Você está na página 1de 6

Direitos Reais

 Os artigos pertencentes aos direitos reais iniciam-se no art.1251º (3º livro do CC), denominam-se por
‘’Direitos das Coisas’’. Direitos Reais porque o nosso direito tem inspiração no Direito Romano, logo
‘’direitos reais’’ é uma deturpação de uma palavra romana ‘’res’’,que significa ‘’coisa’’.
 Encontra-se no Direito Civil patrimonial.

 Herdeiros legitimários – herdeiros que, de acordo com a lei, não podem ser afastados da sucessão, mesmo
que o de cujus não o deseje (a menos que o herdeiro tenha praticado um comportamento maldoso/agressivo
para com o de cujus). A sua relação pessoal com o de cujus é de tal maneira estreita que é exigido que herde
uma quota da herança (parentesco estreito).

 O direito das obrigações disciplina a dinâmica patrimonial (os aspetos relacionados com a troca de bens),
pelo contrário os direitos reais disciplinam a estática patrimonial, ou seja, a utilização dos bens por parte das
pessoas. Os direitos reais são figuras perfeitamente estáveis no tempo, logo não sofreram muitas alterações a
longo do tempo. Estão de tal forma enraizadas que não há espaço para mudanças.

‘’A’’ vende um imóvel a ‘’B’’ (compra e venda por escritura pública ou documento autenticado, art.885º – há
um elemento dinâmico pois um bem sofre alteração no titular).O direito de propriedade é o direito real mais
importante. As obrigações extinguem-se assim que esta é realizada. Passa-se para o plano dos direitos reais.

 Direito de propriedade: 1302º - coisas corpóreas OU propriedade intelectual (=direitos de autor) e


propriedade industrial (propriedade de marcas, modelos e batentes – ex: ‘’A’’ tem como hobbie montar peças
nos seus carros, contudo, não lhe é permitido chamar ao seu engenho MERCEDES, visto que esta é uma
marca que já possui dono).

 Exame Final – 100% (8-12 remetido a prova oral)

 Direito real de habitação periódica cujo regime consta no decreto-lei 275/93 de 5 de agosto (legislação
complementar).

07/03/2023 – Aula Prática

 Conceito de Direito Real: poder direto e real sobre coisa certa e determinada com a faculdade de excluir
todas as outras pessoas da prática de atos sobre a coisa (coisas corpóreas).
1. Conceção clássica/realista/tradicional – esta conceção funda-se no direito humano, o direito real é o
poder direto e imediato sobre uma coisa certa e determinada, tomemos como exemplo o direito de
propriedade (o proprietário tem poder sobre a propriedade). Relação de vínculo de pertença entre o
titular e a coisa sobre que recai o direito (é diferente do vínculo obrigacional que liga dois sujeitos de
direito).
Os direitos reais incidem sobre coisas certas e determinadas (art.280º) – o negocio jurídico, sob pena
de nulidade, tem de ser determinável (tem de ser mesmo determinado, não basta dizer que é apenas
determinável), legalmente possível e de acordo com a lei.
Poder direto e imediato – o titular do direito real, para o exercer, não carece da colaboração de
terceiros, exerce-o por força própria (art. 1022º)
Ex: Para o credor ter o seu direito realizado, é necessária a participação do devedor. No caso do
devedor se recuse a participar, há maneiras de o forçar a colaborar (para o contrato ser cumprido há
necessidade de colaboração das partes). Este exemplo é precisamente o contrário de ‘’poder direto e
imediato’’, está-se perante um poder indireto e mediato.
Crítica da 1ª conceção: as relações jurídicas desenham-se entre pessoas (titular ativo e passivo), o direito é
uma relação intersubjetiva – a todo o direito de alguém, deve corresponder um dever a outrem. Parece
sugerir que a relação é entre a pessoa e a coisa, o que não é possível.

2. Conceção Personalista – este tipo de conceção vai à procura da pessoa que falta na relação de direitos reais
(o titular passivo); são todas as pessoas que não o próprio titular do direito, que se encontram sujeitas a
uma obrigação a nada fazer que possa perturbar o direito real do titular ativo (ex: se A é proprietário de um
terreno, então recai a todas as outras pessoas a obrigação de não entrar/invadir a sua propriedade). Trata-
se de uma obrigação passiva universal. Não assenta no critério de domínio, mas é semelhante às relações
interpessoais, está-se perante um vínculo obrigacional entre uma pessoa em relação a todos os outros
indivíduos (efeito erga omnes – obrigação passiva universal).

 As conceções realista e personalista não se anulam, acabam por se complementar.

3. Conceção eclética/integradora – reúne em si as duas conceções anteriores, o lado interno versa sobre o seu
conteúdo, mas pelo lado externo, versa sobre a sua eficácia, que coloca uma obrigação a todas as outras
pessoas. Valoriza o vínculo entre o titular e a coisa, preocupa-se com o sentido sentimental e afetivo
(dignidade).

 Características dos direitos reais


1. Eficácia absoluta (ou real) – os direitos reais são oponíveis a terceiros (‘’erga omnes’’), na esfera jurídica
de um direito real, gera-se uma obrigação passiva universal com sentido negativo. Não é privativa aos
direitos reais, aplicam-se também aos direitos de personalidade)
(Eficácia relativa – art.1142º contrato mútuo é um empréstimo de dinheiro; o credor só pode exigir o
reembolso da quantia emprestada ao devedor correspondente, logo há apenas uma eficácia meramente
relativa. Enquadram-se nesta eficácia os direitos obrigacionais).
2. Sequela (ou direito de sequela/ de seguimento) – o titular de um direito real goza da capacidade de
seguir a coisa, de fazer valer os seus poderes sobre ela, ainda que a mesma se encontre na esfera
material de um terceiro.
Ex: Caso alguém ocupe terreno alheio, sem autorização/consentimento respetivo, o proprietário goza
da capacidade de revindicar a sua propriedade. Pode exigir a ocupação que lhe pertence – art.1311º.
Na ação de revindicação há 2 pedidos: pede ao tribunal o reconhecimento da sua propriedade e que o
réu seja condenado a restituir a propriedade ao autor (o segundo pedido acaba por ser uma
consequência do primeiro pedido).
Esta característica tem raiz na eficácia absoluta, pois só é possível exigir a restituição da propriedade
porque há uma obrigação passiva universal.
3. Prevalência – os direitos reais prevalecem sobre todos os direitos de crédito (obrigacionais), ainda que
anteriormente constituídos.
Ex: art.1129º - contrato comodato; direito obrigacional; por outras palavras, é um empréstimo de um
móvel ou imóvel, é gratuito). A celebra com B um contrato de comodato sobre um imóvel por 2 anos.
Acontece que, em 2023, aparece uma proposta e A vende a C. O comodatário conta em ficar lá 2 anos,
mas como C comprou, obtém o direito de propriedade. Quem fica com a casa, é o indivíduo C, pois o
direito do comodatário é meramente obrigacional (eficácia relativa), e como C comprou, tem um direito
de propriedade, que é um direito real (eficácia absoluta). B fica com as suas expectativas desfraldadas,
mas tem direito a uma indemnização.
Art.1057º é o único direito obrigacional que é oponível a terceiros (há um contrato de arrendamento,
mas o senhorio procura vender a outrem, o arrendatário continua a gozar do arrendamento, goza de
uma proteção especial).
- Os direitos reais primeiramente constituídos prevalecem sobre os que lhes sejam ulteriores e sejam
com eles incompatíveis.
Móveis sujeitos a registo – automóveis + navios + aeronaves
Ex: A vende a B um quadro, num determinado local, a determinada hora. Como A necessita de
dinheiro, e tem, ainda, em sua posse o quadro, vende a C. O direito que prevalece é o de B, pois
art.408º, nº1 (a transmissão de direitos reais realiza-se independentemente de quaisquer formalidades
adicionais ou da pratica de atos materiais)
Art. 892º - A vende um imóvel a B, tendo B a obrigação de registar tal ato. No caso de B não tenha
registado na altura, se A pretenda vender a C, considera-se venda de bens alheios, por força do art.408º.
Só é possível afirmar que há prevalência de direitos quando estamos perante dois direitos existentes,
não há dois direitos, pois o negócio que dá origem ao direito de C é nulo.

1ª situação) É possível que alguém obtenha o direito de propriedade sob forma de um negócio nulo: A
vende a B, que não registou. A, então, vende a C, que registou – art.6º, nº1 do Código do Registo Predial; é
uma aquisição ‘’a non domino’’. C acaba por adquirir o imóvel por quem já não era dono
O registo predial destina-se a fornecer informação sobre a situação jurídica dos imóveis.
2ª situação) art.291º - invalidades sequenciais.
A vende a B por negócio nulo. B regista e vende a C. Se o negócio é nulo, está a tentar transmitir um direito
que na realidade não tem, logo encontra-se a vender coisa alheia. C ignorava, sem culpa, a nulidade do
negócio anterior, então agiu com boa-fé. Não só a aquisição da propriedade é sujeita a registo predial,
também as ações reais o são, o registo da aquisição deve ser anterior ao registo da ação de nulidade do
negócio (pois, desta forma, C teria a possibilidade de ter conhecimento sobre a nulidade do negócio
anterior).

09/0372023 – Aula Teórica

 Art.3º CC
 Conceito de Coisa – 202º, nº1 CC
 Direitos reais de garantia e direitos reais de aquisição (ex: direitos de preferência)
 Princípios dos Direitos Reais:
 Princípio da tipicidade taxativa (‘’numerus clausus’’ – art.1306º) = elenco fechado, os direitos
parcelares da propriedade são o usufruto (o propriedade com direito de propriedade, vê-se com o
seu poder limitado devido ao usufrutuário, que goza de uma propriedade que não lhe pertence).

Você também pode gostar