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MODULO 2

DIREITOS REAIS

Art.  1225  CC - São direitos reais:


I. a propriedade
II. a superfície
III. as servidões
IV. o usufruto
V. o uso
VI. a habitação (etc..)

O direito das coisas, também denominado direitos reais,


consiste em um conjunto de normas, predominantemente
obrigatórias, que tendem a regular o direito atribuído à pessoa
sobre bens corpóreos, móveis ou imóveis de conteúdo
econômico. A eficácia do direito exercido é em face de todos
(‘erga omnes’), assim, é um direito absoluto, e independe da
intermediação de outrem. Os direitos reais surgem por
imposição legislativa.

O indivíduo pode recuperar a coisa quando esteja,


ilegitimamente, em mãos alheias.

‘numerus clausulus’ = o direito real é típico e taxativo, ou seja,


é aquele que se insere em um modelo definido pelo legislador
(o legislador cria direitos reais). ≠ ‘numerus apertus’, que são
os direitos obrigacionais, onde as partes, facultativamente, se
valem de contratos disciplinados na lei (contratos nominados)
ou não (contratos inominados).
Classificação dos direitos reais

a) ‘jus in re propria’ = direito sobre a coisa própria, que se


resume na propriedade
b) ‘jus in re aliena’ = direito real sobre a coisa alheia
Bens incorpóreos, por exceção, podem estar sujeitos ao direito
real (ex: usufruto de títulos de crédito → O credor, titular de
um crédito, faculta um terceiro, usufrutuário do crédito, a
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perceber os frutos e a obrar as respectivas dívidas). Contudo,


essa situação aparta-se das prerrogativas próprias dos direitos
reais, pois estes pressupõem sempre a existência atual da coisa
e crédito (existência conceitual e não material). A maioria dos
autores admite poder ser objeto de direito real tanto coisas
corpóreas como incorpóreas.
O direito real mais completo é o direito de propriedade; todos
os outros são decorrência dele. Os direitos reais sobre coisa
alheia importam numa restrição infligida ao proprietário,
quanto a uso e disposição de um bem que lhe pertence. → Ex:
aquele que tiver como segurança do pagamento de uma dívida
o valor de um bem imóvel (hipoteca) exercerá direito real sobre
coisa alheia, de propriedade do devedor que tenha oferecido a
coisa em garantia.
Por fim, há a preponderância do bem coletivo em detrimento
do individual (fenômeno moderno).

Diferença entre o direito real e pessoal:


Direito Pessoal
 Os sujeitos (passivo e ativo) são, em regra, definidos no
momento em que se constitui a obrigação (ex: comodato)
 Tem por objeto uma prestação, que pode ser positiva
(obrigações de dar ou fazer) ou negativa (obrigações de
não fazer).
 Há a necessidade da intermediação de um sujeito.
 As normas reguladoras do direito obrigacional facultam às
partem certa liberdade para regulamentar seus interesses.
 Predominam normas dispositivas.
 Direitos obrigacionais não admitem usucapião.
 Os direitos obrigacionais são transitórios ou temporários.
Nascem para serem extintos.
O não exercício do direito obrigacional, em tempo oportuno,
provoca o seu perecimento.
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 Eficácia relativa.

Direito Real
 A identificação do passivo só se dá no momento da
violação do direito, oportunidade em que o sujeito passivo
indeterminado se torna determinável (há uma obrigação
passiva universal)
 Tem por objeto um ou mais bens materiais determinados,
móveis ou imóveis.
 É exercido independentemente da colaboração de outra
pessoa.
 As normas são obrigatórias, ou seja, não admitem a
interferência da vontade individual.
 Predominam normas cogentes.
 Somente não admitem usucapião quando sobre coisa
alheia (ex: hipoteca), os demais podem ser usucapidos
(pode ser exercida a posse).
 Tem sua duração no tempo indefinida (salvo no caso de
propriedade resolúvel).
A não utilização da propriedade, em regra, não implica sua
perda. Por isso, a ação reivindicatória é imprescritível.

 Eficácia contra todos.


Obrigação com eficácia real: na sua essência, é obrigação, mas
seus efeitos adquirem contornos de direito real.
Obrigação ‘propter rem’: tem-se de início uma relação de
direito real e, em função dela, surge um vínculo obrigacional. É
uma situação intermediária entre direito real e pessoal. Esta
obrigação se transmite com a coisa, independentemente da
vontade do adquirente.
Ex: obrigações que decorrem do direito de vizinhança, como a
necessidade de demarcar a propriedade de imóveis lindeiros.

Ex 2: construção de muro pelos proprietários confinantes.


Ambos têm obrigação de construí-lo, arcando com as
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respectivas despesas, por ser essa obra divisória uma típica


prestação propter rem.
Aquisição dos direitos reais
Art.  1226  CC – ‘Os direitos reais sobre coisas móveis,
quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só
se adquirem com a tradição.’

Art.  1227  CC – ‘Os direitos reais sobre imóveis constituídos,


ou transmitidos por ato entre vivos, só se adquirem com o
registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos
títulos, salvo os casos expressos neste código.’

Com relação aos imóveis cujo valor não ultrapasse a 30 vezes o


maior salário-mínimo vigente do país, dispensa-se a escritura
pública. O contrato pode, assim, formalizar-se por instrumento
público particular; todavia, o registro desse instrumento é
necessário para o surgimento do direito real de propriedade. A
ausência do registro não torna o ato nulo ou anulável, apenas
deixa as partes sem eficácia real perante terceiros. → Ex: uma
hipoteca não registrada vigora entre as partes, mas não gera
efeito erga omnes; assim, quem adquirir o bem não o adquira
hipotecado.
Posse (art. 1196 a 1224 CC)
Duas teorias:

1) Teoria subjetiva (Savigny) = valoriza o psicológico, expresso


na vontade do possuidor de ter a coisa como se fosse sua. A
posse requer: o corpus (poder físico da pessoa sobre a coisa,
estabelecido pela apreensão) e o animus domini (a vontade de
ter a coisa como própria). São considerados detentores, e não
possuidores, os que detêm o poder físico, mas não o
animus. → Ex: locatário, comodatário, etc.
2) Teoria objetiva (Ihering) = a posse se traduz no poder físico
da pessoa sobre a coisa com a exteriorização da propriedade e
um meio de tornar possível o uso econômico da coisa, de
acordo com a vontade do possuidor. Requer: corpus (a
exteriorização do exercício de um direito). O possuidor de uma
coisa é, ao mesmo tempo, o seu proprietário. → Ex: são
possuidores, e não detentores, o usufrutuário, o locatário, o
comodatário, etc.
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Posse e detenção têm as mesmas características, porém se


direfenciam na conduta legislativa. À detenção não se atribuem
efeitos possessórios. Detentor não tem posse e, por via de
consequência, não tem direito de se valer das ações
possessórias.

É detentor, também denominado servidor da


posse ou fâmulo da posse:
Art.  1198  CC:  ‘Considera-se detentor aquele que, achando-
se em relação de dependência para com outro, conserva a
posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas.’

É o caso do motorista, não tem posse do veículo, ou a


empregada doméstica, não tem posse dos instrumentos com os
quais trabalha. Apesar de possuírem o poder físico sobre a
coisa, a posse continua sendo do patrão.

Art.  1208  CC:  ‘Não induzem posse os atos de mera


permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua
aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade.’

Art.  1224  CC:  ‘Só se considera perdida a posse para quem


não presenciou o esbulho, quanto tendo noticia dele, se
abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido.’

A simples ausência não importa na perda da posse, podendo o


possuidor, embora ausente, continuar a posse solo animo,
ainda que a coisa possuída tenha sido ocupada por um terceiro,
durante a sua ausência.

Natureza da posse:
Para Savigny, a posse é um misto de fato e direito (pessoal).
Para Ihering, a posse é um direito (real), no sentido de que os
direitos são interesses juridicamente protegidos. Assim,
classifica Savigny a posse como uma relação obrigacional e
Ihering a insere no âmbito dos direitos reais. Contudo, nosso
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CC filia-se a Clóvis Bevilaqua, que vê a posse como um direito


especial.

A posse não pode ser considerada como direito pessoal por não
estabelecer um vínculo de conteúdo obrigacional para o
possuidor em face de terceiros ou do proprietário; nem direito
real, pois não gera efeitos erga omnes (triunfa sobre os
pretensos adquirentes da posse, mas sucumbe ao proprietário).
Por fim, a natureza especial da posse dispensa, pois, na ação
possessória, a intervenção do outro cônjuge, salvo quando
versarem sobre direitos reais imobiliários. Fosse a posse direito
real, a presença dos cônjuges seria obrigatória.

Classificação da posse:

POSSE INDIRETA
 Dá-se a posse indireta quando o seu titular,
voluntariamente, transfere a outrem a utilização da coisa.
ex: locador, comodante, nu-proprietário

POSSE DIRETA
 Diz-se posse direta a de quem recebe o bem para usar. É
derivada e temporária. A posse foi transferida por
contrato, p. Ex.
ex: locatário, comodatário, usufrutuário

OBS:
1) Se houver sublocação, o locatário passará de possuidor
direto para possuidor indireto, e o sublocatário será o novo
possuidor direto.

Caso alguém ocupe sem autorização determinado imóvel,


impedindo o ingresso do real proprietário, essa pessoa não
detém a posse direta, ela tem posse e o proprietário não tem
posse. Para recuperar a posse perdida, o proprietário deve
ingressar com uma ação de reintegração de posse e não com
uma ação de ‘reintegração na posse direta’.
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Posse Justa
 É justa a posse que não for violenta, clandestina ou
precária (art. 1200 CC). Diz-se violenta a que é adquirida
mediante força (ex: MST), clandestina a que é adquirida às
escondidas e precária a que surge do abuso de confiança
por parte de quem possuía legitimamente coisa alheia.
Posse Injusta
 É a posse injusta, ilícita ou viciosa.
OBS:
A posse poderá passar de justa para injusta → Ex: alguém
empresta a um amigo livros e CDs e este, ao passar o prazo
estipulado, não os devolve ao dono. Durante o período do
empréstimo a posse era justa, porém ao não haver a restituição
das coisas cedidas, a posse tornou-se injusta (apresentou um
vício de precariedade).
→ Observa-se, pois, que a posse precária, diferentemente da
violenta ou clandestina, nasce no momento em que houver
recusa à devolução da coisa.
Posse de boa-fé
 É de boa-fé a posse quando o possuidor ignorar o vício, ou
o obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa ou do
direito do possuído (art. 1201 CC).
Posse de má-fé
 Quando o possuidor não ignorar que possui
ilegitimamente.
OBS:
1. A boa-fé ou má-fé irá repercutir nas questões
relativas aos frutos, às benfeitorias e à usucapião da
coisa possuída.
2. A posse de boa-fé converte-se em posse de má-fé
desde que as circunstâncias façam presumir que o
possuidor não ignora que possui
indevidamente. → Ex: adquiro, sem saber, um
imóvel ilegitimamente. Então recebo uma notificação
dizendo que quem me vendeu a casa não era o
legítimo dono e, com isso, eu não sou adquirente. A
partir do momento em que sou citada e tomo
conhecimento do fato, se eu permanecer na casa será
de má-fé, pois a minha boa-fé inicial terá
desaparecido no momento da citação.
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Posse nova
 Se a posse datar de menos de um ano e um dia, será
considerada nova, admitindo o pedido de liminar.
Posse Velha
 Caso transcorrido o prazo superior a um ano e um dia, a
posse será tida como velha, sem direito a liminar.
OBS:
• A relevância da distinção entre posse nova e posse velha
reside na possibilidade ou não de ser concedida a liminar na
ação possessória, que é uma medida provisória. Como
efeito, possibilita ao autor ou réu recuperar de imediato a
posse, até a decisão final do processo.
• O marco inicial de contagem do prazo da posse é a data da
turbação ou esbulho.

• A impugnação da decisão interlocutória que defere ou não a


liminar se dá por meio do Agravo de Instrumento.

Posse Ad Interdicta
 É concedida àqueles que são possuidores por decorrência
de uma obrigação ou direito. É uma posse defensável por
meio das ações possessórias, mas não gera usucapião.
Ex: posse do locatário

Posse Ad Usucapionem
 É a posse que gerará usucapião. Evidencia-se quando não
há qualquer relação obrigacional ou de direito entre o
possuidor e o proprietário.
Quem ocupa um imóvel sem autorização do proprietário
poderá usucapir, desde que sua posse seja mansa, pacifica,
contínua e preencha o espaço de tempo exigido em lei.

OBS:
Distinguem-se essas modalidades de posse quanto ao seu
nascimento e quanto aos seus efeitos.

Composse Pro Diviso


 Caso os possuidores localizem-se na área certa e
determinada.
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Composse Pro Indiviso


 Quando não há separação ou repartição da posse de uma
mesma área.
OBS:
A composse ocorre quando duas ou mais pessoas possuírem
coisa indivisa, podendo cada uma delas exercer atos
possessórios, desde que respeitem os dos outros
compossuidores. (art. 1199 CC). Chamada de composse ou
posse comum.
Podem adquirir a posse, conforme art. 1205 CC, a própria
pessoa que a pretende, desde que seja capaz, ou faça por seu
representante, legal ou convencional. Também, por terceiro
sem mandato, dependendo de ratificação. O constituto
possessório é outra modalidade de aquisição da posse.
Acessão da posse
Significa união ou soma da posse.

Art.  1207  CC – ‘O sucessor universal continua de direito a


posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado
unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.’

Assim, dá-se a acessão da posse por:

A) Sucessão universal = o herdeiro continua, por determinação


legal, a posse que tinha o de cujus. Não lhe é dado escolher
entre unir ou não a sua posse a de seu antecessor, pois, por
imposição legal, a conjunção da posse é obrigatória.
→ Ex: se ‘A’ é possuidor de uma casa e falece, deixando os
filhos ‘B’ e ‘C’, estes sucederão ‘A’ na posse.
B) Sucessão singular ou união = o sucessor singular pode
agregar a sua posse à de seu antecessor, sobre um bem ou
vários bens determinados.

→ Ex: caso ‘A’ seja possuidor de uma casa e transmita sua


posse a ‘B’, este unirá sua posse à de ‘A’, se quiser. O efeito da
soma será o de alcançar lapso de tempo maior para que ‘B’
possa usucapir.
Posse de bem móvel que integra o imóvel
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É uma decorrência natural do princípio de que o acessório


acompanha o principal.

Art.  1209  CC – ‘A posse do imóvel faz presumir, até prova


contrária, a das coisas móveis que nele estiverem.’

Efeitos da Posse (art. 1210 a 1222 CC):


Os efeitos da posse são relativos à: ações possessórias, à
percepção dos frutos, às benfeitorias, à responsabilidade pela
perda ou deterioração da coisa e à usucapião.

A posse pode ser defendida não só por meio das ações


possessórias, mas também através da autodefesa, quer por
meio da legítima defesa da posse (no caso de turbação,
reagindo contra a agressão perpetrada à sua posse) quer por
meio do desforço imediato (no caso de esbulho). Não há
prazo para que se use os recursos da autodefesa, mas
determina o legislador que o faça logo.
Turbação: há somente a ameaça, pretensão; sem a retirada
forçada das pessoas que estão no local ≠ Esbulho: há pretensão
de tomada da propriedade, seguida da retirada (há a perda da
posse pelo proprietário). Ocorre também nos casos em que há
recusa em se restituir algo (ex: ex-comodatário que permanece
com a coisa emprestada, após a extinção do comodato).
Ações possessórias (art. 920 CPC):
Os pedidos são feitos na Contestação.

1) Interdito proibitório (art. 932 CPC)= é uma medida


preventiva de defesa contra violência iminente, ajuizada ante a
ameaça de turbação ou esbulho na posse. Tem legitimidade
para propor a ação qualquer possuidor, direto ou indireto,
pessoa física ou jurídica. Exige-se posse, daí por que não pode
dela se valer o detentor. A pedido do autor, o juiz imporá ao
réu uma sanção pecuniária, caso concretize a ameaça de
turbação ou esbulho, ou seja, transgrida o preceito do
mandado proibitório. É inadmissível o interdito proibitório
para a proteção do direito autoral.
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→ se no curso da ação houver invasão, a ação de interdito será


convertida em ação de reintegração ou manutenção de posse,
bastando a comunicação ao juízo.
2) Manutenção de posse = ação ajuizada no caso de turbação
da posse. Não há perda da posse pelo possuidor, mas um
incômodo ou embaraço a sua posse. Incumbe ao autor provar
sua posse, a turbação, a data da turbação e a continuação da
posse, embora turbada (art. 927 CPC). A liminar poderá ser
requerida se a turbação à posse datar de menos de 1 ano e 1
dia. Se o réu for pessoa jurídica de direito público, não será
deferida a liminar sem prévia audiência dos representantes
judiciais.
3) Reintegração de posse = exige a perda da posse e esbulho.
Os requisitos (art. 927 CPC) para seu ajuizamento são a posse,
o esbulho praticado pelo réu, a data do esbulho e a perda da
posse. Comporta o pedido de liminar, todavia se o réu for
pessoa jurídica de direito público, não será deferida sem prévia
audiência dos representantes judiciais. A sentença proferida na
ação de reintegração de posse determina a expedição de
mandado de reintegração.
→ em se tratando de locação, a ação para reaver o imóvel
locado é a de despejo. Somente se o locatário foi despejado e,
clandestinamente, retornou a ocupar o imóvel a ação proposta
será a de reintegração de posse, visto que se configurou o
esbulho.
Portanto, se for ajuizada ação de interdito proibitório é porque
só havia ameaça de turbação ou esbulho e, caso se concretiza a
turbação ou o esbulho, a ação transmuda-se para manutenção
ou reintegração de posse; respectivamente.

A ação possessória possui um caráter dúplice, significando


que o réu, justificando que foi ofendido em sua posse, pode,
articulado na própria contestação, pleitear a proteção
possessória e a indenização decorrente da turbação ou esbulho
praticado pelo autor. As partes agem, ao mesmo tempo, como
autor e réu. É permitido ao autor cumular o pedido possessório
com condenação em perdas e danos, por exemplo
(art. 921 CPC). Em pleito possessório apenas se discute a posse
e não o domínio. Se o autor restar vencido na ação possessória,
poderá intentar ação reivindicatória.
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→ Ex: suponha que ‘A’ tenha ocupado e guarnecido com


móveis uma casa de veraneio, que reputava abandonada, mas
que pertence a ‘B’. ‘B’, ignorando a situação criada por ‘A’,
ingressa no imóvel e fica na posse. ‘A’, então, acreditando-se
esbulhado, propõe ação de reintegração de posse em face de
‘B’; o qual, em ação movida contra ‘A’, pede seja-lhe concedida
a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos
resultantes do esbulho cometido pelo autor da ação (‘A’).
Outras ações relacionadas à posse
O proprietário possuidor pode, em face da invasão à sua
propriedade, mover ação de reintegração de posse ou
reivindicatória; já o proprietário não possuidor somente
poderá ajuizar ação reivindicatória. Tanto o proprietário
possuidor quanto o proprietário não possuidor podem ajuizar
ação de nunciação de obra nova.

1) Nunciação de obra nova (art. 934 a 940 CPC)= tem a


finalidade de impedir a continuação da construção de obra
nova em imóvel vizinho, a fim de evitar prejuízos. A obra deve
ser nova, isto é, inacabada ou em vias de construção; caso não
seja, a ação a ser proposta será a demolitória. Tem legitimidade
para propor a ação o proprietário, o possuidor, o condômino e
o Município (com intuito de evitar que a construção seja feita
em desacordo com a lei). → Ex: a construção de muro divisório
com alegada invasão no terreno vizinho dá ao proprietário
possuidor o direito à nunciação de obra nova.
Art. 940 CPC – ‘O nunciado poderá, a qualquer tempo e em
qualquer grau de jurisdição, requerer o prosseguimento da
obra, desde que preste caução e demonstre prejuízo resultante
da suspensão dela.’
2) Dano infecto = é uma medida preventiva contra dano futuro
(eu percebo que haverá um dano e me antecipo pedindo
indenização, a qual ficará depositada em juízo).

3) Imissão de posse = quando eu já possuo a propriedade, mas


falta a posse. Busca o autor conquistar a posse que nunca teve,
mediante a apresentação do título. → Ex: se ‘A’ compra um
imóvel de ‘B’ e este se recusa a permitir o ingresso de ‘A’,
deverá ‘A’ propor em face de ‘B’ a ação de imissão de posse.
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Não poderá requerer reintegração de posse, pois não teve posse


anterior.
4) Embargos de terceiro = medida incidente, conferida a quem,
não sendo parte do processo, sofrer turbação ou esbulho na
posse de seus bens (por apreensão judicial, por exemplo).

Direito de indenização e direito de retenção

Art. 1219 CC - ‘O possuidor de boa-fé tem direito à


indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como,
quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-
las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá
exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias.’
Art. 1220 CC – ‘Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas
somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste direito de
retenção pela importância destas. Nem o de levantar as
voluptuárias.’
Possuidor de boa-fé e Possuidor de má-fé
Percepção dos frutos
(1) Terá direito aos frutos percebidos (os que ele colheu). Os
frutos pendentes ao tempo em que Cesar a boa-fé devem ser
restituídos (frutos presos a árvore) com dedução das despesas
de produção e custeio. Deverá restituir os frutos colhidos com
antecipação (frutos que não deveriam ter sido colhidos, mas o
foram).

(2) Será responsabilizado por todos os frutos colhidos e


percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de
perceber, desde o momento em que se constituiu a má-fé. Para
evitar o enriquecimento indevido por quem está a recuperar a
posse, confere-se ao possuidor de má-fé o direito à indenização
pelas despesas de produção e custeio.

Pela perda ou deterioração da coisa


(1) O possuidor de boa-fé não é responsável pela perda ou
deterioração da coisa a que não der causa.
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(2) É responsabilizado pela perda ou deterioração da coisa,


ainda que acidentais, a não ser que se prove que a referida
perda ou deterioração teria ocorrido mesmo que a coisa
estivesse na posse de quem a reivindica (por exemplo, por caso
fortuito ou força maior).

Perda da posse (arts. 1223 e 1224 CC)


Considera-se perdida a posse quando cessa o poder que tinha o
possuidor sobre o vem. Motivos: abandono (ato
voluntário), tradição (transferência da posse), posse por
outrem (contra sua vontade – Ex: invasão), destruição da
coisa e pelo constituto possessório.
No caso de esbulho, só se considera perdida a posse para o
esbulhado que não presenciou o esbulho quando, tendo
conhecimento do fato, se mantém inerte ou, ao tentar
recuperar a coisa, é violentamente repelido.

Constituto Possessório
É uma modalidade de transmissão ficta da posse, ou seja, não
há a efetiva tradição da coisa. Perfaz-se por via contratual. Para
se evitar o ônus da tradição e conseqüente aquisição da posse
de bem móvel ou imóvel, o alienante a transfere por meio de
uma cláusula contratual, denominada cláusula constituti, a
qual converte o adquirente em possuidor (mesmo que nunca
tenha exercido atos de posse direta sobre o bem). → Ex: ‘A’
compra um imóvel, devidamente registrado, porém não tem
intenção de ocupá-lo (e, por isso, será um proprietário não
possuidor). Ele poderá mover ação reivindicatória contra
eventuais invasores, mas nenhuma das ações possessórias (pq
não tem posse). Para evitar este inconveniente, a posse é
transferida através da cláusula constituti, a qual legitimará o
proprietário de ajuizar ações possessórias, inclusive contra o
alienante (que continua a deter o imóvel, mas em nome de
quem o adquiriu).
O comprador será carecedor de uma eventual ação possessória
ajuizada contra o alienante se não constar no contrato o
constituto possessório.
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A ação a ser proposta pelo comprador, após já transferida a


posse pelo constituto possessório, será a de reintegração de
posse (e não imissão de posse), pois configurou-se o
esbulho → no caso do alienante se recusar à entrega da coisa.
Propriedade em Geral
Consiste em um direito em que:

Art.  1228  CC – ‘O proprietário tem a faculdade de usar,


gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de
quem quer que injustamente a possua ou detenha.’

Não há prazo em lei para a propositura de ação reivindicatória,


mas sua improcedência será de rigor, quando o réu da ação
provar tempo de posse suficiente para a usucapião.

Características:

I. É um direito absoluto = o proprietário pode utilizar a coisa


em toda sua substancia e conforme o bem-estar social

II. É exclusivo = o titular deste direito pode usar, fruir e dispor


dele → tem o proprietário direito sobre o solo, espaço aéreo e
subsolo (não pertencerão, contudo, as riquezas naturais
encontradas, tais como jazidas, recursos minerais e
monumentos arqueológicos)
III. É elástico = meus direitos podem diminuir ou aumentar de
acordo com o meu uso na propriedade → Ex: se eu cedo meu
direito de usar e fruir, somente me restará o direito de dispor e,
desta forma, meus direitos terão diminuídos. Neste caso, eu
serei a nu-proprietária e a pessoa a usufrutuária.
A função social da propriedade não se restringe ao cuidado
de preservar o direito individual ou coletivo, mas também à
proteção do meio ambiente; evitando danos à fora, fauna, ao
patrimônio histórico, ao ar... Enfim, deve exercer sua função
social refletida pelo bem-estar comum.
Descoberta (arts. 1233 a 1237 CC)
Consiste em achar coisa alheia perdida pelo dono. Quem a
encontrar (o descobridor) deve devolvê-la ao respectivo dono
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ou legítimo possuidor. Caso não seja possível, deve ser


entregue a uma autoridade competente. Após 60 dias de
divulgação, pela imprensa (p. Ex.), se o dono não se apresentar
a coisa será vendida em hasta pública. Poderá o Município
abandonar a coisa em favor de quem a achou se o seu valor for
ínfimo. O descobridor do objeto terá direito a uma
recompensa, o achádego, não inferior a 5% do seu valor + a
indenização pelas despesas que tenha feito com a conservação
e/ou transporte da coisa.
OBS: Ação reivindicatória = ação do dono, que recupera a
posse sobre seu bem. Pressupõe documento de propriedade, a
prova de que aquele imóvel era meu.
Aquisição da Propriedade Imóvel (arts. 1238 a 1259
CC)
São modalidades de aquisição da propriedade imóvel:
usucapião, registro de título, acessão e o direito hereditário.

A usucapião é considerada forma de aquisição originária,


porque a transmissão é através de sentença declaratória da
usucapião e não por manifestação da vontade; já o registro e o
direito hereditário são modos de transmissão derivada, porque
exigem um anterior proprietário. Portanto, a aquisição será
originária quando não houver relação de causalidade entre o
direito do antecessor e o do sucessor. Existindo essa relação,
que se dá através da transmissão do bem pelo anterior ao novo
proprietário, o modo de aquisição será o derivado.

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