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O Direito Penal está construído de forma a punir ações, mesmo sendo um crime por omissão, é possível punir,
mas são excecionais. A regra geral é o crime ser por ação e doloso, as restantes opções são exceções.
1. TÍPICO (se não for típico não é interessante para o Direito Penal)
Tipo objetivo – possui 3 elementos (o AGENTE, a AÇÃO e o BEM JURÍDICO – ex: num homicídio é a vida;
num assalto de um automóvel é a propriedade)
Tipo subjetivo -
2. ILICITUDE (um facto pode ser típico mas não ilícito quando há uma causa-justificação, logo excluí a
ilicitude, se esta não existir, conclui-se que se está perante um ato típico ilícito)
3. CULPA (é necessário existir consciência da ação, haver culpabilidade – ex: um inimputável não tem
consciência plena sobre a ação praticada).
Crimes específicos próprios – comportamentos criminosos que apenas um determinado conjunto de indivíduos
tem a capacidade de cometer e de ser autor (ex: crimes que unicamente podem ser praticados por médicos),
um indivíduo qualquer tem a capacidade de cometer um crime específico, mas unicamente como cúmplices,
nunca como autores do crime.
AÇÃO = ação/conduta/comportamento humano; não há crime sem existir a ação (não há crimes por
pensamento), seja esta por palavras ou comportamentos
Crimes materiais ou de resultado = crimes em que o resultado faz parte do tipo, o crime só se consuma com a
efetiva produção do resultado (resultado do crime de homicídio – a morte); existe um nexo causalidade entre o
crime e o resultado. O homicídio sem resultado, continua a ser cometido o crime de homicídio tentado, pois
não chegou a ser consumado (não se verificou a efetiva produção do resultado).
Crimes formais ou de mera atividade = produzem-se por uma mera atividade, não integra um resultado (ex:
violação de domicílio, porém se existir arrombamento, é violação + dano (danificar ou destruir coisa alheia –
art. 212º), e aqui o dano já implica um resultado).
Crimes de execução vinculada ou típica = crimes em que o processo causal faz parte do tipo, em termos tais
que o crime só ocorre quando há (ex: crime de burla)
Os elementos de tipo legal dividem-se em objetivos e subjetivos. Os tipos podem ser dolosos ou
negligentes (art.13º CP).
Os elementos de tipo legal objetivos versam sobre o agente, a conduta e o bem jurídico. Por outro
lado, os elementos de tipo legal subjetivo incidem sobre dolo (em relação a uma conduta ser proibida)
e sobre os especiais elementos subjetivos (que acrescem ao dolo) – unicamente em alguns tipos legais,
referentemente aos que indicam ‘’com intencionalidade’’.
Bem jurídico= podem ser pessoais ou patrimoniais; podem ser individuais ou supra individuais ou
coletivos; podem ser disponíveis ou indisponíveis.
Bem jurídicos pessoais – interesses ou valores correspondentes à pessoa humana (ex:sigilo, honra,
direito à imagem, direito à palavra)
Patrimoniais – património, propriedade (é possível um bem jurídico patrimonial ser individual)
Individuais - é portadora uma pessoa concreta, que pode ser uma pessoa física ou uma pessoa coletiva
(ex: vida ou propriedade)
Supra individuais – o titular é um ente coletivo (ex: bens jurídicos relativos ao sistema do ambiente ou
politico ou fiscais)
Disponíveis – o seu titular pode dispor deles, permitindo a sua destruição, extinção ou a sua
transmissão (ex: todos os bens jurídicos pessoais, com exceção ao direito à vida – art.134º CP).
Indisponíveis - ex: direito à vida
Objeto da Ação =
Ex: o objeto da ação no homicídio é o corpo da vítima concreta, enquanto o bem jurídico é a vida.
Culpa (não há pena sem culpa, porém é possível existir culpa sem pena; a pena nunca pode
ultrapassar o grau de culpa, mas o grau de culpa é levado em consideração para a atribuição da
pena – art.71º + art.13º; para se confirmar a culpa, é necessário verificar os pressupostos
cumulativos a seguir):
1. Imputabilidade (art.19º e 20º a contrário) – mais de 16 anos de idade; possui capacidades
intelectuais e não esteve privado do seu poder de autodeterminação, ou seja, a prática do facto
é uma escolha do agente. Só é suscetível de juízo de censura ético-jurídico, o agente que devia
e poderia seguir outra opção, e tinha consciência de tal. Não é possível determinar a
imputabilidade, determina-se antes a inimputabilidade (quem é inimputável, não é imputável,
determina-se a contrario sensu).
2. Dolo ou negligência (art.13º) – os comportamentos negligentes resultam sempre de um
descuido/desleixo; os comportamentos dolosos resultam de uma pretensão de cometer o crime
(comportamento intencional/planeado, tendo a intenção vários níveis; existe uma vontade do
agente de realizar o facto).
3. Exigibilidade (+inexigibilidade) – exigível um outro comportamento ao agente; resulta de
condições externas (ex: ‘’A’’ é pai de uma criança pequena, mas devido a situações da vida não
tirou a carta de carro. A criança tem um acidente. ‘’A’’ coloca-a no carro, pois apesar de não
ter carta, sabe conduzir, aliás, o hospital era perto. Sabe-se que conduzir sem carta, é ilegal,
contudo, segundo condições externas, seria exigível ao agente comportar-se de forma diferente?
Não, uma vez que qualquer pai faria precisamente o mesmo).
Para haver culpa, é necessário verificar se seria exigível ao agente um comportamento
diferente.
4. Consciência da ilicitude do facto praticado – necessário comprovar que o agente tinha perfeita
consciência do facto que iria praticar (art.17º - contrário).
O princípio da ignorância da lei não é aplicável em Direito Penal, unicamente em Direito Civil
(pois não é possível aplicar uma pena sem culpa).
Conduta – tem de ser uma conduta jurídico-criminalmente relevante, podendo ser praticada por
ação ou por omissão (diferenciando-se em puras/próprias e impuras/impróprias).
A conduta ser jurídico-criminalmente relevante significa que só existe crime quando estamos
perante uma conduta praticada por seres humanos, o que significa que fica de fora deste âmbito
os animais (porque os animais podem ser treinados por pessoas para atacar outros indivíduos,
logo o animal é utilizado como um instrumento do crime, o autor do crime é o treinador) e os
seres inanimados. Como conduta humana que é, exige que o comportamento seja
controlado/dominado pela vontade do agente, ou pelo menos controlável/dominável (a conduta
para ser criminosa tem de ser uma manifestação ou uma exteriorização da vontade do agente).
Ex1:. A, sonâmbulo, levanta-se e dirige-se à cozinha. Agarra numa faca. O seu irmão,
coincidentemente, também se dirige à cozinha para beber um copo de água. A, no estado em
que se encontra, desfere várias facadas no tórax do irmão, acabando por o matar. Analise a
responsabilidade criminal de A.
O comportamento do agente não era possível ser controlado pela sua vontade, foi um ato
praticado num estado de total inconsciência. Como tal, não há conduta jurídico-
criminalmente relevante (apenas que A tenha estado a fingir tal estado, mas assim que se
comprova o estado de sonambulismo, a conduta não resultou da exteriorização da
vontade do agente). O mesmo acontece quando um indivíduo ingere uma quantidade
absurda de substâncias ilícitas, porém na maioria das situações, não se chega a um nível
que se fique num estado total de inconsciência.
Estados de inconsciência abrangem hipnose, sonambulismo, desmaio,etc.
Ex2:. A, hipnotizador, hipnotiza B com o intuito que este obedeça aos seus comandos e mate
C com uma pistola. B é seu cliente habitual e numa das sessões de hipnose, acabou por
concretizar os comandos que lhe foram dirigidos por A. Analise a responsabilidade criminal
de A e B.
B foi um instrumento nas mãos de A, então só há conduta pela parte de A, foi uma
exteriorização da sua vontade. A utilizou B para a prática do crime, B não consegue
dominar a sua vontade, então não há sequer uma conduta (art.26º -autoria mediata, ou
seja, A é autor moral e é aquele que atua por intermédio de outrem e como, não há por
parte de B uma conduta jurídico-criminalmente relevante, pois é instrumentalizado para
cometer o crime, apenas A teve a conduta).
Confirmados os elementos objetivos do tipo legal, seguimos para a confirmação dos
elementos subjetivos do tipo legal.
Ex3:. Num dia de tempestade, A foi violentamente empurrado pelo vento contra o vidro de uma
montra de um estabelecimento comercial, tendo-o partido completamente. Ela acabou por,
inexplicavelmente, uns simples arranhões. Analise a eventual responsabilidade criminal de crime
de dano de A.
Não há conduta jurídico-criminalmente relevante, pois estamos perante comportamentos
por força/impulso de elementos irresistíveis.
Bem jurídico
Elementos subjetivos do tipo legal
Imputabilidade + dolo ou negligência + exigibilidade + consciência da ilicitude do facto praticado