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DISCIPLINA

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SUMÁRIO
AULA 01 .................................................................................................................................................................................... 2
AULAS 02 A 15 – TEORIA DO CRIME ................................................................................................................................ 3
AULAS 16 A 19 – DAS PENAS ............................................................................................................................................ 21
AULAS 20 A 23 – CRIME CONTRA A VIDA ...................................................................................................................... 27

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AULA 01

DIREITO PENAL

2.1. Do crime (artigo 13 ao 25).


2.2. Das Penas (artigos 32 ao 52).
2.3. Dos crimes contra a honra (artigos 138 ao 145).
2.4. Dos crimes contra a Pessoa (artigos 121 ao 154).
2.5. Dos crimes contra a liberdade individual (artigos 146 ao 150).
2.6. Dos crimes contra o Patrimônio (artigos 155 ao 180).
2.7. Dos crimes praticados por funcionário público contra a Administração em Geral
(artigos 312 ao 327).

Teoria do crime

A infração penal é o gênero do qual decorrem duas espécies, crime e contravenção.


Nos termos do art. 1° da Lei de Introdução ao CP:

Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção,
quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a
infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas.
alternativa ou cumulativamente

Diferenças Crimes ContravençõesPenais

Reclusão ou detenção com Prisão simples com


PENAS aplicação cumulativa ou cominação alternativa ou
alternativa com pena de multa cumulativa com pena de multa

TENTATIVA Punível Impunível

EXTRATERRITORIALIDADE Prevista Não prevista

LIMITE DAS PENAS 40 anos 5 anos

Ação penal pública


AÇÃO PENAL condicionada, ação penal Ação penal pública
pública incondicionada ou incondicionada
ação penal privada.

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O crime pode ser conceituado, ainda, sob um aspecto analítico, que o divide em partes, de
forma a estruturar seu conceito.
A teoria tripartida (teoria aceita pela doutrina mais que majoritária) entende que crime é o
fato típico, ilícito, com agente culpável, ou seja:

para ser crime os três elementos devem estar está presente

OBS: A punibilidade é pressuposto para aplicação da pena, não fazendo parte da


conceituação de infração penal.

AULAS 02 A 15 – TEORIA DO CRIME

FATO TÍPICO

Conduta: é a ação ou omissão humana, voluntária e consciente, dotada de finalidade, cujo


elemento subjetivo é o dolo ou a culpa.
Nexo Causal: é o vínculo de causa e efeito, entre a conduta e o resultado praticado.
Resultado: Resultado naturalístico é a modificação realizada na realidade, no mundo
exterior, sendo que não está presente em todos os delitos.
Tipicidade: é a correspondência entre a conduta praticada pelo sujeito ativo e a hipótese
normativa da lei penal incriminadora, ou seja, o encaixe entre os fatos e a previsão da infração
penal pela lei.

CONDUTA

Para a teoria finalista (adotada no Brasil) a conduta humana é a ação (positiva ou


negativa) voluntária dirigida a uma determinada finalidade.
CONDUTA = VONTADE (VOLUNTARIEDADE) + AÇÃO OU OMISSÃO
EXEMPLO: Matheus olha para Victor e o agride, por livre espontânea vontade. Estamos diante de
uma conduta (quis agir e agrediu) dolosa (quis o resultado).
Agora, se Matheus dirige seu carro, vê Victor e sem querer, o atinge, estamos diante de
uma conduta (quis dirigir e acabou ferindo) culposa (não quis o resultado).

EXCLUDENTES DE CONDUTA OU FATO TIPICO

Coação física irresistível: representa o impedimento de o sujeito orientar sua conduta livremente.

OBS: Coação MORAL irresistível exclui a Culpabilidade

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Estado de inconsciência completa: caso o sujeito não esteja consciente, não há que se falar em
conduta, já que um de seus elementos é a vontade. Ex: hipnose ou sob o efeito de sonambulismo.
Movimentos reflexos: os movimentos reflexos do corpo, involuntários, são aqueles sobre os
quais tomamos consciência após sua ocorrência. Cuida-se de uma reação corpórea a um estímulo
sensorial. Por serem involuntários, não há, obviamente, voluntariedade e, assim, não se considera
a existência de conduta para o Direito Penal.

A conduta pode se manifestar por meio de uma ação ou de uma omissão.

A ação representa um comportamento comissivo, positivo. Para ser penalmente relevante,


é necessário que haja a violação de um tipo proibitivo.
Por sua vez, a omissão representa um comportamento negativo, omissivo. Enseja a
responsabilização criminal quando representa a desobediência a um tipo mandamental, ou seja,
de um tipo que determina, de forma imperativa, a realização de uma conduta valiosa.

Omissão de socorro

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

ESPÉCIES DA CONDUTA QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO

Art. 18 - Diz-se o crime:

Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

CONDUTA (VOLUNTÁRIA) + RESULTADO (VOLUNTÁRIO)

O dolo é o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade, livre e consciente, de


praticar o crime (dolo direto), ou a assunção do risco produzido pela conduta (dolo eventual).
Exemplo de dolo direto
A pessoa assalta um indivíduo à mão armada. Sua intenção era realmente levar os
pertences da vítima, e suas ações são realizadas para isso.

Um exemplo de dolo eventual

O motorista que não para no cruzamento de uma via com sinal vermelho e no horário de
pico, passa direto e acaba colidindo com outro veículo que transitava pela via preferencial.

Outras espécies de DOLO

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DOLO ALTERNATIVO: é a vontade do agente de produzir qualquer dos resultados
previstos.
EX: Imaginem a ex-mulher que, buscando vingança do seu ex-marido, corta os cabos do freio do
seu veículo, desejando que algum mal lhe aconteça. Para ela, seria desejável tanto sua morte
quanto que ele se lesionasse.
DOLO DE SEGUNDO GRAU: é a vontade que abrange os efeitos colaterais, que se
estende aos meios utilizados para se alcançar o resultado inicialmente pretendido. Também
denominado de dolo de consequências necessárias, é o que abrange os efeitos certos ou
necessários do meio de execução escolhido pelo agente, sendo indiferente sua vontade em
relação a eles. Ou seja, o agente aceita produzir consequências além das que efetivamente
deseja de forma primordial, de modo que sua vontade livre e consciente abrange o resultado
mais gravoso por ele produzido exemplo:( A) quer matar (B ) q está dentro de um avião com 150 pessoas,
porém (A) coloca uma bomba no avião e sem medir consequências pq
Art. 18 - Diz-se o crime: mesmo q as 149 pessoas também morram ele vai está satisfeito pq B
matar A
morreu.
é dolo
Crime culposo de 1 essas 149 pessoas é chamado de EFEITO COLATERAL ( ou seja, dolo
grau de 2º grau)
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia.
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente.

Obs: O CRIME CULPOSO é a EXCEÇÃO DO CODIGO PENAL.

No crime culposo a conduta do agente não é dirigida ao resultado criminoso previsto no


tipo, mas pela violação a um dever de cuidado, o agente acaba por dar causa ao resultado não
querido.

CONDUTA (VOLUNTÁRIA) + RESULTADO (INVOLUNTÁRIO)

A violação ao dever objetivo de cuidado pode se dar de três maneiras:

(OMISSÃO) Negligência – O agente deixa de tomar todas as cautelas necessárias para que sua
conduta não venha a causar o resultado. Conduta POSITIVA. NEGATIVA
( AÇÃO) Imprudência – O agente aqui pratica atos temerários, que não se coadunam com a
prudência que se deve ter na vida em sociedade, praticando conduta demasiadamente arriscada
e potencial causadora de danos aos demais. Conduta NEGATIVA. POSITIVA
Imperícia – Decorre do desconhecimento de uma regra técnica profissional. Falta técnica
(perícia) ao agente na prática da conduta (Ex.: médico que comete falha grotesca ao realizar uma
cirurgia e o paciente morre).

ESPÉCIES DE CULPA

Culpa Consciente, com previsão : o agente prevê o resultado, mas não o aceita, espera
que ele não ocorra.

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Ex: Caçador que, avistando um companheiro próximo do animal que deseja abater, confia em sua
condição de perito atirador para não atingi-lo quando disparar, causando, ao final, lesões ou morte
da vítima ao desfechar o tiro.
Culpa Inconsciente, sem previsão : o agente não prevê o resultado, mas este era
objetivamente previsível.
Ex.: indivíduo que atinge involuntariamente a pessoa que passava pela rua, porque atirou um
objeto pela janela por acreditar que ninguém passaria naquele horário.

Qual a diferença entre dolo eventual e culpa consciente?

Culpa Consciente Dolo Eventual


Previsão do resultado Previsão do resultado
+ +
Não Aceitação de que ocorrerá Anuência (assuncão do risco)

“É possível, mas não vai acontecer” “Não importa se vai acontecer”

Culpa Imprópria: A culpa imprópria se verifica quando o sujeito prevê e deseja o resultado,
mas atua em erro vencível (arts. 20, §1°, 2° parte, e 23, parágrafo único, do CP).
Art. 20. § 1.º É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena
quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
Esse tipo de culpa ocorre na hipótese de uma descriminante putativa em que o agente, em
virtude de erro evitável pelas circunstâncias, dá causa dolosamente a um resultado, mas
responde como se tivesse praticado um crime culposo.
Por exemplo, o agente está em casa, à noite, e ouve um barulho; assustado, supõe que o
barulho tenha sido ocasionado por um ladrão e dispara contra o vulto. Após o disparo, constata
que o disparo, que resultou em morte, foi efetuado contra um guarda noturno. Nessas situações,
o agente, que atuou com dolo, responde por crime culposo;

Crime preterdoloso (ou preterintencional).

O crime preterdoloso ocorre quando o agente, com vontade de praticar determinado crime
(dolo), acaba por praticar crime mais grave, não com dolo, mas por culpa.
Um exemplo clássico é o crime de lesão corporal seguida de morte, previsto no art. 129, § 3° do
CP.
Lesão corporal seguida de morte

Art. 129 § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o
resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:

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Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

TIPO OMISSIVO

O tipo omissivo é aquele cuja conduta consiste em um não fazer.

A omissão só interessa ao Direito Penal, portanto, a partir de uma norma que imponha
comportamento diverso, um tipo mandamental.
Art, 13 § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para
evitar o resultado

CRIME OMISSIVO PRÓPRIO

- Tipo penal, de natureza mandamental, que determina a punição por omissão em


determinados casos.
Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:

CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO (O GARANTE_) ASSUME RESPONSABILIDADE DE EVITAR RESULTADO

Nestes casos, portanto, o agente possui um dever específico de agir, decorrente de uma
das hipóteses da cláusula geral
Art. 13 § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; EX: baba
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado ex manutenção de carro
EX: É o que acontece quando a mãe de uma criança deixa de alimentá-la, provocando a sua
morte. Neste caso, a mãe responderá pelo crime de homicídio, já que tinha o dever jurídico de
alimentar seu filho.
A omissão imprópria pode responsabilizar o autor tanto por conduta dolosa (quis ou
assumiu o risco de produzir o resultado) quanto por conduta culposa (imprudência, negliência ou
imperícia).

É possível a tentativa nos crimes omissivos impróprios?

No crime impróprio é perfeitamente possível a tentativa, vez que o agente tem um dever
especifico (art. 13 § 2º CP), e responde pelo resultado.

Requisitos da Omissão Imprópria:

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Conhecimento da situação que causa perigo: é imprescindível, sob pena de se admitir a
responsabilidade objetiva, que o sujeito tenha consciência da situação de risco ao bem jurídico.

Consciência de sua posição de garante: também como decorrência do próprio princípio


da culpabilidade, é imprescindível que o sujeito tenha consciência da sua situação, a qual leva a
um dever jurídico de agir, seja ele genérico ou específico.

Possibilidade real, física, de impedir que o resultado aconteça, de executar a ação


exigida: por fim, a responsabilidade penal só pode ocorrer caso se demonstre que o agente
poderia evitar o resultado. Se ele estava impossibilitado fisicamente de agir, não se pode falar
em responsabilização.

CRIME CONSUMADO E TENTADO

Iter criminis

1.Cogitação (cogitatio)

É a representação mental do crime na cabeça do agente, a fase inicial, na qual o agente


idealiza como será a conduta criminosa. Trata-se de uma fase interna, ou seja, não há
exteriorização da ideia criminosa, adoção de preparativos, nada disso. Assim, a cogitação é
sempre impunível, pois não sai da esfera psicológica do agente.

2.Atos preparatórios (conatus remotus)

Aqui o agente adota algumas providências para a realização do crime, ou seja, dá início aos
preparativos para a prática delituosa, sem, contudo, iniciar a execução do crime propriamente dita.
Como regra, os atos preparatórios são impuníveis, já que o agente não chega, sequer, a iniciar a
execução do crime.
Todavia, os atos preparatórios serão puníveis quando configurarem, por si só, um
delito autônomo (ex.: comprar ilegalmente uma arma de fogo, visando a prática futura de um
homicídio)

3. Atos executórios

Os atos executórios são aqueles por meio dos quais o agente, efetivamente, dá início à
conduta delituosa, por meio de um ato capaz de provocar o resultado. punivel pela tentativa

4. Consumação
Aqui o crime atinge sua realização plena, havendo a presença de todos os elementos que
o compõem, ou seja, o agente consegue realizar tudo o que o tipo penal prevê, causando a ofensa
jurídica prevista na norma penal.

Crime consumado

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Art. 14. I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal
Crime material ou de resultado: a consumação ocorre com a produção do resultado naturalístico.
Crime formal ou de execução antecipada: a consumação ocorre no momento da conduta,
independentemente da produção do resultado. Caso o resultado naturalístico ocorra, será
considerado mero exaurimento do crime;
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar
de fazer alguma coisa
Crime de mera conduta: o crime também se consuma no momento da conduta (comissiva ou
omissiva) do agente;
Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como
finalidade a prática de outro crime:

TENTATIVA

Art. 14 - Diz-se o crime:


Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
Mas, qual é a pena do agente em caso de tentativa? A pena será a mesma do crime
consumado, reduzida de um a dois terços.

Quanto mais próximo da consumação, menor será a diminuição da pena, e vice-versa.

EXEMPLO: José quer roubar Maria, e anuncia o assalto. Antes que Maria entregue qualquer
pertence, a polícia chega e prende José em flagrante.
EXEMPLO 2: José quer matar Maria, e contra ela desfere vários disparos de arma de fogo. Maria,
porém, é socorrida, levada para o hospital e sobrevive

Tentativa branca ou incruenta – Ocorre quando o agente sequer atinge o objeto que pretendia
lesar. Ex.: José atira em Maria, com dolo de matar, mas erra o alvo.
Tentativa vermelha ou cruenta – Ocorre quando o agente atinge o objeto, mas não obtém o
resultado naturalístico esperado, em razão de circunstâncias alheias à sua vontade. Ex.: José atira
em Maria, com dolo de matar, e acerta o alvo. Maria, todavia, sofre apenas lesões leves no braço,
não vindo a falecer.
Tentativa perfeita – Ocorre quando o agente esgota completamente os meios de que dispunha
para lesar o objeto material. Ex.: José atira em Maria, com dolo de matar, descarregando todos os
projéteis da pistola. Acreditando ter provocado a morte, vai embora satisfeito. Todavia, Maria é
socorrida e não morre.
Tentativa imperfeita – Ocorre quando o agente, antes de esgotar toda a sua potencialidade
lesiva, é impedido por circunstâncias alheias, sendo forçado a interromper a execução. Ex.: José
possui um revólver com 06 projéteis. Dispara os 03 primeiros contra Maria, mas antes de disparar

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o quarto é surpreendido pela chegada da Polícia Militar, de forma que foge sem completar a
execução, e Maria não morre.
Crimes culposos – Não há que se falar em interrupção involuntária da execução do crime já que
não é querido pelo agente, logo, a vontade dele não é dirigida a um fim ilícito
Crimes preterdolosos – Como nestes crimes existe dolo na conduta precedente e culpa na
consequência, não se admite tentativa.
Crimes unissubsistentes – São aqueles que se produzem mediante um único ato, não cabendo
fracionamento de sua execução. EXEMPLO: Injúria verbal. Ou o agente profere a injúria e o crime
está consumado ou ele sequer chega a proferi-la, não havendo crime algum.
Crimes omissivos próprios – Seguem a mesma regra dos crimes unissubsistentes, pois ou o
agente se omite, e pratica o crime na modalidade consumada ou não se omite, hipótese na qual
não comete crime.
Contravenções penais – A tentativa, neste caso, até pode ocorrer, mas não será punível.
Crimes habituais – Nestes crimes, o agente deve praticar diversos atos, habitualmente, a fim de
que o crime se consume. Entretanto, o problema é que cada ato isolado é um indiferente penal.
Exemplo: Crime de curandeirismo, no qual ou o agente pratica atos isolados, não praticando
crime, ou o faz com habitualidade, praticando crime consumado, nos termos do art. 284, I do CP.

CCHOUP
CRIME IMPOSSÍVEL

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
No crime impossível (tentativa inidônea), diferentemente do que ocorre na tentativa, embora
o agente inicie a execução do delito, JAMAIS o crime se consumaria, em hipótese nenhuma, ou
pelo fato de que:
1) meio utilizado é completamente ineficaz (ex.: gestante que tenta abortar ingerindo
substância incapaz de provocar aborto) ou
2) objeto material é impróprio para aquele crime (ex.: tentar matar um cadáver).

Desistência voluntária

Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o


resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
Na desistência voluntária o agente, por ato voluntário, desiste de dar sequência aos atos
executórios, mesmo podendo fazê-lo.

Na tentativa – O agente quer, mas não pode prosseguir.


Na desistência voluntária – O agente pode, mas não quer prosseguir

A lei exige a voluntariedade da desistência, e não espontaneidade.

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Arrependimento Posterior

Desistência voluntária e arrependimento eficaz


Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que
o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
No arrependimento eficaz é diferente. Aqui o agente já praticou todos os atos executórios
que queria e podia, mas após isto, se arrepende do ato e adota medidas que acabam por
impedir a consumação do delito
Para que estes institutos ocorram, é necessário que a conduta (desistência voluntária e
arrependimento eficaz) impeça a consumação do resultado. Se o resultado, ainda assim, vier a
ocorrer, o agente responde pelo crime

Arrependimento posterior

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o
dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário
do agente, a pena será reduzida de um a dois terços
O arrependimento posterior é a causa de diminuição de pena incidente quando, após a
consumação do crime, o agente repara o dano ou restitui a coisa. O crime deve ter sido
cometido sem violência ou grave ameaça.
O arrependimento posteiror ocorre, por exemplo, quando o sujeito que praticou um furto
devolve a res furtiva, ou seja, o objetivo furtado antes do recebimento da denúncia pelo juiz.

Nexo Causal

O Código Penal, em relação ao nexo causal, prevê o seguinte, no caput seu artigo 13:
“O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.”

CAUSA 🡪 RESULTADO
NEXO CAUSAL

CONCAUSAS

É possível que mais de uma causa auxilie na produção do resultado.

CONCAUSA pode ser entendido como o conjunto de fatores:

Preexistentes (anteriores): Exemplo: Com intenção de matar, ‘A’ desfere facadas em ‘B’
(portador de hemofilia), que vem a falecer em consequência dos ferimentos aliados ao seu estado
de saúde. Responderá por Homicídio Consumado
Concomitantes (simultâneos): Exemplo: ‘A’ desfere facadas em ‘B’ no exato instante em que
este está sofrendo um ataque cardíaco. Responderá por Homicídio Consumado

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Supervenientes (posteriores): Exemplo: A desfere uma facada em B que vem a falecer
posteriormente com o capotamento da ambulância
Podem ser, ainda, absolutamente ou relativamente independentes:
Absolutamente independentes: Possuem origem totalmente diversa da conduta do agente.
Rompem o nexo causal. concausa
É o caso do sujeito que envenena seu amigo para se vingar dele. Entretanto, ao deixá-lo bebendo
o suco que preparou, entra um terceiro e dispara em sua direção, provocando sua morte.

Um antecedente não dependia do outro para ocorrer.

Por isso, o nexo causal sempre é rompido, devendo o agente responder pelos atos que já
praticou.
Relativamente independentes: É a causa que se origina, mesmo que indiretamente, da conduta.
É o caso do sujeito que é esfaqueado por outro, gravemente, após uma partida de futebol,
por desentendimentos sobre a marcação ou não de um gol. A vítima é socorrida, mas, no hospital,
tem complicações, decorrentes de uma infecção hospitalar, e morre.
Deste modo, um antecedente dependeu do outro para ocorrer
Causa relativamente independente que produziu o resultado por si só:
Ser superveniente + Produzir por si só o resultado = Rompe o Nexo Causal
Superveniência de causa independente
Art. 13 § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os
pratico.
Ex: Um sujeito que foi ferido em uma briga de bar e, por isso, está em uma ambulância. No caminho
para o hospital, cai um meteoro e destrói a ambulância, provocando sua morte.
Causa relativamente independente que NÃO produziu o resultado por si só: Duas causas
interligadas (a superveniente e a conduta do agente) produzem o resultado.
Ex: A desfere uma facada em B, que vem a morrer no hospital por uma infecção hospitalar que
adquiriu por conta do tratamento

Não rompe o nexo causal

Causas Espécie Responsabilização


Preexistente Rompem o nexo causal.
Absolutamente Concomitante O agente responde somente
Independentes Superveniente pelos atos que praticou.

Preexistente
Concomitante Não rompem o nexo causal. O
Que não produz o resultado agente responde pelo resultado
por si só (soma de energias) provocado.
Relativamente Que por si só produz o
Independentes Superveniente resultado (novo nexo de Rompe o nexo causal
causalidade)

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ILICITUDE

Antijuridicidade (ou ilicitude) é a condição de contrariedade da conduta perante o Direito.


Estando presente o primeiro elemento (fato típico), presume-se a ilicitude, que será afastada caso
haja a presença de uma causa de exclusão da ilicitude.
Genéricas – São aquelas que se aplicam a todo e qualquer crime. Estão previstas na parte geral
do Código Penal, em seu art. 23
Específicas – São aquelas que são próprias de determinados crimes, não se aplicando a outros.
Por exemplo: Furto de coisas comum, previsto no art. 156, §2°. Nesse caso, o fato de a coisa
furtada ser comum retira a ilicitude da conduta. Porém, só nesse crime!

Estado de Necessidade

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida
de um a dois terços.

EXEMPLO: Salomão vê uma criança chorando em um carro fechado em um dia de muito


calor. Para salvar a criança, Salomão quebra o vidro do carro. Nesse caso, apesar de a conduta
(quebrar o vidro do carro) esteja prevista como fato típico (art. 163 do CP), não houve crime, em
razão do estado de necessidade
O Brasil adotou a teoria unitária de estado de necessidade, que estabelece que o bem
jurídico protegido deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado, afastando-se em ambos os
casos a ilicitude da conduta. No caso de o bem sacrificado ser de valor maior que o bem
protegido, o agente responde pelo crime, mas tem sua pena diminuída
Os requisitos para a configuração do estado de necessidade são basicamente dois:
a) a existência de uma situação de perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiro;
b) o fato necessitado (conduta do agente na qual ele sacrifica o bem alheio para salvar o próprio
ou do terceiro)
Não ter sido criada voluntariamente pelo agente - Ou seja, o agente não pode ter causado
dolosamente a situação de perigo.
Perigo atual – O perigo deve estar ocorrendo. A lei não permite o estado de necessidade diante
de um perigo futuro, ainda que iminente.
O agente não pode ter o dever legal enfrentar o perigo – Em regra, por exemplo, um bombeiro
não pode alegar Estado de Necessidade.
Ser conhecida pelo agente – O agente deve saber que está agindo em estado de necessidade
(elemento subjetivo).

CLASSIFICAÇÕES DO ESTADO DE NECESSIDADE

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Agressivo – Quando para salvar seu bem jurídico o agente sacrifica bem jurídico de um terceiro
que não provocou a situação de perigo.
Defensivo – Quando o agente sacrifica um bem jurídico de quem ocasionou a situação de perigo
Real – Quando a situação de perigo efetivamente existe;
Putativo – Quando a situação de perigo não existe de fato, apenas na imaginação do agente (não
exclui a ilicitude, podendo ser causa de exclusão da culpabilidade, se derivar de erro inevitável

Cabe estado de necessidade contra estado de necessidade?

A doutrina reconhece o estado de necessidade recíproco, em que duas pessoas estão em


situação de estado de necessidade e buscam o sacrifício do bem jurídico, um do outro, para salvar
outro. Exemplo típico é o de dois náufragos, que encontram apenas um salva-vidas. Ambos podem
disputar o único colete e seus comportamentos com o intuito de se salvarem estão acobertados
pela excludente de ilicitude.

Furto famélico configura estado de necessidade?

O furto famélico é aquele realizado por quem busca se alimentar ou alimentar outrem. É a
subtração de algo por aquele que possui fome. Pode sim configurar estado de necessidade.

LEGÍTIMA DEFESA

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Para configuração da legítima defesa, excludente da ilicitude, são necessários os seguintes
requisitos:

• Agressão injusta;
• Agressão atual ou iminente;
• Proteção de direito próprio ou alheio;
• Uso moderado dos meios necessários;
• Conhecimento da situação de fato justificante. (que realmente sabe que a agressão vai acontecer)

O conhecimento da situação de fato justificante é o elemento subjetivo necessário


para a configuração da legítima defesa. É necessário que o agente saiba que está repelindo
uma agressão injusta e possua a vontade livre e consciente de neutralizá-la para defender bem
jurídico seu ou alheio.
A Lei 13.964/2019, conhecida como Pacote Anticrime, inseriu o parágrafo único ao artigo
25 do Código Penal, de seguinte teor:
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se
também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de
agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.

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Buscou-se destacar uma situação, por razões eminentemente políticas, que já estava
obviamente abrangida pela legítima defesa, que se configura justamente quando há a necessidade
de se repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito de outrem. Nota-se uma expressão do
Direito Penal Simbólico.

Classificações de legítima defesa

Legítima defesa real ou própria: é a legítima defesa com todos os pressupostos preenchidos.
Legítima defesa putativa: como já visto, o termo putativo significa imaginar, supor. Portanto,
legítima defesa putativa é aquela suposta, imaginada pelo agente. O agente supõe, por erro de
tipo ou de proibição, estar acobertado por legítima defesa. Deste modo, repele uma agressão que
só é injusta em razão do equívoco do sujeito.
Legítima defesa sucessiva: é a causa de excludente que acoberta o agente que, após provocar
a injusta agressão, busca repelir o excesso. Imaginem que o sujeito agride um outro com um tapa.
O outro, buscando se defender da agressão, pega um facão e começa a atacá-lo. Então, o primeiro
agressor, verificando esse excesso, se defende, pegando um outro facão para se defender

E se houver erro de execução (aberratio ictus) na legítima defesa?

O agente responde como se tivesse atuado contra o agressor, nos termos do artigo 73 do
Código Penal.

Cabe legítima defesa recíproca?

A doutrina afasta a hipótese, por ser seu requisito a agressão injusta. Caso o sujeito inicie
uma agressão injusta e a vítima se defenda (legítima defesa), não é possível que o sujeito que
iniciou a agressão invoque a legítima defesa, pois a agressão da vítima é legítima.

É possível a ocorrência conjunta de estado de necessidade e legítima defesa?

Sim. Um exemplo dado pela doutrina é a do agente que, para se defender de um assaltante,
subtrai a arma de fogo do vigilante do banco, deixada no chão, sem autorização
legitima defesa
ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL
não posso alegar estrito cumprimento do dever legal para matar alguém estado de
necessidade

É a situação em que alguém cumpre um dever imposto pela lei, dentro dos limites por
ela determinados.
Como as demais causas excludentes de ilicitude, já estudadas, é imprescindível que
esteja presente o elemento subjetivo. Isto é, o agente deve ter conhecimento da situação que o
permite agir em estrito cumprimento de um dever legal.
O estrito cumprimento do dever legal abrange o particular ou apenas o funcionário
público?

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A doutrina diverge a respeito da possibilidade de um particular invocar o estrito cumprimento
do dever legal. Para a maioria, o particular pode sim invocar esta excludente da ilicitude;

EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO

O exercício regular de um direito é a causa excludente de ilicitude que abrange a conduta


de qualquer cidadão que é autorizada por lei, que constitui uma prerrogativa legal. Mais uma
vez, cumpre enfatizar a necessidade, como nas demais excludentes de ilicitude, da presença do
elemento subjetivo
A doutrina aponta como exemplos de exercício regular de um direito os seguintes
• Intervenção médica ou cirúrgica em caso de iminente risco de vida (art. 146, §3º, I –
constrangimento ilegal)
• Coação para impedir suicídio (art. 146, §3º, II – constrangimento ilegal)
• Esportes violentos (art. 3º, Lei 9.615/98 – reconhecimento estatal)

OFENDÍCULOS

Os ofendículos, também denominados de offendicula ou offensacula, querem dizer


obstáculo ou obstrução. Cuida-se de aparato predisposto, que deve estar visível, destinado à
proteção de bens jurídicos, como a vida e a propriedade. São exemplos os cacos de vidro em
cima de muros e as cercas elétricas sinalizadas.
Há discussão na doutrina, sobre se tratar de exercício regular de um direito, o que parece
mais adequado, ou legítima defesa, que seria preordenada.

EXCESSO PUNÍVEL

A conduta acobertada por uma excludente da ilicitude deve ser praticada com razoabilidade,
dentro dos limites da lei
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo.
O excesso doloso ocorre quando o agente, deliberadamente, decide violar o bem jurídico
alheio além dos limites autorizados pela descriminante. Ex: para defender-se de um tapa, mata a
tiros o agressor
O excesso é culposo quando o agente está atuando sob uma descriminante, mas, por
imprudência, negligência ou imperícia, se excede. Ex: para se defender de uma agressão injusta,
o agente da uma paulada na perna, e por imprudência, acaba acertando a cabeça e matando o
agressor.

CULPABILIDADE

A culpabilidade nada mais é que o juízo de reprovabilidade acerca da conduta do agente,


considerando-se suas circunstâncias pessoais. Diferentemente do que ocorre nos dois

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primeiros elementos (fato típico e ilicitude), onde se analisa o fato, na culpabilidade o objeto de
estudo não é o fato, mas o agente.
Elementos da culpabilidade:
a) imputabilidade;
b) potencial consciência da ilicitude;
c) exigibilidade de conduta diversa.

NÃO PUNIR- NÃO SERÃO PUNIDAS


Imputabilidade penal

A imputabilidade penal pode ser conceituada como a capacidade mental de entender o


caráter ilícito da conduta e de comportar-se conforme o Direito.
Existem três sistemas acerca da imputabilidade:
Biológico – Basta a existência de uma doença mental ou determinada idade para que
o agente seja inimputável. É adotado no Brasil com relação aos menores de 18 anos.
Psicológico – Só se pode aferir a imputabilidade (ou não), na análise do caso concreto,
verificando se o agente tinha capacidade, à época do fato, de entender o caráter ilícito de
sua conduta e comportar-se de acordo com este entendimento.
Biopsicológico – Deve haver um fato biológico (ex.: doença mental), mas o Juiz deve
analisar no caso concreto se o agente era ou não, à época do fato, capaz de entender o caráter
ilícito da conduta e de se comportar conforme o Direito (fator psicológico). Essa foi a teoria
adotada como regra pelo nosso Código Penal.

Menor de 18 anos

Esse é um critério meramente biológico e taxativo: se o agente é menor de 18 anos,


responde perante o ECA não se aplicando a ele o CP.
No caso de o agente ser inimputável, por ser menor de 18 anos, não há processo penal,
respondendo perante o ECA. O Juiz aplicará uma medida de segurança (internação ou
tratamento ambulatorial), em razão de sua periculosidade (não há culpabilidade aqui). Isso é o que
se chama de sentença absolutória imprópria.

Doença mental e Desenvolvimento mental incompleto ou retardado

No caso dos doentes mentais, deve-se analisar se o agente era, ao tempo do fato criminoso,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da conduta ou se era parcialmente incapaz disso.
Agente inteiramente incapaz – Inimputável (exclui a culpabilidade)
Agente parcialmente capaz – Semi-imputável (reduz a pena de 1/3 a 2/3)

Embriaguez

Segundo o CP, como regra, a embriaguez não é uma hipótese de inimputabilidade, de


forma que o agente responderá pelo crime, ou seja, será considerado IMPUTÁVEL
Trata-se da adoção da chamada “Teoria da actio Libera in causa” (Ação Livre na Causa)

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Segundo esta Teoria, o agente deve ser considerado imputável mesmo não tendo
discernimento no momento do fato, pois tinha discernimento quando decidiu ingerir a
substância.
Todavia, a embriaguez pode afastar a imputabilidade quando for acidental, ou seja,
decorrente de caso fortuito ou força maior (E mesmo assim, deve ser completa
Importante destacar que o Código Penal exige que, em razão da embriaguez decorrente
de caso fortuito ou força maior, o agente esteja INTEIRAMENTE INCAPAZ de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se conforme este entendimento EXCLUI A CULPABILIDADE
E a embriaguez preordenada? A embriaguez preordenada é aquela na qual o agente se
embriaga PARA tomar coragem e praticar o crime. Tal embriaguez não afasta a imputabilidade
do agente, sendo, ainda, circunstância agravante da pena (a pena, portanto, será aumentada em
TIPOS DE EMBRIAGUES: VOLUNTARIA CULPOSA: não exclui a culpabilidade
razão de tal fato).
ACIDENTAL, CASO
FORTUITO, FORÇA MAIOR: completa - exclui a culpabilidade

Exigibilidade de conduta diversa PREORDENADA: Agravante

Se se conclui que não era possível exigir do agente uma postura diferente, conforme o
Direito, estará afastada a exigibilidade de conduta diversa, havendo neste caso o que se chama
de inexigibilidade de conduta diversa.

Coação MORAL irresistível – Neste caso, aquele que age sob ameaça, por exemplo, atua
em situação de coação moral irresistível, de forma que se entende que não era possível exigir de
tal pessoa uma outra postura.

Obediência hierárquica – Na obediência hierárquica o agente pratica o fato em


cumprimento a uma ordem proferida por um superior hierárquico. Todavia, a ordem não pode
ser MANIFESTAMENTE ILEGAL. Se aquele que cumpre a ordem sabe que está cumprindo uma
ordem ilegal, responde pelo crime juntamente com aquele que deu a ordem.

Erro de proibição

A culpabilidade é formada por alguns elementos, dentre eles, a potencial consciência da


ilicitude, que é a possibilidade de o agente, de acordo com suas características, conhecer
o caráter ilícito do fato.
Quando o agente age acreditando que sua conduta não é ilícita, comete erro de
proibição.

Erro sobre a ilicitude do fato (Proibição)

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável,


isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Inevitável ou Escusável– Nesse caso, era impossível àquele agente, naquele caso
concreto, saber que sua conduta era contrária ao Direito. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e
o agente é isento de pena.

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Exemplo: Um pescador, que mora no interior em região sem sinal de internet e tv, pesca peixe em
período de defeso.

Evitável ou Inescusável – Nesse caso, o erro do agente quanto à proibição da conduta


não é tão perdoável, pois era possível, mediante algum esforço, entender que se tratava de
conduta ilícita (contrária ao direito). Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo crime,
com pena diminuída de um sexto a um terço.
Exemplo: holandês, habituado a consumir maconha no seu país de origem, acredita ser
possível utilizar a mesma droga no Brasil, equivocando-se quanto ao caráter proibido da sua
conduta.

Erro de proibição direto

No erro de proibição direto o agente se equivoca quanto ao conteúdo de uma norma


proibitiva, ou porque ignora a existência do tipo incriminador, ou porque não conhece
completamente o seu conteúdo, ou porque não entende o seu âmbito de incidência
Ex: usar droga no Brasil achando que é permitido.
Erro de proibição indireto ou erro de permissão
No erro de proibição indireto (descriminante putativa por erro de proibição) o agente sabe
que a conduta é típica, mas supõe presente uma norma permissiva, ora supondo existir uma
causa excludente da ilicitude, ora supondo estar agindo nos limites da descriminante.
Exemplo: “A”, traído por sua mulher, acredita estar autorizado a matá-la para defender sua honra
ferida.

ERRO DE TIPO não sabe o que esta fazendo

ERRO DE TIPO ESSENCIAL


joão poderia ser isento de pena
O agente pratica um fato considerado típico, mas o faz por ter incidido em erro sobre algum
de seus elementos.
O erro de tipo é a representação errônea da realidade, na qual o agente acredita não
se verificar a presença de um dos elementos essenciais que compõem o tipo penal
EXEMPLO: JOÃO, 18 anos, conhece Marcia, moça de apenas 13 anos, em uma boate só para
maiores. Marcia mente a idade e diz que tem 18 anos. João, pela compleição física da vítima, uma
moça já desenvolvida, acredita que esta tem, de fato, 18 anos, e com ela mantém relação sexual.
Nesse caso, João teria praticado o fato descrito como crime de estupro de vulnerável (art. 217-A
do CP), na medida em que manteve relação sexual com pessoa menor de 14 anos. Todavia, nesse
caso houve erro de tipo, eis que João incorreu em erro sobre as circunstâncias fáticas, acreditando
não estar presente um dos elementos do tipo (ser Marcia menor de 14 anos)
O erro de tipo pode ser:
Escusável – Quando o agente erra sobre as circunstâncias fáticas, desconhecendo um dos
elementos do tipo penal, e este erro não pode ser atribuído sequer a uma culpa de sua parte. Ou

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seja, trata-se de um erro justificável, escusável, desculpável ou inevitável. Nesse caso, fica
afastado o fato típico, eis que se afasta o dolo e também se afasta qualquer possibilidade
de punição a título culposo. O agente não será responsabilizado criminalmente.

EXCLUI O DOLO E A CULPA

Inescusável – Ocorre quando o agente incorre em erro sobre elemento essencial do tipo, mas
poderia, mediante um esforço mental razoável, não ter agido desta forma, de maneira que o
erro pode ser atribuído a culpa de sua parte. Nesse caso, afasta-se o dolo, mas é possível a
punição na forma culposa (desde que haja previsão de punição para esta conduta na forma
culposa).

EXCLUI O DOLO, MAS NÃO EXCLUI A CULPA

ERRO DE TIPO ACIDENTAL

O erro de tipo acidental nada mais é que um erro na execução do fato criminoso ou um
desvio no nexo causal da conduta com o resultado.

Erro sobre a pessoa (error in persona) obs: uma mãe em estado puerperal só como infanticídio se for com o próprio
filho, caso seja outra criança, será homicídio.

Aqui o agente pratica o ato contra pessoa diversa da pessoa visada, por confundi-la com a
pessoa que deveria ser o alvo do delito.
Neste caso, o erro não isenta de pena, e o agente responde como se tivesse praticado o
crime CONTRA A PESSOA VISADA.
Ex.: José quer matar seu pai, pois está com raiva em razão da partilha dos bens de sua mãe. José
fica na espreita e, quando vê uma pessoa chegar, acreditando ser seu pai, mira bem no crânio e
lasca um balaço certeiro, fazendo com que a vítima caia desfalecida. Após, verifica que a pessoa
não era seu pai, mas seu tio.

Erro sobre o nexo causal

É o engano no que se refere ao meio de execução do delito.


Ocorre quando o agente, acreditando já ter ocorrido o resultado pretendido, prática outro
ato, mas ao final verifica que este último foi o que provocou o resultado
Ex.: O agente atira contra a vítima, visando sua morte. Acreditando que a vítima já morreu, atira o
corpo num rio, visando sua ocultação. Mais tarde, descobre-se que esta última conduta foi a que
causou a morte da vítima, por afogamento, pois ainda estava viva).
O agente responde pelo crime originalmente previsto (homicídio doloso consumado),
tendo sido adotada a teoria unitária (ou princípio unitário).

Erro na execução (aberratio ictus)

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Aqui o agente atinge pessoa diversa daquela que fora visada, não por confundi-la, mas por
erro ou acidente na execução
ex.: José, querendo acertar Maria, desfere um tiro. José erra o alvo e acerta Teresa, que passava
perto do local
No caso de erro na execução, assim como no erro sobre a pessoa, não há isenção de
pena, respondendo o agente como se tivesse atingido a vítima visada.

Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido (aberratio delicti ou aberratio


criminis)

Aqui o agente pretendia cometer um crime, mas, por acidente ou erro na execução, acaba
cometendo outro
Pessoa visada, coisa atingida – Responde pelo dolo em relação à pessoa (ex.: José atira uma
pedra em Maria e acaba quebrando uma vidraça. Responde por lesão corporal tentada, apenas).
Coisa visada, pessoa atingida – Responde apenas pelo resultado ocorrido em relação à pessoa
(ex.: José, querendo quebrar uma vidraça, atira uma pedra, mas erra e acerta Maria, causando-
lhe lesão corporal. Responde apenas por lesão corporal culposa).
Quando o agente atinge tanto o alvo quanto a coisa ou pessoa não pretendida, aplica-se a
mesma regra do erro na execução: atingindo ambos os bens jurídicos (o pretendido e o não
pretendido) responderá por AMBOS OS CRIMES, em CONCURSO FORMAL

Erro determinado por terceiro

No erro determinado (ou provocado) por terceiro o agente erra porque alguém o induz a isso
Nesse caso, só responde pelo delito aquele que provoca o erro. Entende-se que há, aqui, uma
modalidade de autoria mediata, na qual o autor mediato (agente provocador) utiliza o autor
imediato
Ex.: Determinado médico, querendo a morte do paciente, entrega ao enfermeiro (dolosamente)
uma dose de veneno, e o induz a ministra-lo ao paciente, alegando tratar-se de um sedativo. O
enfermeiro, sem saber do que se trata, confiando no médico, ministra o veneno. O paciente morre.
Nesse caso, somente o médico (aquele que provocou o erro) responde pelo homicídio
(neste caso, doloso).

AULAS 16 A 19 – DAS PENAS


DAS PENAS
(Art. 32 ao 52)

Se a conduta incriminada pelo tipo penal incriminador é um preceito primário, a pena


(sanção penal) a ele cominada (prevista) é o que se pode chamar de preceito secundário
A pena possui como pressuposto de sua aplicação a culpabilidade do agente. Já as
medidas de segurança não possuem a culpabilidade como pressuposto de sua aplicação
(até porque o agente não é plenamente imputável, não possuindo, portanto, culpabilidade), mas
sim a periculosidade.
Princípios

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Reserva legal ou legalidade estrita – Somente a Lei (em sentido estrito) pode cominar penas
Anterioridade – A Lei que prevê a pena para a conduta deve ser anterior à prática do crime
Intranscendência da pena – A pena (inclusive a pena de multa) deve ser cumprida somente pelo
condenado, não podendo, em caso de morte deste, ser transferida aos seus familiares, salvo a
obrigação de reparar o dano e o perdimento de bens, que podem ser cobrados dos sucessores
até o limite do patrimônio transferido pelo condenado falecido.
Inevitabilidade ou inderrogabilidade da pena – Presentes os requisitos para a condenação, a
pena não pode deixar de ser imposta e cumprida. É mitigado, atualmente, por institutos como o
sursis, o livramento condicional, etc.
Princípio da humanidade ou humanização das penas – A pena não pode desrespeitar os
direitos fundamentais do indivíduo, violando sua integridade física ou moral, e também não pode
ser de índole cruel, desumano ou degradante
Princípio da proporcionalidade – A sanção aplicada pelo Estado deve ser proporcional à
gravidade da infração cometida e também deve ser suficiente para promover a punição ao infrator
e sua reeducação socia
Princípio da individualização da pena – A pena deve ser aplicada de maneira individualizada
para cada infrator em cada caso específico.
Teoria Mista (unificadora ou eclética ou unitária) e sua dupla finalidade - Aqui, entende-se
que a pena deve servir como castigo (punição) ao infrator, mas também como medida de
prevenção, tanto em relação à sociedade quanto ao próprio infrator (prevenção geral e especial).

ESPÉCIES

O CP previu, em seu art. 32, as penas privativas de liberdade, restritivas de direitos e multa
Privativas de liberdade – Retiram do condenado o direito à liberdade de locomoção, por
determinado período (é vedada pena de caráter perpétuo, art. 5°, XLVII, b da Constituição).
Máximo de 40 anos para crimes (art. 75 do CP3 ) e de 05 anos para contravenções penais (art. 10
da Lei de Contravenções Penais);
Restritivas de direitos – Em substituição à pena privativa de liberdade, limitam (restringem) o
exercício de algum direito do condenado. Estão previstas no art. 43 do CP e em alguns dispositivos
da Legislação Especial.
Pena de multa – Recai sobre o patrimônio financeiro do condenado
Estas penas podem ser cominadas:
Isoladamente – A Lei prevê a aplicabilidade de apenas uma espécie de pena.
Exemplo: art. 121 do CP – Pena de reclusão, não prever a pena de Multa.
Cumulativamente – A Lei prevê a aplicabilidade conjunta de duas espécies de penas.
Exemplo: art. 155 do CP – Pena de reclusão e multa;
Alternativamente – A Lei comina, alternativamente, duas espécies de pena.
Exemplo: art. 331 do CP – Desacato : Detenção ou multa.

Privativa de liberdade

Como já vimos, o Direito Penal pátrio admite três modalidades de penas privativas de
liberdade: reclusão, detenção e prisão simples (somente para as contravenções penais).

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O regime de cumprimento de cumprimento da pena está previsto no art. 33, § 1° do CP, e
pode ser fechado, semiaberto ou aberto.
A pena de reclusão pode ter qualquer regime inicial.
A pena de detenção só pode ter regime inicial semiaberto ou aberto
- O condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
- O condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8
(oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto;
- O condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde
o início, cumpri-la em regime aberto;
Além disso, na fixação do regime inicial de cumprimento da pena, o Juiz, caso fixe
regime inicial mais gravoso que o permitido em razão da pena imposta (ex.: fixar regime
fechado para primário com pena não superior a 08 anos), deverá fundamentar sua decisão de
maneira idônea, com fundamentos inerentes ao caso concreto em si.
Não pode o Juiz, ainda, fixar regime mais gravoso do que aquele abstratamente previsto tendo em
conta a pena aplicada, tendo como base unicamente a gravidade abstrata do delito
Regras do regime fechado- art. 34

O trabalho durante o regime de cumprimento da pena é obrigatório, e a recusa caracteriza


falta grave, acarretando impossibilidade de obtenção da progressão de regime e livramento
condicional
- Submissão a exame criminológico inicial
- Submissão a trabalho durante o dia e descanso isolado durante a noite

Obs: Trabalho em comum (junto com outros presos) dentro do estabelecimento, SENDO
ADMISSÍVEL O TRABALHO EXTERNO em obras públicas (Necessário cumprimento de ao menos
1/6 da pena).

Regras do Regime semiaberto – art. 35

O regime semiaberto é bem menos gravoso que o regime fechado, e possui como regras:
- Exame criminológico inicial
- Trabalho diurno em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar, com descanso isolado
à noite;
- Admissão do trabalho externo, BEM COMO FREQUÊNCIA A CURSOS SUPLETIVOS
PROFISSIONALIZANTES, DE INSTRUÇÃO DE SEGUNDO GRAU OU SUPERIOR.
Além disso, o preso deve ficar recolhido em estabelecimento próprio (colônia agrícola,
industrial ou similar)
Caso não haja vagas no regime semiaberto, o preso deverá ser transferido para o regime
aberto ou prisão domiciliar (posição do STF).

Regras do Regime Aberto – Art. 36

O regime aberto é o mais brando dos três regimes de cumprimento da pena privativa de
liberdade

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Trabalho diurno fora do estabelecimento e sem vigilância, frequência à curso ou outra
atividade autorizada, bem como recolhimento noturno e nos dias de folga;
Transferência para regime mais gravoso no caso de prática de crime doloso, frustração dos
fins da execução (basicamente, a fuga), ou ausência do pagamento da pena de multa.
O recolhimento noturno do preso no regime aberto se dá em casa de albergado, que é um
prédio urbano, separado dos demais estabelecimentos prisionais
Caso não haja vagas no regime semiaberto (são raríssimas as casas de albergado), o STF
e o STJ firmaram entendimento no sentido de que deve o preso ficar recolhido à prisão domiciliar.

Disposições Gerais

O direito ao recebimento de salário pelo seu trabalho realizado no estabelecimento


prisional, bem como o direito à integrar a previdência social
Art. 29, LEP. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo
ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.
§ 1º O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não
reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em
proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.
Art. 39 - CP - O trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-lhe garantidos os
benefícios da Previdência Social.

Regime especial

Art. 37 - As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio, observando-se os deveres


e direitos inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que couber, o disposto neste Capítulo.

Superveniência de doença mental

Art. 41 - O condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado.

Detração

Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de


prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em
qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior

DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS

Art. 43. As penas restritivas de direitos são:

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I - prestação pecuniária;
II - perda de bens e valores;
III - limitação de fim de semana.
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
V - interdição temporária de direitos;
VI - limitação de fim de semana.
Por autonomia entende-se a impossibilidade de serem aplicadas cumulativamente com a
pena privativa de liberdade.

Requisitos para substituição da Pena Privativa de Liberdade por Restritivas de Direitos

REQUISITOS OBJETIVOS

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada,
se o crime for culposo.
II – o réu não for reincidente em crime doloso;

REQUISITOS SUBJETIVOS

III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem


como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente
OBS.1: Se o condenado for reincidente em crime culposo, poderá haver a substituição.
OBS.2: Entretanto, excepcionalmente, mesmo se o condenado for reincidente em crime doloso,
poderá haver a substituição, desde que a medida seja socialmente recomendável (análise das
características do fato criminoso e do infrator) e não se trate de reincidência específica
(reincidência no mesmo crime), conforme previsão do art. 44, § 3° do CP.
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de
condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha
operado em virtude da prática do mesmo crime

Regras da substituição

Nos termos do art. 44, § 2° do CP, a substituição se fará da seguinte forma:


§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma
pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída
por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.
Pena igual ou inferior a um ano = Substituição por multa ou uma pena restritiva de direitos.
Pena superior a um ano = Substituição por pena de multa e uma pena restritiva de direitos,
OU por duas restritivas de direitos. No caso de serem aplicadas duas restritivas de direitos, o
condenado poderá cumpri-las simultaneamente, se forem compatíveis, ou sucessivamente, se
incompatíveis.

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RECONVERSÃO OBRIGATÓRIA

Art. 44 § 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando


ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de
liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o
saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.

RECONVERSÃO FACULTATIVA

Art. 44 § 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz
da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao
condenado cumprir a pena substitutiva anterior.
Obs: Frise-se que não se admite a reconversão se o condenado deixa de pagar a pena de
multa, pois essa, uma vez não paga, torna-se dívida de valor, a ser executada por meio de
execução fiscal como uma dívida comum para com a Fazenda Pública.

Penas restritivas de direitos em espécie

Prestação pecuniária
Consiste no pagamento em dinheiro à vítima da infração penal, a seus dependentes, ou ainda, a
entidade pública ou privada com finalidade social, em montante fixado pelo Juiz entre 01 (um) e
360 (trezentos e sessenta) salários mínimos

MULTA x PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA


Destinada ao Fundo Penitenciário Nacional. X Destinada à vítima, seus dependentes ou
entidade pública ou privada (com destinação social).
Entre 10 e 360 dias-multa x Entre 01 e 360 salários mínimos.
Deverá ser executada como dívida de valor. X Reconversão obrigatória.

Perda de bens e valores

A perda de bens e valores, tal qual a pena de prestação pecuniária, é uma modalidade de
pena restritiva de direitos que atinge o patrimônio financeiro do condenado.
Poderá ter, como teto, dois parâmetros:
• Montante do prejuízo causado
• Montante do proveito obtido pelo agente ou por terceiro com a prática do delito

Prestação de serviços à comunidade

- Aplicável às condenações superiores a 06 de privação da liberdade


- Consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado (ex.: pintar a escola do bairro, etc.) –
Aqui, portanto, o condenado nada recebe pelas tarefas desempenhadas, eis que as tarefas
são a própria pena em si.

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- Dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos
congêneres, em programas comunitários ou estatais

O sistema de cumprimento adotado pelo CP é o da hora-tarefa, ou seja, cada hora de


tarefa realizada será computada como um dia da condenação.
EXEMPLO: Imagine que fulano foi condenado a 08 meses de detenção, tendo sua pena
sido convertida em restritiva de direitos, consistente na prestação de serviços à comunidade.
Assim, cada hora-tarefa cumprida por fulano corresponderá a um dia de cumprimento da pena.

Pena de multa

A pena de multa pode ser conceituada como a penalidade (sanção penal) consistente no
pagamento de determinada quantia em dinheiro e destinada ao Fundo Penitenciário Nacional
O critério utilizado para a fixação da pena de multa é o do dia-multa.
O valor do “dia-multa” será arbitrado pelo Juiz, em montante que varie entre 1/30 (um
trigésimo) e 5 vezes o valor do maior salário mínimo vigente à época do fato!
O valor da multa pode ser aumentado até o triplo, se o juiz considerar que, mesmo no
patamar máximo, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz.
O pagamento da pena de multa deve se dar em até 10 dias a contar do trânsito em
julgado da sentença, podendo o Juiz, considerando as circunstâncias e a requerimento do
condenado, permitir o parcelamento do seu pagamento
Aplicada pena de multa e sobrevindo a morte do infrator, estará extinta a punibilidade
A pena de multa, portanto, não passa aos herdeiros.

AULAS 20 A 23 – CRIME CONTRA A VIDA

Homicídio

O bem jurídico tutelado é a vida humana, mais precisamente a vida extrauterina.


O Homicídio, entretanto, pode ocorrer nas seguintes modalidades:

▪ Homicídio Simples;
▪ Homicídio privilegiado (§1°);
▪ Homicídio qualificado (§2°);
▪ Homicídio culposo (§3°);
▪ Homicídio culposo majorado (§4°, primeira parte);
▪ Homicídio doloso majorado (§4°, segunda parte e §§ 6º e 7º)

Homicídio simples

É aquele previsto no caput do art. 121 (“matar alguém”).


O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física, bem como qualquer pessoa física pode
ser sujeito passivo do delito.

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O tipo objetivo (conduta descrita como incriminada) é TIRAR A VIDA DE ALGUÉM.
Mas para isso, precisamos saber quando se inicia a vida humana extrauterina, que se inicia com
o início do trabalho de parto, para a maioria da Doutrina, momento no qual o feto passa a
ter contato com a vida extrauterina.

Assim, se for tirada a vida de alguém que ainda não nasceu (ainda não há vida
extrauterina, não há homicídio, podendo haver aborto). Semelhantemente, se o fato for praticado
por quem já não tem mais vida (cadáver), estaremos diante de UM CRIME IMPOSSÍVEL (Por
absoluta impropriedade do objeto).
Homicídio privilegiado (§1°)

O Homicídio privilegiado é um homicídio praticado em circunstâncias especiais, nas


quais se entende que a reprovabilidade da conduta do agente é menor e, portanto, entende-se
que o agente faz jus a uma diminuição de pena (A pena, nesse caso, é diminuída de 1/6 a 1/3).
Pode ocorrer em três situações :

• Motivo de relevante valor social – Por exemplo, matar o estuprador do bairro, pessoa que vem
trazendo o terror a toda uma comunidade.
• Motivo de relevante valor MORAL – Por exemplo, matar por compaixão (eutanásia)2 .
• Sob o domínio de violenta emoção, LOGO APÓS injusta provocação da vítima – Agente
pratica o crime dominado por um sentimento de violenta emoção, imediatamente após a criação
desse sentimento pela própria vítima3 . Ex.: Imagine que José chegue em casa e veja sua esposa
caída e machucada, pois acabara de ter sido vítima de um estupro, praticado por Paulo. José sai
e encontra Paulo num bar, bebendo como se nada tivesse acontecido. Dominado pela violenta
emoção, José mata Paulo. Neste caso, José responde pelo crime de homicídio, mas haverá a
aplicação da causa de diminuição de pena prevista no §1º do art. 121 do CP.
Homicídio qualificado
O homicídio qualificado é aquele para o qual se prevê uma pena mais grave (12 a 30 anos),
em razão da maior reprovabilidade da conduta do agente (configurando, inclusive, crime hediondo)
MEDIANTE PAGA OU PROMESSA DE RECOMPENSA OU OUTRO MOTIVO TORPE – Aqui se
pune mais severamente o homicídio praticado por motivo torpe, que é aquela motivação
repugnante abjeta , dando-se, como exemplo, a realização do crime mediante paga ou promessa
de recompensa (homicídio mercenário).
POR MOTIVO FÚTIL – Aqui temos o motivo banal, aquele no qual o agente retira a vida de alguém
por um motivo bobo, ridículo, ou seja, há uma desproporção gigante entre o motivo do crime e o
bem lesado (vida).

COM EMPREGO DE VENENO, FOGO, EXPLOSIVO, ASFIXIA, TORTURA OU OUTRO MEIO


INSIDIOSO OU CRUEL, OU DE QUE POSSA RESULTAR PERIGO COMUM – Aqui temos mais
uma hipótese de INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA, pois o legislador dá uma série de exemplos e
no final abre a possibilidade para que outras condutas semelhantes sejam punidas da mesma
forma. Uma qualificadora decorrente dos MEIOS UTILIZADOS para a prática do delito.

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CUIDADO! A utilização de tortura como MEIO para se praticar o homicídio, qualifica o
crime. Entretanto, se o agente pretende TORTURAR (esse é o objetivo), mas se excede
(culposamente) e acaba matando a vítima, haverá crime de TORTURA QUALIFICADA PELO
RESULTADO MORTE (art. 1°, §3° da Lei 9.455/97).
À TRAIÇÃO, DE EMBOSCADA, OU QUALQUER OUTRO MEIO QUE DIFICULTE OU
TORNE IMPOSSÍVEL A DEFESA DO OFENDIDO – Nesse caso, o crime é qualificado em razão,
também, DO MEIO UTILIZADO pois ele dificulta a defesa da vítima

PARA ASSEGURAR A EXECUÇÃO, OCULTAÇÃO, A IMPUNIDADE OU VANTAGEM DE


OUTRO CRIME – Aqui há o que chamamos de conexão objetiva, que pode ser teleológica
(assegurar a execução FUTURA de outro crime) OU consequencial (assegurar a ocultação,
a impunidade ou a vantagem do outro crime, que JÁ OCORREU).
FEMINICÍDIO – Aqui teremos um homicídio qualificado em razão de ter sido praticado contra
mulher, por razões da condição do sexo feminino
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

CONTRA AGENTES DE SEGURANÇA E DAS FORÇAS ARMADAS – O homicídio também será


considerado qualificado quando for praticado contra integrantes das Forças Armadas (Marinha,
Exército e Aeronáutica), das forças de segurança pública (Polícias federal, rodoviária federal,
ferroviária federal, civil, militar e corpo de bombeiros militar), dos agentes do sistema prisional
(agentes penitenciários) e integrantes da Força Nacional de Segurança. Se o crime não tem
qualquer relação com a função pública exercida, não se aplica esta qualificadora!

Homicídio culposo

O homicídio culposo ocorre quando o agente pratica uma conduta direcionada a outro
fim, mas por inobservância de um dever de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia), acaba
por causar a morte da pessoa.
EXEMPLO: João, ao pintar a fachada de sua casa, deixa uma lata de tinta perigosamente na
beirada do andaime. Sem querer, José esbarra na lata, que cai sobre a cabeça de um pedestre,
causando-lhe a morte.
ATENÇÃO! Não existe compensação de culpas! Assim, se a vítima também contribuiu para o
resultado, o agente responde mesmo assim, mas essa circunstância (culpa da vítima) será
considerada em favor do réu na fixação da pena.
ATENÇÃO! Apenas para fins de registro, o homicídio culposo na direção de veículo automotor,
desde o advento da Lei 9.503/97, é crime previsto no art. 302 da referida lei (Código de Trânsito
Brasileiro).
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se
torne desnecessária.

Homicídio majorado

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No homicídio culposo (aumento de 1/3): §4
▪ Resulta de inobservância de regra técnica ou profissão, arte ou ofício
▪ Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima
▪ Não procura diminuir as consequências de seu ato
▪ Foge para evitar prisão em flagrante

No homicídio doloso: §4

▪ Se o crime for cometido contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos (aumento de 1/3)
▪ Se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança,
ou por grupo de extermínio (aumento de 1/3 até a metade)
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou
portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física
ou mental;
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do
caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação

Este crime está previsto no art. 122 do CP. O suicídio é a eliminação direta e voluntária da
própria vida.
O suicídio não é crime (ou sua tentativa), mas a conduta do terceiro que auxilia outra
pessoa a se matar (material ou moralmente) é crime.
A automutilação, por sua vez, pode ser compreendida como o comportamento daquele
que provoca lesões em seu próprio corpo, deliberadamente, mas sem evidente intenção de
suicídio.
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe
auxílio material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos
O crime pode ser praticado de 03 formas:
▪ Induzimento – O agente faz nascer na vítima a ideia de se matar ou se automutilar
▪ Instigação – O agente reforça a ideia já existente na cabeça da vítima
▪ Auxílio – O agente presta algum tipo de auxílio material à vítima (empresta uma arma de fogo,
por exemplo)

ATENÇÃO! O induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou à automutilação deve ter


como vítima pessoa certa e determinada (ou pessoas certas e determinadas).

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O mero induzimento genérico, abstrato, sem alvo definido, não configura crime (ex.:
criar um website e enaltecer aqueles que praticam suicídio, conclamando os jovens em geral a
ceifarem a própria vida)

A consumação se dá com o mero ato de induzir, instigar ou auxiliar a vítima a se


suicidar ou se automutilar, ainda que a vítima não se mate ou não venha a se automutilar, sendo
crime formal, portanto.

Eventual ocorrência de resultado danoso à vítima (lesão grave, gravíssima ou morte)


servirá como qualificadora:

§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou


gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

SOMENTE PESSOA QUE POSSUA ALGUM DISCERNIMENTO pode ser sujeito passivo
do crime , eis que se a vítima não tiver qualquer discernimento, estaremos diante de um
homicídio ou lesão corporal, tendo o agente se valido da ausência de autocontrole da vítima
para induzi-la a se matar ou se automutilar:

EXEMPLO: Imagine que José, desejando a morte de Bruce (um doente mental, completamente
alienado), o induz a se jogar do 20° andar de um prédio. Bruce, maluco (coitado!), se joga, achando
que é o “superman”. Nesse caso, não houve instigação ou induzimento ao suicídio, mas homicídio,
pois José se valeu da ausência de discernimento de Bruce para matá-lo.
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou
contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do
art. 121 deste Código
§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores,
de rede social ou transmitida em tempo real.
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede
virtual.

Infanticídio

O infanticídio é o crime mediante o qual a mãe, sob influência do estado puerperal, mata o
próprio filho recém-nascido, durante ou logo após o parto, na forma do art. 123 do CP.

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Trata-se, na verdade, de uma “espécie de homicídio” que recebe punição mais branda
em razão da comprovação científica acerca dos transtornos que o estado puerperal pode
causar na mãe.
O sujeito ativo, aqui, somente pode ser a mãe da vítima, e ainda, desde que esteja sob
influência do estado puerperal (CRIME PRÓPRIO).

ATENÇÃO! Embora seja crime próprio, é plenamente admissível o concurso de agentes,


que responderão por infanticídio (desde que conheçam a condição do agente, de mãe da vítima),
nos termos do art. 30 do CP.
EXEMPLO: Maria, que acabou de dar à luz um belo bebê, resolve tirar-lhe a vida. Para
tanto, sob a influência do estado puerperal, pede ajuda a seu marido, José, solicitando que este
traga uma faca bem afiada e contando a este o projeto do capeta. O marido aceita colaborar e
entrega a ela a faca. Na madrugada, ainda na maternidade, Maria leva a cabo seu plano diabólico
e ceifa a vida do rebento. Neste caso, tanto José quanto Maria respondem pelo crime de
infanticídio, ainda que José (obviamente) não seja a mãe e não esteja sob a influência do estado
puerperal, porque tal condição é uma circunstância elementar do delito, comunicando-se com os
demais agentes.

E se a mãe, durante o estado puerperal, culposamente mata o próprio filho?

Nesse caso, temos simplesmente um homicídio culposo.

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Está previsto no art. 124 do CP, e pune-se a conduta de “provocar aborto em si mesma ou
consentir que outrem lho provoque”.
O sujeito passivo é o produto da concepção (embrião ou feto).
Como se vê, pode ser praticado de duas formas distintas:
▪ Gestante pratica o aborto em si própria
▪ Gestante permite que outra pessoa pratique o aborto nela.

O crime só é punido na forma dolosa. Se o aborto é culposo, a gestante não comete


crime.
O crime se consuma com a interrupção da gestação com destruição do produto da
concepção (morte do nascituro) e a tentativa é plenamente possível.

ABORTO PRATICADO POR TERCEIRO SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE

Nesse crime o terceiro pratica o aborto na gestante, sem que esta concorde com a
conduta, na forma do art. 125 do CP. Pode o crime ser praticado por qualquer pessoa (crime
comum). O sujeito passivo, aqui, como em todos os outros delitos de aborto, é o produto da
concepção (embrião ou feto). Entretanto, nesse crime específico também será vítima (sujeito
passivo) a gestante.

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Embora o crime ocorra quando não houver o consentimento da gestante, também ocorrerá
o crime quando o consentimento for prestado por quem não possua condições de prestá-lo
(menor de 14 anos, ou alienada mental), ou se o consentimento é obtido mediante fraude
por parte do agente (infrator), na forma do art. 126, § único do CP.

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque:
Pena - detenção, de um a três anos

Aborto provocado por terceiro

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:


Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze
anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência

Forma qualificada

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se,
em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro


II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal.

Atualmente o STF entende que o aborto de fetos anencéfalos (ou anencefálicos, ou seja, sem
cérebro ou com má-formação cerebral) não é crime, estando criada, jurisprudencialmente, mais
uma exceção. Ver: ADPF 54 / DF (STF)

Lesão corporal

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.

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A autolesão não é crime (causar lesões corporais em si mesmo), por ausência de
lesividade a bem jurídico de terceiro (princípio da alteridade), e também porque a própria redação
do art. 129 fala em “integridade corporal ou saúde de OUTREM”
A lesão corporal pode ser classificada como:
Simples (caput)
Qualificada (§§ 1°, 2° e 3°)
Privilegiada (§§ 4° e 5°)
Culposa (§ 6°)

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;


II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

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