Você está na página 1de 119

DIREITO PENAL

JOÃO PEREIRA

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência


DIREITO PENAL do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resul-
tado não teria ocorrido.

Superveniência de causa independente (Incluído


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - A superveniência de causa relativamente in-


dependente exclui a imputação quando, por si só, produziu
o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a
quem os praticou.

Relevância da omissão (Incluído pela Lei nº 7.209,


Instagram: www.instagram.com/professorjoaopereira de 11.7.1984)
Facebook: www.facebook.com/professorpereira
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o
DIREITO PENAL - CONTEÚDO
omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O de-
ver de agir incumbe a quem:
PARTE GERAL
01. DO CRIME (ARTS. 13 AO 25). a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou
02. DAS PENAS (ARTS. 32 AO 52). vigilância

PARTE ESPECIAL b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de


03. DOS CRIMES CONTRA A VIDA (ARTS. 121 A 128) impedir o resultado;
04. DAS LESÕES CORPORAIS (ART. 129)
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da
05. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (ARTS. 130 A ocorrência do resultado.
136)
06. DA RIXA (ART. 137) Teoria da Equivalência dos Antecedentes Cau-
07. DOS CRIMES CONTRA A HONRA (ARTS. 138 A 145) sais - O nosso Código, no tema "relação de causalidade",
adotou, como regra, a Teoria da Equivalência dos Antece-
08. DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL (ARTS. dentes Causais (ou da causalidade simples, ou das condi-
146 A 149) ções, ou da conditio sine qua non), anunciando o art. 13,
caput, considerar-se causa toda a ação ou omissão sem a
09. DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍ-
qual o resultado não se teria produzido. Em suma, tudo o
LIO (ART. 150)
que contribui para o resultado, é causa.
10. DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRES-
PONDÊNCIA (ARTS. 151 E 152) Processo Hipotético de Eliminação de Thyrén –
Utilizado para saber se uma determinada conduta é ou não
11. DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGRE- causa do evento, segundo o qual uma ação é considerada
DOS (ARTS 153 E 154) causa do resultado se, suprimida mentalmente do contexto
12. DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (ARTS. 155 AO fático, esse mesmo resultado teria deixado de ocorrer (nas
180) circunstâncias em que ocorreu).

13. DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO Filtro de causalidade psíquica - Para evitar o re-
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL (ARTS. 312 AO 327) gresso ao infinito da responsabilização penal, exige-se a
presença de dolo ou culpa na conduta do agente. Assim,
mesmo sendo causa, a responsabilidade penal do agente
depende da sua voluntariedade em relação à provocação do
resultado. A tal limitação deu-se o nome de filtro de causa-
DIREITO PENAL – PARTE GERAL lidade psíquica.

1. DO CRIME (ARTS. 13 A 25) Concausas - Em determinadas situações se verifica


que o resultado não é efeito de um só comportamento, re-
presentando produto final de uma associação de fatores, em
TÍTULO II que a conduta do agente, não obstante apareça como prin-
DO CRIME cipal elemento desencadeante, não é o único. Assim, iden-
tificados quais antecedentes podem figurar como causa den-
Relação de causalidade (Redação dada pela Lei nº tro de uma linha de eventos que se sucedem, nota-se que,
7.209, de 11.7.1984) no caso concreto, é possível que haja mais de uma causa
concorrendo para o resultado (concausas).

1
consumado, se tinha conhecimento prévio da doença da ví-
ATENÇÃO! Mesmo nas concausas o estudo é feito, tima. Se desconhecia, responderá por tentativa de homicí-
em regra, à luz da teoria da equivalência dos antecedentes dio.
causais, conjugada com o método da eliminação hipotética.
2.2 Concomitante: a causa efetiva, causadora em
ESPÉCIES DE CONCAUSAS: conjunto do resultado, ocorre simultaneamente à outra
causa.
1) Concausas absolutamente independentes -
Nessa espécie, a causa efetiva do resultado não decorre do Exemplo: ANTONIO, com intenção de matar, atira em
comportamento concorrente, que é paralelo, podendo ser JOÃO, mas não atinge o alvo. A vítima, entretanto, assus-
preexistente, concomitante e superveniente. tada, tem um colapso cardíaco e morre. ANTONIO respon-
derá por homicídio consumado, pois, se não tivesse atirado,
1.1 Preexistente: a causa efetiva, que causou o re- a vítima não sofreria a violenta perturbação emocional que
sultado, é antecedente ao comportamento concorrente. gerou o colapso cardíaco.

Exemplo: MARIA, por volta das 20h, serve, insidiosa- 2.3 Superveniente
mente, veneno para JOÃO, seu marido. Uma hora depois,
JOÃO é atingido por um disparo efetuado por ANTONIO, seu Em face da regra prevista no art. 13, § 1°, do Código
desafeto. Socorrida, a vítima morre na madrugada do dia Penal, as causas supervenientes relativamente independen-
seguinte em razão dos efeitos do veneno. A pessoa que en- tes podem ser divididas em dois grupos:
venenou responde pelo homicídio consumado e o atirador,
que não foi causa do resultado, deve responder por tentativa 1) as que produzem por si sós o resultado; e
de homicídio. 2) as que não produzem por si sós o resultado.

1.2 Concomitante: a causa efetiva, que causou o re- 2.3.1 Causas supervenientes relativamente in-
sultado, é simultânea ao comportamento concorrente. dependentes que não produzem por si sós o resul-
tado.
Exemplo: MARIA, por volta das 20h, serve, insidiosa-
mente, veneno para seu marido. Na mesma hora, coinciden- Incide a Teoria da Equivalência dos Antecedentes ou
temente, a vítima é alvo de um disparo efetuado por ANTO- da conditio sine qua non, adotada como regra geral no to-
NIO, seu desafeto, vindo a morrer em razão dos disparos. cante a relação de causalidade (CP, art. 13, caput, in fine).
ANTONIO responde por homicídio consumado. A esposa, O agente responde pelo resultado naturalístico, pois, supri-
que ministrou o veneno, responde por tentativa de homicí- mindo-se mentalmente a sua conduta, o resultado não teria
dio. ocorrido como e quando ocorreu.

1.3 Superveniente: a causa efetiva, que causou o Exemplo: “A”, com a intenção de matar, efetua dispa-
resultado, é posterior ao comportamento concorrente. ros-de arma de fogo contra “B”. Por má pontaria, atinge-o
em uma das pernas, não oferecendo risco de vida. Contudo,
Exemplo: MARIA, por volta das 20h, serve, insidiosa- "B” é conduzido a um hospital e, por imperícia médica, vem
mente, veneno para seu marido, JOÃO. Antes mesmo de o a morrer. Nesse caso, “B” não teria morrido, ainda que por
veneno fazer efeito, cai um lustre na cabeça de JOÃO, que imperícia médica, sem a conduta inicial de “A”, respon-
descansava na sala, causando sua morte por traumatismo dendo este por homicídio consumado.
craniano. MARIA responde por tentativa de homicídio, pois,
eliminando seu comportamento do processo causal, a morte De fato, somente pode falecer por falta de qualidade
de JOÃO ocorreria do mesmo modo. do profissional da medicina aquele que foi submetido ao seu
exame, no exemplo, justamente pela conduta homicida que
Conclusão: em se tratando de concausa absoluta- redundou no encaminhamento da vítima ao hospital. A im-
mente independente, não importa a espécie (preexistente, perícia médica, por si só, não é capaz de matar qualquer
concomitante ou superveniente), o comportamento paralelo pessoa, mas somente aquela que necessita de cuidados mé-
será punido na forma tentada. dicos. Não corta o nexo causal.

2) Concausas relativamente independentes - A 2.3.2 Causas supervenientes relativamente in-


causa efetiva do resultado se origina, ainda que indireta- dependentes que produzem por si sós o resultado.
mente, do comportamento concorrente. Em outras palavras,
as causas atuam em conjunto para produzir o resultado fi- É a situação tratada pelo § 1° do art. 13 do Código
nal, não sendo capazes de produzir o resultado, se conside- Penal: “A superveniência de causa relativamente indepen-
ras isoladamente. Também se classificam em preexistente, dente exclui a imputação quando, por si só, produziu o re-
concomitante c superveniente. sultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a
quem os praticou”.
2.1 Preexistente: a causa efetiva, causadora em
conjunto do resultado, é anterior à causa concorrente. Nesse dispositivo foi acolhida a Teoria da Causalidade
Adequada. Logo, causa não é mais o acontecimento que de
Exemplo: JOÃO, portador de hemofilia, é vítima de qualquer modo concorre para o resultado. Diferentemente,
um golpe de faca executado por ANTONIO. O ataque efetu- passa a ser causa apenas a conduta idônea a provocar a
ado para matar, isoladamente considerado, em razão da na- produção do resultado naturalístico. Não basta qualquer
tureza da lesão, não geraria a morte da vítima que, entre- contribuição, exigindo-se uma contribuição adequada.
tanto, tendo dificuldade de estancar o sangue dos ferimen-
tos, acaba morrendo. ANTONIO, responsável pelo ataque Os exemplos famosos são:
(com intenção de matar), responderá por homicídio

2
a) pessoa atingida por disparos de arma de fogo que,
internada em um hospital, falece não em razão dos ferimen-  Crimes omissivos próprios ou puros: a omissão
tos, mas sim queimada por um incêndio que destrói toda a está contida no tipo penal, ou seja, a descrição da conduta
área dos enfermos; prevê a realização do crime por meio de uma conduta nega-
tiva. Não há previsão legal do dever jurídico de agir, de
b) ferido dolosamente que morre durante o trajeto forma que o crime pode ser praticado por qualquer pessoa
para o hospital, em face de acidente de tráfego que atinge que se encontre na posição indicada pelo tipo penal. Nesses
a ambulância que o transportava. casos, o omitente não responde pelo resultado naturalístico
eventualmente produzido, mas somente pela sua omissão.
Nos exemplos acima mencionados, em que os agen- Exemplo típico é o crime de omissão de socorro, definido
tes responderão por tentativa de homicídio, conclui-se pelo art. 135 do CP.
que qualquer pessoa que estivesse na área da enfermaria
do hospital, ou no interior da ambulância, poderia morrer
em razão do acontecimento inesperado e imprevisível, e não EFEITOS DAS CONCAUSAS
somente a atingida pela conduta praticada peio agente. Por- Absolutamente inde- Relativamente independentes
tanto, a simples concorrência (de qualquer modo) não é su- pendentes
ficiente para a imputação do resultado material produzido, Pree-
anote-se, por uma causa idônea e adequada, por si só, para xis- Preexistente
fazê-lo. Corta o nexo causal. tente
Con-
Concomi-
Omissão como causa do resultado - Ao fornecer o comi-
tante
O agente res-
conceito de causa, o Código não fez distinção entre a ação tante ponde pelo re-
ou a omissão. Pela simples leitura da parte final do caput do O agente não Superveni- sultado consu-
responde pelo ente que, mado.
art. 13, chegamos à conclusão de que a omissão também
resultado. Em re- por si só,
poderá ser considerada causa do resultado, bastando que
gra, responde NÃO produ-
para isso o omitente tenha o dever jurídico de impedir, ou pela tentativa.
Su- ziu o resul-
pelo menos tentar impedir, o resultado lesivo. tado.
perve-
niente Superveni- O agente não
ente que, responde pelo
Relevância da omissão (art. 13, § 2°, CP): A por si só, resultado. Em re-
omissão penalmente relevante encontra-se disciplinada produziu o gra, responde
nesse dispositivo, que é aplicável somente aos crimes omis- resultado. pela tentativa.
sivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão, isto
é, aqueles em que o tipo penal descreve uma ação, mas que
é provocada pela inércia do agente, que podia e devia agir
Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº
para impedir o resultado naturalístico, conduzindo à sua
7.209, de 11.7.1984)
produção. São crimes materiais, como é o caso do homicí-
dio, cometido em regra por ação, mas passível também de
ser praticado por inação, desde que o agente ostente o po- Crime consumado
der e o dever de agir.
I - consumado, quando nele se reúnem todos os ele-
Posição de garantidor - O dever de agir incumbe a mentos de sua definição legal;
quem:
Tentativa
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância: Note-se que, mencionando a lei dever "legal",
obrigações de ordem moral ou religiosa, como já anunciado, II - tentado, quando, iniciada a execução, não se con-
não são consideradas para análise da omissão imprópria. suma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Exemplo: mãe que deixa de amamentar recém-nascido,
vindo este a falecer por inanição. Responde por homicídio, Pena de tentativa
doloso ou culposo, a depender da voluntariedade presente
na sua conduta, em razão do art.1.634 do Código Civil obri- Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-
gar os pais em relação à criação e educação dos filhos. se a tentativa com a pena correspondente ao crime consu-
mado, diminuída de um a dois terços.
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de im-
pedir o resultado: A regra incide nas hipóteses em que o
dever não decorre da lei, mas de compromisso voluntário do Para melhor compreensão do tema relativo à consu-
encargo de proteção e zelo. Exemplo: babá que não cuida mação e à tentativa, iniciaremos explicando o "iter criminis",
da criança no banho, vindo esta a morrer afogada. Responde conceituado como o caminho percorrido pelo crime, ou seja,
por homicídio, doloso ou culposo, a depender da voluntarie- o conjunto de fases que se sucedem cronologicamente no
dade presente na sua conduta. desenvolvimento do delito doloso.

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da Fases do Iter criminis:


ocorrência do resultado: Há, aqui, a obrigação de evitar o
resultado quando o agente produz o perigo, devendo, por- a) Cogitação - Cuida-se de fase interna, é dizer, que
tanto, se empenhar para que o resultado danoso não ocorra. pertence única e exclusivamente na mente do indivíduo. Não
Exemplo: quem espontaneamente, encarrega-se de condu- existe ainda a preparação do crime, o autor apenas menta-
zir um ébrio (cego ou ferido) a determinado lugar e acaba liza, planeja como vai praticar o delito, não existindo puni-
por abandona-lo. ção do agente nesta etapa, pois o fato de pensar em

3
cometer crime não configura ainda um fato típico e antijurí- momento em que esta é praticada (ex: violação de domicí-
dico, sendo irrelevante para o direito penal. lio, art. 150, CP);

b) Atos preparatórios - Nesta fase, conhecida tam- d) Crime permanente - nos crimes permanentes, a
bém como conatus remotus, o agente procura criar condi- consumação se protrai no tempo, prolongando-se até que o
ções materiais para a realização da conduta delituosa idea- agente cesse a conduta delituosa (ex: sequestro e cárcere
lizada, como no caso dos agentes que adquirem um auto- privado, art. 148, CP);
móvel para viabilizar a fuga e o transporte do produto do
roubo. Os atos preparatórios, em regra, são impuníveis, e) Crime habitual - para a consumação exige-se a rei-
porque ainda não se iniciou a agressão ao bem jurídico, o teração da conduta típica (ex: curandeirismo, art. 284, CP);
agente não começou a realizar o verbo constante da defini-
ção legal (núcleo do tipo). f) Crime qualificado pelo resultado - nesta espécie, a
consumação se dá com a produção do resultado que agrava
Excepcionalmente, todavia, merecem punição, confi- especialmente a pena (ex: lesão corporal seguida de morte,
gurando delito autônomo. É o que ocorre, por exemplo, com art. 129, § 3°, CP);
o crime de associação criminosa (art. 288, CP), petrechos
para a falsificação de moeda (art. 291, CP), entre outros. g) Crime omissivo próprio - consuma-se no momento
em que o agente se abstém de realizar a conduta devida,
c) Atos executórios - Traduzem a maneira pela qual imposta pelo tipo mandamental (omissão de notificação de
o agente atua exteriormente para realizar o crime ideali- doença, art. 269, CP; omissão de socorro, art. 135, CP);
zado, por vezes, preparado. Em regra, a conduta humana
só será punível quando iniciada esta fase. É necessário que h) Crime omissivo impróprio - também denominado
ato executório seja inequívoco, isto é, evidentemente dire- crime comissivo por omissão, têm sua consumação reconhe-
cionado ao cometimento do delito. cida com a produção do resultado naturalístico ("crime do
garantidor", art. 13, § 2°, CP).
Imaginemos que alguém adquira explosivos, dirija-se
a uma agência bancária e, no momento em que instala o Exaurimento - Também chamado de crime
artefato, seja surpreendido pela polícia. Tratar-se-ia de um esgotado, é o delito em que, posteriormente à consumação,
inequívoco ato de execução de furto ou roubo, idôneo a da- subsistem efeitos lesivos derivados da conduta do autor. É
nificar o maquinário que armazena o dinheiro, o que possi- o caso do recebimento do resgate no crime de extorsão
bilitaria a subtração. mediante sequestro, desnecessário para fins de tipicidade,
eis que se consuma com a privação da liberdade destinada
d) Consumação – É o momento de conclusão do a ser trocada por indevida vantagem econômica. No terreno
delito, reunindo todos os elementos do tipo penal, ocorrendo da tipicidade, o exaurimento não compõe o iter criminis, que
quando o agente pratica todas as elementares que compõe se encerra com a consumação.
o crime.
II - CRIME TENTADO
I - CRIME CONSUMADO
Como bem define o art. 14, II, do Código Penal, ten-
tativa é o início de execução de um crime que somente não
Dá-se o crime consumado ou summatum opus,
se consuma por circunstancias alheias à vontade do agente.
quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição
É a realização incompleta da conduta típica, que não é pu-
legal (art. 14, I, do CP). É, por isso, um crime completo ou
nida como crime autônomo.
perfeito, pois a conduta criminosa se realiza integralmente.
Verifica-se quando o autor concretiza todas as elementares
O Código Penal não faz previsão, para cada delito, da
descritas pelo preceito primário de uma norma penal incri-
figura da tentativa, embora a grande maioria comporte a
minadora.
figura tentada. Preferiu-se usar uma fórmula de extensão,
ou seja, para caracterizar a tentativa de homicídio, não se
O momento consumativo varia conforme a natureza encontra previsão expressa no art. 121, da Parte Especial.
do crime: Nesse caso, aplica-se a figura do crime consumado em as-
sociação com o disposto no art. 14, II, da Parte Geral (art.
a) Crime material ou de resultado - nestes, o tipo pe- 121 c/c art. 14, II, ambos do CP).
nal descreve a conduta e o resultado, exigindo, para a con-
sumação, a efetiva modificação do mundo exterior (exs: ho- O ato de tentativa tem de ser, necessariamente, um
micídio, art. 121, CP e furto, art. 155, CP); ato de execução. Exige-se tenha o sujeito praticado atos
executórios, não chegando à consumação por forças estra-
b) Crime formal ou de consumação antecipada - aqui nhas ao seu propósito, o que acarreta em tipicidade não fi-
a norma penal também descreve um comportamento se- nalizada, sem conclusão.
guido de um resultado naturalístico, mas dispensa a modifi-
cação no mundo exterior, contentando-se, para a consuma- Elementos que caracterizam o crime tentado -
ção, com a prática da conduta típica. O crime, portanto, se Para que se possa falar em tentativa, é preciso que:
consuma no momento da ação, sendo o resultado mero
exaurimento (ex: extorsão, art. 158, CP e extorsão medi- a) a conduta seja dolosa, isto é, que exista uma von-
ante sequestro, art. 159, CP); tade livre e consciente de querer praticar determinada in-
fração penal;
c) Crime de mera conduta (ou simples atividade) -
tratando-se de delito sem resultado naturalístico, a lei des- b) o agente ingresse, obrigatoriamente, na fase dos
creve apenas uma conduta, consumando-se o crime no chamados atos de execução;

4
c) não consiga chegar à consumação do crime, por g) Crimes unissubsistentes - consuma-se com apenas
circunstâncias alheias à sua vontade. um ato, não admitindo fracionamento na execução, como
ocorre na injúria verbal.

ESPÉCIES DE TENTATIVA: PENA DA TENTATIVA

a) Quanto ao iter criminis percorrido: O Código Penal, como regra, adotou em seu art. 14,
II, a Teoria Objetiva, punindo-se a tentativa a partir da
1) tentativa imperfeita (ou inacabada) - o agente é mesma pena do crime consumado, reduzida de 1/3 a 2/3.
impedido de prosseguir no seu intento, deixando de praticar Para a fixação da pena do crime tentado, considera-se a
todos os atos executórios; maior ou menor aproximação do iter da fase de consuma-
ção.
2) tentativa perfeita (ou acabada ou crime falho) - o
agente, apesar de praticar todos os atos executórios à sua Critério da diminuição da pena: A diminuição da
disposição, não consegue consumar o crime por circunstân- pena será na proporção inversa do iter criminis percorrido
cias alheias à sua vontade; pelo agente, ou seja, será menor quanto mais próximo tiver
chegado a tentativa do crime consumado, de forma inver-
b) Quanto ao resultado produzido na vítima: samente proporcional à maior proximidade do resultado al-
mejado (Teoria Objetiva). Por isso, na tentativa não cruenta
1) tentativa não cruenta (ou branca) - neste caso, o (branca) a redução será sempre maior do que naquela em
golpe desferido não atinge o corpo da vítima; que a vítima sofre ferimentos graves (tentativa cruenta ou
vermelha).
2) tentativa cruenta (ou vermelha) - aqui a vítima é
atingida;  A tentativa constitui-se em causa obrigatória de di-
minuição da pena.
c) Quanto à possibilidade de alcançar o resul-
tado: ATENÇÃO! Excepcionalmente aceita-se a aplicação
da Teoria Subjetiva, consagrada na expressão “salvo dispo-
1) tentativa idônea- o resultado, apesar de possível sição em contrário”. São os casos de crime de atentado ou
de ser alcançado, só não ocorre por circunstâncias alheias à de empreendimento, cujas modalidades tentada e consu-
vontade do agente; mada comportam punições equivalentes (CP, art. 352 - Eva-
são mediante violência contra pessoa e Código Eleitoral, art.
2) tentativa inidônea - aqui o crime se mostra impos- 309 – Voto duplo).
sível na sua consumação (art. 17 CP) por absoluta ineficácia
do meio empregado ou por absoluta impropriedade do ob- Desistência voluntária e arrependimento eficaz
jeto material. Esta espécie de tentativa é também chamada (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
de crime impossível (ou quase crime).
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de
INFRAÇÕES PENAIS QUE NÃO ADMITEM TENTA-
prosseguir na execução ou impede que o resultado se pro-
TIVA:
duza, só responde pelos atos já praticados.
a) Crimes culposos - aqui o agente não quer o resul-
tado (não existe dolo de consumação), o que torna o crime Ponte de Ouro - o agente está diante de um fato
culposo incompatível com o instituto do conatus. cujo resultado material é perfeitamente alcançável, mas,
até que ocorra a consumação, abre-se a possibili-
b) Crimes preterdolosos - não se admite a tentativa dade (ponte de ouro) para que o agente retorne à situação
quanto ao resultado (culposo) agregado ao tipo fundamen- de licitude, seja desistindo de prosseguir na execução, seja
tal. atuando positivamente no intuito de impedir a ocorrência
do resultado.
c) Crimes omissivos próprios - o crime se consuma
automaticamente com a omissão não admitindo fraciona- Desistência voluntária e arrependimento eficaz são
mento. formas de tentativa abandonada, assim chamadas porque a
consumação do crime deixa de ocorrer em razão da VON-
d) Contravenções penais - o artigo 4° da LCP precei- TADE DO AGENTE. Diferem-se, portanto, da tentativa em
tua ser impunível a tentativa de contravenção. que, iniciada a execução do delito, a consumação não ocorre
por circunstâncias alheias à vontade do agente.
e) Crimes de atentado - apesar de grande parte da
doutrina entender inexistir, no caso, a tentativa, na verdade Ambos institutos estão previstos no art. 15 do CP, que
ela existe, porém, punida com a mesma pena do delito con- dispõe: “O agente que, voluntariamente, desiste de
sumado (o que não se aplica é a causa de diminuição de prosseguir na execução ou impede que o resultado se
pena). produza, só responde pelos atos já praticados”.

f) Crimes habituais - são aqueles que exigem uma Desistência voluntária: Na desistência voluntária, o
reiteração de condutas para que o crime seja consumado, agente, por ato de vontade, detém o processo executório do
como ocorre como curandeirismo. Cada conduta isolada é crime, abandonando a prática dos demais atos necessários
um indiferente para o Direito Penal. e que estavam à sua disposição para a consumação.

Arrependimento eficaz: No arrependimento eficaz


depois de já praticados todos os atos executórios suficientes

5
à consumação do crime, o agente adota providências capa- genéricos, que exista um “dano” causado em razão da con-
zes de impedir a produção do resultado, somente sendo pos- duta penalmente ilícita.
sível quanto aos crimes materiais.
Dano moral - prevalece o entendimento de que a re-
ATENÇÃO: Se, embora o agente tenha buscado impe- paração do dano moral enseja a aplicação do arrependi-
dir sua ocorrência, ainda assim o resultado se verificou, sub- mento posterior.
siste a sua responsabilidade pelo crime consumado.
Arrependimento eficaz x Arrependimento
 O arrependimento e a desistência devem ser volun- posterior: O arrependimento eficaz implica numa causa
tários, isto é, livres de coação física ou moral, pouco impor- de não punibilidade da tentativa iniciada (o agente só
tando sejam espontâneos ou não, podendo a iniciativa partir responde pelos atos objetivos praticados, não pela
de terceira pessoa ou mesmo da própria vítima. tentativa iniciada do delito pretendido); o arrependimento
posterior é mera causa de diminuição da pena. Aquele
Efeito: Na desistência voluntária e no arrependi- impede a consumação do delito; este só acontece após a
mento eficaz o efeito é o mesmo: o agente não responde consumação do crime (por isso é que se chama de
pela forma tentada do crime inicialmente desejado, mas so- arrependimento posterior).
mente pelos atos já praticados.
Crime impossível (Redação dada pela Lei nº 7.209,
Nesse caso, ocorre a exclusão da tipicidade do crime
de 11.7.1984)
inicialmente desejado pelo agente. Resta, contudo, a res-
ponsabilidade penal pelos atos já praticados, se configura-
rem um crime autônomo. Daí falar-se em tentativa qualifi- Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia
cada. Exemplo: “A” efetua um tiro em “B”, que cai ao solo. absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto,
Em seguida, com mais cartuchos no tambor do revólver, de- é impossível consumar-se o crime.
siste de matá-lo, razão pela qual responderá pela lesão cor-
poral, e não pela tentativa de homicídio. Crime impossível: é a causa excludente da tipici-
dade que se constitui em tentativa não punível, porque o
agente se vale de meios absolutamente ineficazes ou volta-
Arrependimento posterior (Redação dada pela Lei se contra objetos absolutamente impróprios, tornando im-
nº 7.209, de 11.7.1984) possível a consumação do crime.

 O crime impossível também é chamado de crime


Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave
oco, quase crime, tentativa inidônea, tentativa inadequada
ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até
ou tentativa impossível.
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário
do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
ATENÇÃO: a exclusão da tipicidade refere-se apenas
ao crime almejado, persistindo a responsabilização pelos
Ponte de prata - instituto penal que, após a atos anteriores, desde que sejam considerados ilícitos.
consumação do crime, pretende suavizar ou diminuir a
responsabilidade penal do agente. É dessa natureza o art. Elementos do crime impossível: o crime impossí-
16 do CP, que cuida do arrependimento posterior; o agente vel rem como elementos:
consuma o crime não violento e depois repara os danos ou
restitui a coisa, antes do recebimento da ação penal. a) o início da execução;
b) o dolo de consumação;
Não se confunde o arrependimento eficaz com o c) a não consumação por circunstâncias alheias à von-
arrependimento posterior, institutos previstos em tade do agente;
dispositivos distintos do Código Penal. d) resultado absolutamente impossível de ser alcan-
çado.
Extrai-se do teor do art. 16 do CP que arrependimento ATENÇÃO: Atente-se para o fato de que os três pri-
posterior é a causa pessoal e obrigatória de diminuição da meiros elementos estão também presentes na tentativa
pena que ocorre quando o responsável pelo crime praticado simples, de modo que a impossibilidade de alcançar o resul-
sem violência à pessoa ou grave ameaça, voluntariamente tado pretendido é justamente o que faz desta conduta uma
e até o recebimento da denúncia ou queixa, restitui a coisa tentativa inidônea.
ou repara o dano provocado por sua conduta.
Espécies de crime impossível: Há duas espécies de
Requisitos cumulativos: O arrependimento crime impossível:
posterior depende dos seguintes requisitos:
a) Crime impossível por ineficácia absoluta do meio:
a) Crime praticado sem violência ou grave ameaça à o meio de execução utilizado pelo agente é, por sua natu-
pessoa; reza ou essência, incapaz de produzir o resultado, por mais
reiterado que seja seu emprego. Exemplo: atirar, para ma-
b) Reparação do dano ou restituição da coisa; tar, com uma arma descarregada.

c) Efetuada a reparação do dano até o recebimento  Se a ineficácia for relativa, a tentativa estará pre-
da denúncia ou da queixa. sente.

O arrependimento posterior alcança qualquer crime b) Crime impossível por impropriedade absoluta do
que com ele seja compatível, bastando, em termos objeto: refere-se ao objeto material, compreendido como a

6
pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. O
objeto material é absolutamente impróprio quando inexis- a) Dolo genérico - É a vontade de realizar conduta
tente antes do início da execução do crime, tornando impos- sem um fim especial, ou seja, a mera vontade de praticar o
sível a sua consumação. Exemplo: procurar abortar o feto núcleo da ação típica (o verbo do tipo), sem qualquer finali-
de mulher que não está grávida. dade específica. Por exemplo, no tipo do homicídio, basta a
simples vontade de matar alguém para que a ação seja tí-
CRIME DOLOSO x CRIME CULPOSO pica, pois não é exigida nenhuma finalidade especial do
agente.
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº
b) Dolo específico - É a vontade de realizar conduta
7.209, de 11.7.1984)
visando a um fim especial previsto no tipo. Nos tipos anor-
mais, que são aqueles que contêm elementos subjetivos (fi-
Crime doloso nalidade especial do agente), o dolo só não basta, pois o
tipo exige, além da vontade de praticar a conduta, uma fi-
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assu- nalidade especial do agente. Por exemplo, no crime de ex-
miu o risco de produzi-lo; torsão mediante sequestro, não basta a simples vontade de
sequestrar a vítima, sendo também necessária a sua finali-
Crime culposo dade especial de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate, porque esse
fim específico é exigido pelo tipo do art. 159 do CP.
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado
por imprudência, negligência ou imperícia.
c) Dolo de dano - a vontade do agente é causar efe-
tiva lesão ao bem jurídico tutelado (ex.: art. 121 do CP -
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, nin- Homicídio).
guém pode ser punido por fato previsto como crime, senão
quando o pratica dolosamente. d) Dolo de perigo - o agente atua com a intenção
de expor a risco o bem jurídico tutelado (ex.: art. 132 do CP
I - CRIME DOLOSO – Perigo para a vida ou a saúde de outrem).

O DOLO consiste na vontade livre e consciente dirigida e) Dolo alternativo - Parte da doutrina fala em dolo
à finalidade de realizar (ou aceitar realizar) a conduta pre- alternativo como uma variante do dolo indireto, em que o
vista no tipo penal incriminador. É o elemento subjetivo im- agente antevê dois ou mais resultados possíveis e dirige sua
plícito do tipo. conduta a um deles, entretanto, sabe que, ao agir, poderá
causar outro resultado lesivo. Ex.: o agente atira para matar
Elementos do dolo - logo percebemos os elementos "A" ou "B", que estão próximos um do outro.
que estruturam o dolo:
f) Dolo geral (erro sucessivo ou aberratio cau-
a) Elemento intelectivo  consciência: o agente deve sae) – Ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado o
ter ciência de que sua conduta constitui um tipo penal; resultado por ele visado, pratica nova ação que efetiva-
mente vem provocar o resultado desejado. Há duas ações,
b) Elemento volitivo  vontade: querer realizar a con- sendo a consumação segunda consuma o delito.
duta dirigida ao tipo penal, ao menos mediante a aceitação Ex.: A atira em B, que cai no solo. Acreditando na
do resultado (dolo indireto). morte de B, A joga seu corpo no mar, a fim de ocultar o
cadáver, sendo constatado depois que a morte foi produzida
Teorias do dolo: o Código Penal, ao definir dolo, por afogamento e não pelo disparo.
adotou duas teorias:

a) Teoria da vontade: "... quando o agente quis o re- II - DO CRIME CULPOSO


sultado ... "
Dispõe o Código Penal:
➔ Dolo Direto: A teoria da vontade define o dolo di-
reto, em que o agente prevê o resultado e seleciona meios Art. 18. Diz-se o crime:
para vê-lo realizado. Ex.: atirar para matar. (...)
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado
b) Teoria do assentimento: "... assumiu o risco de por imprudência, negligência ou imperícia.
produzi-lo".
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, nin-
➔ Dolo Indireto: A teoria do assentimento define o guém pode ser punido por fato previsto como crime,
dolo indireto ou eventual, em que o agente assume o risco senão quando o pratica dolosamente”.
de produzir o resultado, apesar de não corresponder direta-
mente àquilo a que se propôs realizar de início. Conceito de crime culposo

Exemplos: o médico que ministra medicamento que Ocorre o crime culposo quando a conduta voluntária
sabe poder conduzir à morte o paciente, apenas para testar (ação ou omissão) produz resultado antijurídico não que-
o produto ou a roleta russa para testar a sorte dos subordi- rido, mas previsível, que podia, com a devida atenção, ser
nados. evitado. Nesse caso, o agente não quer nem assume o risco
de produzir o resultado, mas a ele dá causa por imprudên-
Outras espécies de dolo: cia, negligência ou imperícia. Viola a obrigação de, no con-
vívio social, realizar condutas de forma a não produzir danos

7
a terceiros. Desatende ao denominado dever objetivo de voluntariedade está relacionada à conduta do agente, e
cuidado. não ao resultado.

ATENÇÃO: Em regra, os crimes são dolosos, somente b) Violação de um dever de cuidado objetivo - O
se admitindo a sanção por culpa quando a lei textualmente agente atua em desacordo com o que é esperado pela lei
a prevê. É o que determina o art. 18, parágrafo único do e pela sociedade. São formas de violação do dever de cui-
Código Penal, segundo o qual "Salvo os casos expressos em dado, ou mais conhecidas como modalidades de culpa, a
lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, imprudência, a negligência e a imperícia.
senão quando o pratica dolosamente". Ex.: homicídio, art.
121, § 3o. c) Resultado naturalístico - Não haverá crime cul-
poso se, mesmo havendo falta de cuidado por parte do
agente, não ocorrer o resultado lesivo a um bem jurídico
Modalidades de culpa: tutelado. Assim, em regra, todo crime culposo é um crime
material.
A imprudência é uma atitude em que o agente atua
com precipitação, com afoiteza, sem cautelas. Ex.: manejar d) Nexo causal – Consubstanciado na relação de
ou limpar arma carregada próximo a outras pessoas, que causa e efeito entre a conduta voluntária perigosa e o resul-
dispara e atinge alguém. tado involuntário. É o elo que liga a conduta do agente ao
resultado praticado (imprudência, negligência, imperícia).
A negligência está ligada à indiferença do agente que,
podendo tomar as cautelas exigíveis, não o faz por e) Previsibilidade - É a possibilidade de conhecer o
displicência ou preguiça mental. Trata-se de conduta perigo. Na culpa consciente, mais do que a previsibilidade,
omissiva. Ex.: o motorista que não troca os pneus já o agente tem a previsão (efetivo conhecimento do perigo).
desgastados, atropelando um pedestre.
f) Tipicidade - O Código Penal, no art. 18, parágrafo
A imperícia é a incapacidade, a falta de conhecimen- único é taxativo ao dispor: “Salvo os casos expressos em
tos técnicos no exercício de arte ou profissão, não levando lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime,
em consideração o agente o que sabe ou deve saber. Ex.: o senão quando o pratica dolosamente”.
médico que, na operação, erra a artéria a ser cortada, tra-
zendo a óbito o paciente. Dolo eventual x Culpa consciente: A aceitação do
resultado é o que difere o dolo eventual da culpa consciente.
Espécies de culpa: Nesta, o agente prevê o resultado, todavia, espera sincera-
mente que ele não ocorra, não o aceita, mas age.
a) Culpa inconsciente (sem previsão ou ex ignoran-
tia) – Existe quando o agente não prevê o resultado que é Previsão do re-
Vontade Espécie
previsível, não tendo conhecimento do efetivo perigo de sua sultado
conduta. Resultado pre-
Quer Direto
visto
b) Culpa consciente (com previsão ou ex lascivia) - Dolo
Resultado pre-
Ocorre quando o agente prevê o resultado, mas espera, sin- Assume o risco Eventual
visto
ceramente, que não ocorrerá, acreditando que o evitará com Resultado pre- Não quer e não Consci-
sua habilidade (superconfiança). Ex.: o agente ultrapassa visto aceita ente
um veículo em uma estrada e, verificando que na direção Culpa
Resultado previ- Não quer e não Inconsci-
contrária vem outro veículo, acredita que, caso acelere, con- sível aceita ente
siga ultrapassar o primeiro veículo sem chocar-se contra o
segundo, o que não ocorre, gerando o resultado lesivo Exclusão da culpa - O caso fortuito e a força maior
ofensa à integridade física ou morte. se inserem entre os fatos imprevisíveis, que não se subme-
tem à vontade de ninguém. Logo, o resultado daí advindo
c) Culpa própria – é a que se verifica quando o não pode fundamentar a punição por culpa.
agente não quer o resultado nem assume o risco de produzi-
lo. É, por assim dizer, a culpa propriamente dita. Compensação de culpas - a compensação de culpas
é incabível em matéria penal, admitida apenas no direito
d) Culpa imprópria (culpa por extensão, por as- privado. É possível a concorrência de culpas, quando várias
similação, por equiparação) - prevista no art. 20, § 1º, pessoas contribuem para a prática da infração culposa-
2ª parte, do CP, nesta espécie de culpa o agente, por erro mente, respondendo todas elas pelo ilícito. Pode haver,
evitável fantasia certa situação de fato, supondo estar ainda, em situação também distinta, culpa concorrente da
agindo acobertado por uma excludente de ilicitude (descri- vítima, o que pode levar a uma atenuação na análise da
minante putativa), e, em razão disso, provoca intencional- pena, nos termos do artigo 59 do Código Penal.
mente um resultado ilícito.
Tentativa em crime culposo - O crime culposo, em
Por exemplo: supondo, por engano, que seu desafeto regra, não admite tentativa, porque o resultado não decorre
vai agredi-lo, o agente saca uma arma atirando até matar o da vontade do agente.
falso agressor. Apesar da ação ser dolosa, o agente, consi-
derando a evitabilidade do erro, responde por culpa. ATENÇÃO: Alguns autores defendem a possibilidade
de tentativa no caso da culpa imprópria, prevista no art. 20,
Elementos do crime culposo: § 1º, 2ª parte, do CP.

a) Conduta humana voluntária - O agente não de-


seja, nem assume o risco de produzir o resultado. A

8
Agravação pelo resultado (Redação dada pela Lei nº caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da
7.209, de 11.7.1984) pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a ERRO SOBRE ELEMENTOS DO TIPO (art. 20, ca-
pena, só responde o agente que o houver causado ao menos put)
culposamente.
Dispõe o art. 20, caput, do CP:
Crime preterdoloso (ou preterintencional)
Erro sobre elementos do tipo
Art. 20 - O erro sobre elemento cons titutivo do tipo
É o que se verifica quando a conduta dolosa acarreta
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição
a produção de um resultado mais grave do que o desejado
por crime culposo, se previsto em lei.
pelo agente. A intenção do autor era praticar um crime do-
loso mas, por culpa, sobreveio resultado mais gravoso.
O erro de tipo pode ser conceituado como a falsa re-
presentação da realidade. Entende-se por erro de tipo
Cuida-se, portanto, de figura criminosa mista, ha-
aquele que recai sobre as elementares, circunstâncias ou
vendo verdadeiro concurso de dolo e culpa no mesmo fato:
qualquer dado que se agregue a determinada figura típica.
dolo no antecedente (conduta) + culpa no consequente (re-
O agente que atua em erro de tipo não tem consciência (ou
sultado).
não tem plena consciência) da sua conduta. Ele não sabe -
ou não sabe exatamente - o que faz, porque tem uma falsa
Exemplo clássico de crime preterdoloso é a lesão cor-
representação da realidade.
poral seguida de morte (art. 129, § 3°, do CP). Com efeito,
nesta hipótese, o agente quer a lesão, porém, por negligên-
O erro de tipo apresenta duas formas principais:
cia, imprudência ou imperícia, dá causa a resultado mais
grave, qual seja, a morte.
A) ERRO DE TIPO ESSENCIAL
ATENÇÃO! Caso haja dolo em relação ao resultado
Recai sobre dados principais do tipo, sejam elemen-
mais grave, direto ou eventual, fica afastado o caráter pre-
tares, qualificadoras, causas de aumento de pena e agra-
terdoloso do crime, configurando crime doloso puro.
vantes.
São elementos do crime preterdoloso:
Exemplo: numa noite de caça, o agente acredita estar
atirando num animal, porém acaba por atingir uma pessoa
a) a conduta inicial dolosa visando determinado resul-
agachada. Como não existe consciência e vontade de prati-
tado;
car uma conduta típica, ou seja, matar alguém, exclui, sem-
b) a provocação de resultado culposo mais grave que
pre, o dolo.
o desejado;
c) o nexo causal entre conduta e o resultado;
a) Erro de tipo essencial invencível (ou escusável) - é
d) tipicidade, pois não se pune o crime preterdoloso
dizer, inevitável, mesmo atentando-se para os cuidados ne-
sem previsão expressa em lei.
cessários, exclui o dolo e a culpa.

b) Erro de tipo essencial vencível (ou inescusável) -


Erro sobre elementos do tipo (Redação dada pela isto é, evitável pela diligência ordinária, exclui apenas o
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) dolo, o agente responderá por crime culposo, se previsto
pelo tipo respectivo.
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por Assim, no caso do exemplo da caça, provando-se que
crime culposo, se previsto em lei. qualquer pessoa, nas condições em que o caçador se viu
envolvido, incidiria no mesmo erro, tem-se o erro invencível,
Descriminantes putativas que exclui o dolo e a culpa. Diversamente, comprovado que,
empregando cuidados necessários, não incidiria em erro,
haverá exclusão do dolo, mas não da culpa, respondendo o
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente agente por homicídio culposo.
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que,
se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de B) ERRO DE TIPO ACIDENTAL - o erro, no caso,
pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como não recai sobre os elementos ou circunstâncias do crime,
crime culposo. mas sobre dado secundário (periférico), irrelevante da fi-
gura típica. O agente, sabendo que pratica um fato típico,
Erro determinado por terceiro responde pelo crime.

§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o ATENÇÃO! O erro acidental não exclui o dolo, tam-
erro. pouco a culpa.

HIPÓTESES DE ERRO ACIDENTAL:


Erro sobre a pessoa
a) Erro sobre o objeto - o agente imagina estar atin-
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é gindo um objeto material (coisa), mas atinge outro (ex.:
praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste subtrair relógio dourado supondo tratar-se de relógio de

9
ouro). O erro sobre o objeto não exclui dolo, não exclui a seu pai que entra em casa, agente atira contra seu pai,
culpa e não isenta o agente de pena. porém constata que se en- mas, por erro de pontaria,
ganou, pois era seu vizi- acaba por mata r seu vizi-
b) Erro sobre a pessoa - o agente, pensando atingir nho). nho).
uma vítima, confunde-se, atingindo pessoa diversa da que Responde pelo crime con- Responde pelo crime consi-
pretendia. Nesse caso, deve-se levar em conta, para fins de siderando-se as qualida- derando-se as qualidades
aplicação de pena, as qualidades da pessoa visada. des da vítima visada. da vítima visada.

 DISPÕE O ART. 20, § 3°, DO CP: d) Resultado diverso do pretendido (aberratio crimi-
nis) - o agente desejava cometer um crime, mas por erro na
Erro sobre a pessoa
execução acaba por cometer outro crime, atingindo bem ju-
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é
rídico diverso (mais valioso). Nesse caso, pune-se o agente
praticado não isenta de pena. Não se consideram, por culpa em relação ao resultado não pretendido.
neste caso, as condições ou qualidades da vítima,
senão as da pessoa contra quem o agente queria Dispõe o art. 74 do CP:
praticar o crime. Reconhecido o
Resultado diverso do pretendido
Exemplo: “A”, querendo matar o próprio pai, pressen-
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando,
tindo e supondo a aproximação deste, atira, vindo a matar
por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém
seu vizinho, pessoa que, na verdade, se aproximava, de- resultado diverso do pretendido, o agente responde
vendo responder como se tivesse atingido o genitor. por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se
ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a re-
c) Erro na execução (aberratio ictus) - o agente, que- gra do art. 70 deste Código.
rendo atingir determinada pessoa, por inabilidade ou outro
motivo qualquer, erra na execução do crime, atingindo pes-
Exemplo: “A” quer danificar o carro que “B” está con-
soa diversa da pretendida. Constitui uma espécie de erro de
duzindo, mas, por erro na execução, acaba atingindo apenas
tipo acidental em que o legislador adotou a teoria da ficção. “B”, matando-o, responderá por homicídio (resultado di-
verso do pretendido), a título de culpa. Se, além de atingir
Consideram-se, na hipótese, as qualidades da pessoa o carro, atingindo também “B”, matando-o, responderá pelo
que o agente pretendia atingir (vítima virtual) e não as qua- crime de dano na modalidade dolosa e o crime de homicídio
lidades da que efetivamente atingiu (vítima real). Assim, se
na modalidade culposa.
o agente, que visava matar “A”, acerta, por erro em razão
de imperícia, “B”, responderá como se tivesse matado “A”. ATENÇÃO: não se aplica o art. 74 CP se o resultado
produzido é menos grave (bem jurídico menos valioso) do
 Há três pessoas envolvidas: que o resultado pretendido, sob pena de prevalecer a impu-
a) Agente; nidade. Neste caso, o agente deve responder pela tentativa
b) Vítima virtual e do resultado pretendido não alcançado.
c) Vítima real.
Não se confunde com o art. 73 do CP. Vejamos:

Dispõe o art. 73 do CP: Aberratio ictus - art. Aberratio criminis – art. 74


73
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos Observa-se acidente ou Observa-se acidente ou erro
meios de execução, o agente, ao invés de atingir a erro na execução na execução
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa,
O agente acaba produ- O agente acaba por produzir
responde como se tivesse praticado o crime contra
zindo o resultado pre- resultado diverso do preten-
aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20
tendido, porém em pes- dido, atingindo bem jurídico
deste Código. No caso de ser também atingida a pes-
soa diversa (queria ma- diverso (queria danificar patri-
soa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra
tar "A" mas acaba ma- mônio de "A", mas acaba por
do art. 70 deste Código.
tando "B"). matar o proprietário).
Exemplo: “A” aponta a arma para seu pai, entretanto, Responde pelo resul- Responde pelo resultado di-
por falta de habilidade com aquela arma, acaba atingindo tado pretendido, a título verso do pretendido, a título
um vizinho que passava do outro lado da rua, sendo punido de dolo de culpa.
considerando-se as condições e qualidades da vítima visada
(pai), e não da vítima efetivamente atingida (vizinho), apli-  Crime putativo por erro de tipo - é o crime ima-
cando-se a majorante de crime contra ascendente. ginário ou erroneamente suposto, que existe exclusiva-
mente na mente do agente. Ele quer praticar um crime,
Apesar de sofrer as mesmas consequências, esta es- mas, por erro, acaba por cometer um fato penalmente irre-
pécie de erro não se confunde com aquela trazida pelo art. levante. Exemplo: “A” deseja praticar o crime de tráfico de
20, § 3°, do CP (erro sobre a pessoa). Vejamos: drogas, mas por desconhecimento comercializa fermento.
Diferente do erro de tipo, em que o indivíduo, desconhe-
Erro sobre a pessoa Erro na execução cendo elementos constitutivos do tipo penal, não sabe que
art. 20, § 3º, CP art. 73 CP pratica um fato criminoso, quando na verdade o faz.
A execução é perfeita. A execução é imperfeita.
e) Erro sobre o nexo causal (aberratio causae): tam-
A vítima é mal represen- A vítima é representada cor- bém chamado de dolo geral ou por erro sucessivo, é o en-
tada pelo executor (o retamente, havendo erro na gano no tocante ao meio de execução do crime, que
agente atira pensando ser execução do delito (o

10
efetivamente determina o resultado desejado pelo agente. excluindo, por óbvio, o dolo; se vencível, deverá subsistir o
Ocorre quando o sujeito, acreditando ter produzido o resul- crime culposo, desde que previsto em lei.
tado almejado, pratica nova conduta com finalidade diversa,
e ao final se constata que foi esta última que produziu o que  ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO - ART.
se buscava desde o início. 20, § 2º, CP

Exemplo: o agente ministra veneno na vítima, que Dispõe o § 2º do art. 20 do CP:


imediatamente cai ao chão. Na sequência, supondo que a
vítima está morta, coloca seu corpo numa mala e joga ao Erro determinado por terceiro
mar, ocorrendo que a vítima estava viva e morreu por asfi- § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina
xia por afogamento. o erro.

 Coisa (error in objecto). O erro provocado por terceiro não é hipótese de erro
Erro sobre de tipo. É a hipótese na qual o agente, em decorrência da
 Pessoa (error in persona)
o objeto atuação de terceira pessoa, chamada de agente provocador,
- art. 20, § 3º.
 Erro na execução (aberra- tem uma falsa percepção da realidade no que diz respeito
Erro aos elementos constitutivos do tipo penal. O agente não erra
tio ictus) - art. 73
de tipo Erro na exe- por conta própria (erro espontâneo), mas de forma provo-
 Resultado diverso do pre-
acidental cução cada, isto é, determinada por outrem.
tendido (aberratio criminis)-
art. 74
Erro sobre o O erro determinado por terceiro tem como conse-
---------- quência a punição do agente que determina o erro de ou-
nexo causal
trem. Se o erro foi determinado dolosamente, responderá
pelo crime na modalidade dolosa; se foi determinado culpo-
samente, responderá por delito culposo. Agindo com dolo ou
 DESCRIMINANTE PUTATIVA (ERRO DE TIPO
com culpa, o agente provocador é punido na condição de
PERMISSIVO) – ART. 20, § 1º, CP
autor mediato.
Dispõe o art. 20, § 1º do CP:
Exemplo: médico que ordena enfermeira a ministrar
determinada substância tóxica no paciente. Aplicado o pro-
Descriminantes putativas
duto, o paciente morre. Da hipótese, deve ser aquilatado:
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que,
a) Se o médico (autor mediato) agiu com dolo, que-
se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de
rendo a morte do paciente, responde por homicídio doloso.
pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como
crime culposo.
b) Se o médico (autor mediato) agiu com negligência,
responderá por crime culposo.
Descriminante é a causa que exclui o crime, retirando
o caráter ilícito do fato típico praticado por alguém, sendo
c) Se a enfermeira (autora imediata) não previu, nem
sinônimo de causa de exclusão da ilicitude.
lhe era previsível, o erro na prescrição do remédio, não res-
ponderá por crime algum.
DESCRIMINANTE PUTATIVA é a causa de exclusão da
ilicitude que não existe concretamente, mas apenas na
d) Se a enfermeira (autora imediata), ao perceber a
mente do autor de um fato típico. Resulta de erro de fato,
manobra criminosa, quer ou aceita o resultado, aplicando a
de modo a dar ao agente a impressão falsa da realidade e
substância, responderá pelo crime na forma dolosa; agindo
fazê-lo supor a existência de situação que tornaria a ação
com negligência, na forma culposa.
legítima, caso fosse verdade. É também conhecida como
“Erro de tipo permissivo”.

Exemplo: “A” encontra “B”, seu desafeto, na esquina. Erro sobre a ilicitude do fato (Redação dada pela
“B” insere a mão no bolso. “A”, neste instante, supondo que Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
“B” irá sacar uma arma, dispara primeiro, matando o su-
posto agressor que, na verdade, apenas tirava um lenço do Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O
bolso. Se o erro foi inevitável, “A” estará isento de pena; se erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena;
evitável, responde por crime culposo (culpa imprópria). se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

O art. 23 do CP prevê as causas de exclusão da ilici-


Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o
tude e em todas é possível que o agente as considere pre-
agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do
sentes por erro plenamente justificado pelas circunstâncias:
fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou
estado de necessidade putativo, legítima defesa putativa,
atingir essa consciência.
estrito cumprimento de dever legal putativo e exercício re-
gular do direito putativo. Basta que, por erro plenamente
justificado pelas circunstâncias, o agente suponha situação ERRO SOBRE A ILICITUDE DO FATO (DE PROI-
de fato que, se existisse, tornaria a sua ação legítima. BIÇÃO)

ATENÇÃO: Embora não pacificado, atualmente predo- Uma vez publicada no Diário Oficial da União, a lei se
mina na doutrina o entendimento que a descriminante pu- presume conhecida por todos. Por este motivo, não se ad-
tativa fática possui natureza jurídica de erro de tipo, mite alegação de desconhecê-la (é inescusável).

11
O erro de proibição (erro sobre a ilicitude do fato) mais elementos do sabe que viola a lei pe-
pode ser definido como a falsa percepção do agente acerca tipo penal. nal.
do caráter ilícito do fato típico por ele praticado, de acordo Não sabe o que faz.
com um juízo comum, isto é, possível de ser alcançado me- ➢ Escusável: exclui ➢ Escusável: exclui a
diante um procedimento de simples esforço de sua consci- o dolo e a culpa. culpabilidade.
ência. O sujeito conhece a existência da lei penal (presunção ➢ Inescusável: ex- ➢ Inescusável: não
legal absoluta), mas desconhece ou interpreta mal seu con- Efei-
clui o dolo, mas per- afasta a culpabilidade,
teúdo, ou seja, não compreende adequadamente seu cará- tos
mite a punição por mas permite a diminui-
ter ilícito. crime culposo, se ção da pena, de 1/6 a
previsto em lei. 1/3.
Exemplos: exibir filme impróprio para menores,
achando que foi liberado pela censura; o credor ingressa
clandestinamente na residência do devedor e subtrai bens
no valor da dívida, acreditando ser lícito “fazer justiça pelas
próprias mãos”. Coação irresistível e obediência hierárquica (Re-
dação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Assim, é possível que o agente incida em erro quanto
à proibição, pelo ordenamento jurídico, daquela sua con- Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível
duta, o que pode acarretar a exclusão da sua culpabilidade. ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente
ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da co-
Modalidades de erro de proibição: erro pode ser ação ou da ordem.
escusável ou inescusável, e é da conclusão desta análise que
decorre a possibilidade do afastamento da culpabilidade:
EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE
a) Erro de proibição escusável (inevitável, ou in-
O artigo em estudo trata de duas hipóteses legais de
vencível): o sujeito, ainda que no caso concreto tivesse se
excludentes de culpabilidade por inexigibilidade de con-
esforçado, não poderia evitá-lo. O agente, mesmo com os
duta diversa.
cuidados normais referentes à sua condição pessoal, não
tem condições de compreender o caráter ilícito do fato.
 Culpabilidade é o juízo de censura, o juízo de
reprovabilidade que incide sobre a formação e a exteriori-
 Efeito: O agente é isento de pena, eis que exclui-
zação da vontade do responsável por um fato típico e ilí-
se a culpabilidade, em face da ausência de um dos seus ele-
cito, com o propósito de aferir a necessidade de imposição
mentos, a potencial consciência da ilicitude.
da pena.
b) Erro de proibição inescusável (evitável, ou
Coação irresistível: a coação a que se refere o dis-
vencível): poderia ser evitado com o normal esforço de
positivo pode ser traduzida como ameaça, promessa de
consciência por parte do agente. Se empregasse as diligên-
realizar um mal. Refere-se apenas a coação moral (vis
cias normais, seria possível a compreensão acerca do cará-
compulsiva) e não à coação física (vis absoluta), esta ex-
ter ilícito do fato.
cludente da conduta e, consequentemente, do fato típico.
 Efeito: Diminuição da pena de 1/6 a 1/3, pois sub-
Atente-se que o dispositivo, ao mencionar coação ir-
siste a culpabilidade, com pena minorada.
resistível está, evidentemente, excluindo a resistível. Na
irresistível, o agente não é passível de punição; na resistí-
Espécies de erro de proibição: a doutrina classifica
vel, a pena fica atenuada em face do disposto no artigo
o erro de proibição em duas espécies:
65, III, c, primeira parte (atenuante), do Código Penal.
a) Erro de proibição direto: Recai sobre o conteúdo
 Não é necessário que o mal prometido pelo coator
proibitivo de uma norma penal (o agente não conhece ou
se dirija contra o coato, podendo dirigir-se a um parente,
não compreende o seu âmbito de incidência). Exemplo:
por exemplo.
acredita que eutanásia não está alcançada pelo tipo do art.
121 do CP.
ATENÇÃO! O coator responde pelo crime cometido
pelo coato, em concurso material com o delito de tortura
b) Erro de proibição indireto (descriminante pu-
(art. 1°, I, "b", da Lei 9.455/97).
tativa por erro de proibição): o agente sabe que a con-
duta é típica, mas supõe presente uma norma permissiva,
Obediência hierárquica: a ordem de superior hie-
ora supondo existir uma causa excludente ela ilicitude, ora
rárquico é a manifestação de vontade emanada de um de-
supondo estar agindo nos limites da descriminante. Exem-
tentor de função pública dirigida a um agente público hie-
plo: “A”, traído por sua mulher, acredita estar autorizado a
rarquicamente inferior, destinada à realização de uma
matá-la para defender sua honra ferida.
ação ou abstenção.

Exige a presença de dois elementos:


Erro de Tipo Erro de Proibição
O agente desco- O agente conhece a rea- 1) que a ordem não seja manifestamente (clara-
nhece a situação fá- lidade fática, mas não mente) ilegal, ou seja, que a ordem seja aparentemente
Causa tica, o que lhe im- compreende o caráter legal;
pede o conheci- ilícito da sua conduta.
mento de um ou Sabe o que faz, mas não

12
2) ordem oriunda de superior hierárquico. Essa su- legal a lei não determina apenas a escolha do agente em
bordinação diz respeito, apenas, à hierarquia vinculada à obedecer ou não a regra por ela estabelecida. Há o dever
função pública. legal de agir.
 A excludente pressupõe no executor um funcionário
ATENÇÃO! A subordinação doméstica (ex.: pai e fi-
público ou agente público que age por ordem da lei, não se
lho) ou eclesiástica (ex.: bispo e sacerdote) não configuram
excluindo o particular que exerça função pública (jurado, pe-
a presente dirimente.
rito, mesário da Justiça Eleitora etc.).
Estrita obediência - Deve a execução limitar-se à
estrita observância da ordem, ou seja, não pode o subordi- Exemplo: o policial que emprega violência moderada,
nado exceder-se na execução da ordem, sob pena de res- mas necessária, para concretizar a prisão em flagrante de
ponder pelo excesso. perigoso assaltante. A conduta do policial, apesar de típica
(lesão corporal), está justificada pelo estrito cumprimento
EXCLUDENTES DA CULPABILIDADE do dever legal.
Potencial Outro exemplo ocorre por ocasião do cumprimento de
Exigibilidade de
Imputabilidade consciência mandado de busca domiciliar em que o morador desobedeça
conduta diversa
da ilicitude a ordem de ingresso na residência, autorizando o arromba-
Doença mental Erro de proi- Coação moral ir- mento da porta e a entrada forçada (CPP, art. 245, § 2°).
Desenvolvi- bição inevitá- resistível Em decorrência do estrito cumprimento do dever legal, o
mento mental vel (ou escusá- Obediência hie- funcionário público responsável pelo cumprimento da ordem
retardado ou in- vel) rárquica a ordem judicial não responde pelo crime de dano, e sequer pela vi-
completo não manifesta- olação de domicilio.
Embriaguez mente ilegal
acidental com- Dever legal - O dever legal engloba qualquer obriga-
pleta ção direta ou indiretamente resultante de lei, em sentido
genérico, isto e, preceito obrigatório e derivado da autori-
dade pública competente para emiti-lo. Compreende, assim,
decretos, regulamentos, e, também, decisões judiciais, as
Exclusão de ilicitude (Redação dada pela Lei nº quais se limitam a aplicar a letra da lei ao caso concreto
7.209, de 11.7.1984) submetido ao exame do Poder Judiciário.

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: Limites da excludente: O cumprimento deve ser es-
tritamente dentro da lei, ou seja, há de obedecer à risca os
I - em estado de necessidade; limites a que está subordinado.

Comunicabilidade da excludente da ilicitude: Em


II - em legítima defesa; caso de concurso de pessoas, o estrito cumprimento de de-
ver legal configurado em relação a um dos agentes estende-
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exer- se aos demais envolvidos no fato típico, sejam eles coauto-
cício regular de direito. res ou partícipes.

Excesso punível
EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO (Inciso III,
parte final)
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses
deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
Esta causa de justificação compreende condutas do
cidadão comum autorizadas pela existência de direito defi-
EXCLUDENTES DE ILICITUDE nido em lei e condicionadas à regularidade do exercício
desse direito.
Ilicitude é a contrariedade entre o fato típico prati-
cado por alguém e o ordenamento jurídico, capaz de atingir A execução de prisão em flagrante permitida a qual-
bens jurídicos penalmente protegidos. O juízo de ilicitude é quer um do povo (art. 301 do CPP) é um claro exemplo de
posterior, presumindo-se que toda conduta típica seja anti- exercício regular de direito. A prática de determinados es-
jurídica, até prova em contrário. portes pode gerar lesão corporal e até morte. Porém, não se
pode ignorar que o Estado incentiva a prática esportiva,
Teoria da indiciariedade - uma vez praticado o fato abrangendo as modalidades violentas. O atleta pode invocar
típico, presume-se o seu caráter ilícito. Essa presunção é a descriminante do exercício regular de direito.
relativa (iuris tantum), pois um fato típico pode ser lícito,
desde que o seu autor demonstre ter agido acobertado por Essa causa de exclusão da ilicitude, assim como todas
uma causa de exclusão da ilicitude. Presente uma exclu- as demais, deve obedecer aos limites legais. Quem tem um
dente da ilicitude, estará excluída a infração penal. direito, dele não pode abusar. O excesso ou abuso enseja,
além do afastamento da excludente, a utilização da legítima
defesa por parte do prejudicado pelo exercício irregular e
ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL (In-
abusivo do direito.
ciso III, primeira parte)
É a causa de exclusão da ilicitude que consiste na prá-  "Ofendículos": também conhecido como offendi-
tica de um fato típico, em razão de cumprir o agente uma cula ou offensacula, representa o aparato preordenado para
obrigação imposta por lei. No estrito cumprimento do dever defesa do patrimônio (ex.: cacos de vidro no muro, ponta

13
de lança na a murada, corrente elétrica etc.). Um assaltante, interesses lícitos, ou seja, uma colisão entre bens jurídicos
ao tentar invadir uma residência, se fere na lança que pro- pertencentes a pessoas diversas que se soluciona, com a
tege o imóvel. O proprietário da casa não responde por lesão autorização conferida pelo ordenamento jurídico, com o sa-
corporal. crifício de um deles para a preservação do outro.

ATENÇÃO! Sobre ofendículos, entende a doutrina Requisitos do Estado de Necessidade - o art. 24,
majoritária: caput, e seu § 1°, do Código Penal, elencam requisitos cu-
a) Enquanto o aparato não é acionado, caracteriza mulativos para a configuração do estado de necessidade
exercício regular de um direito; como causa legal de exclusão da ilicitude:
b) Ao funcionar repelindo a injusta agressão, confi-
gura a excludente da legítima defesa (legítima defesa pre- I) Situação de necessidade - configurada na exis-
ordenada). tência de:

a) Perigo atual: Perigo é a exposição do bem jurídico


EXCESSO PUNÍVEL (PARÁGRAFO ÚNICO) a uma situação de probabilidade de dano. Sua origem pode
vir de um fato da natureza (ex.: uma inundação, subtraindo
Excesso é a desnecessária intensificação de um fato o agente um barco para sobreviver), de seres irracionais
típico inicialmente amparado por uma causa de justificação. (ex.: ataque de um cão bravio). O CP exige seja o perigo
É punível o excesso, doloso ou culposo, do agente que, atual: deve estar ocorrendo no momento em que o fato é
agindo amparado por uma causa excludente da ilicitude, praticado.
ofende bem jurídico alheio, em razão de não guardar o de-
vido cuidado para não cometer exagero na conduta.  Em relação ao perigo iminente, aquele prestes a se
iniciar, embora haja controvérsia, prevalece o entendimento
a) Excesso doloso: ocorre quando o agente se pro- de que equivale ao perigo atual, excluindo o crime.
põe a ultrapassar os limites da causa justificante. Suponha-
mos que o sujeito seja atacado por um seu desafeto desar- b) Perigo não provocado voluntariamente pelo agente
mado e inicie atuação legítima para repelir a injusta agres- - A situação de perigo não pode ter sido causada voluntari-
são. Enquanto se defende, diante da oportunidade criada amente pelo agente. O Código Penal é claro ao negar o es-
pelas circunstâncias, decide matar seu inimigo e se apodera tado de necessidade àquele que voluntariamente provocou
de um revólver, alvejando mortalmente aquele indivíduo. o perigo.
Não obstante a ação inicial estivesse acobertada, houve ex-
cesso proposital, que ensejará a imputação do resultado na  Há controvérsia na doutrina, entretanto, a maioria
forma de dolo; entende caber estado de necessidade contra fato que o
agente provocou culposamente.
b) Excesso culposo: decorre da inobservância do
dever de cuidado do agente enquanto atua respaldado por c) Risco a direito próprio ou alheio - O agente em pe-
alguma das causas excludentes da ilicitude. Imaginemos rigo deve buscar salvar direito próprio (estado de necessi-
que um indivíduo seja atacado por alguém desarmado e, li- dade próprio) ou alheio (estado de necessidade de terceiro).
citamente, ponha-se a repelir a agressão injusta. Exibindo o Na defesa de interesse de terceiro, o agente independe de
agressor compleição física avantajada, o agredido se apossa autorização daquele ou posterior ratificação, não recla-
de um pedaço de madeira para rechaçar os socos que rece- mando a existência de uma relação de parentesco ou inti-
beria. Por falta de cuidado, no entanto, acaba atingindo a midade, pois a eximente se funda na solidariedade que deve
cabeça do agressor, que falece em virtude dos ferimentos. reinar entre os indivíduos em geral.
Neste caso, o agredido seria responsabilizado por homicídio
culposo. d) Ausência do dever legal de enfrentar o perigo: Não
pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal
de enfrentar o perigo (CP, art. 24, § 1º). O fundamento da
norma é evitar que pessoas que têm o dever legal de en-
Estado de necessidade
frentar situações perigosas se esquivem de fazê-lo injustifi-
cadamente, devendo suportar os riscos inerentes à sua fun-
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem ção. Essa regra, evidentemente, deve ser interpretada com
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou bom senso: não se pode exigir do titular do dever legal de
por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito enfrentar o perigo, atitudes heroicas ou sacrifício de direitos
próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era básicos de sua condição humana.
razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984) II) Fato necessitado - É o fato típico praticado pelo
agente em face do perigo ao bem jurídico. Restando confi-
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem gurada a situação de necessidade, o agente pode praticar o
tinha o dever legal de enfrentar o perigo. fato necessitado, isto é, a conduta lesiva a outro bem jurí-
dico. Esse fato, contudo, deve obedecer a dois requisitos:
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do inevitabilidade do perigo por outro modo e proporcionali-
direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois dade.
terços.
a) Inevitabilidade do perigo por outro modo: o fato
necessitado deve ser absolutamente imprescindível para
ESTADO DE NECESSIDADE evitar a lesão ao bem jurídico. Se o caso concreto permitir
o afastamento do perigo por qualquer outro meio a ser afe-
É a causa de exclusão da ilicitude que depende de rido de acordo com o juízo do homem médio e diverso da
uma situação de perigo caracterizada pelo conflito de prática do fato típico, deve o agente optar por ele.

14
defesa o agente de segurança pública que repele agressão
b) Proporcionalidade (estado de necessidade justifi- ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prá-
cante): exige-se que o bem preservado seja de valor igual tica de crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
ou superior ao bem jurídico sacrificado. Não se pode, previ-
amente, estabelecer um quadro de valores, salvo em casos
A Legítima Defesa configura causa de justificação
excepcionais (ex: a vida humana, evidentemente, vale mais
consistente em repelir injusta agressão, atual ou iminente,
do que o patrimônio). Deve o juiz decidir na situação real
a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos
que lhe for apresentada, utilizando como modelo o juízo do
meios necessários.
homem médio.
Requisitos legais: A legítima defesa depende dos
seguintes requisitos cumulativos, fixados no texto legal:
CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA (ART. 24, § 2º)
Estado de necessidade exculpante - cuida-se de
I) Agressão injusta - entende-se por agressão in-
causa de diminuição da pena de 1/3 a 2/3 que ocorre
justa a conduta humana contrária ao Direito, consciente e
quando o agente, visando proteger bem jurídico próprio ou
voluntária, atacando bens jurídicos de alguém, seja medi-
de terceiro, sacrifica outro bem jurídico de maior valor. Não
ante ação, seja mediante omissão.
há exclusão do crime. É mantida a tipicidade, mas é possível
a diminuição da pena, dependendo das condições concretas
Desafio e legítima defesa - Não há legítima defesa
em que o fato foi praticado.
no desafio, no duelo, no convite para a luta. Os contendores
respondem pelos crimes praticados.
Exemplo: para desviar de um automóvel o motorista
vem a atingir uma pessoa, vindo a lesioná-la. Trata-se de
Agressão por inimputável - Cabe legítima defesa.
hipótese na qual o bem sacrificado (integridade corporal)
O inimputável pratica conduta consciente e voluntária, apta
apresenta valor superior ao bem preservado, que é o patri-
a configurar a agressão. O fato previsto em uma lei incrimi-
mônio.
nadora por ele cometido é típico e ilícito, faltando-lhe ape-
nas a culpabilidade.
Estado de necessidade Justificante x Excul-
pante: o estado de necessidade JUSTIFICANTE se refere à
ATENÇÃO! Animais que atacam e coisas que ofere-
causa Excludente de Ilicitude, enquanto o estado de neces-
cem riscos às pessoas podem ser sacrificados ou danificados
sidade EXCULPANTE enquadra-se como causa de diminuição
com fundamento no estado de necessidade, e não na le-
de pena.
gítima defesa. Mas nada impede, entretanto, a utilização de
animais como instrumentos do crime, como nos casos em
PROPORCIONALIDADE que são ordenados, por alguém, ao ataque de determinada
Bem pro- Bem sacri- Estado de Ne- pessoa, funcionando como verdadeiras armas, autorizando
tegido ficado cessidade a legítima defesa.
Teoria Valor maior Valor menor Justificante (ex-
Unitária ou igual ou igual clui o crime) II) Agressão atual ou iminente - Atual é a agres-
Valor me- Exculpante são presente, isto é, já se iniciou e ainda não se encerrou a
Valor maior lesão ao bem jurídico. Iminente é a agressão prestes a acon-
nor (reduz a pena)
tecer, ou seja, aquela que se torna atual em um futuro ime-
diato. O medo e a vingança não autorizam a reação, mas
Estado de necessidade recíproco: É perfeitamente apenas a necessidade de defesa urgente e efetiva do inte-
admissível que duas ou mais pessoas estejam, simultanea- resse ameaçado.
mente, em estado de necessidade, umas contra as outras.
É o que se convencionou chamar de estado de necessidade  A agressão futura (ou remota) e a agressão pas-
recíproco, hipótese em que deve ser afastada a ilicitude do sada (ou pretérita) não abrem espaço para a legítima de-
fato, sem a interferência do Estado que, ausente, perma- fesa.
nece neutro nesse conflito.
III) Defesa de direito próprio ou alheio - admite-
Casos específicos de estado de necessidade: se legítima defesa no resguardo de qualquer bem jurídico
próprio (legítima defesa própria) ou alheio (legítima defesa
1) Aborto necessário – art. 128, I, CP; de terceiro): vida, integridade corporal, patrimônio, honra
2) Intervenção médico cirúrgica de emergência, para etc.
salvar a vítima;
3) Violência contra o suicida para evitar sua morte; IV) Reação com os meios necessários - Meios
4) Invasão de domicílio para evitar crime. necessários são aqueles que o agente tem à sua disposição
para repelir a agressão injusta, atual ou iminente, a direito
seu ou de outrem, no momento em que é praticada.

Legítima defesa V) Uso moderado dos meios necessários - Carac-


teriza-se pelo emprego dos meios necessários na medida
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando suficiente para afastar a agressão injusta. Utiliza-se o perfil
moderadamente dos meios necessários, repele injusta do homem médio, ou seja, para aferir a moderação dos
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.(Re- meios necessários deve-se comparar o comportamento do
dação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) agredido com aquele que, em situação semelhante, seria
adotado por um ser humano de inteligência e prudência co-
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos muns à maioria da sociedade.
no caput deste artigo, considera-se também em legítima

15
Legítima defesa protetiva (sniper policial): A Lei 01. (VUNESP - 2021 - TJ-GO - Titular de Serviços de
nº 13.964/2019 – Pacote Anticrime, inseriu, através do pa- Notas e de Registros - Provimento) Assinale a alterna-
rágrafo único no artigo 25 do Código Penal, mais uma hipó- tiva que completa adequadamente as lacunas, de acordo
tese de legítima defesa (excludente da ilicitude): do agente com os arts. 24, §1º e 25 do CP:
de segurança pública que repele agressão ou risco de agres-
Não pode alegar estado de necessidade quem ______ ; en-
são a vítima mantida refém durante a prática de crimes. A
tende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente
expressão "refém" deve ser compreendida nos casos em que
dos meios necessários, repele injusta agressão, ______, a
a vítima tem sua liberdade de ir e vir suprimida por força do
direito ______ .
autor do fato.
a) tinha o dever legal de enfrentar o perigo … atual … próprio
 Legítima defesa putativa: Nesta hipótese a ou de terceiro
agressão injusta é imaginada pelo agente, que tem uma
falsa percepção da realidade. Não exclui a ilicitude. Se o erro b) tem condições de enfrentar o perigo … atual ou iminente
for inevitável, isenta o agente de pena; se evitável, res- … próprio
ponde por crime culposo (culpa imprópria). c) tinha o dever legal de enfrentar o perigo … atual ou imi-
nente … seu ou de outrem
 Legítima defesa sucessiva: Ocorre na repulsa
contra o excesso abusivo do agente (ocorrem duas legítimas d) expôs-se desnecessariamente ao risco … atual … seu ou
defesas, uma depois da outra). de outrem

 Legítima defesa de pessoa jurídica - É possível


a legítima defesa para proteção de bens pertencentes às 02. (2017 - MPE-RS- MPE-RS - Secretário de Diligências)
pessoas jurídicas, inclusive do Estado, pois atuam por meio De acordo com o Código Penal Brasileiro, quanto à imputa-
de seus representantes e não podem defender-se sozinhas. bilidade penal e quanto ao crime e seus aspectos, assinale
a alternativa correta.
 Legítima defesa do feto - Admite-se, também, a a) O crime é doloso quando o agente deu causa ao resultado
legítima defesa do feto. É o caso do agente que, percebendo por imprudência, negligência ou imperícia.
estar a gestante na iminência de praticar um autoaborto, a
impede, internando-a posteriormente em um hospital para b) Entende-se em legítima defesa quem repele injusta
que o parto transcorra normalmente. agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
c) O estrito cumprimento do dever legal é causa legal de
 Legítima Defesa x Erro de Execução (Aberratio
exclusão da ilicitude.
ictus) - Se repelindo uma agressão injusta, atual ou imi-
nente, a direito seu ou de outrem, o agente atinge pessoa d) É isento de pena o agente que, por doença mental ou
inocente, por erro no emprego dos meios de execução, sub- desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
siste em seu favor a legitima defesa. Exemplo: “A” se de- tempo da ação, relativamente incapaz de entender o caráter
fende de tiros de “B’ revidando disparos de arma de fogo em ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse en-
sua direção. Acerta, todavia, “C”, que nada tinha a ver com tendimento.
o incidente, matando-o.
e) A embriaguez completa, voluntária ou culposa, pelo álcool
ou substância de feitos análogos, exclui a imputabilidade pe-
 Sonâmbulo - Não se configura legítima defesa em
nal.
relação à agressão desferida por sonâmbulo, por ausência
de conduta por parte do agressor, excluindo, portanto, o
próprio fato típico.
03. (2016 – COMPERVE - Câmara de Natal – RN - Guarda
Legislativo) Considera-se o crime consumado, quando nele
DIFERENÇAS ENTRE LEGITIMA DEFESA E ESTADO
se reúnem todos os elementos de sua definição legal. Entre-
DE NECESSIDADE
tanto, a tentativa de crime pode gerar várias repercussões
Estado de necessidade Legítima defesa jurídicas. Nessa matéria, o código penal determina que
Há conflito entre vários Há ameaça ou ataque a
bens jurídicos diante de um bem jurídico. a) a tentativa é punível mesmo quando, por ineficácia abso-
uma situação de perigo luta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é im-
O perigo decorre de fato na- Trata-se de agressão hu- possível consumar-se o crime.
tural (ou animal) ou de ação mana injusta. b) o crime é tentado, quando, iniciada a execução, não se
humana culposa. O perigo tem destinatário consuma por circunstâncias decorrentes da vontade do
O perigo não tem destinatá- certo. agente.
rio certo.
Os interesses em conflito Os interesses do agressor c) a tentativa é punida, salvo disposição expressa em con-
são legítimos, logo, é possí- são ilegítimos, logo, não é trário, com pena correspondente ao crime consumado, di-
vel estado de necessidade x possível legítima defesa x minuída de um a dois terços.
estado de necessidade legítima defesa. d) o ajuste, a determinação ou instigação mesmo sem dis-
Perigo atual Agressão pode ser atual ou posição expressa em contrário, são puníveis, ainda que o
(A doutrina admite também iminente crime não chegue a ser tentado.
na iminência)

EXERCÍCIOS – DO CRIME 04. (2016 – FCC - SEGEP-MA - Técnico da Receita Estadual)


NÃO há crime quando o agente pratica o fato típico descrito
na lei penal

16
a) mediante coação irresistível ou em estrita obediência a e) Considera-se a existência da legítima defesa somente
ordem de superior hierárquico. quando se está diante de uma injusta agressão.
b) por culpa, dolo eventual, erro sobre os elementos do tipo
e excesso justificado.
08. (2015 - COPESE – UFPI - Prefeitura de Teresina – PI -
c) somente em estado de necessidade e legítima defesa. Guarda Civil Municipal) Quanto ao estado de necessidade, é
CORRETO afirmar:
d) mediante erro sobre a pessoal contra a qual o crime é
praticado, em concurso de pessoas culposo e nos casos de a) Há estado de necessidade, quando a pessoa atua diante
excesso doloso. de um perigo a que deu causa propositalmente.
e) em estado de necessidade, legítima defesa, em estrito b) Em situação que não extrapole os limites legais do exer-
cumprimento do dever legal e no exercício regular de direito. cício de sua profissão, pode o bombeiro militar deixar de
socorrer uma pessoa em perigo alegando estado de neces-
sidade.
05. (2016 – COMPERVE - Câmara de Natal – RN - Guarda
c) Pode-se reconhecer o estado de necessidade se havia ou-
Legislativo) Sabe-se que não há crime quando o agente pra-
tro modo de evitar o perigo.
tica o fato em estado de necessidade, em legítima defesa,
em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício re- d) Caracteriza-se o estado de necessidade mesmo diante de
gular de um direito, tratando-se os mencionados institutos situação de perigo que não seja atual ou iminente.
de excludentes de ilicitude. Sobre essa temática, conforme
e) Um dos pressupostos do estado de necessidade é a de-
o código penal, afirma-se que
monstração da inevitabilidade do comportamento, ou seja,
a) pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever a demonstração de que não havia outra forma de atuar di-
legal de enfrentar o perigo. ante da situação de perigo.
b) está em legítima defesa quem, usando imoderadamente
dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou
09. (2014 – IPAD- Prefeitura de Recife – PE - Agente de
iminente, a direito seu.
Segurança Municipal - Guarda Municipal) Beltrano e Ciclano
c) no estado de necessidade, embora seja razoável exigir- saem juntos para comemorar o sucesso obtido em concurso
se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser redu- público. Beltrano não pode ingerir em hipótese alguma be-
zida de um a dois terços. bida alcoólica. Entretanto, Ciclano coloca às escondidas ál-
cool no refrigerante de Beltrano. Ao tomar o refrigerante,
d) o agente, em qualquer das hipóteses de excludente de
Beltrano perde a capacidade de se comportar conforme o
ilicitude, responderá tão-somente pelo excesso doloso.
direito e de entender inteiramente o caráter ilícito de seus
atos. Totalmente fora de si, Beltrano quebra uma garrafa na
cabeça de Ciclano que falece. Considerando o exposto, e
06. (2015 – FCC - TRT - 9ª REGIÃO (PR) - Técnico Judiciário correto afirmar:
- Área Administrativa) Maria, a fim de cuidar do machucado
de seu filho que acabou de cair da bicicleta, aplica sobre o a) Beltrano está isento de pena porque no momento que
ferimento da criança ácido corrosivo, pensando tratar-se de ceifou a vida de Ciclano encontra-se em situação de inimpu-
uma pomada cicatrizante, vindo a agravar o ferimento. A tabilidade.
situação descrita retrata hipótese tratada no Código Penal
b) Beltrano não cometeu nenhum crime, visto que está am-
como:
parado pela excludente de estado de necessidade.
a) erro de proibição.
c) Beltrano responderá por homicídio, pois a embriaguez em
b) erro na execução. nenhuma hipótese o isenta de pena.

c) estado de necessidade. d) Beltrano responderá por homicídio visto que deveria ser
mais cuidadoso para não ingerir bebida alcoólica.
d) exercício regular de direito.
e) Beltrano está isento de pena porque agiu sob coação ir-
e) erro de tipo. resistível.

07. (2015 - COPESE – UFPI - Prefeitura de Teresina - PI - 10. (2014 – VUNESP - PC-SP - Atendente de Necrotério Po-
Guarda Civil Municipal) Em relação à legítima defesa, assi- licial) Aquele que antes de praticar o fato até hipotetiza que
nale a opção INCORRETA. ele pode ocorrer, mas acredita, sinceramente, que o resul-
a) Na legítima defesa, pode-se utilizar de qualquer meio à tado não se verificará e, portanto, não admite previamente
disposição para repelir ataque injusto. a possibilidade de o resultado advir, comete crime

b) A legítima defesa deve ser dirigida somente contra o a) premeditado.


agressor e não contra terceiros. b) doloso.
c) Não há que se falar em legítima defesa se uma pessoa se c) tentado.
defende de um animal raivoso que a ataca na rua.
d) intencional.
d) Considera-se requisito da legítima defesa: defesa de di-
reito próprio (legítima defesa própria) ou de terceiros (legí- e) culposo.
tima defesa de terceiros).

17
11. (2014 – VUNESP - PC-SP - Atendente de Necrotério Po- c) legítima defesa
licial) Dispõe o parágrafo único do art. 14 do CP que o crime
d) exercício regular de direito
tentado é punido, salvo exceção, com a pena
e) coação irresistível
a) correspondente à prevista para o crime consumado, di-
minuída de um a dois terços.
b) igual à do crime consumado. 15. (2014 – VUNESP - PC-SP - Técnico de Laboratório) Con-
dutor dirige seu veículo e vê seu maior desafeto atraves-
c) correspondente à metade da prevista para o crime con-
sando a rua na faixa de pedestres. Estando próximo à faixa,
sumado.
o condutor, consciente, deliberada e intencionalmente, ace-
d) livremente estabelecida pelo Juiz, mas em patamar obri- lera seu veículo e o coloca na direção de seu desafeto, aca-
gatoriamente inferior à correspondente à prevista para o bando por atropelá-lo e matá-lo. De acordo com o Código
crime consumado. Penal, o crime cometido deve ser considerado
e) correspondente à prevista para o crime consumado, di- a) culposo porque o agente deu causa ao resultado por im-
minuída de um ano. perícia.
b) doloso porque o agente não atentou para a faixa de pe-
destres.
12. (2014 – VUNESP - PC-SP - Atendente de Necrotério Po-
licial) De acordo com o art. 23 do CP, não comete crime, por c) doloso porque o agente tinha intenção de matar seu de-
exclusão da ilicitude, aquele que pratica fato típico em safeto.
a) idade inferior a 18 (dezoito) anos. d) culposo porque o agente deu causa ao resultado por ne-
gligência.
b) circunstância de completa embriaguez, causada por força
maior. e) culposo porque o agente deu causa ao resultado por im-
prudência.
c) situação de extrema emoção.
d) situação de extrema paixão.
16. (2014 – VUNESP - PC-SP - Técnico de Laboratório) Mé-
e) estado de necessidade, para salvaguardar direito alheio.
dico devidamente contratado pela Administração Pública e
que está lotado em hospital público exige de familiar de pa-
ciente do Sistema Único de Saúde o pagamento de um valor
13. (2014 – VUNESP - PC-SP - Investigador de Polícia) Du- indevido para a realização de uma cirurgia imprescindível. O
rante as festividades de Natal de 2013, o motorista “A” diri- familiar finge aquiescer com a exigência, mas ao sair do hos-
gia o seu veículo pela Rodovia Presidente Dutra na veloci- pital aciona a autoridade policial e não efetua qualquer pa-
dade de 90 km/h, num trecho em que a velocidade máxima gamento. Nesse caso, considerando as previsões do Código
permitida era de 110 km/h. Ao transitar por uma curva, veio Penal, houve crime
a perder o controle de seu veículo, atropelando “B” e “C”
que se encontravam num ponto de ônibus no acesso à ci- a) tentado, pois não houve o pagamento, circunstância
dade de Arujá. “B” faleceu no local e “C” foi socorrido em alheia à vontade do médico.
estado grave, permanecendo internado no hospital da ci-
b) culposo, porque o agente deu causa ao resultado por im-
dade.
prudência.
c) impossível, por ineficácia absoluta do meio, já que a po-
Apenas com base nas informações contidas no caso descrito,
lícia foi acionada.
há possibilidade de “A” ser responsabilizado, penalmente,
d) tentado, pela superveniência de causa relativamente in-
a) por crime culposo consumado.
dependente.
b) por crime doloso consumado e tentado.
e) consumado, pois o crime reuniu todos os elementos de
c) por um crime doloso consumado e por outro crime cul- sua definição legal.
poso tentado
d) somente por crime tentado.
17. (2014 – CESPE - TJ-SE - Técnico Judiciário - Área Judi-
e) por uma contravenção penal. ciária) A respeito do princípio da legalidade, da relação de
causalidade, dos crimes consumados e tentados e da impu-
tabilidade penal, julgue os itens seguintes.
14. (2014 – VUNESP - PC-SP - Investigador de Polícia) Nos
termos do Código Penal, “entende-se em _____________ Considere que Alfredo, logo depois de ter ingerido veneno
quem, usando moderadamente dos meios necessários, re- com a intenção de suicidar-se, tenha sido alvejado por dis-
pele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de paros de arma de fogo desferidos por Paulo, que desejava
outrem”. matá-lo. Considere, ainda, que Alfredo tenha morrido em
razão da ingestão do veneno. Nessa situação, o resultado
Assinale a alternativa que completa corretamente a afirma- morte não pode ser imputado a Paulo.
ção. ( ) Certo ( ) Errado
a) estado de necessidade
b) estrito cumprimento de dever legal

18
18. (2014 – CESPE - TJ-SE - Técnico Judiciário - Área Judi- materialidade de um comportamento típico, antijurídico e
ciária ) A respeito do princípio da legalidade, da relação de culpável, não atingido por causa extintiva da punibilidade.
causalidade, dos crimes consumados e tentados e da impu-
tabilidade penal, julgue os itens seguintes. Princípios informadores da pena:

a) Princípio da Legalidade - não há pena sem pré-


No direito penal brasileiro, as penas previstas para os crimes
via cominação legal;
consumados são as mesmas previstas para os delitos tenta-
dos.
b) Princípio da personalidade ou pessoalidade
( ) Certo ( ) Errado ou da intranscendência – a pena não passa da pessoa do
condenado. Entretanto, obrigação de reparar o dano e a de-
cretação do perdimento de bens podem ser estendidas aos
19. (2014 – CESPE - Câmara dos Deputados - Técnico Le- sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor
gislativo) Com relação ao disposto na parte geral do Código do patrimônio transferido.
Penal, ao inquérito policial, à prisão em flagrante e à prisão
preventiva, julgue os itens a seguir. c) Princípio da individualização - a pena deve ser
individualizada, considerando o fato e seu agente;
Haverá isenção de pena se o agente praticar o fato em es-
trito cumprimento de dever legal. d) Princípio da inderrogabilidade ou da inevita-
( ) Certo ( ) Errado bilidade - desde que presentes os seus pressupostos, a
pena deve ser aplicada e executada (exceções: sursis, livra-
mento condicional, perdão judicial, anistia etc.).;
20. (2014 – CESPE - Câmara dos Deputados - Técnico Le-
gislativo) Denomina-se arrependimento eficaz a reparação e) Princípio da proporcionalidade - a pena deve
do dano ou a restituição voluntária da coisa antes do rece- ser proporcional ao mal gerado;
bimento da denúncia, o que possibilita a redução da pena,
em se tratando de crimes contra o patrimônio. f) Princípio da humanização ou humanidade - a
pena não pode atentar contra a dignidade da pessoa hu-
( ) Certo ( ) Errado mana, vedando-se tratamento desumano, cruel ou degra-
dante.

GABARITO – DO CRIME Teorias Preventivas da pena:


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
a) Teoria da Prevenção Geral - parte da
C C C E C E A E A E
ideia da pena como um instrumento voltado à coletividade.
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Tem como premissa não o crime já praticado, mas a possi-
A E A C C E C E E E bilidade de seu cometimento, daí porque pretende, através
da previsão da sanção penal, intimidar ou estimular a soci-
edade. Dessa maneira, é possível dissuadir os potenciais cri-
2. DAS PENAS (ARTIGOS 32 A 52) minosos.

b) Teoria da Prevenção Especial - é direcio-


TÍTULO V - DAS PENAS nada à pessoa do condenado. Tem como pressuposto o
crime já cometido, voltando-se, portanto, à função que a
pena deve exercer no momento de execução da sanção pe-
CAPÍTULO I
nal. A preocupação não é o afastamento do preso, mas a
DAS ESPÉCIES DE PENA
sua ressocialização. Somente a recuperação do condenado
faz da pena um instituto legítimo.
Art. 32 - As penas são: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) Tipos de pena:

I - privativas de liberdade; PERMITIDAS: A CF/88, em seu art. 5º, XLVI, enuncia,


pelo menos, cinco penas permitidas no nosso ordenamento
II - restritivas de direitos; jurídico:

a) privação ou restrição da liberdade;


III - de multa. b) perda de bens;
c) multa;
Jus puniendi d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos.
Quando um sujeito, através de uma conduta delitu-
osa, infringe uma norma penal, surge para o Estado o direito PROIBIDAS: No mesmo artigo, mais precisamente no
de aplicar a punição da norma objetiva. É o jus puniendi. seu inciso XLVII prevê taxativamente cinco penas proibidas:

Pena é espécie sanção penal, isto é, resposta estatal a) de morte (salvo em caso de guerra declarada, nos
ao infrator da norma incriminadora (crime ou contraven- termos do art. 84, XIX);
ção), consistente na privação ou restrição de determinados b) de caráter perpétuo;
bens jurídicos do agente. Sua imposição depende do devido c) de trabalhos forçados;
processo legal, através do qual se constata a autoria e d) de banimento;

19
e) cruéis. § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser
executadas em forma progressiva, segundo o mérito do
O Código Penal, atento às vedações de ordem consti- condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas
tucional, em seu art. 32, adotou a seguinte classificação as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:
para as sanções penais: I - privativas de liberdade; II - res-
tritivas de direitos; III - multa. a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá
começar a cumpri-la em regime fechado;
As penas previstas no CP, em seu art. 32, são: priva-
tivas de liberdade, restritivas de direitos e multa.
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja
superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá,
a) Pena privativa de liberdade: retira do conde-
desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
nado o seu direito de locomoção, em razão da prisão por
tempo determinado. Não se admite a privação perpétua da
liberdade (art. 5º, XLVII, “b”, da CF), mas somente a de c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual
natureza temporária, pelo período máximo de 40 anos para ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-
crimes (art. 75 do CP) ou de 5 (cinco) anos para contraven- la em regime aberto.
ções penais (art. 10 da LCP).
§ 3º - A determinação do regime inicial de
b) Pena restritiva de direitos: limita um ou mais cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios
direitos do condenado, em substituição à pena privativa de previstos no art. 59 deste Código.
liberdade. Está prevista no art. 43 do CP e por alguns dis-
positivos da legislação extravagante. § 4o O condenado por crime contra a administração
pública terá a progressão de regime do cumprimento da
c) Pena de multa: incide sobre o patrimônio do con- pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à
denado. devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos
legais. (Incluído pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS
Privativas de Restritivas de di- Pecuniária Regimes penitenciários: Regime ou sistema peni-
liberdade reito tenciário é o meio pelo qual se efetiva o cumprimento da
Seção I: arts. Seção II: arts. 43 Seção III: pena privativa de liberdade. O art. 33, § 1º, do CP elenca
33 a 42 a 48 arts. 49 a 52 três regimes:
 Reclusão  Prestação de servi-  Multa
 Detenção ços à comunidade a) fechado: a pena privativa de liberdade é execu-
 Prisão sim-  Limitação de fins tada em estabelecimento de segurança máxima ou média;
ples de semana
 Interdição tempo- b) semiaberto: a pena privativa de liberdade é exe-
rária de direitos cutada em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento si-
 Prestação pecuniá- milar; e
ria (à vítima)
 Perda de bens e c) aberto: a pena privativa de liberdade é executada
valores em casa de albergado ou estabelecimento adequado.

Fixação do regime inicial de cumprimento da


pena privativa de liberdade: A leitura do art. 33, §§ 2º e
SEÇÃO I
3º, do CP revela que três fatores são decisivos na escolha
DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE
do regime inicial de cumprimento da pena privativa de liber-
dade: reincidência, quantidade da pena aplicada e cir-
Reclusão e detenção cunstâncias judiciais. É o juiz sentenciante quem fixa o
regime inicial de cumprimento da pena privativa de liber-
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em dade (art. 59, III, do CP).
regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em
regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de Pena de reclusão - A pena de reclusão deve ser
transferência a regime fechado. (Redação dada pela Lei nº cumprida inicialmente em regime fechado, semiaberto ou
7.209, de 11.7.1984) aberto (art. 33, caput, 1ª parte, do CP). Os critérios para a
determinação do regime são os seguintes, a teor das alíneas
§ 1º - Considera-se: “a”, “b” e “c” do § 2º do art. 33 do CP:

a) o reincidente inicia o cumprimento da pena priva-


a) regime fechado a execução da pena em tiva de liberdade no regime fechado, independentemente da
estabelecimento de segurança máxima ou média; quantidade da pena aplicada.

b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia b) o primário, cuja pena seja superior a 8 (oito) anos
agrícola, industrial ou estabelecimento similar; deverá começar a cumpri-la no regime fechado;

c) regime aberto a execução da pena em casa de c) o primário, cuja pena seja superior a 4 (quatro)
albergado ou estabelecimento adequado. anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio,
cumpri-la em regime semiaberto; e

20
d) o primário, cuja pena seja igual ou inferior a 4
(quatro) anos poderá, desde o início, cumpri-la em regime PROGRESSÃO DE REGIME - CRIMES HEDIONDOS –
aberto. CUMPRIMENTO DE PENA
40% Primário e crime hediondo ou equiparado
ATENÇÃO!  Súmula 269 do STJ: “É admissível a
a) Primário e crime hediondo ou equiparado, com
adoção do regime prisional semiaberto aos reinciden-
resultado morte, vedado o livramento condicional;
tes condenados a pena igual ou inferior a 4 (quatro) b) Exercer comando, individual ou coletivo, de or-
anos se favoráveis as circunstâncias judiciais”. 50% ganização criminosa estruturada para a prática de
crime hediondo ou equiparado;
Pena de detenção: A pena de detenção deve ser c) Crime de constituição de milícia privada. (*Não
cumprida inicialmente em regime semiaberto ou aberto (art.
hediondo)
33, caput, in fine, do CP).
60% Reincidente em crime hediondo ou equiparado
ATENÇÃO! Não se admite o início de cumprimento da Reincidente em crime hediondo ou equiparado
pena de detenção no fechado, nada obstante seja possível 70% com resultado morte, vedado o livramento condi-
a regressão a esse regime. cional

Os critérios para fixação do regime inicial de cumpri-


mento da pena de detenção são os seguintes:
Regras do regime fechado
a) o condenado reincidente inicia o cumprimento da
pena privativa de liberdade no regime semiaberto, seja qual
Art. 34 - O condenado será submetido, no início do
for a quantidade da pena aplicada;
cumprimento da pena, a exame criminológico de
classificação para individualização da execução. (Redação
b) o primário, cuja pena seja superior a 4 (quatro)
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
anos, deverá cumpri-la no regime semiaberto; e

c) o primário, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (qua- § 1º - O condenado fica sujeito a trabalho no período
tro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la no regime diurno e a isolamento durante o repouso noturno.
aberto.
§ 2º - O trabalho será em comum dentro do
ATENÇÃO! Prisão simples - Em se tratando de con- estabelecimento, na conformidade das aptidões ou
travenções penais punidas com prisão simples inexiste pre- ocupações anteriores do condenado, desde que compatíveis
visão de regime prisional fechado, independentemente de com a execução da pena.
ser o condenado reincidente ou não, pois o artigo 6° da LCP
é expresso no sentido de que a pena de prisão simples deve § 3º - O trabalho externo é admissível, no regime
ser cumprida em regime semiaberto ou aberto. fechado, em serviços ou obras públicas.
 Nem sequer pela regressão pode o agente, conde-
Exame criminológico: No início do cumprimento da
nado pela prática de contravenção penal, cumprir pena no
pena o condenado será obrigatoriamente submetido a
regime mais rigoroso.
exame criminológico de classificação para individualização
da execução (art. 34,caput, do CP e art. 8º, caput, da LEP),
Crimes contra a Administração Pública: Nos cri-
a ser realizado pela Comissão Técnica de Classificação, com
mes contra a Administração Pública, a progressão está con-
vistas a definir o programa individualizador da pena priva-
dicionada ao requisito especial de reparação do dano cau-
tiva de liberdade adequada ao condenado (art. 6.º da LEP).
sado ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os
acréscimos legais (art. 33, § 4.º, do CP).
Trabalho diurno e isolamento noturno: O conde-
nado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento
durante o repouso noturno. É o que se convencionou chamar
PENA REGIME INICIAL de “período de silêncio”. Na atribuição do trabalho deve-
Reclusão Fechado Semiaberto Aberto rão ser levadas em conta a habilitação, a condição pessoal
e as necessidades futuras do preso, bem como as oportuni-
Detenção Semiaberto Semiaberto Aberto dades oferecidas pelo mercado, bem assim a compatibili-
dade com a execução da pena.
Prisão simples Semiaberto Semiaberto Aberto
 Esse trabalho é obrigatório (art. 31, caput, da LEP).
PROGRESSÃO DE REGIME - CRIMES COMUNS – Exceções: O condenado por crime político não está obrigado
CUMPRIMENTO DE PENA a trabalhar (art. 200 da LEP), assim como o preso provisório
16% Primário e crime sem violência à pessoa ou grave (art. 31, parágrafo único da LEP).
ameaça
20% Reincidente em crime cometido sem violência à  O trabalho, interno ou externo, não está sujeito ao
pessoa ou grave ameaça regime de Consolidação das Leis do Trabalho (art. 28, § 2°,
da LEP), mas será remunerado, com as garantias da Previ-
25% Primário e crime com violência à pessoa ou grave
dência Social.
ameaça
30% Reincidente em crime cometido com violência à Trabalho externo: É admissível o trabalho ex-
pessoa ou grave ameaça terno, desde que em serviços ou obras públicas (art. 34, §
3º, do CP). E, nos moldes do art. 36, caput, da LEP, “o

21
trabalho externo será admissível para os presos em regime
fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas O regime aberto (menos rigoroso) se baseia na auto-
por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entida- disciplina e senso de responsabilidade do condenado (art.
des privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga 36 do CP). Com efeito, o condenado deverá, fora do estabe-
e em favor da disciplina”. lecimento e sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou
exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido
ATENÇÃO! É admissível o trabalho externo do con- durante o período noturno e nos dias de folga (art. 36, § 1º,
denado pela prática de crime hediondo ou equiparado, CP).
pois não há restrições legais.
O recolhimento dar-se-á, no estabelecimento denomi-
IMPORTANTE! Recusa ao trabalho: A recusa injus- nado Casa de Albergado, prédio que deverá se situar em
tificada do preso à execução do trabalho caracteriza falta centro urbano, separado dos demais estabelecimentos e ca-
grave (art. 50, IV, c/c o art. 39, V, ambos da LEP), acarre- racterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra a
tando na impossibilidade de obter a progressão de regime fuga. Deverá conter, além dos aposentos para acomodar os
prisional ou o livramento condicional. presos, local adequado para cursos e palestras (arts. 94 e
95 da LEP).
Regras do regime semi-aberto
IMPORTANTE! A legislação prevê, ainda, duas ou-
tras possibilidades para o cumprimento do regime aberto:
Art. 35 - Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, 1ª) na falta de Casa do Albergado, estabelecimento ade-
caput, ao condenado que inicie o cumprimento da pena em quado (art. 33, § 1º, do CP); 2ª) conforme as condições
regime semi-aberto. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de pessoais do reeducando, prisão domiciliar (art. 117, LEP).
11.7.1984)
 A prisão domiciliar, portanto, pode ser considerada
§ 1º - O condenado fica sujeito a trabalho em comum espécie do gênero regime aberto, cabível quando o conde-
durante o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou nado tem mais de 70 (setenta) anos, é portador de doença
estabelecimento similar. grave, tem filho deficiente físico ou mental que dele dependa
efetivamente, ou no caso de reeducanda gestante.
§ 2º - O trabalho externo é admissível, bem como a
freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de Prisão domiciliar e monitoração eletrônica: O
instrução de segundo grau ou superior. art. 146-B, IV, da LEP, admite a fiscalização por meio da
monitoração eletrônica quando o juiz determinar a prisão
O regime semiaberto (intermediário) será cumprido domiciliar.
em colônia agrícola, industrial ou similar, podendo o ape-
nado ser alojado em compartimento coletivo, desde que ATENÇÃO! Somente poderá ingressar no regime
atendidas as condições adequadas à existência humana pre- aberto o condenado que estiver trabalhando ou comprovar
vistas para as celas individuais próprias do regime fechado. a possibilidade de fazê-lo imediatamente, e apresentar, pe-
los seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que
O trabalho será comum durante o período diurno, re- foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com
alizando-se dentro do estabelecimento, com a possibilidade autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime
de ser realizado no ambiente externo, inclusive na iniciativa (arts. 113 e 114 da LEP).
privada (a jurisprudência tem exigido prévia autorização ju-
dicial). Assim como no regime fechado, o trabalho externo Regressão de regime - O § 2º do art. 36 prevê
deve ser efetuado sob vigilância. hipóteses de regressão de regime ao condenado que inicia
o cumprimento da pena no regime aberto e pratica fato de-
 Não há previsão para o isolamento durante o perí- finido como crime doloso ou falta grave, frustra o objetivo
odo do repouso noturno. da execução ou sofre condenação por crime anterior, cuja
pena, somada ao restante da que está sendo executada,
Admite-se, mesmo fora do estabelecimento prisional, torne incabível o regime.
a frequência a cursos supletivos profissionalizantes, de ins-
trução de segundo grau ou superior (art. 35, § 2º, CP).  A falta de pagamento da pena de multa aplicada
cumulativamente não pode mais ser motivo à regressão de
regime, posto que a inadimplência da pena de multa que é
Regras do regime aberto cominada isoladamente também não autoriza mais tal re-
gressão (art. 51, CP). O STJ já julgou que a via correta para
Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina cobrar pena de multa aplicada em sentença condenatória é
e senso de responsabilidade do condenado. (Redação dada mediante ajuizamento de execução fiscal através da Fa-
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) zenda Pública, e não em sede de execução penal.

§ 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e Súmula 493 do STJ: “É inadmissível a fixação de


sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição es-
atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o pecial ao regime aberto”.
período noturno e nos dias de folga.
Súmula Vinculante 56 (STF) - A falta de estabele-
cimento penal adequado não autoriza a manutenção
§ 2º - O condenado será transferido do regime aberto, do condenado em regime prisional mais gravoso, de-
se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os vendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fi-
fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa xado no RE 641.320/RS.
cumulativamente aplicada.

22
Os parâmetros da Súmula 56 do STF são: (I) a saída
antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas; REGIME DOS CRIMES APENADOS COM DETENÇÃO
(II) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado Pena Pena Pena igual
que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por acima de 8 superior a 4 ou inferior a
falta de vagas; (III) o cumprimento de penas restritivas de anos e não 4 anos
superior a 8
direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime
anos
aberto. (STF, RE 641.320/RS, DJ 1º/08/2016). REINCIDENTE Semiaberto Semiaberto Semiaberto
PRIMÁRIO Semiaberto Semiaberto Aberto
Regime especial

Art. 37 - As mulheres cumprem pena em


estabelecimento próprio, observando-se os deveres e Trabalho do preso
direitos inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que
couber, o disposto neste Capítulo. (Redação dada pela Lei Art. 39 - O trabalho do preso será sempre
nº 7.209, de 11.7.1984) remunerado, sendo-lhe garantidos os benefícios da
Previdência Social. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
Os estabelecimentos penais destinados a mulheres 11.7.1984)
deverão possuir, exclusivamente, agentes do sexo feminino
na segurança de suas dependências internas (art. 83, § 3.º, O trabalho carcerário é, ao mesmo tempo, um dever
da LEP). Essa regra coaduna-se com o art. 5º, XLVIII, da (art. 39 da LEP) e um direito (art. 41 da LEP) do reeducando.
CF. Na mesma direção, estabelece o art. 82, § 1º, da LEP Dever no sentido de que o preso tem a obrigação de contri-
que “a mulher e o maior de 60 (sessenta) anos, separada- buir com o Estado para sua ressocialização; direito porque
mente, serão recolhidos a estabelecimento próprio e ade- a cada três dias trabalhados há o resgate de um dia de cum-
quado à sua condição pessoal”. primento de pena (remição - art. 126, § 1º, II, LEP).

 Assegura também a Lei Suprema, em seu art. 5º, Remição pelo trabalho: A remição consiste no des-
L, que “às presidiárias serão asseguradas condições para conto de 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho,
que possam permanecer com seus filhos durante o período exclusivamente em favor do preso que cumpre pena no re-
de amamentação”. E dispõe o art. 89 da LEP: “(...) a peni- gime fechado ou semiaberto (art. 126, § 1º, II, da LEP). O
tenciária de mulheres poderá ser dotada de seção para ges- instituto não pode ser aplicado ao condenado que cumpre
tante e parturiente e de creche com a finalidade de assistir pena no regime aberto.
ao menor desamparado cuja responsável esteja presa”.
ATENÇÃO! O trabalho do preso não está sujeito à le-
Direitos do preso gislação trabalhista.

Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não Legislação especial


atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as
autoridades o respeito à sua integridade física e moral. Art. 40 - A legislação especial regulará a matéria
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) prevista nos arts. 38 e 39 deste Código, bem como
especificará os deveres e direitos do preso, os critérios para
A Constituição Federal, no seu art. 5°, XLIX, assegura revogação e transferência dos regimes e estabelecerá as
ao condenado respeito à sua integridade física e moral. Já o infrações disciplinares e correspondentes sanções. (Redação
art. 3º da LEP garante ao condenado e ao internado todos dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. No en-
tanto, como efeito constitucional-penal obrigatório, o con- Os artigos 38 e 39 tratam do trabalho e dos direitos
denado fica com seus direitos políticos suspensos enquanto do preso. Além das regras previstas no Código Penal, o art.
perdurarem os efeitos da condenação criminal irrecorrível 40 refere-se a lei especial sobre a execução da pena. Trata-
(art. 15, III, CF/88). se da Lei 7.210/1984 – Lei de Execução Penal.

É precisamente no capítulo IV da LEP, arts. 38 a 43,


que o legislador traçou verdadeiro estatuto jurídico do preso Superveniência de doença mental
(definitivo ou provisório), elencando, de maneira minuciosa,
os seus deveres (rol exaustivo) e direitos (rol exemplifica- Art. 41 - O condenado a quem sobrevém doença
tivo), tudo visando a boa convivência entre as partes pro- mental deve ser recolhido a hospital de custódia e
cessuais, bem como entre os habitantes do sistema prisio- tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro
nal. estabelecimento adequado. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
REGIME DOS CRIMES APENADOS COM RECLUSÃO
Pena Pena Pena igual ou No mesmo sentido, dispõe o art. 108 da LEP que “o
acima superior a 4 inferior a 4
condenado a quem sobrevier doença mental será internado
de 8 e não anos
anos superior a 8
em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico”.
anos
REINCIDENTE Fechado Fechado Fechado ou Tal situação não se confunde com aquela descrita no
semiaberto (se art. 26 do CP, que se destina aos inimputáveis no momento
favoráveis as do cometimento da infração penal, isentos de pena, a quem
circunstâncias) será aplicada medida de segurança (absolvição imprópria).
PRIMÁRIO Fechado Semiaberto Aberto

23
A superveniência de doença mental ao acusado tam- IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades
bém pode levar à conversão da pena em medida de segu- públicas
rança (art. 41 do CP e art. 183 da LEP). Tal conversão pode
se dar de ofício pelo juiz ou a requerimento do Ministério V - interdição temporária de direitos;
Público, mas diferentemente daquela imposta aos inimputá-
veis, esta não poderá ser por tempo indeterminado, de-
VI - limitação de fim de semana.
vendo ser respeitado o montante da sua pena.

Conceito: As penas restritivas de direitos são tam-


Detração bém chamadas de “penas alternativas”, pois têm o propósito
de evitar a desnecessária imposição da pena privativa de
Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade liberdade nas situações expressamente indicadas em lei, re-
e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no lativas a indivíduos dotados de condições pessoais favorá-
Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de veis e envolvidos na prática de infrações penais de reduzida
internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no gravidade. Busca-se a fuga da pena privativa de liberdade,
artigo anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de reservada exclusivamente para situações excepcionais, apli-
11.7.1984) cando-se em seu lugar a restrição de um ou mais direitos do
condenado.
Detração penal: Detração penal é o desconto, na
pena privativa de liberdade ou na medida de segurança, do CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DI-
tempo de prisão provisória ou de internação já cumprido REITO: SEÇÃO II - ART. 43 A 48
pelo condenado, evitando o bis in idem na execução da pena Reais Pessoais
privativa de liberdade. Prestação pecuniária art. Prestação de serviços à
45, § 1º; comunidade - art. 46
Na expressão “prisão provisória” compreende-se toda
Perda de bens e valores Interdição temporária de
e qualquer prisão cautelar e processual (prisão em flagrante,
art. 45, § 2º. direitos - art. 47
prisão temporária e prisão preventiva), ou seja, não decor-
limitação de fins de semana -
rente de pena, consistente na privação da liberdade antes
art. 48
do trânsito em julgado da condenação.

Detração penal e penas restritivas de direitos - Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas
A doutrina moderna, através da interpretação analógica, ad- e substituem as privativas de liberdade, quando: (Redação
mite a detração não apenas na pena privativa de liberdade dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
e na medida de segurança, mas também nas penas restriti-
vas de direitos, como limitação de fim de semana e presta- I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a
ção de serviços à comunidade. quatro anos e o crime não for cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
Detração penal e pena de multa: Não se admite a aplicada, se o crime for culposo;
detração penal no campo da pena de multa, diante da ve-
dação legal da conversão desta última em pena privativa de
liberdade. Ademais, o art. 42 do CP excluiu a incidência do II – o réu não for reincidente em crime doloso;
instituto para a sanção pecuniária. Finalmente, a pena pri-
vativa de liberdade e a pena pecuniária têm finalidades di- III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social
ferentes e não há um critério legal capaz de expressar em e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as
dias-multa o tempo de prisão provisória. circunstâncias indicarem que essa substituição seja
suficiente.
Prisão administrativa: destinava-se a forçar o de-
vedor a cumprir sua obrigação. Nos termos da Súmula 280, § 1o (VETADO)
do STJ, "o art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que
estabelece a prisão administrativa, foi revogado pelos inci-
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a
sos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988".
substituição pode ser feita por multa ou por uma pena
restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa
SEÇÃO II de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de
DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.

Penas restritivas de direitos § 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá


aplicar a substituição, desde que, em face de condenação
Art. 43. As penas restritivas de direitos são: (Redação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a
dada pela Lei nº 9.714, de 1998) reincidência não se tenha operado em virtude da prática do
mesmo crime.
I - prestação pecuniária;
§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em
privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento
II - perda de bens e valores;
injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena
privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo
III - VETADO cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo
mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.

24
§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de em crime doloso (e que
liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá a medida seja
sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for socialmente
possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. recomendável)
 Princípio da suficiência  Crimes  Crimes
Substituição da pena privativa de liberdade pela (a culpabilidade, os dolosos, dolosos, pena
pena restritiva de direitos: A substituição da pena priva- antecedentes, a deve ter sido privativa de
tiva de liberdade está condicionada ao atendimento de di- conduta social e a cometido liberdade
versos requisitos indicados nos incs. I a III do art. 44 do CP, personalidade do sem aplicada não
de duas ordens: objetivos e subjetivos. Tais requisitos de- condenado, bem como violência à seja superior a
vem ser rigorosamente analisados, pois não há direito sub- os motivos e as pessoa ou 4 anos;
jetivo à substituição da pena privativa de liberdade por res- circunstâncias grave  Crimes
tritiva de direitos. indicarem a suficiência ameaça; culposos,
da medida).  Crime qualquer
1) REQUISITOS OBJETIVOS: Dizem respeito à: culposo. quantidade de
natureza do crime e à quantidade da pena aplicada: pena.

a) Natureza do crime: Em se tratando de CRIME REGRAS PARA SUBSTITUIÇÃO DA PENA (Art. 44, §
DOLOSO, deve ter sido cometido sem violência ou grave 2º, CP)
ameaça à pessoa. Na hipótese de CRIMES CULPOSOS, en-
Condenação A pena poderá ser
tende-se ser possível a substituição em todos eles, ainda
substituída por
que resulte na produção de violência contra a pessoa, tal
como no homicídio culposo, tanto do CP (art. 121, § 3.º) Pena igual ou inferior a 1 a) multa ou
como do Código de Trânsito Brasileiro (art. 302). ano b) 1 pena restritiva de
direito.
b) Quantidade da pena aplicada: Preocupou-se o Pena superior a 1 ano a) 1 pena restritiva de direito
legislador com a pena efetivamente aplicada na situação (até 4 anos) + multa ou
concreta, independentemente daquela cominada em abs- b) 2 penas restritivas de
trato pelo preceito secundário do tipo penal. Nos CRIMES direito.
DOLOSOS, desde que não tenham sido cometidos com em-
prego de violência ou grave ameaça à pessoa, o limite é de Conversão das penas restritivas de direitos
4 (quatro) anos. Em relação aos CRIMES CULPOSOS, é pos-
sível a substituição por pena restritiva de direitos, qualquer
que seja a quantidade de pena privativa de liberdade im- Art. 45. Na aplicação da substituição prevista no
posta. artigo anterior, proceder-se-á na forma deste e dos arts.
46, 47 e 48. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
2. REQUISITOS SUBJETIVOS: Referem-se à pessoa
do condenado, seja ele nacional ou estrangeiro, residente § 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento
ou não no Brasil: em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade
pública ou privada com destinação social, de importância
a) Não ser reincidente em crime doloso (art. 44, fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem
II, do CP): Conclui-se, indiretamente, não ser a reincidên- superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O
cia em crime culposo impeditiva da substituição da pena pri- valor pago será deduzido do montante de eventual
vativa de liberdade por restritiva de direitos. E, mesmo para condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os
o reincidente em crime doloso, abre-se uma exceção. Se o beneficiários.
condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substitui-
ção, desde que, em face de condenação anterior, a medida § 2o No caso do parágrafo anterior, se houver
seja socialmente recomendável e a reincidência não se te- aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode
nha operado em virtude da prática do mesmo crime (art. consistir em prestação de outra natureza.
44, § 3º, do CP).
§ 3o A perda de bens e valores pertencentes aos
b) Princípio da suficiência: De acordo com o art.
condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em
44, III, do CP, a pena restritiva de direitos precisa ser ade-
favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá
quada e suficiente para atingir as suas finalidades. Em ou-
como teto – o que for maior – o montante do prejuízo
tras palavras, tanto a retribuição do mal praticado pelo
causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro,
crime como a prevenção (geral e especial) de novos crimes,
em conseqüência da prática do crime.
inerentes à pena privativa de liberdade, devem ser alcança-
das com a pena restritiva de direitos. Por consequência, não
cabe a substituição quando a pena-base tiver sido fixada § 4o (VETADO)
acima do mínimo legal, em razão do reconhecimento judicial
expresso e fundamentado das circunstâncias desfavoráveis, Prestação pecuniária: Cuida-se de pena restritiva
em face do não atendimento do art. 44, III, do CP. de direitos criada pela Lei 9.714/1998 e disciplinada pelos
§§ 1.º e 2.º do dispositivo em análise. Consiste no paga-
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE mento em dinheiro à vítima, a seus dependentes, ou a en-
LIBERDADE tidade pública ou privada com destinação social, de impor-
Requisitos objetivos Requisitos Subjetivos tância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo
nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários míni-
 Não ser o agente Natureza do Quantidade da
mos (art. 45, § 1.º, 1ª parte, do CP).
reincidente específico crime pena aplicada

25
 A expressão “entidades públicas” deve ser interpre-
IMPORTANTE! Irrelevância da aceitação da ví- tada em sentido amplo, para englobar tanto as públicas em
tima: Em se tratando de sanção penal, a prestação pecu- sentido estrito (Administração Pública direta ou indireta),
niária se reveste de caráter unilateral, impositivo e coge- como também as privadas com destinação social.
nte, razão pela qual independe de aceitação da pessoa por
ela favorecida. O juiz aplica essa pena sem prévia oitiva IMPORTANTE: Se a pena substituída for maior que
da vítima, de seus dependentes ou de entidade pública ou 1 (um) ano, condenado tem a opção de cumprir a pena al-
privada com destinação social. ternativa em menor tempo, porém não pode ser inferior à
metade da pena privativa de liberdade fixada.
Pagamento: Deve ser efetuado em dinheiro. Mas, se
houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária ATENÇÃO! A prestação de serviços à comunidade ou
pode consistir em prestação de outra natureza (art. 45, § a entidades públicas não será remunerada (art. 30 da LEP)
2º, do CP). Essa fórmula (“prestação de outra natureza”) e não gerará vínculo empregatício com o Estado (art. 28, §
é excessivamente ampla, tendo sido admitido, na prática, 2°, LEP).
o pagamento em pedras preciosas, obras de arte, imóveis,
automóveis, títulos mobiliários e bens móveis em geral. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE OU A
ENTIDADES PÚBLICAS
Perda de bens e valores: Cuida-se de pena restri- Cabimento Pena privativa de liberdade superior
tiva de direitos que consiste na retirada de bens e valores a 6 meses (até 4 anos).
integrantes do patrimônio lícito do condenado, transfe-
Razão da con- 1 hora de trabalho por 1 dia de pena
rindo-os ao Fundo Penitenciário Nacional. Seu valor terá versão
como teto – o que for maior – o montante do prejuízo cau-
Pena superior É facultado o cumprimento em me-
sado ou do proveito obtido pelo agente ou por terceiro, em
a 1 ano nor tempo
consequência da prática do crime (art. 45, § 3.º, do CP).

Prestação de serviços à comunidade ou a


entidades públicas Interdição temporária de direitos (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a
entidades públicas é aplicável às condenações superiores a Art. 47 - As penas de interdição temporária de
seis meses de privação da liberdade. (Redação dada pela Lei direitos são:
nº 9.714, de 1998)
I - proibição do exercício de cargo, função ou
§ 1o A prestação de serviços à comunidade ou a atividade pública, bem como de mandato eletivo;
entidades públicas consiste na atribuição de tarefas
gratuitas ao condenado. II - proibição do exercício de profissão, atividade ou
ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou
§ 2o A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em autorização do poder público;
entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e
outros estabelecimentos congêneres, em programas III - suspensão de autorização ou de habilitação para
comunitários ou estatais. dirigir veículo.

§ 3o As tarefas a que se refere o § 1o serão atribuídas IV – proibição de freqüentar determinados lugares.


conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas (Incluído pela Lei nº 9.714, de 1998)
à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação,
fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação
trabalho. ou exame públicos. (Incluído pela Lei nº 12.550, de
2011)
§ 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é
facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em Proibição de exercício de cargo, função ou ativi-
menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena dade pública, bem como de mandato eletivo (art. 47,
privativa de liberdade fixada. I): Essa pena restritiva de direitos é específica, uma vez que
somente é aplicável ao crime cometido no exercício de pro-
Prestação de serviços à comunidade ou a enti- fissão, atividade, ofício, cargo ou função, sempre que hou-
dades públicas: Cuida-se de pena restritiva de direitos ver violação dos deveres que lhes são inerentes (art. 56 do
aplicada ao condenado a pena superior a 6 meses de priva- CP). Diz respeito à vida pública do condenado, por relacio-
ção da liberdade, consistente na atribuição de tarefas gra- nar-se a cargo, função ou atividade pública, bem como a
tuitas ao condenado, em entidades assistenciais, hospitais, mandato eletivo.
escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres,
em programas comunitários ou estatais. Proibição do exercício de profissão, atividade ou
ofício que dependam de habilitação especial, de li-
As tarefas somente poderão ser atribuídas respei- cença ou autorização do poder público (art. 47, II):
tando as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à Trata-se também de pena restritiva de direitos específica,
razão de 1 (uma) hora de tarefa por dia de condenação, aplicável exclusivamente ao crime cometido no exercício de
fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de tra- profissão, atividade, ofício, cargo ou função, sempre que
balho. houver violação dos deveres que lhes são inerentes (art. 56
do CP). A diferença é que se refere à esfera privada de

26
atuação do condenado, embora dependente de habilitação SEÇÃO III
especial, de licença ou autorização do poder público, como DA PENA DE MULTA
por exemplo, médico, dentista, advogado e engenheiro. O
condenado é impedido, durante o tempo da pena, de de-
Multa
sempenhar a profissão, ofício ou atividade.

Suspensão de autorização ou habilitação para Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao


dirigir veículo (art. 47, III): Essa pena aplica-se somente fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e
aos crimes culposos de trânsito (art. 57 do CP). Como tais calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e,
crimes encontram-se atualmente previstos em sua maioria no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-
pelo Código de Trânsito Brasileiro – Lei 9.503/1997, esse multa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
dispositivo foi por ele tacitamente revogado. Atualmente, o
juiz somente pode aplicar, com fulcro no art. 47, III, do CP, § 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não
a pena restritiva de direitos de suspensão de autorização podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário
para dirigir ciclomotores relativamente a crimes culposos de mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a
trânsito com ele praticados. 5 (cinco) vezes esse salário.

Proibição de frequentar determinados lugares § 2º - O valor da multa será atualizado, quando da


(art. 47, IV): Trata-se, na verdade, de restrição da liber- execução, pelos índices de correção monetária.
dade, pois o condenado é atingido diretamente em sua li-
berdade de locomoção. Cuida-se de pena praticamente inó- Multa é a espécie de sanção penal, de cunho patrimo-
cua, de difícil e inexistente fiscalização. nial, consistente no pagamento de determinado valor em di-
nheiro em favor do Fundo Penitenciário Nacional. Em se tra-
Proibição de inscrever-se em concurso, avalia- tando de pena, deve respeitar os princípios da reserva legal
ção ou exame públicos (art. 47, V): Esta modalidade de e da anterioridade.
pena restritiva – consistente em interdição temporária de
direitos – visa impedir a inscrição de condenados em con-  Fundo Penitenciário: O Fundo Penitenciário Naci-
cursos, avaliações ou exames públicos durante o cumpri- onal foi instituído pela LC 79/1994, e constituem-se em seus
mento da sanção penal. Sua aplicação – a critério do magis- recursos as multas decorrentes de sentenças penais conde-
trado – é possível aos condenados em geral, se presentes natórias transitadas em julgado.
os requisitos elencados pelo art. 44 do CP. Com efeito, a
condenação por diversos delitos recomenda a vedação do Aplicação da pena de multa: A pena de multa se-
acesso às funções e cargos públicos, pela ausência de lisura gue um sistema bifásico – sua aplicação deve respeitar duas
e de idoneidade moral do agente, a exemplo do que se dá fases distintas e sucessivas:
no estelionato, nos crimes contra a Administração Pública,
nos crimes da Lei de Licitações – Lei 8.666/1993, entre tan- 1ª fase: O juiz estabelece o número de dias-multa,
tos outros. que varia entre o mínimo de 10 (dez) e o máximo de 360
(trezentos e sessenta). Para encontrar esse número, o ma-
Limitação de fim de semana gistrado utiliza as circunstâncias judiciais do art. 59, caput,
do CP, bem como eventuais agravantes e atenuantes gené-
Art. 48 - A limitação de fim de semana consiste na ricas, e finalmente as causas de aumento e de diminuição
obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 da pena.
(cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro
estabelecimento adequado. (Redação dada pela Lei nº 2ª fase: Já definido o número de dias-multa, cabe
7.209, de 11.7.1984) agora ao magistrado a fixação do valor de cada dia-multa,
que não pode ser inferior a um trigésimo do maior salário
mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a
Parágrafo único - Durante a permanência poderão ser
cinco vezes esse salário (conforme previsto no § 1.º do art.
ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas
49 do CP). Leva-se em conta a situação econômica do réu,
atividades educativas.
nos termos do art. 60, caput, do CP.

Limitação de fim de semana: Essa modalidade de Com tais dados, conclui-se o cálculo da sanção pecu-
pena é pouco aplicada entre nós, uma vez que no Brasil pra- niária. Esse método possibilita a perfeita individualização da
ticamente não existem casas de albergado. pena de multa, na forma exigida pelo art. 5.º, XLVI, da CF.
E, transitando em julgado a sentença penal condenatória,
Casa do albergado - Em consonância com as regras será irretratável o seu valor.
definidas pelos arts. 94 e 95 da LEP, o prédio da casa de
albergado deverá situar-se em centro urbano, separado dos ATENÇÃO! Se o juiz considerar que, em virtude da
demais estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de situação econômica do réu, é ineficaz a pena de multa, em-
obstáculos físicos contra a fuga. Deverá conter, além dos bora aplicada no máximo, poderá aumenta-la até o triplo
aposentos para acomodar os presos, local adequado para (art. 60, § 1º, do CP).
cursos e palestras, e instalações para os serviços de fiscali-
zação e orientação dos condenados.
Cálculo da pena de multa (arts. 49 e 60 do CP)
Etapas Mínimo Máximo
ATENÇÃO! Na falta do referido estabelecimento, não
pode o paciente cumprir a pena em presídio, situação mais 1ª Fixação dos dias-multa 10 dias 360 dias
gravosa do que a estabelecida na condenação. 2ª Fixação do valor de um dia- 1/30 avos 5 x s.m.
multa s.m.

27
3ª Critério especial Até 3x (art. 60, § 1º) coercitivo, mediante a execução da pena perante a o JUIZ
DA EXECUÇÃO PENAL, sendo vedada a sua conversão para
pena privativa de liberdade.
Pagamento da multa
A Lei 13.964/2019 Pacote Anticrime), que deu a re-
Art. 50 - A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dação atual ao dispositivo em comento, apenas deslocou a
dias depois de transitada em julgado a sentença. A execução para o Juízo da Execução Penal, por conseguinte,
requerimento do condenado e conforme as circunstâncias, o a competência para a promoção é do Ministério Público.
juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas
mensais. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ATENÇÃO: a multa aplicada no Juizado Especial Cri-
minal, por força do art. 98, I, da CF, impõe a competência
§ 1º - A cobrança da multa pode efetuar-se mediante deste juízo especial para executar seus próprios julgados.
desconto no vencimento ou salário do condenado quando:
 Embora considerada dívida de valor após o trânsito
em julgado da sentença condenatória, a multa conserva seu
a) aplicada isoladamente;
caráter de pena, consequência do cometimento de infração
penal. Note-se que a multa foi tratada como espécie de pena
b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de pelo art. 5.º, XLVI, “c”, da CF.
direitos;
IMPORTANTE! A inadimplência da multa seguida da
c) concedida a suspensão condicional da pena. morte do condenado não estende sua cobrança aos seus
herdeiros, em obediência ao princípio da personalidade ou
§ 2º - O desconto não deve incidir sobre os recursos intransmissibilidade da pena, consagrado pelo art. 5º, XLV,
indispensáveis ao sustento do condenado e de sua família. da CF.

Pagamento voluntário da multa: O pagamento vo- Suspensão da execução da multa


luntário ou espontâneo da pena de multa deve ser efetuado
no prazo de 10 (dez) dias depois do trânsito em julgado da Art. 52 - É suspensa a execução da pena de multa,
sentença condenatória, como determina a 1ª parte do caput se sobrevém ao condenado doença mental. (Redação dada
do dispositivo em estudo. pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Sobrevindo ao sentenciado (preso ou solto) doença
Pagamento parcelado da multa: A parte final do mental, a execução da multa ficará suspensa até que ele
art. 50 do CP dispõe que o juiz pode, atendendo a pedido do recupere a saúde mental. Contudo, não se prevendo causa
condenado, e considerando as circunstâncias do caso, per- suspensiva da prescrição, tal prazo (art. 114 do CP) corre
mitir o parcelamento do pagamento da pena de multa. mesmo durante a suspensão da execução da pena de
multa.
 A lei não prevê limite ao número de parcelas, re-
servando-se tal tarefa ao juízo da execução.  Com as inovações da Lei 9.268/1996, a execução
da pena de multa também será suspensa quando o conde-
Pagamento mediante desconto da remuneração nado for absolutamente insolvente, uma vez que em sua
do condenado: É possível, ainda, seja a cobrança da multa cobrança devem ser observadas as disposições contidas na
efetuada mediante desconto na remuneração do condenado, Lei 6.830/1980 – Lei de Execução Fiscal.
quando tiver sido aplicada isoladamente, cumulativamente
com pena restritiva de direitos, ou então quando tiver sido EXERCÍCIOS – DAS PENAS
concedida a suspensão condicional da pena (art. 50, § 1º,
do CP).
01. (2012 – IPAD - PC-AC - Agente de Polícia Civil) Sobre
as penas aplicadas no Direito brasileiro, analise as seguintes
 O desconto não deve incidir sobre os recursos in-
afirmativas e assinale a alternativa incorreta.
dispensáveis ao sustento do condenado e de sua família, e
terá como limites o máximo de um quarto e o mínimo de um
a) No caso de o Brasil haver declarado guerra contra outro
décimo da remuneração (art. 50, § 2.º, do CP e art. 168, I,
Pais, é possível a cominação de pena de morte a brasileiro
da LEP).
nato.
b) A pena de morte para os crimes comuns não pode ser
Conversão da Multa e revogação instituída, ainda que através de Lei formai, uma vez que tal
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) iniciativa fere cláusula pétrea da Constituição Federal.
c) É possível a instituição de pena de trabalhos forçados - a
Art. 51. Transitada em julgado a sentença exemplo do que ocorre com a prestação, por condenados,
condenatória, a multa será executada perante o juiz da de serviços em hospitais ou escolas - em substituição a pe-
execução penal e será considerada dívida de valor, nas restritivas de liberdade.
aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda d) A Constituição Federal proíbe a instituição de pena per-
Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e pétua.
suspensivas da prescrição. (Redação dada pela Lei nº e) A pena de banimento é vedada expressamente pela Cons-
13.964, de 2019) tituição da República.

02. (2013 – FEPESE - DPE-SC - Técnico Administrativo) As-


Multa como dívida de valor - Ocorrendo a omissão
sinale a alternativa correta de acordo com o Direito Penal.
do condenado durante o prazo legal para pagamento da
multa, deverá ser procedido o pagamento forçado ou
a) Nenhuma pena pode exceder a trinta anos.

28
b) A pena privativa de liberdade não pode ser fixada em
tempo superior a trinta anos. 07. (2002 - FCC - SEAD-AP - Agente Penitenciário) A
c) A pena de dias-multa não poderá ser superior a trinta remição pelo trabalho prisional é concedida
anos.
d) O tempo de cumprimento das penas privativas de liber- a) à razão de um dia trabalhado por três dias de pena.
dade não pode ser superior a trinta anos. b) ao preso que nunca praticou falta disciplinar de natureza
e) O limite de trinta anos para o cumprimento da pena é grave.
considerado de forma individual para cada crime cometido. c) ao preso que nunca praticou faltas disciplinares médias
ou graves.
03. (2010 – FUMARC - CEMIG-TELECOM - Advogado Júnior) d) à razão de três dias trabalhados por dia de pena.
Assinale a alternativa INCORRETA, no que se refere ao di- e) ao preso que nunca praticou qualquer espécie de falta
reito penal constitucional: disciplinar.

a) A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de 08. (2002 - FCC - SEAD-AP - Agente Penitenciário) Se-
graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de en- gundo o direito vigente, a aplicação de castigos físicos nos
torpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como presos é
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. a) admissível nos casos de estrita necessidade para evitar
b) Constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de movimentos contra a ordem e a disciplina (rebeliões).
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem consti- b) admissível de forma moderada e sob estrita supervisão
tucional e o Estado Democrático. médica.
c) A prática do racismo constitui crime inafiançável e im- c) admissível mediante expressa e específica autorização do
prescritível, sujeito à pena de detenção, nos termos da lei. juiz da execução penal.
d) Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, po- d) admissível como sanção disciplinar máxima, nos estritos
dendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do per- casos de falta grave, apurada em regular procedimento ad-
dimento de bens ser, nos termos da lei, estendida aos su- ministrativo e assegurada a ampla defesa.
cessores e contra eles executada, até o limite do valor do e) inadmissível.
patrimônio transferido.
09. (2016 – UFMT - TJ-MT - Técnico Judiciário) NÃO é Pena
04. (2010 – FUMARC - CEMIG-TELECOM - Advogado Júnior) Restritiva de Direito, em conformidade com o Decreto Lei
Assinale a alternativa INCORRETA, no que se refere ao di- n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal:
reito penal:
a) Prestação pecuniária.
a) A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre b) Prestação de serviço à comunidade.
outras, as de privação ou restrição da liberdade, perda de c) Interdição temporária de direitos.
bens, multa, prestação social alternativa e suspensão ou in- d) Detenção.
terdição de direitos.
b) A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de 10. (TJ-SC - 2010 - TJ-SC - Técnico Judiciário – Auxi-
acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do ape- liar) Assinale a alternativa que contém penas possíveis de
nado, assegurado aos presos o respeito à integridade física ser aplicadas no âmbito do Direito Penal:
e moral.
c) Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, a) Perda de bens e privação da liberdade.
em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, b) Extradição e multa.
ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entor- c) Restrição da liberdade e banimento.
pecentes e drogas afins, na forma da lei. d) Trabalhos forçados e suspensão de direitos.
d) Não haverá penas de morte, de caráter perpétuo, de tra- e) Interdição de atividade e cassação de direitos.
balhos forçados, de banimento ou cruéis, sob nenhum pre-
texto. 11. (2002 - FCC - SEAD-AP - Agente Penitenciário) São
espécies de regimes prisionais:
05. (2002 - FCC - SEAD-AP - Agente Penitenciário) Nos
estabelecimentos prisionais, a classificação dos condenados a) reclusão, detenção e liberdade assistida.
compete b) liberdade assistida, liberdade vigiada e semiliberdade.
c) privação de liberdade e restrição de direitos.
a) à Comissão Diretora de Classificação do Presídio (CDCP). d) reclusão, detenção e prisão simples.
b) ao Conselho Penitenciário (CP). e) fechado, semi-aberto e aberto.
c) ao Conselho de Política e Classificação Penitenciária
(CPCP). 12. (2016 - FUNCAB - SEGEP-MA - Agente Penitenciário)
d) à Comissão Técnica de Classificação (CTC). Sobre progressão e regressão de regime prisional, é correto
e) ao Conselho Disciplinar (CD). afirmar que:

06. (2002 - FCC - SEAD-AP - Agente Penitenciário) É a) a regressão de regime pode se dar do regime aberto di-
competente para decidir sobre a progressão de regime pri- retamente para fechado.
sional o b) a progressão é condicionada unicamente ao cumprimento
de parcela da pena.
a) Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. c) é vedada a existência de exame criminológico para a pro-
b) Promotor de Justiça da execução penal. gressão.
c) Juiz da execução penal. d) o bom comportamento carcerário deverá ser atestado
d) Conselho Penitenciário. por uma equipe técnica multidisciplinar.
e) Conselho da Comunidade.

29
e) proíbe-se a progressão de regime na condenação por de- a) A pena de morte confronta o princípio da humanidade,
lito classificado como hediondo. sendo vedada no ordenamento jurídico brasileiro de forma
absoluta.
13. (2013 - COPS-UEL - SEAP-PR - Agente Penitenciário) A b) O cumprimento de pena privativa de liberdade em regime
Colônia Agrícola, Industrial ou Mista destina-se ao conde- fechado não atenta contra o princípio da humanidade, por
nado ao cumprimento de pena isso é permitido no ordenamento jurídico brasileiro.
c) Ao condenado, durante a execução da pena, pode ser im-
a) privativa de liberdade, em regime aberto. posta a obrigação de realizar trabalhos forçados, desde que
b) privativa de liberdade, em regime fechado. se garanta o benefício da remissão penal.
c) de reclusão, em regime semiaberto. d) A imposição de castigos corporais ao preso provisório não
d) de reclusão, em regime fechado. se caracteriza como ilicitude, visto que o princípio da huma-
e) privativa de liberdade, em regime semiaberto. nidade aplica-se apenas aos definitivamente condenados.
e) Constitui-se pena degradante, por violar o direito à liber-
14. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia) Acerca dade de ir e vir do condenado, a imposição de penas restri-
da “detração”, é correto o que se afirma na alternativa: tivas de direitos consistentes na proibição de frequentar de-
terminados lugares e limitação de fim de semana.
a) A cada três dias trabalhados no sistema prisional, com-
putam-se, além desses três dias de pena cumprida, mais 18. (2012 – IESES - TJ-RO - Titular de Serviços de Notas e
um, para o preso que cumpre a pena em regime fechado ou de Registros - Provimento por Ingresso) É certo afirmar:
semiaberto.
b) É a conversão da pena restritiva de direitos em privativa I. O reincidente condenado a detenção pode iniciar o cum-
de liberdade, pelo tempo da pena aplicada. primento da sua pena no regime fechado.
c) É o cômputo, na pena privativa de liberdade e na medida II. Tendo a pena finalidade preventiva, essa prevenção pode
de segurança, do tempo de prisão provisória e o de interna- ser dividida em geral e especial.
ção em hospital ou manicômio. III. O trabalho do preso será remunerado de acordo com a
d) Consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e do- sua produtividade. Portanto, somente será remunerado se
mingos, por 5 horas diárias, em casa de albergado ou outro efetivamente produzir coisa com valor econômico.
estabelecimento adequado. IV. O condenado será submetido, no início do cumprimento
e) É todo fato ou dado que se encontra em redor do delito; da pena, a exame criminológico de classificação para indivi-
é um dado eventual, que pode existir ou não, sem que o dualização da execução.
crime seja excluído.
Analisando as proposições, pode-se afirmar:
15. (2016 – FUNCAB - SEGEP-MA - Agente Penitenciário) a) Somente as proposições II e IV estão corretas.
Por ter praticado um roubo, Ariclenes é condenado ao cum- b) Somente as proposições I e IV estão corretas.
primento de pena de seis anos de reclusão, em regime se- c) Somente as proposições II e III estão corretas.
miaberto. Assim, é correto afirmar que o condenado deverá d) Somente as proposições I e III estão corretas.
iniciar a execução de sua pena em:
19. (2011 - UECE-CEV - SEPLAG – CE - Agente Penitenciá-
a) uma colônia agrícola, industrial ou similar, podendo o rio) Nos termos do art. 42, do Código Penal Brasileiro, com-
condenado ser alojado em dependências coletivas, com se- putam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de
leção adequada dos presos. segurança, o tempo de prisão provisória no Brasil ou no es-
b) uma penitência, em cela individual dotada de dormitório, trangeiro. Tal determinação legal é denominada
aparelho sanitário e lavatório.
c) regime disciplinar diferenciado, dada a gravidade em abs- a) remissão.
trato do delito, que pressupõe constrangimento à vítima. b) detração.
d) casa de albergado, caracterizada pela ausência de obstá- c) sursis penal.
culos físicos contra a fuga. d) sursis processual.
e) prisão domiciliar, caso não existia casa de albergado na
região, ou caso esta apresente lotação esgotada. 20. (2011 - UECE-CEV - SEPLAG – CE - Agente Penitenciá-
rio) Nos termos do art. 33, § 2º, “a” do Código Penal Brasi-
16. (2014 – IBFC - SEDS-MG - Agente de Segurança Peni- leiro, a pena privativa de liberdade deverá inicialmente ser
tenciária) Indique o estabelecimento prisional destinado à cumprida em regime fechado quando for superior a
execução da pena privativa de liberdade em regime aberto:
a) seis anos e inferior a oito anos.
a) Penitenciária. b) quatro anos e inferior a seis anos.
b) Casa do albergado. c) oito anos.
c) Colônia agrícola e a colônia industrial. d) dez anos
d) Cadeia Pública.
GABARITO – DAS PENAS
17. (2013 – IBFC - PC-RJ - Oficial de Cartório) O princípio 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
da humanidade consubstancia-se na ideia de que o direito C D C D D C D E D A
penal deve pautar-se na benevolência, de forma a tratar 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
dignamente aquele que comete um fato delituoso, visto que, E A E C A B B A B C
apesar de ter infringido a norma penal, é pessoa humana
como qualquer outra. Sendo assim, podemos afirmar corre-
tamente que:

30
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimula-
ção ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a de-
fesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impuni-
dade ou vantagem de outro crime;
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
Prof. João Pereira prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exer-
cício da função ou em decorrência dela, ou contra seu côn-
juge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº
13.142, de 2015)
VIII - Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
IX - contra menor de 14 (quatorze) anos (Incluído pela
Lei nº 14.344, de 2022):
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo
Instagram: www.instagram.com/professorjoaopereira feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº
Facebook: www.facebook.com/professorpereira 13.104, de 2015)
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº
CONTEÚDO 13.104, de 2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mu-
I. CRIMES CONTRA A PESSOA (ARTS. 121 A 154) lher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
II. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (ARTS. 155 A 183) § 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (qua-
III – CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL (ARTS. 213 A 234) torze) anos é aumentada de:
IV – CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA (ARTS. 289 A 311-A) I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa
III. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ARTS. 312 A 337-A) com deficiência ou com doença que implique o aumento de
sua vulnerabilidade;
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, cura-
3. DOS CRIMES CONTRA A PESSOA (ARTS. 121 A 154) dor, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer ou-
tro título tiver autoridade sobre ela.
CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A VIDA Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Homicídio simples
Pena - detenção, de um a três anos.
Art. 121. Matar alguém:
Aumento de pena
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3
Caso de diminuição de pena (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de vi- prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
olenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da ví- consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
tima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada
de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa me-
Homicídio qualificado nor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Re-
dação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 2° Se o homicídio é cometido:
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração
outro motivo torpe;
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
II - por motivo fútil; penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416,
de 24.5.1977)

31
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a b) Motivo de relevante valor moral: liga-se aos inte-
metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o resses individuais, particulares do agente, entre eles os sen-
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo timentos de piedade, misericórdia e compaixão. Assim, o
de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012) homicídio praticado com o intuito de livrar um doente, irre-
mediavelmente perdido, dos sofrimentos que o atormentam
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
(eutanásia) goza de privilégio da atenuação da pena.
terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela
Lei nº 13.104, de 2015) c) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida
a injusta provocação da vítima: neste caso, o sujeito ativo,
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posterio-
logo em seguida a injusta provocação da vítima, reage, de
res ao parto;
imediato, sob intenso choque emocional, capaz de anular
II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com sua capacidade de autocontrole durante o cometimento do
deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem crime. Em regra, os tribunais têm aceitado a violenta emo-
condição limitante ou de vulnerabilidade física ou men- ção do marido que colhe a mulher em flagrante adultério.
tal; (Redação dada pela Lei nº 14.344, de 2022)
Natureza das privilegiadoras: em todas as hipóte-
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ses, as privilegiadoras são de natureza SUBJETIVA, pois di-
ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, zem respeito à motivação do crime (valor social ou moral)
de 2018) ou com o estado emocional do agente (sob domínio de vio-
lenta emoção).
IV - em descumprimento das medidas protetivas de ur-
gência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da IMPORTANTE: Reconhecido o homicídio privilegiado,
Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei a redução da pena é obrigatória, segundo o entendimento
nº 13.771, de 2018) majoritário da doutrina e da jurisprudência.

Objetividade jurídica: tutela-se a vida extrauterina, ATENÇÃO: Se o agente age sob INFLUÊNCIA de vio-
iniciada com o parto. lenta emoção, provocada por ato injusto da vítima, não há
causa de diminuição de pena, mas circunstância atenuante
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). (art. 65, III, “c”, do CP)
Sujeito passivo: qualquer pessoa. Crime hediondo: o homicídio será hediondo quando
Conduta: matar pessoa após o seu nascimento, qualificado (não importando a circunstância qualificadora)
pouco importando tratar-se ou não de vida viável. ou, mesmo que simples, quando praticado em atividade tí-
pica de grupo de extermínio (chacina, matança generali-
IMPORTANTE: Já está pacificado no STF e no STJ zada).
que a transmissão dolosa (intencional e consciente) do
vírus HIV implica na prática de crime de lesão corporal de
natureza gravíssima, adequando-se ao conceito de HOMICÍDIO QUALIFICADO
enfermidade incurável (art. 129, § 2º, II, do CP)
O art. 121, § 2º, descreve qualificadoras subjetivas,
ATENÇÃO: responderá por homicídio aquele que omi- ligadas aos motivos ou finalidades determinantes do crime,
tir seu dever legal de evitar o resultado morte, ignorando e qualificadoras objetivas, relacionadas ao meio e modo de
sua condição de garante ou garantidor, nos termos do art. execução ou condição especial da vítima.
13 § 2º: dever + poder (de prestar atendimento).
Elevação da pena: em todas as hipóteses de quali-
Consumação e tentativa: consuma-se com a morte, ficadoras, a pena passa a ser de reclusão de 12 a 30 anos.
caracterizada pela cessação da atividade encefálica do ofen-
dido (crime material). Qualificadoras subjetivas:

Tratando-se de crime plurissubsistente (admite fraci- a) Motivo torpe (I): é o motivo vil, ignóbil, repug-
onamento da execução), a tentativa é possível, ocorrendo nante e abjeto. O próprio legislador dá o exemplo de tor-
quando a morte é querida, mas não acontece por circuns- peza: homicídio mercenário, caso em que o agente mata
tâncias alheias à vontade do agente. mediante paga ou promessa de recompensa. Trata-se de
delito de concurso necessário (ou bilateral), no qual é indis-
Homicídio simples – O caput do artigo 121 pensável a participação de, no mínimo, duas pessoas: o
do Código Penal traz a figura do homicídio simples, mandante (aquele que paga ou promete futura recompensa)
possuindo a redação mais compacta de todos os tipos penais e o executor (quem aceita, praticando o combinado).
incriminadores. É composto, portanto, pelo núcleo matar e
pelo seu elemento objetivo alguém, sem que estejam pre- Outros exemplos de motivo torpe: canibalismo, vam-
sentes nenhumas situações qualificadoras ou privilegiado- pirismo, rituais macabros, para recebimento de seguro, para
ras. ocupar o cargo.

Assim, o ato de matar alguém tem sentido de um ser


humano por fim na vida de um outro ser humano. b) Motivo fútil (II): é o motivo desproporcional, in-
Homicídio privilegiado (Causas de diminuição de significante, caso em que o agente executa o crime por mes-
pena (§ 1º): o § 1º do art. 121 prevê três hipóteses em quinharia.
que o homicídio tem sua pena diminuída, classificado pela Exemplos de motivo fútil: mera discussão de trânsito,
doutrina como privilegiado. São elas: matar dono de bar que se recusou a servir bebida, matar
a) Motivo de relevante valor social: diz respeito aos porque ouviu comentário jocoso em relação ao seu time de
interesses de toda uma coletividade, logo, motivo nobre futebol, motorista mata o fiscal de trânsito em razão da
(ex.: indignação contra um traidor da pátria). multa aplicada, patrão matou o empregado por erro na pres-
tação do serviço.

32
a traição, emboscada e dissimulação, cabendo, desse modo,
a interpretação analógica.
c) Para assegurar a execução, a ocultação, a im-
punidade ou vantagem de outro crime (V): a qualifica- ATENÇÃO! A premeditação não qualifica o homicídio
dora enuncia hipóteses de conexão (vínculo) entre o crime
c) Feminicídio (VI): denota a morte de mulher em
de homicídio e outros delitos. A doutrina subdivide a cone-
razão da condição do sexo feminino (leia-se, violência de
xão em teleológica (homicídio praticado para assegurar a
gênero quanto ao sexo). A incidência da qualificadora re-
execução de outro crime, futuro) e consequencial (quando o
clama situação de violência praticada contra a mulher, em
homicídio visa assegurar a ocultação, a impunidade ou van-
contexto caracterizado por relação de poder e submissão,
tagem de outro crime, passado).
praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação
Exemplos: matar o marido para estuprar a esposa; de vulnerabilidade.
matar a única testemunha de um crime anteriormente co-
Transexual: No caso de transexual que se identifica
metido.
como mulher, a 6ª Turma do Superior Tribunal de Jus-
d) Contra autoridade ou agente de segurança tiça decidiu, em 05/04/2022, que a Lei Maria da Penha —
pública no exercício da função, em decorrência dela que protege as vítimas de violência doméstica — pode ser
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente con- aplicada para mulheres transexuais (REsp 1.977.124).
sanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição
ATENÇÃO: A jurisprudência e doutrina majoritária
(VII): chamada de homicídio funcional, essa qualificadora
entendem que a qualificadora do feminicídio possui natureza
ocorre quando cometido contra autoridade ou agente des-
objetiva, pois incide nos crimes praticados contra a mulher
crito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integran-
por razão do seu gênero feminino. (STJ - REsp
tes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
1.707.113/MG)
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo Condição do sexo feminino: o § 2°-A estabelece
até 3° grau, em razão dessa condição. duas situações:
Parentes consanguíneos: os pais e os filhos (1º O inciso I trata de violência doméstica, assim
grau), avós, netos e irmãos (2º grau), bisavós, bisnetos, definida na Lei Maria da Penha em seu art. 5°: “Para os
tios e sobrinhos (3º grau). efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
ATENÇÃO: A qualificadora exclui o parentesco por gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual
afinidade (sogro, cunhado, enteado). Entretanto, há posi- ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Poderá ocorrer
ções no sentido de incluir o filho e irmão adotivo, por inter- no âmbito da unidade doméstica, no âmbito da família ou
pretação extensiva, e não de analogia in malam partem. em qualquer relação íntima de afeto.
O inciso II trata do menosprezo ou discriminação à
IMPORTANTE: Embora ainda não pacificado, preva- condição da mulher. Aqui o Feminicídio ocorre com a morte
lece o entendimento de que as Guardas Municipais, os agen- (ou sua tentativa) da mulher por ela ser mulher. Trata-se
tes de segurança viária e os agentes de segurança aposen- de um atentado contra a vida da mulher causada por,
tados estão alcançadas para fins de homicídio funcional. supostamente, possuir uma condição inferior; por pertencer
ao gênero feminino.
d) Com emprego de arma de fogo de uso restrito
Qualificadoras objetivas:
ou proibido (VIII): trata-se de qualificadora objetiva, uma
a) Com emprego de veneno, fogo, explosivo, as- vez que ligada ao meio de execução e não aos motivos ou à
fixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de pessoa do agente. Assim, se comunica aos coautores.
que possa resultar perigo comum (III): o meio insidioso
ATENÇÃO - Norma penal em branco: Essa qualifi-
é aquele dissimulado, já o cruel aumenta inutilmente o so-
cadora trata-se de norma penal em branco, isto é, necessita
frimento da vítima. Resultar perigo comum significa ser ca-
de complemento normativo (vindo de outro diploma, como
paz de atingir número indeterminado de pessoas. Com a fór-
uma lei ou portaria) para saber quais armas de fogo se ade-
mula genérica, permite-se ao aplicador encontrar casos ou-
quam ao conceito de uso restrito ou proibido.
tros que denotem insídia, crueldade ou perigo comum ad-
vindo da conduta do agente (interpretação analógica). e) Contra menor de 14 (quatorze) anos (IX): A Lei
nº 14.344, de 24/05/2022 incluiu a qualificadora no crime
de homicídio, levando em conta, não o motivo do crime ou
Homicídio x Tortura: modo/meio de execução, mas a condição etária da vítima
menor de 14 anos. Essa qualificação se deve à vulnerabili-
I) Se a morte é o fim desejado pelo agente e a tortura
dade intensificada da vítima, menos apta a empreender
é o meio empregado, o crime será homicídio qualificado, nos
autodefesa de forma eficaz.
moldes do art. 121, § 2º, III (crime doloso);
ATENÇÃO! É indispensável que a idade do ofendido
II) Se a tortura é o fim do agente, mas a morte adveio
seja do conhecimento do autor, sob pena de responsabilizá-
culposamente, o crime será tortura qualificada pela morte,
lo objetivamente.
art. 1º, § 3º da lei 9.455/97 (crime preterdoloso).
Importante destacar, ainda, que essa qualificadora
considera a idade da vítima quando da prática do crime, ou
b) À traição, de emboscada, ou mediante dissi- seja, no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja
mulação ou outro recurso que dificulte ou torne im- o momento do resultado, por força do disposto no art. 4º do
possível a defesa do ofendido (IV): o agente utiliza al- CP.
gum recurso que dificulte ou impeça a defesa da vítima,
exemplificando o Código alguns modos de praticá-lo, como

33
Comunicabilidade das qualificadoras: em razão do seu descaso, deliberadamente desatendendo
aos conhecimentos técnicos que possui.
a) As qualificadoras subjetivas, por estarem inseri-
das na motivação interna do agente, não se comunicam aos b) omissão de socorro: quando o agente, agindo com
coautores ou partícipes em caso de concurso de pessoas culpa, deixa de prestar socorro à vítima, podendo fazê-lo e
(art. 30 do CP). não havendo qualquer risco pessoal a ele, terá a sua pena
aumentada de um terço. Assim, de acordo com o sistema
b) Já as qualificadoras objetivas, ligadas ao fato cri-
do nosso Código, o caso, em vez de configurar o crime de
minoso em si, comunicam-se no concurso de pessoas, desde
omissão de socorro (art. 135 do CP), serve apenas como
que conhecidas por todos os envolvidos.
causa especial de aumento de pena.
c) não procurar diminuir as consequências do com-
 Homicídio privilegiado-qualificado: Admite-se a
portamento: se o agente não procura diminuir as conse-
compatibilidade entre o privilégio e as qualificadoras, desde
quências do seu ato também terá a pena aumentada. Ex.:
que estas sejam de natureza objetiva. Exemplo: um homi-
Negar-se a prestar auxílio financeiro ou amparo moral à fa-
cídio praticado mediante emboscada (qualificadora de natu-
mília da vítima no hospital.
reza objetiva), tendo o agente atuado impelido por um mo-
tivo de relevante valor moral. d) foge para evitar a prisão em flagrante: Esquivando-
se de responder pelo ato praticado, mediante fuga do local,
ATENÇÃO! Homicídio privilegiado-qualificado não é
demonstra o agente ausência de escrúpulo, bem como di-
considerado crime hediondo, prevalecendo o privilégio.
minuta responsabilidade moral.
Homicídio doloso majorado (§ 4°, segunda
Causas de aumento de pena no homicídio contra
parte): A segunda parte do § 4° do art. 121, aplicada ape-
menor de 14 anos - § 2º-B
nas ao homicídio doloso, aumenta de 1/3 a pena do homicí-
A Lei 14.344/22 incluiu no art. 121 o §2º-B, que au-
dio (simples, privilegiado ou qualificado) quando praticado
menta a pena do homicídio contra menor de quatorze anos
contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos ou maior de 60
em dois patamares:
(sessenta) anos. É indispensável que a idade do ofendido
a) A pena é aumentada de 1/3 até a metade: se
ingresse na esfera de conhecimento do agente, sob pena de
a vítima é portadora de deficiência ou de doença que impli-
se caracterizar responsabilidade objetiva.
que o aumento de sua vulnerabilidade.
A deficiência pode ser física ou mental. Ser portador ATENÇÃO! Com a alteração promovida pela Lei nº
de doença também permite o aumento, desde que implique 14.344/2022, quando praticado contra pessoa menor de 14
o aumento da vulnerabilidade do menor de 14 anos. Pode anos, o crime de homicídio será qualificado por essa razão,
ser uma depressão ou até câncer, ficando sua confirmação não podendo incidir também majorante com o mesmo fun-
na dependência do caso concreto. damento, sob pena de bis in idem, ou seja, duas regras pu-
nitivas, atinentes ao mesmo delito, cuidando da mesma
ATENÇÃO! Seja na hipótese da vítima com deficiên- circunstância.
cia, seja no caso de doença que lhe aumento a vulnerabili-
Perdão judicial (§ 5°): é causa extintiva de punibi-
dade, são circunstâncias que devem ser conhecidas do
lidade (CP, art. 107, IX). O juiz, analisando as circunstâncias
agente, sob pena de responsabilidade penal objetiva.
que envolvem o caso concreto, decidirá sobre a sua aplica-
ção.
b) A pena é aumentada de 2/3: se o autor é as-
cendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, com- Exige-se a comprovação de que as consequências da
panheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da ví- infração se voltaram contra o próprio agente de forma tão
tima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela. grave que a sanção penal se mostra desnecessária. Assim,
Aqui o aumento diz respeito ao parentesco entre a ví- aquele que comprovar a existência de um vínculo afetivo de
tima e o agente, bem como a outras relações pessoais exis- importância significativa entre ele e a vítima (pai/filho, ma-
tentes entre eles. Justifica-se o agravamento da pena em rido/mulher, grandes amigos etc.) pode receber o perdão.
razão da maior reprovação moral da conduta, hipótese em Exemplo: o causador de um acidente que, apesar de ter ma-
que o agente abusa das relações familiares, de intimidade tado a vítima, ficou tetraplégico, sofrendo consequências
ou de confiança que mantém com pessoa menor de 14 anos. que permitem presumir que a pena, no caso, se tornou des-
necessária.
Homicídio culposo (§ 3º): O sujeito realiza uma Majorantes de pena (§ 6º): o dispositivo aumenta
conduta voluntária, com violação do dever objetivo de cui- de 1/3 até a metade a pena do homicídio quando praticado
dado a todos imposto, por imprudência, negligência ou im- por milícia privada, entendida como um grupo de pessoas,
perícia, e assim produz um resultado naturalístico (morte) que, alegadamente, pretenderia garantir a segurança de fa-
involuntário, não previsto nem querido, mas objetivamente mílias, residências e estabelecimentos comerciais ou indus-
previsível, que podia com a devida atenção ter evitado. triais
ATENÇÃO! Se o homicídio culposo ocorreu na direção Por grupo de extermínio entende-se a reunião de pes-
de veículo automotor, aplica-se o disposto no art. 302 do soas, matadores, que se arvoram o direito de fazer justiça
Código de Trânsito Brasileiro (princípio da especialidade). pelas próprias mãos, assassinando pessoas reconhecidas
como marginais de alta periculosidade.
Homicídio culposo majorado (§ 4°, primeira
parte): o dispositivo preleciona quatro causas de aumento ATENÇÃO! A Lei n° 8.072/90 não foi alterada nesse
de 1/3 para o delito de homicídio culposo: ponto, não abrangendo expressamente no rol dos crimes
hediondos o homicídio (simples) praticado por milícia pri-
a) inobservância de regra técnica de profissão, arte
vada.
ou ofício: nesta hipótese, diferentemente da imperícia (mo-
dalidade de culpa), o agente tem aptidão para desempenhar
sua atividade, mas acaba por provocar a morte de alguém

34
Causas de aumento de pena no feminicídio (§ Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
7°): o dispositivo eleva de um terço até a metade a pena a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para
do feminicídio se o crime for praticado: que o faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
a) durante a gestação ou nos três meses posteriores Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
ao parto: aplica-se a majorante desde o momento em que (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
gerado o feto até três meses após o nascimento, não se ol-
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio
vidando de que o aborto não é pressuposto da causa de au-
resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos
mento, e, caso do homicídio decorra a morte, querida ou
termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído
aceita, do ser humano em gestação, o agente responde, em
pela Lei nº 13.968, de 2019)
concurso formal, pelo homicídio majorado e pelo aborto.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído
b) contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com
pela Lei nº 13.968, de 2019)
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que
acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação
mental: ao se referir à idade da vítima (maior de sessenta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
anos) o dispositivo repete o § 4o do art. 121. Ressalta-se,
porém, que, nesta majorante, diferentemente daquela do§ Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído
4°, em que o aumento é fixo em um terço, o aumento é pela Lei nº 13.968, de 2019)
variável de um terço à metade. Por igual, contempla a vítima § 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº
com deficiência (física ou mental). A vítima, no último caso, 13.968, de 2019)
apresenta uma fragilidade (debilidade) maior, de forma que
a conduta do agente se revela com alto grau de covardia. I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe
Como exemplo, podemos citar a esclerose lateral amiotró- ou fútil; (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
fica. II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
c) na presença física ou virtual de descendente ou de quer causa, a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei
ascendente da vítima: expressa o texto legal que o compor- nº 13.968, de 2019)
tamento criminoso ocorra na presença do ascendente ou do
descendente da vítima. § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é
realizada por meio da rede de computadores, de rede social
 A majorante pode incidir tanto no caso de presença ou transmitida em tempo real. (Incluído pela Lei nº
física, isto é, o descendente ou o ascendente da vítima po- 13.968, de 2019)
dem estar no mesmo local onde o delito de morte é come-
tido, ou também podem presenciá-lo virtualmente, ou por § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é
outras formas de interação que não a física, como chamadas líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído
com vídeo pela internet (Skype, por exemplo). pela Lei nº 13.968, de 2019)

d) em descumprimento das medidas protetivas de ur- § 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo re-
gência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da sulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido
Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006: por meio da Lei contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por
13.771/18, inseriu-se nova majorante para as situações em enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
que o homicida comete o crime apesar da existência de me- discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
didas protetivas contra si decretadas nos termos da Lei Ma- outra causa, não pode oferecer resistência, responde o
ria da Penha. agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Có-
digo. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
 O inciso I do art. 22 da Lei Maria da Penha estabe-
lece a medida de suspensão da posse ou restrição do porte § 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é
de armas; o inciso II consiste no afastamento do lar, domi- cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra
cílio ou local de convivência com a ofendida; e no inciso III quem não tem o necessário discernimento para a prática do
temos a proibição de determinadas condutas, entre as ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre es- termos do art. 121 deste Código. (Incluído pela Lei nº
tes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares 13.968, de 2019)
e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) fre-
Sujeito ativo: Qualquer pessoa (crime comum). É
quentação de determinados lugares a fim de preservar a in-
admissível concurso de pessoas nas suas duas formas:
tegridade física e psicológica da ofendida.
coautoria ou participação.
ATENÇÃO: O ato suicida não é previsto como crime
HOMICÍDIO por razões de política criminal, de forma que a pessoa que
Doloso Culposo tenta suicidar-se não comete infração penal.
Simples (caput) Sujeito passivo: Qualquer pessoa que tenha capa-
Simples (§ 3º)
Privilegiado (§ 1º) cidade de resistência à prática do suicídio ou da automuti-
Circunstanciado (§ 4º,
Qualificado (§ 2º) lação.
1ª parte)
Circunstanciado (§ 2º-B, §
Perdão Judicial (§ 5º) IMPORTANTE: Se essa capacidade é nula ou inexis-
4º, 2ª parte, §§ 6º e 7º)
tente, não ocorre o crime do artigo 122, “caput”, CP, nem
mesmo as figuras qualificadas pelos resultados lesão grave
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou ou gravíssima (art. 122, § 1º, CP) ou morte (art. 122, §
a automutilação (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2º, CP), mas sim aquelas previstas nos §§ 6º e 7º, do
2019) mesmo artigo 122, CP. Estes parágrafos por último

35
mencionados tratam, respectivamente dos resultados le- Tipo misto alternativo: A prática de mais de uma
sões gravíssimas e morte. conduta descrita no caput não enseja por si só concurso
de crimes, e sim crime único.
 Não haverá crime se o induzimento for genérico,
dirigido a pessoas incertas (ex.: espetáculos, obras literárias Elemento subjetivo: O tipo não exige nenhum
endereçadas ao público em geral, discos etc.). elemento subjetivo especial, então estamos diante de um
dolo genérico. Nesse passo, pode-se afirmar que a
Objetividade jurídica: Os bens jurídicos protegidos
descrição típica permite que a finalidade do agente se
são a vida humana e a integridade física da pessoa.
direcione para duas possibilidades, o suicídio da vítima
Crime formal: Não há exigência dos resultados (sua morte) ou a automutilação (a lesão). Não há
lesões graves ou morte para que haja o crime e a pena. O previsão de punição de modalidade culposa.
induzimento, a instigação e o auxílio material ao suicídio
Consumação: Tratando-se de crime formal, inde-
ou à automutilação configuraram o crime, com ou sem tais
pendente de resultado, a consumação se dá com o mero
resultados, configurando, a partir da Lei 13.968/19, crime
induzimento, instigação ou auxílio. No caso do auxílio
formal.
material o crime estará consumado com o fornecimento
Conduta: O tipo penal prevê três condutas (crime da ajuda material, venha ou não a vítima a suicidar-se ou
de ação múltipla, de conteúdo variado ou tipo misto automutilar-se.
alternativo), a saber: induzir, instigar e prestar auxílio
Tentativa: Sendo o crime formal em sua redação
material. As duas primeiras (induzimento e instigação) são
atual, surge possível polêmica quanto à tentativa. Será
chamadas de “participação ou concurso moral”, enquanto
viável a tentativa, vez que se trata de conduta
o auxílio é chamado de “participação ou concurso físico ou
plurissubsistente, com o “iter criminis” fracionável, sendo
material”.
possível que alguém impeça o infrator de fornecer o
No induzimento o agente cria a ideia do suicídio ou auxílio à vítima. Por exemplo, um indivíduo, internado
da automutilação que não existia na vítima. Já na num manicômio, pede uma arma para se matar, e quando
instigação o agente apenas incentiva uma ideia anterior o infrator vai lhe levar, é submetido a uma revista
de matar-se ou automutilar-se, oriunda da própria vítima. pessoal, sendo encontrada a arma e apurado o seu fim
de auxílio ao suicídio alheio. Há tentativa (artigo 122 c/c
No auxílio, existe uma participação material do 14, II, CP). Quanto aos verbos induzir ou instigar, a
autor. Por exemplo, fornecendo uma arma, fornecendo tentativa somente se daria por escrito, como é regra nos
veneno, ministrando instruções sobre meios de suicidar-se crimes formais.
ou de automutilar-se, montando um aparato para o suicídio
ou automutilação. Formas qualificadas (§§ 1º e 2º): A ocorrência
dos resultados naturalísticos lesão grave ou gravíssima ou
O agente faz nascer na vítima a morte, tornará o crime qualificado, ou seja, com novos
Induzi-
Partici- ideia de se matar ou automutilar- limites mínimo e máximo de pena abstratamente
mento
pação se cominada, conforme previsão dos parágrafos primeiro e
moral Insti- O autor reforça a vontade mór- segundo de referido dispositivo. O resultado lesão grave
gação bida preexistente na vítima ou gravíssima tornará a conduta punível com a pena de
Partici- O agente presta efetiva assistên- reclusão, de 1 a 3 anos. Se o resultado for a morte, seja
pação cia material, emprestando obje- por consumação do suicídio, seja como consequência da
Auxílio
mate- tos ou indicando meios, sem in- automutilação, a pena será de reclusão, de 2 a 6 anos.
rial tervir nos atos executórios
Anote-se que o dispositivo menciona lesão corporal
grave e gravíssima. Ocorre que o Código Penal não
IMPORTANTE: A intervenção física do agente não menciona lesão gravíssima, denominando as hipóteses de
pode extrapolar o mero auxílio e acabar adentrando em lesão qualificada, de forma genérica, como “lesão corporal
atos de execução da morte ou lesão, senão ocorrerá de natureza grave”. Como há duas gradações diferentes da
homicídio ou crime de lesão corporal. Por exemplo, o pena, a doutrina passou a diferenciá-las como lesão grave e
indivíduo, na hesitação da vítima, pega a lâmina de lesão gravíssima, não havendo, entretanto, a última
barbear e faz vários cortes em seus pulsos (da vítima). denominação no texto legal.

Consentimento da vítima: Não terá nenhuma re- ATENÇÃO: se resulta lesão corporal leve o ato se
levância o consentimento da vítima nesses atos, eis que amoldará no caput, forma simples.
estamos diante de bens jurídicos indisponíveis: vida e
integridade física. Nem mesmo a “eutanásia” nos casos
de doentes terminais são permitidos, configurando, de Formas majoradas (§ 3º, 4º e 5º):
regra, homicídio privilegiado (artigo 121, § 1º, CP).
a) Parágrafo terceiro – duplicação da pena:
Automutilação é a conduta de causar lesões em si contém elemento subjetivo especial, inserindo causas de
próprio (por exemplo, amputar ou mutilar um dos dedos aumento de pena (duplicação) pelo motivo (egoístico, torpe
da mão ou do pé, se queimar com cigarros, ingerir ou fútil) ou condição especial da vítima (menor ou tem
substâncias que possam causar mal–estar). diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência).

Princípio da alteridade (ou Motivo egoístico consiste no interesse pessoal do


transcendentalidade: Tal princípio veda a punição de agente em obter alguma vantagem. (desejo de receber
condutas que não ultrapassem o âmbito de disponibilidade herança ou seguro de vida, eliminação de rival em caso
do agente, resultando que a autolesão, por si só, não é amoroso).
punida, bem como o suicídio. O que a lei incrimina é o
induzimento, a instigação ou o auxílio material por terceiro
a que alguém suicide ou que se mutile.

36
Motivo torpe é o motivo repugnante, vil, abjeto, acima mencionadas, o agente deve responder nos termos
revelando total desprezo do agente pela vida alheia (induzir do artigo 129, § 2º, do Código Penal.
alguém ao suicídio por conta da cor de sua pele).
b) Morte: se a vítima for uma das destacadas pelo
Motivo fútil é aquele motivo insignificante, banal, parágrafo 7º do artigo 121 e lhe sobrevier o óbito como con-
motivo que normalmente não levaria ao crime, há uma sequência da conduta típica, haverá a configuração do ho-
desproporcionalidade entre o crime e a causa. (instigar micídio, por expressa previsão legal, afastando-se a forma
alguém ao suicídio por seu time de futebol haver perdido qualificada do parágrafo segundo do artigo 122 do Código
uma partida). Penal.
b) Parágrafo quarto – até o dobro da pena:
insere dois meios de execução como formas de majoração
da pena até o dobro, daquele que instiga, induz, auxilia a Infanticídio
pessoa a se suicidar ou automutilar por meio da rede de Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerpe-
computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Ressalte-se que a conduta típica, para a configuração Pena - detenção, de dois a seis anos.
do delito em estudo, deve se voltar a uma pessoa
determinada. Ex.: o agente se utilizar de chamada de vídeo Objetividade jurídica: tutela-se vida, tratando-se
ou mesmo o serviço de mensagens do Facebook. de forma especial de homicídio. É o homicídio praticado pela
genitora contra o próprio filho, influenciada pelo estado pu-
c) Parágrafo quinto – metade da pena: traz a erperal, durante ou logo após o parto. Pelo Princípio da Es-
causa de aumento de pena que incide no caso de o agente pecialidade, a norma especial do art. 123 derroga a norma
ser o líder ou o coordenador de grupo ou de rede virtual. geral do homicídio (art. 121).
Neste caso, a lei fixa a fração em metade. O maior desvalor
da conduta reside no fato de o sujeito ativo ter uma posição Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, que só pode
de liderança ou de coordenação em grupo ou rede virtual, ser praticado pela mãe (parturiente), sob influência do es-
ou seja, com formação realizada pela internet. Com isso, tado puerperal.
sua conduta possui maior probabilidade de eficácia e menor
ATENÇÃO! Concurso de agentes: a doutrina, em
controle, já que sua própria posição demanda dele tal
sua maioria, admite concurso de agentes, seja na modali-
responsabilidade no grupo.
dade participação (quando há simples auxílio), seja na co-
Alteração na tipificação da conduta (§§ 6º e 7º): autoria (quando outrem pratica, juntamente com a mãe, o
Os parágrafos sexto e sétimo preveem hipóteses de não núcleo do tipo), concluindo que o estado puerperal é ele-
configuração do delito do artigo 122, mas de crime mais mentar subjetiva do tipo, comunicável nos termos do art. 30
grave, ou seja, lesão corporal gravíssima (art. 129, § 2º do CP.
CP) ou homicídio (art. 121, CP) nas hipóteses em que a
Sujeito passivo: o ser humano, durante o parto ou
vítima seja considerada vulnerável, ou seja, não possa
logo após (nascente ou recém-nascido).
oferecer resistência ao induzimento ou à instigação. Assim,
configura crime de lesão corporal gravíssima ou homicídio Infanticídio putativo - a mãe, sob influência do es-
se o crime qualificado pelo resultado for praticado contra: tado puerperal, logo após o parto, pensando ser seu filho
(vítima virtual), acaba, por engano, matando filho alheio (ví-
a) Menor de 14 anos de idade: a lei presume de
tima real), pratica o crime de infanticídio (Erro sobre a pes-
forma absoluta a incapacidade do menor de 14 anos a
soa).
resistir a uma ideia de suicídio ou automutilação. Deste
modo, se a vítima com referida idade se mata ou se mutila, Conduta: pune-se a conduta da parturiente que, sob
neste último caso com configuração de lesão de natureza influência do estado puerperal, mata o próprio filho, nas-
gravíssima, o agente responderá pelo crime de homicídio ou cente ou neonato. Percebe-se a existência de duas circuns-
de lesão corporal gravíssima, respectivamente. tâncias elementares importantes, sem as quais não se co-
gita de infanticídio:
b) Vítima que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento contra a a) Elemento cronológico: causar a morte do próprio
prática do ato: cuida-se de vítima que, por enfermidade filho, durante ou logo após o parto;
(como esquizofrenia) ou deficiência mental (como quem
b) Elemento etiológico: ter agido esta sob a influência
nasceu com microcefalia), não tem capacidade de decidir,
do estado puerperal.
de forma consciente e livre, sobre o fim de sua própria vida
ou sobre a automutilação.  Entende-se por estado puerperal aquele que se es-
tende do início do parto até a volta da mulher às condições
c) Vítima que, por qualquer outra causa, não
pré-gravidez (puerpério), trazendo profundas alterações
pode oferecer resistência: a última hipótese abarca qual-
psíquicas e físicas, transformando a mãe, deixando-a sem
quer causa que torne o sujeito passivo mais vulnerável, sem
plenas condições de entender o que está fazendo.
possibilidade de resistir ao induzimento, à instigação ou ao
auxílio material ao suicídio ou à automutilação. É o caso de Tipo subjetivo: dolo direto ou eventual, consistente
alguém que abusou do consumo de bebida alcoólica ou que na consciente vontade de matar o próprio filho, estando a
usou cocaína a ponto de não ter o domínio de sua própria mãe sob a influência do estado puerperal.
vontade.
Consumação e tentativa: consuma-se com a morte
Punição: Os dispositivos em comento determinam do nascente ou neonato. É crime material. A tentativa é ad-
que, caso o sujeito passivo seja algum dos elencados acima, missível (delito plurissubsistente).
a punição deve ocorrer de acordo com o resultado obtido:
Aborto provocado pela gestante ou com seu
a) Lesão corporal gravíssima: Se o resultado for consentimento
uma lesão corporal gravíssima, sendo a vítima uma das

37
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir Tipo subjetivo: pune-se o crime a título de dolo, di-
que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54) reto ou eventual.

Pena - detenção, de um a três anos. ATENÇÃO! Agente que mata mulher sabendo estar
grávida responde, em concurso formal, pelos crimes de ho-
Objetividade jurídica: tutela-se a vida humana in- micídio e aborto.
trauterina.
Consumação e tentativa: consuma-se com a des-
Sujeito ativo: A gestante, nas modalidades tipifica- truição do feto. Admite-se a tentativa (delito plurissubsis-
das pelo art. 124 do Código Penal (crimes próprios), e qual- tente) caso o resultado não seja alcançado por circunstân-
quer pessoa, nos demais casos (crimes comuns). Os crimes cias alheias à vontade do agente.
previstos no art. 124 do Código Penal são de mão própria
(somente a gestante pode cometê-los). Admitem apenas Sujeito ativo: qualquer pessoa pode praticar este
participação, e são incompatíveis com a coautoria. delito (crime comum). O concurso de agentes é possível,
nas suas duas formas (coautoria e participação).
Sujeito passivo: O feto. No aborto provocado por
terceiro sem o consentimento da gestante (CP, art.125), há Sujeito passivo: é apenas o produto da concepção.
duas vítimas: o feto e a gestante. Conduta: a conduta típica permanece a mesma dos
ATENÇÃO! Na hipótese de vários os fetos (gravidez artigos precedentes, ou seja, provocar (mediante ação ou
de gêmeos, trigêmeos etc.), haverá concurso formal de cri- omissão), a interrupção da gravidez, extinguindo o feto,
mes, ou seja, haverá tantos abortos quantos forem os fetos, mas, aqui, com o consentimento válido da gestante.
respondendo apenas por um crime, aumentado de 1/6 até  Haverá delito impossível se as manobras abortivas
1/2 (art. 70 do CP). forem realizadas em mulher que erroneamente se suponha
Conduta: o tipo traz duas formas de conduta: na pri- grávida (absoluta impropriedade do objeto).
meira parte do dispositivo, a mulher grávida, por intermédio Tipo subjetivo: dolo, consistente na vontade consci-
de meios executivos químicos, físicos ou mecânicos, pratica ente de provocar abortamento consentido.
o aborto (autoaborto). Na segunda parte, consente que ou-
tra pessoa lhe provoque aborto. Consumação e tentativa: consuma-se com a inter-
rupção da gravidez (crime material), sendo possível a ten-
Tipo subjetivo: pune-se o aborto somente a título de tativa (delito plurissubsistente).
dolo, consistente na consciente vontade de interromper a
gravidez (ou consentir para tanto). Não se pune a modali-
dade culposa.
Forma qualificada
Consumação e tentativa: consuma-se com a morte
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos an-
do produto da concepção (crime material). A tentativa é
teriores são aumentadas de um terço, se, em consequên-
possível, pois delito plurissubsistente.
cia do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo,
a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobre-
Aborto provocado por terceiro vém a morte.
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da
Causa especial de aumento de pena - A redação
gestante:
do artigo evidencia que as majorantes somente se aplicam
Pena - reclusão, de três a dez anos. ao aborto praticado por terceiro, sem ou com o consenti-
mento da gestante, definidos nos arts. 125 e 126. São hipó-
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da teses de crimes qualificados pelo resultado, de natureza pre-
gestante: (Vide ADPF 54) terdolosa (aborto doloso e lesão corporal ou morte culpo-
Pena - reclusão, de um a quatro anos. sos).

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior,  Se em consequência do aborto ou dos meios em-
se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada pregados para provocá-lo a gestante sofre lesão corporal de
ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante natureza leve, o terceiro responde somente pelo aborto
fraude, grave ameaça ou violência simples, sem ou com o seu consentimento, restando absor-
vida a lesão corporal.
Objetividade jurídica: vida intrauterina.
IMPORTANTE: Aquele que mata dolosamente uma
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, que pode mulher, ciente da sua gravidez, e assim provoca a morte do
ser cometido por qualquer pessoa. feto, responde por homicídio doloso e também por aborto,
ainda que ausente a intenção de provocar a morte do feto
Sujeito passivo: há dupla subjetividade passiva, fi-
(quando se mata uma mulher grávida há pelo menos dolo
gurando como vítimas o feto e a gestante.
eventual quanto ao aborto). Entretanto, se o terceiro igno-
Conduta: consiste em interromper, violenta e inten- rava a gravidez, será responsabilizado apenas por homicídio
cionalmente, uma gravidez, destruindo o produto da con- doloso, sob risco de caracterização da responsabilidade pe-
cepção, sem o consentimento válido da gestante. nal objetiva.
ATENÇÃO: se a gestante for menor de quatorze anos,
alienada ou débil mental, ou ainda se o consentimento é ob-
tido mediante fraude, seu consentimento não será valido, Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por mé-
logo, seria o mesmo que dizer que não houve consentimento dico: (Vide ADPF 54)
(art. 126, parágrafo único). Aborto necessário

38
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; declarando a inconstitucionalidade de interpretação segundo
a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é con-
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro duta tipificada nos arts. 124, 126 e 128, incs. I e II, todos
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é pre- do Código Penal.
cedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz,
de seu representante legal.
Previsão
Causas especiais de exclusão da ilicitude - de Nomenclatura Comentário
legal
acordo com a maioria da doutrina, o artigo em comento traz
Aborto natural
duas causas especiais de exclusão da ilicitude: o aborto ne- _ Não há crime
Aborto acidental
cessário e o sentimental.
Art. 124, 1ª
ABORTO NECESSÁRIO (OU TERAPÊUTICO): quando Autoaborto Admite participação.
parte
não há outro meio de salvar a vida da gestante. Não pres- Coautor responde
Aborto consentido ou Art. 124, 2ª
supõe consentimento da gestante ou autorização judicial. pelo art. 126
procurado parte
Indispensável se faz o preenchimento de três condições:
Sem con-
1) aborto praticado por médico: não é necessário que Aborto senti- Art. 125
o médico seja especialista na área de ginecologia-obstetrí- provo- mento Admite coautoria e
cia. Caso seja necessária a realização do aborto por pessoa cado por Com con- participação
sem a habilitação profissional do médico (parteira, farma- terceiro senti- Art. 126
cêutico etc.), apesar de o fato ser típico, estará o agente mento
acobertado pela descriminante do estado de necessidade Resulta lesão grave
(art. 24), aplicando-se a mesma solução se a própria ges- Aborto qualificado Art. 127 ou morte culposa da
tante pratica o aborto movida pelo espírito de salvar a pró- gestante
pria vida; Dispensa autoriza-
Necessário
2) o perigo de vida da gestante: não basta o perigo ção judicial ou con-
ou terapêu- Art. 128, I
para a saúde; sentimento da ges-
tico
tante
3) a impossibilidade do uso de outro meio para salvá- Aborto
Sentimen- Dispensa autoriza-
la: não pode o médico escolher o meio mais cômodo, pois legal
tal ético, ção judicial, mas já
se houver outra maneira, que não a interrupção da gravidez, humanitá- Art. 128, II se exigiu a confec-
para salvar a vida da gestante, o agente responderá pelo rio ou pie- ção de Boletim de
crime. doso Ocorrência.
ABORTO SENTIMENTAL (HUMANITÁRIO, ÉTICO OU A lei não permite,
PIEDOSO): o inciso II trata do aborto no caso de gravidez Aborto eugênico ou mas no caso de feto
_
resultante de estupro (aborto sentimental). A exclusão do eugenésico anencefálico, o STF
crime depende de três condições: permite
Praticado para ocul-
1) que o aborto seja praticado por médico: caso con-
Aborto honoris causa _ tar gravidez adulte-
trário, haverá crime, não se ajustando qualquer causa legal
rina. É criminoso.
(ou extralegal) de justificação. Não existindo situação de pe-
rigo para a vida da gestante, diferente da indicação do inc. Motivado por inca-
I, parece incabível estado de necessidade ou qualquer outra pacidade financeira
Aborto miserável _
descriminante. Quando praticado pela própria gestante (au- de sustentar a vida
toaborto), a depender das circunstâncias, pode caracterizar do filho. É criminoso.
hipótese de inexigibilidade de conduta diversa (causa supra-
legal de exclusão da culpabilidade);
EXERCÍCIOS - CRIMES CONTRA A VIDA
2) que a gravidez seja resultante de estupro: o mé-
dico poderá negar-se a realizar o aborto se desconfiar não 01. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil)
ter existido estupro. Para tanto, é prudente que ele se acau- Abigail, depois de iniciado parto caseiro, mas antes de com-
tele e se convença das alegações da gestante. pletá-lo, sob influência do estado puerperal, mata o próprio
filho. Abigail praticou crime de:
3) prévio consentimento da gestante ou seu represen-
tante legal: de preferência, que esse consentimento seja o a) homicídio qualificado.
mais formal possível (acompanhado de boletim de ocorrên- b) consentimento para o aborto
cia), inclusive com testemunhas.
c) homicídio.
d) autoaborto.
ABORTO EUGÊNICO (Anencefalia) - O STF reco-
nheceu o direito da gestante de submeter-se à antecipação e) infanticídio.
terapêutica de parto na hipótese de anencefalia, previa-
mente diagnosticada por profissional habilitado, sem neces-
sidade de apresentar autorização judicial ou qualquer outra 02. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil)
forma de permissão do Estado. Terêncio, em razão da condição de sexo feminino, efetua
disparo de arma de fogo contra sua esposa Efigênia, percep-
A decisão se deu em 12/04/2012, por maioria de vo- tivelmente grávida, todavia atingindo, por falta de habili-
tos do Plenário da Corte, na Arguição de Descumprimento dade no manejo da arma, Nereu, um vizinho, que morre
de Preceito Fundamental (ADPF) 54, ajuizada pela Confede- imediatamente. Desconsiderando os tipos penais previstos
ração Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS),

39
no Estatuto do Desarmamento e levando em conta apenas c) homicídio duplamente qualificado pelo motivo torpe e
as informações contidas no enunciado, é correto afirmar que com recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa
Terêncio praticou crime(s)de: do ofendido
a) feminicídio majorado. d) homicídio duplamente qualificado pelo motivo fútil e
com recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa
b) aborto, na forma tentada, e homicídio.
do ofendido
c) homicídio culposo, feminicídio majorado, na forma ten-
e) homicídio triplamente qualificado pelo motivo torpe, em-
tada, e aborto, na forma tentada.
prego de arma de fogo e com recurso que dificultou ou tor-
d) aborto, na forma tentada, e feminicídio majorado. nou impossível a defesa do ofendido

e) homicídio culposo e aborto, na forma tentada.


06. (2014 – VUNESP -PC-SP -Atendente de Necrotério
Policial) Assinale a alternativa que traz as duas hipóteses
03. (2016 – FCC - AL-MS - Agente de Polícia Legisla- de aborto legal, praticado por médico, expressamente pre-
tivo) Micaela, de 19 anos de idade, após manter um relaci- vistas no art. 128 do CP.
onamento ocasional com Rodrigo, de 40 anos de idade,
acaba engravidando. Após esconder a gestação durante me- a) Se o feto sofre de doença incurável, sendo praticado
ses de sua família e ser desprezada por Rodrigo, que disse com o consentimento da gestante; se há má-formação fe-
que não assumiria qualquer responsabilidade pela criança, tal que inviabilize a vida extrauterina.
Micaela entra em trabalho de parto durante a 40 a semana
b) Se há má-formação fetal que inviabilize a vida extraute-
de gestação em sua residência e sem pedir qualquer auxílio
rina; se não há outro meio de salvar a vida da gestante.
aos familiares que ali estavam, acaba parindo no banheiro
do imóvel. A criança do sexo masculino nasce com vida e c) Se não há outro meio de salvar a vida da gestante; se
Micaela, agindo ainda sob efeito do estado puerperal, corta praticado com o consentimento dela, tendo sido a gravidez
o cordão umbilical e coloca o recém-nascido dentro de um resultada de estupro.
saco plástico, jogando-o no lixo da rua. O bebê entra em
d) Se o feto sofre de doença incurável, sendo praticado
óbito cerca de duas horas depois. Neste caso, à luz do Có-
com o consentimento da gestante; se praticado com o con-
digo Penal, Micaela cometeu crime de
sentimento da gestante, tendo sido a gravidez resultada de
a) homicídio culposo. estupro.
b) homicídio doloso. e) Se a gestante é menor de idade, sendo o procedimento
autorizado pelos responsáveis; se praticado com o consen-
c) aborto.
timento da gestante, tendo sido a gravidez resultada de
d) lesão corporal seguida de morte. estupro.

e) infanticídio.
07. (2014 – FUNCAB - SSP-SE - Papiloscopista) Quanto
ao crime de infanticídio, é correto o que se afirma na alter-
04. (2015 - COPESE – UFPI - Prefeitura de Teresina – nativa:
PI - Guarda Civil Municipal) Considera-se causa de dimi-
nuição de pena, o fato de o agente ter praticado o homicídio: a) Se a mãe não quis ou assumiu o risco da morte do filho,
não se configura crime de infanticídio, em qualquer das for-
a) Por motivo fútil. mas, eis que inexiste para o crime de infanticídio forma cul-
b) Com uso de veneno, fogo, asfixia ou outro meio insidi- posa.
oso ou cruel. b) É um crime comum, de perigo, formal, plurissubjetivo,
c) Impelido por relevante valor moral ou social. comissivo, instantâneo de efeitos permanentes, complexo.

d) Com recebimento de recompensa. c) É sujeito passivo, no crime de infanticídio, a mãe que


mata o próprio filho durante ou logo após o parto sob a in-
e) À traição ou emboscada. fluência do estado puerperal e, sujeito ativo, seu próprio fi-
lho.

05. (2014 – FGV - Prefeitura de Osasco – SP - Guarda d) Pratica o crime de infanticídio a mãe que mata o óvulo
Civil Municipal) Roberto estava na fila de um banco, fecundado após a nidação, o embrião ou o feto sob a in-
quando, por descuido, esbarrou em Renato que estava a sua fluência do estado puerperal.
frente, fazendo com que caísse no chão a pasta que estava e) O estado puerperal pode durar muito tempo, portanto, a
na mão de Renato. Não obstante o pedido de desculpas, Re- mãe que mata seu próprio filho uma semana após o parto,
nato ficou enfurecido, saiu do banco, foi até seu veículo, pe- estando, ainda, sob a influência do estado puerperal, pratica
gou uma pistola e aguardou na esquina a saída de Roberto o crime de infanticídio.
do banco. Assim que a vítima cruzou a esquina, Renato sa-
cou a arma e desferiu cinco disparos pelas costas de Ro-
berto, levando-o a imediato óbito. Renato cometeu crime 08. (2014 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia) A
de: conduta de induzir, instigar ou auxiliar outra pessoa a suici-
a) homicídio simples; dar-se, que tem como resultado lesão corporal de natu-
reza leve,
b) homicídio qualificado pelo motivo torpe;
a) tem pena duplicada se cometida por motivo egoístico.

40
b) tem pena agravada se a vítima tem diminuída, por qual- e) responderá pelo crime de homicídio culposo em razão de
quer causa, a capacidade de resistência. sua negligência.
c) não é prevista como crime.
d) tem pena aumentada se a vítima for menor de idade. 12. (Vunesp - Juiz de Direito Substituto- SP/2014)
Analise estas duas hipóteses isoladas: 1º) o agente matou
e) é punida com pena de 1 (um) a 3 (três) anos.
o indivíduo que estuprou sua filha menor e 2º) o agente,
que é traficante de drogas, matou seu concorrente para do-
minar o comércio de drogas no bairro. Relativamente ao
09. (2014 – FCC - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Técnico Ju- crime de homicídio, escolha a opção que indique, respecti-
diciário - Segurança) De acordo com o Código Penal, o vamente, o que, em tese, cada uma destas situações pode-
crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio terá a ria significar num eventual Júri:
pena duplicada se
a) atenuante genérica; agravante genérica.

I. o crime ocorrer por motivo egoístico. b) atenuante genérica; causa de aumento de pena.

II. a vítima for menor ou tiver diminuída, por qualquer c) causa de diminuição de pena; qualificadora.
causa, a capacidade de resistência.
d) causa de diminuição de pena; agravante genérica.
III o suicídio se consumar.
IV. da tentativa de suicídio resultar lesão corporal de natu-
13. (UEL- Delegado de Polícia - PR/2013) Leia o texto
reza grave.
a seguir. Paulo, diante de séria discussão com Pedro, dirigiu-
se até a sua residência e, visando causar mal injusto contra
Está correto o que se afirma APENAS em este, apanhou uma arma de fogo e, de dentro de seu quintal
mas em direção à via pública, efetuou vários disparos contra
a) III e IV. a pessoa de Pedro. Vale ressaltar que Paulo tinha registro
b) II e IV. de sua arma de fogo e que Pedro foi socorrido por terceiros
e não veio a óbito. Diante do caso exposto, Paulo responderá
c) I e III. pelo crime de
d) I e II. a) tentativa de homicídio, em concurso material com o crime
e) II e III. de disparo de arma de fogo, por força do Art. 69 do Código
Penal.
b) tentativa de homicídio, em concurso formal com o crime
10. (2013 – FCC - TRT - 15ª Região - Técnico Judiciário de disparo de arma de fogo, por força do Art. 70 do Código
- Segurança) O autor de homicídio praticado com a inten- Penal.
ção de livrar um doente, que padece de moléstia incurável,
dos sofrimentos que o atormentam (eutanásia), perante a c) tentativa de homicídio, não respondendo pelo crime de
legislação brasileira, disparo de arma de fogo, haja vista que este é crime subsi-
diário.
a) não cometeu infração penal.
d) tentativa de homicídio, em continuidade delitiva com o
b) responderá por crime de homicídio privilegiado. crime de disparo de arma de fogo, por força do Art. 71 do
c) responderá por homicídio qualificado pelo motivo torpe. Código Penal.

d) responderá por homicídio simples. e) disparo de arma de fogo, não respondendo pela tentativa
de homicídio, haja vista que o crime definido no Art. 15 da
e) responderá por homicídio qualificado pelo motivo fútil. Lei10.826/2003 tutela a segurança pública.

11. (Vunesp - Delegado de Polícia - SP/2014) "X" es- 14. (UEG- Agente de Polícia - GO/2013) Quanto às qua-
taciona seu automóvel regularmente em uma via pública lificadoras no crime de homicídio, tem-se que
com o objetivo de deixar seu filho, "Z", na pré-escola, en-
tretanto, ao descer do veículo para abrir a porta para "Z", a) torpe é o motivo vil, moralmente reprovável, repugnante,
não percebe que, durante esse instante, a criança havia sol- como no caso do homicídio mercenário.
tado o freio de mão, o suficiente para que o veículo se des- b) o homicídio privilegiado-qualificado não é admitido, tendo
locasse e derrubasse um idoso, que vem a falecer em razão em conta a incompatibilidade entre a hediondez e o privilé-
do traumatismo craniano causado pela queda. Em tese, "X" gio.
a) responderá pelo crime de homicídio culposo com pena c) a tortura não pode ser considerada qualificadora, uma vez
mais severa do que a estabelecida no Código Penal, nos que possui tratamento próprio em legislação específica,
termos do Código de Trânsito Brasileiro.
d) o motivo fútil não se comunica em caso de concurso de
b) responderá pelo crime de homicídio culposo, entretanto, agentes, em razão de sua natureza objetiva.
a ele poderá ser aplicado o perdão judicial.
c) não responde por crime algum, uma vez que não agiu
com dolo ou culpa. 15. (Vunesp - Escrivão de Polícia- SP/2013) Analise as
informações apresentadas a seguir e classifique-as como (V)
d) responderá pelo crime de homicídio doloso por dolo verdadeira ou (F) falsa.
eventual.

41
O crime de homicídio é qualificado, nos expressos termos do d) por homicídio privilegiado, já que agiu por relevante valor
§ 2º do art. 121 do CP, se cometido moral, que compreende também seus interesses individuais,
entre eles a piedade e a paixão.
( ) para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
nidade ou vantagem de outro crime. e) por homicídio privilegiado, pois o estado da vítima faz
com que pratique o crime sob o domínio de violenta emoção.
( ) por funcionário público no exercício de suas fun-
ções.
( ) durante o repouso noturno. 19. (FGV- Exame de Ordem 2015.1) Paloma, sob o efeito
do estado puerperal, logo após o parto, durante a madru-
A classificação correta, de cima para baixo, é:
gada, vai até o berçário onde acredita encontrar-se seu filho
a) V, V, F. recém-nascido e o sufoca até a morte, retornando ao local
de origem sem ser notada. No dia seguinte, foi descoberta
b) F, V, V. a morte da criança e, pelo circuito interno do hospital, é ve-
c) V, F, V. rificado que Paloma foi a autora do crime. Todavia, consta-
tou-se que a criança morta não era o seu filho, que se en-
d) V, F, F. contrava no berçário ao lado, tendo ela se equivocado
e) V, V, V. quanto à vítima desejada.
Diante desse quadro, Paloma deverá responder pelo crime
de
16. (Vunesp - Escrivão de Polícia- SP/2013) A hipótese
do art. 121, § 5º do CP, doutrinariamente denominada de a) homicídio culposo.
perdão judicial, aplica-se ao homicídio b) homicídio doloso simples.
a) cometido por relevante valor moral. c) infanticídio.
b) culposo. d) homicídio doloso qualificado
c) privilegiado (caso de diminuição de pena).
d) cometido sob o domínio de violenta emoção, logo em se- 20. (FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXII
guida a injusta provocação da vítima. - Primeira Fase) Acreditando estar grávida, Pâmela, 18
e) cometido por relevante valor social. anos, desesperada porque ainda morava com os pais e eles
sequer a deixavam namorar, utilizando um instrumento
próprio, procura eliminar o feto sozinha no banheiro de sua
17. (UEG- Delegado de Polícia- G0/2013) Caio, dese- casa, vindo a sofrer, em razão de tal comportamento, lesão
jando matar Túlio, dispara projéteis de arma de fogo contra corporal de natureza grave. Encaminhada ao hospital para
seu desafeto. Túlio, alvejado, cai e permanece inerte no atendimento médico, fica constatado que, na verdade, ela
chão enquanto Caio retira-se do local. Observando a cena, não se achava e nunca esteve grávida. O Hospital, todavia,
Lívio aproxima-se com intenção de despojar a vítima de seus é obrigado a noticiar o fato à autoridade policial, tendo em
bens e, ao retirar o relógio, nota que Túlio esboça reação vista que a jovem de 18 anos chegou ao local em situação
quando, então, Lívio utiliza uma pedra para acertar-lhe a suspeita, lesionada. Diante disso, foi instaurado
cabeça. Túlio vem a óbito e no exame cadavérico o legista procedimento administrativo investigatório próprio e, com o
atesta que a morte ocorreu por concussão cerebral. No caso, recebimento dos autos, o Ministério Público ofereceu
responderão Caio e Lívio, respectivamente, por: denúncia em face de Pâmela pela prática do crime de
“aborto provocado pela gestante", qualificado pelo resultado
a) homicídio consumado e roubo próprio. de lesão corporal grave, nos termos dos Art. 124 c/c o Art.
127, ambos do Código Penal. Diante da situação narrada,
b) homicídio tentado e latrocínio.
assinale a opção que apresenta a alegação do advogado de
c) homicídio tentado e roubo impróprio. Pâmela.
d) homicídio consumado e latrocínio. a) A atipicidade de sua conduta.
b) O afastamento da qualificadora, tendo em vista que esta
somente pode ser aplicada aos crimes de aborto provocado
18. (MPE-SP - Promotor de Justiça - SP/2015) O
por terceiro, com ou sem consentimento da gestante, mas
agente que, para livrar sua esposa, deficiente física em fase
não para o delito de autoaborto de Pâmela.
terminal em razão de doença incurável, de graves sofrimen-
tos físico e moral, pratica eutanásia com o consentimento c) A desclassificação para o crime de lesão corporal grave,
da vítima, deve responder, em tese: afastando a condenação pelo aborto.
a) por homicídio qualificado pelo feminicídio, pois o consen- d) O reconhecimento da tentativa do crime de aborto quali-
timento da ofendida nenhuma consequência. ficado pelo resultado.
b) por homicídio qualificado pelo feminicídio, agravado pelo
fato de ter sido praticado contra pessoa deficiente, já que o
consentimento da ofendida é irrelevante para efeitos penais. GABARITO – CRIMES CONTRA A VIDA
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
c) por homicídio privilegiado, já que agiu por relevante valor E D E C D C A C D B
social, que compreende também os interesses coletivos, en-
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
tre eles os humanitários.
C C C A D B B D C A

42
2. DAS LESÕES CORPORAIS (ARTS. 129) § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990)
Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886,
CAPÍTULO II de 2004)
DAS LESÕES CORPORAIS
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, des-
Lesão corporal cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospi-
outrem:
talidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
Lesão corporal de natureza grave (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
§ 1º Se resulta: § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo,
se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo,
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº
de trinta dias; 10.886, de 2004)
II - perigo de vida; § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será
III - debilidade permanente de membro, sentido ou aumentada de um terço se o crime for cometido contra pes-
função; soa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340,
de 2006)
IV - aceleração de parto:
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou
Pena - reclusão, de um a cinco anos. agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
§ 2° Se resulta: integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Se-
gurança Pública, no exercício da função ou em decorrência
I - Incapacidade permanente para o trabalho; dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente con-
II - enfermidade incurável; sanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a
pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei
III perda ou inutilização do membro, sentido ou fun- nº 13.142, de 2015)
ção;
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por
IV - deformidade permanente; razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A
do art. 121 deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de
V - aborto:
2021)
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Inclu-
Lesão corporal seguida de morte ído pela Lei nº 14.188, de 2021)
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam Lesão corporal é a ofensa humana direcionada à in-
que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de tegridade corporal ou à saúde de outra pessoa. Depende da
produzi-lo: produção de algum dano no corpo da vítima, interno ou ex-
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. terno, englobando qualquer alteração prejudicial à sua sa-
úde, inclusive problemas psíquicos. São exemplos de ofensa
Diminuição de pena à integridade física as fraturas, fissuras, escoriações, quei-
maduras e luxações, a equimose e o hematoma.
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de vio-  A dor, por si só, não caracteriza lesão corporal.
lenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da ví-
tima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. As lesões podem ser divididas quanto ao elemento
subjetivo e intensidade:
Substituição da pena
Quanto ao elemento Quanto à intensidade
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda subjetivo
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos a) dolosa simples (caput); a) leve (caput);
mil réis a dois contos de réis: b) dolosa qualificada (§§ b) grave (§ 1º);
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo an- 1º, 2º e 3º); c) gravíssima (§ 2º);
terior; c) dolosa privilegiada (§§ d) seguida de morte (§
4º e 5º); 3º).
II - se as lesões são recíprocas. d) culposa (§ 6º).
Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).

Pena - detenção, de dois meses a um ano. ATENÇÃO: a lei não pune a autolesão (Princípio da
Alteridade: ninguém pode ser punido por causar mal apenas
Aumento de pena a si próprio).
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Em alguns casos
qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Có- o tipo penal exige uma situação diferenciada em relação à
digo. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012) vítima – na lesão corporal grave ou gravíssima a vítima deve
ser mulher grávida (para possibilitar a aceleração do parto

43
ou o aborto – CP, art. 129, § 1º, IV, e § 2º, V); na lesão ATENÇÃO! Se o feto for expulso morto do ventre ma-
qualificada pela violência doméstica a vítima precisa ser as- terno o crime será de lesão corporal gravíssima em razão do
cendente, descendente, irmã, cônjuge ou companheira do aborto.
agressor.
3. Lesões corporais gravíssimas (art. 129, § 2º):
Conduta: consiste em ofender - direta ou indireta- É a segunda forma qualificada prevista no artigo, sendo a
mente - a integridade corporal ou a saúde de outrem, quer nomenclatura dada pela doutrina. A lesão corporal é consi-
causando uma enfermidade, quer agravando a que já existe. derada gravíssima se dela resultar:
Tipo subjetivo: Em geral é o dolo, direto ou even- a) Incapacidade permanente para o trabalho: aqui, ao
tual, (animus laedendi ou animus nocendi) – caput e §§ 1º, contrário do que ocorria no inciso I do § 1º, a incapacidade
2º e 9º. Mas há também a culpa (§ 6º) e o preterdolo (§ é para o trabalho (labuta, profissão, emprego, ofício etc.),
3º). permanente (não mais temporária), absoluta (não basta ser
relativa), duradoura no tempo e sem previsibilidade de ces-
Consumação e tentativa: Consuma-se com a efe-
sação.
tiva lesão à integridade corporal ou à saúde da vítima (crime
de dano). A tentativa é admissível nas modalidades dolosas, b) Enfermidade incurável: entende-se esta como
mas incabível na lesão culposa e na lesão corporal seguida sendo a alteração permanente da saúde em geral por pro-
de morte. cesso patológico, ou seja, a transmissão intencional de uma
doença para a qual não existe cura no estágio atual da me-
Graus de intensidade da lesão corporal dolosa -
dicina. A doutrina também considera incurável a enfermi-
a lesão corporal dolosa pode ser de natureza leve, grave,
dade se o restabelecimento da saúde depender de interven-
gravíssima e seguida de morte.
ções cirúrgicas arriscadas ou tratamentos incertos, não es-
1. Lesão corporal leve ou simples (art. 129, ca- tando a vítima obrigada a aventurar-se por caminhos para
put): por exclusão, a lesão corporal dolosa que não seja os quais a própria medicina ainda não reconhece sucesso.
grave, gravíssima ou praticada com violência doméstica e
 O STJ, através da sua 5ª Turma, decidiu que a
familiar contra a mulher. A prova da materialidade é feita
transmissão consciente da síndrome da imunodeficiência
com o exame de corpo de delito.
adquirida (vírus HIV) caracteriza lesão corporal de natureza
ATENÇÃO! O princípio da insignificância pode ser in- gravíssima, enquadrando-se a enfermidade perfeitamente
vocado no caso de a lesão ser ínfima, levíssima, como um no conceito de doença incurável, previsto no artigo 129, §
puxão de cabelo, beliscão etc. 2°, II, do CP (HC 160.982/DF).

2. Lesão corporal de natureza grave (art. 129, § c) Perda ou inutilização de membro, sentido ou fun-
1º): hipótese de lesões qualificadas pelo resultado, podendo ção: É circunstância mais grave do que a do parágrafo an-
o evento ser querido ou aceito pelo agente (dolo direto ou terior, pois não mais se fala em debilidade, mas sim em
eventual) ou culposamente provocado (culpa), caso em que perda (amputação ou mutilação) ou inutilização (membro,
teremos o preterdolo. sentido ou função inoperante, isto é, sem qualquer capaci-
dade de exercer suas atividades próprias).
a) Incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de trinta dias: entende-se por ocupação habitual qual- ATENÇÃO! Tratando-se de órgãos duplos, a lesão,
quer atividade corporal costumeira, tradicional, não neces- para ser qualificada como gravíssima, deve atingir ambos.
sariamente ligada a trabalho, abrangendo também o estudo.
 É também gravíssima a lesão que produz a impo-
b) Perigo de vida: o perigo precisa ser comprovado tência generandi (em um e outro sexo) ou a coeundi.
por perícia. A simples região da lesão, por si só, não indica
d) Deformidade permanente: caracteriza deformidade
perigo de vida.
permanente o dano estético, aparente, considerável, irrepa-
c) Debilidade permanente de membro, sentido ou fun- rável pela própria força da natureza e capaz de provocar
ção: resultando do evento diminuição (redução) ou enfra- impressão vexatória (desconforto para quem olhe e humi-
quecimento da capacidade funcional de membro, sentido ou lhação para a vítima).
função, cuja recuperação seja incerta e por tempo indeter-
e) Aborto: por fim, considera-se de natureza gravís-
minado (não significa perpetuidade), a lesão será de natu-
sima a lesão se dela resulta o abortamento. Trata-se de
reza grave.
crime preterdoloso, havendo dolo na lesão e culpa no aborto
IMPORTANTE: Membros são os braços, pernas, (interrupção da gravidez).
mãos e pés. Os dedos integram os membros, e a perda ou
ATENÇÃO! É possível a coexistência de qualificado-
a diminuição funcional de um ou mais dedos acarreta na de-
ras, inclusive de natureza grave (§ 1º) e gravíssima (§ 2º).
bilidade permanente das mãos ou dos pés. Sentidos são:
Nesse caso, o crime permanece único, aplicando-se as pe-
visão, audição, tato, olfato e paladar. Função é a atividade
nas do parágrafo mais grave (§ 2º).
inerente a um órgão ou aparelho do corpo humano.
4. Lesão corporal seguida de morte (§ 3°): tam-
ATENÇÃO! Na hipótese de órgãos duplos (olhos,
bém chamada pela doutrina de homicídio preterdoloso (ou
ouvidos), a perda de um deles caracteriza lesão grave pela
preterintencional), aqui o agente, querendo apenas ofender
debilidade permanente e a perda de ambos configura lesão
a integridade ou a saúde de outrem, acaba por matá-lo cul-
gravíssima pela perda ou inutilização.
posamente.
d) Aceleração de parto: é a antecipação do parto
ATENÇÃO! Não se trata de crime contra a vida, pois
(parto prematuro) em decorrência da lesão corporal produ-
falta o animus necandi, logo, não é da competência do júri.
zida na gestante. A criança nasce viva e continua a viver,
exigindo-se o conhecimento da gravidez da vítima, pois se Lesão corporal dolosa privilegiada (§ 4°): Causa
o agente a ignorava, não responderá pela qualificadora. de diminuição de pena que incide unicamente no tocante às
lesões dolosas, qualquer que seja sua modalidade. O

44
dispositivo repete as mesmas situações descritas em relação a) ascendente, descendente ou irmão: não im-
ao privilégio no crime de homicídio doloso (art. 121). porta se o parentesco é legítimo ou ilegítimo, faz incidir o
tipo majorante. Nesses casos, é dispensável a coabitação
 Não é cabível na lesão corporal culposa.
entre o autor e a vítima, bastando existir a referida relação
Lesões corporais leves e substituição da pena parental.
(art. 129, § 5º): O juiz, não sendo graves as lesões, pode
b) cônjuge ou companheiro: a lei buscou proteger,
substituir a pena de detenção pela pena de multa em duas
também, a vítima companheira (união estável), até então
situações:
desamparada por qualquer agravante, em respeito ao prin-
I – se ocorrer qualquer das hipóteses do § 4º do art. cípio da legalidade estrita.
129 (se o agente comete o crime impelido por motivo de
c) com quem conviva ou tenha convivido: haverá
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta
violência doméstica na agressão contra pessoa (que não as-
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima);
cendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro)
e
com quem o agente conviva ou tenha convivido, como na
II – se as lesões forem recíprocas. república de estudantes, por exemplo.

 O dispositivo é aplicável somente à lesão corporal d) prevalecendo-se o agente das relações do-
leve. mésticas, de coabitação ou de hospitalidade: a hipó-
tese necessariamente pressupõe que o agente se valha da
Lesão corporal culposa (§ 6°): É a conduta típica vantagem doméstica, de coabitação ou de hospitalidade em
descrita pelo caput, quando praticada mediante culpa. relação à vítima, por exemplo, as agressões praticadas pela
Trata-se de tipo penal aberto, devendo o intérprete utilizar babá contra a criança.
um juízo de valor para, com base no critério do homem mé-
dio, constatar se quando da conduta, cometida com impru- Violência doméstica e familiar (§ 10): se presen-
dência, negligência ou imperícia, era possível ao agente pre- tes as mesmas circunstâncias do parágrafo anterior (crime
ver objetivamente a produção do resultado. praticado contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge
ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido,
 Caso a lesão corporal culposa se dê na direção de ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésti-
veículo automotor, a conduta será ajustada ao disposto no cas, de coabitação ou de hospitalidade), aumenta-se em 1/3
art. 303 da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro). a pena da lesão corporal de natureza grave, gravíssima e
ATENÇÃO! Não há distinção com base na gravidade seguida de morte (§§ 1°, 2° e 3°).
dos ferimentos. Pessoa portadora de deficiência e aumento de
IMPORTANTE: Existem várias decisões do STJ reco- pena na lesão corporal leve com violência doméstica
nhecendo no crime culposo a perfeita aplicação do princípio (art. 129, § 11): A pena da lesão corporal leve cometida
da insignificância. com violência doméstica será aumentada de 1/3 (um terço)
quando a vítima for pessoa portadora de deficiência. Esse
Lesão corporal culposa e aumento de pena (art. dispositivo foi acrescentado pela Lei 11.340/2006 (Lei Maria
129, § 7º): A pena será aumentada de 1/3 se o crime re- da Penha). Deve tratar-se de pessoa portadora de deficiên-
sultar de inobservância de regra técnica de profissão, arte cia e ligada ao autor do crime pelos laços de violência do-
ou ofício, ou se o agente deixar de prestar imediato socorro méstica indicados pelo § 9º do art. 129 do CP.
à vítima, não procurar diminuir as consequências do seu ato,
ou fugir para evitar prisão em flagrante (CP, art. 121, § 4º, ATENÇÃO! Pessoa portadora de deficiência é aquela
1ª parte). que, em consequência de alguma enfermidade, permanente
ou transitória, enfrenta debilidade em sua capacidade física
Aumento de pena na lesão corporal dolosa (art. ou mental.
129, § 7º): Na hipótese de lesão corporal dolosa, qualquer
que seja sua modalidade, a pena será aumentada de 1/3 se Lesão corporal contra autoridade ou agente de
o crime for praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) segurança pública (§ 12): a Lei 13.142/15 alterou o art.
ou maior de 60 (sessenta) anos, ou então por milícia pri- 129 para acrescentar o § 12, que majora a pena da lesão
vada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, corporal (dolosa, leve, grave, gravíssima ou seguida de
ou por grupo de extermínio. morte) de um a dois terços quando praticada contra autori-
dade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Perdão judicial (§ 8º): na lesão corporal culposa, Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
aplica-se o perdão judicial na forma estabelecida para o ho- de Segurança Pública, no exercício da função ou em decor-
micídio culposo, previsto no § 5° do art. 121, podendo o juiz rência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
deixar de aplicar a pena quando as consequências da infra- consanguíneo até o 3º grau, em razão dessa condição.
ção atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
sanção penal se torne desnecessária.
Violência doméstica e familiar (§ 9°): trata-se de Qualificadora para a lesão corporal simples co-
qualificadora da lesão corporal dolosa de natureza leve (art. metida contra a mulher (§ 13):
129, caput), cuja pena passa a ser de 3 meses a 3 anos de O § 13 do art. 129 do CP, inserido pela Lei nº
detenção, deixando, assim, de ser crime de menor potencial 14.188/2021, traz qualificadora para a lesão corporal sim-
ofensivo. ples cometida contra a mulher, punindo duas situações dis-
 Se além das hipóteses previstas no § 9°, a vítima tintas:
(homem ou mulher) for portadora de deficiência, incidirá um a) Lesão corporal praticada contra mulher no contexto
aumento de pena de um terço (§ 11). de violência doméstica e familiar;
A violência doméstica ocorrerá quando o crime for b) Lesão corporal praticada contra mulher em razão
praticado contra: de menosprezo ou discriminação ao seu gênero.

45
anos, que, por respeito ao pai, não revida. No evento, Er-
nesto suporta lesões leves.
a) Lesão corporal praticada contra mulher no
contexto de violência doméstica e familiar b) Casemiro, desejando lesionar a própria mãe, tenta gol-
peá-la com um bastão, mas erra o alvo, atingindo um vaso.
É preciso contextualizar o tema de acordo com a de- Aterrorizada, a vítima se encolhe esperando novo golpe,
finição de “violência doméstica e familiar” encontrada no art. mas Casemiro, que poderia prosseguir com a ação, se api-
5º da Lei n.° 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). eda, cessando a execução do crime.
Desse modo, conclui-se que, mesmo no caso de lesão c) Bertoldo, em casa, ao efetuar reparos em um lustre, cul-
corporal praticada no contexto de violência doméstica e fa- posamente deixa cair uma ferramenta sobre a cabeça da
miliar, será indispensável que o crime envolva o gênero esposa, que segurava a escada, ferindo-a levemente.
(“razões de condição de sexo feminino”). d) Durante uma discussão com a ex-esposa sobre a guarda
A definição de “razões de condição de sexo feminino” dos filhos, Gervásio desfere um soco na boca da mulher,
é dada pelo § 2º-A do art. 121 do CP: quebrando vários de seus dentes, o que, consoante laudo
pericial, lhe causa debilidade permanente de função.
“Considera-se que há “razões de condição de sexo fe- e) Marinalva. que coabita com a amiga Soraia. irritada com
minino” quando o crime envolve: o fato de a amiga não ajudar na limpeza da casa, dá um
I - violência doméstica e familiar; empurrão nesta, que se desequilibra e bate com a cabeça
na parede, ficando desacordada por cinco minutos. Ao acor-
II - menosprezo ou discriminação à condição de mu- dar, a vítima, apesar de sentir dores por dois dias, se recu-
lher. pera plenamente, contando com a assistência de Marinalva,
Ex.1: marido que pratica lesão corporal contra a mu- a qual não pretendia o resultado.
lher porque acha que ela não tem “direito” de se separar
dele. 02. (2016 – FCC - AL-MS - Agente de Polícia Legisla-
Ex.2: companheiro que pratica lesão corporal contra tivo) Paulo, após subtrair a bolsa de Regina, é perseguido
a sua companheira porque quando chegou em casa o jantar pelo cidadão Rodrigo, particular que passava pelo local e
não estava pronto. presenciou o crime. Rodrigo consegue segurar Paulo para
efetuar a prisão. Entretanto, Paulo desfere um soco no rosto
de Rodrigo, lesionando-o, e consegue empreender fuga.
ATENÇÃO! Ainda que a violência aconteça no ambi- Nesse caso, Paulo, além do delito de furto,
ente doméstico ou familiar e mesmo que tenha a mulher a) cometeu crime de desobediência e lesão corporal dolosa.
como vítima, não se aplicará o art. 129, § 13 do CP se não b) cometeu crimes de resistência e lesão corporal dolosa.
existir, no caso concreto, uma motivação baseada no gênero
c) não cometeu nenhum crime.
(“razões de condição de sexo feminino”).
d) cometeu crime de lesão corporal dolosa.
Ex: duas irmãs, que vivem na mesma casa, disputam
e) cometeu crime de resistência qualificada, pois o ato não
a herança do pai falecido; determinado dia, durante uma
foi executado em razão da resistência.
discussão sobre a herança, uma delas pratica lesão corporal
contra a outra; esse crime foi cometido com violência do-
méstica, já que envolveu duas pessoas que tinha relação 03. (2015 – FGV - Prefeitura de Paulínia – SP - Guarda
íntima de afeto, mas não se aplicará o § 13 do art. 129 por- Municipal) Determinado Guarda Municipal, fora do exercí-
que não foi uma lesão baseada no gênero (não houve vio- cio de sua função, mas ainda com a roupa do serviço, chega
lência de gênero, menosprezo à condição de mulher), tendo a sua residência cansado do trabalho e, em virtude de sua
a motivação do delito sido meramente patrimonial. conduta descuidada, realiza um brusco movimento, que faz
com que seu filho caia da escada e sofra lesões gravíssimas,
ficando em coma por cerca de 02 meses. Após sua recupe-
b) Menosprezo ou discriminação à condição de ração, a vítima, que ficou tetraplégica, decide representar
mulher em face do pai, demonstrando interesse em vê-lo proces-
sado criminalmente. O pai fica arrasado, pois, além de seu
Para ser enquadrado neste inciso, é necessário que, filho ter ficado tetraplégico, não o perdoou por sua impru-
além de a vítima ser mulher, fique caracterizado que o crime dência. De acordo com a situação narrada, o crime praticado
foi motivado ou está relacionado com o menosprezo ou dis- pelo funcionário foi de:
criminação à condição de mulher.
a) lesão corporal gravíssima, podendo ser aplicada pena de
Ex: funcionário de uma empresa que pratica lesão 02 a 08 anos de reclusão;
corporal contra a sua colega de trabalho em virtude de ela b) lesão corporal culposa, sendo que a consequência do
ter conseguido a promoção em detrimento dele, já que, em crime para a vítima é tratada pelo Código Penal como causa
sua visão, ela, por ser mulher, não estaria capacitada para de aumento de pena de 1/3 a 1/2;
a função.
c) lesão corporal grave, pois resultou em debilidade perma-
nente de membro, sentido ou função, cuja pena em abstrato
é de 01 a 05 anos de reclusão;
EXERCÍCIOS – LESÕES CORPORAIS
d) lesão corporal culposa, sendo possível a aplicação do per-
01. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil) dão judicial;
Assinale a hipótese que contempla um crime de vio-
e) lesão corporal culposa, cabendo aplicação de causa de
lência doméstica (art. 129, § 9o, CP).
diminuição de pena em razão das consequências do crime
a) Manolo, ao chegar bêbado em casa e sem qualquer in- para o autor do fato.
tenção especial, passa a bater em seu filho Ernesto, de 18

46
04. (2014 – VUNESP - PC-SP - Atendente de Necroté- c) O perigo de vida só é causa de agravamento de pena
rio Policial) No que concerne ao crime de lesão corporal quando for efetivo, concreto e resultar de diagnóstico mé-
culposa, dico fundamentado.
a) se o agente comete o crime impelido por motivo de rele- d) A lesão corporal que ocasionou a incapacidade do ofen-
vante valor social ou moral, o juiz pode reduzir a pena de dido para as ocupações habituais por mais de trinta dias não
um sexto (1/6) a um terço (1/3). depende de exame de corpo de delito complementar.
b) aumenta-se a pena de 1/4 (um quarto) se o agente deixa e) Se da lesão resultar a perda de um olho não ocorrerá
de prestar imediato socorro à vítima ou não procura diminuir debilidade permanente de função, por tratar-se de órgão
as consequências do seu ato. duplo.
c) aumenta-se a pena de 1/4 (um quarto) se o crime resulta
de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofí- 09. (2013 – FCC - TRT - 15ª Região - Técnico Judiciário
cio. - Segurança) No momento em que um policial, em cum-
d) o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequên- primento a mandado judicial, deu voz de prisão a Brutus,
cias da infração atingirem o próprio agente de forma tão seu irmão Paulus interveio e impediu a execução do ato,
grave que a sanção penal se torne desnecessária. agredindo o policial a socos e pontapés, causando-lhe feri-
e) se o agente comete o crime sob o domínio de violenta mentos leves. Paulus responderá
emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, o a) pelo crime de desobediência.
juiz pode reduzir a pena de um sexto (1/6) a um terço (1/3). b) somente pelo crime de lesões corporais leves.
c) somente pelo crime de resistência.
05. (2014 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia) Con- d) pelos crimes de resistência e lesões corporais leves.
sidere que João e José se agrediram mutuamente e que as
e) pelos crimes de desobediência e resistência.
lesões recíprocas não são graves. Nesta hipótese, o art. 129,
§ 5.º do CP prescreve que ambos podem:
a) ser beneficiados com a exclusão da ilicitude 10. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia) Fa-
brício conduzia um trator no interior de sua fazenda, arando
b) ser beneficiados com o perdão judicial.
a terra para uma plantação, quando, por descuido, atrope-
c) ter as penas de reclusão substituídas por prisão simples. lou Laurete, que foi internada e perdeu uma das pernas. As-
d) ser beneficiados com a exclusão da culpabilidade. sim, Fabrício:
e) ter as penas de detenção substituídas por multa. a) praticou o crime de lesão corporal previsto no Código de
Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997).
06. (2014 – FCC - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Técnico Ju- b) praticou o crime de lesão corporal grave pela debilidade
diciário - Segurança) De acordo com o Código Penal, se o permanente de membro, previsto no artigo 129, § 1º, III,
resultado da lesão corporal for grave, o autor do crime es- do CP.
tará sujeito à pena de reclusão de dois a oito anos na hipó- c) praticou o crime de lesão corporal grave pela perda de
tese de membro, previsto no artigo 129, § 2º, III, do CP.
a) incapacidade para as funções habituais, por mais de trinta d) praticou o crime de lesão corporal culposa, previsto no
dias. artigo 129, § 6º do CP.
b) incapacidade permanente para o trabalho. e) não praticou crime.
c) perigo de vida.
d) debilidade permanente de membro, sentido ou função. GABARITO – LESÕES CORPORAIS
e) aceleração de parto. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
A D D D E B A C D D
07. (2014 – FCC - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Técnico Ju-
diciário - Segurança) No Código Penal, nos crimes de in-
3. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (ARTS. 130 A 136)
júria, infanticídio e lesão corporal, os bens jurídicos tutela-
dos são, respectivamente, a
a) honra, a vida e a integridade física.
CAPÍTULO III
b) vida, a honra e a integridade física. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
c) honra, a integridade física e a vida.
Perigo de contágio venéreo
d) integridade física, a vida e a honra.
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais
e) vida, a integridade física e a honra.
ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea,
de que sabe ou deve saber que está contaminado:
08. (2013 – FCC - TRT - 15ª Região - Técnico Judiciário
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
- Segurança) A respeito do crime de lesões corporais, é
correto afirmar: § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
a) É grave a lesão quando provocar aborto, mas não o é Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
quando provocar apenas aceleração de parto.
b) Se o agente agrediu a vítima, assumindo o risco de cau- § 2º - Somente se procede mediante representação.
sar-lhe a morte, responderá por lesão corporal seguida de Objetividade jurídica: é a incolumidade física e a
morte, se ela vier a óbito. saúde da pessoa, exposta por meio de relações sexuais ou
qualquer ato libidinoso, ao contágio de moléstia venérea.

47
Sujeito ativo: qualquer pessoa, desde que portadora perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação
de moléstia venérea, seja homem ou mulher, pode ser su- de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em
jeito ativo do crime. desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº
9.777, de 1998)
Sujeito passivo: qualquer pessoa pode ser vítima.
Irrelevante o consentimento desta. A doutrina reconhece a Objetividade jurídica: a saúde e a vida da vítima. É
existência do delito ainda que a exposição tenha ocorrido expressa a natureza subsidiária deste delito, aplicando-se
entre cônjuges. somente nas hipóteses em que o comportamento do agente
não constitua crime mais grave.
Conduta: expor é colocar alguém ao alcance de de-
terminada situação de perigo (contaminação) mediante a Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
prática de relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso
capaz de contagiá-lo com a moléstia venérea. Sujeito passivo: deve ser pessoa certa e determi-
nada.
Elemento subjetivo: Na modalidade simples (caput)
é o dolo de perigo, que pode ser direto ou eventual. Na fi- Conduta: pune-se aquele que, de qualquer forma
gura qualificada (§ 1º), cuida-se de crime de perigo com (crime de ação livre), coloca pessoa certa e determinada em
dolo de dano, uma vez que o sujeito tem a intenção de perigo de dano direto, efetivo e iminente.
transmitir a moléstia de que está contaminado, sendo dis- Tipo subjetivo: consistente na vontade consciente
pensável a efetiva transmissão. de, mediante ação ou omissão, colocar a vida ou a saúde de
Consumação e tentativa: consuma-se no momento pessoa(s) determinada(s) em perigo. O dolo pode ser direto
da prática do aro sexual capaz de transmitir a moléstia ve- ou eventual.
nérea (crime formal). A tentativa é possível. Consumação e tentativa: consuma-se com o surgi-
ATENÇÃO! A Aids não é moléstia venérea. mento do risco (crime de perigo concreto). Se resultar dano,
como a morte ou lesões graves, o crime de perigo restará
absorvido pelo crime mais grave. Admite-se a forma ten-
tada.
Perigo de contágio de moléstia grave
Causa de aumento de pena (parágrafo único):
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem
Trata-se de causa de aumento de pena inerente à segurança
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de
viária, ou seja, é crime de trânsito localizado no Código Pe-
produzir o contágio:
nal. Sua principal finalidade é punir mais severamente (au-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. mento de 1/6 a 1/3) o transporte de “boias-frias” sem as
cautelas necessárias. Abrange, também, o transporte efetu-
Objetividade jurídica: é a vida e a saúde da pessoa. ado por empresas, públicas ou privadas, ou propriedades de
Sujeito ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher, qualquer natureza (sítios ou fazendas, fábricas, lojas, em-
desde que contaminada de moléstia grave contagiosa (crime presas em geral etc.).
próprio).
Sujeito passivo: também qualquer pessoa, desde Abandono de incapaz
que não esteja contaminada por igual moléstia.
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado,
Conduta: pune-se a prática de qualquer meio direto guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo,
(contato físico entre os sujeitos, v.g., aperto de mão) ou incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
indireto (sem contato físico, transmitindo-se a moléstia
através da utilização de objetos, v.g., como seringas, talhe- Pena - detenção, de seis meses a três anos.
res etc.) capaz de transmitir moléstia (delito de ação livre).
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de
Tipo subjetivo: Consiste no dolo direto de expor a natureza grave:
vítima ao perigo de contágio da moléstia grave. Não se ad-
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
mite a figura culposa.
§ 2º - Se resulta a morte:
Consumação e tentativa: é crime formal, bastando
a prática de ato perigoso capaz de transmitir o mal visado. Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Se resultar lesão de natureza leve, ficará esta absorvida
Aumento de pena
(mero exaurimento). Entretanto, se resultar lesão de natu-
reza grave ou morte, o agente causador da transmissão res- § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se
ponde por estes crimes em concurso. de um terço:
 A tentativa é perfeitamente possível (delito I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
plurissubsistente).
II - se o agente é ascendente ou descendente,
cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
Perigo para a vida ou saúde de outrem III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos
(Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo
direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato Objetividade jurídica: neste dispositivo o legislador
não constitui crime mais grave. buscou proteger a vida e a integridade físico-psíquica da ví-
tima, pessoa incapaz de sozinha se proteger (ou defender).
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a
um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a

48
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, pois só pode Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
ser cometido por aquele que tem a vítima sob seu cuidado, consciente de abandonar recém-nascido para ocultar de-
guarda, vigilância ou autoridade (garantidor do incapaz). sonra própria (elemento subjetivo do tipo). Sem esta finali-
dade especial, desaparece o privilégio, incidindo o artigo 134
Sujeito passivo: somente a pessoa assistida, ou
do CP. Não se pune a forma culposa.
seja, incapaz de defender-se dos riscos decorrentes do
abandono, pode ser sujeito passivo.  Marido da mulher infiel que abandona recém-nas-
cido adulterino não pratica o crime do art. 133, pois não age
Conduta: é a de abandonar, infringindo o agente o
para ocultar desonra própria, mas sim de terceiro. O caso
dever de guarda e assistência, por tempo relevante, capaz
se enquadra no art. 133 do CP (abandono de incapaz).
de colocar o incapaz em risco. O crime pode ser praticado
mediante ação (levar a vítima a um local ermo e ali deixá- Consumação e tentativa: consuma-se com o ad-
la) ou omissão (afastar-se da vítima do lugar onde se en- vento da situação de perigo experimentada pelo recém-nas-
contra, deixando-a à própria sorte). cido após este ter sido abandonado. O perigo deve ser real.
A tentativa é admissível.
Tipo subjetivo: dolo de perigo (direto ou eventual).
Não admite a modalidade culposa. Qualificadoras: configuram modalidades preterdolo-
sas do crime em estudo o § 1° (quando resulta lesão corpo-
Consumação e tentativa: consuma-se quando, em
ral grave) e o § 2° (se resultar a morte).
razão do abandono, a vítima sofre concreta situação de risco
(crime de perigo concreto). E crime instantâneo, logo o ar- ATENÇÃO! A expressão lesão corporal de natureza
rependimento do responsável não desnatura o delito. grave (§ 1º) foi utilizada em sentido amplo, para abranger
tanto as lesões corporais graves (CP, art. 129, § 1º) como
Qualificadoras: configuram modalidades preterdolo-
as lesões corporais gravíssimas (CP, art. 129, § 2º).
sas do crime em estudo o § 1º (quando resulta lesão corpo-
ral grave) e o § 2° (se resultar a morte).  A lesão corporal leve fica absorvida pelo abandono
de incapaz, por se tratar de crime de dano com pena inferior
Causas de aumento de pena: o último parágrafo (§
à do crime de perigo.
3°) prevê causa especial de aumento de pena, aplicável às
formas simples e qualificada:
a) se o abandono ocorre em lugar ermo: lugar ermo Omissão de socorro
é o ambiente desabitado, sem frequência (ausência de pes-
soas), habitualmente isolado. Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando
possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
b) se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou
irmão, tutor ou curador da vítima: o inciso II aumenta a em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
pena daquele que carrega maior dever de assistência. A socorro da autoridade pública:
enumeração é taxativa, não comportando analogias (fica ex-
cluída da majorante, por exemplo, a união estável); Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

c) se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos: acres- Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se
centado pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), o inciso da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e
III aumenta a pena de um terço quando a vítima abando- triplicada, se resulta a morte.
nada for maior de 60 anos. Justifica-se o aumento em face Objetividade jurídica: é a segurança do indivíduo,
da maior dificuldade de autodefesa apresentada pela pessoa protegendo-se a vida e a saúde das pessoas que vivem em
idosa. sociedade.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). Di-
Exposição ou abandono de recém-nascido ferentemente dos arts. 133 e 134, dispensam-se vínculos
especiais entre os sujeitos do delito.
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para
ocultar desonra própria: Sujeito passivo: segundo a enumeração do artigo,
são pessoas a quem a assistência deve ser prestada, ou
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. seja, criança abandonada, criança extraviada, pessoa invá-
lida e ao desamparo, pessoa ferida e ao desamparo, e pes-
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza
soa em grave e iminente perigo.
grave:
Pena - detenção, de um a três anos. a) Criança abandonada: é a pessoa com idade inferior
a 12 anos (Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Ado-
§ 2º - Se resulta a morte: lescente, art. 2º) que foi intencionalmente deixada em al-
gum lugar por quem devia exercer sua vigilância, e por esse
Pena - detenção, de dois a seis anos.
motivo não pode prover sua própria subsistência.
Objetividade jurídica: é a vida e a integridade fí- b) Criança extraviada: é a pessoa com idade inferior
sico-psíquica da vítima recém-nascida. a 12 anos que está perdida, isto é, não sabe retornar por
Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio ou especial. conta própria ao local em que reside ou possa encontrar res-
Somente pode ser cometido pela mãe que concebeu o filho guardo e proteção.
de forma irregular e, ainda, pelo pai adulterino. c) Pessoa inválida e ao desamparo: invalidez é a ca-
Sujeito passivo: só pode ser o recém-nascido. racterística inerente à pessoa que não pode, por conta pró-
pria, praticar os atos cotidianos de um ser humano. Pode
Conduta: expor (ação) ou abandonar (omissão) re- advir de problema físico ou mental. Mas não basta a
cém-nascido, colocando-o em perigo concreto (real), vi-
sando ocultar desonra própria.

49
invalidez. Exige-se ainda esteja a pessoa ao desamparo, isto natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. (Incluído
é, incapacitada para se livrar por si só da situação de perigo. pela Lei nº 12.653, de 2012).
d) Pessoa ferida e ao desamparo: é aquela que sofreu Objetividade jurídica: é a segurança do indivíduo,
lesão corporal, não necessariamente grave, acidentalmente protegendo-se a vida e a saúde das pessoas que vivem em
ou provocada por terceira pessoa. É imprescindível que tam- sociedade.
bém se encontre ao desamparo, ou seja, impossibilitada de
afastar o perigo por suas próprias forças. Sujeito ativo: o crime pode ser praticado por admi-
nistradores e/ou funcionários do hospital.
e) Pessoa em grave e iminente perigo: o perigo deve
ser sério e fundado, apto a causar um mal relevante em ATENÇÃO! Embora se trate de crime comum, só pode
curto espaço de tempo. Não é necessário seja a vítima in- ser cometido por funcionários de hospitais particulares, vez
válida, nem que esteja ferida. que na rede pública de saúde a cobrança de qualquer valor
para o atendimento médico é proibida; se houver exigência
Duas são as formas de conduta: dessa natureza, pode configurar o crime de concussão.
a) Assistência imediata: ocorre quando o agente se Sujeito passivo: figura como vítima a pessoa em es-
omite em prestar auxílio diretamente. tado de emergência.
b) Assistência mediata: ocorre quando o agente, sem Conduta: consiste em negar atendimento emergen-
condições de prestar auxílio diretamente, não solicita so- cial, exigindo do potencial paciente (ou de seus familiares),
corro à autoridade pública sem demora. como condição para a execução dos procedimentos de so-
 O artigo limita o dever de agir (socorrer), ao esta- corro:
belecer a seguinte condição: “quando possível fazê-lo sem a) cheque caução (cheque em garantia), nota promis-
risco pessoal”. sória (promessa de pagamento) ou qualquer garantia (en-
dosso de uma duplicata ou letra de câmbio, por exemplo).
ATENÇÃO! Cuida-se de típica hipótese de crime
omissivo próprio ou puro, pois a omissão está descrita dire- b) o preenchimento prévio de formulários administra-
tamente no tipo penal. tivos, quase sempre na forma de contratos de adesão favo-
Tipo subjetivo: pune-se o dolo direto ou o eventual recendo abusivamente uma das partes (o hospital).
(de assumir o risco). Não admite forma culposa.  O agente, no caso, aproveita-se de um momento
Consumação e tentativa: no caso de "criança aban- de extrema fragilidade emocional do doente (ou de seus fa-
miliares) para, mediante uma das indevidas exigências
donada ou extraviada", trata-se de crime de perigo abstrato
acima descritas, garantir para o hospital o ressarcimento
(ou presumido). Nos demais casos, de perigo concreto, de-
das despesas realizadas no socorro.
vendo ser demonstrado o risco sofrido pela vítima certa e
determinada. Tipo subjetivo: somente se admite a forma dolosa,
 Tratando-se de crime omissivo próprio, a tentativa acrescida de elemento subjetivo específico, pois a exigência
(conatus) não é admissível, pois não há como fracionar o deve se impor como condição para o atendimento médico
hospitalar emergencial.
iter criminis (delito unissubsistente).
Consumação e tentativa: consuma-se com a inde-
Causas de aumento de pena (parágrafo único):
vida exigência, condicionando o atendimento de emergência
configuram modalidades preterdolosas do crime em estudo,
(delito de perigo concreto, real e imediato), sendo possível,
nos casos em que da omissão resultar lesão corporal grave
(a pena é aumentada da metade) ou se resultar a morte (a em tese, a tentativa (delito plurissubsistente).
pena é triplicada). Causas de aumento da pena (parágrafo único):
 Omissão de socorro e vítima idosa: Em caso de nos termos do que dispõe o parágrafo único, a pena é au-
mentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta
omissão de socorro envolvendo vítima idosa, é dizer, pessoa
lesão corporal de natureza grave (§§ 1º e 2º do art. 129), e
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, incide o
até o triplo se resulta a morte. Trata-se de figura preterdo-
crime tipificado pelo art. 97 da Lei 10.741/2003 – Estatuto
do Idoso. losa (ou preterintencional), sendo os resultados majorantes
decorrentes de culpa.
 Omissão de socorro e morte instantânea: Não
há crime de omissão de socorro quando alguém deixa de
prestar assistência a pessoa manifestamente morta. Maus-tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de
Condicionamento de atendimento médico-
educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a
hospitalar emergencial (Incluído pela Lei nº 12.653, de
de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
2012).
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou abusando de meios de correção ou disciplina:
qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de
formulários administrativos, como condição para o atendi- Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
mento médico-hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei nº § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza
12.653, de 2012). grave:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e Pena - reclusão, de um a quatro anos.
multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
§ 2º - Se resulta a morte:
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se
da negativa de atendimento resulta lesão corporal de Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

50
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é Causa de aumento de pena: constituindo a pouca
praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) idade da vítima (14 anos) causa de aumento de pena de
anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990) 1/3, afasta-se, automaticamente, a incidência da circuns-
tância agravante prevista no art. 61, II, h, em razão do prin-
Objetividade jurídica: tutela-se a vida e a incolumi- cípio do non bis in idem.
dade das pessoas que se encontram, para fins de educação,
ensino, tratamento ou custódia, sob guarda, autoridade ou
vigilância do agente.
EXERCÍCIOS – PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Sujeito ativo: só pode ser cometido por aquele que
tenha autoridade, guarda ou vigilância em relação à vítima
(crime próprio). 01. (2016 – FCC - AL-MS - Agente de Polícia Legisla-
Sujeito passivo: A vítima deve ser pessoa subordi- tivo) Paulo é atropelado e, em estado grave, é socorrido de
nada ao responsável pela conduta criminosa. ambulância a um determinado Hospital para atendimento
emergencial. Chegando ao nosocômio, a gerente Flávia
 A esposa e o filho maior de idade não podem ser exige da esposa do atropelado a apresentação de um che-
vítimas do delito, vez que não são subordinados à autori- que-caução no valor de R$ 20.000,00 e o preenchimento de
dade do agente. formulários administrativos como condição para iniciar o
ATENÇÃO! Maus-tratos contra idoso: Se a vítima atendimento médico-hospitalar emergencial. Neste caso, a
gerente Flávia
for idosa, incide o crime tipificado pelo art. 99 da Lei
10.741/2003 – Estatuto do Idoso. a) cometeu crime de homicídio doloso.
b) cometeu crime de omissão de socorro.
Conduta: trata-se de crime de ação múltipla (ou de
conteúdo variado), ou seja, o tipo penal contém várias mo- c) não cometeu crime, agindo de forma absolutamente legal
dalidades de conduta, vários verbos, mas responde o agente segundo normas que regem o atendimento hospitalar no
por um só crime. Vejamos as condutas tipificadas por meio Brasil.
do núcleo expor: d) cometeu crime de lesão corporal de natureza grave.
I - privação de alimentos ou de cuidados indispensá- e) cometeu crime de condicionamento de atendimento mé-
veis: a conduta é omissiva, na qual o agente se abstém de dico-hospitalar emergencial.
praticar atos de cuidado em relação a seu subordinado.
02. (2017 – IBADE - PC-AC - ) Naiara, adolescente, ao
chegar à própria casa depois do colégio, encontra seu pai
II - sujeição a trabalho excessivo ou inadequado: nos caído, com um ferimento na cabeça, aparentemente produ-
dois casos devem ser consideradas as condições físicas da zido por disparo de arma de fogo realizado por ele mesmo,
vítima, pois somente dessa forma poderá ser constatada a todavia ainda respirando. Desesperada, corre até a casa de
ocorrência ou não do delito. seu tio Hermínio, cunhado da vítima, solicitando ajuda.
III - abuso de meio corretivo ou disciplinar: perceba Como houvera uma rusga entre Hermínio e a vítima, aquele
que não se pune a conduta do agente que se utiliza de meios se recusa a prestar auxílio, limitando-se a dizer à sobrinha:
corretivos com o escopo de educar, ensinar, tratar ou cus- “tomara que morra”. Naiara, então, vai à casa de um vizi-
todiar. nho, que se compromete a ajudá-la. Ao retornarem ao local
do fato, encontram a vítima ainda viva, mas dando seus úl-
Maus tratos x Tortura: Exige-se, no caso da tortura, timos suspiros, vindo a óbito em menos de um minuto. Do
que a vítima seja submetida a intenso sofrimento físico ou momento em que Naiara viu a vítima ferida até sua morte
mental, enquanto no delito de maus-tratos basta a provo- não transcorreram mais do que quinze minutos. Realizado o
cação de simples perigo. A intenção do agente, ao torturar, exame cadavérico, o laudo pericial indica que o ferimento
é calcada no horror, visando causar sofrimento à vítima. No seria inexoravelmente fatal, ainda que o socorro tivesse sido
crime de maus-tratos, o agente atua com abuso do exercício prestado de imediato. Nesse contexto, com base nos estu-
de um direito regular. dos sobre a omissão e acerca do bem jurídico-penal, é cor-
Tipo subjetivo: consubstancia-se o dolo na consci- reto afirmar que a conduta de Hermínio caracteriza:
ência de maltratar a vítima, expondo-a a perigo. Ressalte- a) homicídio qualificado.
se que, além da vontade de praticar o ato, o agente deve b) induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
ter consciência de que o faz mediante abuso. Ausente a
c) homicídio culposo.
consciência do abuso, não há falar em crime. Não há moda-
lidade culposa. d) conduta atípica.
e) omissão de socorro.
Consumação e tentativa: consuma-se com a cria-
ção de um risco real. Embora de difícil configuração, admite-
se a tentativa nas modalidades comissivas, plurissubsisten- 03. (2015 – VUNESP - PC-CE - Delegado de Polícia Civil
tes (ex.: o agente, na iminência de espancar o filho com de 1ª Classe) O crime de maus-tratos tem pena aumen-
instrumento cortante, vem a ser impedido por terceiros, não tada de 1/3 (art. 136, §3o do CP) se
consumando o crime por circunstâncias alheias à sua von- a) praticado contra ascendente, descendente, irmão ou côn-
tade). juge.
Qualificadoras: configuram modalidades preterdolo- b) resulta em lesão corporal, ainda que leve.
sas do crime em estudo o § 1° (quando resulta lesão corpo- c) o agente prevalece-se de relações familiares ou domésti-
ral grave) e o § 2° (se resultar a morte). cas.
 A lesão corporal leve é absorvida pelo crime de d) praticado contra pessoa menor de 14 anos.
maus-tratos. e) praticado por agente público.

51
07. (2013 – FCC - DPE-RS - Analista - Processual) So-
04. (2013 – UEG - PC-GO - Delegado de Polícia - 2ª bre a exigência de nota promissória como garantia para a
prova) Mévio, com aninus necandi, deixa de prestar auxílio realização de procedimento de emergência em hospital em
a seu colega durante a escalada de uma montanha íngreme virtude de grave acidente, é correto afirmar que
e perigosa. Ao negar-se a estender a mão ao colega que a) caracteriza crime de omissão de socorro.
havia se desequilibrado, Mévio observa-o cair num precipício b) caracteriza crime de condicionamento de atendimento
e morrer. Sobre a conduta de Mévio, tem-se o seguinte: médico-hospitalar emergencial.
a) estando na posição de garante, responderá por homicídio c) caracteriza crime de extorsão.
culposo, uma vez que possuía o dever legal de impedir o
d) caracteriza crime de prevaricação.
resultado.
e) não caracteriza crime.
b) responderá pelo crime de omissão de socorro, com a pena
triplicada pelo resultado morte.
c) por haver assumido o risco do resultado morte, respon- 08. (2012 – FCC - DPE-PR - Defensor Público) Maria
derá pelo crime de homicídio doloso, na espécie dolo even- reside sozinha com sua filha de 5 meses de idade e encon-
tual. tra-se em benefício previdenciário de licença maternidade
de 6 meses. Todas as tardes a filha de Maria dorme por
d) responderá pelo crime de homicídio doloso, posto que de-
cerca de duas horas, momento no qual Maria realiza as ati-
sejou diretamente o resultado morte.
vidades domésticas. Em determinado dia, neste horário de
dormir da filha, Maria foi até ao supermercado próximo de
05. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Delegado de Polícia) sua casa, uma quadra de distância, para comprar alguns
Gertrudes, para ir brincar o carnaval, deixou dormindo em mantimentos para a alimentação de sua filha. Normalmente
seu apartamento seus filhos Lúcio, de cinco anos de idade, esta saída levaria de 10 a 15 minutos, mas neste dia houve
e Lígia, de sete anos de idade. As crianças acordaram e, por uma queda no sistema informatizado do supermercado o
se sentirem sós, começaram a chorar. Os vizinhos, ouvindo que atrasou o retorno à sua casa por 40 minutos. Ao chegar
os choros e chamamentos das crianças pela janela do apar- próximo à sua casa, Maria constatou várias viaturas da po-
tamento, que ficava no terceiro andar do prédio, arromba- lícia e corpo de bombeiros na frente de sua residência, todos
ram a porta, recolheram as crianças e entregaram-nas ao acionados por um vizinho que percebeu o choro insistente
Conselho Tutelar. Logo, pode-se afirmar que Gertrudes deve de uma criança por 15 minutos, acionando os órgãos de se-
responder pelo crime de: gurança. Ao prestarem socorro à criança, com o arromba-
a) perigo a vida ou saúde de outrem e os vizinhos não pra- mento da porta de entrada da casa, os agentes dos órgãos
ticaram crime, pois estavam agindo em legítima defesa de de segurança verificam que a criança estava sozinha em
terceiros. casa, mas apenas assustada e sem qualquer lesão. A con-
duta de Maria é caracterizada como
b) abandono de incapaz e os vizinhos não praticaram crime,
pois estavam agindo em legítima defesa de terceiros. a) crime de abandono de incapaz.
c) perigo a vida ou saúde de outrem e os vizinhos não pra- b) crime de abandono de incapaz majorado.
ticaram crime, pois estavam agindo em estado de necessi- c) crime de abandono de recém nascido.
dade de terceiros. d) atípica
d) abandono de incapaz e os vizinhos não praticaram crime, e) contravenção penal.
pois estavam agindo em estado de necessidade de terceiros.
e) pelo crime de abandono material e os vizinhos não prati-
09. (2010 – FCC - METRÔ-SP - Advogado) A respeito dos
caram crime, pois estavam agindo em estado de necessi-
Crimes contra a Pessoa, é correto afirmar que
dade exculpante de terceiros.
a) o crime de omissão de socorro pode ser cometido por
pessoa que não se encontra presente no local onde está a
06. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia) Um vítima.
profissional foi contratado para cuidar de um homem muito
b) o crime de auto aborto é punível por culpa, quando re-
idoso. Certo dia, deixou o idoso sentado em uma praça pú-
sultar de imprudência, negligência ou imperícia por parte da
blica para pegar sol. Em determinado momento, o idoso saiu
gestante.
andando, pensando que tinha sido esquecido pelo cuidador.
O cuidador ficou inerte ao ver o idoso cruzar a rua próxima, c) o reconhecimento do perigo de vida no delito de lesões
mesmo vendo avançar um veículo, que estava a toda mar- corporais graves depende de exame de corpo de delito com-
cha, concebendo-se, portanto, o propósito de deixá-lo mor- plementar.
rer, o que ocorreu. O cuidador: d) o crime de maus tratos não pode ser cometido por pro-
a) não praticou crime algum, pois não houve nexo de cau- fessores contra os seus alunos, mas somente pelos pais ou
salidade da sua conduta e a morte do idoso. tutores da vítima.
b) praticou crime de omissão de socorro, com pena tripli- e) quem induz alguém a suicidar-se não responde pelo delito
cada pela morte. se da tentativa de suicídio resultam apenas lesões corporais
graves.
c) praticou crime de homicídio doloso na modalidade omis-
são imprópria.
d) praticou o crime de omissão de socorro (artigo 135 do 10. (NCE-UFRJ - 2005 - PC-DF - Delegado de Polícia)
CP) na modalidade omissão imprópria. Quando conduzia veículo automotor, sem culpa, Fulano
atropela um pedestre, deixando de prestar-lhe socorro,
e) praticou crime de homicídio culposo na modalidade omis-
constituindo tal conduta, em tese, a prática de:
são própria.
a) omissão de socorro, prevista no art. 135 do Código Penal;

52
b) lesão corporal culposa, com o aumento de pena previsto Consumação e tentativa: por ser crime de mera
no artigo 129, § 7º, do Código Penal; conduta, consuma-se com o início do conflito. Pode um dos
c) expor a vida de outrem a perigo, previsto no artigo 132, contendores envolver-se na briga após seu início, caso em
do Código Penal; que, para este, o crime se consumará no momento em que
atuar na disputa. A tentativa não é admissível, não havendo
d) omissão de socorro, prevista no artigo 304, da Lei n.
fracionamento da execução.
9.503/97;
e) lesão corporal culposa na condução de veículo automotor, Rixa qualificada: nos termos do que dispõe o pará-
com o aumento de pena previsto no artigo 303, § único, da grafo único do art. 137, ocorrendo morte ou lesão corporal
Lei nº 9.503/97. de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na
rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
O CP adotou o sistema da autonomia, isto é, a rixa é punida
GABARITO – PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE por si mesma, independentemente do resultado agravador
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 (morte ou lesão grave), o qual, se ocorrer, somente qualifi-
E D D D D C B D A D cará o crime.
ATENÇÃO! A doutrina dominante adota o entendi-
mento de que apenas o causador dos graves ferimentos ou
4. DA RIXA (ART. 137)
morte (se identificado) é que responderá também pelos cri-
mes de lesão corporal dolosa, de natureza grave, ou homi-
cídio.
CAPÍTULO IV - DA RIXA
Rixa
EXERCÍCIOS - RIXA
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os
contendores: 01. (2011 - MPE-MS - MPE-MS - Promotor de Justiça)
O crime de rixa na forma tentada quando ocorre?
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
multa. a) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando um dos
rixosos desiste de participar do conflito;
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de b) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando a maioria
natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, dos rixosos propõe a cessação do conflito;
a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
c) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando os rixo-
Objetividade jurídica: apesar de a rixa ameaçar e sos não conseguem consumá-lo por circunstâncias alheias à
perturbar a ordem e a paz pública, não são esses os bens sua vontade;
diretamente protegidos pelo tipo de rixa, mas sim a incolu- d) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando todos os
midade (física e mental) da pessoa humana. rixosos desistem de prosseguir no conflito;
 Trata-se de crime de perigo presumido (ou abs- e) O crime de rixa na forma tentada ocorre quando os rixo-
trato), punindo-se a simples troca de agressões. sos abandonam o local do conflito.
Sujeitos do crime: o crime é comum (pode ser pra-
ticado por qualquer pessoa) e de concurso necessário (plu- 02. (2016 – UFMT - DPE-MT - Defensor Público) É crime
rissubjetivo), cuja configuração exige a participação de, no plurissubjetivo:
mínimo, três contendores, computando-se, nesse número, a) Homicídio.
eventuais inimputáveis, pessoas não identificadas ou que
b) Infanticídio.
tenham morrido durante a briga.
c) Rixa.
ATENÇÃO! A rixa, apesar de crime comum, possui
d) Aborto.
um aspecto diferenciado, pois o sujeito ativo é, ao mesmo
tempo, passivo, em virtude das mútuas agressões. e) Furto.

Conduta: a ação criminosa consiste em participar


(tomar parte) do tumulto. A participação pode ser material 03. (2008 – VUNESP - MPE-SP - Promotor de Justiça)
(tomar parte na luta - partícipe da rixa) ou moral (incentiva Com relação ao crime de rixa, descrito no art. 137, caput,
os contendores - partícipe do crime de rixa). do Código Penal (“Participar de rixa, salvo para separar os
contendores”), assinale a alternativa incorreta.
IMPORTANTE: Não haverá rixa quando possível de-
a) É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário.
finir, no caso concreto, dois grupos contrários lutando entre
si. Nessa hipótese, os integrantes de cada grupo serão res- b) Há presunção de perigo, que decorre da simples existên-
ponsabilizados pelas lesões corporais causadas nos inte- cia material da contenda.
grantes do grupo contrário. c) É possível uma pessoa ser sujeito ativo e passivo do
mesmo crime.
Tipo subjetivo: o dolo é o de perigo (direto ou even-
tual), consistente na vontade consciente de tomar parte da d) É infração de forma livre, podendo ser cometida por qual-
briga, ciente dos riscos que essa participação pode provocar quer meio eleito pelo agente.
para a incolumidade física de alguém (rixoso ou não), sendo e) Quem provoca a rixa por imprudência, sem dela partici-
irrelevante o motivo da rixa. Não há conduta culposa. par, responde também pelo crime.
 Inexistirá dolo, se a intenção daquele que participa
da ação criminosa é a de separar os contendores.

53
04. (ACAFE - 2014 - PC-SC - Agente de Polícia) De qualidades físicas, morais e intelectuais de alguém, ou seja,
acordo com o Código Penal, analise as afirmações a seguir é a reputação de cada indivíduo no meio social.
e assinale a alternativa correta.
b) Honra subjetiva – é o sentimento que cada pes-
I É considerado crime exigir cheque-caução, nota promissó- soa possui acerca das suas próprias qualidades físicas, mo-
ria ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio rais e intelectuais, o juízo que cada um faz de si mesmo
de formulários administrativos como condição para o aten- (autoestima).
dimento médico-hospitalar emergencial.
Elemento subjetivo: Em regra é o dolo, direto ou
II É considerado crime participar de rixa, salvo para separar
eventual, não havendo crime contra a honra de natureza
os contendores.
culposa. No subtipo de calúnia, definido pelo art. 138, § 1º,
III Comete o crime de calúnia quem difamar alguém, impu- do Código Penal, admite-se exclusivamente o dolo direto,
tando-lhe fato ofensivo à sua reputação. pois consta a expressão “sabendo falsa a imputação”.
IV Comete o crime de furto quem subtrair coisa móvel
Exceção da verdade - é um incidente processual
alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça a
concedido ao réu a fim de provar que os fatos imputados ao
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido
autor são verdadeiros. Em outras palavras, é uma forma de
à impossibilidade de resistência.
defesa indireta, através da qual o acusado pretende provar
a) Apenas III e IV estão corretas. a veracidade do que alegou, demonstrando ser o ofendido,
b) Apenas II e III estão corretas, realmente autor de fato imputado.
c) Apenas I e II estão corretas. ATENÇÃO! A exceção da verdade é instituto, em re-
d) Apenas I, II e III estão corretas. gra, aplicável diante do crime de calúnia, por exceção ao
e) Todas as afirmações estão corretas. crime de difamação e vedado ao crime de injúria.

05. (VUNESP - 2007 - OAB-SP - Exame de Ordem - 2 -


Calúnia
Primeira Fase) A respeito da rixa, conduta tipificada pelo
art. 137 do Código Penal, assinale a alternativa correta. Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente
a) O agente que participa de rixa responde pela prática do fato definido como crime:
delito como partícipe. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
b) O agente que participa de rixa responde pela prática do
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a
delito como autor.
imputação, a propala ou divulga.
c) Não se admite a responsabilização de agente como partí-
cipe no crime de rixa. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
d) O crime de rixa não admite concurso de agentes, porque Objetividade jurídica: protege-se a honra objetiva
é um crime plurissubjetivo. da vítima, isto é, sua reputação perante a sociedade.
Sujeito ativo: em regra, qualquer pessoa pode ser
GABARITO - RIXA sujeito ativo deste crime.
01 02 03 04 05
 Excepcionalmente, não podem ser autores pessoas
C C E C B que desfrutam de inviolabilidade (senadores, deputados, ve-
readores, estes nos limites do município em que exerçam a
vereança).
5. DOS CRIMES CONTRA A HONRA (ARTS. 138 A 145)

ATENÇÃO: os advogados, em razão do disposto no


CAPÍTULO V art. 7º, § 2º, do EOAB, não estão imunes ao delito de calú-
DOS CRIMES CONTRA A HONRA nia, ocorrendo a inviolabilidade profissional apenas com re-
lação a difamação e a injúria, desde que cometidas no exer-
Introdução
cício regular de suas atividades.
Três são os crimes contra a honra definidos no Código
Sujeito passivo: qualquer pessoa, até mesmo o "de-
Penal: calúnia (art. 138), difamação (art. 139) e injúria (art.
sonrado" pode ser vítima de calúnia. Para a maioria, o me-
140). Cada um desses delitos possui um significado próprio,
nor (inimputável), praticando fato definido como crime (cha-
razão pela qual não podem ser confundidos entre si.
mado de ato infracional), pode ser vítima de calúnia.
Classificação: São delitos formais, de consumação
 A calúnia contra os mortos também é punida (art.
antecipada ou de resultado cortado, ou seja, ainda que a
138, § 2°).
lesão ao bem esteja prevista, não é necessária sua ocorrên-
cia, bastando que o meio seja relativamente idôneo, ou seja,  A pessoa jurídica pode ser vítima de calúnia (ape-
capaz eventualmente de atingir o resultado. nas quanto a crimes ambientais) e difamação, mas nunca
de injúria.
Conceito de honra: Honra é o conjunto das qualida-
des físicas, morais e intelectuais de um ser humano, que o Conduta: imputar a alguém, implícita ou explicita-
fazem merecedor de respeito no meio social e promovem mente, mesmo que de forma reflexa, determinado fato cri-
sua autoestima. minoso, sabendo ser falso. O agente, para tanto, pode utili-
zar-se de palavras, gestos ou escritos.
Espécies de honra:
IMPORTANTE! É fundamental que a ofensa se dirija
a) Honra objetiva - A honra objetiva é a visão que
contra pessoa certa e fato determinado.
as demais pessoas da coletividade têm acerca das

54
 Haverá calúnia ainda quando o fato imputado ja-
mais ocorreu ou, quando real o acontecimento, não foi a
pessoa apontada seu autor. Difamação

ATENÇÃO! A falsa imputação de contravenção penal Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofen-
não caracteriza calúnia, e sim difamação. sivo à sua reputação:

Consumação e tentativa: consuma-se no momento Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
em que a imputação chega ao conhecimento de terceira pes- Exceção da verdade
soa. A tentativa é admitida quando a calúnia for proferida
por escrito e este não chega a terceira pessoa por circuns- Parágrafo único - A exceção da verdade somente se
tâncias alheias à vontade do agente. admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é re-
lativa ao exercício de suas funções.
 É suficiente que uma única pessoa saiba da atribui-
ção falsa. Objetividade jurídica: assim como na calúnia, aqui
também se protege a honra objetiva da vítima, isto é, sua
Subtipo da calúnia (art. 138, § 1º): o dispositivo reputação perante terceiros.
equipara a conduta daquele que, sabendo ser falsa (dolo di-
reto) a imputação, leva adiante a ofensa, transmitindo-a a Sujeito ativo: qualquer pessoa, não inviolável, pode
outras pessoas. praticar este crime.
Calúnia contra os mortos - a calúnia contra os mor- ATENÇÃO: Os advogados, no exercício da atividade
tos também é punida, mas, sendo a honra um atributo dos profissional, são invioláveis com relação a difamação e a in-
vivos, seus parentes é que serão os sujeitos passivos, inte- júria (art. 7º, § 2º, do EOAB).
ressados na preservação da sua memória.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, inclusive as pes-
ATENÇÃO! Não há regra semelhante (contra os mor- soas jurídicas.
tos) no tocante aos demais crimes contra a honra.
ATENÇÃO! Menores, loucos e “desonrados” podem
ser sujeitos passivos.

Exceção da verdade  Diferentemente da calúnia, não se pune a difama-


ção contra os mortos.
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
Conduta: consiste na imputação de fato ofensivo à
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação pri- reputação de alguém, desde que tal fato não seja criminoso.
vada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrí- Se for criminoso, constitui calúnia.
vel;
 Veja-se que, ao contrário do que ocorre na calúnia,
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indi- não existe o elemento normativo do tipo “falsamente”, por-
cadas no nº I do art. 141; tanto, subsiste o crime de difamação ainda que seja verda-
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o deira a imputação.
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. ATENÇÃO! Quem imputa a alguém uma contraven-
ção penal, incorre em difamação, pois para configurar calú-
Exceção da verdade - Em razão de ser a falsidade
nia, é preciso que o fato esteja definido como crime.
da imputação uma elementar do crime de calúnia, a regra é
a admissibilidade da exceção da verdade. Consumação e tentativa: o crime somente se con-
suma quando terceiro (ainda que um só) conhecer da impu-
Entretanto, a exceção da verdade não poderá ser uti-
tação desonrosa. A tentativa mostra-se possível apenas na
lizada em três situações expressamente previstas pelo § 3º
forma escrita (carta difamatória interceptada pelo difa-
do art. 138 do Código Penal:
mado).
a) se, constituindo o fato imputado crime de
Exceção da verdade (parágrafo único) - Como re-
ação privada, o ofendido não foi condenado por sen-
gra geral, não se admite a exceção da verdade no crime de
tença irrecorrível: inciso I – Exemplo: João imputa a Pe-
difamação, eis que é irrelevante provar a veracidade do fato
dro a prática de um crime de injúria, pois, em determinada
atribuído à vítima, pois ainda assim subsistiria o crime. Ex-
data, ele teria chamado Maria de “prostituta”. Maria, entre-
cepcionalmente, entretanto, admite-se se o ofendido é fun-
tanto, não ajuizou queixa-crime contra Pedro. Não é permi-
cionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas
tido a João, contra a vontade de Maria, provar ter sido ela
funções.
realmente injuriada por Pedro.
 Exceção de notoriedade: parcela da doutrina tem
b) se o fato é imputado a qualquer das pessoas
sustentado que não se justifica punir alguém porque repetiu
indicadas no n.º I do art. 141: inciso II – Não se admite
o que todo mundo sabe e todo mundo diz, ou seja, fato de
a exceção da verdade quando o fato é imputado contra o
amplo domínio público (exceção de notoriedade).
Presidente da República ou contra chefe de governo estran-
geiro.
c) se do crime imputado, embora de ação pú- Injúria
blica, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrí-
vel: inciso III – O crime imputado pode ser de ação penal Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade
pública ou de ação penal privada. Em qualquer hipótese, se ou o decoro:
o ofendido pela calúnia foi absolvido por sentença irrecorrí- Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
vel, a garantia constitucional da coisa julgada impede o uso
da exceção da verdade (CF, art. 5.º, inc. XXXVI). § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:

55
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou todos os envolvidos: quem primeiro ofendeu e aquele que
diretamente a injúria; revidou.
II - no caso de retorsão imediata, que consista em ou- Injúria real: o § 2° tipifica a injúria real, uma quali-
tra injúria. ficadora da injúria. Para sua tipificação, a lei exige que a
violência (ou vias de fato) seja aviltante, agindo o agente
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de
com o propósito de ofender, ultrajar a vítima. Temos como
fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
exemplos: puxões de orelhas ou de cabelos, cuspir em al-
considerem aviltantes:
guém ou em sua direção etc.
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
 No caso de ocorrer lesões corporais (art. 129 do
além da pena correspondente à violência.
CP), o agente responderá por este crime, bem como pela
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos injúria, em razão da autonomia.
referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
Injúria qualificada por preconceito (§ 3°): o
de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada
crime é praticado através de xingamentos envolvendo a
pela Lei nº 10.741, de 2003)
raça, cor, etnia, religião ou origem da vítima, exigindo seja
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído a ofensa dirigida a pessoa ou pessoas determinadas.
pela Lei nº 9.459, de 1997)
 O único crime contra a honra que está sujeito à
Objetividade jurídica: a honra subjetiva da vítima, pena de reclusão é a injúria racial.
ou seja, a autoestima, aquilo que a pessoa pensa de si ATENÇÃO: O STF, em 28/10/2021, equiparou a injú-
mesma, a sua dignidade ou decoro. ria racial ao racismo, tornando-a imprescritível. De acordo
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), com entendimento do plenário do órgão, a injúria é espécie
desde que não inviolável nas suas opiniões e palavras. do crime de racismo, portanto, sua imprescritibilidade esta-
ria de acordo com o art. 5º, XLII, CF. (HC 154.248)
ATENÇÃO: Os advogados, no exercício da atividade
profissional, são invioláveis com relação a difamação e a in- Injúria contra funcionário público: Se a ofensa é
júria (art. 7º, § 2º, do EOAB). realizada na presença do funcionário público, no exercício
da função ou em razão dela, não se trata de simples agres-
Sujeito passivo: qualquer pessoa capaz de compre- são à sua honra, mas de desacato, arrolado pelo legislador
ender as ofensas prolatadas contra ela. Se a vítima não tiver entre os crimes contra a Administração Pública (CP, art.
capacidade de compreender as qualidades negativas que lhe 331).
são atribuídas, não ocorrerá o crime.
 A ofensa efetuada contra funcionário público e em
IMPORTANTE! A pessoa jurídica, por não possuir razão das suas funções, mas na ausência deste, configura o
honra subjetiva, não pode ser sujeito passivo desse crime. crime de injúria agravada (art. 140, caput, c/c o art. 141,
Conduta: consiste em ofender (insultar) pessoa de- II, ambos do CP).
terminada, por ação (palavras ofensivas, gestos ou sinais) CRIMES CONTRA A HONRA
ou omissão (ignorar cumprimento), ofendendo-lhe a digni- Art. Calú- Imputar fato definido como
dade ou o decoro. Honra ob-
138 nia crime, sabidamente falso
jetiva
 Na injúria não há imputação de fatos criminosos Difa- Imputar fato desonroso,
Art. (reputa-
(calúnia) ou desonrosos (difamação), mas emissão de con- ma- em regra, não importando
139 ção)
ceitos negativos sobre a vítima. ção se verdadeiro ou falso
Honra sub-
ATENÇÃO: imputação de fato desonroso genérico, Art. Injú- jetiva
vago, impreciso e indeterminado, caracteriza crime de injú- Atribuir qualidade negativa
140 ria (dignidade
ria (ex.: fulano é assaltante de bancos), pois a calúnia e a ou decoro)
difamação pressupõem imputação de fato determinado.
Consumação e tentativa: consuma-se com a che-
gada da informação ao conhecimento da pessoa à qual o EXCEÇÃO DA VERDADE
agente queria ofender. A maioria da doutrina admite a ten- Injúria:
Calúnia – Difamação – Re-
tativa apenas na forma escrita. NUNCA
Regra: admite gra: não admite
admite
IMPORTANTE: Mesmo que a Injúria não seja profe- Exceções:
rida na presença do ofendido e este tomar conhecimento por I - se, constituindo o
terceiro, por correspondência ou qualquer outro meio, tam- fato imputado crime
bém configurará o crime em tela. de ação privada, o
Exceção de verdade: na injúria, como não há impu- ofendido não foi con- Exceção:
tação de fato, mas a opinião que o agente emite sobre o denado por sentença Só será admitida se
ofendido, a exceção da verdade nunca é permitida. irrecorrível; admite se o ofendido
Não há
II - se o fato é impu- é funcionário público
Perdão judicial: no § 1º o legislador estabeleceu, em exceção
tado a qualquer das e a ofensa é relativa
caso de provocação ou retorsão, poder o juiz deixar de apli- pessoas indicadas no ao exercício de suas
car a pena (perdão judicial). A maioria da doutrina entende nº I do art. 141; funções.
tratar-se de um direito subjetivo do acusado, isto é, presen- III - se do crime im-
tes os requisitos, o perdão é obrigatório. putado, embora de
 O perdão judicial, no caso da provocação, aproveita ação pública, o ofen-
apenas àquele que revidou; já na retorsão, aproveita a dido foi absolvido por

56
sentença irrecorrí- o citado parágrafo não contempla discriminação em razão
vel. da condição de pessoa criança ou adolescente.

ATENÇÃO! Somente se aplica a majorante quando o


Disposições comuns
sujeito tinha conhecimento da idade ou da peculiar condição
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumen- da vítima.
tam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
Ofensa mercenária (§ 1º): a pena é aplicada em
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe dobro para qualquer crime contra a honra praticado medi-
de governo estrangeiro; ante paga ou promessa de recompensa. Paga e promessa
de recompensa caracterizam o crime mercenário ou crime
II - contra funcionário público, em razão de suas fun-
por mandato remunerado, motivado pela cupidez, isto é,
ções, ou contra os Presidentes do Senado Federal, da Câ-
pela ambição desmedida, pelo desejo imoderado de rique-
mara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal; (Re-
zas.
dação dada pela Lei nº 14.197, de 2021)
Ofensas pela internet (§ 2º): Há previsão de pena
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que
em triplo para os crimes contra a honra pela internet, se
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria.
justificando em razão da maior extensão do dano provo-
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou cado, pois no ambiente virtual, a ofensa ganha alcance
portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. (Inclu- imensurável, principalmente nas redes sociais.
ído pela Lei nº 10.741, de 2003)
IV - contra criança, adolescente, pessoa maior de 60
(sessenta) anos ou pessoa com deficiência, exceto na hipó- Exclusão do crime
tese prevista no § 3º do art. 140 deste Código (Incluído pela Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação puní-
Lei nº 14.344, de 2022). vel:
§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou pro- I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa,
messa de recompensa, aplica-se a pena em dobro. (Reda- pela parte ou por seu procurador;
ção dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística
§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar
modalidades das redes sociais da rede mundial de compu- ou difamar;
tadores, aplica-se em triplo a pena. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019) (Vigência) III - o conceito desfavorável emitido por funcionário
público, em apreciação ou informação que preste no cum-
primento de dever do ofício.
Causas de aumento da pena - O art. 141 aumenta Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde
de um terço a pena dos crimes contra a honra quando co- pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
metidos:
O art. 142 do Código Penal contém causas especiais
Inciso I – Contra honra do Presidente da Repú- de exclusão da ilicitude, incidentes no tocante à injúria e
blica, ou contra chefe de governo estrangeiro: A con- à difamação. Não se caracterizam tais crimes contra a honra
duta criminosa, além de atentar contra a honra de uma pes- por ausência de ilicitude, nada obstante o fato seja típico.
soa, ofende também os interesses da nação.
ATENÇÃO! Esse dispositivo não se aplica ao crime de
Inciso II – Contra honra do funcionário público calúnia.
e dos Presidentes do Senado, da Câmara e do STF: no
caso de funcionário público é imprescindível a relação de São três as hipóteses de exclusão da ilicitude:
causalidade entre a ofensa e o exercício da função pública. a) a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa,
Já em relação aos Presidentes do Senado, da Câmara e do pela parte ou por seu procurador: inciso I (Imunidade Judi-
STF, a lei não faz essa exigência. ciária) - alcança tanto a ofensa oral (exemplos: alegações
Inciso III – Na presença de várias pessoas, ou em audiência, debates no plenário do júri etc.) como tam-
por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difa- bém a ofensa escrita (exemplos: petições em geral, memo-
mação ou da injúria: na primeira parte do inciso III (“na riais, razões e contrarrazões de recursos etc.).
presença de várias pessoas”), devem existir no mínimo três b) a opinião desfavorável da crítica literária, artística
pessoas. A parte final do dispositivo em estudo (“ou por ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar
meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou ou difamar: inciso II (Imunidade literária, artística ou cien-
da injúria”) diz respeito a instrumentos e objetos que facili- tífica) - Esse dispositivo tem em vista defender o elevado
tem a propagação da ofensa, ainda que não se esteja na interesse da cultura, que é resguardar a liberdade de crítica
presença de várias pessoas. em relação às ciências, artes e letras, tolerando a análise
Inciso IV – Contra criança, adolescente, pessoa crítica, por mais rígida que seja, com o emprego dos termos
maior de 60 (sessenta) anos ou pessoa com deficiên- e expressões necessários para exteriorizar o pensamento de
cia, exceto na hipótese prevista no § 3º do art. 140 quem julga.
deste Código: A Lei nº 14.344/2022 acrescentou ao inc. IV c) o conceito desfavorável emitido por funcionário pú-
do art. 141 as vítimas criança e adolescente, alertando, ao blico, em apreciação ou informação que preste no cumpri-
final, que essa majorante não coexiste com a injúria qualifi- mento do dever de ofício: inciso III (Imunidade funcional) -
cada pelo preconceito, evitando-se bis in idem. Esse risco, Cuida-se de modalidade especial de estrito cumprimento de
contudo, só existe no caso de vítima maior de 60 anos, pois dever legal. Essa causa de exclusão da ilicitude é necessária

57
para assegurar a independência e tranquilidade dos servi- las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde
dores públicos, para o perfeito desempenho das suas fun- pela ofensa.
ções, podendo, em suas manifestações, empregar termos
ou expressões de sentido ofensivo, mas que são imprescin- Pedido de explicações - O pedido de explicações diz
díveis para a fiel exposição dos fatos ou argumentos. Exem- respeito a um procedimento anterior ao início da ação penal
plo: Delegado de Polícia que, ao relatar o inquérito, refere- de iniciativa privada. Pode ocorrer que o agente, embora
se ao indiciado como sujeito “perigoso, covarde e impie- não afirmando fatos ofensivos à honra da vítima, deixe pai-
doso”. rar no ar alguma dúvida, valendo-se de expressões equívo-
cas, com duplo sentido etc.
 Responde pela injúria ou pela difamação quem lhe
dá publicidade (CP, art. 142, parágrafo único).  Pode ser que o agente, supostamente autor de um
crime contra a honra, não queira se explicar nessa medida
preliminar. Embora, pela redação do art. 143 do Código Pe-
nal, pareça que o agente será condenado pela ofensa que
Retratação
praticou, caso não se explique em juízo, ou mesmo se ex-
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se re- plicando, não o fazendo satisfatoriamente, na verdade isso
trata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de não importará em confissão ou mesmo em uma condenação
pena. antecipada.

Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha


praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente
de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o
se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art.
ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a
ofensa. (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015) 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do
Conceito: Retratar-se significa retirar o que foi dito,
Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141
desdizer-se, assumir que errou.
deste Código, e mediante representação do ofendido, no
Natureza jurídica: Trata-se de causa de extinção caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do §
da punibilidade conforme se extrai do art. 107, inciso VI, 3o do art. 140 deste Código. (Redação dada pela Lei nº
do Código Penal. Tem natureza subjetiva, não se comuni- 12.033. de 2009)
cando aos demais querelados que não se retrataram.
Ação penal privada: É a regra geral nos crimes con-
Alcance: É cabível unicamente na calúnia e na difa- tra a honra, pois “somente se procede mediante queixa”.
mação. Na injúria, por sua vez, a retratação do agente não Contudo, há exceções.
leva à extinção da punibilidade, pois a lei não admite e tam-
bém porque não há imputação de fato, mas atribuição de Ação penal pública incondicionada: A ação será
qualidade negativa e atentatória à honra subjetiva da ví- pública incondicionada na injúria real, se da violência resulta
tima. lesão corporal (art. 145, caput, parte final).
 A injúria real praticada com emprego de vias de
Ação penal privada: A retratação somente é possí-
fato é crime de ação penal privada.
vel nos crimes de calúnia e de difamação de ação penal pri-
vada. Ação pública condicionada à requisição do Mi-
Forma: A retratação deve ser total e incondicional, nistro da Justiça: Nos crimes contra a honra do Presidente
cabal, em decorrência de funcionar como condição restritiva da República ou de chefe de governo estrangeiro (CP, art.
da pena. Precisa abranger tudo o que foi dito pelo criminoso. 145, p. único, 1.ª parte).
É ato unilateral, razão pela qual prescinde de aceitação do Ação penal pública condicionada à representa-
ofendido. ção do ofendido: Nos crimes contra a honra praticados
contra funcionário público, em razão de suas funções (CP,
Momento: A retratação há de ser anterior à sentença
art. 145, p. único, 2.ª figura); de injúria qualificada pelo
de primeira instância na ação penal (“antes da sentença”).
Ainda que tal sentença não tenha transitado em julgado, a preconceito, na forma do art. 140, § 3º, do Código Penal
retratação posterior é ineficaz. (CP, art. 145, p. único, in fine, com redação dada pela Lei
12.033/2009).
ATENÇÃO! O artigo em comento foi alterado pela Lei
13.188/15, nele acrescentando parágrafo único, anunciando ATENÇÃO! No tocante ao crime contra a honra de
funcionário público, em razão de suas funções, se não há
que, nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia
relação entre o delito contra a honra e o exercício das fun-
ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a
ções públicas, a ação penal é privada. Também é privada a
retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos mes-
mos meios em que se praticou a ofensa. ação penal quando a ofensa se dirige a pessoa que já deixou
a função pública.
IMPORTANTE: O STF julgou inconstitucional a Lei
5.250/1967 (Lei de Imprensa), aplicando-se aos crimes con-
tra a honra praticados por meio da imprensa (oral ou es- EXERCÍCIOS – CRIMES CONTRA A HONRA
crita) as disposições previstas nos arts. 138 a 145 do Código
Penal. 01. (2014 - TJ-AC - TJ-AC - Juiz Leigo) Quando o agente
imputa ou atribui a alguém falsamente a prática de fato de-
finido como crime, acaba praticando:
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se a) injúria
infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido b) difamação
pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-
c) calúnia

58
d) injúria real
07. (2014 – UFMT - MPE-MT - Promotor de Justiça)
02. (2013 – VUNESP - TJ-SP - Advogado) A respeito dos Semprônio, hígido mentalmente, com o propósito inequí-
crimes contra a honra, insculpidos no Código Penal, assinale voco de ofender Mévio, perante terceiros, qualifica-o de “vil,
a alternativa correta. abjeto e burro”. A conduta de Semprônio caracteriza
a) Configura o crime de injúria imputar a alguém fato ofen- a) Crime de calúnia
sivo à sua reputação. b) Crime de injúria.
b) Configura o crime de calúnia imputar a alguém falsa- c) Crime de difamação.
mente fato definido como crime. d) Irrelevante penal.
c) Configura o crime de difamação ofender a dignidade ou o e) Fato atípico.
decoro de alguém.
d) A calúnia somente admite a exceção da verdade em caso
08. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Escrivão de Polícia Ci-
de o ofendido ser funcionário público, em exercício de suas
vil) Leia as alternativas a seguir e assinale a correta.
funções.
a) A pessoa jurídica só pode ser sujeito passivo em crimes
e) A calúnia contra os mortos não é punível.
patrimoniais.
b) A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo em crime de
03. (2013 - TRT - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Juiz do Tra- difamação.
balho) Qual das figuras abaixo significam, respectiva-
c) A pessoa jurídica pode figurar como sujeito ativo de crime
mente: imputar falsamente fato definido com o crime e
contra a administração pública previsto no Código Penal.
ofender a dignidade e o decoro. Aponte a alternativa correta.
d) Os inimputáveis não podem ser vítimas de crimes contra
a) calúnia e difamação.
a honra.
b) injúria e calúnia.
e) O inimputável por embriaguez proveniente de caso for-
c) injúria e difamação. tuito não pode figurar como sujeito passivo.
d) calúnia e injúria.
e) difamação e injúria. 09. (2016 – UFMT - DPE-MT - Defensor Público) A res-
peito dos crimes contra a honra, insculpidos no Código Pe-
04. (2013 – VUNESP - TJ-SP - Juiz) A, perante várias nal, assinale a afirmativa correta.
pessoas, afirmou falsamente que B, funcionário público apo- a) Configura o crime de injúria imputar a alguém fato ofen-
sentado, explorava a atividade ilícita do jogo do bicho, sivo a sua reputação.
quando exercia as funções públicas. Ante a imputação falsa, b) Configura o crime de difamação ofender a dignidade ou o
é correto afirmar que A cometeu o crime de decoro de alguém.
a) difamação, não se admitindo a exceção da verdade. c) A calúnia somente admite a exceção da verdade em caso
b) calúnia, admitindo-se a exceção da verdade. de o ofendido ser funcionário público, em exercício de suas
c) calúnia, não se admitindo a exceção da verdade. funções.
d) difamação, admitindo-se a exceção da verdade. d) Configura o crime de calúnia imputar a alguém falsa-
mente fato definido como crime.
e) A calúnia contra os mortos não é punível.
05. (2014 – CONSULPAM – SURG - Agente de Trânsito)
Tomando por base os tipos penais de crimes contra a honra,
complete as lacunas abaixo para, ao final, escolher a se- 10. (Defensor Público- DPE/GO- 2011) "A" afirma, na
quência CORRETA: presença de várias pessoas, que "B" trai seu marido "C" com
o vizinho. Nesses termos, é correto afirmar que "A" cometeu
I - Imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação. crime de
II - Ofender alguém em sua dignidade ou o decoro. a) calúnia, admitindo-se a exceção da verdade.
III - Imputar falsamente a alguém fato definido como crime. b) calúnia, não se admitindo a exceção da verdade.
a) injúria, difamação, calúnia. c) difamação, admitindo-se a exceção da verdade.
b) difamação, calúnia, injúria. d) difamação, não se admitindo a exceção da verdade.
c) difamação, injúria, calúnia. e) injúria, não se admitindo a exceção da verdade.
d) calúnia, injúria, difamação.
11. (2012 - FUNDAÇÃO SOUSÂNDRADE – EMAP -
Guarda Portuário) Aquele que por meio de palavras ou
06. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil)
atos que redundem em vexame, humilhação, desprestígio
Encaminhar uma mensagem de texto a um policial civil que
ou irreverência, a servidor público, civil ou militar, no exer-
se encontra em outro município, xingando-o de ladrão, con-
cício da função ou em razão dela, comete o crime de:
figura crime de:
a) desacato.
a) injúria.
b) desobediência.
b) difamação
c) resistência.
c) desacato
d) calúnia.
d) denunciação caluniosa
e) difamação.
e) calúnia.

59
12. (2015 - TRT 16R - TRT - 16ª REGIÃO (MA) - Juiz e) O fato de a ofensa haver sido irrogada em juízo, na dis-
do Trabalho Substituto) Considerando as afirmativas cussão da causa, pela parte ou por seu procurador é irrele-
abaixo, assinale a alternativa CORRETA: vante para a punição daquele que comete os fatos previstos
I. Os crimes de Calúnia (Art. 138 do CP), Difamação (Art. na Lei Penal como crime de difamação.
139 do CP) e Injúria (Art. 140 do CP) atingem a honra ob-
jetiva da vítima. 16. (2009 – FUNRIO – DEPEN - Agente Penitenciário)
II. A crítica literária desfavorável constitui crime contra a Com relação a exceção da verdade, nos crimes contra a
honra. honra é correto afirmar:
III. É punível a injúria contra os mortos. a) não se admite a exceção da verdade nos crimes de calú-
a) Somente a afirmativa I está correta. nia tentada
b) Somente a afirmativa III está correta. b) A exceção da verdade, no crime de difamação, somente
se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é
c) Todas as afirmativas estão incorretas.
relativa ao exercício de suas funções
d) Somente a afirmativa II está correta.
c) admite-se a exceção da verdade nos crimes de injúria
e) Todas as afirmativas estão corretas.
d) admite-se a exceção da verdade nos crimes de difama-
ção, se o ofendido for incapaz e a ofensa tiver sido publicada
13. (2014 – VUNESP - TJ-PA - Juiz de Direito Substi- em meio de grande circulação
tuto) “X” é negro e jogador de futebol profissional. Durante e) não se admite a exceção da verdade nos crimes de injú-
uma partida é chamado pelos torcedores do time adversário ria, salvo se o ofendido for falecido
de macaco e lhe são atiradas bananas no meio do gramado.
Caso sejam identificados os torcedores, é correto afirmar
que, em tese, 17. (2015 – VUNESP - TJ-SP - Juiz Substituto) A res-
peito da retratação nos crimes contra a honra, pode- -se
a) responderão pelo crime de preconceito de raça ou de cor,
afirmar que fica isento de pena o querelado que, antes da
nos termos da Lei n.º 7.716/89.
sentença, retrata-se cabalmente
b) responderão pelo crime de racismo, nos termos da Lei n.º
a) da calúnia ou difamação.
7.716/89.
b) da calúnia, injúria ou difamação.
c) responderão pelo crime de difamação, nos termos do art.
139 do Código Penal, entretanto, com o aumento de pena c) da injúria ou difamação.
previsto na Lei n.º 7.716/89. d) da calúnia ou injúria.
d) não responderão por crime algum, tendo em vista que
esse tipo de rivalidade entre as torcidas é própria dos jogos 18. (2015 – FCC - TRT - 6ª Região (PE) - Juiz do Tra-
de futebol, restando apenas a punição na esfera administra- balho Substituto) A manifestação do advogado, no exer-
tiva. cício de sua atividade, em juízo ou fora dele, é acobertada
e) responderão pelo crime de injúria racial, nos termos do por imunidade nos crimes de
art. 140, § 3.º do Código Penal. a) difamação e desacato.
b) injúria e calúnia.
14. (2013 – FCC - MPE-CE - Técnico Ministerial) Nos c) injúria e desacato.
crimes contra a honra, sobre a exceção da verdade, é cor-
d) difamação e injúria.
reto afirmar que
e) desacato e calúnia.
a) cabe no caso de calúnia, desde que constituindo o fato
imputado crime de ação privada, o ofendido não tenha sido
condenado por sentença irrecorrível. 19. (2013 – FCC - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Juiz do Tra-
b) para ter cabimento em caso de difamação exige-se que o balho Substituto) Em princípio, nos crimes contra a honra
crime tenha sido cometido por funcionário público. dispostos no Código Penal cabe:
c) somente não é cabível nos casos de injúria. a) retratação na injúria, exceto se racial.
d) a exceção da verdade foi abolida por súmula vinculante b) retratação na injúria em geral.
do Supremo Tribunal Federal. c) exceção da verdade na calúnia contra os mortos.
e) depende de requisição do Procurador-Geral da República, d) exceção da verdade na injúria.
em caso de calúnia contra o Presidente da República. e) exceção da verdade na difamação contra particular.

15. (2012 – IPAD - PC-AC - Agente de Polícia Civil) 20. (2013 - NC-UFPR - TJ-PR - Juiz) Assinale a alterna-
Sobre os crimes contra a honra, assinale a alternativa cor- tiva INCORRETA:
reta.
a) No que se refere ao delito de difamação, a exceção da
a) A calúnia consiste em imputação a alguém de fato ofen- verdade somente se admite se o ofendido é funcionário pú-
sivo à sua reputação. blico e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
b) Incorre nas penas previstas para o crime de difamação b) No que se refere ao delito de calúnia, admite-se a prova
aquele que atribui a alguém a prática de crime. da verdade, salvo: se, constituindo o fato imputado crime
c) O querelado que, antes da sentença, se retrata cabal- de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença
mente da calúnia, fica isento de pena. irrecorrível; se o fato é imputado contra o Presidente da Re-
d) Os crimes contra a honra serão objeto, em regra, de ação pública ou contra chefe de governo estrangeiro; se do crime
penal pública incondicionada. imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido
por sentença irrecorrível.

60
c) O querelado que, antes do recebimento da denúncia, re- vítima sempre é constrangida a praticar um ato contra a sua
trata-se cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento vontade.
de pena.
 O agente precisa impor à vítima um comporta-
d) No que se refere ao delito de injúria, o juiz pode deixar mento certo e determinado.
de aplicar a pena quando o ofendido, de forma reprovável,
provocou diretamente a injúria, bem como no caso de retor- Tipo subjetivo: consiste no dolo de coagir alguém a
são imediata, que consista em outra injúria. fazer o que a lei proíbe ou deixar de fazer o que a lei não
manda. Não há forma culposa.

GABARITO – CRIMES CONTRA A HONRA Consumação e tentativa: consuma-se no momento


em que a vítima age ou deixa de agir, infringindo o manda-
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
mento legal, independentemente do tempo da coação. A
C B D A C A B B D D tentativa é admitida.
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
A C E C C B A D C C Causas de aumento da pena (art. 146, § 1º): Di-
zem respeito à execução do crime: a) reunião de mais de
três pessoas: é imprescindível que ao menos quatro pes-
6. DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL (ARTS. 146 A soas tenham se envolvido nos atos executórios, ingressando
154-B) nesse número os inimputáveis e os sujeitos não identifica-
dos; b) emprego de armas: incide o aumento quando se
tratar de arma própria ou imprópria (instrumentos com po-
tencialidade lesiva, pouco importando se fabricados ou não
CAPÍTULO VI
com finalidades bélicas).
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
Concurso material obrigatório (art. 146, § 2º): O
SEÇÃO I
agente que, com violência, constrange ilegalmente a vítima,
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL
vindo a feri-la, deve responder pelo constrangimento ilegal
Constrangimento ilegal (simples ou agravado, conforme o caso), em concurso ma-
terial com o crime resultante da violência (lesão corporal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou leve, grave ou gravíssima, tentativa de homicídio etc.).
grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por
qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não Causas de exclusão do crime (art. 146, § 3º):
fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: São causas especiais de exclusão da ilicitude, por se consti-
tuírem em manifestações inequívocas do estado de necessi-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. dade de terceiro.
Aumento de pena Não caracterizará constrangimento ilegal:
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em a) a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consenti-
dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais mento do paciente ou de seu representante legal, se justifi-
de três pessoas, ou há emprego de armas. cada por iminente perigo de vida (inc. I) – pouco importa o
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as motivo da discordância com a intervenção médica ou cirúr-
correspondentes à violência. gica.

§ 3º - Não se compreendem na disposição deste b) a coação exercida para impedir suicídio (inc. II) –
artigo: o constrangimento, neste caso, é legal.

I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o ATENÇÃO! Lei de Tortura: constitui crime de tortura
consentimento do paciente ou de seu representante legal, constranger alguém com emprego de violência ou grave
se justificada por iminente perigo de vida; ameaça, causando-lhe sofrimento físico e mental, com o fim
de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou
II - a coação exercida para impedir suicídio. de terceira pessoa ou para provocar ação ou omissão de na-
Objetividade jurídica: o tipo tutela a liberdade indi- tureza criminosa ou em razão de discriminação racial ou re-
vidual das pessoas. ligiosa (art. 1º, I da Lei 9.455/97).

Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). IMPORTANTE: Não se caracteriza o crime quando a
privação da liberdade ocorre com o consentimento da ví-
 Tratando-se de funcionário público, outro poderá tima, validamente manifestado.
ser o crime (Lei 13.869/2019 – Abuso de Autoridade).
Sujeito passivo: qualquer pessoa capaz de decidir
sobre os seus atos pode ser vítima (excluem-se, assim, os Ameaça
menores de pouca idade, os loucos, os embriagados etc.). Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou
gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal
injusto e grave:
Conduta: o núcleo do tipo é constranger, que signi-
fica coagir alguém a fazer ou deixar de fazer algo, retirando Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
sua liberdade de autodeterminação. Parágrafo único - Somente se procede mediante
ATENÇÃO! O crime de constrangimento ilegal é crime representação.
classificado como subsidiário, somente sendo punido de
Objetividade jurídica: tutela-se a liberdade indivi-
forma autônoma caso não constitua crime mais grave, que
dual ameaçada pela promessa de realização de um mal in-
o absorve. Como exemplo, o crime de estupro, em que a
justo e grave. Justifica-se a incriminação, vez que a conduta

61
representa um ataque à liberdade pessoal do ameaçado, II – contra mulher por razões da condição de sexo fe-
perturbando a sua tranquilidade e a confiança na sua segu- minino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código;
rança jurídica, abalando, desse modo, a sua faculdade de
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas
determinar-se livremente.
ou com o emprego de arma.
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo
(crime comum).
das correspondentes à violência.
Sujeito passivo: figura como vítima apenas a pessoa
§ 3º Somente se procede mediante representação.
física, certa e determinada, capaz, de fato, de entender o
mal prometido Sujeitos: sujeito ativo é qualquer pessoa. Trata-se
Conduta: consiste na promessa de causar mal injusto de um crime comum. Na mesma esteira, o sujeito pas-
e grave. É crime de ação livre, podendo ser praticado por sivo também pode ser qualquer pessoa. É, assim, um crime
palavras, escritos ou gestos, ou qualquer outro meio simbó- bicomum.
lico. Objeto jurídico: é a liberdade individual e a tranqui-
A ameaça pode ser: lidade pessoal, haja vista ter sido inserido no capítulo dos
crimes contra a liberdade individual.
1) explícita: clara e induvidosa;
Conduta: o elemento nuclear da ação criminosa vem
2) implícita: de forma velada; caracterizado no verbo “perseguir”, que significa ir ao en-
3) direta: o mal prometido atinge a própria vítima da calço de atormentar, importunar, aborrecer. E, na sequên-
ameaça; cia, o verbo indicador da ação criminosa é complementado
pela expressão “reiteradamente”, indicando que a tipificação
4) indireta: o mal prometido será causado em terceira depende da reiteração da conduta, i.e., deve haver uma su-
pessoa; cessão de atos e comportamentos, de modo que a prática
de um ato isolado não será suficiente para a configuração
5) incondicional: não depende, para efetivar-se, de
do crime.
acontecimento futuro;
A perturbação reiterada deverá gerar uma das três si-
6) condicional: depende, para efetivar-se, de um
tuações:
acontecimento futuro.
a) ameaça à integridade física ou psicológica;
ATENÇÃO! Não existirá o crime se o agente prometer
realizar mal justo (legítimo), como, por exemplo, ajuizar b) restrição da capacidade de locomoção;
uma ação, protestar um cheque, ou pedir a instauração de
c) invasão ou perturbação da liberdade ou privaci-
um inquérito policial.
dade.
Tipo subjetivo: pune-se a vontade consciente de
Forma majorada (§1°): O tipo prevê a modalidade
amedrontar a vítima, manifestando idônea intenção malé-
fica, mesmo que não seja o desígnio do agente cumprir o majorada, aumentando-se de metade a pena quando o
mal anunciado. crime for praticado;

Consumação e tentativa: trata-se de delito formal, a) contra criança, adolescente ou idoso (criança: até
12 anos incompletos; adolescente: 12 completos a 18 in-
consumando-se no momento em que a vítima toma conhe-
completos; idoso: a partir de 60 anos).
cimento do mal prometido, independentemente da real inti-
midação, bastando capacidade para tanto. A maioria da dou- b) contra mulher por razões da condição de sexo fe-
trina admite a tentativa na forma escrita (carta ameaçadora minino (quando houver violência doméstica e familiar ou
interceptada). menosprezo ou discriminação à condição de mulher – art.
ATENÇÃO: A ação penal é pública condicionada a re- 121, § 2º-A do CP;
presentação (manifestação da vítima). c) mediante concurso de duas ou mais pessoas (o
concurso de agentes não exige capacidade penal do concor-
IMPORTANTE: O crime de ameaça é subsidiário em
rente;
relação a outros delitos mais graves. Se após a ameaça for
praticada lesão corporal contra a mesma vítima, aquele de- d) com o emprego de arma (arma branca e de fogo).
lito será por este absorvido.
Concurso de crimes (§ 2º): caso o ato de perseguir
culmine com violência, i.e., agressão física da qual resultem
lesões corporais, o agente deverá responder em concurso
Perseguição (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
formal de crimes.
Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por
Ação penal (§ 3º): é pública condicionada à repre-
qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psico-
sentação.
lógica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de
qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de li-
berdade ou privacidade.
Violência psicológica contra a mulher (In-
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e cluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
multa.
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é co- que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvi-
metido: mento ou que vise a degradar ou a controlar suas
I – contra criança, adolescente ou idoso; ações, comportamentos, crenças e decisões, medi-
ante ameaça, constrangimento, humilhação,

62
manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, Vale ressaltar, contudo, que, para configurar o crime,
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio não se exige reiteração de condutas. Não se trata de crime
que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autode- habitual.
terminação: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
Desse modo, é possível que o agente numa única
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) oportunidade, pratique ameaças, constrangimento e humi-
anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais lhação contra a mulher, causando-lhe dano emocional. A
grave. (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) partir desse dia, a mulher decide se afastar do agressor. O
crime, contudo, já terá se consumado.
Considerações gerais: a Lei nº 14.188/2021 acres-
centou um novo crime no art. 147-B do Código Penal: o de-
lito de violência psicológica contra a mulher.
Ação penal: trata-se de crime de ação penal pública
O crime consiste em causar dano emocional à mulher incondicionada.
que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou
com o objetivo de degradar ou controlar suas ações, com-
portamentos, crenças e decisões. Crime subsidiário: há uma subsidiariedade expressa
no preceito secundário do art. 147-B do CP (“Se a conduta
Esse dano emocional pode ser praticado, exemplifica-
não constitui crime mais grave”).
tivamente, por meio de ameaça, constrangimento, humilha-
ção, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, Isso significa que, se a conduta praticada puder se
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que enquadrar em um delito mais grave, não será o crime do
cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação. art. 147-B do CP.
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, podendo ser É o caso, por exemplo, do agente que pratica cárcere
praticado por qualquer pessoa (homem ou mulher). privado contra a mulher, devendo responder pelo delito do
art. 148 do CP, que tem pena de reclusão, de um a três
Sujeito passivo: consiste em crime próprio, tendo
anos.
em vista que a vítima deve ser mulher (criança, adulta,
idosa, desde que do sexo feminino).
ATENÇÃO! Prevalece na doutrina e jurisprudência Sequestro e cárcere privado
que a Lei Maria da Penha pode ser aplicada para a mulher
transgênero, ainda que não tenha se submetido a cirurgia Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante
de redesignação sexual. Logo, a mulher transgênero pode sequestro ou cárcere privado:
ser vítima desse crime. Pena - reclusão, de um a três anos.
Elemento subjetivo: o crime é punido a título de § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
dolo.
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou
Vale ressaltar, contudo, que o dolo do agente está li- companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
gado às condutas (ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação etc.). II - se o crime é praticado mediante internação da
vítima em casa de saúde ou hospital;
Em outras palavras, não se exige que o agente queira
causar “dano emocional” à vítima. Exige-se que ele pratique III - se a privação da liberdade dura mais de quinze
alguma das condutas acima listadas com consciência e von- dias.
tade. IV – se o crime é praticado contra menor de 18
IMPORTANTE: diferente do feminicídio (art. 121, § (dezoito) anos;
2º, VI) e da lesão corporal do § 13 do art. 129, o crime de V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
violência psicológica não exige expressamente que tenha
sido cometido “por razões da condição do sexo feminino”. § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos
ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou
Tipo misto alternativo; trata-se de tipo misto al- moral:
ternativo, ou seja, o legislador descreveu várias condutas
(verbos), porém, se o sujeito praticar mais de um verbo, no Pena - reclusão, de dois a oito anos.
mesmo contexto fático e contra o mesmo objeto material,
Objetividade jurídica: o bem jurídico tutelado é a
responderá por um único crime, não havendo concurso de
liberdade de ir, vir e ficar (liberdade de movimento).
crimes nesse caso.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Consumação: o crime se consuma com a provoca-
ção do dano emocional à vítima. É o que se extrai da locução Sujeito passivo: qualquer pessoa. O consentimento
“causar dano emocional à mulher”. Trata-se, portanto, de da vítima exclui o crime, desde que consciente e válido.
crime material, que exige um resultado naturalístico.
Conduta: consiste na privação (total ou parcial) da
A tentativa, em tese, é possível, no entanto, é impro- liberdade de alguém. Os meios para tanto são o sequestro
vável de ocorrer na prática. e o cárcere privado. O cárcere privado é uma espécie de
sequestro. Enquanto o primeiro se dá em um recinto fe-
ATENÇÃO! Não se trata de crime habitual: é
chado, enclausurado, confinado, o segundo se dá em local
muito comum que a violência psicológica seja praticada me-
em que não há confinamento, tendo a vítima uma certa mo-
diante reiterados atos. A pessoa humilha em um dia, pede
bilidade (um sítio, uma ilha deserta, etc.).
desculpas no outro, volta a humilhar em seguida e assim por
diante.

63
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho
consciente de privar a vítima de sua liberdade de locomover- ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do
se, dispensando um fim especial. trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
Consumação e tentativa: considera-se consumado § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é
o delito com a privação da liberdade da vítima. Tratando-se cometido:
de delito plurissubsistente, a tentativa é possível.
I – contra criança ou adolescente;
ATENÇÃO! É crime de natureza permanente, ou seja,
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia,
só com a devolução da liberdade da vítima cessa a sua con-
religião ou origem.
sumação. Também é de dano, pois somente se consuma
com a lesão do bem jurídico tutelado, que é a liberdade. Objetividade jurídica: O direito à liberdade de qual-
Qualificadoras (art. 148, §§ 1º e 2º): O § 1º quer indivíduo, e não somente do trabalhador. A lei penal
elenca cinco qualificadoras: busca impedir seja uma pessoa submetida à servidão e ao
poder de fato de outrem, assegurando sua autodetermina-
a) Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ção.
ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos
(inc. I): a maior gravidade da conduta repousa no fato de Sujeitos do crime: qualquer pessoa, pois se trata de
ter sido o crime praticado no âmbito das relações familiares, crime comum.
no seio da união estável, ou ainda contra pessoa idosa, mais Conduta: consiste na sujeição de uma pessoa ao do-
frágil em razão da avançada idade, e, consequentemente, mínio da outra. A pessoa escravizada passa a ser tratada
com menor possibilidade de defesa. como um objeto.
 O pai que sequestra o próprio filho, descumprindo Trata-se de delito de ação vinculada, sendo enumera-
ordem judicial, comete somente o crime de desobediência dos taxativamente quais comportamentos caracterizam a
(CP, art. 330). conduta:
b) Se o crime é praticado mediante internação da ví- 1) submeter a vítima a trabalhos forçados ou a jor-
tima em casa de saúde ou hospital (inc. II): crime conhecido nada exaustiva (caput);
como internação fraudulenta, pode ser praticado por médico
ou por qualquer outra pessoa; 2) sujeitá-la a condições degradantes de trabalho (ca-
put);
c) Se a privação da liberdade dura mais de 15
(quinze) dias (inc. III): quanto mais longa a supressão da 3) restringir, por qualquer meio, sua locomoção em
liberdade, maiores são as possibilidades de a vítima supor- razão de dívida contraída com o empregador ou preposto
tar danos físicos e psíquicos; (caput);

d) Se o crime é praticado contra menor de dezoito 4) cercear o uso de qualquer meio de transporte por
anos (inc. IV): Aplica-se às hipóteses em que a vítima é cri- parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de tra-
ança ou adolescente. balho (§ 1°, I);

e) Se o crime é praticado com fins libidinosos (inc. V): 5) manter vigilância ostensiva no local de trabalho ou
A qualificadora consiste na privação da liberdade de uma se apoderar de documentos ou objetos pessoais do traba-
pessoa, homem ou mulher, com fins sexuais. lhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho (§ 1º, II).

Qualificação pelo resultado (§ 2º) - qualifica o ATENÇÃO! Praticando o agente mais de um desses
crime se resultar à vítima, em razão de maus-tratos ou da comportamentos, em face da mesma vítima, haverá um
natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral. Os único crime (princípio da alternatividade), servindo as várias
maus-tratos consistem na conduta agressiva do agente que ações criminosas, no entanto, na dosagem da pena-base
ofende a moral, o corpo ou a saúde da vítima, sem produzir (art. 59 do CP).
lesão corporal. A natureza da detenção diz respeito ao as- Tipo subjetivo: somente se admite a forma dolosa.
pecto físico da privação da liberdade do ofendido, tal como
prendê-la em local frio e úmido, sem luz solar, etc. Consumação e tentativa: consuma-se com a efe-
tiva redução da vítima a condição análoga à de escravo.
Trata-se de crime material e permanente. A tentativa é per-
Redução a condição análoga à de escravo feitamente admissível, quando por circunstâncias alheias a
sua vontade, não consegue o agente compelir a vítima.
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de
escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a Majorante de pena: o § 2° aumenta a pena de me-
jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições tade se o crime é cometido: I) contra criança ou adoles-
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer cente, isto é, pessoa até os dezoito anos incompletos; II)
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
empregador ou preposto: origem.

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da ATENÇÃO: O consentimento da vítima é irrelevante
pena correspondente à violência. para a consumação, se perfazendo o crime com a sujeição
do indivíduo a condições degradantes.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por
parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho;

64
Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei nº 13.344, Objetividade jurídica: o bem juridicamente prote-
de 2016) gido pelo tipo penal em estudo é a liberdade da vítima, bem
como a sua vida ou integridade física.
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar,
transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode praticar a infra-
grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a ção penal prevista no art. 149-A, sendo, portanto, conside-
finalidade de: rado um delito comum, que não exige qualquer qualidade
especial do sujeito ativo.
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do
corpo; Sujeito passivo: Da mesma forma, qualquer pessoa
também poderá figurar como sujeito passivo do crime em
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de estudo.
escravo;
Consumação e Tentativa: Pelo que se depreende da
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; redação típica, estamos diante de um crime formal, de con-
IV - adoção ilegal; ou sumação antecipada, não havendo, portanto, necessidade
de que a vítima seja, efetivamente, traficada, ou seja, re-
V - exploração sexual. movida ou levada para algum outro lugar para que o crime
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e se configure, bastando que o agente tão somente atue com
multa. uma das finalidades exigidas pelo tipo penal do art. 149-A
do Código Penal.
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade
se: Elemento Subjetivo: Os comportamentos previstos
no tipo penal do art. 149-A do Código Penal somente podem
I - o crime for cometido por funcionário público no ser praticados dolosamente, não havendo previsão para a
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê- modalidade de natureza culposa.
las;
Causas Especiais de Aumento de Pena - diz o § 1º
II - o crime for cometido contra criança, adolescente do art. 149-A, do diploma repressivo, que a pena é aumen-
ou pessoa idosa ou com deficiência; tada de um terço até a metade se:
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, I – o crime for cometido por funcionário público no
domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependên- exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las - Fun-
cia econômica, de autoridade ou de superioridade hierár- cionário público, nos termos do mencionado art. 327, para
quica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; efeitos penais, não somente é aquele ocupante de um cargo,
ou que poderíamos denominar funcionário público em sentido
estrito, mas também aquele que exerce emprego ou função
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do ter-
pública;
ritório nacional.
II – o crime for cometido contra criança, adolescente
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente
ou pessoa idosa ou com deficiência - O art. 2º da Lei nº
for primário e não integrar organização criminosa.
8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) estabele-
O art. 149-A do Código Penal dispõe que, para efeitos ceu que se considera criança a pessoa com até 12 anos de
de configuração do crime de tráfico de pessoas, exige-se idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos
três características indispensáveis: 1) os atos (o que se faz); de idade. Idoso é aquele, de acordo com o art. 1º da Lei nº
2) os meios (como se faz); 3) a finalidade de exploração 10.741, de 1º de outubro de 2003, com idade igual ou su-
(por que se faz). perior a 60 (sessenta) anos.

1) Quanto aos atos (o que se faz) - São esses, III – o agente se prevalecer de relações de paren-
portanto, os atos praticados por aqueles que praticam o de- tesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de de-
lito de tráfico de pessoas: agenciar (servir de agente ou in- pendência econômica, de autoridade ou de superioridade hi-
termediário), aliciar (atrair, convencer), recrutar (reunir as erárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função
vítimas, com a finalidade de serem traficadas), transportar - O inc. III não indicou expressamente quais seriam as pes-
(conduzir de um lugar para outro), transferir (passar de um soas consideradas nessa relação de parentesco, devendo se-
lugar para outro), comprar (adquirir alguém, como se fosse rem aplicados os arts. 1.591 a 1.595 do Código Civil, que
uma coisa, mediante o pagamento), alojar (hospedar) ou reconhecem relação de parentesco em três ordens: a) vín-
acolher pessoa (abrigar). culo conjugal; b) consanguinidade; e c) afinidade.

2) Quanto aos meios (como se faz) - No que diz IV – a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
respeito aos meios, todos esses comportamentos devem ser território nacional - Ocorre, aqui, o chamado tráfico interna-
praticados mediante: grave ameaça (promessa de um mal cional de pessoas, quando a vítima do tráfico for retirada do
injusto, futuro e grave), violência (física), coação (intimida- território nacional.
ção), fraude (ardil, engano) ou abuso (uso excessivo de al-
Causa de Diminuição de Pena (§ 2º) - Cuida-se de
guém que tem algum poder sobre a vítima).
uma causa especial de diminuição de pena, que deverá ser
3) Quanto à finalidade de exploração (por que obrigatoriamente aplicada desde que o agente seja primário
se faz) - Merece ser frisado, ainda, que o tipo penal prevê e, cumulativamente, também não integre organização cri-
o chamado especial fim de agir, configurado nas finalidades minosa.
de: I – remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II –
submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III – submetê-la a qualquer tipo de servidão; IV – adoção EXERCÍCIOS
ilegal; ou V – exploração sexual.

65
01. (2012 - TRT 3R - TRT - 3ª Região (MG) - Juiz do a) O crime poderá ser perpetrado nas modalidades dolosa e
Trabalho) Constituem crimes contra a liberdade pessoal, culposa.
exceto: b) A vontade do autor deve ser ilegítima, pois, sendo legí-
a) Constrangimento ilegal. tima, haverá o crime de exercício arbitrário das próprias ra-
b) Ameaça. zões.
c) Sequestro. c) É crime comum, pois, se a conduta for praticada por fun-
cionário público, no exercício de suas funções, há crime de
d) Redução à condição análoga a de escravo.
abuso de autoridade.
e) Violação de domicílio.
d) Trata-se de crime subsidiário, ou seja, só é punido auto-
nomamente se não constituir elementar, qualificadora ou
02. (2015 – FCC - TJ-PI - Juiz Substituto) No que se meio de execução de outro crime.
refere aos crimes contra a liberdade pessoal, é correto afir- e) Além das penas cominadas, aplicam-se ao autor do crime
mar: as correspondentes à violência.
a) A intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento
da vítima ou de seu representante legal, não exclui, em
06. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Escrivão de Polícia Ci-
qualquer situação, o constrangimento ilegal.
vil) O crime de ameaça:
b) O crime de constrangimento ilegal não se reveste de sub-
a) não pode ser praticado por meios simbólicos.
sidiariedade em relação a outros delitos.
b) é de ação penal privada.
c) Constitui figura equiparada à de redução a condição aná-
loga à de escravo o ato de cercear o uso de qualquer meio c) pressupõe injustiça do mal prometido.
de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê- d) quando usado como meio executório de um roubo, coe-
lo no local de trabalho. xiste com este em concurso de crimes.
d) O crime de cárcere privado é permanente e formal, não
admitindo a tentativa. 07. (2013 - TRT 14R - TRT - 14ª Região (RO e AC) -
Juiz do Trabalho) Analise as proposições abaixo e após
03. (2013 – CESPE - TRT - 5ª Região (BA) - Juiz do marque a alternativa correta:
Trabalho) Com relação aos crimes contra a liberdade pes- I. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime de cons-
soal, assinale a opção correta. trangimento ilegal; quanto ao sujeito passivo, é indispensá-
a) O fato de a vítima consentir no seu sequestro, realizado vel que possua capacidade de autodeterminação.
por seu namorado, a fim de exigir certa quantia em dinheiro II. O constrangimento ilegal comporta condutas dolosas e
de seus pais, exclui a tipicidade penal, não havendo, por- culposas.
tanto, crime de sequestro ou cárcere privado. III. Nas hipóteses de constrangimento ilegal, ficando evi-
b) Para a consumação do crime de ameaça, exige-se a ocor- denciado o objetivo econômico, haverá concurso de crimes
rência de mal injusto à vítima. com o de extorsão.
c) A privação de liberdade de outrem, mediante sequestro IV. A ameaça se diferencia do constrangimento ilegal porque
ou cárcere privado, consuma-se após vinte e quatro horas neste último o agente busca uma conduta positiva ou nega-
do início da execução do ato. tiva da vítima e, na ameaça, o sujeito ativo pretende tão
d) O empregador que retiver a carteira de trabalho do em- somente atemorizar o sujeito passivo.
pregado com a finalidade de fazer que ele permaneça no a) Apenas os itens I e II são verdadeiros.
local de trabalho responderá pela prática do crime de cons- b) Apenas os itens II e III são verdadeiros.
trangimento ilegal.
c) Apenas os itens III e IV são verdadeiros.
e) O policial que, para impedir determinada pessoa de se
d) Apenas os itens I e IV são verdadeiros.
suicidar, usar de coação mediante violência poderá ser be-
neficiado com o perdão judicial. e) Apenas os itens II e IV são verdadeiros.

04. (2017 - Fundação La Salle - SUSEPE-RS - Agente 08. (2008 - TRT 15R - TRT - 15ª Região - Juiz do Tra-
Penitenciário) Quem constranger alguém, mediante vio- balho) No crime de ameaça é incorreto asseverar:
lência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, a) a ameaça para constituir o crime tem de ser idônea, séria
por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não e concreta, capaz de efetivamente impingir medo à vítima;
fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda b) o crime de ameaça consiste na promessa feita pelo su-
estará incorrendo no crime de: jeito ativo de mal justo ou injusto e grave a qualquer pes-
a) ameaça. soa, violando a liberdade psíquica;
b) constrangimento ilegal. c) o crime de ameaça consiste na promessa feita pelo sujeito
c) extorsão. ativo de mal injusto e grave a qualquer pessoa, violando a
liberdade psíquica;
d) estelionato.
d) a falta de consciência ou de capacidade mental para en-
e) extorsão indireta.
tender a gravidade do mal ameaçado afasta a possibilidade
do crime;
05. (2014 – UFMT -MPE-MT - Promotor de Justiça) No e) a ação penal é pública condicionada à representação do
que se refere ao tipo penal de constrangimento ilegal, pre- ofendido.
visto no art. 146 do Código Penal, assinale a afirmativa IN-
CORRETA.

66
09. (2014 – FCC - TRT - 18ª Região (GO) - Juiz do Tra- III - compartimento não aberto ao público, onde
balho) NÃO configura o crime de redução à condição aná- alguém exerce profissão ou atividade.
loga de escravo
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
a) submeter a vítima a trabalhos forçados ou a jornada exa-
ustiva, sujeitando-a a condições degradantes de trabalho. I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação
coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do
b) constranger alguém, mediante violência ou grave ame-
parágrafo anterior;
aça, a celebrar contrato de trabalho.
c) restringir, por qualquer meio, a locomoção do trabalhador II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
em razão de dívida contraída com o empregador ou pre-
Objetividade jurídica: tutela-se a liberdade privada
posto.
do indivíduo, seu sossego e tranquilidade.
d) cercear o uso de qualquer meio de transporte por parte
do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. Conceito de casa: coube à lei, no § 4° (conceito po-
sitivo) e no § 5º (conceito negativo), delimitar o conceito
e) manter vigilância ostensiva no local de trabalho ou se
penal de "casa". Deduz-se do § 4° que abrange mais do que
apoderar de documentos ou objetos pessoais do trabalha-
indica o seu significado comum, diverso, ainda, do conceito
dor, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
civil de domicílio. De acordo com esse parágrafo, a palavra
"casa" compreende:
10. (2015 – VUNESP - TJ-SP - Juiz Substituto) A mídia
I - qualquer compartimento habitado - Deve ser ha-
tem noticiado casos em que trabalhadores, em sua grande
bitado por alguém, para morar, viver ou usar. Até mesmo
maioria estrangeiros, são submetidos a trabalhos forçados e
um automóvel pode ser classificado como compartimento
jornadas exaustivas, configurando assim o crime de redução
habitado, como por exemplo um trailer.
à condição análoga à de escravo. Sobre esse delito, assinale
a alternativa que não o tipifica.  Não é necessário a habitação permanente, resul-
a) Recusar o fornecimento de alimentação ou água potável. tando que o fato de ter alguém habitando ainda que transi-
toriamente, já é elemento necessário para conceituar como
b) Restringir sua locomoção em razão de dívida contraída
casa.
com o preposto.
c) Vigilância ostensiva no local de trabalho. II - aposento ocupado de habitação coletiva - quartos
de pensões, repúblicas, hotéis e motéis, que estejam ocu-
d) Apoderar-se de documentos ou objetos pessoais do tra-
pados por alguém;
balhador com o fim de retê-lo no local de trabalho.
III - compartimento não aberto ao público, onde al-
guém exerce profissão ou atividade – escritório do advo-
GABARITO gado, consultório do médico ou dentista, balcão do padeiro
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 etc.
E C A B A C D B B A
 Também estão protegidas pela lei as dependências
da casa (jardins, garagens, quintais, terraços e pátios),
SEÇÃO II desde que fechados, cercados ou se existentes obstáculos
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO de fácil visualização vedando a passagem do público.
DOMICÍLIO Não é considerado casa: O § 5°, em dois incisos,
Violação de domicílio esclarece o que não se pode compreender por "casa":

Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita-
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do nº II do
quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: parágrafo anterior - hospedaria é o recinto destinado a re-
ceber pessoas que ali permanecem por um período prede-
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. terminado, mediante pagamento, como hotéis. Estalagem
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em também é o local adequado para receber hóspedes, medi-
lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou ante remuneração, mas em proporção menor do que a hos-
por duas ou mais pessoas: pedaria (pousadas, abrigos e pensões). Qualquer outra ha-
bitação coletiva, por sua vez, é fórmula genérica indicativa
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da de lugar coletivo e aberto ao público (parques, áreas de la-
pena correspondente à violência. zer e campings).
§ 2º- (Revogado pela Lei nº 13.869, de II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero
2019) (Vigência) - Taverna é o local em que são vendidas e servidas refeições
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência e bebidas. Casas de jogo são, em regra, proibidas no Brasil
em casa alheia ou em suas dependências: (exemplo: cassinos). A expressão “outras do mesmo gê-
nero” engloba os demais lugares de diversão pública (cine-
I - durante o dia, com observância das formalidades mas, teatros e casas de espetáculos).
legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
 Tais estabelecimentos, depois de fechados, tor-
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum nam-se privados, presumindo-se a proibição de neles se pe-
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. netrar sem licença.
§ 4º - A expressão "casa" compreende: Sujeito ativo: qualquer pessoa pode cometer o
crime.
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;

67
ATENÇÃO! O proprietário do imóvel pode ser autor e) por duas ou mais pessoas: ao exigir que o crime
deste delito, por exemplo, quando locador e invadir a casa seja cometido (executado) por duas ou mais pessoas (dis-
do inquilino (locatário) sem autorização deste. pensando ajuste prévio), a hipótese não considera eventuais
partícipes no cômputo mínimo de agentes.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que esteja
na posse direta do imóvel. Exclusão do crime (§ 3º): sabendo que nenhuma
liberdade pública é absoluta, menciona o § 3° casos em que,
 Na hipótese de habitação familiar, o conflito de de-
apesar de típica, cessa a antijuridicidade da ação (entrada
cisões será resolvido pela prevalência da vontade dos pais,
ou permanência lícita):
em relação aos filhos. Se houver igualdade entre os vários
moradores (ex.: república de estudantes), prevalece a deci- I - durante o dia, com observância das formalidades
são daquele que proibiu. legais, para efetuar prisão ou outra diligência: a permissão
aqui escrita foi retratada na própria Constituição Federal.
ATENÇÃO! Comete o crime o empregado que permite
Por "diligência" não se pense apenas na judicial, abrangendo
a entrada de estranhos em seu cômodo, contra a vontade
também a policial ou administrativa, desde que legais, ob-
do empregador, dono da casa.
viamente.
Conduta: pune-se "entrar" ou "permanecer" em re-
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum
sidência alheia contra a vontade do possuidor direto. Qual-
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser:
quer das condutas (entrar ou permanecer) deve ser prati-
trata-se de prisão em flagrante, quando qualquer do povo
cada de forma clandestina (às ocultas, sem consentimento
pode e as autoridades devem prender (CPP, art. 301).
do morador), astuciosa (mediante emprego de fraude) ou
contra a vontade expressa (manifestação certa e precisa,  O art. 5º, XI, da CF utiliza a palavra “delito” em
induvidosa) ou tácita (deduzida das circunstâncias) de quem sentido amplo, alcançando crimes e contravenções.
de direito.
ATENÇÃO! Além das hipóteses acima mencionadas,
 Trata-se de crime de mera conduta, porque se pro- temos outras situações que excluem o crime: art. 23 do CP
tege o aspecto psicológico de quem mora na casa, e não a (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumpri-
casa em si. mento de dever legal e exercício regular de direito) e art.
5°, XI, da Constituição Federal (em caso de desastre ou para
IMPORTANTE: Não há o crime na violação de lugares
prestar socorro).
de uso comum (restaurantes, bares, lojas, hotéis), desde
que não se estenda à parte interna desses locais, resguar-  Princípio da Consunção - as condutas que sejam
dados pela lei. mero meio para a prática do crime-fim restam por ele ab-
sorvidas, ainda que sejam, isoladamente, condutas crimino-
Tipo subjetivo: admite-se apenas a conduta dolosa.
sas. Assim, se o agente se vale da invasão de domicílio (que
Consumação e tentativa: consuma-se tão logo o é crime autônomo) como mera etapa para a prática de um
agente entre completamente na casa (ou dependência) outro delito, como o furto, por exemplo, este irá absorver
alheia, ou, quando ciente de que deve sair, fica no local por aquele, respondendo o agente apenas pelo crime-fim.
tempo maior que permitido, desobedecendo a ordem de re-
IMPORTANTE: Entrada em domicílio sem autori-
tirada. Na primeira hipótese o crime é instantâneo, e na se-
zação judicial – STF: O Plenário do Supremo Tribunal Fe-
gunda, permanente. Apesar de ser delito de mera conduta,
deral (STF) concluiu, na sessão do dia 05/11/2015, o julga-
excepcionalmente admite-se a tentativa, na modalidade en-
mento do Recurso Extraordinário (RE) 603616, com reper-
trar.
cussão geral reconhecida, e, por maioria de votos, firmou a
Qualificadoras (§ 1º): o dispositivo traz cinco qua- tese de que “a entrada forçada em domicílio sem mandado
lificadoras para as situações em que o crime é cometido: judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando am-
parada em fundadas razões, devidamente justificadas a pos-
a) durante a noite: a verificação da circunstância teriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de
noite é controvertida. Para uns, haverá noite no período flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, ci-
compreendido entre as 18h e 06h. Já outros consideram ha- vil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos
ver noite pela ausência de luz solar, apegando-se ao critério atos praticados”.
físicoastronômico, considerando dia o intervalo de tempo si-
tuado entre a aurora e o crepúsculo.
b) em lugar ermo: praticar o crime em lugar ermo SEÇÃO III
(deserto, faltando habitantes ainda que momentanea- DOS CRIMES CONTRA A
mente) facilita a prática do crie, dificultando o auxílio à ví- INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA
tima, revelando maior ameaça ao bem jurídico tutelado;
Violação de correspondência
c) com emprego de violência: trata-se do emprego de
força física, podendo ser praticada contra pessoa ou coisa, Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de
não distinguindo o Código entre uma ou outra; correspondência fechada, dirigida a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
d) com emprego de arma: o emprego de arma tam-
bém qualifica o crime. A arma pode ser de qualquer espécie Revogação: O caput do art. 151 do CP foi revogado
(própria ou imprópria), havendo a majoração ainda que o pelo art. 40 da Lei 6.538/78, que trata das infrações contra
agente dela se apodere apenas no interior do imóvel, du- o serviço postal e o serviço de telegrama.
rante a ação criminosa (ex.: apoderar-se de faca que se en-
contrava no jardim). Sonegação ou destruição de correspondência
 Com a revogação da Súmula 174 do STJ, não qua- § 1º - Na mesma pena incorre:
lifica mais o crime o emprego de arma de brinquedo (simu-
lacro de arma de fogo);

68
I - quem se apossa indevidamente de correspondência Pena - detenção, de três meses a dois anos.
alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a
Parágrafo único - Somente se procede mediante
sonega ou destrói;
representação.
Revogação: O art. 151, § 1º, inciso I, do Código Pe-
Objetividade jurídica: tutela-se a liberdade indivi-
nal foi revogado pelo art. 40, § 1º, da Lei 6.538/1978, lei
dual (inviolabilidade de correspondência).
específica e mais recente.
Sujeito ativo: é crime próprio, somente figurando
Violação de comunicação telegráfica, como autor o sócio ou qualquer empregado do estabeleci-
radioelétrica ou telefônica mento comercial ou industrial.
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem Sujeito passivo: será o próprio estabelecimento co-
ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou mercial ou industrial (pessoa jurídica) remetente ou desti-
radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica
natário, bem como seus respectivos sócios (pessoas físicas).
entre outras pessoas;
Conduta: a mesma do art. 152, salientando, apenas,
III - quem impede a comunicação ou a conversação
que nesse delito o agente se vale de sua qualidade de sócio
referidas no número anterior; ou empregado.
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho Tipo subjetivo: pune-se apenas a modalidade do-
radioelétrico, sem observância de disposição legal. losa.
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano
Consumação e tentativa: consuma-se com a prá-
para outrem.
tica de um dos núcleos do tipo, criando-se a concreta possi-
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de bilidade de dano. Trata-se de crime de ação múltipla (de
função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou conteúdo variado). A tentativa é admissível (delito pluris-
telefônico: subsistente).

Pena - detenção, de um a três anos.


§ 4º - Somente se procede mediante representação, SEÇÃO IV
salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º. DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS
SEGREDOS
 A primeira parte do art. 151, § 1º, II, do CP está
em vigor unicamente nas hipóteses em que a violação é efe- Divulgação de segredo
tuada por pessoas comuns.
Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo
Aplica-se o art. 56, § 1º, da Lei 4.117/1962 – Código de documento particular ou de correspondência
Brasileiro de Telecomunicações, nas hipóteses em que a vi- confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja
olação é praticada por funcionário do governo encarregado divulgação possa produzir dano a outrem:
da transmissão da mensagem. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
A parte final do art. 151, § 1º, II, do CP foi derrogada § 1º Somente se procede mediante representação.
pela Lei 9.296/1996, que regulamenta o art. 5º, XII, parte
final, da CF. § 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações
sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou
 A modalidade do crime prevista no art. 151, §1º,
não nos sistemas de informações ou banco de dados da
III, está em vigor, nos termos definidos pelo CP. Administração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
O art. 151, § 1º, IV, do CP foi substituído pelo art. 70 Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
da Lei 4.117/1962 – Código Brasileiro de Telecomunicações. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Causa de aumento da pena: As penas, em todas as § 2o Quando resultar prejuízo para a Administração
hipóteses, aumentam-se de metade, se há dano para ou- Pública, a ação penal será incondicionada. (Incluído pela Lei
trem. Esse dano pode ser econômico ou moral, e pertinente
nº 9.983, de 2000)
a qualquer pessoa.
Objetividade jurídica: tutela-se a liberdade indivi-
Figura qualificada (art. 151, § 3º): Aplicável às hi-
dual, mais especificamente a conservação dos segredos (de-
póteses não revogadas pela Lei 4.117/1962 – Código Brasi-
talhes íntimos da vida do indivíduo).
leiro de Telecomunicações, e pela Lei 6.538/1978 – Serviços
Postais. Sujeito ativo: somente o destinatário ou o detentor
do documento particular ou de correspondência confidencial
Ação penal: em regra, a ação penal é pública condi-
pode figurar como agente do delito em tela (crime próprio).
cionada à representação do ofendido, salvo nos casos do §
3°, em que a pena será perseguida independentemente do Sujeito passivo: todo aquele que, direta ou indireta-
pedido-autorização das vítimas. mente, tenha interesse na conservação do segredo (reme-
tente, destinatário ou terceira pessoa).
Conduta: consiste em divulgar (transmitir, tornar pú-
Correspondência comercial blico), sem justa causa, segredo.
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado Tipo subjetivo: consiste na vontade consciente de
de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou divulgar segredo de correspondência sem que, para tanto,
em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir haja justa causa (prescinde-se de qualquer finalidade espe-
correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo: cial). Não há previsão legal de modalidade culposa.

69
Consumação e tentativa: a maioria da doutrina en-
tende ser imprescindível a divulgação do segredo a número
indeterminado de pessoas, pois somente desta forma po- Invasão de dispositivo informático (Incluído pela
derá advir perigo de dano real e efetivo ao titular do se- Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
gredo.
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático de uso
Divulgação de informações sigilosas da Admi- alheio, conectado ou não à rede de computadores, com o
nistração Pública (§ 1º-A): delito instituído com o fim de fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações
tutelar as informações sigilosas ou reservadas de interesse sem autorização expressa ou tácita do usuário do dispositivo
da Administração Pública. ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilí-
 Informações são os dados sobre alguém ou algo. cita: (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
Sigilosa é a informação confidencial, secreta. Reservada é a
informação merecedora de cuidados especiais relativamente Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
às pessoas que dela possam ter ciência. multa. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)

Sujeito ativo: trata-se de crime comum: pode ser § 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece,
praticado por qualquer pessoa. distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de com-
 Se o sujeito ativo for funcionário público, a ele será putador com o intuito de permitir a prática da conduta defi-
imputado o crime de violação de sigilo funcional (CP, art. nida no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vi-
325). gência

Sujeito passivo: o Estado. Nada impede a existência


§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
de um particular como sujeito passivo mediato ou secundá-
terços) se da invasão resulta prejuízo econômico. (Redação
rio, desde que possa ser prejudicado pela divulgação das
dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
informações sigilosas ou reservadas.
Ação penal: os §§ 1º e 2° dispõem sobre a ação pe- § 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo
nal a ser proposta. Em regra, procede-se somente mediante de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais
representação do ofendido. Excepcionalmente, no caso tipi- ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei,
ficado no § 1º-A, a ação será pública incondicionada quando ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido:
da revelação resultar dano para a Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e


Violação do segredo profissional multa. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo,
de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou § 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um
profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: a dois terços se houver divulgação, comercialização ou
transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou in-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
formações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de
Parágrafo único - Somente se procede mediante 2012) Vigência
representação.
§ 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o
Objetividade jurídica: a liberdade individual voltada
crime for praticado contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, de
à inviolabilidade dos segredos, agora profissionais.
2012) Vigência
Sujeito ativo: será toda pessoa que, em razão de
função, ministério, ofício, ou profissão, divulgar, de qualquer I - Presidente da República, governadores e prefei-
maneira, segredo de que tenha conhecimento (crime pró- tos; (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
prio).
Sujeito passivo: qualquer pessoa titular de segredo II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Inclu-
confiado ao agente do crime. ído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
Conduta: a ciência de tais segredos deve decorrer do
exercício de função, ministério, ofício ou profissão, circuns- III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado
tâncias que se prestam a agravar a conduta praticada pelo Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara
agente. Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal;
ou (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
Tipo subjetivo: é a vontade de revelar o segredo
(dolo direto)
IV - dirigente máximo da administração direta e indi-
Consumação e tentativa: consuma-se com a reve- reta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. (In-
lação do segredo, sendo que o eventual dano (material ou cluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
moral) é mero exaurimento (crime formal ou de consuma-
ção antecipada). Quanto à possibilidade da tentativa, temos Bem jurídico protegido: O bem jurídico protegido
de distinguir: se o crime for praticado de forma oral, não se neste crime é a privacidade, gênero do qual são espécies a
admite o conatus, vez que inadmissível o fracionamento da intimidade e a vida privada. Desse modo, esse novo tipo
execução; no entanto, se o agente executar o crime de penal tutela valores protegidos constitucionalmente (art. 5º,
forma escrita, torna-se plurissubsistente, admitindo-se a X, da CF/88).
forma tentada.

70
Sujeitos: Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa É o caso, por exemplo, do indivíduo que desenvolve
(crime comum). Obviamente que não será sujeito ativo um programa do tipo “cavalo de troia” (trojan horse), ou
desse crime a pessoa que tenha autorização para acessar os seja, um malware (software malicioso) que, depois de ins-
dados constantes do dispositivo. Sujeito passivo é a vítima, talado no computador, libera uma porta para que seja pos-
que pode ser qualquer pessoa, proprietária ou usuária dis- sível a invasão da máquina.
positivo violado.
Causa de aumento de pena (§ 2º): Aumenta-se a
Qualidade do sujeito passivo e aumento da pena pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se da invasão
(art. 154-A, § 5º): O § 5º do art. 154-A do Código Penal resulta prejuízo econômico.
contempla causas de aumento da pena. A pena será aumen-
Qualificadora (§ 3°): punido com reclusão, de dois
tada de um terço à metade se o crime for praticado contra
a cincos anos, e multa, se, com a invasão, o agente conse-
as pessoas elencadas no dispositivo. O aumento é justificado
guir obter o conteúdo de:
pela relevância dos dados e informações contidos nos dis-
positivos informáticos de tais pessoas, indispensáveis para a) Comunicações eletrônicas privadas (e-mails, SMS,
a gestão da coisa pública. diálogos em programas de troca de mensagens etc);
Conduta: - análise das elementares do tipo: b) Segredos comerciais ou industriais;
Invadir: Ingressar, sem autorização, em determinado c) Informações sigilosas (o sigilo que qualifica o crime
local. A invasão de que trata o artigo é “virtual”, ou seja, no é aquele assim definido em lei).
sistema ou na memória do dispositivo informático.
→ Também incide a qualificadora no caso do invasor
Dispositivo informático: Em informática, dispositivo é conseguir obter o controle remoto do dispositivo invadido.
o equipamento físico (hardware) que pode ser utilizado para
rodar programas (softwares) ou ainda para ser conectado a Causa de aumento de pena (§ 4º): a pena é au-
outros equipamentos, fornecendo uma funcionalidade. mentada de um a dois terços se houver divulgação (propa-
Exemplos: computador, tablet, smartphone, memória ex- gação, tornar público ou notório), comercialização (ativi-
terna (HD externo), entre outros. dade relacionada à intermediação ou venda) ou transmissão
(transferência) a terceiros, a qualquer título, dos dados ou
De uso alheio: O dispositivo no qual o agente ingressa informações obtidas.
deve ser de uso de terceiro.
Causa de aumento de pena (§ 5º): a pena é au-
Conectado ou não à rede de computadores: Apesar do mentada de um terço à metade se o crime for praticado con-
modo mais comum de invasão em dispositivos ocorrer por tra: (1) Presidente da República, governadores e prefeitos;
meio da internet, a Lei admite a possibilidade de ocorrer o (2) Presidente do Supremo Tribunal Federal; (3) Presidente
crime mesmo que o dispositivo não esteja conectado à rede da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assem-
de computadores. É o caso, por exemplo, do indivíduo que, bleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito
na hora do almoço, aproveita para acessar, sem autoriza- Federal ou de Câmara Municipal; (4) Dirigente máximo da
ção, o computador do colega de trabalho. administração direta e indireta, federal, estadual, municipal
ou do Distrito Federal.
→ Atenção: não exige mais o tipo que a invasão
ocorra “mediante violação indevida de mecanismo de segu-
rança” (firewall, antivírus, anti-malware, antispyware, se-
nha para acesso). Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de
2012) Vigência
Com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações sem autorização expressa ou tácita do titular Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, so-
do dispositivo: ocorre quando, por exemplo, um cracker in- mente se procede mediante representação, salvo se o crime
gressa no computador de uma atriz para obter suas fotos lá é cometido contra a administração pública direta ou indireta
armazenadas. de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal
ou Municípios ou contra empresas concessionárias de servi-
Ou com o fim de instalar vulnerabilidades para obter ços públicos.
vantagem ilícita: é o caso, por exemplo, do indivíduo que
invade o computador e instala programa espião que revela Ação penal: no crime de invasão de dispositivo infor-
as senhas digitadas pela pessoa ao acessar sites de bancos. mativo, em regra, a ação penal é condicionada à represen-
tação da vítima, salvo se o crime é cometido contra a admi-
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade nistração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes
consciente de invadir dispositivo informático alheio. Não se da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra
admite a modalidade culposa. empresas concessionárias de serviços públicos, hipóteses
Consumação e tentativa: trata-se de crime formal em que a ação será pública incondicionada.
(ou de consumação antecipada), perfazendo-se no mo-
mento em que o agente invade o dispositivo informático da
vítima, mediante violação indevida de mecanismo de segu- EXERCÍCIOS
rança, ou nele instala vulnerabilidades, independentemente
da produção do resultado visado pelo invasor (adulteração 01. (2017 – IBADE - PC-AC - Delegado de Polícia Civil)
ou destruição de dados ou informações da vítima ou obten- Assinale a alternativa que contempla uma hipótese de vio-
ção de vantagem ilícita). A tentativa é possível (delito plu- lação de domicílio.
rissubsistente). a) Pafúncio e Marocas, casados, em virtude de um desen-
tendimento, resolvem se separar, após o que, conforme
Figura equiparada (§ 1º): Na mesma pena incorre
acordado entre ambos, Pafúncio deixa o lar conjugal para
quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde disposi-
morar em outra casa. Semanas depois, embora já proposta
tivo ou programa de computador com o intuito de permitir
a ação de divórcio, Pafúncio retorna ao imóvel e ali se instala
a prática da conduta definida no caput.

71
sem a ciência de Marocas, que naquele momento viajava local e subtraído telas de LCD e forno micro-ondas. Nessa
com o novo namorado. situação, aplicando-se o princípio da consunção, Adolfo não
b) Clarabela, ao passear pelas ruas internas de um condo- responderá pelo crime de violação de domicílio, mas so-
mínio de casas, no qual entrou regularmente, percebe um mente pelo crime de furto.
canteiro de rosas no jardim de um dos imóveis. Como o jar- (C) Certo (E) Errado
dim não é murado, delimitado por cercas ou possui qualquer
outro obstáculo ao livre acesso de pessoas, Clarabela nele
05. (2011 – CESPE - PC-ES - Auxiliar de Perícia Mé-
ingressa, de lá colhendo uma muda de flor para levar con-
dico-legal) O crime de entrar ou permanecer em casa
sigo.
alheia contra a vontade expressa ou tácita do morador é
c) Jeremias, após o trabalho, por volta das 18h, notando que infração penal que consta no rol dos delitos contra a pessoa.
não chegará a tempo para ver o jogo televisionado de seu
(C) Certo (E) Errado
time de coração, entra no saguão de um hotel, misturando-
se a hóspedes e funcionários, pois ali há um telão transmi-
tindo a partida. 06. (2010 – CESPE - DETRAN-ES - Advogado) Uma bar-
d) Ferdinando, fotógrafo, é contratado para trabalhar em um raca de camping que seja habitada por uma família por al-
evento privado. No dia agendado, erra o endereço e ingressa guns dias não se equipara à sua casa para fins da prática do
- de forma não autorizada - no aniversário de Violeta. Ins- delito de violação de domicílio, visto que seus habitantes não
tado pelos seguranças a deixar o local, ainda desconhecendo a ocupam em caráter permanente.
seu equívoco, Ferdinando se recusa a sair, o que só acontece (C) Certo (E) Errado
com a chegada da polícia militar.
e) Acácio, andarilho, entra em um apartamento de proprie- 07. (2006 – CESPE - DPE-DF - Procurador) A violação
dade de Nestor, o qual se encontra vazio e destinado à lo- de domicílio é crime de mera conduta, não se exigindo re-
cação. Embora sua intenção inicial fosse apenas pernoitar sultado determinado.
no imóvel, Acácio decide fazer do local sua nova moradia.
(C) Certo (E) Errado

02. (2015 – VUNESP - MPE-SP - Analista de Promoto-


ria) Aproveitando-se da porta que estava apenas encos- 08. (2016 – Quadrix - CRO – PR - Recepcionista) Carla
tada, Pedro ingressou sozinho e durante o dia na residência trabalha como recepcionista em uma empresa e, após algum
de José, sabendo que no local não havia ninguém, subtra- tempo, começa a atender ligações com conteúdo sigiloso,
indo dali dois relógios de pulso que depois se apurou esta- relativo a grandes contratos que serão fechados pela dire-
rem quebrados. Assinale a alternativa correta a respeito da toria. Ao ter conhecimento de tais informações, ela as trans-
conduta de Pedro. mite a outro grupo que se beneficiará do conteúdo. Ao fazer
isso, Carla violou o segredo profissional, um crime previsto
a) Praticou o crime de furto qualificado pela destreza, já que no art. 154 do Código Penal Brasileiro, que diz:
se aproveitou de um momento em que a casa estava vazia
para ali ingressar (artigo 155, § 4° , inciso II, CP). a) É permitida a divulgação de informações obtidas através
de terceiros, desde que beneficiem um grupo específico.
b) Caso Pedro seja primário, e os relógios, ainda que que-
brados, forem de pequeno valor, poderá ser condenado por b) Divulgar segredos de que tenha ciência em razão de sua
furto privilegiado (art. 155, § 2° , CP). função e em benefício próprio não é crime.
c) Pedro praticou o crime de furto e, em razão de ter ingres- c) Divulgar segredo de que tenha ciência em razão de sua
sado em residência alheia, não poderá ser beneficiado com função é crime.
a substituição da pena corporal por restritiva de direitos, nos d) Divulgar informações obtidas graças à sua função não é
termos do artigo 44, III, CP (a culpabilidade, os anteceden- crime.
tes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem e) Não divulgar informações sigilosas de que tenha ciência
como os motivos e as circunstâncias indicam que esta subs- em razão de sua função é crime.
tituição seja suficiente).
d) Praticou o crime de invasão de domicílio, previsto no ar-
09. (2015 – UFMT - IF-MT - Professor - Direito) Sobre
tigo 150, do Código Penal.
a tipificação dos delitos informáticos segundo a Lei nº
e) Caso condenado por furto, Pedro poderá ter diminuição 12.737/2012, assinale a afirmativa correta.
da sua pena, desde que fique comprovado que praticou furto
a) Pratica crime de invasão de dispositivo informático aquele
famélico (procurava algo que pudesse vender para comprar
que, com autorização expressa do titular do dispositivo, ins-
alimento).
tala vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.
b) Pratica o crime de perturbação de serviço telemático, te-
03. (2016 - MPE-SC - MPE-SC - Promotor de Justiça) lefônico ou informático aquele que interrompe o serviço te-
No crime de violação de domicílio, previsto no art. 150 do lemático, telefônico ou informático, salvo se cometido por
Código Penal, existe uma circunstância de especial aumento ocasião de calamidade pública.
de pena segundo a qual aumenta-se a pena de um terço, se
c) Pratica crime de invasão de dispositivo informático aquele
o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos
que adultera ou destrói dados ou informações sem autoriza-
legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas
ção expressa ou tácita do titular do dispositivo.
em lei, ou com abuso de poder.
d) Pratica o crime de falsificação de documento público
(C) Certo (E) Errado
aquele que falsifica, no todo ou em parte, cartão de crédito
ou de débito, obtendo ou não vantagem ilícita.
04. (2013 – CESPE – DEPEN - Agente Penitenciário)
Considere que Adolfo, querendo apoderar-se de bens exis-
10. (2013 - CESPE - SEGESP - Perito Criminal) A legis-
tentes no interior de uma casa habitada, tenha adentrado o
lação atual tipifica como delito informático a invasão de

72
dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de mecanismo de segurança ou a utilização de programa
computadores, mediante violação indevida de mecanismo malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento
de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
dados ou informações sem autorização expressa ou tácita
do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades, em § 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo,
qualquer circunstância. considerada a relevância do resultado gravoso: (Incluído
(C) Certo (E) Errado pela Lei nº 14.155, de 2021)

I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços),


GABARITO se o crime é praticado mediante a utilização de servidor
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº
A B C C C E C C C C 14.155, de 2021)

II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o


4. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
crime é praticado contra idoso ou vulnerável. (Incluído pela
Lei nº 14.155, de 2021)
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (ARTS. 154 A 183)

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a


subtração for de veículo automotor que venha a ser
TÍTULO II transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO pela Lei nº 9.426, de 1996)
CAPÍTULO I - DO FURTO
Furto
§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
se a subtração for de semovente domesticável de produção,
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia ainda que abatido ou dividido em partes no local da
móvel: subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)


anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
praticado durante o repouso noturno. possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor
a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão Objetividade jurídica: É a propriedade e a posse le-
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar gítima de coisa móvel.
somente a pena de multa.
ATENÇÃO: ladrão que subtrai ladrão pratica furto,
tendo como vítima, porém, o real dono da coisa (legítimo
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou
possuidor).
qualquer outra que tenha valor econômico.
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode ser sujeito ativo
Furto qualificado do furto, salvo o próprio dono da coisa.

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e Sujeito passivo: qualquer pessoa, física ou jurídica,
multa, se o crime é cometido: proprietária ou possuidora da coisa móvel subtraída.

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à Conduta: é punível a subtração, a retirada da coisa


subtração da coisa; alheia de quem a detém.

Apodera-
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude,
mento de Consequência
escalada ou destreza;
coisa alheia
Coisa de nin-
III - com emprego de chave falsa; guém (res
nullius)
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. Fato atípico
Coisa aban-
donada (res
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) derelicta)
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de Coisa perdida Haverá crime de apropriação de coisa
artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela (res deper- achada (art. 169, parágrafo único, II, do
Lei nº 13.654, de 2018) dita) CP), pois apesar de alheia, não há sub-
tração, mas apropriação.
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por  A coisa deve ser móvel. Para fins penais são consi-
meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou derados coisas móveis os bens capazes de ser transportados
não à rede de computadores, com ou sem a violação de de um para outro local sem que percam sua real identidade

73
(os navios e aeronaves, ao contrário do Direito Civil, são subtraída (aquela que não ultrapassa um salário mínimo,
móveis para o Direito Penal). segundo a pacífica jurisprudência).

 Furto famélico: É o furto cometido por quem sub-  O pequeno valor do prejuízo (requisito do furto pri-
trai alimentos para saciar a fome e preservar a vida própria vilegiado) não se confunde com o prejuízo insignificante,
ou de terceiro, quando comprovada uma situação de ex- que exclui a própria tipicidade.
trema penúria, não há crime em face da exclusão da ilicitude
pelo estado de necessidade (CP, art. 24, caput). ATENÇÃO! Súmula nº 511 do STJ: “É possível o re-
conhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do
 Furto de uso: Consiste na subtração de coisa ape- CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem
nas para usá-la momentaneamente, devolvendo-a, logo em presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da
seguida, ao real proprietário. Faltando animus furandi, con- coisa e a qualificadora for de ordem objetiva”.
figura-se um indiferente penal.
Furto de energia (§ 3°): É possível a subtração de
 Cadáver: A subtração de cadáver ou de parte dele energia elétrica ou “qualquer outra que tenha valor econô-
caracteriza o crime definido pelo art. 211 do Código Penal mico”. É indispensável tratar-se de energia cujo apossa-
(Destruição, subtração ou ocultação de cadáver). Entre- mento seja possível, isto é, que possa ser dissociada da sua
tanto, se o cadáver ostentar valor econômico e encontrar- origem.
se na posse legítima de uma pessoa, física ou jurídica, es-
tará delineado o delito de furto (exemplo: cadáver perten- ATENÇÃO! O STF já decidiu pela inexistência de furto
cente a uma Faculdade de Medicina ou a um hospital). na ligação clandestina de TV a cabo, com o argumento de
que este objeto não seria “energia”. Já o STJ entende que é
Furto e princípio da insignificância ou criminali- típica a conduta de furto de sinal de TV a cabo.
dade de bagatela: Este princípio é pacificamente reconhe-
cido pela doutrina e pela jurisprudência no crime de furto,  A subtração de sêmen também é considerada furto
funcionando como causa de exclusão da tipicidade. (energia genética).

 O STJ definiu como parâmetro econômico da insig- Qualificadoras do art. 155, § 4º: Dizem respeito ao
nificância o objeto que valha cerca de 10% do salário mí- meio de execução empregado pelo agente na prática do
nimo crime.

Tipo subjetivo: É o dolo (animus furandi). Pune-se a Inciso I – Com destruição ou rompimento de obstá-
vontade consciente de apoderar-se definitivamente de coisa culo à subtração da coisa: Nas duas hipóteses (destruição e
alheia (animus rem sibi habendi), para si ou para outrem. rompimento) opera-se um dano a determinado objeto. Na
Não se admite a modalidade culposa. destruição o dano é total, e parcial no rompimento. Ex.: des-
truir cerca elétrica de proteção, quebrar um cadeado, ar-
Consumação e tentativa: Consuma-se o crime rombar porta.
quando a coisa subtraída passa para o poder do agente, com
a inversão da posse do bem, ainda que por breve tempo,  Se a violência for exercida contra o próprio objeto
sendo desnecessária a posse mansa e pacífica ou desvigi- visado não incide a qualificadora (quebrar vidro do veículo
ada. Com isso fica consagrada a adoção da Teoria da “Amo- para furtar o próprio carro).
tio”. A tentativa é possível.
Inciso II – Com abuso de confiança, ou mediante
IMPORTANTE: Casos envolvendo dispositivos anti- fraude, escalada ou destreza: Abuso de confiança consiste
furto inseridos em veículos automotores ou estabelecimen- na traição, pelo agente, da confiança que, oriunda de rela-
tos não caracterizam crime impossível, e sim tentativa de ções entre ele e a vítima, faz com que o objeto do furto
furto. ficasse exposto ao seu fácil alcance (ex. empregado de con-
fiança); Fraude é o meio enganoso utilizado pelo agente
Causa de aumento de pena (furto noturno ou cir- para diminuir a vigilância sobre um bem móvel, facilitando
cunstanciado) - § 1°: Pune-se mais severamente (+ 1/3) sua subtração (ex. test drive); Escalada representa todo e
o crime quando praticado no período em que a localidade qualquer meio anormal de o agente ingressar em determi-
costumeiramente recolhe-se para o repouso noturno diário. nado local (ex. saltar um muro); Destreza é a especial ha-
Assim, o furto durante repouso noturno constitui majorante bilidade física ou manual que permite ao agente retirar bens
e não uma qualificadora. em poder direto da vítima sem que ela perceba a subtração
(ex. batedor de carteira).
ATENÇÃO! Para a maioria (inclusive STF e STJ), a in-
cidência do aumento dispensa que a casa esteja habitada ou  FAMULATO: furto de um empregado contra o patrão
com moradores repousando. com abuso de confiança.

 O STJ decidiu ser possível a aplicação da majorante ATENÇÃO: A escalada envolve o uso de via anormal
também no furto qualificado, pois não há incompatibilidade para ingressar no local em que se encontra a coisa visada.
entre esta circunstância e aquelas que qualificam o delito. Não implica, necessariamente, subida, mas a utilização de
qualquer meio incomum, como, por exemplo, a penetração
Furto privilegiado (ou mínimo) - § 2°: A aplicação via subterrânea.
do privilégio (substituição da reclusão por detenção, dimi-
nuição de um a dois terços, ou aplicação somente da pena Furto qualificado pela Apropriação indébita
de multa) precisa obedecer a dois critérios: ser o agente confiança
primário (não reincidente) e de pequeno valor a coisa

74
Há mero contato com a O agente exerce a posse responsabilização penal dos envolvidos, justificando uma
coisa, sem implicar posse. desvigiada em nome de ou- maior reprimenda.
trem.
Inciso II: Idoso: o conceito de idoso no Brasil é dado
Há dolo desde o início. O dolo é superveniente à pelo art. 1º da Lei nº 10.741/2003, ou seja, a pessoa com
posse. idade igual ou superior a 60 anos.
Já a pessoa vulnerável, como não foi dado um con-
Furto qualificado pela Estelionato
ceito específico, deve-se utilizar a definição do art. 217-A,
fraude
caput e § 1º, do CP. Desse modo, podem ser considerados
A fraude visa a diminuir a A fraude visa a fazer com
vulneráveis:
vigilância da vítima e pos- que a vítima incida em erro
sibilitar a subtração. e entregue espontanea- a) a pessoa menor de 14 anos;
mente o objeto ao agente.
b) a pessoa que, em razão de enfermidade ou defici-
A vontade de alterar a A vontade de alterar a ência mental, não tem o necessário discernimento para a
posse no furto é unilateral posse é bilateral (agente e prática de determinados atos.
(apenas o agente quer). vítima querem).
Atenção – elemento subjetivo: para que o autor
Inciso III – Com emprego de chave falsa: Chave responda pelas causas de aumento de pena é indispensável
falsa é qualquer instrumento, com ou sem forma de chave, que exista dolo (consciência e vontade), ou seja, é necessá-
de que se vale o agente para fazer funcionar, no lugar da rio que o agente saiba que, no caso concreto, está sendo
chave verdadeira, o mecanismo de uma fechadura ou dis- utilizado um servidor mantido no exterior ou que a vítima
positivo semelhante, permitindo ou facilitando a subtração seja idosa ou vulnerável.
do bem. (ex. chave mixa). Qualificadora do art. 155, § 5º – subtração de ve-
ículo automotor que venha a ser transportado para outro
Inciso IV – Mediante concurso de duas ou mais pes- Estado ou para o exterior: diz respeito a um resultado pos-
soas: Cuida-se de crime acidentalmente coletivo: pode ser terior à subtração, fundamentando-se na maior dificuldade
praticado por uma única pessoa, mas a pluralidade de sujei- de recuperação do bem pela vítima.
tos acarreta o aumento da pena. A qualificadora é aplicável
ainda que um dos envolvidos seja inimputável ou desconhe-  A pessoa contratada apenas para o transporte, não
cido. tendo qualquer participação no delito anterior, responde so-
mente por receptação ou favorecimento real, a depender do
 Se o crime foi cometido por associação criminosa, caso.
já decidiu o STJ que a incidência da presente qualificadora
não acarreta bis in idem, respondendo os autores pelos cri- Qualificadora do art. 6º (abigeato): Com a finali-
mes de associação criminosa e furto qualificado pelo con- dade de dar um tratamento mais severo à subtração de se-
curso de agentes. movente domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes no local da subtração, a Lei nº
Qualificadora do art. 155, § 4º-A – Essa qualifica- 13.330/2016, inseriu o § 6º ao art. 155 do Código Penal,
dora, cuja pena é de 04 a 10 anos de reclusão, foi incluída prevendo mais uma modalidade qualificada para o delito de
pela Lei nº 13.654, de 23/04/2018, incidindo quando, para furto, cominando uma pena de reclusão de 2 (dois) a 5
praticar o furto, haja emprego de explosivo ou artefato se- (cinco) anos para aqueles que praticarem essa modalidade
melhante, que cause perigo comum. A preocupação aqui é de subtração.
aumentar a repressão ao furto de caixas eletrônicos, infra-
ção que a todo tempo ganha espaço nos noticiários. Por semovente domesticável de produção entende-se
um animal não selvagem, destinado à produção pecuária de
(Furto mediante fraude cometido por meio de alimentos, a exemplo do que ocorre com os gados bovinos,
dispositivo eletrônico ou informático) suínos, ovinos, equinos, bufalinos, caprinos e os asininos,
Qualificadora do art. 155, § 4º-B: essa qualifica- ou seja, que dizem respeito à criação para o abate de mer-
dora, cuja pena é de 04 a 08 anos de reclusão, foi incluída cado de bois, vacas, porcos, carneiros, ovelhas, cavalos, bú-
pela Lei nº 14.155/2021, incidindo se o furto mediante falos, burros, cabras e bodes.
fraude (§ 4º, II) é cometido por meio de dispositivo eletrô-
nico ou informático, conectado ou não à rede de computa-  Os bípedes também estão inseridos nesse conceito,
dores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança como é o caso das galinhas, codornas, faisões, perus etc.
ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro
meio fraudulento análogo. Qualificadora do art. 155, § 7º – Essa qualificadora
foi incluída pela Lei nº 13.654, de 23/04/2018, incidindo
Atenção: antes da Lei nº 14.155/2021 essa conduta quando o objeto material for substância explosiva. A preo-
se amoldava ao crime de furto mediante fraude (art. 155, § cupação aqui é aumentar a repressão à subtração de explo-
4º, II, do CP). sivos para serem utilizados nos furtos de caixas eletrônicos,
infração que a todo tempo ganha espaço nos noticiários.
Causas de aumento de pena do furto mediante
fraude cometido por meio de dispositivo eletrônico ou ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90 in-
informático (§ 4º-C): clui no rol dos hediondos o crime de furto qualificado pelo
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause pe-
Inciso I: A pena é aumentada (1/3 a 2/3) em razão rigo comum (art. 155, § 4º-A).
do fato representar, de algum modo, uma ameaça à sobe-
rania nacional. Além disso, essa circunstância acarreta uma
maior dificuldade na identificação e eventual
Furto de coisa comum

75
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio,
para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a ( ) O crime de apropriação indébita consuma-se
coisa comum: quando o agente transforma a posse em propriedade, ou
seja, quando se inverte a posse em domínio.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
( ) Disposição de coisa alheia como própria é uma mo-
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum dalidade de estelionato.
fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o
agente.
( ) O crime de receptação é punível, ainda que desco-
Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio. É nhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio
uma espécie menos grave de furto. O objeto jurídico é a a coisa.
propriedade, posse ou detenção de coisa comum (perten-
cente a várias pessoas, inclusive ao sujeito ativo). Marque a alternativa que corresponde, de cima para
baixo, às respostas dadas:
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, que só pode
ser praticado pelo condômino, coerdeiro ou sócio da coisa a) V – V – F – V – V
comum.
b) V – V – F – F – V
Sujeito passivo: É o outro (ou outros) condômino, c) F – F – V – V – F
coerdeiro ou sócio, bem como o terceiro que detenha legiti-
d) V – F – V – V – V
mamente a coisa.
e) V – F – V – V – F
Conduta: a conduta tipificada é a mesma do art. 155
(apoderar-se), recaindo, agora, sobre coisa comum. O bem
visado pelo agente deve estar na legítima posse de outrem 02. (2009 – MOVENS - PC-PA - Investigador) Acerca
(condômino, coerdeiro ou sócio, ou de terceiro). dos crimes contra o patrimônio, assinale a opção correta.

 Se o sócio desvia coisa da sociedade de que faz a) A fraude eletrônica para transferir valores de conta ban-
parte e em cuja direção se encontra, não ocorre furto de cária por meio da internet constitui crime de estelionato.
coisa comum, podendo ocorrer apropriação indébita. b) A obtenção da vantagem indevida é condição indispensá-
vel para a consumação do crime de extorsão.
Tipo subjetivo: pune-se a conduta dolosa apenas
(de subtrair coisa comum). c) Mesmo que o agente não obtenha sucesso na subtração
de bens da vítima, haverá crime de latrocínio se o homicídio
Consumação e tentativa: a maioria da doutrina en- for consumado.
tende ser suficiente a retirada da coisa da esfera de posse e d) No crime de furto em residência, para efeitos de aplicação
disponibilidade da vítima. Admite-se a tentativa. da pena, é irrelevante o horário em que o agente pratica o
delito.
 A ação penal é pública condicionada à representa-
ção (art. 156, § 1º, do CP).
03. (2017 – IBADE - PC-AC - Agente de Polícia Civil)
Causa especial de exclusão da ilicitude (art. 156,
Desejando roubar um estabelecimento comercial, Celidônio
§ 2º): Sua aplicação depende de dois requisitos: a) fungi-
rouba primeiramente um carro, deixando-o ligado em frente
bilidade da coisa comum; e b) que seu valor não exceda a
ao estabelecimento para a facilitação de sua fuga. Quando
quota a que tem direito o agente.
Celidônio se afasta, Arlindo casualmente passa pelo local e,
vendo o veículo ligado, opta por subtraí-lo, dirigindo ininter-
 Coisa fungível é a de natureza móvel e suscetível
ruptamente até ingressar em outro Estado da Federação.
de ser substituída por outra da mesma espécie, qualidade e
Nesse contexto, é correto falar que Arlindo cometeu crime
quantidade (art. 85 do Código Civil). É imprescindível que
de:
seu valor não exceda a quota a que tem direito o agente.
a) furto.
EXERCÍCIOS b) roubo.
c) receptação
01. (2012 – CEC - Prefeitura de Pinhais – PR - Guarda d) roubo majorado
Municipal) Assinale (V) se a assertiva for Verdadeira e (F)
se a assertiva for Falsa, a respeito dos crimes contra o pa- e) furto qualificado.
trimônio:
( ) A energia elétrica é equiparada pelo legislador a 04. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Técnico Judiciário
“coisa alheia móvel" e, assim, pode ser objeto do crime de - Informática) A respeito do crime de furto, considere:
furto.
I. Peter cavou um túnel e, com grande esforço, conseguiu
entrar no interior de uma loja, dali subtraindo produtos
( ) A pessoa que, logo depois de subtraída a coisa, eletrônicos.
emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de
assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa II. Paulus, com o auxílio de uma corda, entrou pela janela
para si ou para terceiro, comete o crime de roubo próprio. em uma residência, de onde subtraiu objetos.

76
III. Plinius escalou uma árvore, galgou o telhado de um institutos de anatomia das universidades de medicina, Clau-
supermercado e removeu várias telhas, entrando no local, dionor, funcionário de uma universidade privada, vende um
de onde subtraiu diversos objetos. cadáver desta universidade para outra, sem o conhecimento
dos administradores da instituição em que trabalha. Assim,
Ficou caracterizada a qualificadora da escalada
Claudionor:
a) nos furtos cometidos por Peter e Paulus, apenas.
a) não praticou nenhum crime, haja vista o cadáver não po-
b) nos furtos cometidos por Peter, Paulus e Plinius. der ser objeto de crime.

c) nos furtos cometidos por Peter e Plinius, apenas. b) praticou o crime de destruição, subtração ou ocultação de
cadáver.
d) nos furtos cometidos por Paulus e Plinius, apenas.
c) praticou o crime de vilipêndio a cadáver.
e) no furto cometido por Plinius, apenas.
d) praticou o crime de violação de sepultura.
e) praticou o crime de furto.
05. (2014 – IPAD - Prefeitura de Recife – PE - Agente
de Segurança Municipal - Guarda Municipal) Beltrano,
aproveitando-se da greve da força estadual de segurança
09. (2012 – FGV - Senado Federal - Policial Legislativo
pública, invade casa de eletrodomésticos a noite, arromba a
Federal) Tício, funcionário público federal, quando visitava
porta de acesso e subtrai televisão. Após ampla divulgação
colega servidor lotado em outro público, se interessa por
do acontecido pelos meios de imprensa, Beltrano arrepen-
um bem móvel que guarnecia o visitado. Objetivando levar
dido devolve a televisão. Considerando o exposto, e correto
para si aquele objeto do patrimônio público, após desviar a
afirmar que Beltrano:
atenção do colega afastando-o do local, o coloca no interior
a) Não cometeu crime algum, visto que devolveu a televi- de sua bolsa, saindo em seguida sem ser notado. Diante
são. desse quadro fático, em tese, Tício praticou o crime de

b) Cometeu o crime de roubo, visto que agiu quando a força a) peculato furto.
de segurança do Estado se encontrava de greve.
b) apropriação indébita.
c) Cometeu o crime de apropriação indébita, visto que
c) estelionato.
inobstante tenha subtraido devolveu o objeto
d) peculato apropriação.
d) Cometeu o crime de furto, sendo irrelevante para consu-
mação do citado crime a devolução da televisão. e) furto qualificado pela fraude.
e) Cometeu o crime de estelionato visto que agiu com ardil
se aproveitando da greve da força de segurança do Estado.
10. (2010 – CONSULTEC - TJ-BA - Conciliador) Dois ra-
pazes, A e B, moradores do mesmo condomínio, praticam
as seguintes condutas: A subtrai, com animus furandi, um
06. (2014 – VUNESP - PC-SP - Escrivão de Polícia)
aparelho de ginástica, que fica na área comum do condomí-
Qualifica o crime de furto, nos termos do art. 155, § 4.º do
nio, e o coloca no quarto de seu apartamento. B, aprovei-
CP, ser o fato praticado.
tando-se de que um vizinho viajou, pega as chaves do au-
a) em local ermo ou de difícil acesso. tomóvel dele para “dar uma volta” durante a noite, devol-
vendo, horas depois, o referido automóvel, intacto e com o
b) contra ascendente ou descendente. tanque cheio, no mesmo lugar
c) durante o repouso noturno.
d) com abuso de confiança. Se A e B forem descobertos, as infrações penais que eles
responderão são
e) mediante emprego de arma de fogo.
a) A, por furto qualificado, e B, por crime nenhum.
b) A, por furto de coisa comum, e B, por crime nenhum.
07. (2013 – FCC - TRT - 15ª Região - Técnico Judiciário
- Segurança) Paulo exercia, há muitos s, as funções de ca- c) ambos por furto qualificado.
seiro da chácara de Pedro, que nele depositava absoluta d) A, por furto de coisa comum e B, por apropriação indé-
confiança, entregando-lhe as chaves da sede para limpeza. bita.
Um dia Paulo apanhou as chaves e entrou no quarto, sub-
traindo a quantia de R$ 3.000,00 que se encontrava na ga- e) A, por furto qualificado, e B, por estelionato.
veta do armário. Paulo cometeu crime de:
a) apropriação de coisa achada.
GABARITO
b) apropriação indébita. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D C E B D D E E E B
c) furto simples.
d) estelionato.
e) furto qualificado pelo abuso de confiança. CAPÍTULO II
DO ROUBO E DA EXTORSÃO

08. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia) Num Roubo


período em que faltam corpos hums para estudo nos

77
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30
outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou (trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, de
depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à 2018)
impossibilidade de resistência:
Objetividade jurídica: o crime de roubo é um crime
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. complexo, unidade jurídica que se completa pela reunião de
dois tipos penais: furto (art. 155 do CP) e constrangimento
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de ilegal (art. 146 do CP). Tutela-se, a um só tempo, o
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave patrimônio e a liberdade individual da vítima.
ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a Sujeito ativo: a exemplo do furto, também aqui
detenção da coisa para si ou para terceiro. qualquer pessoa pode praticar o crime, exceto o proprietário
do bem, que pode ser responsabilizado por exercício arbi-
trário das próprias razões.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até
metade: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
Sujeito passivo: é o proprietário, possuidor ou o
mero detentor da coisa, bem como a pessoa contra quem se
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, dirige a violência ou grave ameaça, ainda que desligada da
de 2018) lesão patrimonial (segurança pessoal do possuidor do bem
móvel, por exemplo).
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
Conduta: duas formas de roubo estão previstas no
III - se a vítima está em serviço de transporte de tipo em estudo: o roubo próprio (caput) e o impróprio (§
valores e o agente conhece tal circunstância. 1º).

Roubo próprio: aqui o agente, antes de apoderar-


IV - se a subtração for de veículo automotor que venha
se do patrimônio alheio, emprega:
a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
a) violência - para que se caracterize a violência con-
tra a pessoa, basta a simples lesão leve ou vias de fato,
V - se o agente mantém a vítima em seu poder,
restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de b) grave ameaça - coação psicológica, a promessa de
1996) causar um mal injusto, grave e possível, ou

VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou c) ou qualquer outro meio capaz de impossibilitar a


de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem vítima de resistir ou defender-se - refere-se à violência im-
sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei própria (emprego de drogas, soníferos, hipnose etc.).
nº 13.654, de 2018)
Roubo impróprio (roubo por aproximação) - §
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com 1°: nesta hipótese, após subtrair a coisa, o agente cons-
emprego de arma branca; (Incluído pela Lei nº 13.964, de trange a vítima mediante violência ou grave ameaça para
2019) assegurar a impunidade do crime ou a detenção do bem
(trata-se de um crime de furto que se transforma em roubo
em face das circunstâncias do caso concreto).
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois
terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)  Para configurar roubo impróprio é imprescindível o
prévio apoderamento da coisa.
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego
de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) ATENÇÃO! O delito de roubo, em qualquer de suas
formas, não admite o princípio da insignificância.
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo
mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo Subtração por arrebatamento (trombada) - pode
que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de caracterizar, dependendo do caso concreto, tanto furto
2018) como roubo. Se o contato físico contra a vítima tiver o pro-
pósito único de distraí-la, sem capacidade de machucá-la, o
crime será de furto. Se for dirigida à pessoa da vítima, pro-
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida
vocando-lhe lesão corporal ou vias de fato, com a intenção
com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
de eliminar ou reduzir sua defesa, o crime será de roubo.
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Tipo subjetivo: o dolo consistente na vontade cons-
ciente de apoderar-se, para si ou para outrem, mediante vi-
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei olência ou grave ameaça, de coisa alheia móvel. Não se ad-
nº 13.654, de 2018) mite a modalidade culposa.

I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA


(sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº Roubo próprio Roubo improprio
13.654, de 2018) Consuma-se com a subtra- Consuma-se com o em-
ção da coisa (apodera- prego da violência ou grave
mento) ameaça.

78
 A maioria da doutrina admite a tentativa nas duas hi- de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
póteses. isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego. Aplicam-se, no geral, as mesmas circunstâncias
ATENÇÃO! Súmula 582 do STJ: Consuma-se o da qualificadora do furto, com a óbvia diferença de que aqui
crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante a subtração se dá mediante violência ou grave ameaça.
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve
tempo e em seguida à perseguição imediata do agente e f) Se a violência ou grave ameaça é exercida com em-
recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse prego de arma branca: Essa majorante foi acrescida pela Lei
mansa e pacífica ou desvigiada. nº 13.964/2019 – Pacote Anticrime, referindo-se ao em-
prego de arma branca para a violência ou a grave ameaça
Várias vítimas – se, no mesmo contexto fático, ca- durante o roubo. Arma branca é todo o objeto construído
racteriza o concurso formal de delitos, respondendo o com o objetivo de atacar algo ou alguém, mas de maneira
agente por tantos roubos quantos forem os patrimônios le- manual, como espadas, punhais, soco inglês, etc. Também
sados. abrange qualquer objeto que possa ser utilizado para atacar
alguém, mas que a princípio não tem esta finalidade (chave
MUITA ATENÇÃO: Com a revogação do inciso I do de fenda, foice, garrafa).
§ 2º do art. 157 do CP, pela Lei nº 13.654/2018 (se a vio-
lência ou ameaça é exercida com emprego de arma), houve
uma “novatio legis in mellius” (lei nova favorável ao réu). Roubo circunstanciado pelo emprego de arma
É que sempre se entendeu que o termo “arma” abrangia de fogo (uso permitido) ou pelo emprego de explo-
tanto as armas próprias (revólver; punhal, etc.) como as sivo:
impróprias (martelo, faca de cozinha, facão de roça, etc.).
A constatação de existência de qualquer tipo de arma, per- I – Se a violência ou ameaça é exercida com emprego
mitia o aumento de um terço até a metade. Hoje, não mais. de arma de fogo: A Lei nº 13.654/2018 estipulou a
Está abolida a causa de aumento quanto às armas diversas majoração em 2/3 para a pena do roubo no qual se emprega
das que sejam de fogo. especificamente qualquer tipo de arma de fogo. A restrição
é benéfica para os roubos cometidos com armas outras,
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - 1/3 até a me- próprias ou impróprias, que não sejam armas de fogo,
tade (roubo circunstanciado) - § 2º: são aplicáveis tanto devendo retroagir para retirar a majorante.
ao roubo próprio (caput) quanto ao impróprio (§ 1°).
II – Se há destruição ou rompimento de obstáculo
a) Concurso de duas ou mais pessoas: para fins de mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo
aplicação da majorante do concurso de pessoas computam- que cause perigo comum: Trata-se aqui da situação na qual
se os inimputáveis ou pessoas não identificadas que tenham o agente emprega violência ou grave ameaça à pessoa para
participado do crime. praticar a subtração por meio de explosivos. Imaginemos o
caso em que um grupo criminoso invade um
b) Se a vítima está em serviço de transporte de valo- estabelecimento comercial durante o expediente, subjuga as
res e o agente conhece tal circunstância: o serviço de trans- pessoas presentes e instala um dispositivo explosivo para
porte de valores pode ser realizado por dever de ofício ou abrir um cofre. Imputa-se o crime de roubo com pena
mesmo acidentalmente. Os “valores” a que se refere o texto majorada em dois terços.
legal tanto podem ser representados por dinheiro como
também por qualquer outro bem de cunho econômico, dos Roubo circunstanciado pelo emprego de arma
quais são exemplos as pedras preciosas e os títulos ao por- de fogo de uso restrito ou proibido: A Lei nº
tador. 13.964/2019 – Pacote Anticrime, acrescentou o § 2º-B ins-
tituindo nova causa de aumento de pena – o dobro – caso a
c) Subtração de veículo automotor transportado para violência ou grave ameaça seja exercida com emprego de
outro Estado ou para o exterior: a exemplo do acréscimo ao arma de fogo de uso restrito ou proibido.
art. 155, a lei buscou, com a severidade da pena, minimizar
o recorrente roubo de veículos automotores e sua posterior
remessa a outros Estados ou países, tratando-se de causa Roubo qualificado (art. 157, § 3º, do CP): O roubo
de aumento de pena que diz respeito a um resultado poste- qualificado apresenta-se sob duas espécies: (a) roubo qua-
rior à subtração. lificado pela lesão corporal grave; e (b) roubo qualificado
pela morte, também denominado de latrocínio.
d) Se o agente mantém a vítima em seu poder, res-
tringindo sua liberdade: Nesta hipótese, o agente, para con- ATENÇÃO: O roubo qualificado é crime qualificado
sumar o crime ou garantir o sucesso da fuga, mantém a pelo resultado, mas não necessariamente preterdoloso (dolo
vítima em seu poder, restringindo a sua liberdade de loco- no antecedente e culpa no consequente), pois o resultado
moção. Não se confunde com a hipótese do agente privar agravador – lesão corporal grave ou morte – pode ter sido
desnecessariamente a liberdade de locomoção da vítima, provocado dolosa ou culposamente.
por período prolongado, caso em que teremos roubo em
concurso material com o delito de sequestro, eis que texto I – Se da violência resulta lesão corporal grave (art.
legal se reporta à restrição da liberdade, e não à sua pri- 157, § 3º, I): O legislador utilizou a expressão “lesão corpo-
vação. ral grave” em sentido amplo, abrangendo a lesão corporal
grave propriamente dita e também a lesão corporal gravís-
e) Se a subtração for de substâncias explosivas ou de sima (CP, art. 129, §§ 1º e 2º, respectivamente). Com o
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua advento da Lei nº 13.654/2018 a pena máxima foi aumen-
fabricação, montagem ou emprego: Essa majorante foi tada de 15 para 18 anos.
acrescida pela Lei nº 13.654/2018, referindo-se à subtração

79
IMPORTANTE: A lesão corporal leve (CP, art. 129, Tentada Tentada Tentado
caput) produzida em decorrência do roubo não constitui Tentada Consumada Tentado
qualificadora, sendo absorvida pelo crime mais grave, pois
funciona como seu meio de execução.
Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando
o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a
 O resultado agravador pode ter sido suportado pela
subtração de bens da vítima.
vítima da subtração ou por terceira pessoa.

II – Se da violência resulta morte – (art. 157, § 3º,


II): o roubo qualificado pela morte é também denominado Extorsão
de latrocínio. É crime complexo: resulta da fusão dos deli-
tos de roubo (crime-fim) e homicídio (crime-meio) e plurio- Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou
fensivo, já que ofende o patrimônio e a vida humana. grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para
outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que
 No latrocínio, a vontade do agente deve estar vol- se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
tada ao patrimônio, valendo-se da morte como meio para
alcançar o fim desejado. Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
ATENÇÃO! Se a intenção inicial do agente era apenas
a morte da vítima, mas, após a consumação do crime de § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas,
homicídio, resolve subtrair seus bens, responderá pelo crime ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço
de homicídio, em concurso com furto. até metade.

 Para que haja latrocínio é necessário, também, que § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante
a morte decorra da violência empregada durante e em razão violência o disposto no § 3º do artigo anterior. Vide Lei nº
do assalto. Ausente qualquer desses pressupostos, o agente 8.072, de 25.7.90
responderá por crime de homicídio doloso em concurso com
o roubo. § 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da
liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a
Latrocínio e pluralidade de mortes: Se no con- obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de
texto de um roubo, voltado contra um único patrimônio, 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão
duas ou mais pessoas são mortas, há um só crime de latro- corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
cínio. art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº
11.923, de 2009)
Latrocínio e concurso de agentes: A jurisprudên- Objetividade jurídica: protege-se o patrimônio e,
cia do STF se consolidou no sentido de que o coautor que secundariamente, a inviolabilidade da pessoa da vítima.
participa do roubo armado responde pelo latrocínio, ainda
que o disparo tenha sido efetuado só pelo comparsa. E de Sujeito ativo: não se exige nenhuma qualidade es-
que é desnecessário saber qual dos coautores desferiu o pecial do agente, razão pela qual o crime pode ser cometido
tiro, pois todos respondem pelo fato. por qualquer pessoa.
ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90 in- Sujeito passivo: a vítima é tanto aquela que sofre a
clui no rol dos hediondos o crime de roubo quando: a) cir- violência ou grave ameaça quanto a titular do bem atacado
cunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, (podendo ser a mesma pessoa, ou pessoas diversas).
§ 2º, inciso V); b) circunstanciado pelo emprego de arma de
fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma Conduta: a conduta de constranger significa coagir
de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); c) alguém a fazer algo, tolerar que se faça ou deixar de fazer
qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte alguma coisa. Dá-se mediante violência (física) ou grave
(art. 157, § 3º). ameaça, a fim de obter uma indevida vantagem econômica.
Consumação e tentativa: Como o latrocínio é  A vantagem, além de ser indevida, deve ser econô-
crime complexo, envolvendo subtração (roubo) e morte mica, sob pena de afastar-se o crime de extorsão.
(homicídio), é possível que uma delas se aperfeiçoe e a ou-
tra não. Logo, quatro situações podem ocorrer, cada uma Roubo x Extorsão: no roubo, o agente emprega vi-
possuindo sua respectiva solução: olência ou grave ameaça para subtrair o bem, buscando
imediata vantagem, dispensando, para tanto, a colaboração
A) subtração e morte consumadas = latrocínio consu- da vítima; na extorsão, o sujeito ativo emprega violência ou
mado grave ameaça para fazer com que a vítima lhe proporcione
B) subtração e morte tentadas = latrocínio tentado indevida vantagem mediata (futura), sendo, portanto, de
C) subtração tentada e morte consumada = latrocínio suma importância a participação do constrangido.
consumado
D) subtração consumada e morte tentada = latrocínio
Roubo – art. 157 Extorsão – art.158
tentado.
O agente faz com que a ví-
O ladrão subtrai.
tima lhe entregue.
MORTE + SUBTRAÇÃO = LATROCÍNIO
A colaboração da vítima é A colaboração é indispensá-
Consumada Consumada Consumado
dispensável. vel.
Consumado
Consumada Tentada
(Súmula 610 do STF)

80
A vantagem buscada é A vantagem buscada é medi- morte, aplicando-se as penas previstas no crime de extorsão
imediata. ata. mediante sequestro (art. 159, §§ 2° e 3°), ou seja, reclusão
de 16 a 24 anos e reclusão 24 a 30 anos, respectivamente.
 É possível a caracterização do crime de extorsão
diante da conduta do agente que invade dispositivo infor-  Nessa modalidade criminosa o agente constrange a
mático, subtrai dados e informações do titular, e em se- vítima, com o emprego de violência à sua pessoa ou grave
guida, exige vantagem para não os utilizar contra o inte- ameaça seguida da restrição da sua liberdade como forma
resse deste último. de obter a indevida vantagem econômica.

Tipo subjetivo: É o dolo. Não se admite a modali- ATENÇÃO! O sequestro relâmpago difere da extorsão
dade culposa. Exige-se também um especial fim de agir mediante sequestro (CP, art. 159), uma vez que não há pri-
(elemento subjetivo específico), representado pela expres- vação, mas restrição da liberdade. Não há encarceramento
são “com o intuito de obter para si ou para outrem indevida da vítima nem a finalidade de recebimento de resgate para
vantagem econômica”. sua soltura, e sim o desejo de obter, em face do constran-
gimento, e não da privação da liberdade, uma indevida van-
Consumação e tentativa: A extorsão é crime for- tagem econômica.
mal, de consumação antecipada ou de resultado cortado:
consuma-se no momento em que a vítima, depois de sofrer Extorsão mediante sequestro
a violência ou grave ameaça, realiza o comportamento de-
sejado pelo criminoso, ainda que em razão de sua conduta
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para
o agente não obtenha a indevida vantagem econômica. A
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou
tentativa é possível (delito plurissubsistente).
preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Vide Lei
nº 10.446, de 2002)
 Súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-
se independentemente da obtenção da vantagem indevida”.
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. (Redação dada
Causas de aumento de pena em 1/3 até a me- pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
tade (§ 1°):
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro)
a) Crime cometido por duas ou mais pessoas: a pena horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior
será obrigatoriamente aumentada, sendo indispensável que de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando
todos os envolvidos na empreitada criminosa realizem atos ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Redação
executórios da extorsão, mediante a utilização de violência dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
à pessoa ou grave ameaça, não computado eventuais partí-
cipes. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. (Redação dada
pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
b) Crime cometido mediante emprego de arma: pre-
valece na doutrina e jurisprudência o conceito de arma no
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza
sentido amplo, compreendendo os objetos confeccionados
grave: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
sem finalidade bélica, porém capazes de intimidar, ferir o
próximo (ex.: faca de cozinha, navalha, foice, tesoura,
guarda-chuva, pedra etc.). Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
(Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
 A ameaça exercida com emprego de simulacro de
arma de fogo é incapaz de gerar a majorante. § 3º - Se resulta a morte: Vide Lei nº 8.072, de
25.7.90
Extorsão qualificada (art. 158, § 2º): Há duas mo-
dalidades de extorsão qualificada: com resultado lesão cor- Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
poral grave e com resultado morte. Ambas somente se ca- (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
racterizam quando a extorsão é praticada mediante violên-
cia, não se podendo, pois, falar em extorsão qualificada
quando cometida com grave ameaça. No mais, aplicam-se § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o
todas as regras legais acerca do roubo qualificado. concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a
libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a
ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90 in- dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996)
clui no rol dos hediondos o crime de extorsão quando quali-
ficada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de Objetividade jurídica: busca-se proteger o patrimô-
lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º). nio e a liberdade de locomoção da vítima, bem como sua
integridade física.
Qualificadora pela restrição da liberdade da ví-
tima (sequestro relâmpago) § 3°: o dispositivo qualifica Sujeito ativo: qualquer pessoa pode praticar (crime
o crime quando cometido mediante a restrição da liberdade comum).
da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da
vantagem econômica. A pena de reclusão passa a ser de 6 Sujeito passivo: será vítima tanto a pessoa que teve
(seis) a 12 (doze) anos, além da multa. sua liberdade tolhida, quanto aquela que sofreu lesão patri-
monial em virtude da extorsão.
Qualificadoras pelo resultado: a parte final do § 3º
qualifica a extorsão se resulta lesão corporal grave ou

81
Conduta: o tipo objetivo do delito é "sequestrar", ATENÇÃO! No roubo e na extorsão só existe a quali-
abrangendo o cárcere privado. O direito de ir e vir pode ser ficadora quando a lesão corporal de natureza grave ou a
impedido mediante qualquer meio (violência, grave ameaça morte resultam da “violência”. Na extorsão mediante se-
etc.), com a finalidade de obtenção de qualquer vantagem, questro a qualificadora resta delineada quando o resultado
como condição ou preço do resgate. agravador emana do “fato”, e não necessariamente da vio-
lência.
IMPORTANTE: Muito embora a redação do disposi-
tivo diga "qualquer vantagem", a doutrina entende que esta Delação premiada (art. 159, § 4º): Tratando-se de
deve ser econômica, porquanto se trata de delito patrimo- causa especial de diminuição da pena, o reconhecimento da
nial. delação premiada é tarefa exclusiva do Poder Judiciário. A
delação premiada, na extorsão mediante sequestro, de-
ATENÇÃO – crime hediondo: A Lei nº 8.072/90 in- pende de quatro requisitos cumulativos:
clui no rol dos hediondos o crime de extorsão mediante se-
questro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e a) cometimento de um crime de extorsão mediante
3o). sequestro;

Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade b) crime praticado em concurso de pessoas;


consciente de privar a vítima de sua liberdade, aliada à fi-
nalidade de obter ilícita vantagem em troca de sua soltura. c) denúncia por parte de um dos criminosos à autori-
dade devendo delatar o fato à autoridade, compreendida
Consumação e tentativa: consuma-se com a priva- como qualquer agente público ou político com legitimidade
ção da liberdade da vítima, configurando o recebimento do para encetar diligências aptas a promover a libertação da
resgate mero exaurimento a ser considerando pelo magis- vítima; e
trado na dosagem da pena. A tentativa é admissível (crime
plurissubsistente). d) facilitação na libertação do sequestrado, devendo
ser eficaz, no sentido de contribuir decisivamente para a li-
 Trata-se de crime permanente, isto é, admite fla- bertação da pessoa sequestrada, não sendo a pena diminu-
grante a qualquer tempo da privação. ída se o sequestrado foi solto por outro motivo qualquer,
diverso da informação prestada pelo criminoso.
Qualificadoras: Os §§ 1º, 2º e 3º do art. 159 do
Código Penal preveem as modalidades qualificadas do delito.  Presentes os requisitos legais, a pena deve ser di-
Tendo em vista as características que lhe são peculiares, fa- minuída.
remos a análise individualizada de cada uma das qualifica-
doras elencadas. ATENÇÃO: Se o resultado agravador for produzido
por caso fortuito, força maior ou culpa de terceiro, não incide
Privação da liberdade da vítima ultrapassa o período a qualificadora.
de vinte e quatro horas: A primeira qualificadora é de na-
tureza objetiva, pois que a lei penal determina que, se a
Extorsão indireta
privação da liberdade durar mais do que 24 horas, a pena
cominada será de reclusão, de 12 (doze) a 20 (vinte) anos.
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida,
Se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior abusando da situação de alguém, documento que pode dar
de 60 (sessenta) anos: a qualificadora referente à idade do causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra
sequestrado leva em consideração, em primeiro lugar, a terceiro:
maior facilidade de que dispõem os agentes, já que, em ge-
ral, vítimas menores ou idosas possuem menor capacidade Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
de resistência. Além disso, o sequestro de pessoas nessas
circunstâncias é capaz de incutir maior temor nos familiares, Objetividade jurídica: é o patrimônio e a liberdade
causando abalos psicológicos de natureza ainda mais grave individual nas relações entre credores e devedores.
do que em circunstâncias diversas.
Sujeito ativo: qualquer pessoa. É aquele que exige
Crime cometido por bando ou quadrilha: aqui, como ou recebe documento que pode dar causa a procedimento
se pode notar, justifica-se a elevação da pena em razão da criminal contra a vítima ou terceiro.
maior periculosidade ostentada pelos agentes.
Sujeito passivo: é tanto aquele que entrega o docu-
 O art. 24 da Lei 12.850/2013 – Lei do Crime Orga- mento, quanto, eventualmente, terceira pessoa que pode
nizado conferiu nova redação ao art. 288 do Código Penal, ser prejudicada pela sorte do documento que foi dado em
e substituiu sua nomenclatura original – “quadrilha ou garantia.
bando” – por “associação criminosa”.
Conduta: para a tipificação do crime, deve haver
Lesão grave e morte: quanto aos§§ 2° e 3º, a abuso da situação em que se encontra a vítima (pessoa aflita
exemplo do que ocorre no crime de roubo, a lesão corporal compelida a entregar o documento).
ou a morte pode decorrer de culpa ou dolo do agente, sendo
certo que podem ser praticadas tanto na vítima privada da Devem estar presentes na extorsão indireta:
sua liberdade como na da extorsão, ou contra qualquer ou-
tra pessoa, desde que, obviamente, inserida no contexto fá- a) Exigência ou recebimento de documento que possa
tico do delito aqui estudado. dar causa a processo penal contra a vítima ou terceiro;

82
b) Abuso da situação de necessidade do sujeito pas- c) estelionato, apropriação indébita, fraude, d.
sivo;
d) estelionato, roubo, extorsão indireta, extorsão
c) Intuito de garantir, de forma ameaçadora, o paga-
mento de dívida.

Tipo subjetivo: é o dolo, consubstanciado na von- 03. (2013 – UEPA - PC-PA - Escriturário) Em relação aos
tade consciente de obter documento que pode dar causa à crimes patrimoniais, deve ser indiciado:
instauração de procedimento criminal, abusando da situação a) por estelionato o agente que, fazendo-se passar por au-
aflitiva da vítima. ditor fiscal, subtrai do escritório de uma empresa dois note-
books que estavam sobre mesas de trabalho, enquanto os
funcionários se afastam para buscar os livros contábeis por
ele exigidos.
Consumação e tentativa da extorsão indireta
Modali- Classificação b) por apropriação indébita, o funcionário que retira do cofre
Tentativa
dade quanto ao resultado da empresa certa quantia em dinheiro, sem saber que havia
Admissível apenas no local uma câmera, instalada justamente para monitorar
Exigir Crime formal o comportamento dos funcionários.
na forma escrita
Receber Crime material Admissível c) por receptação, o comerciante que faz um acordo com
assaltantes de seu bairro, por meio do qual se compromete
EXERCÍCIOS a comprar, para fins de revenda, peças de celulares que eles
roubarem dali por diante.
d) por extorsão mediante sequestro o indivíduo que, após
01. (2017 - MPE-RS - MPE-RS - Secretário de Diligên- tomar um casal de namorados como reféns, libera o rapaz
cias) Considere as seguintes afirmações a respeito dos cri- para buscar dinheiro, como condição para libertar a moça
mes contra o patrimônio. que continuará em seu poder até o recebimento dos valores.
I. Tratando-se de crime de roubo, o juiz poderá substituir a e) por extorsão, o indivíduo que chantageia seu concorrente
pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois em um concurso público, ameaçando apresentar provas de
terços, ou aplicar somente a pena de multa, se o criminoso um crime por ele cometido, como forma de forçá-lo a desis-
é primário e se é de pequeno valor a coisa objeto do roubo. tir da vaga, que assim será destinada ao coator.
II. No delito de estelionato a pena será aplicada em dobro
se o crime for cometido contra idoso.
04. (2008 – CESPE – PRF - Policial Rodoviário Federal)
III. O delito de receptação não admite a forma qualificada. A respeito dos crimes contra o patrimônio, assinale a opção
Quais são INCORRETAS? correta.

a) Apenas I. a) Considere a seguinte situação hipotética. Roberto tinha a


intenção de praticar a subtração patrimonial não-violenta do
b) Apenas II. automóvel de Geraldo. No entanto, durante a execução do
c) Apenas III. crime, estando Roberto já dentro do veículo, Geraldo apare-
ceu e foi correndo em direção ao veículo. Roberto, para as-
d) Apenas I e III. segurar a detenção do automóvel, ameaçou Geraldo grave-
mente, conseguindo, assim, cessar a ação da vítima e se
evadir do local. Nessa situação, Roberto responderá pelos
02. (2014 – CONSULPAM – SURG - Agente de Trânsito) To- crimes de ameaça e furto, em concurso material.
mando por base os tipos penais de crimes contra o patrimô-
b) Considere a seguinte situação hipotética. Fernando, pre-
nio, complete as lacunas abaixo para, ao final, escolher a
tendendo roubar, com emprego de arma de fogo municiada,
sequência CORRETA:
R$ 20.000,00 que Alexandre acabara de sacar em banco,
I - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, me- abordou-o no caminho para casa. Alexandre, no entanto,
diante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de reagiu, e Fernando o matou mediante o disparo de seis tiros,
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de empreendendo fuga em seguida, sem consumar a subtração
resistência. patrimonial. Nessa situação, Fernando responderá por crime
de latrocínio tentado.
II - Constranger alguém, mediante violência ou grave ame-
aça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida c) Considere a seguinte situação hipotética. Renato, va-
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar lendo-se de fraude eletrônica, conseguiu subtrair mais de
fazer alguma coisa. R$ 3.000,00 da conta bancária de Ernane por meio do sis-
tema de Internet banking da Caixa Econômica Federal.
III - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em Nessa situação, Renato responderá por crime de estelionato.
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudu- d) Uma das distinções entre o crime de concussão e o de
lento. extorsão é que, no primeiro tipo penal, o funcionário público
deve exigir a indevida vantagem sem o uso de violência ou
IV - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando de grave ameaça, que são elementos do segundo tipo penal
da situação de alguém, documento que pode dar causa a referido.
procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.
e) No crime de extorsão mediante sequestro, faz jus à dela-
a) estelionato, extorsão indireta, roubo, extorsão ção premiada o co-autor que delatou os comparsas e indicou
b) roubo, extorsão, estelionato, extorsão indireta. o local do cativeiro, ainda que reste comprovado que a ví-
tima tenha sido liberada após configurada a expectativa de

83
êxito da prática delituosa, isto é, após o recebimento do di- seguida, a mulher efetiva a subtração e deixa o local, sendo
nheiro exigido como preço do resgate. certo que o lesado somente vem a acordar algumas horas
depois. Nesse contexto, é correto afirmar que Marinalda pra-
ticou crime de:
05. (Vunesp- Delegado de Polícia- CE/2015) Aquele
a) furto qualificado.
que com prévia intenção de vantagem patrimonial, seduz
outra pessoa, convidando-a à pratica de ato sexual e, du- b) apropriação indébita.
rante o coito, amarra a vítima ao leito, impossibilitando sua
c) estelionato.
reação, a fim de que possa subtrair-lhe os pertences pesso-
ais (dinheiro, telefone celular e automóvel), comete crime d) extorsão.
de
a) extorsão mediante sequestro. e) roubo.
b) extorsão.
c) roubo.
d) furto. 10. (2013- FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia) Vito-
e) estelionato. rina, ex-funcionária da empresa de fornecimento de energia
elétrica, vestindo um uniforme antigo, foi até a casa de Pau-
liana dizendo que estava ali para receber os valores da conta
06. (2014 – FUNDATEC - SUSEPE-RS - Agente Peniten- mensal de fornecimento de energia elétrica. Acreditando em
ciário) Tício subtrai coisa alheia móvel de Mélvio e, logo Vitorina, Pauliana, pagou os valores a esta, que utilizou o
depois de subtraída a coisa, emprega violência ou grave dinheiro para comprar alguns vestidos. Entretanto, como
ameaça contra Mélvio, a fim de assegurar a impunidade do sempre, as contas dessa empresa eram e deveriam ser pa-
crime ou a detenção da coisa para si. O crime cometido por gas na rede bancária. Logo, Vitorina praticou o crime de:
Tício foi: a) furto.
a) Extorsão. b) roubo.
b) Furto. c) estelionato.
c) Extorsão indireta. d) apropriação indébita.
d) Roubo. e) extorsão.
e) Lesão corporal grave.
e) furto. GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D B D D C D A A E C
07. (2014 – FUNCAB - PJC-MT - Investigador) Eufro-
sina, experiente psicóloga e conhecedora profunda das téc-
nicas de hipnose, propõe a sua amiga Ambrosia hipnotizá-
la, sob o argumento de curá-la de um trauma da infância. CAPÍTULO III
Acreditando na cura, Ambrosia aceita a terapia. Estando sob DA USURPAÇÃO
os efeitos da hipnose e das determinações de Eufrosina, Am-
brosia entrega-lhe um colar de brilhantes, que já era cobi- Alteração de limites
çado pela psicóloga há anos. Eufrosina vai embora surrupi-
ando a joia. Assim, Eufrosina praticou o crime de: Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou
a) roubo próprio. qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para
apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
b) furto simples.
c) furto qualificado Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

d) roubo impróprio.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
e) apropriação indébita.
Usurpação de águas

08. (Vunesp - Juiz de Direito - RJ/2014) Nos estritos


I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de
termos do CP, aquele que faz ligação clandestina de energia
outrem, águas alheias;
elétrica junto a poste instalado na via pública e a utiliza em
proveito próprio
a) comete fato típico equiparado a furto. Esbulho possessório
b) comete fato típico equiparado a apropriação indébita.
c) não comete crime algum, por falta de expressa previsão II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça,
legal. ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou
d) comete estelionato. edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.

§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também


09. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Escrivão de Polícia Ci- na pena a esta cominada.
vil) A fim de subtrair pertences de Bartolomeu, Marinalda
coloca barbitúricos em sua bebida, fazendo-o desfalecer. Em

84
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego Sujeito passivo: será o proprietário do animal.
de violência, somente se procede mediante queixa.
Conduta: o tipo incrimina duas ações (crime de ação
Objetividade jurídica: É o patrimônio, relativa- múltipla): suprimir (extinguir, fazer com que desapareça,
mente à propriedade e à posse legítima de bens imóveis. ocultar) ou alterar (modificar, transformar) marca ou sinal
indicativo de propriedade em gado ou rebanho alheio.
Sujeito ativo: Somente o proprietário do imóvel con-
tíguo àquele em que é realizada a alteração de limites (crime Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
próprio). consciente de suprimir ou alterar, indevidamente, em gado
ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade.
Sujeito passivo: será o proprietário ou possuidor (le-
gítimos) do imóvel cuja área é alterada em suas divisas. Consumação e tentativa: consuma-se com a efe-
tiva supressão ou alteração da marca ou sinal.
Conduta: é crime de ação múltipla (ou conteúdo va-
riável) cujos núcleos são suprimir ou deslocar.  Caso o agente efetivamente se apodere do animal
(furto), a alteração ou supressão (não importando se ante-
Tipo subjetivo: além do dolo, consistente na von- cedente ou subsequente) ficará absorvida pelo crime patri-
tade consciente de suprimir ou deslocar tapume, marco, ou monial (princípio da consunção).
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, exige-se
também finalidade especial: intenção de apropriar-se, no CAPÍTULO IV
todo ou em parte, de coisa imóvel alheia, ocupando ou in- DO DANO
vadindo.
Dano
Consumação e tentativa: crime é formal, de consu-
mação antecipada ou de resultado cortado: consuma-se
com a efetiva supressão ou deslocamento do tapume, marco Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
ou outro sinal divisório, independentemente da apropriação
total ou parcial do imóvel alheio, que funciona como exauri- Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
mento do delito. A tentativa é possível.
Dano qualificado
Usurpação de águas (§ 1º, I): é crime comum e
formal, admitindo-se a tentativa. O sujeito passivo será o
proprietário ou possuidor da água desviada ou represada. Parágrafo único - Se o crime é cometido:

Esbulho possessório (§ 1º, II): tratando-se de I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
crime comum, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Su-
jeito passivo é aquele que detém a posse legitima do imóvel II - com emprego de substância inflamável ou explosiva,
invadido, abrangendo o possuidor indireto. se o fato não constitui crime mais grave

 A lei exige para o esbulho, atos de invasão, de en-


III - contra o patrimônio da União, de Estado, do
trada hostil no imóvel, por quatro pessoas, já que o dispo-
Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação
sitivo reclama que o agente tenha o concurso de mais de
pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou
duas pessoas (ele, agente, e mais três).
empresa concessionária de serviços públicos; (Redação
dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
Concurso material (§ 2°): haverá concurso mate-
rial se da violência empregada se configurar qualquer dos
delitos contra a pessoa (lesão corporal, homicídio). IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável
para a vítima:
Ação penal: se a propriedade é particular e não há o
emprego de violência, determina o § 3° que a ação penal Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa,
será privada. além da pena correspondente à violência.

Supressão ou alteração de marca em animais Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio alheio


(móveis ou imóveis).
Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em
Sujeito ativo: é crime comum, que pode ser prati-
gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de
cado por qualquer pessoa.
propriedade:
Sujeito passivo: será o proprietário (e o possuidor)
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. da coisa danificada.

Objetividade jurídica: tutela-se aqui a posse e a Conduta: crime de conteúdo variável, sendo os nú-
propriedade dos semoventes, considerados coisa móvel cleos: destruir, inutilizar ou deteriorar. Admitem-se as for-
para efeitos penais. mas comissiva e omissiva.

Sujeito ativo: qualquer pessoa pode praticar este ATENÇÃO! O ato de “pichação” atualmente se encon-
crime. tra tipificado no art. 65 da Lei 9.605/98 (crimes contra o
meio ambiente).

85
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode figurar como
Tipo subjetivo: o tipo subjetivo é o dolo, consistente sujeito ativo (crime comum).
na vontade consciente de destruir, inutilizar ou deteriorar
coisa alheia. Sujeito passivo: será o proprietário ou possuidor do
imóvel.
 Dano à cela para fuga do preso: para o STJ o
preso que destrói ou inutiliza as grades da cela onde se en- Conduta: o tipo admite tanto a forma comissiva (in-
contra, com o intuito exclusivo de empreender fuga, não co- troduzir), quanto a omissiva (deixar), nesta última hipótese
mete crime de dano. Já o STF decidiu que comete o crime o dono do animal sabe que este está em propriedade alheia
de dano qualificado o preso que, para fugir, danifica a cela e nada faz para retirá-lo. Há o crime ainda quando, inicial-
do estabelecimento prisional em que esta recolhida. mente, o agente tenha sido autorizado a introduzir o animal
na propriedade alheia, mas, posteriormente advertido pelo
Consumação e tentativa: consuma-se com a ocor- proprietário para que o retirasse, abandona-o no local.
rência do efetivo dano, pouco importando se o agente aufe-
riu qualquer tipo de lucro com sua conduta. A tentativa é  O tipo contém elementos normativos: "sem o con-
admissível. sentimento" e "desde que do fato resulte prejuízo" (econô-
mico).
Dano qualificado (parágrafo único):
Tipo subjetivo: é o dolo, consubstanciado na von-
a) Se o crime é praticado com violência à pessoa ou tade consciente de introduzir animal em propriedade alheia,
grave ameaça: no inciso I, a violência deve ser anterior ou sem o consentimento do proprietário ou possuidor.
concomitante ao dano, se posterior, haverá concurso mate-
rial. Consumação e tentativa: trata-se de crime mate-
rial. Só se consuma com a ocorrência de dano ao proprietá-
b) Se o crime é praticado com emprego de substância rio ou possuidor do imóvel. Se não houver prejuízo econô-
inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais mico o fato será um indiferente penal. A tentativa não é
grave: no inciso II a infração é subsidiária, podendo haver possível.
crime contra a incolumidade pública se causar risco maior.
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou
c) Se o crime é praticado contra o patrimônio da
histórico
União, Estado, Município, empresa concessionária de servi-
ços públicos ou sociedade de economia mista: no inciso III,
tem-se como patrimônio todos aqueles bens pertencentes à Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa
Administração Pública, seja de uso comum ou não (abran- tombada pela autoridade competente em virtude de valor
gendo, inclusive, os dominicais). artístico, arqueológico ou histórico:

ATENÇÃO: A partir da edição da Lei nº 13.531/2017, Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
a qualificadora abrange toda a Administração Pública,
acrescendo ao rol do art. 163, § único, III do CP, o Distrito Revogação: Este artigo foi tacitamente revogado
Federal, as autarquias, fundações públicas e empresas pelo art. 62 da Lei 9.605/1998 – Lei dos Crimes Ambientais.
públicas, que não eram contempladas até então.

d) Se o crime é praticado por motivo egoístico ou com


Alteração de local especialmente protegido
prejuízo considerável para a vítima: no inciso IV, deve o su-
jeito ativo agir com a intenção de causar o prejuízo maior,
sendo que será ele avaliado de acordo com a condição eco- Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade
nômico-financeira da vítima (relação prejuízo/fortuna). competente, o aspecto de local especialmente protegido por
lei:
ATENÇÃO! De acordo com o STF, é inaplicável o prin-
cípio da insignificância quando a lesão produzida pelo agente Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
atinge bem de grande relevância para a população.
Revogação: O art. 166 do Código Penal foi tacita-
Introdução ou abandono de animais em mente revogado pelo art. 63 da Lei 9.605/1998 – Lei dos
propriedade alheia Crimes Ambientais.

Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade Ação penal


alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o
fato resulte prejuízo: Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu
parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou queixa.
multa.
Ação penal privada: Este artigo determina a espécie
Objetividade jurídica: tutela-se a propriedade e a de ação penal para os crimes de dano simples (art. 163,
posse de bem imóvel contra eventuais danos causados por caput), de dano qualificado por motivo egoístico ou com pre-
animais arbitrariamente nele introduzidos ou abandonados juízo considerável para a vítima (art. 163, IV), e introdução
(pastoreio ilegítimo ou pastagem indevida). ou abandono de animais em propriedade alheia (art. 164).

86
 Como o dispositivo se refere unicamente a tais hi- b) Suprimir ou alocar tapume, marco, ou qualquer outro si-
póteses, nos demais delitos previstos no Capítulo IV do Tí- nal indicativo de linha divisória, para apropriar-se de coisa
tulo II da Parte Especial do Código Penal, a ação será pública móvel alheia. Destruir coisa alheia.
incondicionada.
c) Destruir ou danificar sinal indicativo de linha divisória, no
todo ou em parte. Aniquilar coisa alheia.
EXERCÍCIOS
d) Invadir limites de território privado sem autorização, ou
01. (2015 – FUNIVERSA - SAPeJUS – GO - Agente de qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, no todo ou
Segurança Prisional) Segundo a Constituição da Repú- em parte. Depreciar coisa alheia.
blica Federativa do Brasil, no artigo 5.º, caput: “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 04. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Delegado de Polícia Ci-
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à vil) Bráulio, inconformado com uma mensagem privada de
igualdade, à segurança e à propriedade”. Diante do exposto, conteúdo romântico observada no aparelho de telefonia ce-
percebe-se que o direito à propriedade é um direito funda- lular de sua namorada, decide dele se apossar como vin-
mental de caráter inviolável e, destarte, legitima o legislador gança. Contudo, enfrenta oposição da namorada, que se
ordinário a tipificar condutas que atentem contra o patrimô- posta entre o autor e o aparelho. Assim, Bráulio, para asse-
nio de terceiros. A respeito do crime de d previsto no Código gurar seu intento, empurra com violência a namorada contra
Penal pátrio, assinale a alternativa correta. a parede, ferindo-a levemente. Assegurando a posse do te-
a) O crime de dano é um crime contra o patrimônio, des- lefone, Bráulio deixa a casa da namorada, vai até um ter-
tarte, para sua configuração, faz-se necessário que o agente reno baldio e, pegando uma grande pedra que ali se encon-
vise à obtenção de lucro. tra, com ela golpeia o aparelho, de modo a torná-lo inserví-
vel, o que era sua intenção desde o início. Analisando o caso
b) O crime de dano poderá ser perpetrado pela negligência, proposto, assinale a opção que corretamente realiza a sub-
imprudência ou imperícia. sunção do comportamento do autor à norma penal.
c) O crime de dano simples é de ação privada, enquadrando- a) Dano qualificado
se no conceito de infração de menor potencial ofensivo, as-
sim, ser-lhe-á aplicado o procedimento sumaríssimo pre- b) Furto e lesão corporal.
visto na Lei n.º 9.099/1995. c) Lesão corporal.
d) Prevê o Código Penal brasileiro que haverá o crime de d) Roubo
dano qualificado se o crime for perpetrado em desfavor do
patrimônio da União, de estado, de município, de empresas e) Dano qualificado e lesão corporal.
públicas ou de fundações instituídas pelo Poder Público.
e) Por expressa previsão de legen, haverá o crime de dano
05. (2017 – VUNESP - Prefeitura de Andradina – SP -
qualificado se o agente empregar substância inflamável ou
Assistente Jurídico e Procurador Jurídico) Entre outras
explosiva, mesmo se o fato constituir um crime mais grave.
possibilidades, o crime de dano do art. 163 do CP é qualifi-
cado se cometido
02. (2012 – FAURGS - TJ-RS - Conciliador Criminal) a) por motivo fútil.
José Paulo, imprudente na condução de veículo automotor,
b) por duas ou mais pessoas.
colidiu com viatura da polícia militar do Estado do Piauí, des-
truindo-a parcialmente. Por sorte, a viatura encontrava-se c) durante o repouso noturno.
parada e desocupada no momento do acidente. Nesse caso,
d) em situação de calamidade pública.
é correto afirmar que José Paulo
e) contra o patrimônio da União, Estado ou Município.
a) responderá pelo delito de dano culposo.
b) responderá pelo delito de dano qualificado, por ter des-
truído patrimônio pertencente ao Estado do Piauí. 06. (2010 – FGV - PC-AP - Delegado de Polícia) Relati-
vamente aos crimes contra o patrimônio, analise as afirma-
c) responderá pelo delito de dano simples, nos termos do
tivas a seguir:
caput do artigo 163 do Código Penal.
I. No crime de furto, se o criminoso é primário, e a coisa
d) responderá pelo delito de dano qualificado e deverá re-
furtada é de pequeno valor, o juiz pode substituir a pena de
parar integralmente o dano causado ao patrimônio público.
reclusão pela de detenção.
e) não praticou delito de dano.
II. Considera-se qualificado o dano praticado com violência
à pessoa ou grave ameaça, com emprego de substância in-
flamável ou explosiva (se o fato não constitui crime mais
03. (2016 – IESES - TJ-MA - Titular de Serviços de No-
grave), contra o patrimônio da União, Estado, Município,
tas e de Registros - Remoção) Podemos definir como cri-
empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade
mes de usurpação e dano segundo o Código Penal Brasileiro,
de economia mista ou ainda por motivo egoístico ou com
respectivamente:
prejuízo considerável para a vítima.
a) Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro
III. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes con-
sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo
tra o patrimônio em prejuízo do cônjuge, na constância da
ou em parte, de coisa imóvel alheia. Destruir, inutilizar ou
sociedade conjugal, desde que não haja emprego de grave
deteriorar coisa alheia.
ameaça ou violência à pessoa ou que a vítima não seja idosa
nos termos da Lei 10.741/2003.

87
a) pelo crime de roubo, visto que se utilizou de violência
Assinale: para danificar a porta.
a) se somente a afirmativa I estiver correta. b) apenas pelo crime de furto, em razão do princípio da sub-
sidiariedade.
b) se somente a afirmativa II estiver correta.
c) apenas pelo crime de furto, em razão do princípio da con-
c) se somente a afirmativa III estiver correta.
sunção.
d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
d) pelos crimes de furto e de dano.
e) se todas as afirmativas estiverem corretas.
e) apenas pelo crime de furto, em razão do princípio da es-
pecialidade.

07. (2010 - TRT 21R (RN) - TRT - 21ª Região (RN) -


Juiz do Trabalho) Durante o movimento grevista, três em-
GABARITO
pregados filiados ao sindicato da categoria profissional pra-
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
ticaram as seguintes condutas: o primeiro, fez uma ligação
clandestina, por meio de um fio, entre o poste de energia da C E A E E E A B E C
rua e o carro de som do sindicato, parado na calçada do
portão de entrada da empresa, propiciando o funcionamento
contínuo do equipamento e dos alto-falantes; o segundo, CAPÍTULO V
escalou o muro lateral do estabelecimento, passou por cima DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
da cerca elétrica e, em seguida, retirou e se apropriou da
câmera de filmagem instalada na parede interna, levando-a Apropriação indébita
consigo na mochila; o terceiro, que estava trabalhando nor-
malmente, dirigiu-se, de forma sorrateira, ao setor adminis-
trativo da empresa, abriu o arquivo das pastas de contratos Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que
e cheques de clientes e os rasgou. Os crimes cometidos pe- tem a posse ou a detenção:
los três empregados foram, respectivamente:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
a) furto; furto qualificado e dano;
b) apropriação indébita; roubo e estelionato; Aumento de pena
c) furto qualificado; roubo e estelionato;
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o
d) apropriação indébita; furto qualificado e dano qualificado; agente recebeu a coisa:
e) nenhuma das respostas é correta.
I - em depósito necessário;

08. (2008 – FGV - TJ-MS - Juiz) São crimes contra o pa- II - na qualidade de tutor, curador, síndico,
trimônio: liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
a) roubo, furto, estelionato e lesão corporal. judicial;

b) roubo, furto, estelionato e usurpação de águas. III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
c) roubo, furto, estelionato e peculato.
Objetividade jurídica: é a proteção da propriedade.
d) roubo, furto, estelionato e moeda falsa.
e) roubo, furto, estelionato e injúria. Sujeito ativo: prevalece tratar-se de crime comum,
que pode ser praticado por qualquer pessoa a quem seja
confiada a posse ou a detenção de determinado bem móvel.
09. (2014 - FMP Concursos - TJ-MT - Remoção) Pratica
o crime de dano qualificado o agente que destruir, inutilizar  Se funcionário público, apropriando-se de coisa, pú-
ou deteriorar coisa alheia (art. 163 do CP) blica ou particular, em seu poder em razão do ofício, carac-
teriza-se o crime do art. 312 do CP (peculato).
a) com violência a animais.
b) com emprego de qualquer substância perigosa para a sa- Sujeito passivo: será aquele atingido em seu patri-
úde. mônio pela indevida apropriação; pode ser pessoa física ou
jurídica, não necessariamente aquele que entregou o bem
c) com emprego de chave falsa. ao agente.
d) com emprego de astúcia.
Conduta: trata-se de crime de ação única, cujo com-
e) contra o patrimônio de empresa concessionária de servi- portamento nuclear se consubstancia no verbo apropriar-se
ços públicos. (assenhorar-se, tomar para si) coisa alheia móvel, de que
tem a posse ou detenção, passando a agir arbitrariamente
como se dono fosse.
10. (2014 – VUNESP - PC-SP - Delegado de Polícia)
Para subtrair um automóvel, “X”, de forma violenta, danifi- Pode ocorrer:
cou a sua porta. Nesse caso, “X” deverá responder

88
Pela retenção: o agente demonstra ânimo de não
devolver; Inciso II – Na qualidade de tutor, curador, síndico, li-
quidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judi-
Pela disposição da coisa: através do consumo próprio cial: Faz-se presente aqui a figura do particular nomeado
indevido. pelo juiz como depositário. A razão de existir da causa de
aumento de pena repousa na relevância das funções exerci-
Para que se perfaça o crime de apropriação indébita das pelas pessoas indicadas pelo texto legal, que recebem
pressupõe-se o atendimento dos seguintes requisitos: coisas alheias para guardar consigo, necessariamente, até o
momento adequado para devolução.
1) a vítima deve entregar voluntariamente o bem:
quer isto dizer que a posse ou a detenção deve ser legítima Inciso III – Em razão de ofício, emprego ou profissão:
(com a concordância expressa ou tácita do proprietário). A pena mais grave se justifica pela maior reprovabilidade do
Não pode ser empregada, na execução do crime, violência, fato praticado por pessoas que, em decorrência de suas ati-
grave ameaça ou fraude, pois, do contrário, configurar-se-á vidades profissionais, ingressam na posse ou detenção de
delito de roubo (ar. 157) ou estelionato (art. 171). coisas alheias, para restituí-las futuramente, mas não o fa-
zem.
2) posse ou detenção desvigiada: a posse ou a deten-
ção exercida pelo agente deve ser desvigiada (confiada sem Apropriação indébita previdenciária (Incluído pela
vigilância). Lei nº 9.983, de 2000)

ATENÇÃO: Se o funcionário, no estabelecimento co-


Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as
mercial, aproveita-se de momento de distração do patrão
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma
para se apropriar de mercadorias, será autor de furto, e não
legal ou convencional:
do delito em estudo;

3) a ação do agente deve recair sobre coisa alheia Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
móvel (possível de ser transportada de um local para outro.)
Coisa alheia quer dizer coisa de propriedade atual de ou- § 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: I
trem, esteja, ou não, na posse direta ou imediata do propri- – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância
etário. destinada à previdência social que tenha sido descontada de
pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada
4) inversão do ânimo da posse: após obter legitima- do público;
mente a coisa, o agente passa a agir como se fosse seu
dono. Apura-se a inversão por meio de atos de disposição, II – recolher contribuições devidas à previdência social
como venda e locação, ou pela recusa mesma em restituir a que tenham integrado despesas contábeis ou custos
coisa. relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;

Tipo subjetivo: é o dolo subsequente à posse da


III - pagar benefício devido a segurado, quando as
coisa, representado pela vontade consciente de se apropriar
respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à
de objeto alheio móvel (animus rem sibi habendi).
empresa pela previdência social.
ATENÇÃO: quem transporta malote lacrado ou cade-
ado para outrem não tem a posse sobre o conteúdo. Por- § 2o É extinta a punibilidade se o agente,
tanto, se durante o transporte, o agente inverte o animus espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento
da posse e rompe o lacre ou cadeado para apropriar-se de das contribuições, importâncias ou valores e presta as
valor que há dentro do malote, comete furto com rompi- informações devidas à previdência social, na forma definida
mento de obstáculo, e não apropriação indébita. em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.

Consumação e tentativa: por tratar-se de crime § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
material, consuma-se com a exteriorização da inversão do aplicar somente a de multa se o agente for primário e de
animus da posse, transformando-a em domínio, ou seja, bons antecedentes, desde que:
quando o agente pratica atos incompatíveis com a possibili-
dade de posterior restituição da coisa. Prevalece ser possível I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e
a tentativa, como, por exemplo, venda frustrada. antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição
social previdenciária, inclusive acessórios; ou
Causas de aumento da pena (art. 168, § 1º): O §
1º traz hipóteses de apropriação indébita agravada ou cir-
cunstanciada, em que a pena é aumentada de 1/3 (um II – o valor das contribuições devidas, inclusive
terço). Assim, a pena será aumentada se o agente recebe a acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela
coisa: previdência social, administrativamente, como sendo o
mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
Inciso I – Em depósito necessário: A causa de au-
mento de pena em análise aplica-se ao depósito necessário § 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se
miserável (art. 647, II, do CC), aquele em que a vítima é aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo
atingida por alguma calamidade (incêndio, inundação), não valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele
tinha outra opção a não ser confiar a guarda da coisa ao estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo
depositário, que se aproveitou da sua fragilidade e do mo- para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído
mento de dificuldade para trair sua confiança e apropriar-se pela Lei nº 13.606, de 2018)
do bem.

89
Objetividade jurídica: tutela-se, nesta espécie de Perdão judicial e privilégio (§ 3°): o § 3° faculta
apropriação, exatamente o patrimônio de todos aqueles que ao juiz perdoar ou aplicar somente pena pecuniária quando,
fazem parte do sistema de seguridade, mais precisamente primário e portador de bons antecedentes, o agente: a) pro-
o previdenciário. move o pagamento dos débitos previdenciários após o início
da execução fiscal, mas antes do oferecimento da denúncia;
Sujeito ativo: será o responsável tributário, ou seja, b) se apropria de valor incapaz de movimentar a máquina
aquele que, por lei, está obrigado a repassar a contribuição administrativa no sentido de receber o montante devido.
recolhida dos contribuintes à Previdência Social.
 A competência para processar e julgar o delito é,
 Por falta de previsão legal, não é possível imputar em regra, da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF), por se
o delito à pessoa jurídica, mas tão somente aos seus admi- tratar de crime praticado em detrimento dos interesses da
nistradores. União, órgão federativo responsável pela instituição das
contribuições previdenciárias.
Sujeito passivo: é a União, que por meio da Receita
Federal do Brasil arrecada e fiscaliza as contribuições previ- Vedação ao perdão judicial (§ 4º): Analisando
denciárias. conjuntamente o § 3.º e o novo § 4.º teremos que em caso
de parcelamento de contribuições previdenciárias cujo va-
Conduta: prevê o tipo apenas uma ação nuclear, que lor seja superior ao estabelecido administrativamente pela
é a de deixar de repassar à previdência social os valores previdência social como sendo o mínimo para ajuizamento
recolhidos dos contribuintes no prazo e forma legal (no caso de suas execuções fiscais, será vedado ao juiz deixar de
de previdência oficial) ou convencional (previdência pri- aplicar a pena ou aplicar somente a pena de multa, mesmo
vada). se o agente for primário e de bons antecedentes.

Tipo subjetivo: o STF e o STJ têm se posicionado


pela exigência somente do dolo genérico.
Apropriação de coisa havida por erro, caso
fortuito ou força da natureza
Consumação e tentativa: o entendimento domi-
nante na doutrina é o de que se trata de crime formal, dis-
pensando o locupletamento do agente ou o efetivo prejuízo Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda
ao Erário. ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:

Formas assemelhadas (§ 1 °): diferentemente do Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.


caput, as condutas descritas no § 1º incriminam o contribu-
inte-empresário. As condutas são: Parágrafo único - Na mesma pena incorre:

I - Não repassar à Previdência os valores das contri-


Apropriação de tesouro
buições devidas pelo segurado: o sujeito ativo (seja agente
público ou não) não repassa à Previdência os valores das
contribuições devidas pelo segurado. O proprietário de em- I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria,
presa, por exemplo, está obrigado por lei a reter o valor que no todo ou em parte, da quota a que tem direito o
deveria ser recolhido pelo seu empregado, segurado da Pre- proprietário do prédio;
vidência e, posteriormente, repassá-los ao órgão governa-
mental. Aqui, depois de reter o valor devido, não o repassa. Apropriação de coisa achada

II - Não recolher contribuições devidas à previdência II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria,
social que tenham integrado despesas contábeis ou custos total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou
relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços: legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade
nesta hipótese o contribuinte (empresário) contabiliza o va- competente, dentro no prazo de quinze dias.
lor da contribuição devida em razão da manutenção de fun-
cionários no preço final do produto, mas não promove o de-
Objetividade jurídica: é o patrimônio que, de al-
vido recolhimento.
guma forma, se encontra fora da esfera de vigilância do seu
proprietário ou possuidor.
III - Não pagar benefício devido a segurado, quando
as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsa-
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). O
dos à empresa pela previdência social: trata de benefícios
dever de restituição, nessas hipóteses, recai sobre todos os
pagos pelo governo aos segurados, como salário-família ou
indivíduos.
salário maternidade. A conduta consiste em não repassar
aos funcionários tais benefícios quando os mesmos já tive-
Sujeito passivo: figura o proprietário do bem, que
rem sido reembolsados à empresa.
tem a coisa retirada de sua esfera de disponibilidade em vir-
tude de erro (próprio ou de terceiro), caso fortuito ou força
Extinção da punibilidade (§ 2°): Houve revogação
da natureza.
tácita do dispositivo pelo art. 9º, caput, da Lei 10.684/2003.
Se o agente for beneficiado pela concessão do parcelamento
Conduta: O núcleo do tipo é “apropriar-se”, ou seja,
dos valores devidos a título de contribuição social previden-
entrar na posse de algo, comportando-se em relação à coisa
ciária, ou qualquer acessório, o pagamento integral do dé-
como se fosse seu dono. A diferença existente entre a apro-
bito importará na extinção da punibilidade, com fulcro no
priação indébita (vista no art. 168) e a figura criminosa em
art. 83, § 4º, da Lei 9.430/1996, com a redação conferida
estudo é a forma como a coisa chega às mãos do agente.
pela Lei 12.382/2011.

90
Na primeira (art. 168), o proprietário, voluntariamente, con- e não a devolve ao dono ou legítimo possuidor (quando co-
fia (entrega) a coisa ao autor; na segunda (art. 169), o nhecido) ou à autoridade competente, dentro no prazo de
agente adquire a posse ou detenção por erro, caso fortuito 15 dias (crime a prazo).
ou força da natureza.
 Entende-se por "perdida" a coisa que o foi em local
 Por ERRO entende-se a falsa percepção da reali- público desde que não tenha sido abandonada pelo seu
dade, que pode recair sobre: dono.

a) a pessoa: João deve certa quantia a Antonio, mas, ATENÇÃO! A apropriação de coisa abandonada (res
ao efetuar o pagamento, o faz em favor de um homônimo, derelicta) e da coisa de ninguém ou que nunca teve propri-
que nada opõe; etário ou possuidor (res nullius) não constitui crime.

b) o objeto: João adquire um anel com revestimento Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o
dourado, mas recebe do vendedor objeto semelhante feito
disposto no art. 155, § 2º.
de ouro;
Apropriação indébita privilegiada - A exemplo do
c) a obrigação: João efetua o pagamento a seu forne-
artigo 155, § 2º, que traz figura semelhante para o delito de
cedor, mas, por engano, paga novamente.
furto, poderá o juiz substituir a pena de reclusão pela de
detenção, reduzi-la de um a dois terços, ou aplicar somente
Tipo subjetivo: é o dolo que se consubstancia na
a pena de multa, desde que seja primário o agente e de
vontade de, uma vez recebida a coisa por erro, caso fortuito
pequeno valor a coisa apropriada.
ou força da natureza, dela se apropriar, não desfazendo o
erro.

 É de se observar que somente se caracteriza este EXERCÍCIOS


delito se o agente percebe o erro após ter recebido a coisa, 01. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Perito em Telecomuni-
pois, se o constata no momento mesmo em que se dá a cação) Segundo o Código Penal, apropriar-se de coisa
transmissão, e permanece propositadamente em silêncio, alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção tipifica o
há estelionato em virtude da manutenção da vítima em erro. crime de:

É a falsa percepção da realidade. Pode recair a) furto.


Erro sobre a pessoa ou sobre a coisa (identidade, b) roubo.
qualidade ou quantidade).
É o efeito produzido por uma causa estra- c) extorsão.
Caso for-
nha, não imputável às partes. Exemplo: ave d) extorsão indireta.
tuito
que alça voo e pousa no terreno do vizinho
São os eventos climáticos. Exemplo: venda- e) apropriação indébita.
Força da
val que desprende roupa do varal e a faz cair
natureza
no terreno do vizinho.
02. (2016 - MPE-GO - MPE-GO - Promotor de Justiça
Substituto) Caio entrega a Tício, seu amigo e funcionário
Consumação e tentativa: consuma-se no momento do Detran, uma quantia em dinheiro para que este último
em que o agente age como se dono fosse, transformando a pague uma multa naquele público. Tício, no entanto, apro-
posse em propriedade, como se dá na apropriação do art. pria-se do dinheiro. Nesse caso, Tício deverá ser responsa-
168. bilizado pelo crime de:
a) apropriação indébita
Apropriação de tesouro (parágrafo único, I): tutela-se
o patrimônio, mais especificamente a quota de tesouro en- b) peculato furto
contrado em prédio de sua propriedade (art. 1.264 CC). c) peculato apropriação

O sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa. A d) peculato mediante o erro de outrem
vítima (sujeito passivo) será o proprietário do imóvel.

 Por tesouro entende-se o depósito antigo de coisas 03. (2015 – FGV - Prefeitura de Paulínia – SP - Guarda
preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória (art. Municipal) Um funcionário da Farmácia Vida Boa é o res-
1.264 CC). ponsável pelo pagamento das contas da sociedade empre-
sarial junto ao estabelecimento financeiro. Em determinada
ATENÇÃO: achar tesouro não é crime. A conduta só data, quando levava R$ 2.000,00 ao Banco para depósito a
passará a ser criminosa a partir do momento em que houver pedido do gerente da sociedade, decide, no caminho, ficar
a recusa do inventor em dividir o valioso achado com o pro- com R$ 1.000,00 para si e apenas depositar na conta os
prietário do prédio. outros R$ 1.000,00. Não falsifica, porém, qualquer compro-
vante de depósito, mas simplesmente não o entrega ao res-
 Caso o descobridor não tenha permissão para estar ponsável. Considerando a situação narrada, a conduta do
no imóvel em que descobriu o tesouro, e dele se apropria, funcionário configura:
estaremos diante do crime de furto (art. 155 do CP).
a) apenas ilícito civil, sendo penalmente atípica;
Apropriação de coisa achada (Parágrafo único, II): o b) crime de furto;
dispositivo pune a conduta daquele que acha coisa perdida

91
c) crime de estelionato; c) apropriação indébita simples - Artigo 168 do Código Pe-
nal;
d) crime de receptação;
d) receptação simples - Artigo 180, caput, do Código Penal;
e) crime de apropriação indébita.
e) apropriação indébita qualificada - Artigo 168, §1º, III do
Código Penal.
04. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciá-
rio - Área Administrativa) Lucius, funcionário público, es-
crevente de cartório de secretaria de Vara Criminal, apro- 08. (2013 – FCC - TJ-PE - Titular de Serviços de Notas
priou-se de um relógio valioso que foi remetido ao Fórum e de Registros) Para que haja consumação do crime de
juntamente com os autos do inquérito policial no qual foi apropriação indébita, a coisa necessariamente precisa ser
objeto de apreensão. Lucius cometeu crime de
a) subtraída.
a) apropriação de coisa achada.
b) utilizada.
b) apropriação indébita simples.
c) destruída.
c) apropriação indébita qualificada pelo recebimento da
d) perdida.
coisa em razão de ofício, emprego ou profissão.
e) assenhorada.
d) apropriação de coisa havida por erro.
e) peculato.
09. (2014 – FCC - TRT - 18ª Região (GO) - Juiz do Tra-
balho) No crime de apropriação indébita,
05. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciá-
a) o dolo é antecedente à posse.
rio - Biblioteconomia) Penélope, funcionária pública, re-
cebeu doações de roupas feitas para a Secretaria de Assis- b) a ação penal é sempre pública incondicionada, indepen-
tência Social, local em que exercia as suas funções, desti- dentemente da condição da vítima.
nadas a campanha de solidariedade, para serem distribuídas
a pessoas pobres. De posse dessas mercadorias, apropriou- c) o Juiz pode reduzir a pena se primário o criminoso e de
se de várias peças. Nesse caso, Penélope pequeno valor a coisa apropriada.

a) cometeu crime de apropriação indébita simples. d) é possível o perdão judicial no caso de apropriação indé-
bita culposa.
b) cometeu crime de peculato doloso.
e) há aumento da pena quando o agente recebe a coisa em
c) cometeu crime de apropriação indébita qualificada pelo razão de emprego, mas não de profissão.
recebimento da coisa em razão de ofício, emprego ou pro-
fissão.
d) cometeu crime de peculato culposo. 10. (2012 – FCC - TRT - 20ª REGIÃO (SE) - Juiz do
Trabalho) No crime de apropriação indébita previdenciária,
e) não cometeu delito por tratar-se de bens recebidos em a possibilidade de o juiz deixar de aplicar a pena, se presen-
doação. tes determinadas situações expressamente previstas em lei,
constitui hipótese de
a) renúncia.
06. (2010 - PC-SP - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil)
O sujeito A, proprietário de oficina mecânica, pegou o carro b) absolvição imprópria.
de B, que lhe havia sido entregue para reparos,e não mais
o devolveu. Cometeu o delito de c) indulto.

a) estelionato. d) perdão judicial.

b) apropriação indébita. e) excludente legal da culpabilidade.

c) furto simples.
d) furto privilegiado. GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
e) roubo. E A E E B B E E C D

07. (2014 – FGV - MPE-RJ - Estágio Forense) Jonas,


advogado de Paulo, com procuração regularmente outor- CAPÍTULO VI
gada nos autos de uma determinada ação de ressarcimento DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
de ds morais, retira de uma agência bancária situada no fó-
rum o valor em espécie correspondente à indenização objeto Estelionato
da condenação, constante do mandado judicial de paga-
mento. Entretanto, entrega apenas uma parte do valor ao Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem
seu cliente, retendo para si, indevidamente, 1/3 (um terço) ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
da quantia recebida. O delito cometido pelo causídico é: em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
a) estelionato - Artigo 171, caput, do Código Penal; fraudulento:

b) furto fraude - Artigo 155, §4º, II, do Código Penal;

92
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
quinhentos mil réis a dez contos de réis. cometido em detrimento de entidade de direito público ou
de instituto de economia popular, assistência social ou
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor beneficência.
o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto
no art. 155, § 2º. Estelionato contra idoso ou vulnerável (Redação
dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro,
se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável, conside-
Disposição de coisa alheia como própria
rada a relevância do resultado gravoso. (Redação dada pela
Lei nº 14.155, de 2021)
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou
em garantia coisa alheia como própria; § 5º Somente se procede mediante representação,
salvo se a vítima for: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
própria
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº


coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou 13.964, de 2019)
imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante III - pessoa com deficiência mental; ou (Incluído
pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer pela Lei nº 13.964, de 2019)
dessas circunstâncias;
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Defraudação de penhor
Noção inicial: O estelionato é crime patrimonial pra-
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo ticado mediante fraude. A fraude consiste na lesão patrimo-
credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando nial por meio de engano.
tem a posse do objeto empenhado;
Objetividade jurídica: é a proteção do patrimônio
Fraude na entrega de coisa da pessoa enganada.

Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).


IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de
coisa que deve entregar a alguém;
Sujeito passivo: qualquer pessoa que sofra lesão
patrimonial ou que foi enganada pela ação fraudulenta em-
Fraude para recebimento de indenização ou valor preendida pelo agente.
de seguro
ATENÇÃO! No estelionato exige-se que a vítima seja
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa pessoa certa e determinada. Do contrário, se ação fraudu-
própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as lenta ocorrer em detrimento do povo ou de número indeter-
conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver minado de pessoas ("pirâmide", “vídeo-bingos”), ocorrerá
indenização ou valor de seguro; crime contra a economia popular.

 Se pessoa idosa, a pena será dobrada, nos termos


Fraude no pagamento por meio de cheque
do § 4º, acrescentado pela Lei 13.228/2015.

VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos Conduta: são elementares imprescindíveis para a
em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. existência do crime: a fraude, a vantagem ilícita e o prejuízo
alheio.
Fraude eletrônica
A fraude é utilizada pelo agente para induzir ou man-
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) ter a vítima em erro: Induzir: o agente cria a falsa percepção
anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de da realidade. Manter: o agente aproveita-se do engano es-
informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido pontâneo da vítima.
a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou en-
vio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro IMPORTANTE: A fraude em certames de interesse
meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de público (concurso público, avaliação ou exame públicos, pro-
2021) cesso seletivo para ingresso no ensino superior ou exame
ou processo seletivo previstos em lei) configura o crime
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, con- previsto no art. 311-A, criado pela lei 12.550/11 (“Cola ele-
siderada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de trônica”).
1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado
mediante a utilização de servidor mantido fora do território  Na execução do crime pode o agente valer-se de
nacional. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.

93
É a encenação material mediante uso de pequeno valor do prejuízo (dano igual ou inferior a um sa-
objetos ou aparatos aptos a enganar, como lário mínimo).
Artifício
o "bilhete premiado", a utilização de dis-
farce etc. Figuras equiparadas (§ 2º):
Ardil É a astúcia, conversa enganosa.
I - Disposição de coisa alheia como própria: o sujeito
Outro
O silêncio, por exemplo (estelionato por passivo será tanto o adquirente de boa-fé quanto o real pro-
meio
omissão), muito comum para manter a ví- prietário da coisa (crime de dupla subjetividade passiva).
fraudu-
tima em erro. Dispensa-se a tradição (no caso de coisa móvel), ou o re-
lento
gistro (coisa imóvel). A tentativa é possível (delito pluris-
subsistente).
Vantagem patrimonial - para a caracterização do
crime, a vítima deve sofrer um prejuízo patrimonial que cor-
 Se o furtador vender a coisa subtraída como se pró-
responda à vantagem indevida obtida pelo agente. Quando
pria fosse pratica apenas furto (art. 155 do CP), constituindo
o tipo se refere à "vantagem indevida” e "prejuízo alheio",
o estelionato um post factum (fato posterior) impunível.
fica claro que quem obtém ilicitamente algum bem, evidente
que está lesando o patrimônio de alguém e está lhe propor-
II - Alienação ou oneração fraudulenta de coisa pró-
cionando um "prejuízo".
pria: o agente vende coisa (móvel ou imóvel) sua (própria),
porém onerada, silenciando sobre a existência do gravame.
Dinheiro falso: Quem faz compras com moeda falsa,
Crime próprio (exige do agente a qualidade de dono da coisa
valendo-se de artifício para o fim de obter vantagem ilícita
gravada).
em prejuízo alheio, em regra, pratica crime de moeda falsa
(art. 289 ou art. 290). Entretanto, se a falsificação for gros-
III - Defraudação de penhor: é pressuposto do tipo a
seira, será estelionato (art. 171), e a competência é da Jus-
existência de contrato pignoratício (penhor). O sujeito ativo
tiça Estadual- Súmula 73 do STJ.
será o devedor que conserva a posse da coisa empenhada,
e, passivo, o credor titular do penhor (art. 1.43 I do CC).
Estelionato e falsidade documental: Quanto ao
sujeito que falsifica um documento e, posteriormente, dele
IV- Fraude na entrega de coisa: substância é a natu-
se vale para enganar alguém, obtendo vantagem ilícita em
reza da coisa, é a sua essência (o agente substitui diaman-
prejuízo alheio, responde apenas pelo estelionato, que ab-
tes por vidro). Qualidade é o seu atributo, seu modo de ser
sorve a falsidade documental – é a posição adotada pela
(o agente substitui a coisa por outra aparentemente igual,
Súmula 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelio-
mas economicamente inferior). Quantidade é relacionada a
nato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”.
números como peso, dimensão etc. (o agente entrega, do-
losamente, menos do que estaria obrigado).
Fraude ou torpeza bilateral - dá-se a fraude bila-
teral quando os sujeitos querem enganar um ao outro. O
IV- Fraude na entrega de coisa: substância é a natu-
tipo não exige que a vítima tenha boa intenção, subsistindo
reza da coisa, é a sua essência (o agente substitui diaman-
o estelionato. Assim, se o ofendido se deixou enganar pelo
tes por vidro). Qualidade é o seu atributo, seu modo de ser
engodo de outrem, ainda que movido por ganância, nem por
(o agente substitui a coisa por outra aparentemente igual,
isso se apaga a conduta criminosa do estelionatário. Exem-
mas economicamente inferior). Quantidade é relacionada a
plo: “conto da guitarra”, em que o sujeito passivo pretende,
números como peso, dimensão etc. (o agente entrega, do-
com a aquisição da “máquina”, fabricar dinheiro.
losamente, menos do que estaria obrigado).
Clonagem de cartão bancário: Ocorre o delito de
V- Fraude para recebimento de indenização ou valor
furto qualificado pela fraude quando há clonagem de cartão
de seguro: o sujeito ativo será o segurado, e, passivo, a
bancário para efetuar saque indevido perante terminal ele-
seguradora. É crime formal, perfazendo-se com o emprego
trônico de instituição financeira.
da fraude, independente do recebimento da indenização.
Estelionato x Furto mediante fraude - No furto
VI - Fraude no pagamento por meio de cheque: o su-
mediante fraude, o agente aplica o ardil para que a vítima
jeito ativo é o emitente. Existem duas condutas:
diminua a vigilância da vítima sobre o bem para ter mais
facilidade de subtração a coisa. Já no estelionato, a agente
1) Emissão de cheque sem provisão de fundos.
aplica o ardil para que a vítima, iludida, lhe entregue a coisa
voluntariamente.
2) Frustração de seu pagamento mediante contraor-
dem ao banco sacado.
Tipo subjetivo: pune-se o dolo, consistente na von-
tade de induzir ou manter alguém em erro a fim de obter
ATENÇÃO! A emissão de cheque pós-datado sem
indevida vantagem ilícita, para si ou para outrem. No indu-
posterior fundo junto ao banco sacado, não configura o
zimento a erro, o dolo deve anteceder a ação. Na manuten-
crime, pois tal prática costumeira desnatura o cheque, dei-
ção, será concomitante.
xando de ser ordem de pagamento à vista, revestindo-se
das características de nota promissória, logo, mera garantia
Consumação e tentativa: o delito só se consuma
do crédito.
com o emprego da fraude, seguido da obtenção da vanta-
gem indevida e correspondente lesão patrimonial de ou-
Fraude eletrônica - qualificadora (§ 2º-A): o
trem. A ausência de qualquer elemento configura tentativa.
agente obtém vantagem ilícita por meio de informações da
vítima que ele obteve da própria vítima ou de um terceiro
Privilégio (§ 1o): são pressupostos do privilégio: a)
que foram induzidos em erro. O grande diferencial aqui é
primariedade do agente, isto é, não reincidência; b)
que a atuação do agente foi por meio eletrônico, ou seja, a
vítima ou o terceiro foram induzidos a erro por meio de:

94
a) Redes sociais (ex: Facebook, Instagram); ATENÇÃO: Ação penal no crime de estelionato (§
5º): A Lei 13.964/2019 – Pacote Anticrime, acrescentou o
b) Contatos telefônicos (ex: simulando que se trata
§ 5º ao artigo 171, alterando a natureza da ação penal, para
de ligação da operadora de cartão de crédito);
tornar o crime de estelionato de AÇÃO PENAL PÚBLICA
c) Envio de correio eletrônico fraudulento (ex: e-mail CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO, com exceções.
que imita correspondência da loja, banco etc.);
Assim, a regra é que o crime exija a representação
d) ou qualquer outro meio fraudulento análogo. para início da ação penal, procedendo-se mediante ação
penal pública incondicionada apenas se a vítima for a
Furto mediante fraude por dis- Estelionato mediante Administração Pública, direta ou indireta; criança ou
positivo eletrônico ou informá- fraude eletrônica
adolescente; pessoa com deficiência mental; ou maior de 70
tico (art. 155, § 4º-B) (art. 171, § 2º-A) (setenta) anos de idade ou incapaz.
O agente subtrai coisa alheia mó- O agente obtém vantagem
vel por meio de dispositivo eletrô- ilícita com a utilização de
nico ou informático, conectado ou informações fornecidas AÇÃO PENAL NO CRIME DE ESTELIONATO
não à rede de computadores, com pela vítima ou por terceiro Ação penal pública CONDICIONADA à
REGRA
ou sem a violação de mecanismo induzido a erro por meio de representação da vítima
de segurança ou a utilização de redes sociais, contatos te- Ação penal pública INCONDICIONADA quando a
programa malicioso, ou por qual- lefônicos ou e-mail fraudu- vítima for:
quer outro meio fraudulento aná- lento, ou por qualquer ou- I - a Administração Pública, direta ou indireta;
logo. tro meio fraudulento aná- EXCEÇÃO
II - criança ou adolescente;
logo. III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 anos de idade ou incapaz.
Pena: 4 a 8 anos. Pena: 4 a 8 anos.

Causa de aumento de pena (§ 2°-B): a pena é au-


Duplicata simulada
mentada (1/3 a 2/3) em razão do fato representar, de algum
modo, uma ameaça à soberania nacional. Além disso, essa
circunstância acarreta uma maior dificuldade na identifica- Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda
ção e eventual responsabilização penal dos envolvidos, jus- que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade
tificando uma maior reprimenda. ou qualidade, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela
Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Atenção – elemento subjetivo: para que o autor
responda pela causa de aumento de pena supra é indispen- Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
sável que exista dolo (consciência e vontade), ou seja, é multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
necessário que o agente saiba que, no caso concreto, está
sendo utilizado um servidor mantido no exterior. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele
que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro
Causa de aumento de pena (§ 3°): A razão do au- de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968)
mento é que nesses casos há lesão do patrimônio de diver-
sas vítimas, afetando o próprio interesse social ou o inte- Objetividade jurídica: protege-se tanto o patrimô-
resse particular de numerosas vítimas. nio particular quanto a boa-fé que deve integrar as relações
mercantis (espécie de deliquência empresarial).
 A presente majorante é aplicada quando figura
como vítima entidade autárquica da Previdência Social (Sú- Sujeito ativo: apenas aquele que emite o falso título.
mula 24 do STJ). Os demais endossantes e o avalista, sozinhos, não podem
figurar no polo ativo, vez que endossar ou avalizar o título
Estelionato contra idoso ou vulnerável - § 4º): A não se enquadra na ação nuclear típica emitir (possível, no
partir da Lei nº 14.155/2021, a pena aumenta-se de 1/3 ao entanto, que sejam partícipes).
dobro sendo a vítima:
1) Idoso: o conceito de idoso no Brasil é dado pelo Sujeito passivo: poderá ser o sacado, quando aceita
art. 1º da Lei nº 10.741/2003, ou seja, a pessoa com idade o título emitido de boa-fé (se de má-fé, pode, conforme o
igual ou superior a 60 anos. caso, ser partícipe do crime) ou o tomador, que é aquele
que desconta a duplicata.
2) Vulnerável: como não foi dado um conceito espe-
cífico, deve-se utilizar a definição do art. 217-A, caput e § Conduta: o núcleo consiste em emitir (produzir, lan-
1º, do CP. Desse modo, podem ser considerados vulnerá- çar, compor):
veis:
a) a pessoa menor de 14 anos; a) Fatura - documento que comprova contrato de
compra e venda mercantil;
b) a pessoa que, em razão de enfermidade ou defici-
ência mental, não tem o necessário discernimento para a b) Duplicata - título de crédito causal emitido com
prática de determinados atos. base em obrigação proveniente de compra e venda comer-
Atenção – elemento subjetivo: para que o autor cial ou prestação de certos serviços;
responda pela causa de aumento de pena é indispensável
que exista dolo (consciência e vontade), ou seja, é necessá- c) Nota de venda - instrumento de outorga do crédito
rio que o agente saiba que, no caso concreto, a vítima seja pelo fornecedor ao titular.
idosa ou vulnerável.

95
Tipo subjetivo: consiste na vontade consciente de Consumação e tentativa: para que se configure o
emitir o título, dispensando a demonstração da intenção do deliro, não basta que o agente abuse das condições da ví-
agente em descontá-lo. O tipo não prevê modalidade cul- tima, sendo necessário que, em conjunto com tal atitude,
posa. induza esta, em proveito próprio ou alheio, à prática de ato
lesivo a si mesma ou a terceiro. A tentativa é admissível,
Consumação e tentativa: cuida-se de crime formal, ocorrendo o fracionamento da conduta.
de consumação antecipada ou de resultado cortado: con-
suma-se com a simples emissão, com a colocação da fatura,
Induzimento à especulação
da duplicata ou da nota de venda em circulação, dispen-
sando a causação de prejuízo patrimonial à vítima. Não é
possível a tentativa, por se tratar de crime unissubsistente. Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de
Forma equiparada (parágrafo único): O empresá- outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à
rio que emite duplicata deve manter, obrigatoriamente, no especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou
estabelecimento comercial, um livro especial chamado "Re- devendo saber que a operação é ruinosa:
gistro de duplicatas". Pune-se quem falsificar (inserção de
dados inexatos) ou adulterar (modificação dos dados já Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
existentes) este livro.
Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio da
Abuso de incapazes pessoa ingênua, crédula ou de mentalidade inferior.

Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).


Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da
Sujeito passivo: o sujeito passivo é a pessoa inex-
alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo
periente, simplória ou de mentalidade inferior.
qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito
jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Conduta: apesar de muito parecida com a do crime
anterior, não mais se refere a "qualquer ato que possa pro-
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. duzir efeito jurídico", mas ao jogo, aposta e à especulação
com títulos ou mercadorias (elementos especializantes).
 Não se confunde com o estelionato, pois, aqui, em
razão da própria condição do ofendido, é dispensável o em-  Não se confunde com o estelionato, pois o tipo em
prego de artifício ou ardil. Não se exige, também, a efetiva estudo dispensa o emprego de artifício ou ardil ou qualquer
lesão patrimonial (crime formal), imperiosa para configura- outra fraude por parte do agente.
ção do estelionato, devendo, contudo, ser o ato praticado
apto a produzir efeitos patrimoniais buscados pelo agente. Tipo subjetivo: é o dolo de abusar da vítima, indu-
zindo-a à prática de jogo, aposta ou especulação com títulos
Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio per- ou mercadorias. Há também o fim especial de obtenção de
tencente a menor ou pessoa com debilidade ou alienação proveito, próprio ou de terceiro, de natureza patrimonial.
mental.
 O agente deve ter conhecimento das condições de
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). simplicidade, inexperiência ou inferioridade mental do indu-
zido. Se houver dúvida, deve abster-se da prática de qual-
Sujeito passivo: a lei exige condição especial do quer ato, pois, do contrário, estará assumindo o risco de
ofendido: produzir o resultado danoso, respondendo pela prática deli-
tuosa (dolo eventual).
a) ser menor (idade inferior a 18 anos completos);
b) ser alienado mental (de forma mais abrangente Consumação e tentativa: consuma-se o crime com
possível); a prática, pelo induzido, do jogo, aposta ou especulação. É
c) ser débil mental (aquele portador de enfermidade crime formal, dispensando a obtenção da vantagem visada
psíquica). pelo agente ou a ocorrência de prejuízo pela vítima. A ten-
tativa é possível.
Conduta: a ação nuclear típica se resume ao verbo
abusar, ou seja, tirar vantagem. O tipo apresenta duas situ-
Fraude no comércio
ações distintas:

1) Vítima menor - desde que sofra abuso em razão de Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade
sua necessidade, paixão ou inexperiência. comercial, o adquirente ou consumidor:

2) Vítima alienada ou débil mental - não se exigindo I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria
nenhuma outra condição, basta a constatação da enfermi- falsificada ou deteriorada;
dade.
II - entregando uma mercadoria por outra:
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
consciente de abusar de incapaz para obter proveito inde-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
vido para si ou para outrem. O agente precisa saber que a
vítima é menor, alienada ou débil mental.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a
qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso,

96
pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se
vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de
metal de ou outra qualidade: recursos para efetuar o pagamento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou
multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
Parágrafo único - Somente se procede mediante
 Parte da doutrina defende que o art. 175 do CP teria representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,
sido revogado pelas Leis 8.078/90 (Código de Defesa do deixar de aplicar a pena.
Consumidor) e 8.137/90 (Crime contra a Ordem Tributária),
ambos diplomas com dispositivos semelhantes. Objetividade jurídica: o dispositivo visa proteger o
patrimônio de pessoas que se dedicam a determinadas ati-
Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio e a vidades, todas descritas no tipo. A lei busca proteger tam-
moralidade das relações comerciais. bém a ordem e a estabilidade das relações jurídicas entre os
indivíduos.
Sujeito ativo: só quem exerce atividade comercial
(exercício habitual, contínuo e profissional do comércio). É Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).
crime próprio. Faltando esta qualidade ao agente, configura-
se o crime do art. 171, § 2°, IV. Sujeito passivo: será aquele que se dedica à ativi-
dade de oferta de bebidas, alimentos, alojamentos ou meios
Sujeito passivo: é o adquirente ou consumidor da de transporte. Pode ser pessoa física ou jurídica.
mercadoria viciada. O comerciante também pode ser vítima
do delito em tela quando adquire produtos para revendê- Conduta: o tipo prevê três condutas, que ocorrem
los. sem que o agente disponha de numerário para efetuar o pa-
gamento:
Conduta: o núcleo do tipo é enganar (falsear, ludi-
briar) o adquirente ou consumidor, no exercício de atividade a) Tomar refeição em restaurante: somente se confi-
comercial, de duas maneiras distintas: gura se a conduta (tomar refeição, incluindo bebida) se der
nas dependências do estabelecimento. A expressão "restau-
a) vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercado- rante" deve ser entendida em sentido amplo, abarcando lan-
ria falsificada ou deteriorada; chonetes, bares, pensões etc. (em suma, lugar cuja ativi-
dade seja a de fornecer alimentos para consumo imediato).
b) entregando uma mercadoria por outra (pressupõe-
se, no caso, relação obrigacional preexistente). b) Alojar-se em hotel: a expressão "hotel", tomada no
seu sentido amplo, abrange hospedarias, albergues, pen-
Tipo Subjetivo: é o dolo de vender ou entregar mer- sões, motéis etc.
cadoria falsificada, deteriorada ou diversa da que deveria
receber o adquirente ou consumidor. c) Utilizar-se de meio de transporte: ocorre quando o
agente utiliza meios de transporte cujo pagamento se dá
 O agente deve saber que a qualidade da mercadoria durante ou ao final da viagem, como ônibus, táxis etc., afas-
entregue não é a esperada pela vítima, caso contrário, ha- tando-se aqueles em que o pagamento deve ser adiantado,
verá erro de tipo. como navios, aviões, metrô (nos casos em que o bilhete é
comprado antes do embarque).
Consumação e tentativa: consuma-se o crime com
o engano da vítima, que só pode surtir efeito após a efetiva  Em todas as modalidades do art. 176, deve o
tradição da mercadoria (entrega ao adquirente ou consumi- agente faltar ao pagamento por inexistência de recursos dis-
dor, que o aceita). A tentativa é admitida poníveis, consistindo a fraude no silêncio quanto a esta cir-
cunstância. Logo, nos casos em que o agente, dispondo de
Qualificadora: o § 1º, com pena de reclusão de um numerário bastante, recusa-se a realizar o pagamento, não
a cinco anos, pune quem altera em obra que lhe é encomen- se configura o presente delito, mas reprovável caso de ca-
dada a qualidade ou o peso de metal ou substitui, no mesmo lote, que pertence ao âmbito do direito civil.
caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor va-
lor. Reprova-se, ainda, a venda de pedra falsa por verda- Tipo subjetivo: o dolo de inadimplemento da obriga-
deira e a venda, como precioso, de metal de outra quali- ção, com a consciência de que não possui recursos para efe-
dade. tuar o pagamento.

 Exige-se aqui, tal como no caput, que a conduta se Consumação e tentativa: O crime se consuma no
dê no exercício de atividade comercial. momento em que o agente realiza uma das três condutas
previstas no art. 176 do Código Penal, ainda que parcial-
Privilégio: prevê o § 2° a possibilidade de aplicação mente, sendo imprescindível que ele não disponha de recur-
do disposto acerca do furto privilegiado, que permite a re- sos para efetuar o pagamento dos serviços de que se utili-
dução da pena ou aplicação somente de multa, nos casos zou. É possível a tentativa, em face do caráter plurissubsis-
em que o agente é primário e é de pequeno valor o objeto tente do delito.
material.
Fraudes e abusos na fundação ou administração
Outras fraudes de sociedade por ações

97
Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por
ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao Conduta: pratica a conduta descrita no tipo o funda-
público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a dor de uma sociedade por ações que, em prospecto (pe-
constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente queno impresso no qual se faz propaganda ou divulgação de
fato a ela relativo: algo) ou em comunicação (qualquer maneira de transmitir
uma mensagem) ao público ou à assembleia, faz afirmação
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o falsa sobre sua constituição, ou ainda, de modo fraudulento,
fato não constitui crime contra a economia popular. oculta fato a ela relacionado. O delito somente pode ocorrer
no momento da formação da sociedade anônima ou da so-
ciedade em comandita por ações, eis que são elas as espé-
§ 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui
cies de sociedades por ações.
crime contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de
1951)
Tipo subjetivo: é o dolo. Não se admite a modali-
dade culposa.
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou Figuras equiparadas (art. 177, § 1º):
comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação falsa
sobre as condições econômicas da sociedade, ou oculta Inciso I – fraude sobre as condições econômicas da
fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo; sociedade: A fraude ocorre durante a administração da so-
ciedade. O objeto material é mais amplo do que no caput,
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por pois a afirmação falsa pode ser feita tanto em prospecto ou
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros comunicação ao público ou à assembleia quanto em relató-
títulos da sociedade; rio, parecer ou balanço. É crime próprio – somente o diretor,
gerente ou fiscal da sociedade pode cometê-lo.
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos Inciso II – Falsa cotação de ações ou títulos da socie-
bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da dade: caracteriza-se o crime quando o sujeito ativo (diretor,
assembleia geral; gerente ou fiscal), ardilosamente, altera o verdadeiro valor
das ações ou de outros títulos da sociedade, ou seja, con-
suma-se no instante em que promove a sua falsa cotação.
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por Trata-se de crime próprio, formal, e o objeto material con-
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a siste nas ações ou outros títulos da sociedade.
lei o permite;
Inciso III – Empréstimo ou uso indevido de bens ou
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de haveres da sociedade: O principal fundamento para que a
crédito social, aceita em penhor ou em caução ações da lei puna a conduta do diretor ou gerente (crime próprio) que,
própria sociedade; em proveito próprio ou de terceiro, toma empréstimo à so-
ciedade ou usa dos bens ou haveres sociais, sem prévia au-
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, torização da assembleia geral, consiste no fato de a socie-
em desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui dade empresária possuir patrimônio distinto do patrimônio
lucros ou dividendos fictícios; de seus sócios.

Inciso IV – Compra e venda de ações emitidas pela


VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta
sociedade: A lei busca evitar que haja manipulação do mer-
pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação
cado e a atividade altamente especulativa.
de conta ou parecer;
Inciso V – Penhor ou caução de ações da sociedade:
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e Pune-se a conduta do diretor ou gerente da sociedade por
VII; ações (crime próprio) que, como garantia de crédito social,
aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade.
IX - o representante da sociedade anônima
estrangeira, autorizada a funcionar no País, que pratica os Inciso VI – Distribuição de lucros ou dividendos fictí-
atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao cios: A norma penal em questão visa evitar que o diretor ou
Governo. gerente da sociedade (crime próprio) distribua lucros ou di-
videndos fictícios, que não condizem com a realidade dos
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a lucros obtidos pela sociedade.
dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem
para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de Inciso VII – Conluio para aprovação de contas ou pa-
assembleia geral. recer (art. 177, § 1º, VII): o dispositivo reprova a conduta
do diretor, gerente ou fiscal que, agindo por intermédio de
terceiro ou em conluio com acionista, obtém a aprovação de
Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio dos
conta ou parecer.
investidores em sociedades por ações, contra a administra-
ção fraudulenta de seus dirigentes.
Inciso VIII – Crimes do liquidante: no caso de liquida-
ção da sociedade, cessam as atribuições dos sócios gerentes
Sujeito ativo: o crime só pode ser praticado por só-
ou administradores, assumindo a figura do liquidante. No
cio-fundador da sociedade por ações (crime próprio).
exercício dessa atividade, tendo a mesma responsabilidade
do administrador, pode cometer os crimes previstos nos in-
Sujeito passivo: o acionista da sociedade por ações.
cisos anteriores, com exceção do nº VI.

98
Inciso IX – Crimes do representante de sociedade Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio do
anônima estrangeira: as condutas puníveis previstas nos in- credor. Secundariamente, busca-se proteger a autoridade
cisos I e II, bem como a previsão do caput (no caso de afir- das decisões judiciais.
mação falsa ao Governo, na ocasião de sua constituição),
aplicam-se ao dirigente de sociedade anônima estrangeira Sujeito ativo: é o devedor não comerciante (se co-
autorizada a operar no Brasil. Além do patrimônio dos acio- merciante, o crime será o do art. 168 da Lei 11.101/2005).
nistas, busca-se assegurar a veracidade das informações
que devem ser prestadas ao Poder Público brasileiro, em Sujeito passivo: será o credor.
verdadeira defesa dos interesses nacionais.
Conduta: pune-se a conduta daquele que fraudar a
Crime de negociação ilícita de voto (art. 177, § execução, por ação ou omissão. A fraude pode se dar de
2º): o dispositivo visa a punir a conduta fraudulenta do aci- cinco formas:
onista, que negocia seu voto nas deliberações de assembleia
geral, com a finalidade de obter vantagem para si ou para a) Alienação: o propósito fraudulento da alienação
outrem. Só o acionista pode praticar esse crime. No polo deve ser devidamente comprovado;
passivo, figurarão os demais (acionistas) que não intervie-
rem na prática delitiva. b) Desvio: é a destinação dada ao bem com a finali-
dade de impossibilitar a penhora (exemplo: ocultação do
bem);
Emissão irregular de conhecimento de depósito
ou "warrant"
c) Destruição: é a eliminação do bem objeto da exe-
cução;
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant,
em desacordo com disposição legal: d) Danificação: é a ação de deteriorar o bem, dimi-
nuindo seu valor, a fim de que se torne insuficiente à garan-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. tia da execução;

Objetividade jurídica: tutela-se o patrimônio repre- e) Simulação de dívidas: consiste na apresentação de


sentado pelos títulos mencionados no tipo (conhecimento de dívida inexistente como verdadeira.
depósito e warrant) e, secundariamente, a fé pública.
Tipo subjetivo: consiste no dolo de fraudar a execu-
 Conhecimento de depósito e warrant são títulos de ção, com a consciência e especial vontade de prejudicar o
crédito emitidos por armazeneiros representativos tanto das autor/credor.
mercadorias depositadas em um armazém-geral como das
obrigações assumidas por este em razão do contrato de de- Consumação e tentativa: consuma-se no momento
pósito em que o agente emprega a fraude. A tentativa é admissí-
vel.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).

Sujeito passivo: será o portador ou endossatário do EXERCÍCIOS


título, que ignore sua natureza ilegal.
01. (2014 – FGV - Prefeitura de Osasco – SP Guarda
Conduta: a conduta nuclear típica se consubstancia Civil Municipal) O crime de estelionato é praticado quando
no verbo emitir, ou seja, criar, pôr em circulação o título alguém:
sem que se obedeçam às disposições legais. a) constrange outrem, mediante violência ou grave ameaça,
e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
Tipo subjetivo: pune-se o dolo, direto ou eventual, vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar
de emitir warrant ou conhecimento de depósito em desa- fazer alguma coisa;
cordo com os preceitos legais, devendo o agente ter pleno
conhecimento de que não os seguiu. b) subtrai, para si ou para outrem, coisa alheia móvel con-
sistente em vantagem ilícita, em prejuízo alheio, com abuso
Consumação e tentativa: o crime se consuma com de confiança, ou mediante fraude;
a emissão (efetiva circulação dos títulos), independente- c) obtém, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em pre-
mente da causação de prejuízos dela decorrentes (delito for- juízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, medi-
mal ou de consumação a antecipada). Tratando-se de crime ante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento;
unissubsistente, a tentativa é inadmissível.
d) se apropria de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou
a detenção, mediante grave ameaça ou recurso fraudulento;
Fraude à execução
e) se apropria de coisa alheia com valor econômico vinda ao
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza, me-
destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: diante fraude.

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.


02. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciá-
rio - Biblioteconomia) Placídio achou na rua um cartão de
Parágrafo único - Somente se procede mediante crédito e o utilizou para efetuar compras de roupas finas em
queixa.

99
um estabelecimento comercial. Essa conduta caracterizou o técnico da empresa Betamax Manutenção de Computadores.
crime de Utilizando-se de uma carteira de identidade e crachá falsifi-
cados, fez-se passar por um funcionário da empresa que
a) apropriação indébita.
prestava assistência técnica a Engemax. Dessa forma, ob-
b) furto qualificado pela fraude. teve autorização para recolher 24 computadores. De posse
das máquinas, alienou-as imediatamente. Astuto Mendes
c) estelionato. cometeu o crime de
d) extorsão simples. a) peculato.
e) receptação. b) apropriação indébita.
c) estelionato.
03. (2012 – FGV - PC-MA - Escrivão de Polícia) O advo- d) furto simples.
gado Juarez, que se encontrava suspenso pela OAB em ra-
zão de diversas reclamações de clientes, contrata novo ser- e) furto qualificado.
viço profissional para dar início à ação cível respectiva, re-
cebendo certa importância em dinheiro como honorários e
para pagar as despesas processuais respectivas. Depois de 06. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia) Car-
vários meses sem dar qualquer notícia ao cliente, este des- lindo, médico, conseguiu e utilizou o conteúdo da prova do
cobre que o profissional nunca deu início à ação respectiva, concurso público para provimento do cargo de médico do
tendo ficado com a quantia que se recusa a devolver. governo estadual, sendo o primeiro colocado no concurso
público. Logo, Carlindo:
Efetuado o registro próprio, Juarez deve responder:
a) praticou o crime de estelionato (artigo 171 doCP).
a) pelo crime de apropriação indébita (Art. 168 CP), tendo
em tese direito à suspensão do processo. b) praticou o crime de impedimento, perturbação ou fraude
de concorrência (artigo 335 do CP).
b) pelo crime de estelionato (Art. 171 CP), tendo em tese
direito à suspensão do processo. c) praticou o crime de violação do sigilo de proposta de con-
corrência (artigo 326 do CP).
c) pelo crime de apropriação indébita majorada (Art. 168, §
1º CP), com direito à suspensão do processo. d) praticou o crime de fraude em certames de interesse pú-
blico (artigo 311-Ado CP).
d) pelo crime de apropriação indébita majorada (artigo 168
§ 1º CP), sem direito à suspensão do processo. e) não praticou crime.
e) pelo crime de estelionato (Art. 171 CP), sem direito à
suspensão do processo.
07. (2010 – CONSULTEC - TJ-BA - Conciliador) De
acordo com a orientação sumular oriunda do Superior Tri-
bunal de Justiça, STJ, quando o falso se exaure no estelio-
04. (2016 – FUNCAB - PC-PA - Delegado de Polícia Ci-
nato, sem mais potencialidade lesiva, haverá
vil) Sobre os crimes contra o patrimônio, assinale a alter-
nativa correta. a) falso.
a) O crime de apropriação indébita pressupõe a posse ou b) estelionato.
detenção lícita, mas vigiada, do agente sobre coisa móvel
c) falso em concurso material com estelionato.
alheia, com subsequente inversão do título da posse ou de-
tenção. d) falso em continuidade delitiva com estelionato.
b) Só se configura crime de estelionato quanto há prejuízo e) falso em concurso formal com estelionato.
patrimonial a outrem, consistente em perder o que já se
possui ou em deixar de ganhar o que é devido, não bastando
a mera obtenção de uma vantagem indevida pelo agente. 08. (2014 – IBFC - PC-RJ - Papiloscopista Policial de
c) Ocorre alienação ou oneração fraudulenta de coisa pró- 3ª Classe) Suponha que um determinado indivíduo vá até
pria quando o agente vende coisa de sua propriedade, toda- uma padaria e, utilizando uma cópia grosseira de uma nota
via inalienável, crime do qual participa o adquirente que, ci- de R$ 10,00 (dez reais), consiga comprar pães, causando
entificado de todas as circunstâncias que envolvem o negó- prejuízo ao referido estabelecimento. Este indivíduo prati-
cio, opta por efetivá-lo. cou:

d) Constitui crime de esbulho possessório o ingresso clan- a) Crime de petrechos para falsificação de moeda e será jul-
destino de duas pessoas em edifício alheio, com a finalidade gado pela Justiça Federal.
de usurpá-lo. b) Crime de moeda falsa e será julgado pela Justiça Federal.
e) Pratica crime de apropriação de coisa achada aquele que c) Crime de estelionato e será julgado pela Justiça Estadual.
se apossa de uma carteira esquecida por colega sobre a
mesa por este usada no escritório em que ambos trabalham. d) Crime de falsificação de papéis públicos e será julgado
pela Justiça Estadual.
e) Crime contra o Sistema Financeiro Nacional e será julgado
05. (2014 - MPE-RS - MPE-RS - Secretário de Diligên- pela Justiça Federal.
cias) Astuto Mendes, ao tomar conhecimento de que a em-
presa Engemax faria o conserto e a manutenção em seu
parque de informática, apresentou-se falsamente como

100
09. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário - próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
Biblioteconomia) Brutus, no interior de uma loja, a pretexto industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
de adquirir roupas, solicitou ao vendedor vários modelos
para experimentar, mas, no interior do provador, escondeu Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
uma das peças dentro de suas vestes, devolveu as demais
e deixou o local. Brutus cometeu crime de
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito
a) furto qualificado pela fraude. do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular
ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
b) apropriação indébita.
c) furto simples. § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza
d) estelionato. ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
e) furto de coisa comum. meio criminoso:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou


10. (2015 – CESPE - Prefeitura de Salvador – BA - Pro- ambas as penas.
curador do Município – 2ª Classe) Assinale a opção cor-
reta acerca dos crimes contra o patrimônio conforme enten-
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido
dimento do STJ e da doutrina majoritária.
ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
a) Indivíduo que vender coisa própria inalienável, gravada
de ônus ou litigiosa, ou imóvel que tiver prometido vender § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário,
a terceiro mediante pagamento em prestações, e silenciar pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar
sobre quaisquer dessas circunstâncias, praticará o delito de de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto
induzimento à especulação. no § 2º do art. 155.
b) Se, posteriormente à subtração dos bens, a vítima for
obrigada a fornecer senha para a realização de saques em § 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de
sua conta bancária, será configurado um delito único, ou Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
seja, a extorsão. fundação pública, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviços públicos,
c) O crime de roubo se consuma quando o agente se torna
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
possuidor da coisa subtraída, mediante violência ou grave
artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
ameaça, ainda que o objeto subtraído não saia da esfera de
vigilância da vítima.
 A receptação é crime acessório, de fusão ou para-
d) No crime de apropriação indébita, assim como no de es- sitário, pois não tem existência autônoma, reclamando a
telionato, o agente detém, anteriormente à prática do crime, prática de um delito anterior.
a posse lícita da coisa.
ATENÇÃO: produto de contravenção não gera recep-
e) A destruição de patrimônio de empresa pública, a exem-
tação, vedando-se analogia incriminadora.
plo da Caixa Econômica Federal, configura dano qualificado.
Autonomia da receptação: A receptação, embora
classificada como crime acessório, pois pressupõe a prática
GABARITO de um crime anterior, não reclama o conhecimento do autor
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 deste último, nem a possibilidade de ser ele efetivamente
C C B B C D B C A C punido.

Receptação e extinção da punibilidade do crime


CAPÍTULO VII anterior: A declaração da extinção da punibilidade do crime
DA RECEPTAÇÃO anterior, qualquer que seja a sua causa, não impede a ca-
racterização do crime e a punição do seu responsável.
Receptação
Objetividade jurídica: proteção do patrimônio da-
quele que, com a receptação, vê seu bem mais distante de
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou si.
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, desde que
adquira, receba ou oculte: (Redação dada pela Lei não haja concorrido, de alguma forma, para o crime anterior
nº 9.426, de 1996) (pressuposto).

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Sujeito passivo: será a mesma vítima do delito an-
tecedente.
Receptação qualificada (Redação dada pela
Lei nº 9.426, de 1996) Conduta: o tipo penal deve ser dividido em duas
partes: receptação própria (art. 180, caput, 1ª parte) e im-
própria (art. 180, caput, 2ª parte). Nos dois casos o tipo é
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar,
misto alternativo (de ação múltipla ou de conteúdo variado).
ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender,
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito

101
Na RECEPTAÇÃO PRÓPRIA o agente, sabendo ser a previsibilidade a respeito da origem da coisa: (a) natureza
coisa produto de crime, a adquire, recebe, transporta, con- ou desproporção entre o valor e o preço da coisa adquirida
duz ou oculta. ou recebida pelo agente; (b) condição de quem a oferece; e
(c) no caso de se tratar de coisa que deve presumir-se ob-
Já na RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA (“influir”) incrimina- tida por meio criminoso. Tais formas, também conhecidas
se a conduta do intermediário, isto é, da pessoa que se co- como indícios da origem criminosa do bem, têm caráter ob-
loca entre o autor do crime anterior e o terceiro de boa-fé, jetivo.
potencial adquirente da coisa produto de crime.
O CP pressupõe que qualquer deles deve gerar a pre-
Boa fé do terceiro na receptação imprópria - O sunção de que a coisa procede de crime, pouco importando,
terceiro deve, obrigatoriamente, agir de boa-fé, pois, do em princípio, que o acusado não tenha realmente presumido
contrário, será rotulado como receptador próprio, e aquele tal procedência. Se, no caso concreto, o acusado incidiu em
que o influenciou responderá como partícipe da conduta erro escusável, ou se havia razoáveis contraindícios no sen-
descrita na primeira parte do caput. tido da legitimidade de proveniência da coisa, não há falar
em receptação culposa, sob pena de responsabilidade penal
 O objeto material da receptação é produto de crime objetiva.
anterior (mesmo que modificado ou alterado).
 A receptação é o único crime contra o patrimônio,
ATENÇÃO! Para que se configure a receptação (pró- previsto no Código Penal, punido a título de dolo e de culpa.
pria ou imprópria), é imprescindível a existência de delito
precedente, figurando como objeto material a coisa produto Autonomia da receptação (norma penal explica-
de crime, não necessariamente contra o patrimônio, po- tiva) - art. 180, § 4º: A autonomia da receptação, apre-
dendo ser contra a administração pública, por exemplo. sentada pelo art. 180, § 4º, do Código Penal, divide-se em
dois diferentes aspectos:
Consumação e tentativa: a receptação própria é
crime material, consumando-se no momento em que a coisa 1º) A receptação é punível ainda que desconhecido o
é incluída na esfera de disponibilidade do agente. As hipóte- autor do crime antecedente - Se forem identificados tanto o
ses de transporte, condução e ocultação são formas perma- receptador como o autor do crime anterior, os crimes por
nentes do crime, possibilitando a prisão em flagrante a qual- eles praticados serão tidos como conexos e, sempre que
quer tempo. A modalidade imprópria de receptação é for- possível, importarão na junção dos processos e do julga-
mal, bastando a influência sobre o terceiro de boa-fé. mento.

ATENÇÃO! A doutrina, na sua maioria, explica ser ad- 2º) O receptador pode ser punido ainda que isento de
missível a tentativa somente na receptação própria. pena o autor do crime de que proveio a coisa - É o que se
dá nas causas de exclusão da culpabilidade, também conhe-
Receptação qualificada pelo exercício de atividade cidas como dirimentes, e nas escusas absolutórias.
comercial ou industrial (art. 180, § 1º): O legislador
descreve 7 (sete) novos núcleos: (a) montar (reunir e Perdão judicial (art. 180, § 5º, 1ª parte): Incide
compor convenientemente as peças de uma máquina, en- unicamente na receptação culposa. Reclama dois requisitos
genho ou dispositivo, de modo que fique em condições de cumulativos: a) primariedade do agente; e b) as circunstân-
funcionar); (b) desmontar (desfazer o que estava mon- cias do crime devem indicar que o fato não se revestiu de
tado); (c) remontar (reparar, consertar, remendar); (d) especial gravidade.
vender (transferir a propriedade, a outrem, a título one-
roso); (e) expor à venda (exibir alguma coisa, com o pro-  Presentes os requisitos legalmente exigidos, o juiz
pósito de transferir onerosamente sua propriedade); e (f) estará obrigado a reconhecer o perdão judicial, pois se trata
utilizar de qualquer forma (fazer uso da coisa). de direito subjetivo do réu.

 Cuida-se de tipo misto alternativo, crime de ação Receptação privilegiada (art. 180, § 5º, parte fi-
múltipla ou de conteúdo variado – a realização de dois ou nal): Aplica-se à receptação dolosa o disposto no art. 155,
mais núcleos em face do mesmo objeto material caracteriza § 2º, do Código Penal. Admite-se, portanto, a receptação
um só crime. privilegiada, também chamada de receptação mínima, que
depende da primariedade do agente, devendo ser de pe-
IMPORTANTE: O sujeito ativo somente pode ser co- queno valor a coisa receptada.
metido pela pessoa que se encontra no exercício de ativi-
dade comercial ou industrial (crime próprio ou especial).  Presentes os requisitos legalmente exigidos, o ma-
gistrado terá três caminhos a seguir: (1) substituir a pena
Natureza da atividade qualificadora (§ 2º) - Não de reclusão por detenção; (2) diminuir a pena privativa de
se exige regularidade ou licitude no desempenho da ativi- liberdade de 1/3 a 2/3; ou (3) aplicar somente a pena de
dade comercial ou industrial. O legislador instituiu uma multa.
norma penal explicativa ou complementar no § 2º do art.
180 do Código Penal, com o objetivo de equiparar à ativi- Receptação e natureza do objeto material (art.
dade comercial, para fins de receptação qualificada, qual- 180, § 6º): A elevação da pena alcança somente a recep-
quer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o tação simples, seja própria ou imprópria, por expressa im-
exercício em residência. posição legal. Não basta ao agente o dolo sobre a origem
criminosa do bem receptado – é imprescindível o conheci-
Receptação culposa (art. 180, § 3º): É crime cul- mento (dolo) acerca da lesão provocada ao patrimônio pú-
poso previsto por um tipo penal fechado – o legislador blico.
aponta expressamente as formas pelas quais a culpa pode
se manifestar, especificando as circunstâncias indicativas da

102
Receptação própria e favorecimento real: O art.
349 do Código Penal esclarece que só existe favorecimento  Assim, o sujeito passivo do delito de furto, será
real quando o fato não configura crime de receptação. também o de receptação de animal.

São duas as diferenças entre tais delitos: Consumação e Tentativa - Em se tratando de um


delito material, a receptação de animal se consuma quando
1) A receptação é crime contra o patrimônio e o favo- o agente, efetivamente, adquire, recebe, transporta, con-
recimento real é crime contra a Administração da Justiça; duz, oculta, tem em depósito ou vende semovente domes-
ticável de produção, ainda que abatido ou dividido em parte.
2) Na receptação está presente o fim de lucro (animus
lucrandi), enquanto no favorecimento real a conduta é rea-  A tentativa é admissível, tendo em vista a possibi-
lizada pelo agente sem finalidade lucrativa para si ou para lidade de fracionamento do iter criminis considerando as
terceiro, pois ele busca unicamente auxiliar o autor do crime condutas previstas no tipo.
anterior a tornar seguro o proveito do crime.
Elemento Subjetivo - O dolo é o elemento subjetivo
Favorecimento real exigido pelo tipo penal que prevê o delito de receptação de
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co- animal, não havendo previsão para a modalidade de natu-
autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar reza culposa.
seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.  A expressão “que deve saber ser produto de crime”
não induz a um delito culposo, mas sim a uma infração penal
praticada a título de dolo eventual.
Receptação de animal
3. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS (ARTS. 181 A 183)
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir,
ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de pro-
dução ou de comercialização, semovente domesticável de CAPÍTULO VIII
produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que DISPOSIÇÕES GERAIS
deve saber ser produto de crime: (Incluído pela Lei nº
13.330, de 2016) Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos
crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº
10.741, de 2003)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
multa. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

Semovente é a definição jurídica dada ao animal cri-


ado em grupos (bovinos, suínos, caprinos etc.) que integram II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco
o patrimônio de alguém, passíveis, portanto, de serem ob- legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
jetos de negócios jurídicos.
Imunidades absolutas (escusas absolutórias) -
 A lei claramente não abrange os animais selvagens, O artigo 181 do Código Penal revela o intuito do legislador
mas somente os domesticáveis, mesmo que já abatidos ou de manter a harmonia em família, prevendo duas hipóteses
divididos em partes. de isenção de pena (exclusão da punibilidade) para aqueles
que cometem crimes contra o patrimônio:
Os animais devem ser, ainda, de produção, isto é,
preparados para o abate e comercialização. Não abrange a) Quando a vítima é seu cônjuge (na constância da
apenas os quadrúpedes, mas também os bípedes e ápodes sociedade conjugal): destaca-se, a este respeito, que o
(animais desprovidos de membros locomotores, como rép- crime deve ocorrer enquanto se mantém a sociedade conju-
teis). gal. A separação de fato não afasta a incidência da imuni-
dade absoluta, pois não é idônea à dissolução da sociedade
Bem Juridicamente Protegido - O tipo penal que conjugal.
prevê o crime de receptação de animal tem por finalidade
proteger o patrimônio.  Se o casamento se der após, ou se o casal já estiver
judicialmente separado ou divorciado, não há isenção.
Objeto material - é o semovente domesticável de
produção, ainda que abatido ou dividido em partes. b) Quando a vítima é ascendente ou descendente,
sendo irrelevante a natureza do parentesco: o inciso II, re-
Sujeito Ativo - Qualquer pessoa pode ser sujeito ferindo-se aos ascendentes e descendentes abrange os pa-
ativo do delito de receptação de animal, não havendo qual- rentes em linha reta, sem grau de limitação e independen-
quer qualidade ou condição especial exigida pelo tipo cons- temente da natureza do parentesco. Assim, abrange os cri-
tante do art. 180-A do Código Penal. mes patrimoniais praticados pelo pai contra o filho, do neto
contra o avô, e daí por diante.
Sujeito Passivo - Qualquer pessoa também poderá
figurar como sujeito passivo do crime de receptação de ani-  A imunidade penal absoluta em apreço não alcança
mal, incluindo, aqui, não somente o proprietário, mas tam- o parentesco por afinidade, ainda que na linha reta.
bém o possuidor do semovente domesticável de produção,
ainda que abatido ou dividido em partes, que se confundirá Art. 182 - Somente se procede mediante
com o sujeito passivo do crime anterior de onde surgiu o representação, se o crime previsto neste título é cometido
produto do crime. em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)

103
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; não se aplicam as imunidades (absolutas e relativas) ao
roubo e à extorsão, por serem crimes pluriofensivos (atin-
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; gem o patrimônio e a integridade física ou a liberdade indi-
vidual).
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
 Também não podem ser concedidas as imunidades
para qualquer outro crime patrimonial cometido com em-
Imunidades relativas - O mesmo propósito do an- prego de grave ameaça ou violência à pessoa.
terior é inerente ao artigo 182, tratando de hipóteses diver-
sas, em que a instauração da ação penal está condicionada Inciso II – Ao estranho que participa do crime: A
à iniciativa da vítima (imunidade relativa). posição de cônjuge ou parente da vítima é condição pessoal
do responsável pelo crime patrimonial, não se estendendo
Aqui, três são as hipóteses em que aquele que comete ao estranho (coautor ou partícipe) que contribui para o de-
crime patrimonial é beneficiado pela existência de condição lito.
de procedibilidade: a) quando a vítima é seu cônjuge, mas
separado judicialmente; b) quando é seu irmão, bilateral ou  Em relação ao estranho, falta interesse na preser-
não; c) quando é seu tio ou sobrinho, devendo haver coabi- vação da harmonia familiar que fundamenta as imunidades
tação. penais nos crimes contra o patrimônio.

I - Cônjuge desquitado ou judicialmente separado: Inciso III – Se o crime é praticado contra pessoa
Com relação aos cônjuges, o que não se aplicava no dispo- com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos: Tal inciso
sitivo anterior aqui se insere, não como forma de imunidade, foi acrescentado pela Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso,
mas tão somente como pressuposto para que se inicie a com a finalidade de proporcionar especial proteção ao idoso
ação penal. no campo dos crimes contra o patrimônio.

II - Irmão, legítimo ou ilegítimo: Relativamente ao ir-  A exclusão das imunidades é obrigatória.


mão, mais uma vez mostra-se inadequado o texto do Código
Penal, já que diferencia (a contrário senso) entre o legítimo
EXERCÍCIOS
e o ilegítimo, quando a discriminação é vedada pela Consti-
tuição da República. 01. (2016 – IESES - TJ-PA - Titular de Serviços de No-
tas e de Registros - Remoção) O ato de adquirir, receber,
III -Tio ou sobrinho, com quem o agente coabita: Em transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
relação ao tio ou sobrinho, exige a lei que o agente com ele alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para
coabite, não de forma passageira, mas duradoura (pouco que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte é tipifi-
importando o local da prática do delito). O sentido de coabi- cado como crime de:
tação não abrange visitas esporádicas ou mesmo temporá-
a) Receptação.
rias, devendo haver efetiva residência em comum, desde
que, obviamente, no momento do crime. b) Apropriação indébita.
c) Induzimento à especulação.
 Se o crime ocorrer antes ou depois da coabitação,
o fato será indiferente. d) Estelionato.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos 02. (2017 – IBADE - Órgão: PC-AC - Agente de Polícia
anteriores: Civil) Sobre o crime de receptação, é correto afirmar que:
a) aquele que encomenda a prática de crime patrimonial
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, prévio não responde por receptação ao receber para si o
quando haja emprego de grave ameaça ou violência à produto do crime.
pessoa; b) não é possível a receptação que tenha como crime prévio
uma outra receptação.
II - ao estranho que participa do crime.
c) cuida-se de crime subsidiário ao delito de favorecimento
real.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade
d) a receptação qualificada admite a modalidade culposa.
igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Incluído pela
Lei nº 10.741, de 2003) e) majoritariamente. entende-se que. se a infração penal
prévia for um ato infracional, não há receptação, pois esta
Exclusão dos benefícios de isenção da pena e tem como objeto material o produto de um crime.
exigência de representação - Depois de arrolar, taxati-
vamente, as imunidades absolutas (art. 181) e relativas
03. (2013 – FCC - TJ-PE - Titular de Serviços de Notas
(art. 182), o Código Penal indica as hipóteses em que os
e de Registros) Admite realização também sob a modali-
responsáveis por crimes patrimoniais não podem ser bene-
dade estritamente culposa a figura legal de
ficiados pelas causas de isenção da pena, nem pela trans-
formação de crimes de ação penal pública incondicionada a) dano.
em ação penal pública condicionada à representação. b) peculato mediante erro de outrem.
c) furto.
Inciso I – Se o crime é de roubo ou de extorsão, ou,
em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violên- d) receptação
cia à pessoa: Extrai-se deste inciso, em primeiro lugar, que e) favorecimento pessoal.

104
b) Aquele que sabe sobre a origem da coisa produto de
04. (2013 – VUNESP - PC-SP - Papiloscopista Policial) crime pratica a receptação na modalidade própria, enquanto
No que concerne ao crime de receptação, analise as seguin- que aquele que deveria saber pratica o delito na modalidade
tes assertivas: imprópria.

I. Não é punível se desconhecido o autor do crime de que c) A modalidade dolosa da receptação é conhecida doutrina-
proveio a coisa. riamente por receptação própria e a modalidade culposa por
receptação imprópria.
II. Não é punível se isento de pena o autor do crime de que
proveio a coisa. d) Na receptação culposa exige-se o elemento subjetivo es-
pecial do tipo constituído pelo fim especial de desconhecer
III. A pena para a figura simples dolosa (CP, art. 180, caput) a origem da coisa produto de crime.
é aplicada em dobro caso se trate de bem da União.
As assertivas estão, respectivamente:
08. (2011 – FCC - TRE-AP - Analista Judiciário - Área
a) correta; correta; incorreta. Administrativa) Considere as seguintes assertivas com re-
b) incorreta; correta; incorreta. lação aos crimes contra o patrimônio, de acordo com o Có-
digo Penal:
c) correta; correta; correta.
I. É isento de pena quem comete crime de furto em prejuízo
d) incorreta; incorreta; incorreta.
de ascendente com 60 anos de idade.
e) incorreta; incorreta; correta.
II. Somente se procede mediante representação, se o
agente pratica crime de estelionato em prejuízo de irmão.
05. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Delegado de Polícia) III. É isento de pena quem comete crime de extorsão contra
Sílvio e Mário, por determinação de Valmeia, prima de Sílvio, cônjuge na constância da sociedade conjugal.
tomaram vários eletrodomésticos da casa de Joaquina, que
Está correto que se afirma SOMENTE em
havia saído para trabalhar. Após a divisão em partes iguais,
Valmeia, por necessitar para utilização em sua casa, com- a) II.
prou de Sílvio e Mário os eletrodomésticos que lhes coube- b) I e II.
ram na divisão. Logo, pode-se afirmar que:
c) I e III.
a) Valmeia, Sílvio e Mário são coautores do crime de furto.
d) II e III.
b) Sílvio e Mário são autores do crime de furto, enquanto
Valmeia é partícipe do crime de furto. e) III.

c) Sílvio e Mário são autores do crime de furto, enquanto


Valmeia é autora do crime de furto e receptação em con- 09. (2013 – FUNCAB - PC-ES - Escrivão de Polícia)
curso material. João, que morava com o irmão do seu pai, subtraiu R$
d) Sílvio e Mário são autores do crime de furto, enquanto 1.000,00 da carteira dele. Assim, a ação penal será:
Valmeia é autora do crime de furto e receptação em con- a) pública incondicionada.
curso formal. b) pública condicionada à representação.
e) Sílvio e Mário são autores do crime de furto, enquanto c) privada simples.
Valmeia é autora do crime de furto e receptação em conti-
nuidade delitiva. d) privada personalíssima.
e) privada subsidiária da pública.
06. (2009 – CESPE - PC-PB - Papiloscopista e Técnico
em Perícia) Luiz, contando com o auxílio de Tereza, sub- 10. (2015 – FGV - TCM-SP - Agente de Fiscalização -
traiu de uma loja uma filmadora e uma máquina digital. Sa- Ciências Jurídicas) Maurício estava na festa de aniversário
bendo que os policiais estavam em seu encalço, foi até a de seu pai e sua mãe, que, juntos, comemoravam seus ani-
casa de João e lhe pediu para guardar os bens subtraídos, versários de 61 anos e 59 anos respectivamente. Com a in-
de forma a garantir o lucro de sua empreitada criminosa. tenção de comprar bebidas, subtrai R$ 1.000,00 (mil reais)
João aceitou a proposta de Luiz. da carteira de seu pai sem que ninguém veja sua conduta.
Nessa situação hipotética, João praticou o crime de Já no dia seguinte pela manhã, ingressa no quarto de sua
a) receptação. mãe para subtrair dólares, mas depara-se com a genitora
trocando de sapatos. Decide, então, ameaçá-la de morte e
b) favorecimento real. levar todo o dinheiro que era apenas de sua mãe. Diante
c) favorecimento pessoal. dessa situação, é correto afirmar que:
d) fraude processual. a) Maurício é isento de pena pela prática dos dois crimes,
e) roubo na modalidade coparticipação. em razão da escusa absolutória pelo fato de as vítimas se-
rem seus genitores;
b) Maurício é isento de pena pela prática da conduta engen-
07. (2014 – VUNESP - TJ-PA - Juiz de Direito Substi- drada contra o pai, mas não contra a mãe;
tuto) Com relação às modalidades de receptação, assinale
a alternativa correta. c) as condutas praticadas por Maurício são atípicas, pois os
bens subtraídos também podem ser considerados de sua
a) A receptação própria é um crime material, consuma-se propriedade;
com a efetiva aquisição, recebimento, transporte, condução
ou ocultação da coisa produto de crime. A receptação im- d) Maurício é isento de pena pela prática da conduta engen-
própria, por sua vez, é um crime formal e, teoricamente, drada em desfavor de sua mãe, mas não pela conduta pra-
não admite a tentativa. ticada contra seu pai;

105
e) Maurício deverá responder pela prática de ambos os cri- § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o
mes, não havendo que se falar em aplicação de escusas ab- crime de outrem:
solutórias.
Pena - detenção, de três meses a um ano.
GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do
A A D E A B A A B E dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibi-
lidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

Espécies de peculato: O Código Penal contém seis


5. DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚ- espécies de peculato, sendo cinco dolosas e uma culposa:
BLICA
a) Peculato apropriação (art.312, caput, 1ª parte);
b) Peculato desvio (art. 312, caput, parte final);
 DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A AD- c) Peculato furto (art. 312, § 1º);
MINISTRAÇÃO EM GERAL – ARTS. 312 A 327 d) Peculato culposo (art. 312, § 2º);
 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO e) Peculato estelionato (art. 313) e
EM GERAL – ARTS. 328 A 337-A
f ) Peculato Eletrônico (art. 313-A).

 As duas primeiras (apropriação e desvio) são tam-


bém conhecidas como peculato próprio, enquanto a terceira
Crimes funcionais – delitos praticados por quem se
(peculato furto) é doutrinariamente classificada como pecu-
acha investido em função pública, praticados contra a admi-
lato impróprio.
nistração pública. Estão previstos nos artigos 312 a 327 do
Código Penal. Podem ser classificados como próprios ou
Peculatos previstos no art. 312 do Código Penal:
impróprios.
Crime funcional próprio: Quando a qualidade de Objetividade jurídica: tutela-se a moralidade e o
funcionário público é essencial à realização do crime. Se au- património da Administração Pública.
sente esta condição no agente, o fato se torna atípico, isto
é, não seria crime. Por exemplo, se a prevaricação é prati- Sujeito ativo: crime próprio, que só pode ser come-
cada por empregado não funcionário público, essa conduta tido por funcionário público (no sentido amplo trazido pelo
não caracteriza o crime do art. 319 do Código Penal. art. 327 do CP).
Crime funcional impróprio: São aqueles nos quais,
ATENÇÃO! O particular que, sabendo da qualidade
faltando a condição de servidor ao agente, o fato deixa de
funcional do agente, concorre, de qualquer modo, para o
configurar crime funcional, caracterizando um crime co-
evento, responde como partícipe do peculato, por força do
mum, ou seja, quando o agente não tem a condição de fun-
art. 30 do CP.
cionário público, a tipicidade do ato criminoso é dada de
forma diversa. Por exemplo, o funcionário público que se
Sujeito passivo: será o Estado, lesado no seu patri-
apropria de um bem da repartição que ele tenha a posse
mônio, material e moralmente. Se o bem apropriado for de
comete o crime de peculato (Código Penal, art. 312). Porém,
propriedade particular, também este será vítima do crime
se o mesmo ato é praticado por agente não funcionário pú-
(secundária).
blico, o tipo penal da conduta é o crime comum de apropri-
ação indébita (Código Penal, Art. 168).
 ATENÇÃO! Em conformidade com o art. 552 da
CLT: “Os atos que importem em malversação ou dilapidação
CAPÍTULO I do patrimônio das associações ou entidades sindicais ficam
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚ- equiparados ao crime de peculato, julgado e punido na con-
BLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL formidade da legislação penal”.

Peculato Conduta: o caput do art. 312 pune o que a doutrina


chama de peculato próprio, cuja ação material do agente
consiste na apropriação ou no desvio de dinheiro, valor ou
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de di-
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem
nheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou par-
a posse em razão do cargo.
ticular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-
lo, em proveito próprio ou alheio:
 Peculato apropriação: na primeira parte do caput
pune-se o peculato apropriação, hipótese em que o agente
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. se apodera de coisa que tem sob sua posse legítima, pas-
sando, arbitrariamente, a comportar-se como se dono fosse
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário pú- (uti dominus).
blico, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem,
o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito  Peculato desvio - na segunda parte do caput in-
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe propor- crimina-se o peculato desvio, caso em que o funcionário dá
ciona a qualidade de funcionário. destinação diversa à coisa, em benefício próprio ou de ou-
trem, com a obtenção de proveito material ou moral, aufe-
Peculato culposo rindo vantagem outra que não necessariamente a de natu-
reza econômica.

106
ATENÇÃO! Se há desvio de verba em proveito da pró- aproveitando-se da facilidade culposamente proporcionada
pria Administração, com utilização diversa da prevista em pelo funcionário público.
sua destinação, temos configurado o crime do art. 315 do
CP. Reparação do dano no peculato culposo – extin-
ção da punibilidade e diminuição da pena (art. 312, §
Tipo subjetivo: pune-se a conduta dolosa, expres- 3º): A reparação do dano pode manifestar-se sob duas for-
sada pela vontade consciente do agente em transformar a mas:
posse da coisa em domínio (peculato apropriação) ou des-
viá-la em proveito próprio ou de terceiro (peculato desvio). a) devolução do objeto material do crime; e
b) ressarcimento do prejuízo causado ao ofendido.
Consumação e tentativa: na primeira modalidade
(apropriação), consuma-se o delito no momento em que o  Se a reparação do dano for anterior ao trânsito em
funcionário se apropria do dinheiro, valor ou bem móvel de julgado da sentença condenatória, estará caracterizada uma
que tem posse em razão do cargo. Evidencia-se pela dispo- causa extintiva da punibilidade. Se a reparação do dano
sição do objeto material como se dono fosse. No segundo ocorrer depois do trânsito em julgado da condenação, im-
caso (desvio), ocorre a consumação quando o funcionário portará na redução da pena pela metade.
altera o destino normal da coisa, pública ou particular, em-
pregando-a em fins outros que não o próprio.
Peculato mediante erro de outrem
 A tentativa é admissível.
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utili-
 Prestação de serviços: A prestação de serviços dade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de ou-
não se subsume ao conceito de bem móvel, razão pela qual trem:
não se encaixa no crime de peculato a utilização de mão de
obra pública, originária do trabalho de um funcionário pú- Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
blico subalterno em proveito do superior hierárquico
 “Peculato Estelionato” - o crime tipificado no art.
Princípio da insignificância: Os Tribunais 313 do CP é também conhecido como peculato estelionato,
Superiores ainda não chegaram a um consenso sobre o porque consiste na captação indevida, por parte do funcio-
cabimento do princípio da insignificância em relação aos nário público, de dinheiro ou qualquer outra utilidade, se
crimes contra a Administração Pública: aproveitando do erro alheio.
a) O STJ não admite a incidência do princípio pois, Objetividade jurídica: tutela-se a moralidade e o
nestes casos, sempre existiria ofensa à moralidade patrimônio da Administração Pública.
administrativa;
b) O STF tem posicionamento de que o princípio é Sujeito ativo: sujeito ativo é o funcionário público
cabível em caso de ínfima lesão provocada. lato sensu (art. 327 do CP).
 Peculato furto - § 1° (peculato impróprio): O  Caso o funcionário público ocupe cargo em comis-
dispositivo traz a figura do peculato furto, também chamado são ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
de peculato impróprio. Caracteriza-se não pela apropriação administração direta, sociedade de economia mista, em-
ou desvio, mas pela subtração de coisa sob guarda ou cus- presa pública ou fundação instituída pelo poder público, a
tódia da Administração. pena sofrerá aumento de um terço.
Importante destacar que nesta hipótese o agente Sujeito passivo: será o Estado, mais especifica-
não tem a posse da coisa, mas se vale da facilidade que a mente a Administração Pública. Particular que sofra prejuízo
condição de funcionário lhe concede para subtrair (ou con- em virtude do comportamento criminoso também será ví-
correr para que seja subtraída) a coisa do ente público ou tima.
de particular sob custódia da Administração.
Conduta: pune-se a conduta do agente que inverter,
ATENÇÃO! Caso o agente não seja funcionário pú- no exercício do seu cargo, a posse de valores recebidos por
blico, ou, sendo, não se utilize das facilidades que o cargo erro de terceiro. O bem apoderado, ao contrário do que
lhe proporciona para a subtração, incorrerá no crime de ocorre no peculato apropriação, não está naturalmente na
furto (art. 155 do CP). posse do agente, derivando de erro alheio.
 Peculato culposo (§ 2°): será punido de acordo ATENÇÃO! O erro do ofendido deve ser espontâneo,
com as penas do § 2° o funcionário público que concorrer pois, se provocado pelo funcionário, poderá configurar o
culposamente para que, através de manifesta negligência, crime de estelionato.
imprudência ou imperícia, infringindo dever de cuidado ob-
jetivo, criar condições favoráveis à prática do peculato do- Tipo subjetivo: pune-se somente a conduta dolosa,
loso, em qualquer de suas modalidades (apropriação, des- ou seja, a vontade consciente do funcionário de apropriar-
vio, subtração). se de dinheiro (ou qualquer utilidade móvel) que recebeu
por erro de outrem (animus rem sibi habendi), ciente do
 Dois requisitos são necessários para a configuração engano cometido.
do crime culposo: a conduta culposa do funcionário público,
mediante sua inobservância ao dever objetivo de cuidado da  Não é necessária a existência do dolo no momento
coisa móvel da Administração Pública ou sob sua vigilância, do recebimento da coisa, mas deve existir no instante em
e a prática de um crime doloso por terceira pessoa, que o funcionário dela se apropria (dolo superveniente).

107
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema
Consumação e tentativa: O delito se consuma no de informações ou programa de informática sem autorização
momento em que o agente percebe o erro de terceiro e não ou solicitação de autoridade competente:
o desfaz. Portanto, a consumação se dá não no momento do
recebimento da coisa, mas posteriormente, no instante em Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e
que o agente se apropria da coisa recebida por erro, agindo multa.
como se dono fosse.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um
 A tentativa é admitida.
terço até a metade se da modificação ou alteração resulta
dano para a Administração Pública ou para o administrado.
Inserção de dados falsos em sistema de infor-
mações (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
 “Peculato Eletrônico”

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autori- Objetividade jurídica: tutela-se a Administração
zado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevi- Pública, mais especificamente seus sistemas de informações
damente dados corretos nos sistemas informatizados ou ou programas de informática.
bancos de dados da Administração Pública com o fim de ob-
ter vantagem indevida para si ou para outrem ou para cau- Sujeito ativo: crime próprio, figurando como sujeito
sar dano: ativo o funcionário público.

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e  É possível a participação do particular, desde que
multa. saiba, por ocasião dos fatos, da condição especial ostentada
pelo funcionário autor (art. 30 do CP).

Sujeito passivo: será o Estado, mais especifica-


 “Peculato Eletrônico”
mente a Administração Pública. Secundariamente, o parti-
cular que sofra prejuízo em virtude da conduta criminosa
Objetividade jurídica: tutela-se a Administração
também poderá ser vítima.
Pública no que concerne à guarda de dados nos sistemas
informatizados ou banco de dados.
Conduta: a distinção mais significativa entre este de-
lito (art. 313-B) e o anterior (art. 313-A) é que naquele
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, que so-
pune-se a inserção ou sua facilitação de dados falsos ou al-
mente poderá ser praticado pelo funcionário público autori-
teração ou exclusão indevida de dados corretos nos siste-
zado, isto é, aquele que estiver lotado na repartição encar-
mas informatizados ou bancos de dados da Administração
regada de cuidar dos sistemas informatizados ou banco de
Pública, enquanto neste o que se coíbe é a ação física de
dados da Administração Pública.
modificar ou alterar o próprio sistema ou programa de infor-
mática.
Sujeito passivo: será o Estado, mais especifica-
mente a Administração Pública. Secundariamente, será ví-
 No delito do art. 313-A o agente não ingressa no
tima o particular que sofra prejuízo em virtude da conduta
sistema operacional (software), mas apenas falsifica os ar-
criminosa.
quivos do programa. No delito do art. 313-B o funcionário
altera a própria programação de modo a modificar o meio e
Conduta: são duas as condutas típicas:
modo de geração e criação de arquivos e dados.
a) Inserir ou facilitar a inserção de dados falsos e
b) Alterar ou excluir indevidamente dados corretos. Tipo subjetivo: é o dolo, ou seja, a vontade consci-
ente de praticar os núcleos do tipo, sem autorização ou so-
licitação da autoridade competente Não se exige qualquer
 Nas duas hipóteses deve o agente agir prevale-
finalidade específica do agente, bem como se mostra irrele-
cendo-se do acesso privilegiado inerente ao seu cargo, em-
vante a obtenção de eventual resultado.
prego ou função pública.
Consumação e tentativa: consuma-se o delito com
Tipo subjetivo: o tipo subjetivo é o dolo, caracteri-
a prática de um dos núcleos do tipo (modificação ou altera-
zado pela vontade consciente de praticar as condutas típi-
ção). São dois os objetos materiais do tipo penal em estudo:
cas, aliado ao fim específico de obter vantagem indevida
sistema ou programa de informática. A tentativa é teorica-
para si ou para outrem, ou para causar dano (elemento sub-
mente possível.
jetivo do tipo).
 A eventual existência de dano serve como causa de
Consumação e tentativa: o delito em questão con-
suma-se com a prática de qualquer um dos núcleos do tipo, aumento de pena, conforme disposto no parágrafo único do
artigo em comento.
independente da obtenção da indevida vantagem ou dano
buscado pelo agente (delito formal ou de consumação ante-
Majorante de pena (parágrafo Único): as penas
cipada). A tentativa é admissível.
são aumentadas de um terço até a metade se da modifica-
ção ou alteração resulta dano para a Administração pública
Modificação ou alteração não autorizada de sis- ou para o administrado.
tema de informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de
2000)
CRIME DE PECULATO

108
No- livro oficial ou qualquer outro documento. Nas duas primei-
men- Localiza- ras modalidades, cuida-se de espécie permanente, cuja con-
Conduta sumação se prolonga no tempo. É admissível a tentativa,
cla- ção
tura porém limitada às hipóteses do extravio e inutilização.
Pecu-
lato Art. 312, Emprego irregular de verbas ou rendas públicas
apro- caput, 1ª Apropriar-se
pria- parte
Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação
ção
diversa da estabelecida em lei:
Pecu-
Art. 312,
lato
caput, 2ª Desviar Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
des-
parte
vio
Pecu- Objetividade jurídica: tutelam-se as verbas da Ad-
Art. 312, § Subtrair ou concorrer para que ministração Pública.
lato
1º seja subtraído
furto
Pecu- Sujeito ativo: o crime é próprio, pois o sujeito ativo
lato Art. 312, § será somente aquele funcionário público que tenha o poder
Concorrer culposamente de administração de verbas ou rendas públicas, v.g., Presi-
cul- 2º
poso dente da República e seus Ministros, Governadores, Secre-
tários, etc.
Pecu-
lato
Apropriar-se após ter recebido  Tratando-se de Prefeito Municipal, a conduta se
este- Art. 313
por erro de outrem subsume ao disposto no art. 1°, III, do Decreto-lei 201/67,
lio-
prevalecendo sobre a norma do Código Penal (princípio da
nato
especialidade).
Pecu- Inserir ou facilitar inserção; e al-
Art. 313-A
lato terar ou excluir dados
Sujeito passivo: o sujeito passivo será o Estado,
ele-
Modificar ou alterar sistema ou bem como, eventualmente, o particular atingido pela con-
trô- Art. 313-B
programa duta criminosa.
nico
Conduta: pune-se o emprego irregular de fundos pú-
blicos (verbas e rendas), contrariando a destinação prevista
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou do- em lei.
cumento
 A palavra "lei" não comporta interpretação exten-
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer docu- siva, excluindo-se, portanto, os decretos e quaisquer atos
mento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo administrativos.
ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade
consciente de desviar fundos públicos da meta especificada
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não em lei, sendo irrelevante a finalidade da conduta.
constitui crime mais grave.
Consumação e tentativa: O momento consumativo
Objetividade jurídica: tutela-se o regular anda- do delito ocorre com a efetiva aplicação irregular das verbas
mento das atividades administrativas. ou rendas em finalidade outra que não a especificada em lei.

Sujeito ativo: é o funcionário público em sentido am-  A simples destinação, sem posterior aplicação,
plo (art. 327 do CP). constitui tentativa.

Sujeito passivo: sujeito passivo é o Estado e, even- Concussão


tualmente, o particular proprietário do documento confiado
à Administração Pública.
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou
Conduta: o tipo traz três núcleos: extraviar, sonegar indiretamente, ainda que fora da função ou antes de as-
e inutilizar. Tais condutas devem recair sobre livro oficial sumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
(em uso ou não) ou qualquer documento (público ou parti-
cular) guardado pelo funcionário em razão da sua função. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).
Tipo subjetivo: é o dolo de praticar um dos núcleos
do tipo. Noção inicial: A concussão é crime em que o funcio-
nário público, valendo-se do respeito ou mesmo receio que
 A forma culposa é indiferente penal, mas o funcio- sua função representa, impõe à vítima a concessão de van-
nário público pode responder administrativamente pelo des- tagem a que não tem direito.
cuido praticado.
ATENÇÃO: A Lei 13.964/2019 – Pacote Anticrime ele-
Consumação e tentativa: consuma-se o crime vou a pena máxima do crime de concussão, que era de 8,
quando há o efetivo extravio, sonegação ou inutilização de para 12 anos de reclusão.

109
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Objetividade jurídica: tutela-se, principalmente, a
moralidade administrativa. Secundariamente, protege-se o
 O tipo penal pune o excesso no desempenho do
particular constrangido pelo ato criminoso do agente.
funcionário público na cobrança de tributos (exação), reves-
tido de abuso de poder, e não a exação em si própria, que
Sujeito ativo: o sujeito ativo do delito é o funcionário
é atividade fundamental para a manutenção do Estado.
público no sentido amplo do direito penal (art. 327 do CP),
incluindo também aquele que, apenas nomeado, embora
Sujeito ativo - O excesso de exação é crime próprio
ainda não esteja no exercício da sua função, atue crimino-
ou especial: somente pode ser cometido pelo funcionário
samente em razão dela.
público, qualquer que seja ele, independentemente do mo-
tivo que o leva a agir, e não apenas pelos agentes fazendá-
 O particular poderá concorrer para a prática delitu-
rios.
osa, desde que conhecedor da circunstância subjetiva ele-
mentar do tipo, ou seja, de estar colaborando com a ação
 Admite-se o concurso de pessoas, em ambas as
criminosa de autor funcionário público (art. 30 do CP).
modalidades (coautoria e participação).
Sujeito passivo: é a Administração Pública, conco-
Sujeito passivo: É o Estado e, mediatamente, o con-
mitantemente com a pessoa constrangida, podendo ser esta
tribuinte lesado pela conduta criminosa.
particular, ou mesmo outro funcionário.
Elemento subjetivo: Na modalidade “exigência in-
IMPORTANTE: Se a vítima entregar ao funcionário
devida” é o dolo, que pode ser direto (“que sabe indevido”)
público a vantagem indevida em razão da exigência por ele
ou eventual (“que deveria saber indevido”), nas situações
formulada, não responde por corrupção ativa (art. 333 do
em que o funcionário público, na dúvida acerca da legalidade
CP), uma vez que somente agiu em razão do constrangi-
ou não do tributo ou contribuição social, ainda assim assume
mento a que foi submetida.
o risco de cometer o delito e insiste na sua exigência.
Conduta: a conduta típica se consubstancia em exigir
 Já na modalidade “cobrança vexatória ou gravosa”
o agente, por si ou por interposta pessoa, explícita ou impli-
o elemento subjetivo é o dolo, direto ou eventual, não inci-
citamente, vantagem indevida, abusando da sua autoridade
dindo a discussão acerca do alcance da expressão “que de-
pública como meio de coação.
via saber indevido”, a qual é inaplicável a esta conduta tí-
pica.
Concussão x Extorsão: A concussão se caracteriza
pela exigência fundada na promessa de concretização de um
ATENÇÃO! Não se admite a forma culposa.
mal relacionado ao campo de atuação do funcionário pú-
blico, não havendo violência à pessoa ou grave ameaça. Na
Consumação - O crime é formal, de consumação an-
extorsão, há violência à pessoa ou grave ameaça.
tecipada ou de resultado cortado: consuma-se com a exi-
gência indevida ou com o emprego de meio vexatório ou
ATENÇÃO! Natureza da vantagem indevida: para a
gravoso do tributo ou contribuição social, independente-
maioria da doutrina, pode ser de qualquer espécie, patrimo-
mente do seu efetivo pagamento.
nial ou não (exemplos: vantagem sexual, prestígio político,
vingança, etc.).
Tentativa: Na modalidade “exigência indevida”, so-
mente será cabível o conatus quando se tratar de crime plu-
Tipo subjetivo: é o dolo de exigir vantagem inde-
rissubsistente, como no exemplo da carta que se extravia
vida. Não se admite a modalidade culposa.
antes da chegada ao contribuinte. Por sua vez, na espécie
“cobrança vexatória ou gravosa”, a tentativa é perfeita-
Consumação e tentativa: consuma-se com a mera
mente possível.
exigência da vantagem indevida pelo agente criminoso
(crime formal). A percepção do proveito do crime é mero
Excesso de Exação x Concussão: No excesso de
exaurimento.
exação o funcionário público exige ilegalmente tributo ou
contribuição social em benefício da Administração Pública;
 Será inadmissível a tentativa quando a conduta ex-
na concussão, por sua vez, o funcionário público o faz em
teriorizar-se em um único e indivisível ato de execução a
proveito próprio ou de terceiro.
exemplo da concussão cometida verbalmente.
Figura qualificada (art. 316, § 2º): Nessa figura
Excesso de exação qualificada, o funcionário público desvia (altera o destino
original) para si ou para outrem o tributo ou contribuição
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que recebeu indevidamente para recolher aos cofres
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando de- públicos.
vido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que
a lei não autoriza: (Redação dada pela Lei nº 8.137, de  O excesso de exação qualificado depende do desvio
27.12.1990) do tributo ou contribuição social indevido antes da sua in-
corporação aos cofres públicos. Caso ocorra depois, o delito
será o peculato.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Corrupção passiva
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou
de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos
cofres públicos:

110
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem,
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes Aceitar promessa - A última hipótese refere-se à
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitação de promessa de uma vantagem indevida. A pala-
aceitar promessa de tal vantagem: vra "promessa" deve ser entendida no sentido comum (con-
sentir, anuir). Também nesta hipótese há corrupção por
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. parte do corruptor (particular que faz a promessa).
(Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
 Para a existência do crime deve haver um nexo en-
tre a vantagem solicitada ou aceita e a atividade exercida
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em con-
pelo corrupto.
sequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda
ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica in-
ATENÇÃO! Existe corrupção ainda que a vantagem
fringindo dever funcional.
seja entregue ou prometida não diretamente ao funcionário,
mas a um familiar seu (mulher, filhos etc.).
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, ce-  Corrupção própria x imprópria - Classifica-se
dendo a pedido ou influência de outrem: como imprópria a corrupção que visa a prática de ato lícito,
e, como própria, a que tiver por finalidade a realização de
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. ato ilícito.

 Corrupção antecedente x subsequente - Se a


A corrupção é a venda do desempenho da função pú-
vantagem ou recompensa é dada ou prometida em vista de
blica. O Código Penal disciplina dois delitos distintos: cor-
uma ação, positiva ou negativa, futura, a corrupção deno-
rupção passiva (art. 317), de natureza funcional, envol-
mina-se antecedente; se é dada ou prometida por uma
vendo a atuação do funcionário público corrompido, inserida
ação, positiva ou negativa, já realizada, chama-se subse-
entre os crimes praticados por funcionário público contra a
quente.
Administração em geral; e corrupção ativa (art. 333),
inerente à conduta do corruptor, incluída no rol dos crimes
Tipo subjetivo: é o dolo, consistente em praticar
praticados por particular contra a Administração em geral.
uma das condutas previstas no tipo.
Corrupção Passiva
Consumação e tentativa: nas modalidades solicitar
e aceitar promessa de vantagem, o crime é de natureza for-
Objetividade jurídica: tutela-se a moralidade admi-
mal, consumando-se ainda que a gratificação não se con-
nistrativa.
cretize. Já na modalidade receber, o crime é material, exi-
gindo efetivo enriquecimento ilícito do autor.
Sujeito ativo: o agente deve ser funcionário público
(art. 327 do CP), incluindo também aquele que, apenas no-
 Admite-se a tentativa apenas na modalidade solici-
meado, embora ainda não esteja no exercício da sua função,
tar, quando formulada por meio escrito (carta interceptada).
atue criminosamente em razão dela.
 Corrupção passiva majorada – (Causa de au-
Sujeito passivo: será o Estado ou, especificamente,
mento de pena (§ 1°): a pena será aumentada de 1/3 se o
a Administração Pública, bem como a pessoa constrangida
corrupto retarda ou deixa de praticar ato de ofício ou o pra-
pelo agente público, desde que, é claro, não tenha praticado
tica com infração do dever funcional. Aqui, o agente cumpre
o crime de corrupção ativa.
o prometido, realizando a pretensão do corruptor.
ATENÇÃO! O particular só será vítima se a corrupção
 Exaurimento penalizado - O que seria mero exauri-
partir do funcionário corrupto. Se o particular oferecer ou
mento passou a ser considerado causa de aumento de pena.
prometer vantagem, responderá por corrupção ativa (art.
333 do CP).
ATENÇÃO: se a violação praticada pelo agente pú-
blico constitui, por si só, um novo crime, haverá concurso
Conduta: são três as condutas típicas: solicitar (pe-
formal ou material (a depender do caso concreto) entre a
dir), explícita ou implicitamente, vantagem indevida; rece-
corrupção passiva e a infração dela resultante, como por
ber referida vantagem; e, por fim, aceitar promessa de tal
exemplo, violação de sigilo funcional.
vantagem, anuindo com futuro recebimento.
 Nessa hipótese, no entanto, a corrupção deixa de
Solicitar - Na primeira hipótese, a corrupção parte do
ser majorada, pois, do contrário, estaríamos no campo do
servidor público; é o próprio funcionário quem toma a inici-
bis in idem, considerando o mesmo fato duas vezes em pre-
ativa da conduta, requerendo que a vantagem lhe seja con-
juízo do funcionário réu.
cedida ou a promessa lhe seja feita. Aqui reside a diferença
marcante entre os crimes dos arts. 316, caput, e art. 317
 Corrupção passiva privilegiada (§ 2°): será pri-
do CP. A ação do funcionário, no caso da concussão, repre-
vilegiado o crime se o agente pratica, deixa de praticar ou
senta uma exigência, seguida ou não do recebimento, e, no
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, ce-
caso da corrupção passiva, representa uma solicitação (pe-
dendo a pedido, pressão ou influência de outrem (art. 317,
dido), de igual modo seguida ou não do recebimento.
§ 2°, do CP), não percebendo qualquer vantagem indevida.
Receber - Já na segunda hipótese, supõe-se uma da-
Corrupção ativa e corrupção passiva – depen-
ção voluntária. A iniciativa é do corruptor, podendo este
dência e independência:
transferir a vantagem até de modo simbólico. Receber e dar
são ideias correlatas: a primeira depende da segunda.
Corrupção ativa

111
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a Tipo subjetivo: é o dolo, ou seja, vontade de facilitar
funcionário público, para determiná-lo a praticar, o contrabando ou o descaminho, consciente de estar infrin-
omitir ou retardar ato de ofício: gindo o dever funcional. Não há modalidade culposa.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
multa. Consumação e tentativa: consuma-se o crime com
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, a efetiva facilitação, ciente o agente de estar infringindo o
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário seu dever funcional, pouco importando se completou ou não
retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo o contrabando ou o descaminho (crime formal ou de consu-
dever funcional. mação antecipada).

Questiona-se a possibilidade da existência de corrup-  A tentativa é possível quando o crime for praticado
ção ativa sem a ocorrência simultânea da corrupção passiva. de forma comissiva.
A resposta a esta indagação depende da análise dos núcleos
dos tipos penais de ambos os crimes. A corrupção ativa pos-
Prevaricação
sui dois verbos: “oferecer” e “prometer”. De outro lado, a
corrupção passiva contém três verbos: “solicitar”, “receber”
e “aceitar” promessa. Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevida-
mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição ex-
Com a comparação dos arts. 333, caput, e 317, caput, pressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pes-
conclui-se pela possibilidade de corrupção ativa, indepen- soal:
dentemente da corrupção passiva, em seus dois núcleos,
pois o particular pode oferecer ou prometer vantagem inde- Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
vida ao funcionário público, sem que este aceite tanto a pro-
posta como a promessa. Objetividade jurídica: tutela-se a Administração
Pública contra os comportamentos de funcionários desidio-
Facilitação de contrabando ou descaminho sos.

Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a Sujeito ativo: o presente crime só pode ser cometido
prática de contrabando ou descaminho (art. 334): por funcionário público (art. 327 do CP). Admite-se a parti-
cipação de terceiro, desde que conhecedor da condição fun-
cional do agente público (art. 30 do CP).
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e
multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Sujeito passivo: será o ente público, atingido com a
conduta irregular do funcionário, podendo ofender, ainda,
 O que em regra caracterizaria participação nos cri- interesses de particulares.
mes de descaminho ou de contrabando (arts. 334 ou 334-A
do CP), aqui passa a ser incriminado de forma autônoma, Conduta: a prevaricação consiste no fato do funcio-
criando o legislador uma figura especial em atenção à cir- nário se afastar do sentido de finalidade pública que deve
cunstância de ser o agente funcionário público incumbido da ser sua atividade, para ter a sua ação voltada para o seu
prevenção e/ou repressão aos crimes de contrabando ou interesse, que lhe pareça condizente com sentimento pes-
descaminho. soal.

Objetividade jurídica: tutela-se a Administração  Três são as formas de praticar o crime de prevari-
Pública. cação: retardando (atrasar, procrastinar) ato de ofício; dei-
xando de praticá-lo (omissão); e, por fim, praticando-o de
Sujeito ativo: somente o funcionário público incum- forma ilegal. Em qualquer caso, porém, é necessário que o
bido de impedir a prática do contrabando ou descaminho ato retardado, omitido ou praticado se revele contra dispo-
poderá pratica-lo (delito próprio). sição expressa de lei (norma penal em branco).

 Caso não tenha essa atribuição funcional, respon- Tipo subjetivo: caracteriza-se o tipo subjetivo pelo
derá pelo delito de descaminho ou pelo de contrabando (art. dolo do agente, ou seja, vontade consciente de retardar,
334 ou 334-A do CP), conforme o caso, na condição de par- omitir ou praticar ilegalmente ato de ofício, acrescido do in-
tícipe. tuito de satisfazer interesse ou sentimento pessoal (ele-
mento subjetivo do tipo), colocando o seu interesse particu-
ATENÇÃO! Competência federal: por se tratar de lar acima do interesse público.
crime praticado em detrimento dos interesses da União, o
processo e o julgamento competem à Justiça Federal, ainda Consumação e tentativa: consuma-se o crime com
que o funcionário criminoso seja estadual. o retardamento, a omissão ou a prática do ato, sendo dis-
pensável a satisfação do interesse visado pelo servidor.
Sujeito passivo: será a Administração Pública.
 A tentativa é possível apenas nas formas comissi-
Conduta: a conduta criminosa consiste em facilitar, vas, hipótese em que o delito permite o fracionamento da
por ação ou omissão, o contrabando (entrada ou saída do sua execução.
país de mercadorias proibidas) ou o descaminho (fraude em-
pregada para elidir o pagamento de impostos de importa- ATENÇÃO! Prevaricação x Corrupção passiva pri-
ção, exportação ou consumo). vilegiada – A prevaricação não se confunde com a corrup-
ção passiva privilegiada (§ 2º do art. 317). Na corrupção
passiva privilegiada, o funcionário atende a pedido ou

112
influência de outrem. Na prevaricação não há tal pedido ou exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não
influência. O agente busca satisfazer interesse ou senti- levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
mento pessoal.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
(Prevaricação imprópria)
Objetividade jurídica: tutela-se o regular anda-
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou mento das atividades administrativas.
agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que per- Sujeito ativo: sujeito ativo do delito é o funcionário
mita a comunicação com outros presos ou com o ambiente público hierarquicamente superior ao servidor infrator.
externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007).
Sujeito passivo: É o Estado ou, mais especifica-
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. mente, a Administração Pública, afetada com a conduta imo-
ral do seu funcionário.

 Como o legislador não conferiu título ao tipo penal, Conduta: a conduta criminosa punível é a de tolerar
coube à doutrina a tarefa de etiquetá-lo, chamando-o de o funcionário público a prática, por parte de seu subordi-
prevaricação imprópria. nado, de infração administrativa ou penal, no exercício do
cargo, deixando de responsabilizá-lo ou, faltando-lhe tal
Objetividade jurídica: protege-se a administração atribuição, não comunicando a violação à autoridade com-
pública contra comportamentos de funcionários que, igno- petente para aplicar a sanção.
rando o seu dever funcional, colocam em risco a segurança
interna e externa (da sociedade em geral) aos presídios, não  Se o superior hierárquico se omite por sentimento
vedando o acesso dos presos a aparelhos de comunicação. outro que não indulgência, espírito de tolerância ou concor-
dância, o crime poderá ser outro, como, por exemplo, pre-
Sujeito ativo: o sujeito ativo não poderá ser qual- varicação ou corrupção passiva.
quer funcionário público, mas aquele que, no exercício das
suas funções, tem o dever de evitar o acesso do preso aos Tipo subjetivo: é o dolo, entendido como a vontade
aparelhos de comunicação proibidos. consciente do superior de não responsabilizar o seu funcio-
nário subordinado – ou, faltando-lhe tal atribuição, não co-
ATENÇÃO: o preso surpreendido com o aparelho, em municar o fato à autoridade competente -, movido pelo sen-
princípio, pratica falta grave, estando sujeito a sanção dis- timento de indulgência (condescendência para com o subor-
ciplinar (art. 50, inc. VII, da LEP). O particular que fornece dinado infrator).
o aparelho para o preso comete o crime do art. 349-A do
CP.  Exige-se que o agente tenha conhecimento não
apenas da infração ocorrida, mas também da sua autoria.
Sujeito passivo: será o Estado e, secundariamente,
a sociedade. Consumação e tentativa: o crime se consuma no
momento em que o funcionário superior, depois de tomar
Conduta: o crime é omissivo puro e consiste em dei- conhecimento da infração, deixa correr o prazo legalmente
xar (omitir, não cumprir) o agente seu dever funcional de previsto para a tomada de providências contra o subordi-
vedar (proibir, impedir) ao preso o acesso (o alcance) a apa- nado infrator.
relho que possibilite a comunicação com outros presos (do
mesmo estabelecimento ou não) ou com o ambiente externo
(qualquer pessoa situada fora do ambiente carcerário). Advocacia administrativa

Tipo subjetivo: caracteriza-se pelo dolo do agente, Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, inte-
vontade consciente de não vedar, quando obrigado (dever), resse privado perante a administração pública, valendo-se
o acesso do preso ao aparelho de comunicação. Não se exige da qualidade de funcionário:
qualquer finalidade especifica por parte do agente.
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
ATENÇÃO! A forma culposa, apesar de ser um indi-
ferente penal, pode acarretar responsabilidade administra-
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
tiva ou civil.

Consumação e tentativa: o crime se consuma com Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
a omissão do dever legal, sendo dispensável o efetivo multa.
acesso do preso ao aparelho de comunicação.
Objetividade jurídica: tutela-se a moralidade admi-
 A tentativa não é admitida, pois se trata de crime nistrativa.
omissivo puro (de mera conduta).
Sujeito ativo: sujeito ativo do delito é o funcionário
Condescendência criminosa público na ampla definição do art. 327 do CP (crime próprio).

 Admite-se o concurso de terceiro não qualificado,


Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de
na modalidade de coautoria ou participação, desde que co-
responsabilizar subordinado que cometeu infração no
nhecedor da condição funcional do agente público (art. 30
do CP).

113
Objetividade jurídica: tutela-se o regular desenvol-
Sujeito passivo: será a Administração Pública. vimento das atividades administrativas, punindo-se a inter-
rupção do trabalho do servidor público que abandona suas
Conduta: a conduta típica é patrocinar o agente, di- atividades, fora dos casos permitidos em lei.
reta ou indiretamente, ainda que não no exercício do cargo,
emprego ou função, mas valendo-se da sua qualidade de Sujeito ativo: embora o nomen juris do dispositivo
funcionário, interesse privado perante a Administração Pú- em estudo seja abandono de função, entende a doutrina que
blica. somente o funcionário ocupante de cargo público pode co-
meter o crime, não prevalecendo a regra ampla do art. 327
 Patrocinar significa defender, pleitear, interferir do CP.
junto a companheiros ou superiores hierárquicos o interesse
particular. Sujeito passivo: será a Administração Pública.

ATENÇÃO! Para que se configure este delito, não Conduta: visando não deixar paralisada a máquina
basta que o agente ostente a condição de funcionário pú- administrativa, pune o legislador a conduta daquele que
blico, mas é necessário e indispensável que pratique a ação deixa o cargo público, por prazo juridicamente relevante, de
aproveitando-se das facilidades que sua qualidade de funci- forma a acarretar probabilidade de dano à administração.
onário lhe proporciona.
 É a conduta equivalente à deserção do direito mili-
IMPORTANTE: Não importa o fato de ser lícito ou ilí- tar.
cito o interesse apadrinhado pelo funcionário, configurando-
se, em qualquer uma das hipóteses, o crime em tela. Aliás, Tipo subjetivo: pune-se apenas a forma dolosa, con-
se o interesse visado for ilegítimo, incidirá a qualificadora do sistente na vontade do agente de abandonar o cargo, inter-
parágrafo único. rompendo o serviço desempenhado.

Tipo subjetivo: pune-se apenas a conduta dolosa do Consumação e tentativa: o delito se consuma com
agente em patrocinar interesse privado alheio perante a Ad- a ausência injustificada do agente por tempo suficiente para
ministração Pública. criar a possibilidade concreta (real e efetiva) de dano para
a Administração Pública. Desta forma, o crime continuará
Consumação e tentativa: consuma-se com a prá- existindo mesmo que esteja presente um substituto que
tica de ato revelador do patrocínio que ofenda a moralidade possa intervir imediatamente.
administrativa. Independe da obtenção de qualquer vanta-
gem. A doutrina admite a tentativa.  Por tratar-se de crime omissivo próprio, a tentativa
não é admitida.
 Caso o interesse seja “próprio” do funcionário, não
estará configurado o delito, podendo ocorrer mera infração Formas qualificadas (§ 1° e 2°): se do abandono
funcional. de função resultar prejuízo, será o agente apenado com de-
tenção, de 3 meses a I ano e multa. Se o fato ocorrer em
faixa de fronteira, o abandono de função será apenado com
Violência arbitrária
detenção, de 1 a 3 anos e multa.

Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou


a pretexto de exercê-la: Exercício funcional ilegalmente antecipado ou
prolongado
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
pena correspondente à violência. Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes
de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la,
sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exo-
Revogação: Prevalece, em doutrina, o entendimento nerado, removido, substituído ou suspenso:
no sentido de que o crime em análise foi tacitamente revo-
gado pela Lei de Abuso de Autoridade.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Abandono de função
Objetividade jurídica: tutela-se o regular desenvol-
vimento das atividades administrativas.
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos
permitidos em lei: Sujeito ativo: será o funcionário público que ante-
cipa ou prolonga o exercício de suas funções.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
ATENÇÃO: é exatamente a qualidade do agente –
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: funcionário público - que distingue este crime daquele pre-
visto no art. 328 do CP (usurpação de função pública), co-
metido por particular inteiramente alheio à função pública.
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Sujeito passivo: será o Estado.
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
de fronteira: Conduta: a primeira conduta punível se consubstan-
cia em antecipar-se o agente no exercício de função pública,
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. deixando de observar, por completo, as exigências legais

114
(diplomação, posse, inspeção médica etc.). Na segunda mo- razão do cargo ou função que exerce, isto é, deve estar en-
dalidade, o agente prolonga o exercício da função pública, tre as suas atribuições o conhecimento do fato secreto.
mesmo depois de dela exonerado, removido, substituído ou
suspenso.  Se a ciência do segredo não se der em razão do
cargo público ou função que exerce, poderá haver outro
 Trata-se, aqui, de decisão tomada na órbita admi- crime (Violação de segredo profissional - art. 154, CP).
nistrativa, pois, se judicial, o crime é o do art. 359 do Código
Penal (Desobediência a decisão judicial sobre perda ou sus- ATENÇÃO! Em juízo, o servidor público que estiver
pensão de direito). na qualidade de testemunha pode escusar-se de depor para
resguardar segredo inerente ao seu cargo.
Tipo subjetivo: é o dolo do agente de exercer função
pública, sabendo que está impedido para tanto. Não se exige Tipo subjetivo: consiste no dolo de transmitir a ou-
qualquer finalidade específica por parte do agente. Não se trem informação sigilosa que o funcionário público obteve
pune a conduta culposa, podendo ser esta tida como ilícito em razão do cargo. Não se admite a modalidade culposa.
administrativo, apenas.
Consumação e tentativa: consuma-se no momento
Consumação e tentativa: consuma-se com a prá- em que terceiro não autorizado conhecer do segredo. A ten-
tica, pelo agente, de qualquer atividade que só poderia ser tativa mostra-se impossível na revelação oral, cuja execu-
praticada por quem estivesse regularmente investido em ção não pode ser fracionada em diversos atos, porém, o
função pública, situação de que ele sabe não desfrutar. A mesmo não acontece com a escrita.
tentativa é perfeitamente admitida na hipótese em que o
agente é impedido de praticar atos que configurem o tipo  Trata-se de crime formal, cuja caracterização inde-
penal. pende da ocorrência do prejuízo, bastando a potencialidade
de dano
Violação de sigilo funcional
Figuras equiparadas (§ 1°): é punido com as mes-
mas penas do caput quem permite ou facilita, mediante atri-
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão buição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer
do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar- outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste-
lhe a revelação: mas de informações ou banco de dados da Administração
Pública (inciso I), ou se utiliza, indevidamente, do acesso
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, restrito a tais informações (inciso II).
se o fato não constitui crime mais grave.
Procurou o legislador, desse modo, proteger a regu-
§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: laridade da Administração Pública no que se refere ao sigilo
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) que deve existir quanto aos dados de sistema de informação
ou banco de dados dos serviços públicos.
I – permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
 Nesta hipótese, o sujeito ativo é o funcionário pú-
mento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o
blico que opera o sistema ou banco de dados da Administra-
acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informa-
ção Pública. Sujeito passivo é o Estado.
ções ou banco de dados da Administração Pública;
Forma qualificada (§ 2°): será qualificado o crime
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. se a conduta descrita no caput, ou no § 1° (formas equipa-
radas), causar dano à Administração ou a outrem. Impor-
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administra- tante ressaltar que o resultado que seria mero exaurimento
ção Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de do crime tornou-se uma figura criminosa mais gravosa.
2000)
ATENÇÃO! Aplicando-se o princípio da especialidade,
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. a violação de sigilo funcional envolvendo certames de inte-
resse público não caracteriza o crime do art. 325, mas sim
o do art. 311-A do CP.
Objetividade jurídica: tutela-se o sigilo das infor-
mações inerentes à Administração Pública.

Sujeito ativo: o delito é praticado pelo funcionário Violação do sigilo de proposta de concorrência
público, na ampla acepção conferida pelo art. 327 do CP.
Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrên-
 Predomina na doutrina a lição de que mesmo o fun- cia pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-
cionário aposentado ou afastado da sua função pode come- lo:
ter o crime, pois não se desvincula totalmente dos deveres
para com a Administração Pública. Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.

Sujeito passivo: é o ente público que teve o seu se-


gredo revelado e, eventualmente, o particular lesado pela Revogação: O art. 326 do Código Penal foi tacita-
revelação do segredo. mente revogado pelo art. 94 da Lei 8.666/1993 – Lei de
Licitações.
Conduta: o tipo descrito no caput traz dois núcleos:
revelar ou facilitar a revelação de segredo que sabia em Funcionário público

115
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os Causa de aumento de pena - No § 2° vem descrita
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem re- uma causa de aumento de pena aplicável quando os autores
muneração, exerce cargo, emprego ou função pública. dos crimes previstos neste capítulo forem ocupantes de car-
gos em comissão ou de função de direção ou assessora-
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce mento de órgão da administração direta, sociedade de eco-
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem nomia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou poder público (não incluindo a autarquia).
conveniada para a execução de atividade típica da Adminis-
tração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando


os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocu-
pantes de cargos em comissão ou de função de direção ou EXERCÍCIOS
assessoramento de órgão da administração direta, socie-
dade de economia mista, empresa pública ou fundação ins- 01. (2017 - NC-UFPR – UFPR - Auxiliar em Administra-
tituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de ção) Considere os seguintes situações:
1980)
I - Funcionário público simula viagem para receber dinheiro
referente a diárias.
O Código Penal, ao considerar o que seja funcionário
público para fins penais, preceitua conceito diverso do Di- II - Empresário oferece valor em dinheiro a funcionário pú-
reito Administrativo, tomando a expressão no sentido mais blico para obter velocidade na tramitação de processo ad-
amplo. Assim, para os efeitos penais, considera-se funcio- ministrativo de seu interesse.
nário público não apenas o servidor legalmente investido em III - Secretário de Estado toma conhecimento de desvio fun-
cargo público, mas também o que exerce emprego público, cional de subordinado, mas não determina a apuração dos
ou, de qualquer modo, uma função pública, ainda que de fatos por se tratar de seu amigo e aliado político.
forma transitória, v.g., o jurado, os mesários eleitorais etc.
Tais situações constituem, respectivamente, os crimes con-
Titulares de Cartórios - Os titulares de cartórios de tra a Administração Pública de:
notas e de registro são considerados servidores públicos a) corrupção passiva – corrupção ativa – favorecimento pes-
para fins penais, pois, por meio de concurso público, rece- soal.
bem delegação do poder público para atuação na esfera car-
torária. b) peculato – prevaricação – favorecimento pessoal.
c) condescendência criminosa – concussão – prevaricação.
 O mesmo não ocorre com os funcionários dos res-
pectivos cartórios, que são contratados livremente e não d) peculato – corrupção ativa – prevaricação.
ocupam cargo público, ainda que se sujeitem, em certos as- e) condescendência criminosa – peculato – corrupção pas-
pectos, à legislação que regula a organização judiciária siva.

ATENÇÃO! Não se inclui no conceito a pessoa que re-


cebe encargo público (munus publicum), hipótese esta não 02. (2017 - VUNESP - TJ-SP - Escrevente Técnico Ju-
abrangida pela expressão "funcionário público". São exem- diciário) Funcionário público municipal, imprudentemente,
plos os tutores ou curadores nomeados pelo juiz, os inven- deixa a porta da repartição aberta ao final do expediente.
tariantes judiciais. Assim agindo, mesmo sem intenção, concorre para que ou-
tro funcionário público, que trabalha no mesmo local, sub-
Equiparado a funcionário público - O § 1º do art. traia os computadores que guarneciam o órgão público. O
327 traz hipóteses de equiparação ao funcionário público. Município sofre considerável prejuízo. A conduta do funcio-
Nos termos deste dispositivo, são equiparados ao funcioná- nário que deixou a porta aberta traduz-se em
rio público, para efeitos penais, quem exerce cargo, em-
a) peculato culposo.
prego ou função em entidade paraestatal (autarquia, socie-
dades de economia mista, empresas públicas e fundações b) fato atípico.
instituídas pelo Poder Público), bem como quem trabalha c) prevaricação.
para empresa prestadora de serviço contratada (concessio-
nárias ou permissionárias de serviço público) ou conveniada d) peculato-subtração.
para a execução de atividade típica da Administração Pú- e) mero ilícito funcional, sem repercussão na esfera penal.
blica, v.g., Santa Casa de Misericórdia.

ATENÇÃO! O conceito de funcionário público, para 03. (2016 – Pref. do Rio de Janeiro – RJ – Pref. do Rio
efeitos penais, abrange, por equiparação, aqueles que tra- de Janeiro – RJ - Assistente Administrativo) Se o fun-
balham nas empresas prestadoras de serviços contratadas cionário público se apropria de bem móvel público de que
ou conveniadas. tem a posse em razão do cargo, acaba por praticar o se-
guinte crime:
Serviço atípico - Tal equiparação não abrange, con-
tudo, os funcionários atuantes em empresa contratada para a) extravio
prestar serviço atípico para a Administração Pública como, b) concussão
v.g., uma empresa contratada para funcionar num cerimo-
c) patrocínio
nial de recepção a um chefe de governo estrangeiro.
d) peculato

116
04. (2016 – FCC - SEGEP-MA - Técnico da Receita Es- 08. (2016 – FGV - MPE-RJ - Técnico do Ministério Pú-
tadual) Praticado o peculato culposo, fica extinta a punibi- blico) Caio ocupa cargo em comissão em órgão da adminis-
lidade do funcionário público que repara o dano antes tração direta, tendo se apoderado, indevidamente e em pro-
veito próprio, de um laptop pertencente ao órgão por ele
a) do oferecimento da denúncia.
dirigido e do qual tinha a posse em razão do cargo. Diante
b) da sentença irrecorrível. do fato narrado, Caio deverá responder por:
c) da conclusão da investigação penal. a) crime comum, mas não próprio, já que não pode ser con-
d) de ser exonerado do serviço público. siderado funcionário público;

e) da conclusão do processo administrativo disciplinar. b) peculato-furto, com o aumento de pena em razão do


cargo comissionado ocupado;
c) peculato apropriação, com o aumento de pena em razão
05. (2017 – VUNESP - TJ-SP - Escrevente Técnico Ju- do cargo comissionado ocupado;
diciário) Certos crimes têm suas penas estabelecidas em
patamares superiores quando presentes circunstâncias que d) peculato apropriação, com direito à extinção da punibili-
aumentam o desvalor da conduta. São os denominados “ti- dade se devolvida a coisa ou reparado o dano antes do re-
pos qualificados”. cebimento da denúncia;

Assinale a alternativa que indica o crime que tem como e) peculato-furto, com a redução da pena pela metade se
qualificadoras “resultar prejuízo público” e “ocorrer em lugar devolvida a coisa antes do recebimento da denúncia.
compreendido na faixa de fronteira”.
a) Corrupção passiva. 09. (2016 – FGV - MPE-RJ - Técnico do Ministério Pú-
b) Exercício arbitrário das próprias razões. blico) Técnico de notificação do Ministério Público recebe
documentos sigilosos oriundos de determinando procedi-
c) Abuso de poder. mento para cumprimento de diligência. De maneira negli-
d) Violência arbitrária. gente, porém, joga-os no lixo juntamente com outros papéis
de contas pessoais, causando, assim, o sumiço do impor-
e) Abandono de função. tante documento público. Considerando a situação narrada,
a conduta do técnico de notificação, sob o ponto de vista
penal:
06. (2017 – CONSULPLAN - TRF - 2ª REGIÃO - Técnico
Judiciário) Assinale a alternativa que apresenta a descrição a) configura crime de excesso de exação;
da conduta típica do crime de corrupção passiva. b) configura crime de extravio, sonegação ou inutilização de
a) Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário livro ou documento público;
público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato c) configura crime de violação do sigilo funcional;
de ofício.
d) é atípica;
b) Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi- e) configura crime de modificação ou alteração não autori-
la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar pro- zada de sistema de informações.
messa de tal vantagem.
c) Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, 10. (2016 – FUNCAB - SEGEP-MA - Agente Penitenciá-
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em rio) Roberval, agente penitenciário, atendendo ao pedido de
razão dela, vantagem indevida. um amigo, retarda indevidamente a prática de ato de ofício,
d) Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofí- infringindo dever funcional. Roberval:
cio, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para sa- a) praticou crime de corrupção passiva.
tisfazer interesse ou sentimento pessoal.
b) não praticou crime algum, mas apenas infração adminis-
trativa.
07. (2017 – CONSULPLAN - TRF - 2ª REGIÃO - Técnico c) praticou crime de prevaricação.
Judiciário) Considere as seguintes afirmativas sobre o
crime de Peculato. d) praticou crime de corrupção passiva privilegiada.

l. O peculato é um crime próprio quanto ao sujeito ativo. e) praticou crime de advocacia administrativa.

II. A reparação do dano, quando precede à sentença irre-


corrível, reduz em metade a pena. 11. (2016 – FCC - TRF - 3ª REGIÃO - Técnico Judiciá-
III. O terceiro que participa do crime, sabendo da qualidade rio) É punível na forma culposa o delito de
de servidor do seu companheiro criminoso, também res- a) abandono de função.
ponde pelo crime de peculato.
b) peculato.
Estão corretas as afirmativas
c) violação de sigilo funcional.
a) I, II e III.
d) prevaricação.
b) I e II, apenas.
e) concussão.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.

117
12. (2016 – Pref. do Rio de Janeiro – RJ – Pref. do Rio promessa de tal vantagem, caracteriza o crime de corrupção
de Janeiro – RJ - Assistente Administrativo) Dar às ver- passiva.
bas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em
d) retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofí-
lei configura o seguinte crime:
cio, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para sa-
a) excesso de exação tisfazer interesse ou sentimento pessoal caracteriza o crime
de condescendência criminosa.
b) emprego irregular de verbas
e) deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar
c) estelionato
subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou,
d) cooptação quando lhe falte competência, não levar o fato ao conheci-
mento da autoridade competente caracteriza o crime de pre-
varicação.
13. (2016 – FGV - MPE-RJ - Técnico do Ministério Pú-
blico) João foi aprovado em concurso público para ingresso
no quadro de funcionários do Ministério Público, sendo no- 16. (2016 – FCC - SEGEP-MA - Técnico da Receita Es-
meado e tendo tomado posse, e, apesar de não ter assumido tadual) João, chefe da repartição pública, constata que seu
sua função por razões burocráticas, já foi informado de que subordinado Antonio cometeu infração ao despachar pro-
seria designado para atuar junto à Promotoria de Justiça Cri- cesso administrativo de sua responsabilidade e atribuição.
minal de Duque de Caxias. Ciente da existência de investi- João, sabendo que Antonio passa por difícil situação pessoal,
gação para apurar ilícitos fiscais que estariam sendo prati- deixa de tomar as providências disciplinares cabíveis ao
cados por empresário da cidade, colega de seu pai, procura caso. A conduta de João caracteriza o crime de
o advogado do investigado e narra que será designado para
a) prevaricação.
atuar na Promotoria com atribuição para o caso, passando
a solicitar a quantia de 50 mil reais para, de alguma forma, b) advocacia administrativa.
influenciar naquela investigação de maneira favorável ao in-
c) condescendência criminosa.
diciado. Considerando a situação narrada, é correto afirmar
que a conduta de João, em tese: d) favorecimento pessoal.
a) configura crime de corrupção passiva; e) favorecimento real.
b) configura crime de prevaricação;
c) configura crime de advocacia administrativa; 17. (2014 – FUNDATEC - SUSEPE-RS - Agente Peniten-
ciário) Deixar o funcionário, por indulgência, de responsa-
d) configura crime de exercício funcional ilegalmente ante-
bilizar subordinado que cometeu infração no exercício do
cipado ou prolongado;
cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao
e) é atípica, já que nem mesmo havia iniciado o exercício de conhecimento da autoridade competente, é considerado
sua função. crime de:
a) Prevaricação.
14. (2017 - NC-UFPR – UFPR - Técnico em Mecânica) b) Corrupção passiva.
A ação de “retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
c) Concussão.
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei,
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal” configura d) Advocacia administrativa.
crime de: e) Condescendência criminosa.
a) corrupção passiva.
b) tráfico de influência. 18. (2016 – UFMT - TJ-MT - Distribuidor, Contador e
c) advocacia administrativa. Partidor) Quanto aos crimes praticados por funcionários
públicos, analise as assertivas.
d) prevaricação.
I - O funcionário público retarda ou deixa de praticar ato de
e) concussão.
ofício, ou o pratica, violando dever funcional para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal.
15. (2016 - Coperve – FURG – FURG - Assistente em II - O agente, em razão de sua função, mesmo que ainda
Administração) Quanto aos crimes contra a Administração não tenha assumido ou fora dela (ex. afastado), solicita ou
Pública, é correto dizer que: recebe, para si ou outrem, vantagem indevida ou promessa
de vantagem em virtude de fazer ou deixar de fazer algo.
a) apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem III - O agente exige para si ou para outrem, direta ou indi-
a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito pró- retamente, vantagem indevida, em razão da sua função, da
prio ou alheio, caracteriza o crime de concussão. função que irá assumir (nomeado, mas não empossado) ou
mesmo estando fora dela (suspenso ou de licença).
b) exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em IV - O funcionário público subtrai, concorre para que seja
razão dela, vantagem indevida, caracteriza o crime de pe- subtraído, desvia, ou se apropria de dinheiro, valor ou qual-
culato. quer bem móvel, tanto público quanto particular, para pro-
veito próprio ou alheio por deter a posse deles em função
c) solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
do seu cargo.
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-
la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar

118
Os crimes descritos acima, são, de acordo com o Código Pe-
nal brasileiro, os seguintes:
a) I- peculato; II- corrupção passiva; III- concussão; e IV-
prevaricação.
b) I- prevaricação; II- concussão; III- corrupção passiva; e
IV- peculato.
c) I- prevaricação; II- corrupção passiva; III- concussão; e
IV- peculato.
d) I- concussão; II- prevaricação; III- peculato; e IV- cor-
rupção passiva.

19. (2016 – CESGRANRIO – ANP - Técnico em Regula-


ção de Petróleo e Derivados) Sra. X é servidora pública
efetiva, atuando na repartição federal J, sendo responsável
pela administração de inúmeros contratos firmados pela Ad-
ministração Pública. Após submissão à auditoria especial ex-
terna, verificou-se o desvio de numerário originado das
avenças administrativas para o patrimônio da servidora, que
dele se apropriou indevidamente com utilização pessoal.
Nesse caso, constatou-se a consumação do crime de
a) estelionato
b) peculato
c) extravio
d) sonegação
e) concussão

20. (2016 – COMPERVE - Câmara de Natal – RN -


Guarda Legislativo) Nos crimes contra a administração,
existe uma gama de crimes praticados por funcionários pú-
blicos. Nesse contexto, é primordial definir o que é funcio-
nário público para efeitos penais e suas consequências, in-
clusive para efeito de majoração da pena. Sobre essa ques-
tão, o código Penal estabelece:
a) considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
quem está legalmente investido em cargo público efetivo
perante a administração direta.
b) considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
quem, apenas permanentemente, exerce cargo, emprego
ou função pública.
c) será aumentada a pena da terça parte quando os autores
dos crimes previstos no código penal forem ocupantes de
cargos efetivos de direção, assessoramento e consultoria de
órgão da administração direta, indireta, suas autarquias e
fundações.
d) equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
emprego ou função em entidade paraestatal, e quem traba-
lha para empresa prestadora de serviço contratada ou con-
veniada para a execução de atividade típica da Administra-
ção Pública.

GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D A D B E B C C D D
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
B B A D C C E C B D

119

Você também pode gostar