO


CONTRASTE DE METAL PRECIOSO OU NA
Art. 304. Fazer uso de qualquer dos papéis FISCALIZAÇÃO ALFANDEGÁRIA, OU PARA OUTROS
falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a FINS
302:
Art. 306. Falsificar, fabricando-o ou alterando-o,
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. marca ou sinal empregado pelo poder público no contraste
de metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou usar
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública. marca ou sinal dessa natureza, falsificado por outrem:
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Sujeito passivo: será o Estado, bem como Parágrafo único - Se a marca ou sinal falsificado é
eventual lesado pelo uso do documento. o que usa a autoridade pública para o fim de fiscalização
Conduta: consiste o crime em fazer uso de sanitária, ou para autenticar ou encerrar determinados
qualquer dos papéis falsificados ou alterados a que se objetos, ou comprovar o cumprimento de formalidade
referem os artigos 297 a 302 como se fossem verdadeiros. legal:

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Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e Subsidiariedade: trata-se de delito subsidiário,
multa. ficando absorvido se a intenção do agente, com a
identificação mentirosa, é meio para a prática de crime
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública. mais grave.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). Consumação e tentativa: a consumação ocorre
Sujeito passivo: será o Estado e, no momento em que o agente atribui falsa identidade a si
secundariamente, eventual lesado pela ação delituosa. ou a outrem. Não é necessário que o agente consiga
alcançar a vantagem visada ou cause efetivo dano.
Conduta: pune-se a conduta de falsificar (conferir
aparência enganadora), fabricando-o (criando imitação do Ação penal: é pública incondicionada.
original) ou alterando-o (modificando), marca ou sinal
empregado pelo poder público (federal, estadual, distrital
ou municipal) no contraste de metal precioso ou na Art. 308. Usar, como próprio, passaporte, título de
fiscalização alfandegária. eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de
identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se
 Também é incriminado, na parte final do
utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro:
dispositivo, o uso (utilização) da marca ou sinal
inautêntico, falsificado por outrem. Se quem utiliza a Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e
marca ou o sinal é o próprio falsificador do objeto, multa, se o fato não constitui elemento de crime mais
responderá apenas pela falsificação (crime de ação grave.
múltipla).
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.
Consumação e tentativa: consuma-se o crime
com a fabricação ou alteração da marca ou sinal, ou com Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
seu uso por quem não seja o falsificador. Na conduta de Sujeito passivo: será o Estado e,
falsificar, é possível a tentativa. Já na hipótese de uso, o secundariamente, eventuais lesados pela ação criminosa.
crime é unissubsistente: o primeiro ato de utilização já
atinge a consumação. Conduta: consiste a ação criminosa em usar
(utilizar) como próprio, passaporte, título de eleitor,
Figura privilegiada (parágrafo único): o caderneta de reservista ou qualquer documento de
dispositivo privilegia o comportamento com pena mais identidade alheia ou ceder (entregar) a outrem, para que
branda se a marca ou sinal falsificado é o que usa a dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de
autoridade pública para o fim de fiscalização sanitária, ou terceiro.
para autenticar ou encerrar determinados objetos, ou
comprovar o cumprimento de formalidade legal. Consumação e tentativa: A consumação se dá no
momento em que o agente se utiliza do escrito. A tentativa
Ação penal: é pública incondicionada. não é admissível.
Ação penal: é pública incondicionada.
FALSA IDENTIDADE
Art. 307. Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa FRAUDE DE LEI SOBRE ESTRANGEIRO
identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou
alheio, ou para causar dano a outrem: Art. 309. Usar o estrangeiro, para entrar ou
permanecer no território nacional, nome que não é o seu:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou
multa, se o fato não constitui elemento de crime mais Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
grave. Parágrafo único - Atribuir a estrangeiro falsa
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública. qualidade para promover-lhe a entrada em território
nacional: (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Sujeito passivo: será o Estado e, (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
secundariamente, eventual lesado pela ação criminosa.
Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública e
Conduta: consiste a figura criminosa em atribuir- também o controle de imigração.
se (imputar-se) ou atribuir a terceiro, falsa identidade
para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou Sujeito ativo: cuida-se aqui de crime próprio, que
para causar dano a outrem. só pode ser praticado por estrangeiro, abrangendo o
apátrida (sem nacionalidade). Pode haver a participação
A elementar "identidade" deve ser tomada no de brasileiros.
sentido amplo, envolvendo o nome, a idade, o estado civil,
a filiação, o sexo, entre outros dados. Sujeito passivo: será o Estado.

É imprescindível que o agente pratique a ação Conduta: no tipo penal do artigo 309 pune-se a
visando obter vantagem (de qualquer natureza), em conduta do estrangeiro que usar (utilizar), para entrar ou
proveito próprio ou alheio, ou causar dano a outrem. permanecer no território nacional, nome que não é o seu
(ação delituosa restrita à identificação nominal, não
 Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa abrangendo o estado civil, profissão, nacionalidade,
identidade perante autoridade policial é típica, ainda que dentre outras formas).
em situação de alegada autodefesa (STJ. 3ª Seção.
Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015).

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Consumação e tentativa: o momento indevidamente material ou informação oficial. (Incluído
consumativo do delito é alcançado no momento em que o pela Lei nº 9.426, de 1996)
nome é usado, independentemente do sucesso na entrada
ou permanência do agente no país. Objetividade jurídica: tutela-se a fé pública.

Atribuição de falsa qualidade a estrangeiro Sujeito ativo: o crime é comum, razão pela qual
(parágrafo único): a conduta típica consiste em atribuir qualquer pessoa pode praticá-lo.
(imputar, inculcar) a estrangeiro falsa qualidade ATENÇÃO: a pessoa que recebe o veículo já
(predicado que não ostenta) para promover-lhe a entrada adulterado, sabendo dessa circunstância, não pratica o
em território nacional. crime do art. 311, mas sim o do art. 180 (receptação). Se
Ação penal: é pública incondicionada. recepta o veículo e, em seguida, promove a adulteração,
será responsabilizada por ambos os delitos em concurso
material.
Art. 310. Prestar-se a figurar como proprietário ou Sujeito passivo: é o Estado, e, secundariamente,
possuidor de ação, título ou valor pertencente a eventual lesado pela ação delituosa.
estrangeiro, nos casos em que a este é vedada por lei a
Conduta: é punida a conduta de quem adulterar
propriedade ou a posse de tais bens: (Redação dada pela
(modificar) ou remarcar (marcar de novo) número de
Lei nº 9.426, de 1996)
chassi (estrutura que suporta os elementos que integram
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e o veículo - carroceria) ou qualquer sinal identificador
multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) (registro que serve para individualizar o objeto dos
demais) de veículo automotor (todo o veículo motorizado
Objetividade jurídica: tutela-se não apenas a fé que serve normalmente para o transporte viário de
pública, mas também a segurança nacional. pessoas ou coisas, como, por exemplo, carro, caminhão,
Sujeito ativo: o crime é próprio, já que somente motocicleta etc.), de seu componente (portas, vidros etc.)
pessoa de nacionalidade brasileira (nato ou naturalizado) ou equipamento (iluminação das placas etc.).
pode praticá-lo.  É típica a conduta de substituir as placas originais
Sujeito passivo: será o Estado. de veículo automotor por outra.

Conduta: há atividades que, em razão do interesse Consumação e tentativa: consuma-se com a


nacional que as cerca, não podem ser livremente adulteração ou remarcação. A tentativa é admissível.
desempenhadas por estrangeiros. É o que ocorre, por Majorante de pena (§ 1º): sendo o agente
exemplo, com serviços jornalísticos e de radiodifusão, funcionário público, a pena é aumentada de um terço.
exploração de jazidas, recursos minerais e potenciais de
energia (arts. 176, § 1° e 222 da Constituição Federal). Forma equiparada (§ 2º): cuida-se de crime
próprio, que somente pode ser praticado por funcionário
 A conduta típica em estudo pune o brasileiro que público (assim definido no art. 327 do CP). A conduta
serve de "testa de ferro" ao estrangeiro, assumindo a consiste na contribuição para o licenciamento ou registro
qualidade de proprietário ou possuidor de ação, título ou do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo
valor pertencente ao não nacional, nos casos em que a indevidamente material ou informação oficial.
este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais
bens. Ação penal: é pública incondicionada.

Consumação e tentativa: a consumação ocorre


no momento em que o agente passa a figurar como
CAPÍTULO V
proprietário ou possuidor de ação, título ou valor. A
(Incluído pela Lei 12.550. de 2011)
tentativa é admissível.
DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE
Ação penal: é pública incondicionada. PÚBLICO

Fraudes em certames de interesse público


ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente,
VEÍCULO AUTOMOTOR (Redação dada pela Lei nº com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de
9.426, de 1996) comprometer a credibilidade do certame, conteúdo
Art. 311. Adulterar ou remarcar número de chassi sigiloso de:
ou qualquer sinal identificador de veículo automotor, de
I - concurso público;
seu componente ou equipamento: (Redação dada pela Lei
nº 9.426, de 1996) II - avaliação ou exame públicos;
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. III - processo seletivo para ingresso no ensino
(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) superior; ou
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
função pública ou em razão dela, a pena é aumentada de
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
um terço. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
multa.
§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem permite ou
público que contribui para o licenciamento ou registro do
facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não
veículo remarcado ou adulterado, fornecendo
autorizadas às informações mencionadas no caput.

| 102 |
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à
administração pública:
EXERCÍCIOS
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e
multa. 01. (FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito
Federal - Procurador Legislativo) Pratica o crime de
§ 3o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato falsidade ideológica aquele que
é cometido por funcionário público.
a) faz uso de carteira nacional de habilitação falsa em
Objetividade jurídica: tutela-se a credibilidade abordagem policial para evitar multa administrativa.
(lisura, transparência, legalidade, moralidade, isonomia e
segurança) dos certames de interesse público. b) altera ou falsifica documento particular verdadeiro e o
utiliza no Brasil ou no exterior.
ATENÇÃO: aplicando-se o princípio da
especialidade, a violação de sigilo funcional envolvendo c) atesta falsamente, em razão de função pública, fato que
certames de interesse público não caracteriza o crime do habilite alguém a obter cargo público.
art. 325, mas sim o do art. 311-A do CP. d) atribui-se falsa identidade para obter vantagem, em
Sujeito passivo: é o Estado, e, secundariamente, proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem.
eventuais lesados pela ação delituosa do agente. e) omite, em documento particular, declaração que dele
Conduta: é punida a conduta de quem utiliza devia constar com o fim de criar uma obrigação.
(emprega, aplica) ou divulga (efeito de tornar público,
propagar), indevidamente (sem justo motivo), com o fim
de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a 02. (VUNESP - 2018 - PC-SP - Papiloscopista
credibilidade do certame, conteúdo sigiloso (abrangendo Policial) Sobre o crime de Moeda Falsa, previsto no
não apenas as perguntas e respostas, mas também outros Código Penal, é correto afirmar que
dados secretos que, se utilizados indevidamente, geram a) a lei não admite a punição da conduta praticada por
desigualdade na disputa) de: funcionário público.
I - concurso público (instrumento de acesso a b) o tipo comporta a conduta de fabricar ou alterar,
cargos e empregos públicos); mediante falsificação, a moeda metálica ou papel-moeda,
II - avaliação ou exame públicos (abrangendo, por de curso legal no país ou no estrangeiro.
exemplo, os exames psicotécnicos); c) a lei admite a punição da conduta, na forma culposa.
III - processo seletivo para ingresso no ensino d) a conduta típica consiste em reconhecer, como
superior (englobando vestibulares e demais formas de verdadeira, no exercício de função pública, moeda
avaliação seletiva para ingresso no ensino superior, como, metálica ou papel-moeda de curso legal no estrangeiro.
por exemplo, a prova do ENEM);
e) consiste fato atípico a conduta de quem desvia e faz
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei circular moeda cuja circulação não estava ainda
(compreendendo, por exemplo, o exame da OAB, previsto autorizada.
na Lei 8.906/94).
Consumação e tentativa: consuma-se com a
simples prática dos núcleos (divulgar, utilizar, permitir ou 03. (FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público) Comete
facilitar o acesso ao conteúdo sigiloso) dispensando a o crime de
obtenção da vantagem particular buscada pelo agente ou
a) falsa identidade aquele faz uso de Carteira Nacional de
mesmo eventual dano à credibilidade do certame (crime
Habilitação (CNH) falsa para conduzir veículo automotor.
formal ou de consumação antecipada). Aliás, se da ação
ou omissão resulta dano à administração pública, o crime b) falso testemunho aquele que imputa a outrem
será qualificado, com pena de reclusão de dois a seis anos, falsamente fato definido como crime.
e multa.
c) uso de documento falso aquele que faz uso de
A tentativa é admissível. documento particular falso.
Forma equiparada (§ 1°): nas mesmas penas d) falsidade de atestado médico aquele produz atestado
incorre quem permite (dá liberdade) ou facilita (torna mais falso se passando pela condição de médico.
fácil a execução), por qualquer meio, o acesso de pessoas
e) falsificação de documento público aquele que insere em
não autorizadas às informações mencionadas no caput.
documento público declaração falsa com o fim de
Qualificadora (§ 2°): o crime é qualificado se da prejudicar direito de terceiro.
ação ou omissão resulta dano à Administração Pública.
Majorante de pena (§ 3°): sendo o agente
04. (VUNESP - 2017 - Câmara de Barretos - SP -
funcionário público, a pena é aumentada de um terço.
Advogado) O estrangeiro que utiliza como seu nome
Nesse caso, porém, apesar do silêncio da lei, não basta
alheio para ingressar no país comete o crime de
ser servidor público, mas deve o agente valer-se da sua
condição profissional, o que não significa dizer que o a) uso de documento falso.
conteúdo sigiloso do certame deva estar entre as suas
atribuições. b) estelionato.

Ação penal: é pública incondicionada. c) falsificação de documento público.


d) fraude de lei sobre estrangeiro.

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e) falsa identidade. e) não praticou crime, porque agiu no exercício regular de
direito.

05. (VUNESP - 2018 - PC-BA - Investigador de


Polícia) Teodoro, 30 anos de idade, brasileiro, casado e 08. (FCC - 2018 - DPE-AP - Defensor Público) Sobre
sem antecedentes, falsificou 10 cédulas de R$ 10,00 (dez o crime de falsidade ideológica:
reais) com o intuito de introduzi-las em circulação, na
a) É atípica, em tese, a conduta daquele que faz inserir,
conduta de pagar uma conta de TV a cabo atrasada. A
em documento público, declaração falsa acerca do
caminho da casa lotérica, no entanto, foi abordado por
verdadeiro condutor de veículo envolvido em sinistro de
policiais e, assustado, entregou as cédulas e confessou a
trânsito uma vez que integrante do direito à ampla
falsificação. Considerando-se a situação hipotética, é
defesa.
correto afirmar que
b) É necessária a realização de perícia, uma vez que, a
a) Teodoro praticou o crime de moeda falsa na modalidade
exemplo do que ocorre com a falsidade documental, a
tentada, pois não conseguiu consumar seu intento que era
alteração é no conteúdo do documento.
o de colocar as cédulas em circulação.
c) O documento para fins de falsidade ideológica deve ser
b) tendo em vista o ínfimo valor das cédulas falsificadas,
uma peça que tenha possibilidade de produzir prova de
trata-se de fato atípico.
um determinado fato, ainda que para tanto sejam
c) Teodoro praticou o crime de moeda falsa na modalidade necessárias outras verificações.
consumada e, se condenado, poderá receber uma pena de
d) É crime material, como todo falso, não sendo suficiente
reclusão de 3 (três) a 12 (doze) anos, mais a imposição
para sua consumação a mera potencialidade lesiva.
de multa.
e) É atípica a conduta de fazer afirmações possivelmente
d) apesar de ter falsificado as cédulas, tendo em vista que
falsas, em ação judicial, com base em documentos
as entregou à autoridade policial antes de introduzi-las na
também tidos por adulterados (instrumentos
circulação, Teodoro poderá ter reconhecida em seu favor
procuratórios com assinaturas falsas e comprovantes de
a figura privilegiada prevista no § 2° do art. 289 do Código
residência adulterados), uma vez que a Constituição
Penal, que trata de figura privilegiada.
Federal assegura a todos o acesso à justiça.
e) por ter falsificado as cédulas visando pagar uma conta
atrasada, Teodoro poderá alegar estado de necessidade e
ter reconhecida a excludente de ilicitude. 09. (FUNDATEC - 2018 - PC-RS - Escrivão e de
Inspetor de Polícia - Tarde) Em relação à falsificação
de documento particular e à falsidade ideológica, assinale
06. (CESGRANRIO - 2018 - Transpetro - Advogado a alternativa correta.
Júnior) O crime de falso reconhecimento de firma ou
a) Reza o Código Penal que a falsificação do documento
letra, inscrito no Código Penal, em relação ao sujeito ativo,
particular consiste em falsificar, no todo ou em parte,
é considerado crime
documento particular ou alterar documento particular
a) comum verdadeiro.
b) simples b) Fotocópias sem autenticação, documentos impressos
sem assinatura ou documentos anônimos podem ser
c) próprio
considerados documentos particulares para efeito do
d) adequado crime de falsificação de documento particular.

e) continuado c) O objeto material da falsidade ideológica é tão somente


o documento público.
d) Reza o Código Penal que se o agente é funcionário
07. (FGV - 2018 - TJ-AL - Técnico Judiciário - Área público e comete o crime de falsidade ideológica,
Judiciária) Pablo, funcionário público do Tribunal de prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração
Justiça, tem a responsabilidade de registrar em um livro é de assentamento de registro civil, a pena será aplicada
próprio do cartório os procedimentos que estão há mais em quádruplo.
de dez dias conclusos, permitindo o controle dos prazos
por parte de advogados. Por determinação do juiz e) O momento consumativo da falsidade ideológica se dá
responsável, que queria evitar que terceiros soubessem com a efetiva concretização de prejuízo material para o
de sua demora, Pablo deixa de lançar diversos processos Estado ou para o particular.
que estavam conclusos para sentença há vários meses.
Considerando apenas as informações narradas,
10. (FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2018 - TCE-
descoberto o fato, é correto afirmar que Pablo:
MG - Auditor - Conselheiro Substituto) Analise o caso
a) não praticou crime, porque agiu em estrita obediência hipotético a seguir.
a ordem de superior hierárquico;
Maria, com 55 anos de idade, declara, por pura vaidade,
b) não praticou crime, porque agiu em estrito num documento público perante uma repartição pública
cumprimento de dever legal; estadual que tem 47 anos de idade. Desse modo, tal
afirmativa é falsa, e, apesar disso, tal assertiva não
c) deverá responder pelo crime de prevaricação; provocou nenhuma consequência.
d) deverá responder pelo crime de falsidade ideológica;

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Considerando o caso descrito, assinale a particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou
alternativa CORRETA. desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
a) Maria cometeu o crime previsto no Art. 297 do Código
Penal (falsificação de documento público). Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

b) Maria cometeu o crime previsto no Art. 298 do Código


§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário
Penal (falsificação de documento particular).
público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou
c) Maria cometeu o crime previsto no Art. 299 do Código bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em
Penal (falsidade ideológica). proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que
lhe proporciona a qualidade de funcionário.
d) Maria cometeu o crime previsto no Art. 301 do Código
Penal (certidão ou atestado ideologicamente falso).
Peculato culposo
e) Maria não cometeu crime algum.
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para
o crime de outrem:
GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Pena - detenção, de três meses a um ano.
E B C D C C D E A E

§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do


dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
6. DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena
PÚBLICA (ARTS. 312 A 337-A) imposta.

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A Espécies de peculato: O Código Penal contém seis
ADMINISTRAÇÃO EM GERAL – ARTS. 312 A 327 espécies de peculato, sendo cinco dolosas e uma culposa:

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A a) Peculato apropriação (art.312, caput, 1ª parte);
ADMINISTRAÇÃO EM GERAL – ARTS. 328 A 337-A b) Peculato desvio (art. 312, caput, parte final);
c) Peculato furto (art. 312, § 1º);
d) Peculato culposo (art. 312, § 2º);
Crimes funcionais – delitos praticados por quem e) Peculato estelionato (art. 313) e
se acha investido em função pública, praticados contra a f ) Peculato Eletrônico (art. 313-A).
administração pública. Estão previstos nos artigos 312 a
327 do Código Penal. Podem ser classificados como  As duas primeiras (apropriação e desvio) são
próprios ou impróprios. também conhecidas como peculato próprio, enquanto a
Crime funcional próprio: Quando a qualidade de terceira (peculato furto) é doutrinariamente classificada
funcionário público é essencial à realização do crime. Se como peculato impróprio.
ausente esta condição no agente, o fato se torna atípico,
isto é, não seria crime. Por exemplo, se a prevaricação é Peculatos previstos no art. 312 do Código
praticada por empregado não funcionário público, essa Penal:
conduta não caracteriza o crime do art. 319 do Código
Penal. Objetividade jurídica: tutela-se a moralidade e o
património da Administração Pública.
Crime funcional impróprio: São aqueles nos
quais, faltando a condição de servidor ao agente, o fato Sujeito ativo: crime próprio, que só pode ser
deixa de configurar crime funcional, caracterizando um cometido por funcionário público (no sentido amplo trazido
crime comum, ou seja, quando o agente não tem a pelo art. 327 do CP).
condição de funcionário público, a tipicidade do ato
criminoso é dada de forma diversa. Por exemplo, o ATENÇÃO! O particular que, sabendo da qualidade
funcionário público que se apropria de um bem da funcional do agente, concorre, de qualquer modo, para o
repartição que ele tenha a posse comete o crime de evento, responde como partícipe do peculato, por força do
peculato (Código Penal, art. 312). Porém, se o mesmo ato art. 30 do CP.
é praticado por agente não funcionário público, o tipo
penal da conduta é o crime comum de apropriação Sujeito passivo: será o Estado, lesado no seu
indébita (Código Penal, Art. 168). patrimônio, material e moralmente. Se o bem apropriado
for de propriedade particular, também este será vítima do
CAPÍTULO I crime (secundária).
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO
PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL  ATENÇÃO! Em conformidade com o art. 552 da
CLT: “Os atos que importem em malversação ou
dilapidação do patrimônio das associações ou entidades
Peculato sindicais ficam equiparados ao crime de peculato, julgado
e punido na conformidade da legislação penal”.
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou Conduta: o caput do art. 312 pune o que a doutrina
chama de peculato próprio, cuja ação material do agente

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consiste na apropriação ou no desvio de dinheiro, valor ou concorrer para que seja subtraída) a coisa do ente público
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que ou de particular sob custódia da Administração.
tem a posse em razão do cargo.
ATENÇÃO! Caso o agente não seja funcionário
 Peculato apropriação: na primeira parte do público, ou, sendo, não se utilize das facilidades que o
caput pune-se o peculato apropriação, hipótese em que o cargo lhe proporciona para a subtração, incorrerá no crime
agente se apodera de coisa que tem sob sua posse de furto (art. 155 do CP).
legítima, passando, arbitrariamente, a comportar-se como
se dono fosse (uti dominus).  Peculato culposo (§ 2°): será punido de acordo
com as penas do § 2° o funcionário público que concorrer
 Peculato desvio - na segunda parte do caput culposamente para que, através de manifesta negligência,
incrimina-se o peculato desvio, caso em que o funcionário imprudência ou imperícia, infringindo dever de cuidado
dá destinação diversa à coisa, em benefício próprio ou de objetivo, criar condições favoráveis à prática do peculato
outrem, com a obtenção de proveito material ou moral, doloso, em qualquer de suas modalidades (apropriação,
auferindo vantagem outra que não necessariamente a de desvio, subtração).
natureza econômica.
 Dois requisitos são necessários para a
ATENÇÃO! Se há desvio de verba em proveito da configuração do crime culposo: a conduta culposa do
própria Administração, com utilização diversa da prevista funcionário público, mediante sua inobservância ao dever
em sua destinação, temos configurado o crime do art. 315 objetivo de cuidado da coisa móvel da Administração
do CP. Pública ou sob sua vigilância, e a prática de um crime
doloso por terceira pessoa, aproveitando-se da facilidade
Tipo subjetivo: pune-se a conduta dolosa, culposamente proporcionada pelo funcionário público.
expressada pela vontade consciente do agente em
transformar a posse da coisa em domínio (peculato Reparação do dano no peculato culposo –
apropriação) ou desviá-la em proveito próprio ou de extinção da punibilidade e diminuição da pena (art.
terceiro (peculato desvio). 312, § 3º): A reparação do dano pode manifestar-se sob
duas formas:
Consumação e tentativa: na primeira modalidade
(apropriação), consuma-se o delito no momento em que o a) devolução do objeto material do crime; e
funcionário se apropria do dinheiro, valor ou bem móvel b) ressarcimento do prejuízo causado ao ofendido.
de que tem posse em razão do cargo. Evidencia-se pela
disposição do objeto material como se dono fosse. No  Se a reparação do dano for anterior ao trânsito
segundo caso (desvio), ocorre a consumação quando o em julgado da sentença condenatória, estará
funcionário altera o destino normal da coisa, pública ou caracterizada uma causa extintiva da punibilidade. Se a
particular, empregando-a em fins outros que não o reparação do dano ocorrer depois do trânsito em julgado
próprio. da condenação, importará na redução da pena pela
metade.
 A tentativa é admissível.
Peculato mediante erro de outrem
 Prestação de serviços: A prestação de serviços
não se subsume ao conceito de bem móvel, razão pela
qual não se encaixa no crime de peculato a utilização de Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer
mão de obra pública, originária do trabalho de um utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de
funcionário público subalterno em proveito do superior outrem:
hierárquico
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Princípio da insignificância: Os Tribunais
Superiores ainda não chegaram a um consenso sobre o  “Peculato Estelionato” - o crime tipificado no
cabimento do princípio da insignificância em relação aos art. 313 do CP é também conhecido como peculato
crimes contra a Administração Pública: estelionato, porque consiste na captação indevida, por
parte do funcionário público, de dinheiro ou qualquer outra
a) O STJ não admite a incidência do princípio pois, utilidade, se aproveitando do erro alheio.
nestes casos, sempre existiria ofensa à moralidade
administrativa; Objetividade jurídica: tutela-se a moralidade e o
b) O STF tem posicionamento de que o princípio é patrimônio da Administração Pública.
cabível em caso de ínfima lesão provocada.
Sujeito ativo: sujeito ativo é o funcionário público
 Peculato furto - § 1° (peculato impróprio): O lato sensu (art. 327 do CP).
dispositivo traz a figura do peculato furto, também
chamado de peculato impróprio. Caracteriza-se não pela  Caso o funcionário público ocupe cargo em
apropriação ou desvio, mas pela subtração de coisa sob comissão ou de função de direção ou assessoramento de
guarda ou custódia da Administração. órgão da administração direta, sociedade de economia
mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder
Importante destacar que nesta hipótese o agente público, a pena sofrerá aumento de um terço.
não tem a posse da coisa, mas se vale da facilidade que a
condição de funcionário lhe concede para subtrair (ou

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Sujeito passivo: será o Estado, mais
especificamente a Administração Pública. Particular que Conduta: são duas as condutas típicas:
sofra prejuízo em virtude do comportamento criminoso
também será vítima. a) Inserir ou facilitar a inserção de dados falsos e
b) Alterar ou excluir indevidamente dados corretos.
Conduta: pune-se a conduta do agente que
inverter, no exercício do seu cargo, a posse de valores  Nas duas hipóteses deve o agente agir
recebidos por erro de terceiro. O bem apoderado, ao prevalecendo-se do acesso privilegiado inerente ao seu
contrário do que ocorre no peculato apropriação, não está cargo, emprego ou função pública.
naturalmente na posse do agente, derivando de erro
alheio. Tipo subjetivo: o tipo subjetivo é o dolo,
caracterizado pela vontade consciente de praticar as
ATENÇÃO! O erro do ofendido deve ser condutas típicas, aliado ao fim específico de obter
espontâneo, pois, se provocado pelo funcionário, poderá vantagem indevida para si ou para outrem, ou para causar
configurar o crime de estelionato. dano (elemento subjetivo do tipo).

Tipo subjetivo: pune-se somente a conduta Consumação e tentativa: o delito em questão


dolosa, ou seja, a vontade consciente do funcionário de consuma-se com a prática de qualquer um dos núcleos do
apropriar-se de dinheiro (ou qualquer utilidade móvel) que tipo, independente da obtenção da indevida vantagem ou
recebeu por erro de outrem (animus rem sibi habendi), dano buscado pelo agente (delito formal ou de
ciente do engano cometido. consumação antecipada). A tentativa é admissível.

 Não é necessária a existência do dolo no


Modificação ou alteração não autorizada de
momento do recebimento da coisa, mas deve existir no
sistema de informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de
instante em que o funcionário dela se apropria (dolo
2000)
superveniente).

Consumação e tentativa: O delito se consuma no Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário,


momento em que o agente percebe o erro de terceiro e sistema de informações ou programa de informática sem
não o desfaz. Portanto, a consumação se dá não no autorização ou solicitação de autoridade competente:
momento do recebimento da coisa, mas posteriormente,
no instante em que o agente se apropria da coisa recebida Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
por erro, agindo como se dono fosse. e multa.

 A tentativa é admitida. Parágrafo único. As penas são aumentadas de um


terço até a metade se da modificação ou alteração resulta
Inserção de dados falsos em sistema de dano para a Administração Pública ou para o administrado.
informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
 “Peculato Eletrônico”
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário
autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir Objetividade jurídica: tutela-se a Administração
indevidamente dados corretos nos sistemas Pública, mais especificamente seus sistemas de
informatizados ou bancos de dados da Administração informações ou programas de informática.
Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou
para outrem ou para causar dano: Sujeito ativo: crime próprio, figurando como
sujeito ativo o funcionário público.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
multa.  É possível a participação do particular, desde que
saiba, por ocasião dos fatos, da condição especial
ostentada pelo funcionário autor (art. 30 do CP).

 “Peculato Eletrônico” Sujeito passivo: será o Estado, mais


especificamente a Administração Pública.
Objetividade jurídica: tutela-se a Administração Secundariamente, o particular que sofra prejuízo em
Pública no que concerne à guarda de dados nos sistemas virtude da conduta criminosa também poderá ser vítima.
informatizados ou banco de dados.
Conduta: a distinção mais significativa entre este
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, que delito (art. 313-B) e o anterior (art. 313-A) é que naquele
somente poderá ser praticado pelo funcionário público pune-se a inserção ou sua facilitação de dados falsos ou
autorizado, isto é, aquele que estiver lotado na repartição alteração ou exclusão indevida de dados corretos nos
encarregada de cuidar dos sistemas informatizados ou sistemas informatizados ou bancos de dados da
banco de dados da Administração Pública. Administração Pública, enquanto neste o que se coíbe é a
ação física de modificar ou alterar o próprio sistema ou
Sujeito passivo: será o Estado, mais programa de informática.
especificamente a Administração Pública.
Secundariamente, será vítima o particular que sofra  No delito do art. 313-A o agente não ingressa no
prejuízo em virtude da conduta criminosa. sistema operacional (software), mas apenas falsifica os

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arquivos do programa. No delito do art. 313-B o Sujeito ativo: é o funcionário público em sentido
funcionário altera a própria programação de modo a amplo (art. 327 do CP).
modificar o meio e modo de geração e criação de arquivos
e dados. Sujeito passivo: sujeito passivo é o Estado e,
eventualmente, o particular proprietário do documento
Tipo subjetivo: é o dolo, ou seja, a vontade confiado à Administração Pública.
consciente de praticar os núcleos do tipo, sem autorização
ou solicitação da autoridade competente Não se exige Conduta: o tipo traz três núcleos: extraviar,
qualquer finalidade específica do agente, bem como se sonegar e inutilizar. Tais condutas devem recair sobre livro
mostra irrelevante a obtenção de eventual resultado. oficial (em uso ou não) ou qualquer documento (público
ou particular) guardado pelo funcionário em razão da sua
Consumação e tentativa: consuma-se o delito função.
com a prática de um dos núcleos do tipo (modificação ou
alteração). São dois os objetos materiais do tipo penal em Tipo subjetivo: é o dolo de praticar um dos núcleos
estudo: sistema ou programa de informática. A tentativa do tipo.
é teoricamente possível.
 A forma culposa é indiferente penal, mas o
 A eventual existência de dano serve como causa funcionário público pode responder administrativamente
de aumento de pena, conforme disposto no parágrafo pelo descuido praticado.
único do artigo em comento.
Consumação e tentativa: consuma-se o crime
Majorante de pena (parágrafo Único): as penas quando há o efetivo extravio, sonegação ou inutilização de
são aumentadas de um terço até a metade se da livro oficial ou qualquer outro documento. Nas duas
modificação ou alteração resulta dano para a primeiras modalidades, cuida-se de espécie permanente,
Administração pública ou para o administrado. cuja consumação se prolonga no tempo. É admissível a
tentativa, porém limitada às hipóteses do extravio e
inutilização.
CRIME DE PECULATO
Nomenclatura Localização Conduta Emprego irregular de verbas ou rendas públicas
Art. 312,
Peculato
caput, 1ª Apropriar-se Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação
apropriação
parte diversa da estabelecida em lei:
Art. 312,
Peculato desvio caput, 2ª Desviar
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
parte
Subtrair ou
Art. 312, § Objetividade jurídica: tutelam-se as verbas da
Peculato furto concorrer para que
1º Administração Pública.
seja subtraído
Peculato Art. 312, § Concorrer
Sujeito ativo: o crime é próprio, pois o sujeito ativo
culposo 2º culposamente
será somente aquele funcionário público que tenha o
Apropriar-se após
Peculato poder de administração de verbas ou rendas públicas,
Art. 313 ter recebido por erro
estelionato v.g., Presidente da República e seus Ministros,
de outrem
Governadores, Secretários, etc.
Inserir ou facilitar
Art. 313-A inserção; e alterar  Tratando-se de Prefeito Municipal, a conduta se
Peculato ou excluir dados subsume ao disposto no art. 1°, III, do Decreto-lei
eletrônico Modificar ou alterar 201/67, prevalecendo sobre a norma do Código Penal
Art. 313-B sistema ou (princípio da especialidade).
programa
Sujeito passivo: o sujeito passivo será o Estado,
bem como, eventualmente, o particular atingido pela
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou conduta criminosa.
documento
Conduta: pune-se o emprego irregular de fundos
públicos (verbas e rendas), contrariando a destinação
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer prevista em lei.
documento, de que tem a guarda em razão do cargo;
sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:  A palavra "lei" não comporta interpretação
extensiva, excluindo-se, portanto, os decretos e quaisquer
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não atos administrativos.
constitui crime mais grave.
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
Objetividade jurídica: tutela-se o regular consciente de desviar fundos públicos da meta
andamento das atividades administrativas. especificada em lei, sendo irrelevante a finalidade da
conduta.

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Consumação e tentativa: O momento patrimonial ou não (exemplos: vantagem sexual, prestígio
consumativo do delito ocorre com a efetiva aplicação político, vingança, etc.).
irregular das verbas ou rendas em finalidade outra que
não a especificada em lei. Tipo subjetivo: é o dolo de exigir vantagem
indevida. Não se admite a modalidade culposa.
 A simples destinação, sem posterior aplicação,
constitui tentativa. Consumação e tentativa: consuma-se com a
mera exigência da vantagem indevida pelo agente
criminoso (crime formal). A percepção do proveito do
Concussão
crime é mero exaurimento.

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou  Será inadmissível a tentativa quando a conduta
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de exteriorizar-se em um único e indivisível ato de execução
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: a exemplo da concussão cometida verbalmente.

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e


Excesso de exação
multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).

§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição


Noção inicial: A concussão é crime em que o social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando
funcionário público, valendo-se do respeito ou mesmo devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso,
receio que sua função representa, impõe à vítima a que a lei não autoriza: (Redação dada pela Lei nº 8.137,
concessão de vantagem a que não tem direito. de 27.12.1990)

ATENÇÃO: A Lei 13.964/2019 – Pacote Anticrime


Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
elevou a pena máxima do crime de concussão, que era de
8, para 12 anos de reclusão.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio
Objetividade jurídica: tutela-se, principalmente, ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher
a moralidade administrativa. Secundariamente, protege- aos cofres públicos:
se o particular constrangido pelo ato criminoso do agente.
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Sujeito ativo: o sujeito ativo do delito é o
funcionário público no sentido amplo do direito penal (art.
 O tipo penal pune o excesso no desempenho do
327 do CP), incluindo também aquele que, apenas
funcionário público na cobrança de tributos (exação),
nomeado, embora ainda não esteja no exercício da sua
revestido de abuso de poder, e não a exação em si própria,
função, atue criminosamente em razão dela.
que é atividade fundamental para a manutenção do
Estado.
 O particular poderá concorrer para a prática
delituosa, desde que conhecedor da circunstância
Sujeito ativo - O excesso de exação é crime
subjetiva elementar do tipo, ou seja, de estar colaborando
próprio ou especial: somente pode ser cometido pelo
com a ação criminosa de autor funcionário público (art. 30
funcionário público, qualquer que seja ele,
do CP).
independentemente do motivo que o leva a agir, e não
apenas pelos agentes fazendários.
Sujeito passivo: é a Administração Pública,
concomitantemente com a pessoa constrangida, podendo
 Admite-se o concurso de pessoas, em ambas as
ser esta particular, ou mesmo outro funcionário.
modalidades (coautoria e participação).
IMPORTANTE: Se a vítima entregar ao funcionário
Sujeito passivo: É o Estado e, mediatamente, o
público a vantagem indevida em razão da exigência por
contribuinte lesado pela conduta criminosa.
ele formulada, não responde por corrupção ativa (art. 333
do CP), uma vez que somente agiu em razão do
Elemento subjetivo: Na modalidade “exigência
constrangimento a que foi submetida.
indevida” é o dolo, que pode ser direto (“que sabe
indevido”) ou eventual (“que deveria saber indevido”), nas
Conduta: a conduta típica se consubstancia em
situações em que o funcionário público, na dúvida acerca
exigir o agente, por si ou por interposta pessoa, explícita
da legalidade ou não do tributo ou contribuição social,
ou implicitamente, vantagem indevida, abusando da sua
ainda assim assume o risco de cometer o delito e insiste
autoridade pública como meio de coação.
na sua exigência.
Concussão x Extorsão: A concussão se
 Já na modalidade “cobrança vexatória ou
caracteriza pela exigência fundada na promessa de
gravosa” o elemento subjetivo é o dolo, direto ou
concretização de um mal relacionado ao campo de atuação
eventual, não incidindo a discussão acerca do alcance da
do funcionário público, não havendo violência à pessoa ou
expressão “que devia saber indevido”, a qual é inaplicável
grave ameaça. Na extorsão, há violência à pessoa ou
a esta conduta típica.
grave ameaça.
ATENÇÃO! Não se admite a forma culposa.
ATENÇÃO! Natureza da vantagem indevida: para a
maioria da doutrina, pode ser de qualquer espécie,

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Consumação - O crime é formal, de consumação Sujeito ativo: o agente deve ser funcionário
antecipada ou de resultado cortado: consuma-se com a público (art. 327 do CP), incluindo também aquele que,
exigência indevida ou com o emprego de meio vexatório apenas nomeado, embora ainda não esteja no exercício
ou gravoso do tributo ou contribuição social, da sua função, atue criminosamente em razão dela.
independentemente do seu efetivo pagamento.
Sujeito passivo: será o Estado ou,
Tentativa: Na modalidade “exigência indevida”, especificamente, a Administração Pública, bem como a
somente será cabível o conatus quando se tratar de crime pessoa constrangida pelo agente público, desde que, é
plurissubsistente, como no exemplo da carta que se claro, não tenha praticado o crime de corrupção ativa.
extravia antes da chegada ao contribuinte. Por sua vez, na
espécie “cobrança vexatória ou gravosa”, a tentativa é ATENÇÃO! O particular só será vítima se a
perfeitamente possível. corrupção partir do funcionário corrupto. Se o particular
oferecer ou prometer vantagem, responderá por
Excesso de Exação x Concussão: No excesso de corrupção ativa (art. 333 do CP).
exação o funcionário público exige ilegalmente tributo ou
contribuição social em benefício da Administração Pública; Conduta: são três as condutas típicas: solicitar
na concussão, por sua vez, o funcionário público o faz em (pedir), explícita ou implicitamente, vantagem indevida;
proveito próprio ou de terceiro. receber referida vantagem; e, por fim, aceitar promessa
de tal vantagem, anuindo com futuro recebimento.
Figura qualificada (art. 316, § 2º): Nessa figura
qualificada, o funcionário público desvia (altera o destino Solicitar - Na primeira hipótese, a corrupção parte
original) para si ou para outrem o tributo ou contribuição do servidor público; é o próprio funcionário quem toma a
social que recebeu indevidamente para recolher aos cofres iniciativa da conduta, requerendo que a vantagem lhe seja
públicos. concedida ou a promessa lhe seja feita. Aqui reside a
diferença marcante entre os crimes dos arts. 316, caput,
 O excesso de exação qualificado depende do e art. 317 do CP. A ação do funcionário, no caso da
desvio do tributo ou contribuição social indevido antes da concussão, representa uma exigência, seguida ou não do
sua incorporação aos cofres públicos. Caso ocorra depois, recebimento, e, no caso da corrupção passiva, representa
o delito será o peculato. uma solicitação (pedido), de igual modo seguida ou não
do recebimento.
Corrupção passiva
Receber - Já na segunda hipótese, supõe-se uma
dação voluntária. A iniciativa é do corruptor, podendo este
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para transferir a vantagem até de modo simbólico. Receber e
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função dar são ideias correlatas: a primeira depende da segunda.
ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Aceitar promessa - A última hipótese refere-se à
aceitação de promessa de uma vantagem indevida. A
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e palavra "promessa" deve ser entendida no sentido comum
multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) (consentir, anuir). Também nesta hipótese há corrupção
por parte do corruptor (particular que faz a promessa).
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em
conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário  Para a existência do crime deve haver um nexo
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o entre a vantagem solicitada ou aceita e a atividade
pratica infringindo dever funcional. exercida pelo corrupto.

ATENÇÃO! Existe corrupção ainda que a vantagem


§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
seja entregue ou prometida não diretamente ao
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
funcionário, mas a um familiar seu (mulher, filhos etc.).
cedendo a pedido ou influência de outrem:
 Corrupção própria x imprópria - Classifica-se
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. como imprópria a corrupção que visa a prática de ato
lícito, e, como própria, a que tiver por finalidade a
A corrupção é a venda do desempenho da função realização de ato ilícito.
pública. O Código Penal disciplina dois delitos distintos:
corrupção passiva (art. 317), de natureza funcional,  Corrupção antecedente x subsequente - Se
envolvendo a atuação do funcionário público corrompido, a vantagem ou recompensa é dada ou prometida em vista
inserida entre os crimes praticados por funcionário público de uma ação, positiva ou negativa, futura, a corrupção
contra a Administração em geral; e corrupção ativa (art. denomina-se antecedente; se é dada ou prometida por
333), inerente à conduta do corruptor, incluída no rol dos uma ação, positiva ou negativa, já realizada, chama-se
crimes praticados por particular contra a Administração subsequente.
em geral.
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente em praticar
Corrupção Passiva uma das condutas previstas no tipo.

Objetividade jurídica: tutela-se a moralidade Consumação e tentativa: nas modalidades


administrativa. solicitar e aceitar promessa de vantagem, o crime é de
natureza formal, consumando-se ainda que a gratificação

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não se concretize. Já na modalidade receber, o crime é Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional,
material, exigindo efetivo enriquecimento ilícito do autor. a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):

 Admite-se a tentativa apenas na modalidade Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e


solicitar, quando formulada por meio escrito (carta multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
interceptada).

 Corrupção passiva majorada – (Causa de  O que em regra caracterizaria participação nos


aumento de pena (§ 1°): a pena será aumentada de 1/3 crimes de descaminho ou de contrabando (arts. 334 ou
se o corrupto retarda ou deixa de praticar ato de ofício ou 334-A do CP), aqui passa a ser incriminado de forma
o pratica com infração do dever funcional. Aqui, o agente autônoma, criando o legislador uma figura especial em
cumpre o prometido, realizando a pretensão do corruptor. atenção à circunstância de ser o agente funcionário
público incumbido da prevenção e/ou repressão aos
 Exaurimento penalizado - O que seria mero crimes de contrabando ou descaminho.
exaurimento passou a ser considerado causa de aumento
de pena. Objetividade jurídica: tutela-se a Administração
Pública.
ATENÇÃO: se a violação praticada pelo agente
público constitui, por si só, um novo crime, haverá Sujeito ativo: somente o funcionário público
concurso formal ou material (a depender do caso incumbido de impedir a prática do contrabando ou
concreto) entre a corrupção passiva e a infração dela descaminho poderá pratica-lo (delito próprio).
resultante, como por exemplo, violação de sigilo funcional.
 Caso não tenha essa atribuição funcional,
 Nessa hipótese, no entanto, a corrupção deixa de responderá pelo delito de descaminho ou pelo de
ser majorada, pois, do contrário, estaríamos no campo do contrabando (art. 334 ou 334-A do CP), conforme o caso,
bis in idem, considerando o mesmo fato duas vezes em na condição de partícipe.
prejuízo do funcionário réu.
ATENÇÃO! Competência federal: por se tratar de
 Corrupção passiva privilegiada (§ 2°): será crime praticado em detrimento dos interesses da União, o
privilegiado o crime se o agente pratica, deixa de praticar processo e o julgamento competem à Justiça Federal,
ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, ainda que o funcionário criminoso seja estadual.
cedendo a pedido, pressão ou influência de outrem (art.
317, § 2°, do CP), não percebendo qualquer vantagem Sujeito passivo: será a Administração Pública.
indevida.
Conduta: a conduta criminosa consiste em facilitar,
Corrupção ativa e corrupção passiva – por ação ou omissão, o contrabando (entrada ou saída do
dependência e independência: país de mercadorias proibidas) ou o descaminho (fraude
empregada para elidir o pagamento de impostos de
Corrupção ativa importação, exportação ou consumo).
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida
a funcionário público, para determiná-lo a praticar, Tipo subjetivo: é o dolo, ou seja, vontade de
omitir ou retardar ato de ofício: facilitar o contrabando ou o descaminho, consciente de
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e estar infringindo o dever funcional. Não há modalidade
multa. culposa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço,
se, em razão da vantagem ou promessa, o Consumação e tentativa: consuma-se o crime
funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o com a efetiva facilitação, ciente o agente de estar
pratica infringindo dever funcional. infringindo o seu dever funcional, pouco importando se
completou ou não o contrabando ou o descaminho (crime
Questiona-se a possibilidade da existência de formal ou de consumação antecipada).
corrupção ativa sem a ocorrência simultânea da corrupção
passiva. A resposta a esta indagação depende da análise  A tentativa é possível quando o crime for
dos núcleos dos tipos penais de ambos os crimes. A praticado de forma comissiva.
corrupção ativa possui dois verbos: “oferecer” e
“prometer”. De outro lado, a corrupção passiva contém Prevaricação
três verbos: “solicitar”, “receber” e “aceitar” promessa.
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar,
Com a comparação dos arts. 333, caput, e 317, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
caput, conclui-se pela possibilidade de corrupção ativa, disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
independentemente da corrupção passiva, em seus dois sentimento pessoal:
núcleos, pois o particular pode oferecer ou prometer
vantagem indevida ao funcionário público, sem que este
aceite tanto a proposta como a promessa. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Facilitação de contrabando ou descaminho Objetividade jurídica: tutela-se a Administração


Pública contra os comportamentos de funcionários
desidiosos.

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Sujeito ativo: o presente crime só pode ser
cometido por funcionário público (art. 327 do CP). Admite- Sujeito ativo: o sujeito ativo não poderá ser
se a participação de terceiro, desde que conhecedor da qualquer funcionário público, mas aquele que, no exercício
condição funcional do agente público (art. 30 do CP). das suas funções, tem o dever de evitar o acesso do preso
aos aparelhos de comunicação proibidos.
Sujeito passivo: será o ente público, atingido com
a conduta irregular do funcionário, podendo ofender, ATENÇÃO: o preso surpreendido com o aparelho,
ainda, interesses de particulares. em princípio, pratica falta grave, estando sujeito a sanção
disciplinar (art. 50, inc. VII, da LEP). O particular que
Conduta: a prevaricação consiste no fato do fornece o aparelho para o preso comete o crime do art.
funcionário se afastar do sentido de finalidade pública que 349-A do CP.
deve ser sua atividade, para ter a sua ação voltada para o
seu interesse, que lhe pareça condizente com sentimento Sujeito passivo: será o Estado e,
pessoal. secundariamente, a sociedade.

 Três são as formas de praticar o crime de Conduta: o crime é omissivo puro e consiste em
prevaricação: retardando (atrasar, procrastinar) ato de deixar (omitir, não cumprir) o agente seu dever funcional
ofício; deixando de praticá-lo (omissão); e, por fim, de vedar (proibir, impedir) ao preso o acesso (o alcance)
praticando-o de forma ilegal. Em qualquer caso, porém, é a aparelho que possibilite a comunicação com outros
necessário que o ato retardado, omitido ou praticado se presos (do mesmo estabelecimento ou não) ou com o
revele contra disposição expressa de lei (norma penal em ambiente externo (qualquer pessoa situada fora do
branco). ambiente carcerário).

Tipo subjetivo: caracteriza-se o tipo subjetivo pelo Tipo subjetivo: caracteriza-se pelo dolo do agente,
dolo do agente, ou seja, vontade consciente de retardar, vontade consciente de não vedar, quando obrigado
omitir ou praticar ilegalmente ato de ofício, acrescido do (dever), o acesso do preso ao aparelho de comunicação.
intuito de satisfazer interesse ou sentimento pessoal Não se exige qualquer finalidade especifica por parte do
(elemento subjetivo do tipo), colocando o seu interesse agente.
particular acima do interesse público.
ATENÇÃO! A forma culposa, apesar de ser um
Consumação e tentativa: consuma-se o crime indiferente penal, pode acarretar responsabilidade
com o retardamento, a omissão ou a prática do ato, sendo administrativa ou civil.
dispensável a satisfação do interesse visado pelo servidor.
Consumação e tentativa: o crime se consuma
 A tentativa é possível apenas nas formas com a omissão do dever legal, sendo dispensável o efetivo
comissivas, hipótese em que o delito permite o acesso do preso ao aparelho de comunicação.
fracionamento da sua execução.
 A tentativa não é admitida, pois se trata de crime
ATENÇÃO! Prevaricação x Corrupção passiva omissivo puro (de mera conduta).
privilegiada – A prevaricação não se confunde com a
corrupção passiva privilegiada (§ 2º do art. 317). Na
Condescendência criminosa
corrupção passiva privilegiada, o funcionário atende a
pedido ou influência de outrem. Na prevaricação não há
tal pedido ou influência. O agente busca satisfazer Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de
interesse ou sentimento pessoal. responsabilizar subordinado que cometeu infração no
exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não
levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
(Prevaricação imprópria)
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou multa.
agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o Objetividade jurídica: tutela-se o regular
ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007). andamento das atividades administrativas.

Sujeito ativo: sujeito ativo do delito é o funcionário


Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
público hierarquicamente superior ao servidor infrator.

 Como o legislador não conferiu título ao tipo penal, Sujeito passivo: É o Estado ou, mais
coube à doutrina a tarefa de etiquetá-lo, chamando-o de especificamente, a Administração Pública, afetada com a
prevaricação imprópria. conduta imoral do seu funcionário.

Objetividade jurídica: protege-se a administração Conduta: a conduta criminosa punível é a de tolerar


pública contra comportamentos de funcionários que, o funcionário público a prática, por parte de seu
ignorando o seu dever funcional, colocam em risco a subordinado, de infração administrativa ou penal, no
segurança interna e externa (da sociedade em geral) aos exercício do cargo, deixando de responsabilizá-lo ou,
presídios, não vedando o acesso dos presos a aparelhos faltando-lhe tal atribuição, não comunicando a violação à
de comunicação. autoridade competente para aplicar a sanção.

| 112 |
IMPORTANTE: Não importa o fato de ser lícito ou
 Se o superior hierárquico se omite por sentimento ilícito o interesse apadrinhado pelo funcionário,
outro que não indulgência, espírito de tolerância ou configurando-se, em qualquer uma das hipóteses, o crime
concordância, o crime poderá ser outro, como, por em tela. Aliás, se o interesse visado for ilegítimo, incidirá
exemplo, prevaricação ou corrupção passiva. a qualificadora do parágrafo único.

Tipo subjetivo: é o dolo, entendido como a Tipo subjetivo: pune-se apenas a conduta dolosa
vontade consciente do superior de não responsabilizar o do agente em patrocinar interesse privado alheio perante
seu funcionário subordinado – ou, faltando-lhe tal a Administração Pública.
atribuição, não comunicar o fato à autoridade competente
-, movido pelo sentimento de indulgência Consumação e tentativa: consuma-se com a
(condescendência para com o subordinado infrator). prática de ato revelador do patrocínio que ofenda a
moralidade administrativa. Independe da obtenção de
 Exige-se que o agente tenha conhecimento não qualquer vantagem. A doutrina admite a tentativa.
apenas da infração ocorrida, mas também da sua autoria.
 Caso o interesse seja “próprio” do funcionário,
Consumação e tentativa: o crime se consuma no não estará configurado o delito, podendo ocorrer mera
momento em que o funcionário superior, depois de tomar infração funcional.
conhecimento da infração, deixa correr o prazo legalmente
previsto para a tomada de providências contra o Violência arbitrária
subordinado infrator.

Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função


Advocacia administrativa ou a pretexto de exercê-la:

Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
interesse privado perante a administração pública, pena correspondente à violência.
valendo-se da qualidade de funcionário:

Revogação: Prevalece, em doutrina, o


Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
entendimento no sentido de que o crime em análise foi
tacitamente revogado pela Lei 4.898/1965 – Crimes de
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Abuso de Autoridade.

Pena - detenção, de três meses a um ano, além da Abandono de função


multa.
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos
Objetividade jurídica: tutela-se a moralidade permitidos em lei:
administrativa.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Sujeito ativo: sujeito ativo do delito é o funcionário
público na ampla definição do art. 327 do CP (crime
próprio). § 1º - Se do fato resulta prejuízo público:

 Admite-se o concurso de terceiro não qualificado, Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
na modalidade de coautoria ou participação, desde que
conhecedor da condição funcional do agente público (art. § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na
30 do CP). faixa de fronteira:

Sujeito passivo: será a Administração Pública.


Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Conduta: a conduta típica é patrocinar o agente,
direta ou indiretamente, ainda que não no exercício do Objetividade jurídica: tutela-se o regular
cargo, emprego ou função, mas valendo-se da sua desenvolvimento das atividades administrativas, punindo-
qualidade de funcionário, interesse privado perante a se a interrupção do trabalho do servidor público que
Administração Pública. abandona suas atividades, fora dos casos permitidos em
lei.
 Patrocinar significa defender, pleitear, interferir
junto a companheiros ou superiores hierárquicos o Sujeito ativo: embora o nomen juris do dispositivo
interesse particular. em estudo seja abandono de função, entende a doutrina
que somente o funcionário ocupante de cargo público pode
ATENÇÃO! Para que se configure este delito, não cometer o crime, não prevalecendo a regra ampla do art.
basta que o agente ostente a condição de funcionário 327 do CP.
público, mas é necessário e indispensável que pratique a
ação aproveitando-se das facilidades que sua qualidade de Sujeito passivo: será a Administração Pública.
funcionário lhe proporciona.
Conduta: visando não deixar paralisada a máquina
administrativa, pune o legislador a conduta daquele que

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deixa o cargo público, por prazo juridicamente relevante, Tipo subjetivo: é o dolo do agente de exercer
de forma a acarretar probabilidade de dano à função pública, sabendo que está impedido para tanto.
administração. Não se exige qualquer finalidade específica por parte do
agente. Não se pune a conduta culposa, podendo ser esta
 É a conduta equivalente à deserção do direito tida como ilícito administrativo, apenas.
militar.
Consumação e tentativa: consuma-se com a
Tipo subjetivo: pune-se apenas a forma dolosa, prática, pelo agente, de qualquer atividade que só poderia
consistente na vontade do agente de abandonar o cargo, ser praticada por quem estivesse regularmente investido
interrompendo o serviço desempenhado. em função pública, situação de que ele sabe não desfrutar.
A tentativa é perfeitamente admitida na hipótese em que
Consumação e tentativa: o delito se consuma o agente é impedido de praticar atos que configurem o
com a ausência injustificada do agente por tempo tipo penal.
suficiente para criar a possibilidade concreta (real e
efetiva) de dano para a Administração Pública. Desta
Violação de sigilo funcional
forma, o crime continuará existindo mesmo que esteja
presente um substituto que possa intervir imediatamente.
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão
 Por tratar-se de crime omissivo próprio, a do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-
tentativa não é admitida. lhe a revelação:

Formas qualificadas (§ 1° e 2°): se do abandono Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou
de função resultar prejuízo, será o agente apenado com multa, se o fato não constitui crime mais grave.
detenção, de 3 meses a I ano e multa. Se o fato ocorrer
em faixa de fronteira, o abandono de função será apenado § 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
com detenção, de 1 a 3 anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

Exercício funcional ilegalmente antecipado ou I – permite ou facilita, mediante atribuição,


prolongado fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de
Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes informações ou banco de dados da Administração Pública;
de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-
la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
exonerado, removido, substituído ou suspenso:
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou Administração Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei nº
multa. 9.983, de 2000)

Objetividade jurídica: tutela-se o regular Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
desenvolvimento das atividades administrativas.
Objetividade jurídica: tutela-se o sigilo das
Sujeito ativo: será o funcionário público que informações inerentes à Administração Pública.
antecipa ou prolonga o exercício de suas funções.
Sujeito ativo: o delito é praticado pelo funcionário
ATENÇÃO: é exatamente a qualidade do agente – público, na ampla acepção conferida pelo art. 327 do CP.
funcionário público - que distingue este crime daquele
previsto no art. 328 do CP (usurpação de função pública),  Predomina na doutrina a lição de que mesmo o
cometido por particular inteiramente alheio à função funcionário aposentado ou afastado da sua função pode
pública. cometer o crime, pois não se desvincula totalmente dos
deveres para com a Administração Pública.
Sujeito passivo: será o Estado.
Sujeito passivo: é o ente público que teve o seu
Conduta: a primeira conduta punível se segredo revelado e, eventualmente, o particular lesado
consubstancia em antecipar-se o agente no exercício de pela revelação do segredo.
função pública, deixando de observar, por completo, as
exigências legais (diplomação, posse, inspeção médica Conduta: o tipo descrito no caput traz dois núcleos:
etc.). Na segunda modalidade, o agente prolonga o revelar ou facilitar a revelação de segredo que sabia em
exercício da função pública, mesmo depois de dela razão do cargo ou função que exerce, isto é, deve estar
exonerado, removido, substituído ou suspenso. entre as suas atribuições o conhecimento do fato secreto.
 Trata-se, aqui, de decisão tomada na órbita  Se a ciência do segredo não se der em razão do
administrativa, pois, se judicial, o crime é o do art. 359 do cargo público ou função que exerce, poderá haver outro
Código Penal (Desobediência a decisão judicial sobre crime (Violação de segredo profissional - art. 154, CP).
perda ou suspensão de direito).

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ATENÇÃO! Em juízo, o servidor público que estiver Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os
na qualidade de testemunha pode escusar-se de depor efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem
para resguardar segredo inerente ao seu cargo. remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

Tipo subjetivo: consiste no dolo de transmitir a § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce
outrem informação sigilosa que o funcionário público cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e
obteve em razão do cargo. Não se admite a modalidade quem trabalha para empresa prestadora de serviço
culposa. contratada ou conveniada para a execução de atividade
típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº
Consumação e tentativa: consuma-se no 9.983, de 2000)
momento em que terceiro não autorizado conhecer do
segredo. A tentativa mostra-se impossível na revelação
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando
oral, cuja execução não pode ser fracionada em diversos
os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem
atos, porém, o mesmo não acontece com a escrita.
ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção
ou assessoramento de órgão da administração direta,
 Trata-se de crime formal, cuja caracterização
sociedade de economia mista, empresa pública ou
independe da ocorrência do prejuízo, bastando a
fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei
potencialidade de dano
nº 6.799, de 1980)
Figuras equiparadas (§ 1°): é punido com as
mesmas penas do caput quem permite ou facilita, O Código Penal, ao considerar o que seja funcionário
mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha público para fins penais, preceitua conceito diverso do
ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não Direito Administrativo, tomando a expressão no sentido
autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados mais amplo. Assim, para os efeitos penais, considera-se
da Administração Pública (inciso I), ou se utiliza, funcionário público não apenas o servidor legalmente
indevidamente, do acesso restrito a tais informações investido em cargo público, mas também o que exerce
(inciso II). emprego público, ou, de qualquer modo, uma função
pública, ainda que de forma transitória, v.g., o jurado, os
Procurou o legislador, desse modo, proteger a mesários eleitorais etc.
regularidade da Administração Pública no que se refere ao
sigilo que deve existir quanto aos dados de sistema de Titulares de Cartórios - Os titulares de cartórios
informação ou banco de dados dos serviços públicos. de notas e de registro são considerados servidores
públicos para fins penais, pois, por meio de concurso
 Nesta hipótese, o sujeito ativo é o funcionário público, recebem delegação do poder público para atuação
público que opera o sistema ou banco de dados da na esfera cartorária.
Administração Pública. Sujeito passivo é o Estado.
 O mesmo não ocorre com os funcionários dos
Forma qualificada (§ 2°): será qualificado o crime respectivos cartórios, que são contratados livremente e
se a conduta descrita no caput, ou no § 1° (formas não ocupam cargo público, ainda que se sujeitem, em
equiparadas), causar dano à Administração ou a outrem. certos aspectos, à legislação que regula a organização
Importante ressaltar que o resultado que seria mero judiciária
exaurimento do crime tornou-se uma figura criminosa
mais gravosa. ATENÇÃO! Não se inclui no conceito a pessoa que
recebe encargo público (munus publicum), hipótese esta
ATENÇÃO! Aplicando-se o princípio da não abrangida pela expressão "funcionário público". São
especialidade, a violação de sigilo funcional envolvendo exemplos os tutores ou curadores nomeados pelo juiz, os
certames de interesse público não caracteriza o crime do inventariantes judiciais.
art. 325, mas sim o do art. 311-A do CP.
Equiparado a funcionário público - O § 1º do art.
327 traz hipóteses de equiparação ao funcionário público.
Nos termos deste dispositivo, são equiparados ao
Violação do sigilo de proposta de concorrência
funcionário público, para efeitos penais, quem exerce
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal
Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de (autarquia, sociedades de economia mista, empresas
concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo públicas e fundações instituídas pelo Poder Público), bem
de devassá-lo: como quem trabalha para empresa prestadora de serviço
contratada (concessionárias ou permissionárias de serviço
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. público) ou conveniada para a execução de atividade típica
da Administração Pública, v.g., Santa Casa de
Misericórdia.
Revogação: O art. 326 do Código Penal foi
tacitamente revogado pelo art. 94 da Lei 8.666/1993 – Lei
ATENÇÃO! O conceito de funcionário público, para
de Licitações.
efeitos penais, abrange, por equiparação, aqueles que
trabalham nas empresas prestadoras de serviços
Funcionário público contratadas ou conveniadas.

Serviço atípico - Tal equiparação não abrange,


contudo, os funcionários atuantes em empresa contratada

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para prestar serviço atípico para a Administração Pública  O terceiro beneficiado que recebe a vantagem,
como, v.g., uma empresa contratada para funcionar num concorrendo para a usurpação, responderá como partícipe
cerimonial de recepção a um chefe de governo do crime.
estrangeiro.
Resistência
Causa de aumento de pena - No § 2° vem
descrita uma causa de aumento de pena aplicável quando
os autores dos crimes previstos neste capítulo forem Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante
ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção violência ou ameaça a funcionário competente para
ou assessoramento de órgão da administração direta, executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
sociedade de economia mista, empresa pública ou
fundação instituída pelo poder público (não incluindo a Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
autarquia).
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se
executa:
CAPÍTULO II
DOS CRIMES PRATICADOS POR Pena - reclusão, de um a três anos.
PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM
GERAL
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem
prejuízo das correspondentes à violência.
Usurpação de função pública

Objetividade jurídica: tutela-se a preservação do


Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:
prestígio e da autoridade inerentes às atividades
desempenhadas pelos funcionários da Administração
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere
vantagem: ATENÇÃO: o sujeito ativo pode ser pessoa alheia à
execução do ato legal. Exemplo: pai que procura resistir à
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. prisão legítima do filho mediante violência ou ameaça.
Sujeito passivo: a vítima direta e principal será o
Objetividade jurídica: tutela-se o normal e Estado. Secundariamente, também será vítima o
regular funcionamento das atividades administrativas. funcionário público agredido ou ameaçado pela resistência
e também, ainda, eventual particular que o auxilie.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum),
inclusive o servidor público, desde que a função usurpada ATENÇÃO: o emprego de violência ou ameaça
não esteja entre as atribuições do cargo que ocupa. contra dois ou mais servidores não desnatura a unidade
do crime, devendo tal circunstância, porém, ser aquilatada
Sujeito passivo: será a Administração Pública. na fixação da pena-base.
Também poderá ser vítima eventual particular prejudicado
pela ação criminosa do agente. Conduta: a conduta se consubstancia em se opor,
positivamente, à execução de ato legal, mediante
Conduta: pune-se a conduta de usurpar (assumir, violência (emprego de força física) ou ameaça
exercer ou desempenhar indevidamente) uma atividade (constrangimento moral, não necessariamente grave),
pública, de natureza civil ou militar, gratuita ou contra a pessoa do funcionário executor ou terceiro que o
remunerada, permanente ou temporária, executando atos auxilia, representantes da força pública.
inerentes ao ofício arbitrariamente ocupado.
ATENÇÃO: A oposição deve ser positiva, não se
 Note-se que a conduta daquele que simples e considerando crime a "resistência passiva", destituída de
falsamente se intitula funcionário público perante qualquer conduta agressiva por parte do agente (ex.: a
terceiros, sem, no entanto, praticar atos inerentes ao fuga, recusa em fornecer nome ou abrir portas,
ofício (sem intromissão no aparelhamento estatal), não se xingamentos), podendo configurar, conforme o caso,
ajusta ao disposto no art. 328 do CP. crime de desobediência (art. 330) ou desacato (art. 331).
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na consciente Tipo subjetivo: é o dolo de opor-se a execução de
vontade de desempenhar o agente, ilegitimamente, uma ato legal.
função pública, pouco importando, em princípio, o motivo
da usurpação. Consumação e tentativa: consuma-se com o ato
(ação) que caracterize a oposição, sendo esta contra a
Consumação e tentativa: consuma-se o delito pessoa do funcionário executor ou terceiro que o auxilia.
com a prática de ato exclusivo, que só pode ser praticado Não basta que o agente se agarre a um poste, por
por pessoa legalmente investida no ofício usurpado. exemplo. Trata-se de crime formal.
Qualificadora (parágrafo único): se do fato o Forma qualificada (§ 1º): o sucesso do opositor
agente aufere, para si ou para terceiro, vantagem (não só (frustração da realização do ato), que seria mero
as patrimoniais), a pena será majorada, nos termos do exaurimento do delito, redunda em pena qualificada.
parágrafo único.
A tentativa é admitida, como, por exemplo, no caso
de ameaça feita por escrito, caso em que este não chega

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ao conhecimento do funcionário público destinatário dos dela. Pode o crime ser praticado por ação (ex.:
dizeres ameaçadores. xingamento) ou omissão (ex.: não responder a
cumprimento).
Concurso de crimes (§ 2°): em razão do disposto
no § 2°, as penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo ATENÇÃO: deve ser ressaltado ser pressuposto do
das correspondentes à violência (lesão corporal ou crime que a ofensa seja praticada na presença do servidor
homicídio). vítima, isto é, que o ofendido esteja no local do ultraje,
vendo, ouvindo ou de qualquer outro modo tomando
conhecimento direto do que foi dito. Assim, deixa de haver
Desobediência
desacato, mas apenas delito contra a honra o insulto por
telefone, pela imprensa, ou por escrito, etc.
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário
público: Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
deliberada de desprestigiar a função exercida pelo sujeito
passivo.
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e
multa. Consumação e tentativa: consuma-se no
momento em que o funcionário público toma
conhecimento (direto) do ato humilhante e ofensivo.
Objetividade jurídica: tutela-se a preservação do
prestígio e da autoridade inerentes às atividades Pouco importa se o funcionário público efetivamente
desempenhadas pelos funcionários da Administração se sentiu menosprezado ou se agiu com indiferença (crime
Pública. formal).
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). Sendo indispensável a presença da vítima no
momento da ofensa, entende parcela da doutrina
 Entende a maioria da doutrina que o servidor
impossível a tentativa.
público desde que a ordem recebida não se refira a
funções suas, pois, em tal hipótese, poderá configurar o
delito de prevaricação. Tráfico de Influência (Redação dada pela Lei nº
9.127, de 1995)
Sujeito passivo: o Estado, desprestigiado na sua
autoridade, e secundariamente, o funcionário autor da
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si
ordem desobedecida.
ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a
Conduta: pune-se a conduta do agente que pretexto de influir em ato praticado por funcionário público
deliberadamente desobedece (descumpre, não atende) a no exercício da função: (Redação dada pela Lei nº 9.127,
ordem legal de funcionário público competente para de 1995)
cumpri-la (é a resistência pacífica).
Tipo subjetivo: é o dolo, que consiste na vontade Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
consciente de não atender a ordem legal emanada de multa. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995)
funcionário público.
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade,
Consumação e tentativa: consuma-se com a
se o agente alega ou insinua que a vantagem é também
desobediência da ordem legal.
destinada ao funcionário. (Redação dada pela Lei nº
9.127, de 1995)
Desacato

Objetividade jurídica: tutela-se a Administração


Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício
Pública, especialmente seu bom nome (prestígio).
da função ou em razão dela:
Protege-se também, ainda que indiretamente, o
patrimônio do particular enganado pelo agente.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou
multa. Sujeito ativo: o crime é comum, isto é, qualquer
pessoa poderá figurar como sujeito ativo, até mesmo
funcionário público.
Objetividade jurídica: tutela-se o respeito (e
prestígio) da função pública, assegurando, por Sujeito passivo: sujeito passivo será,
conseguinte, o regular andamento das atividades primeiramente, o Estado. Figura também neste polo, de
administrativas. modo secundário (mediato) aquele que paga pela suposta
mediação (corruptor putativo).
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Conduta: o tipo traz quatro núcleos: solicitar,
Sujeito passivo: será o Estado e, exigir, cobrar ou obter vantagem ou promessa de
secundariamente, o servidor ofendido, vez que a ofensa vantagem (para si ou para outrem). O sujeito ativo pratica
macula sua honra profissional. tais verbos simulando ter poder de influência sobre ato de
funcionário público.
ATENÇÃO: será vítima somente o funcionário
público, assim definido no caput do art. 327 do CP, não Tipo subjetivo: é o dolo de praticar um dos núcleos
abrangendo o equiparado. do tipo, não se exigindo qualquer finalidade específica.
Conduta: a conduta punida é de desacatar Consumação e tentativa: em razão das diversas
funcionário público, no exercício da função ou em razão ações nucleares previstas no tipo, o momento

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consumativo pode variar. Nas modalidades solicitar, exigir Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
c cobrar, a consumação ocorre com a prática de qualquer de praticar um dos núcleos do tipo (oferecer ou prometer
uma delas, independentemente da obtenção da vantagem vantagem indevida), aliado ao fim especial de conseguir
(crime formal). Já na modalidade obter, é necessário que do servidor a prática, omissão ou retardamento do ato de
o agente aufira efetivamente a vantagem (crime ofício (elemento subjetivo).
material). No entanto, esta última modalidade será de
Consumação e tentativa: o crime se consuma no
difícil configuração, vez que, ao conseguir a vantagem,
momento em que o funcionário público toma
deverá o agente tê-la solicitado, exigido ou cobrado, ainda
conhecimento da oferta ou sua promessa, ainda que a
que implicitamente.
recuse (crime formal). A tentativa é admitida na forma
Teoricamente admite-se a tentativa, em especial na escrita.
forma escrita, caso em que o iter comporta fracionamento.
Causa de aumento de pena (parágrafo único):
Causa de aumento de pena (parágrafo único): a pena será aumentada de 1/3 se o servidor corrupto
caso o agente, além de toda a fraude empregada, alega realiza a pretensão do corruptor. No entanto, somente
que a vantagem também se destina ao funcionário incidirá a majorante se o ato praticado possuir natureza
público, será aquele merecedor de pena majorada, visto ilícita. Se o funcionário público pratica o ato de acordo com
que o bem jurídico tutelado no tipo, qual seja, o prestigio seu dever funcional, o agente será punido somente pela
da Administração Pública, é mais gravemente afetado. conduta prevista no caput.

Descaminho
Corrupção ativa
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou
a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir pelo consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº
ou retardar ato de ofício: 13.008, de 26.6.2014)

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)


multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço,


§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário
dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo
dever funcional.
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
permitidos em lei; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
Objetividade jurídica: tutela-se a probidade 26.6.2014)
administrativa.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). II - pratica fato assimilado, em lei especial, a
descaminho; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
Sujeito passivo: será o Estado.
26.6.2014)
Conduta: Trata-se de crime de ação múltipla,
composto de dois núcleos alternativos: oferecer III - vende, expõe à venda, mantém em depósito
(apresentar) ou prometer (obrigar-se a dar) a funcionário ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
público vantagem indevida, com o fim de ver retardado ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
omitido ou praticado ato funcional. mercadoria de procedência estrangeira que introduziu
ATENÇÃO: conclui-se pela locução "determiná-lo" clandestinamente no País ou importou fraudulentamente
que o particular não é alcançado pela figura típica quando ou que sabe ser produto de introdução clandestina no
ofereça ou prometa vantagem, ou a entregue território nacional ou de importação fraudulenta por parte
efetivamente, ao funcionário, depois de ter ele praticado de outrem; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
o desejado ato. Ao contrário do que acontece no art. 317 26.6.2014)
do CP, pune-se somente a corrupção ativa antecedente,
mas não a subsequente. IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
 O ato de corrupção pode ser praticado de forma
industrial, mercadoria de procedência estrangeira,
escrita, oral ou mesmo por gestos.
desacompanhada de documentação legal ou
IMPORTANTE: A existência da corrupção ativa acompanhada de documentos que sabe serem
independe da passiva, isto é, a bilateralidade não é falsos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
requisito indispensável podendo apresentar-se de maneira
unilateral (só a ativa ou só a passiva). § 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os
ATENÇÃO: o particular só responderá por corrupção efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular
ativa se este oferecer ou prometer vantagem indevida. A ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o
simples entrega de vantagem ilícita SOLICITADA por exercido em residências. (Redação dada pela Lei nº
funcionário público não configura crime. Nestes casos, o 13.008, de 26.6.2014)
particular será vítima secundária de corrupção passiva
(art. 317 do CP).

| 118 |
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito
descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
fluvial. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria proibida pela lei brasileira; (Incluído pela Lei
nº 13.008, de 26.6.2014)
Objetividade jurídica: tutela-se a Administração
Pública, mais especificamente o erário público.
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
 O funcionário público encarregado da prevenção industrial, mercadoria proibida pela lei
(ou repressão) do contrabando que auxilia o autor deste brasileira. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)§
delito não será tratado como concorrente do art. 334-A, 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos
mas sim como autor do delito previsto no art. 318 do deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou
Código Penal (facilitação de contrabando ou descaminho). clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o
exercido em residências. (Incluído pela Lei nº 4.729, de
Sujeito passivo: será o Estado, titular do bem 14.7.1965)
penalmente protegido.
Conduta: o agente busca iludir, mediante artifício, § 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de
ardil ou qualquer outro meio fraudulento, o pagamento de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo
direito ou imposto devido em face da entrada ou saída da ou fluvial. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
mercadoria não proibida.
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade Objetividade jurídica: tutela-se a Administração
de praticar a ação nuclear típica. Pública, mais especificamente seu bem estar econômico
(erário público).
Consumação e tentativa: o descaminho se
aperfeiçoa com a liberação pela alfândega, sem o Sujeito ativo: sujeito ativo poderá ser qualquer
pagamento dos impostos inerentes. pessoa (crime comum).
Formas equiparadas: estão enumeradas no § 1º  O funcionário público encarregado da prevenção
do dispositivo. (ou repressão) do contrabando que auxilia o autor deste
delito não será tratado como concorrente do art. 334-A,
Cláusula de equiparação (§ 2°): nos termos do
mas sim como autor do delito previsto no art. 318 do
disposto no § 2°, equipara-se às atividades comerciais,
Código Penal (facilitação de contrabando ou descaminho).
para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, Sujeito passivo: sujeito passivo será o Estado,
inclusive o exercido em residências. titular do interesse penalmente protegido, logo, real
prejudicado pelas condutas criminosas.
Causa de aumento de pena (§ 3º): o § 3° dispõe
sobre a causa de aumento de pena para as hipóteses em Conduta: o tipo pune o contrabando, isto é, a
que o descaminho é praticado com a utilização transporte clandestina importação ou exportação de mercadorias
aéreo, marítimo ou fluvial. cuja entrada no país, ou saída dele, é absoluta ou
relativamente proibida.
Contrabando Na execução do contrabando, o agente, por
qualquer meio, importa ou exporta mercadoria (coisa
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria móvel), absoluta ou relativamente proibida (o que não
proibida: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) abrange produtos de importação temporariamente
suspensa).

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) Estamos diante de uma norma penal em branco,
anos. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) cumprindo à legislação especial (extrapenal)
complementá-la apontando as mercadorias relativa ou
absolutamente proibidas de entrar ou sair do nosso país.
§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela
Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
de praticar uma das ações nucleares do tipo.
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a Consumação e tentativa: na importação ou
contrabando; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) exportação de mercadoria proibida com passagem pelos
órgãos alfandegários, o delito se consuma quando
II - importa ou exporta clandestinamente transposta a barreira fiscal (liberada pela autoridade
mercadoria que dependa de registro, análise ou competente), mesmo que a mercadoria não tenha
autorização de órgão público competente; (Incluído pela chegado ao seu destino.
Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Já na hipótese de ingressar ou sair por meios
ocultos (clandestinos), a consumação depende da
III - reinsere no território nacional mercadoria transposição das fronteiras do país. Se vier por navio, é
brasileira destinada à exportação; (Incluído pela Lei nº necessário que este atraque em território nacional. De
13.008, de 26.6.2014) igual maneira, se transportada a mercadoria por avião,
exige-se o pouso.

| 119 |
Formas equiparadas (§ 1°): o§ 1º prevê fatos leitura) edital (judicial, administrativo ou legislativo)
assimilados a contrabando. afixado por ordem de funcionário público.
Cláusula de equiparação (§ 2°): equipara-se às Na segunda parte do tipo penal, tem-se a conduta
atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, de violar (romper, ainda que sem violência à coisa) ou
qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de inutilizar (tornar inválido) selo ou sinal empregado, por
mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em determinação legal ou por ordem de funcionário público,
residências. para identificar ou cerrar qualquer objeto.
Desse modo, com a ampliação trazida pelo Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
parágrafo em comento, podem praticar as figuras do agente em praticar uma das condutas descritas no tipo,
equiparadas os camelôs ou comerciantes de "fundo de ciente de que age sobre edital, selo ou sinal emanado de
quintal", por exemplo. funcionário público. Para a maioria, é indiferente o fim
buscado pelo agente.
Causa de aumento da pena (§ 3º): aplica-se em
dobro a pena se o crime de contrabando é praticado em Consumação e tentativa: consuma-se com a
transporte aéreo, marítimo ou fluvial. prática de qualquer uma das ações mencionadas no tipo,
ainda que o dano ao objeto material seja apenas parcial.
A tentativa é admitida.
Impedimento, perturbação ou fraude de
concorrência
Subtração ou inutilização de livro ou
Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar documento
concorrência pública ou venda em hasta pública,
promovida pela administração federal, estadual ou Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou
municipal, ou por entidade paraestatal; afastar ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento
procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou
violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de de particular em serviço público:
vantagem:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou constitui crime mais grave.
multa, além da pena correspondente à violência.

Objetividade jurídica: tutela-se o regular


Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se andamento das atividades administrativas.
abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem
oferecida. Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Sujeito passivo: será o Estado. Terceiro também
As condutas mencionadas no dispositivo passaram pode ser vítima.
a figurar como infrações penais previstas na Lei 8.666, de Conduta: o tipo descreve duas condutas: subtrair
21.06.1993, que institui normas para as licitações e ou inutilizar (total ou parcialmente) livro oficial, processo
contratos da administração pública (arts. 89 a 98). ou documento. O tipo em estudo é subsidiário.
Revogado está, portanto, o art. 335, caput, do Código
Penal. Tipo subjetivo: pune-se o crime somente a título
de dolo, consistente na vontade de subtrair ou inutilizar
livro oficial, processo ou documento, ciente de que tais
Inutilização de edital ou de sinal
objetos estão confiados à custódia de funcionário, em
razão de ofício, ou de particular em serviço público.
Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar
ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário Consumação e tentativa: a doutrina é divergente
público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por a respeito do momento consumativo.
determinação legal ou por ordem de funcionário público, Para uns, a consumação ocorre com a subtração
para identificar ou cerrar qualquer objeto: (posse mansa e pacífica do objeto, ainda que por breve
espaço de tempo) ou inutilização (ainda que parcial) de
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. livro, processo ou documento oficial, independentemente
da superveniência de qualquer resultado danoso à
administração. Para outros, além da conduta, o dano à
Objetividade jurídica: tutela-se a Administração regularidade administrativa é imprescindível.
Pública, para que esta possa desenvolver suas atividades
regularmente. Trata-se de crime plurissubsistente, que,
comportando fracionamento da conduta, permite a
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). tentativa.
Sujeito passivo: será o Estado e,
secundariamente, o particular prejudicado pela conduta Sonegação de contribuição
do agente. previdenciária (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Conduta: o tipo é dividido em duas panes. Na
primeira, tem-se a conduta de rasgar (retalhar, ainda que Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social
parcialmente), inutilizar (tornar inválido, mesmo que não previdenciária e qualquer acessório, mediante as
totalmente) ou conspurcar (sujar, sem impossibilitar a seguintes condutas: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

| 120 |
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou Conduta: pune-se, no presente artigo, a conduta
de documento de informações previsto pela legislação de suprimir (eliminar, deixar de pagar) ou reduzir
previdenciária segurados empregado, empresário, (diminuir, recolher menos de que é devido) contribuição
trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este previdenciária ou qualquer acessório.
equiparado que lhe prestem serviços; (Incluído pela Lei nº
Tipo subjetivo: o tipo subjetivo se consubstancia
9.983, de 2000)
no dolo, consistente na vontade consciente de não incluir
dados necessários nos lançamentos previstos visando à
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos sonegação de contribuições ou acessórios devidos.
próprios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo Não há previsão de modalidade culposa, ficando a
empregador ou pelo tomador de serviços; (Incluído pela negligência sujeita às penalidades administrativas.
Lei nº 9.983, de 2000) Consumação e tentativa: consuma-se com a
supressão ou redução (ainda que parcial) da contribuição
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou social. A doutrina classifica este delito como material, visto
lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e que é inerente à omissão praticada pelo agente o prejuízo
demais fatos geradores de contribuições sociais à Previdência Social.
previdenciárias: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Extinção da punibilidade (§ 1°): prevê o § 1º a
possibilidade de extinção da punibilidade se o agente,
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e espontaneamente, declara e confessa as contribuições,
multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) importâncias ou valores e presta as informações devidas
à previdência social, na forma definida em lei ou
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, regulamento, antes do início da ação fiscal.
espontaneamente, declara e confessa as contribuições,
importâncias ou valores e presta as informações devidas Crime privilegiado (§§ 3° e 4°): o § 3° traz a
à previdência social, na forma definida em lei ou possibilidade de diminuição da pena em um terço até a
regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela metade nos casos em que o empregador não é pessoa
Lei nº 9.983, de 2000) jurídica e sua folha de pagamento não ultrapasse R$
1.510,00, atualizáveis de acordo com o disposto no § 4°.

§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou


aplicar somente a de multa se o agente for primário e de
EXERCÍCIOS
bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº
9.983, de 2000)
01. (2017 - NC-UFPR – UFPR - Auxiliar em
Administração) Considere os seguintes situações:
I – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
I - Funcionário público simula viagem para receber
II – o valor das contribuições devidas, inclusive dinheiro referente a diárias.
acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela II - Empresário oferece valor em dinheiro a funcionário
previdência social, administrativamente, como sendo o público para obter velocidade na tramitação de processo
mínimo para o ajuizamento de suas execuções administrativo de seu interesse.
fiscais.(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
III - Secretário de Estado toma conhecimento de desvio
funcional de subordinado, mas não determina a apuração
§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua dos fatos por se tratar de seu amigo e aliado político.
folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00
(um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a Tais situações constituem, respectivamente, os crimes
pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de contra a Administração Pública de:
multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) a) corrupção passiva – corrupção ativa – favorecimento
pessoal.
§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior b) peculato – prevaricação – favorecimento pessoal.
será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices
do reajuste dos benefícios da previdência social. (Incluído c) condescendência criminosa – concussão – prevaricação.
pela Lei nº 9.983, de 2000) d) peculato – corrupção ativa – prevaricação.
e) condescendência criminosa – peculato – corrupção
Objetividade jurídica: o dispositivo em estudo, passiva.
acrescentado pela Lei 9.983/2000, tem por especial
finalidade proteger a fonte de custeio da previdência social
(art. 195 da CF). 02. (2017 - VUNESP - TJ-SP - Escrevente Técnico
Judiciário) Funcionário público municipal,
Sujeito ativo: só pode praticar este crime o imprudentemente, deixa a porta da repartição aberta ao
responsável pelo lançamento das informações nos final do expediente. Assim agindo, mesmo sem intenção,
documentos relacionados com os deveres e obrigações concorre para que outro funcionário público, que trabalha
para com a Previdência Social (crime próprio). no mesmo local, subtraia os computadores que
Sujeito passivo: será a Administração Pública, guarneciam o órgão público. O Município sofre
mais especificamente a Previdência Social. considerável prejuízo. A conduta do funcionário que
deixou a porta aberta traduz-se em

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a) peculato culposo. d) Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de
ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
b) fato atípico.
satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
c) prevaricação.
d) peculato-subtração.
07. (2017 – CONSULPLAN - TRF - 2ª REGIÃO -
e) mero ilícito funcional, sem repercussão na esfera penal. Técnico Judiciário) Considere as seguintes afirmativas
sobre o crime de Peculato.

03. (2016 – Pref. do Rio de Janeiro – RJ – Pref. do l. O peculato é um crime próprio quanto ao sujeito ativo.
Rio de Janeiro – RJ - Assistente Administrativo) Se II. A reparação do dano, quando precede à sentença
o funcionário público se apropria de bem móvel público de irrecorrível, reduz em metade a pena.
que tem a posse em razão do cargo, acaba por praticar o
III. O terceiro que participa do crime, sabendo da
seguinte crime:
qualidade de servidor do seu companheiro criminoso,
a) extravio também responde pelo crime de peculato.
b) concussão Estão corretas as afirmativas
c) patrocínio a) I, II e III.
d) peculato b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
04. (2016 – FCC - SEGEP-MA - Técnico da Receita d) II e III, apenas.
Estadual) Praticado o peculato culposo, fica extinta a
punibilidade do funcionário público que repara o dano
antes 08. (2016 – FGV - MPE-RJ - Técnico do Ministério
Público) Caio ocupa cargo em comissão em órgão da
a) do oferecimento da denúncia.
administração direta, tendo se apoderado, indevidamente
b) da sentença irrecorrível. e em proveito próprio, de um laptop pertencente ao órgão
c) da conclusão da investigação penal. por ele dirigido e do qual tinha a posse em razão do cargo.
Diante do fato narrado, Caio deverá responder por:
d) de ser exonerado do serviço público.
a) crime comum, mas não próprio, já que não pode ser
e) da conclusão do processo administrativo disciplinar. considerado funcionário público;
b) peculato-furto, com o aumento de pena em razão do
05. (2017 – VUNESP - TJ-SP - Escrevente Técnico cargo comissionado ocupado;
Judiciário) Certos crimes têm suas penas estabelecidas c) peculato apropriação, com o aumento de pena em razão
em patamares superiores quando presentes do cargo comissionado ocupado;
circunstâncias que aumentam o desvalor da conduta. São
os denominados “tipos qualificados”. d) peculato apropriação, com direito à extinção da
punibilidade se devolvida a coisa ou reparado o dano antes
Assinale a alternativa que indica o crime que tem como do recebimento da denúncia;
qualificadoras “resultar prejuízo público” e “ocorrer em
lugar compreendido na faixa de fronteira”. e) peculato-furto, com a redução da pena pela metade se
devolvida a coisa antes do recebimento da denúncia.
a) Corrupção passiva.
b) Exercício arbitrário das próprias razões.
09. (2016 – FGV - MPE-RJ - Técnico do Ministério
c) Abuso de poder. Público) Técnico de notificação do Ministério Público
d) Violência arbitrária. recebe documentos sigilosos oriundos de determinando
procedimento para cumprimento de diligência. De maneira
e) Abandono de função. negligente, porém, joga-os no lixo juntamente com outros
papéis de contas pessoais, causando, assim, o sumiço do
importante documento público. Considerando a situação
06. (2017 – CONSULPLAN - TRF - 2ª REGIÃO - narrada, a conduta do técnico de notificação, sob o ponto
Técnico Judiciário) Assinale a alternativa que apresenta de vista penal:
a descrição da conduta típica do crime de corrupção
passiva. a) configura crime de excesso de exação;

a) Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário b) configura crime de extravio, sonegação ou inutilização
público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar de livro ou documento público;
ato de ofício. c) configura crime de violação do sigilo funcional;
b) Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou d) é atípica;
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou e) configura crime de modificação ou alteração não
aceitar promessa de tal vantagem. autorizada de sistema de informações.

c) Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em 10. (2016 – FUNCAB - SEGEP-MA - Agente
razão dela, vantagem indevida. Penitenciário) Roberval, agente penitenciário,

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atendendo ao pedido de um amigo, retarda indevidamente lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”
a prática de ato de ofício, infringindo dever funcional. configura crime de:
Roberval:
a) corrupção passiva.
a) praticou crime de corrupção passiva.
b) tráfico de influência.
b) não praticou crime algum, mas apenas
c) advocacia administrativa.
infração administrativa.
d) prevaricação.
c) praticou crime de prevaricação.
e) concussão.
d) praticou crime de corrupção passiva privilegiada.
e) praticou crime de advocacia administrativa.
15. (2016 - Coperve – FURG – FURG - Assistente em
Administração) Quanto aos crimes contra a
11. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Técnico Administração Pública, é correto dizer que:
Judiciário) É punível na forma culposa o delito de
a) apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou
a) abandono de função. qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que
tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
b) peculato.
próprio ou alheio, caracteriza o crime de concussão.
c) violação de sigilo funcional.
b) exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
d) prevaricação. ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
e) concussão. razão dela, vantagem indevida, caracteriza o crime de
peculato.
c) solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
12. (2016 – Pref. do Rio de Janeiro – RJ – Pref. do indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
Rio de Janeiro – RJ - Assistente Administrativo) Dar assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da aceitar promessa de tal vantagem, caracteriza o crime de
estabelecida em lei configura o seguinte crime: corrupção passiva.
a) excesso de exação d) retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de
b) emprego irregular de verbas ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal caracteriza o
c) estelionato crime de condescendência criminosa.
d) cooptação e) deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar
subordinado que cometeu infração no exercício do cargo
ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao
13. (2016 – FGV - MPE-RJ - Técnico do Ministério conhecimento da autoridade competente caracteriza o
Público) João foi aprovado em concurso público para crime de prevaricação.
ingresso no quadro de funcionários do Ministério Público,
sendo nomeado e tendo tomado posse, e, apesar de não
ter assumido sua função por razões burocráticas, já foi 16. (2016 – FCC - SEGEP-MA - Técnico da Receita
informado de que seria designado para atuar junto à Estadual) João, chefe da repartição pública, constata que
Promotoria de Justiça Criminal de Duque de Caxias. Ciente seu subordinado Antonio cometeu infração ao despachar
da existência de investigação para apurar ilícitos fiscais processo administrativo de sua responsabilidade e
que estariam sendo praticados por empresário da cidade, atribuição. João, sabendo que Antonio passa por difícil
colega de seu pai, procura o advogado do investigado e situação pessoal, deixa de tomar as providências
narra que será designado para atuar na Promotoria com disciplinares cabíveis ao caso. A conduta de João
atribuição para o caso, passando a solicitar a quantia de caracteriza o crime de
50 mil reais para, de alguma forma, influenciar naquela
investigação de maneira favorável ao indiciado. a) prevaricação.
Considerando a situação narrada, é correto afirmar que a b) advocacia administrativa.
conduta de João, em tese:
c) condescendência criminosa.
a) configura crime de corrupção passiva;
d) favorecimento pessoal.
b) configura crime de prevaricação;
e) favorecimento real.
c) configura crime de advocacia administrativa;
d) configura crime de exercício funcional ilegalmente
antecipado ou prolongado; 17. (2014 – FUNDATEC - SUSEPE-RS - Agente
Penitenciário) Deixar o funcionário, por indulgência, de
e) é atípica, já que nem mesmo havia iniciado o exercício responsabilizar subordinado que cometeu infração no
de sua função. exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não
levar o fato ao conhecimento da autoridade competente,
é considerado crime de:
14. (2017 - NC-UFPR – UFPR - Técnico em Mecânica)
A ação de “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, a) Prevaricação.
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de b) Corrupção passiva.
c) Concussão.

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d) Advocacia administrativa. consequências, inclusive para efeito de majoração da
pena. Sobre essa questão, o código Penal estabelece:
e) Condescendência criminosa.
a) considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
quem está legalmente investido em cargo público efetivo
18. (2016 – UFMT - TJ-MT - Distribuidor, Contador e perante a administração direta.
Partidor) Quanto aos crimes praticados por funcionários
b) considera-se funcionário público, para os efeitos
públicos, analise as assertivas.
penais, quem, apenas permanentemente, exerce cargo,
I - O funcionário público retarda ou deixa de praticar ato emprego ou função pública.
de ofício, ou o pratica, violando dever funcional para
c) será aumentada a pena da terça parte quando os
satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
autores dos crimes previstos no código penal forem
II - O agente, em razão de sua função, mesmo que ainda ocupantes de cargos efetivos de direção, assessoramento
não tenha assumido ou fora dela (ex. afastado), solicita e consultoria de órgão da administração direta, indireta,
ou recebe, para si ou outrem, vantagem indevida ou suas autarquias e fundações.
promessa de vantagem em virtude de fazer ou deixar de
d) equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
fazer algo.
emprego ou função em entidade paraestatal, e quem
III - O agente exige para si ou para outrem, direta ou trabalha para empresa prestadora de serviço contratada
indiretamente, vantagem indevida, em razão da sua ou conveniada para a execução de atividade típica da
função, da função que irá assumir (nomeado, mas não Administração Pública.
empossado) ou mesmo estando fora dela (suspenso ou de
licença). GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
IV - O funcionário público subtrai, concorre para que seja D A D B E B C C D D
subtraído, desvia, ou se apropria de dinheiro, valor ou 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
qualquer bem móvel, tanto público quanto particular, para B B A D C C E C B D
proveito próprio ou alheio por deter a posse deles em
função do seu cargo.

Os crimes descritos acima, são, de acordo com o Código


Penal brasileiro, os seguintes:
a) I- peculato; II- corrupção passiva; III- concussão; e IV-
prevaricação.
b) I- prevaricação; II- concussão; III- corrupção passiva;
e IV- peculato.
c) I- prevaricação; II- corrupção passiva; III- concussão;
e IV- peculato.
d) I- concussão; II- prevaricação; III- peculato; e IV-
corrupção passiva.

19. (2016 – CESGRANRIO – ANP - Técnico em


Regulação de Petróleo e Derivados) Sra. X é servidora
pública efetiva, atuando na repartição federal J, sendo
responsável pela administração de inúmeros contratos
firmados pela Administração Pública. Após submissão à
auditoria especial externa, verificou-se o desvio de
numerário originado das avenças administrativas para o
patrimônio da servidora, que dele se apropriou
indevidamente com utilização pessoal.
Nesse caso, constatou-se a consumação do crime de
a) estelionato
b) peculato
c) extravio
d) sonegação
e) concussão

20. (2016 – COMPERVE - Câmara de Natal – RN -


Guarda Legislativo) Nos crimes contra a administração,
existe uma gama de crimes praticados por funcionários
públicos. Nesse contexto, é primordial definir o que é
funcionário público para efeitos penais e suas

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