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Direito das coisas – 18/02/2022

26 de abril – 1º frequência

21/02/2022 – Dra. Diana

Direito das coisas ou direitos reais é muitas vezes utilizado como sinonimo, quando falamos
deste ramo de direito estamos aludindo a um dos elementos da relação jurídica em geral. O
direito das coisas centra-se no objeto da relação jurídica, estamos a falar numa relação que se
traduz no domínio dobre uma coisa, não é uma relação intersubjetiva, estamos a falar de uma
relação objetiva.
Os direitos reais sofreram variações ao longo dos tempos influenciados pela situação
económica, política e social de cada época.

Como principais direitos reais nós podemos fazer uma distinção, temos 3 categorias:
 direitos reais de gozo,
 direitos reais de garantia,
 direitos reais de aquisição.

Os direitos reais de gozo


São aqueles em que é atribuído ao seu titular a faculdade de uso ou fruição ou disposição de
uma certa coisa corpórea. Nos direitos reais de gozo o direito real máximo é o direito de
propriedade, e depois temos os direitos reais de gozo limitado, têm por exemplo: o usufruto,
uso e habitação, o direito real de habitação periódica, direito de superfície, servidões prediais.
Dentro destes direitos reais de gozo, temos a posse, tem natureza provisoria, e fica numa linha
intermedia.

Os direitos reais de garantia

Estes, são aqueles em que é conferido a um credor uma preferência no pagamento pelo valor
de certa coisa, podendo assim esse credor ser pago à frente de outros credores, evitando os
riscos de um património de o devedor não chegar para liquidar todos os créditos. Por ex.:
penhor, hipoteca, consignação de rendimentos, privilégios creditórios, e o direito de retenção.

Os direitos reais de aquisição

Os direitos reais de aquisição são aqueles em que é conferida ao seu titular a possibilidade
pelo seu exercício vir a adquirir um direito real sobre determinada coisa. Estamos a falar no
caso do direito de beneficiário de um contrato promessa com eficácia real, ou o direito de um
beneficiário de um pacto de preferência com eficácia real, direitos legais de preferência. Por
ex: se A celebra com B um contrato promessa com eficácia real, isto significa que este contrato
obedece aos requisitos do artigo 413º do CC, este contrato incide sobre um imóvel, tem de ser
registado. Se o A decide vender o imóvel a C, o B tem um direito que decorre da celebração
deste contrato com eficácia real, B pode opor-se ao C e vai fazer com que o contrato com

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eficácia real se transforme num contrato definitivo de compra e venda. Estes permitem que o
titular de um contrato possa pelo seu exercício transformar esse direito num direito definitivo.

Função dos direitos reais

A principal função dos direitos reais é regular o domínio das coisas e disciplinar a sua
atribuição e utilização, quem é o titular do bem, como se pode dispor desse bem. Há uma
função de estabilidade das estruturas sociais sob o domínio dos bens regulando a utilização
direta das coisas, enquanto que o direito das obrigações regula o caminho de regulação dessas
coisas.

Características do Direito Real:


 eficácia absoluta do direito real – significa que ao poder direto e imediato que o
titular de um direito real tem sob uma coisa, objeto do seu direito corresponde a
obrigação de todos os sujeitos o respeitarem nada fazendo para dificultar ou impedir o
exercício do seu direito. O direito real é um direito que se impõe a um número
indeterminado de membros da comunidade jurídica. Embora os direitos reais tenham
eficácia absoluta, há determinadas situações em que essa eficácia absoluta é posta em
causa, por ex: A vende a B um apartamento, por efeito do artigo 879º, há a
transmissão da propriedade, sendo um contrato valido o B torna-se proprietário e há
um direito absoluto, mas este direito absoluto em determinadas situações não será
suficiente para o B manter-se como proprietário. o registo surge para que à luz da
comunidade esse direito seja reconhecido, se não o fizer, não havendo registo, pode
haver situações em que o B perde o direito de propriedade. Caso da relação triangular
de propriedade, o B torna-se proprietário, mas não fez o registo, o A celebra novo
negócio jurídico com C, sobre o mesmo negócio, o negócio é inválido porque estamos
perante uma venda de coisa alheia, não se produzem os efeitos do artigo 879º. Mas o
C estando de boa fé, ele acreditou na presunção do registo e esta diz-nos que em força
do registo é titular, ele acreditou que A era o proprietário e pelo artigo 892º cai sobre
ele um direito de oponibilidade. B e C adquiriram entre si direitos incompatíveis esta
aquisição foi feita a título oneroso e o C tem que estar de boa fé, o C tendo registado
em primeiro lugar, segundo o artigo 6º do CRP vai poder ver o seu direito de
oponibilidade transformar-se num direito absoluto, artigo 5º nº4 do CR predial.
 poder de sequela – este também é usado no direito de perseguição, porque este
poder de sequela traduz-se no poder que o titular do direito real tem de seguir a coisa,
sempre que ela se encontre no domínio de outrem e de atuar de modo a serem
restabelecidos os poderes necessários ao exercício do seu direito. O titular de um
direito real pode seguir a coisa independentemente das vicissitudes de ordem real que
possam existir. No âmbito dos direitos reais da coisa, uma forma de exercer este poder
de sequela é através do poder de reivindicar a coisa. Mas também existem exceções
neste poder de sequela: o artigo 5º nº4 do CR predial é um dos exemplos. Neste caso a
proteção do registo é uma das situações em que o poder de sequela não poderá ser
exercido. Outra exceção ao poder de sequela é também o caso das invalidades
sequenciais do artigo 291º, por ex: A celebra um contrato de compra e venda com B,
este esta sujeito a forma, mas este contrato foi celebrado verbalmente, logo este
negócio é nulo por falta de forma, isto significa que não produz efeitos, logo o
proprietário continua a ser o A. O artigo 243º é também outra exceção.

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 A inerência – traduz-se na ligação íntima dos direitos reais às coisas que constituem os
seus objetos e pelas quais passa a satisfação da necessidade dos seus titulares, por isso
não se pode manter um direito real se o objeto mudar. Por exemplo: se o A constituiu
a favor de B o usufruto sob um determinado prédio, o A e o B pretendem transferir
esse direito para outro prédio, a característica da inerência faz com que a intenção de
transferir o usufruto para outro prédio implique que se extingue o primeiro usufruto e
que se constitua outro novo usufruto. O mesmo vai acontecer em relação as servidões
prediais.
 A publicidade do direito real – esta está relacionada com o registo.
 A especialidade do direito real / atualidade – quando se fala da especialidade e
atualidade do direito real estamos a direcionar para o objeto do direito real, só pode
ser objeto de direito real, uma coisa que seja atual e ser atual significa, ser presente ou
seja estar em poder do alienante ou existir. A coisa do direito real tem de ser uma
coisa certa, autónoma e determinada. Não pode existir um direito real sobre partes
componentes, integrantes, coisas genéricas...etc. A produção do efeito real vai ficar
dependente de um determinado momento quando não reúna as características
necessárias (art.408º nº2).
 Consensualidade – artigo 408º - basta vontade das partes para a transmissão da
propriedade.
 Compatibilidade ou exclusão – é possível existir mais do que um direito real sobre a
mesma coisa desde que sejam compatíveis.
 Prevalência ou preferência – consiste no poder do titular do direito real impor o seu
direito a todos os sujeitos que não tenham um direito anterior incompatível sob a
coisa. Os direitos reais não vão prevalecer sob os direitos de crédito desde logo.
 Aquisição por usucapião – é uma característica que é apontada aos direitos reais, só é
possível a aquisição por usucapião sobre um direito real que não existe nos direitos de
crédito. O usucapião, é o efeito imediato da posse, permitir que alguém que pelo uso
continuado de uma coisa por um lapso de tempo praticar um conjunto de atos como
se fosse titular do direito correspondente aos atos que pratica – vai permitir que o
possuidor que tem subjacente invalidades e vicissitudes na forma como se tornou
titular, a posse tem que ser publica e o proprietário não reivindicou a propriedade.

Princípios estruturantes do direito real


 Princípio da coisificação – significa que o direito real, só pode versar sob coisas
(art.202.º) e não sob pessoas ou bens não coisificados. Não há direito real sob uma
pessoa.
 Princípio da tipicidade (ou taxatividade) – os direitos reais apresentam-se como tipos
característicos consagrados na lei na generalidade dos casos já com uma longa
tradição jurídica e que são acessíveis ao conhecimento da comunidade jurídica. Não
podem existir direitos reais para além daqueles que a lei fixar. Estamos a falar de um
direito que impõe o respeito. Para este princípio é importante o artigo 1306º do CC.
Sempre que se tente fugir as disposições legais, esse direito apenas assume uma
natureza meramente obrigacional. A desobediência ao princípio da tipicidade implica a
conversão do direito num direito meramente obrigacional.
 Princípio da transmissibilidade – os direitos reais podem ser objeto de sucessão por
morte.
 Princípio da consensualidade – a constituição ou transmissão de direitos reais dá-se
por mero efeito do contrato de acordo com o artigo 408º nº1, basta as partes
chegarem ao acordo de vontade (232º) para que haja a transmissão da propriedade.
Por força deste princípio nós temos o sistema de título em que a produção do efeito
real se dá por mero ato de vontade das partes sem ser necessário a verificação de um

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ato material como é o caso da obrigação da entrega da coisa. Para se dar o efeito da
transmissão da coisa basta apenas a vontade das partes. Contudo admitem-se
exceções neste sistema de título: a doação de coisas moveis, para ser válida ou é
acompanhada da entrega da coisa, ou então tem de ser celebrada por um documento
escrito.
 Princípio da publicidade – esta associada à questão do registo, necessidade de
segurança e certeza jurídica exigida no âmbito da aquisição de direitos reais, não se
põe a aquisição de todas as coisas, falamos em bens imoveis ou móveis sujeitos a
registo. Esta relacionado com a característica absoluta dos direitos reais alem da
questão do registo em si, a publicidade esta associada à matéria da posse.
 Princípio da elasticidade dos direitos reais – aplicado ao direito da propriedade,
significa que ele se pode conciliar com outros direitos reais como o direito de usufruto,
servidão...etc.
 O princípio da boa fé

22/02/2022 – Dra. Luísa Magalhães

 O princípio da coisificação – os direitos reais só podem ter como objeto coisas, mas
coisas na definição jurídica de coisas. Coisa na verdade tem uma determinada
concetualização que não abarca as pessoas. Recentemente temos uma figura híbrida,
caso dos animais.

 Princípio da totalidade está associado ao princípio da compatibilização ou exclusão – o


princípio da compatibilização tem a ver com o facto de sob uma mesma coisa poderem
incidir mais do que um direito real. Desde que os direitos reais em causa não sejam
incompatíveis entre si. Relaciona-se com o princípio da totalidade, porque exerce-se
sob a coisa toda. O que importa não é propriamente o exercício do direito sob a coisa
toda, mas sim a intensidade dos poderes que se exercem sob a coisa.

O direito real de propriedade é aquele que é o direito real absoluto, contem em si todas as
possibilidades de um direito real. Mas à sombra do direito real de propriedade podem-se
constituir outros direitos reais menores, são direitos reais cujo o poder direto e imediato sobre
a coisa, a intensidade é que varia consoante o tipo de direito real.

O artigo 1305º tenta responder à pergunta “o que é o direito de propriedade?”. Há uma certa
incapacidade de definir o direito de propriedade porque este contem uma vastidão tal de
possibilidades. Então encontramos uma norma que diz qual é o conteúdo geral do direito de
propriedade.

Desde que não haja incompatibilidade nos direitos reais eles podem existir sobre a mesma
coisa e a totalidade da coisa. Por ex: A vende um apartamento a B, faz um preço apelativo e
ele compra o apartamento por forço do princípio dos negócios translativos, alem do efeito
obrigacional tem o efeito translativo, o apartamento vai para o B. Se A vende a B e este
compra pelo preço mais baixo, mas ele acorda com A constituir um usufruto até à morte de A,
vitaliciamente eu fico com o direito de fruir o apartamento, são compatibilizáveis e o poder de
exercício por cada um destes direitos sobre a coisa estende-se à coisa toda, mas com
intensidades diferentes.

Um outro princípio fundamental é o princípio da tipicidade, este tem 2 alcances, esta é uma
área em que o princípio da liberdade contratual vale 0 porque não nos é permitido constituir

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direitos reais diferentes daqueles que são previstos pelo legislador. Também não é possível
mudar o conteúdo ao direito real que esta estabelecido em lei.

Princípio da consensualidade – princípio regra no nosso ordenamento jurídico, nos direitos


reais, também vigora o princípio da consensualidade nos direitos reais. Por ex: A propõe a B se
ele quer comprar um bem x por 2 euros. Nesta altura o bem já é de B, mesmo ele não tendo
pago, pois o que interessa neste princípio é o encontro de vontades.

No que diz respeito a bens móveis o princípio da consensualidade continua a funcionar.


Quanto aos bens imoveis o legislador exige um requisito de forma, tem de haver forma legal e
na ausência desta vai implicar-se um efeito constitutivo no próprio contrato, o contrato é nulo
e sendo nulo não houve transmissão., não se da a transmissão do bem quando se verifica uma
nulidade por ausência de forma legal.

Os direitos reais são seguidos de uma forte tutela, o poder de perseguir – direito de sequela.
A ação de reivindicação é uma ação declarativa de condenação, este é um meio próprio que
visa proteger o proprietário – traduz o direito de sequela.

Artigo 202º - Definição de coisa

A coisa é aquilo que possa ser objeto de relações jurídicas, terá de ser uma coisa de natureza
corpórea, desde que possa ser apreensível ao objeto de relações jurídicas assume o papel de
coisa face ao ordenamento jurídico. A clausula geral que regula estas matérias é a de
possibilidade ou não de apropriação individual. O legislador por uma questão de
praticabilidade procurou dar-nos uma definição de coisa, então este resolveu dar uma
definição de determinadas coisas e depois diz “tudo o que não for isto então é de outra
categoria”. Este tomou a opção de criar o ramo dos moveis e dos imoveis, identifica o que são
os imóveis e assim sabe-se que tudo o resto é móvel.
Esta é uma primeira categoria muito importante, porque as próximas tanto podem ser
aplicadas a bens moveis como imoveis.
Relativamente à primeira classificação de coisas móveis e imóveis, só encontramos uma
especificação relativamente às coisas imóveis que está vinculada no artigo 204º do CC.
O legislador equipara as águas a imóveis. – art 204 nº1 b). Todos os atos praticados sobre este
tipo de coisa obedecem a forma legal.

28.02.2022 – Dra.Diana

Natureza jurídica do direito real


Os direitos encontram-se regulados essencialmente no livro III do CC nomeadamente o grande
núcleo da matéria de direitos reais sem prejuízo das questões de direitos de gozo, garantia e

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de aquisição que se encontram numa base anterior do CC. A doutrina quanto á expressão
direitos real é uma expressão mais abrangente não fica limitada ao objeto do direito real. Das
características dos direitos reais são direitos com natureza patrimonial com caracter absoluto,
eficácia erga omnes.

A doutrina tem se dividido em 3 teorias principais sobre a natureza jurídica do direito real:

1. concepção realista ou clássica- para esta concepção o direito real consiste num poder
direito e imediato sobre uma coisa, poder que alguém vaie exercer sobre a coisa. É
uma concepção que deriva já da tradição do direito romano, e que foi sofrendo
alguma evolução durante a idade media e quando pensamos nesta concepção o
esquema que podemos configurar é; pessoa titular do direito real que irá ter conjunto
de poderes sobre a coisa, e portanto caracteriza o direito real será a circunstância de
sobre ele recair o tal poder direto e imediato sobre a coisa sem necessidade de
qualquer tipo de colaboração ao contrário dos direitos de crédito que para serem
exercidos necessitam da colaboração do devedor.
2. concepção personalista do direito real - o direito real é o vinculo jurídico entre o
titular do direito e um numero determinado de sujeitos que têm um dever geral de
abstenção, têm obrigação passiva e universal de respeitar em não afetar o exercício
do direito real. Esta concepção surge numa critica á primeira concepção na medida
em que para a concepção personalista não faz sentido á luz do conceito de relação
jurídica e direito subjetivos que o direito real incide-se sobre uma coisa porque todo o
direito subjectivo se deve traduzir num vinculo entre pessoas.
3. concepção mista ou eclética (generalidade da doutrina segue esta teoria mista) - para
esta concepção o direito real é o poder direto e imediato de um titular sobre uma
coisa, elemento interna a que chamamos, e alem disso é constituído pela obrigação
passiva universal que se impõe á generalidade dos membros da comunidade jurídica é
elemento externo do direito real. O conceito de direito real não pode prescindir de
nenhum deste elementos e portanto diz-nos que a teoria clássica tem azar no que diz
respeito ao poder direito e imediato sobre uma coisa, mas a teoria personalista tem
razão porque á uma imposição que é feita a um numero indeterminado de sujeitos, o
direito real é composto pelo elemento interno e pelo elemento externo.

Na posição de Henrique Mesquita, em que diz que o direito real é a relação jurídica de
soberania entre o titular e a coisa subordinada a certo estatuto que fixa poderes restrições e
deveres, concepção realista critica ou modificada - concepção minoritária.

Diferente disso é o princípio da publicidade -tem relevância prática e significativa de direitos


reais, para a constituição ou transmissão de um direito real sobre uma coisa determinada,
certa e atual, é necessário o acordo da vontade - princípio da consensualidade porque vigora
em PT o sistema de titulo exige-se e basta o mero acordo de vontades por força do principio da
consensualidade art408 n.o1 + 232 CC significa assim que não é necessário o registo.

Além do princípio da consensualidade, associado ao nosso sistema de titulo há outro princípio
que é da causalidade enquanto que o princípio da consensualidade nos diz que é suficiente
para a constituição a transferência do direito real um mero acordo de vontade, o princípio da
causalidade diz -nos que a existência a validade e a eficácia do contrato são condições
necessárias da constituição ou transferencia de um direito real.

A publicidade, em matéria de direitos reais assume uma importância significativa, desde logo,
porque nos estamos a falar de direitos absolutos que vão produzir eficácia erga omnes

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portanto se se impõe á generalidade dos membros da comunidade implica que na
generalidade dos casos esses direitos reais possam ser conhecidos pelos membros da
comunidade sobretudo quando estão em causa coisas de significado económico ou social
relevante. Ao falar de certos tipos de bens que têm valor económico significativo é necessário
que as pessoas saibam quem são os titulares. Embora por força do princípio da
consensualidade para a constituição ou transferência de um direito real não seja necessário o
registo para que alguém adquira direito real á determinadas situações em que princípio da
consensualidade devera ser complementado pelo princípio da publicidade.

Há que fazer distinção entre publicidade espontânea publicidade provocada:

 A publicidade espontânea é assegurada pelo posse, que é a forma mais comum de


publicidade dos direitos reais, a posse assegura a publicidade quer dos direitos reais
que incidem sobre coisa móveis quer dos direitos reais que incidem sobre coisas
imóveis, embora seja especialmente relevante como forma de assegurar a publicidade
de direitos que incidem sobre coisas moveis não sujeitos a registo. A posse traduz-se
na atuação material correspondente ao exercício das faculdades de determinado
direito, esta atuação tem de ser acompanhada da intenção ou vontade de actuar como
se fosse o titular do direito real em causa. A publicidade é essencial para reforçar o
direito de posse e permitir que alguém adquira por usucapião.
 A publicidade provocada é assegurada pelos diversos sistemas de registo
publico. O registo predial é exemplo de publicidade provocada. A publicidade
provocada faz-se mediante inscrição de determinadas situações e atos
jurídicos de natureza privada em livros ou registos próprios que são
organizados, guardados ou conservados por um serviço publico que os
certifica com vista a assegurar uma proteção de publicidade adequada. Estão
genericamente sujeitos a registo os bens imóveis (Art.1CRPredial), não são
todos só bens imóveis do art.1 CRPredial que estão sujeitos e registo, só os
prédios rústicos e urbanos. Alem dos bens imóveis sujeitos a registo há certo
tipo de bens moveis, sujeitos a registo, navios, aeronaves.

Registo predial (questão da publicidade) sobre o princípio que decorrem dela, desde logo
temos:
O principio da instância -> o registo predial não é oficioso apenas se faz a pedido dos
interessados art41 CRPredial. Há exceções a esta regra, a mais importante podemos encontrar
no regime jurídico aplicável ao processo de transmissão, oneração e registo imediato de
imóveis nomeadamente no DL 263-A de 2007 que no seu art8 n.o1 al.g) refere que é
obrigatória, oficiosa e imediatamente a procedência de registo deste imóveis. Nesta questão
do princípio da instancia e nos termos art36 CRPredial, tem legitimidade para efetuar o pedido
de registo, os sujeitos ativos ou passivos da relação jurídica que se pretendem registar mas
também qualquer interessado ainda que não interveniente direto na relação jurídica. Permite-
se ainda que o requerimento seja apresentado por aqueles sobre quem recai uma
obrigatoriedade de promoção do registo e que são os sujeitos que estão elencados no art.8 B
CRPredial sujeitos de obrigação de registar.

O princípio da obrigatoriedade -> apesar de o registo estar dependente do pedido dos


interessados, na generalidade dos casos este pedido é obrigatório e não facultativo, o art.8-A
CRPredial remete art.2, estão elencadas as situações dos factos que obrigatoriamente estão
sujeitos a registo. Além destes factos previstos no art2 CRPredial também é obrigatório o
registo de ações, decisões e providencias referidas no art.3CRPredial. em algumas situações o

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registo é facultativo, uma dessas situações está prevista art92n.o1 CRPredial, quando pela sua
natureza o registo é provisório.

O princípio da legalidade -> art68 CRPredial, este artigo trata-se de uma norma fundamental,
no que diz respeito aos poderes do conservador, o conservador deve aferir com particular
cuidado os dados respeitantes á identidade do prédio á legitimidade dos interessados, á
regularidade formal do titulo, á validade dos atos contidos nesse título, entre outros. O
conservador acaba por funcionar como uma instancia adicional de controlo da validade
substancial.este controlo pode ser efetuado em regra quando estamos a falar de situações que
geram nulidade, porque nessas situações pode haver reconhecimento oficioso por parte das
autoridades publicas o que já não acontece nos casos de anulabilidade, regra 287 n.o1 CC. Há
determinadas situações que gera nulidade mas conservador não tem forma de detetar vicio de
ordem substancial por ex.: simulação absoluta.
Quando o conservador no exercício dos poderes conferidos art 68 CRPredial identifica algum
obstáculo ao registo, o conservador pode recusar o registo se estivermos perante alguma das
situações elencadas no ar69 CRPredial. Nos restantes casos o cumprimento do princípio da
legalidade conduzirá á realização do registo art70 CRPredial, ou seja, um registo provisório por
duvidas, se se vier a demonstra que as dúvidas do conservador eram infundadas e o registo
provisório é convertido em definitivo, e para efeitos da prioridade do registo nos termos art6
n.o3 considera-se para esse efeito a data do registo provisório.

art34 CRPredial, de acordo com este artigo, o registo definitivo depende da prévia inscrição
dos bens em nome de quem os onera ou transmite salvo algumas situações em que são
admitas pela lei. Imagine o seguinte exemplo: Belmiro quer registar a aquisição que fez a
António, para que possa proceder ao registo, o registo anterior tem de estar em nome de
António e não de qualquer outra pessoa, este princípio da trato sucessivo permite apurar
quem é o atual titular do direito, e que nos remete para presunção do art7 CRPredial, também
permite estabelecer todo ou toda evolução histórica daquele prédio a partir das inscrições
registadas. Quando ocorre a interrupção de algum elo neste percurso impede que proceda a
uma inscrição nova, devendo o adquirente do bem que pretende registar a sua aquisição
proceder ao registo das inscrições intermedias devendo munir-se de documentos necessários
para esse registo. Se for feita um registo com violação do princípio do trato sucessivo o registo
é nulo Art16 al.E) CRPredial e eventualmente para uma proteção para o que esteja de boa fé
art17 n.o2 CRPredial.

O princípio da legitimação -> art.9 CRPredial, a tramissão e constituição de direitos reais sobre
imóveis, não podem ser tituladas sem que esses bens, estejam definitivamente inscritos a
favor do transmitente, imagine: se A vende a B o prédio, e este antes de registar pretende
vender o mesmo prédio a C, o notário deve recusar a celebração da escritura publica uma vez
que B no registo não aparece como proprietário. Este princípio embora atue num plano
essencialmente do direito substantivo, leva que se coloque menos dificuldade em se manter
atualizado o princípio do trato sucessivo. Este princípio tem exceções previstas no n.o2 art9
CRPredial.

O princípio da prioridade do registo -> art.6 CRPredial, de acordo com n.o1 deste artigo
sempre que se mostrem efetuadas inscrições sobre o mesmo bem incidentes em direitos
incompatíveis entre si deve prevalecer a inscrição mais antiga sobre as posteriores, quem
inscreveu em primeiro lugar em regra tem prioridade do registo. Se o registo for efetuado
provisoriamente e convertendo-se posteriormente em definitivo conserva a prioridade neste
caso que tinha como provisório n.o3 art.6 CRPredial.

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Efeitos do registo predial

O efeito imediato e principal é a chamada fé publica registal, o registo desempenha a função
de publicidade cabendo ao ordenamento jurídico criar os mecanismos necessários que
permitam a maior correspondência possível entre a realidade substancial e a realidade do
registo. O registo não procura apenas informar, mas também ar confiança aos factos inscritos
do art.1 decorre a função essencial de publicidade garantindo a segurança do comercio
jurídico imobiliário. Da própria importância da publicidade é reflexo o art7 CRPredial, que
consagra duas presunções derivadas do registo, são presunções ilidiveis. Esta realidade registal
nem sempre vai corresponder á realidade substancial, as pessoas estão obrigadas a registar e
não o fazem, para alem da fé publica como principal efeito do registo, o registo pode ter
efeitos distintos dependendo da situação em que é aplicado. Podemos apontar 4 efeitos do
registo:

. Efeito consolidativo - apresenta-se como sendo a regra do nosso ordenamento jurídico, em


regra o registo apenas vem conciliar um direito art.4no1 e art.5 n.o1 CRPredial o registo não é
requisito da existência e da validade de facto a registar já que o facto sujeito a registo ainda
que não registados podem ser invocados entre as partes e seus herdeiros, em concordância
com o princípio da consensualidade, por outro lado o registo terá um papel fundamental na
eficácia das relações externas porque um facto que está sujeito a registo só pode ser invocado
nestas relações após ter procedido ao efeito registo. Ex. A vende a B e B não regista não deixa
de ser proprietário, por força do princípio da consensualidade, quando regista ele consolida o
seu direito de propriedade que está protegido em todas as suas direções.

1. Efeito enunciativo
2. Efeito constitutivo
3. Efeito aquisitivo

07/03/2022 – Dra. Diana

1. Além do efeito consolidativo o registo pode ter um efeito enunciativo, quando o


registo tem um efeito meramente enunciativo significa que a constituição de um
direito não necessita do registo para de imediato produzir efeitos em relação às
partes nem nas relações externas. Quando temos o efeito enunciativo nem sequer
é necessário o registo. São as situações que estão previstas no artigo 5º nº2 do
CRPredial, nomeadamente a aquisição fundada na usucapião de qualquer direito
real de gozo e as servidões aparentes. Nestas situações embora o registo seja
obrigatório por força da regra geral do artigo 8ºa) do CRPredial, uma vez efetuado
não terá uma eficácia acrescida, limitando-se este registo a enunciar, facilitar, o
conhecimento do direito.
2. Um outro efeito do registo é o efeito constitutivo, há só uma situação em que o
registo apresenta efeito constitutivo, é o caso da hipoteca (687º do CC), a hipoteca
tem de ser registada sob pena de não produzir efeitos contra as partes.
3. O efeito aquisitivo do registo, o registo pode em algumas situações contrariando a
regra geral do efeito consolidativo, ter eficácia aquisitiva, mas para que esta a

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tenha é necessário que exista uma norma legal que preveja essa situação. Nos
temos 4 situações em que o regista pode assumir a eficácia aquisitiva e que vai
fazer prevalecer um direito em desconformidade com a realidade substancial em
virtude da proteção da fé publica registal.
 (art.5 nº4 do CRPredial;
 artigo 291º do CC;
 17º nº2 do CRPredial;
 122º do CRPredial.

Começando pela situação do artigo 5º nº4, esta situação surge pensando num contrato de
compra e venda, se o A celebra um contrato de compra e venda que tem por objeto uma coisa
imóvel, há um acordo de vontades, e basta esse acordo para haver a transmissão da
propriedade.
(...)
Por força do artigo 5º nº4, o registo tem um efeito aquisitivo. Este artigo permite que se
alguém por boa fé tenha adquirido direitos incompatíveis entre si, adquira um direito
absoluto.

Quais são os requisitos do artigo 5º nº4?

Para o registo ter efeito aquisitivo é necessário que os direitos incompatíveis tenham sido
adquiridos de um autor comum. É necessário a boa fé, é necessário que o segundo negócio
tenha sido celebrado a título oneroso. É necessário que não haja o registo. Esta boa fé que
falamos não resulta da letra da lei deste artigo, ela veio a ser defendida pela jurisprudência por
uma questão de equiparação do artigo 291º.
Nesta questão, a conceção que encontramos neste artigo não teve sempre aquela definição,
num primeiro momento a proteção era muito mais ampla. Um primeiro acórdão de
uniformização de jurisprudência de 1997, que é o acórdão nº15/97, nesta primeira conceção a
proteção conferida pelo 15 nº4 abarcava todos aqueles que tendo obtido registo de um direito
sob determinado prédio, viram esse direito ser afastado por um qualquer facto jurídico
anterior não registado ou registado posteriormente. Era essencial que evocassem a existência
de direitos incompatíveis entre si, e não é necessário que esses direitos tivessem ocorrido de
um autor comum ou transmitente.
Alem disso esta conceção ampla, abarcava não só a aquisição de um direito que resultou de
uma intervenção voluntaria de um titular inscrito, mas também abarcava a proteção de
intervenções não voluntárias.
Como por exemplo: protegia o credor que registava uma penhora, protegia o credor de uma
hipoteca judicial, protegia o adquirente numa venda executiva.

O artigo 5º nº4 numa conceção restrita, implica uma proteção voluntária.


A conceção atual decorre de uma conceção restrita, nomeadamente do acórdão nº3/99 que
vem entender que só são considerados para efeitos do 5º nº4 os adquirentes de boa fé de um
mesmo transmitente direitos incompatíveis sob a mesma coisa.
O 5º nº4 é uma das situações em que atribuímos ao registo um efeito aquisitivo.

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Nas situações do artigo 291º do CC

Este artigo surge no âmbito de invalidades sequenciais, seja uma nulidade ou anulabilidade. É
desde logo pressuposto, imaginemos que A celebra um contrato de compra e venda com B,
mas este contrato não foi celebrado por escritura publica, temos aqui falta de forma que gera
nulidade do negócio. Se o negócio é nulo o proprietário é o A, não houve a transmissão de
efeitos. Mas o B procede à venda com C em que o C desconhecendo o que se passava
anteriormente consegue registar a aquisição, pensa que é o proprietário deste prédio. A
validade deste negócio é nula, porque B não tinha legitimidade para vender o apartamento
pois este não era seu. Estando o C de boa fé, por força do artigo 892º adquire um direito de
oponibilidade relativa. A forma de proteger o C que está de boa fé, seguimos o 291º que surge
quando estão em causa invalidades sequenciais e é necessário que se verifiquem
cumulativamente 6 requisitos: tem de estar em causa um bem imóvel ou móvel sujeito a
registo, é necessário que existam direitos incompatíveis entre si, é necessário que esta
aquisição seja a titulo oneroso, exigência da boa fé que é aquela que é apreciada no momento
da aquisição, no momento da aquisição ele desconhecia sem culpa o vicio, é necessário que o
registo da aquisição seja anterior ao registo da ação da nulidade ou de anulação do primeiro
negócio, por fim temos o requisito temporal, para que haja a proteção pelo 291º é necessário
terem decorridos 3 anos a contar da data de conclusão do primeiro negócio inválido. A
proteção só ocorre quando já decorram 3 anos.
Se estiverem verificados os 6 registos isto vai transformar o direito de oponibilidade relativa
num direito absoluto por força de um efeito aquisitivo.

O artigo 17 nº2 o artigo 291º têm coisas em comum, estamos perante esquemas sequenciais.

O artigo 17ºnº2

O artigo 17 nº2 aplica-se aos casos de nulidade do registo declarada por decisão judicial
transitada em julgado. Ao contrário do 291º em que esta em causa uma nulidade substantiva.
No 17º nº2 o que esta em causa é uma nulidade do próprio registo, o registo não deveria ter
sido feito.
Este artigo vem proteger aquele que tenha celebrado um negócio a título oneroso, que esteja
de boa fé quando esta em causa um bem imóvel e o registo da aquisição tenha sido anterior
ao registo de ação de declaração de nulidade.
Ex: A celebra com B um contrato de compra e venda, foi celebrado verbalmente sem escritura
publica, temos uma nulidade substancial, mas também uma nulidade do próprio registo.
Aplicamos este artigo quando se tratam de invalidades do próprio registo, para verificarmos
estas invalidades seguimos o artigo 16º.

O artigo 122º
Há também o efeito aquisitivo, houve uma ratificação. Há a proteção quando esteja em causa
um direito adquirido a título oneroso, a boa fé, o registo do facto que se entenda aquisitivo for
anterior ao registo da ratificação ou da tendência do respetivo processo.

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Caso Prático

Em junho de 2003, o António doou ao Belmiro verbalmente um automóvel, o qual


permaneceu na garagem de António. Em julho de 2004, o Belmiro vendeu por documento
particular o automóvel a Carlos que desconhecendo o ato anterior procedeu ao registo da
aquisição tendo o automóvel continuado na garagem de António. Em dezembro de 2006 o
António faleceu, sucedendo-lhe Daniel que verificando que o automóvel estava na garagem do
seu pai, decidiu vender o automóvel por documento particular a Eduardo.

Quem pode invocar atualmente a titularidade de direitos reais sob o automóvel?


Em primeiro lugar temos uma doação, regulado no 940º do CC cujos efeitos jurídicos estão
previstos no artigo 954º. Temos dois contratos de compra e venda regulados no artigo 874º e
os efeitos no artigo 879º. Todos estes contratos têm por objeto uma coisa nomeadamente
uma coisa móvel sujeita registo (202º e 205º). É uma coisa presente, certa, determinada e
autónoma, obedece as características do objeto de direitos reais.
No primeiro negócio em concreto temos um contrato de doação que foi celebrado
verbalmente por António, mas diz-nos que o automóvel permaneceu na garagem do António,
pois há falta de forma neste caso, sendo uma coisa móvel em regra, segundo o 947º do CC, a
doação de coisas móveis só é considerada válida se houver a entrega da coisa ou então
quando não acompanhada dessa entrega for celebrada por documento escrito. Este artigo
acaba por ser uma exceção ao nosso sistema de título. No nosso caso não houve a entrega da
coisa pois o automóvel permaneceu na garagem de António, logo o primeiro negócio é nulo
por violação do artigo 947º nº2. Se o contrato é nulo o proprietário continua a ser o A.
O B celebra sob o mesmo objeto um novo negócio jurídico, em relação a este negócio, este
contrato quanto à forma não temos nada a apontar, vigora a liberdade de forma. Mas
acontece que o B não era o proprietário, o proprietário era o A, logo este está a vender coisa
alheia, há aqui falta de legitimidade do transmitente. Este contrato é também um contrato
nulo, não produz os efeitos do 974º, embora porque o B esta de boa fé por força do 892º vai
se produzir um direito de oponibilidade relativa pois está de boa fé.
Para que C esteja protegido pelo 291º é necessário que esteja em causa um bem móvel ou
imóvel, é necessário a existência de direitos incompatíveis entre si, um negócio a título
oneroso, é necessária a boa fé, é necessário que o direito que C pensa ter adquirido tenha sido
anterior a uma ação de declaração de nulidade e por fim os 3 anos. Logo só a partir de junho
de 2006, C a ficaria protegido pelo 291º.
Na altura em que A faleceu sucede-lhe o D que faz um contrato de compra e venda com
Eduardo, e ao vender-lhe o automóvel, neste momento ele está a fazer uma venda de coisa
alheia. O C pode invocar o 291º pois estavam preenchidos os 6 requisitos. A partir de junho de
2006 pertencendo o automóvel a C permitiu transformar um direito absoluto. O C apesar de
ter um titulo que era invalido não obstante desse titulo invalido ele consegue por força do
291º consegue adquirir um direito absoluto.

08/03/2022 – Dra. Luísa

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Objeto dos direitos reais

O poder de domínio sob a coisa, tem tido perceções diferentes ao longo dos tempos. A
perceção maioritária profundamente ligada à coisa sob a qual se exerce o direito real ate ao
sec.19, era como um poder direto e real sob uma coisa certa e determinada.
Digamos que o que fazem as teorias personalistas, o sujeito perante o resto do mundo é titular
de um direito de domínio.

Seja como for, não há dúvida que no contexto do conhecimento, a coisa enquanto objeto de
direito real é fundamental para o nosso estudo daquilo que o direito real representa. O direito
real não existe sem essa coisa certa e determinada. As coisas têm juridicamente variadíssimas
categorias, que por sua vez podem ser combinadas ou sobrepostas. As categorias que o
legislador nos da nos artigos 202º e ss, podem sobrepor-se, não são categorias que se excluam
umas às outras. Na verdade, é este objeto concreto, a coisa, que é determinante para definir o
direito real em causa e a sua amplitude. O direito real é um direito que diz respeito àquela
coisa em concreto, se a coisa mudar, o direito real também deixa de ser aquele.
Por exemplo: Se eu tenho um determinado pavilhão industrial, isto é um bem imóvel, é um
prédio urbano, se eu sou dona desse pavilhão e se celebro um contrato contra incêndios, se
ocorrer um incendio que destrua o pavilhão, por força da relação obrigacional celebrada com
os seguros, a companhia de seguros vai ter de pagar uma determinada compensação. Isso
quer dizer que eu deixo de ter o pavilhão industrial e por causa do contrato de seguros, vou
passar a ter um montante indemnizatório. O dinheiro é uma coisa, uma coisa móvel. Contudo
o direito de propriedade esta ligado ao seu objeto. Eu sou a proprietária, mas os objetos
mudaram, logo o direito real também mudou.
A relação implicativa entre estas 2 situações à luz do direito têm relevo.

Coisas corpóreas

As coisas corpóreas que são identificáveis fisicamente em cima da sua realidade física podem
ter qualificações jurídicas variáveis. Uma coisa pode assumir diferentes imagens, pode ser uma
coisa móvel ou imóvel, o legislador taxativamente dá-nos no artigo 204º aquilo que considera
coisa imóvel e tudo o resto que não estiver aí previsto é coisa móvel. Define o que é imóvel,
este artigo é imperativo. São poucos os casos de coisas consideradas como imóveis e as quais o
legislador dá um tratamento particular.
Esta definição de móvel e imóvel temos de a estudar de acordo com o princípio da
consensualidade previsto no artigo 408º. Na realidade no nosso sistema jurídico, qualquer tipo
de vinculação, é considerada como subsistente. Os vínculos obrigacionais, alguns podem ter
efeitos reais. Nem todos os vínculos obrigacionais trazem consigo efeitos reais.

O nº1 do artigo 408º chama-nos a atenção para 2 realidades importantes, em conjugação com
o artigo 219º: no nosso ordenamento jurídico, o vínculo nasce com o encontro de vontades, e
nasce de forma consensual, sem vinculação à forma. Não tem de haver forma para que esse
vínculo se constitua validamente.

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O princípio da consensualidade é o mais importante, os vínculos jurídicos constituem-se
livremente. Mas há casos em que a pura consensualidade tem de ser acompanhada de uma
forma legal, porque a forma é constitutiva.

Se se tratar de coisas moveis, o problema da forma não se coloca, pois, a transmissão não
obedece a forma legal especial, então princípio da consensualidade também vigora.

No caso de coisas móveis que estão previstas em legislação própria, as motas, navios...etc.
estas são bens que embora sejam por natureza bens moveis, na realidade os negócios entre
elas estão sujeitos a forma legal, a fórmula legal é uma fórmula legal própria.
Estes requisitos de forma são impostos pois há necessidade de salvaguardar a segurança do
tráfego jurídico, pois há bens que estamos a falar de um direito com muito peso que é o direito
real.

As coisas podem ser compostas ou podem ser coisas simples

Uma coisa na verdade pode ser perspetivada de várias formas. Não podemos dizer que um
computador é uma coisa composta, este é uma coisa simples, se eu o desmontar, temos
centenas de peças que originam o computador. A coisa que é parte componente é aquela que
quando sendo parte da outra perde a sua individualidade. No caso da coisa composta é aquela
que para o ser resulta da combinação de várias outras coisas que mantêm a sua
individualidade. A universalidade de facto é uma coisa composta. Por ex: um café, uma
confeitaria. A coisa em si é composta por várias coisas moveis que contribuem para a definição
dela própria. Ela mantem a sua individualidade e pode ser objeto de coisas individuais. Na
coisa composta, as coisas moveis que a compõem não implicam que as coisas simples que
fazem parte delas percam a sua individualidade. A definição de coisa simples vem por exclusão
de partes, o que não for considerado coisa simples é coisa composta.

A questão da fungibilidade

A fungibilidade é muito importante nas relações jurídicas de vários tipos. Aplicando esta ideia
genética sobre fungibilidade à definição de coisa, temos de ver mais uma particularidade, no
artigo 207º chegamos à conclusão que qualquer coisa é fungível se poder ser determinada
quanto à sua quantidade e qualidade. Se alguém esta obrigado a entregar 500 euros a outra
pessoa, à partida a coisa que é objeto do cumprimento desta obrigação é fungível porque é
dinheiro. Mas se porventura a obrigação de entregar os 500 euros estiver obrigada a entrega-
los em moedas de 2€ de cunhagem de 2002, ou seja, na verdade, a obrigação de entrega de
dinheiro já não é tao fungível assim porque se tem de entregar os 500 euros, mas numa
moeda específica.
Por conseguinte, a questão da fungibilidade mesmo relativamente a objetos que são
claramente fungíveis podem não ser, tudo depende do caso concreto.
Outra classificação importante, é a classificação relativa à indivisibilidade e divisibilidade, há
coisas que facilmente dizemos que são indivisíveis, embora a divisibilidade seja um conceito
que não é apenas físico, é um conceito também legal. Há coisas que fisicamente sabemos que
não podemos dividir, por ex: um carro. Mas o critério não é só físico, também é jurídico legal,

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pois por ex: uma casa, eu posso partir uma casa. posso através de um processo jurídico legal
de constituição de propriedade horizontal.

A qualidade das coisas futuras

A coisa futura é uma coisa que o disponente não pode dispor no momento, mas só no futuro.
Por ex: compras de casas em planta, isso quer dizer que ainda não existe. Eu comprei uma
coisa que ainda só está na planta em papel. Compra-se uma coisa que ainda não tem
existência real. a questão da compra futura é uma realidade que do ponto de vista jurídico
legal é algo que pode ter muito interesse. A compra e venda de coisa futura tem muito
interesse económica.
O tráfego jurídico negocial não pode estar dependente de uma realidade de uma coisa para
puder dar andamento a determinadas atividades negociais, dai a relevância dessas coisas
futuras.

14/03/2022 – Dra. Diana

Caso Prático 1

Em janeiro de 2007, o A proprietário de um pomar de maças vendeu a B toda a produção


que contava obter nesse ano. Porem, perante uma melhor oferta, em junho de 2007 o A
alienou metade daquela produção de maças a C que após proceder à colheita em agosto de
2007 a vendeu a D a quem de imediato entregou as maçãs.
Quem pode invocar a titularidade de direitos reais sob as maçãs?

Resposta:
Neste caso pratico temos desde logo 3 contratos de compra e venda que está regulado no
artigo 874º e seguintes e os efeitos no artigo 879º. O contrato de compra e venda é um
negócio jurídico bilateral, pois existem 2 declarações de vontade contrapostas, mas
harmonizadas entre si. É um contrato perfeito pois faz nascer obrigações para ambas as
partes. É um contrato oneroso, uma das obrigações é a obrigação de pagamento do preço. É
um contrato típico e nominado, que esta expressamente previsto no CC. É um contrato que
quanto aos efeitos assume uma natureza real sendo que a transferência da propriedade
atendendo ao princípio da consensualidade se dá em regra por mero efeito do contrato (408
nº1). Vigora entre nós um sistema de título em que basta a existência de um título válido para
que haja a transferência da propriedade.
Estes contratos têm por objeto a produção de maçãs, sendo que o primeiro contrato tem por
objeto toda a produção de maçãs. Desde logo estamos perante uma coisa em sentido jurídico
(art.202º) coisa é tudo aquilo que pode ser objeto de uma relação jurídica. Nestes contratos,
as maçãs não podem ser consideradas como coisas imóveis, se olharmos para o artigo 204º
nº1 alínea c), no entanto no nosso caso pratico, nos dois primeiros negócios jurídicos (A – B e A
– C), o objeto do contrato não teve em consideração os frutos no seu estado atual, mas no
estado de coisas móveis, em virtude da futura separação. Tratam-se de dois contratos de
compra e venda, têm por objeto coisas futuras, pois as maçãs ainda nem existem. Se olharmos

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para o 212º o CC define fruto de uma coisa, tudo o que ela produz que pode abranger os frutos
civis ou os frutos naturais. Dentro dos frutos podemos utilizar a expressão “frutos a produzir”
quando estão em causa aqueles frutos que podem ser produzidos pela coisa num certo lapso
de tempo e que correspondem a coisas futuras. Este conceito de frutos a produzir distingue-se
dos frutos pendentes, que são aqueles que já foram produzidos pela coisa, mas que ainda não
foram separados desta pelo que nela se integram. Podemos ainda falar dos frutos separados
que são aqueles que já se autonomizaram da coisa, seja por ação humana seja por factos
naturais.
Em primeiro lugar, temos uma coisa em sentido jurídico, temos uma coisa móvel uma vez que
se trata de uma coisa futura.
Temos as maçãs no A-B e no A-C encaradas como coisas futuras (211º) e então estes objetos
nestes negócios não obedece à categoria da atualidade.
Quando o A celebra o contrato de compra e venda de toda a produção que contava obter
naquele ano, este negócio quanto à forma, há total liberdade de forma, não tem qualquer
indício que existe algum problema de ordem substancial. O contrato em si é valido, mas este
objeto do contrato de compra e venda não obedece as características do objeto de direitos
reais, pois é necessário que respeite o princípio da atualidade e da especialidade. Por um lado,
só é objeto de direito real uma coisa que seja atual, por outro lado, também só pode ser
objeto de direito real uma coisa certa determinada e autónoma. Não podem ser constituídos
direitos reais sob coisas genéricas. No nosso caso no primeiro negócio, são coisas futuras, logo
não obedecem a característica da atualidade, e enquanto as maçãs não forem separadas da
arvore, vão sempre ser coisas não autónomas. Isto significa que no primeiro negócio A-B
embora o cotrato fosse valido, como tem por objeto uma coisa futura e enquanto não for
separada da arvore vai ser sempre uma coisa não autónoma, este contrato não irá produzir o
efeito real de transmissão da propriedade, pois estamos perante umas das exceções ao
princípio da consensualidade ficando a transmissão da propriedade dependente de uma das
situações do artigo 408 nº2. Neste caso, o efeito real de propriedade fica dependente da
colheita, ou seja, em janeiro de 2007, o contrato A-B só vai produzir efeitos meramente
obrigacionais (879º), só quando for feita à colheita é que é transmitida a propriedade para B.
Por força do artigo 870º vai recair sob o proprietário, um dever de realizar um conjunto de
diligencias para que se possa dar a transmissão da propriedade em pleno.
No que toca à alienação de B – C, este teria legitimidade para o fazer. Estamos perante um
contrato que tem por objeto a venda de coisa futura, logo não obedece às características do
objeto de direitos reais. Este contrato não produz o efeito real.
No último momento da celebração de compra e venda de C com D, celebra-se este contrato
no momento da colheita das maçãs, neste momento as maçãs já existem, logo temos uma
coisa presente que já existe que esta em poder do alienante. Quando o C celebra este contrato
de compra e venda com D, ele procedeu à colheita das maçãs, logo ele tinha legitimidade para
alienar metade das maçãs a D. este objeto de contrato entre C e D, ou seja, as maçãs, é um
objeto que obedece às características dos direitos reais. Neste caso, o contrato de compra a
venda sob metade das maçãs irá produzir de imediato o efeito real (879º e 408º). Por força
deste contrato, o D tornou-se proprietário de metade da produção de maçãs, sendo que o
proprietário da outra metade será o B. o B celebrou um negócio tendo em conta toda a
produção de maçãs, quando chega a hora da entrega das maçãs, o A não vai estar em
condições da entrega de maças pois fez com que B fosse proprietário de metade, logo o
contrato A-B não vai ser cumprido porque metade da produção das maçãs foram vendidas a B.
Temos aqui uma situação de incumprimento parcial do contrato por parte de A, e, portanto, o
B poderá acionar o A em relação à obrigação de entrega que este não conseguiu cumprir.

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Caso Prático 2

António vende a mobília da sua cozinha a Belmiro. A antena parabólica que tinha sido
colocada no telhado vendeu a Cristina. E vendeu o elevador da sua casa, ao museu local.
Pouco tempo depois, antes de ter desmontado ou entregue qualquer destas coisas, o
António vendeu a casa com todo o recheio ao Hugo.
Para quem se transferiu a propriedade destes objetos?

Resposta:
Estamos perante vários contratos de compra e venda (874º), (879º efeitos).
Este contrato na primeira hipótese, em que António vendeu a mobília a Belmiro, a mobília é
uma coisa (202º) é uma coisa móvel (205º) e esta coisa móvel é considerada uma coisa
acessória de acordo com o artigo 210º do CC sendo uma coisa acessória e móvel vigora a
liberdade de forma e quando o A decide vender a mobília da cozinha o Belmiro, o contrato
produz todos os seus efeitos, obrigação de entrega da coisa e a obrigação do pagamento do
preço.
Em relação à antena parabólica este contrato tem por objeto uma coisa acessória, pois tem
carater removível. Logo deve ser entendida como uma coisa móvel, acessória que em regra as
coisas acessórias não têm de acompanhar a coisa principal, e então se este contrato tem por
objeto esta antena nestes temos, por mero efeito do contrato o C torna-se proprietário da
antena.
Em relação ao elevador, neste caso é uma parte integrante (204 nº1 aliena e) conjugado com
o nº3. O elevador é uma parte integrante e se é uma parte integrante, esta coisa sendo uma
parte integrante não preenche a característica da especialidade do objeto de direitos reais e,
portanto, não vamos ter a produção de efeitos, só existe a produção de efeitos meramente
obrigacionais (408 nº2). A transferência da propriedade quando esta em causa uma parte
integrante só se da no momento da separação.
Quando A decide vender a casa toda, este incide sob uma coisa imóvel (204 nº1 a)) tendo por
objeto uma coisa imóvel desde logo é necessária a observância de forma. Tornando-se o
proprietário da casa o Hugo, por mero efeito do contrato. Mas com a casa ele vendeu todo o
recheio, em relação à mobília da casa e da antena, como a propriedade já se tinha transferido,
quando o A vende a casa com todo o recheio, esta a vender coisa alheia, pois ele já não tinha
legitimidade para os alienar, em relação a estes objetos, temos uma causa de nulidade.
Em relação ao elevador, Hugo fica proprietário do mesmo, pois vai ser transferido como parte
integrante para a esfera jurídica de Hugo pois a parte integrante acompanha a coisa principal.
O museu pode então acionar contratualmente o A por responsabilidade contratual.

15/03/2022 – Dra. Luísa

O conceito de coisa futura é uma ficção legal. A coisa futura é aquela que até pode existir, mas
não esta ao alcance de quem a pode dispor. A coisa futura é aquilo que já esta projetado, mas
não está autonomizado. Por exemplo: alguém que adquire um lote para construir um imóvel e
ele não esta construído no regime da propriedade horizontal

O conceito de fruto e o conceito de benfeitoria

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Fruto é tudo aquilo que a coisa produz com caracter de periodicidade, sendo que o fruto pode
ser natural ou civil, em civil podemos considerar os juros, as rendas. São fortificações do bem
que sem perder a sua natureza, periodicamente produz. A questão dos frutos também é
importante para o direito real de usufruto, pois é possível a aquisição de direito real de frutos.

Quem fala dos frutos fala das benfeitorias, as benfeitorias têm um regime tripartido, podem
ser:
 benfeitorias imprescindíveis, poderão ser benfeitorias que trazem utilidade para a
coisa, ou seja, que aumentam as vantagens,
 as benfeitorias úteis, ex: marquise
 benfeitorias voluptuárias.
Ou seja, temos 3 patamares de benfeitorias.

As benfeitorias têm muito relevo para a posse, o possuidor de boa fé ou má é tratado de forma
diferente quanto às benfeitorias. No caso de estar de boa fé o legislador dá-lhe o benefício de
ser compensado. Quando se está de má fé, nas benfeitorias uteis ou voluptuarias ele não as
pode levantar.

A POSSE

Em termos da regulamentação, o primeiro instituto a ser tratado no livro 3º, é a posse. Só


depois é que vamos encontrar o direito de propriedade...etc.
Os direitos reais de natureza limitada não são hereditários.
O legislador abre o livro 3º com o instituto da posse. A posse é inerente a qualquer direito real.
A posse é um elemento constitutivo inerente ao direito real pois todo o direito real implica um
conteúdo funcional e esse conteúdo que corresponde à fruição é algo que se traduz como uma
atuação de posse. A posse traduz os exercícios de poder de facto que se traduz num direito
real. Posse é o poder que se manifesta quando alguém atua de forma correspondente ao
exercício de um dado direito real.
Isto implica a compreensão de 2 realidades que não se excluem uma à outra, mas que têm
uma lógica diversa.

No caso da posse, podemos pensar por exemplo num casaco, o casaco tem determinada
forma adaptável ao meu corpo, o casaco tem também um forro, o forro não é o casaco, mas
tem a forma do casaco, tem a estrutura do casaco, ajuda a compor as funcionalidades do
casaco, se eu tirar o forro, nota-se que eles têm ambos a mesma forma. O forro é o conteúdo
do casaco.
Com a posse acontece o mesmo, a posse corresponde ao conteúdo do próprio direito real, mas
não se confunde com o direito real, traduz o exercício do poder de facto porque ela estende-se
ate as linhas de fronteira do próprio direito real. A posse corresponde ao conteúdo funcional
que é a riqueza do direito real. este direito que corresponde a poderes de domínio, ou seja,
poderes de fruir, gozar, alienar, onerar, são estes os poderes que estão contidos no domínio.
Estes poderes de gozo são aqueles que correspondem ao exercício da posse, a posse traduz o
exercício de poder de dispor desta forma. É possível de acordo com o princípio da elasticidade

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é possível estender-se um direito real consoante determinados atos que possamos praticar
relativamente a esse direito real, logo a posse também se pode contrair ou estender.

A posse é só uma, a posse pode ser entendida em termos causais ou em termos formais ou em
sentido próprio, quer dizer que a posse em sentido próprio ou em termos formais, é aquela
que na realidade traduz um exercício autónomo e que é autonomamente protegido e que
pode traduzir a aquisição de um direito real. a aquisição originaria é outro fenómeno que nos
implica uma ficção, vemos nascer na esfera jurídica um direito. Através da posse no contexto
de direitos reais podemos ter casos de aquisição de um direito real por via originária e não por
via translativa que é a mais comum.

Por exemplo: A vende a B uma casa, quer dizer que quando declara vender e o B declara
comprar, no ponto de interceção o contrato nasce. A compra e vende de uma casa tem
requisitos de forma, esta vinculação tem de ser feita formalmente para ser válido. Para que
seja válido o negócio tem de ser validado através de escritura publica ou documento particular
autenticado.
Temos um negócio inter vivos que é translativo de o direito real, a posse é algo que é co
natural, significa que em principio ao transferir o direito real também se transfere a posse
correspondente. Portanto, isso significa que esta posse que é parte do direito real, é o seu
substrato interno, é uma posse que chamamos de causal pois tem uma causa, uma razão de
ser neste direito real.
Imaginando que o A vende ao B, mas o A reserva para si o usufruto da casa vitalício.
Neste caso, a posse já não se transmite totalmente, há uma parte que se transmite porque
corresponde ao direito de propriedade transmite ao direito real “magro”, mas há outra parte
que vai ficar associada ao direito de usufruto que o A fica até à sua morte.

Uma posse que estava naturalmente na titularidade do proprietário rapidamente escapa da


mão do proprietário e passa a estra na mão de outrem que não o proprietário. Esta realidade
da posse ligada ao direito real, de uma maneira volátil.
A posse em sentido formal é tratada pelo OJ com muito rigor, de forma muito cuidadosa,
porque essa posse é a que tem virtualidades de vir a permitir a aquisição de um direito real
diferente. Se a posse for tratada de forma autónoma ela representa o modo de conduzir, a
posse sozinha não produz esse efeito, a posse com determinadas características exercida por x
tempo atinge a porta do usucapião pelo qual passa a ser direito real.

21/03/2022 – Dra. Diana

Caso Prático 1

Em janeiro de 2018, o A proprietário de um palacete do século 19, vendeu a B um painel de


azulejos azul e branco com representações de atividades daquela época. Painel que se
encontrava aplicado numa das paredes do salão principal do palacete. O A e B acordaram
que a remoção do painel seria efetuada por uma equipa técnica especializada em finais de
setembro desse mesmo ano. Em fevereiro de 2018, o A que se encontrava em graves
dificultadas financeiras, vendeu o palacete a C por escritura publica, não tendo C procedido
ao registo da aquisição. Em abril de 2018, o A aproveitando-se do facto de continuar a

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figurar no registo como titular inscrito vendeu o palacete a D que estando de boa fé
diligentemente registou a aquisição.
Diga quem é o proprietário do palacete e do painel de azulejos.

Resposta: No primeiro negócio jurídico temos um contrato de compra e venda celebrado


entre o A e o B. Este negócio esta previsto no artigo 874º, os seus efeitos no artigo 879º, é um
negócio jurídico de natureza bilateral, é um contrato perfeito ou sinalagmático, é oneroso, é
um contrato real quanto aos efeitos e este contrato tem por objeto o painel de azulejos, desde
logo é uma coisa nos termos do 202º do CC, e esta coisa denomina-se como uma parte
integrante nos termos do artigo 204º nº1 alínea e) e 204º nº3. O painel foi vendido com vista a
uma futura separação, então podemos considerar que ele foi vendido como coisa móvel
futura. Fica portanto, desde logo obrigado, o A, de acordo com o artigo 980º, a realizar as
diligencias necessárias para que o comprador venha a adquirir o bem vendido. Para que haja a
transferência do efeito real de propriedade é necessário que o objeto seja atual e isto significa
que o objeto tem de existir à data da celebração do contrato ou estar em poder do alienante,
caso contrário não se transmite a propriedade. Só há a transmissão do direito real se a coisa
for certa, autónoma e determinada. Se não obedecer a uma ou a ambas as caraterísticas o
contrato vai só produzir efeitos meramente obrigacionais, ficando a transferência da
propriedade dependente da verificação de uma das situações que estão elencadas no 408º
nº2. Este constitui uma exceção ao princípio da consensualidade, que nos diz que basta um
mero acordo de vontades para que haja a transferência de propriedade.
No nosso caso estava em causa um papel de azulejos que é uma parte integrante que foi tida
em vista da futura celebração, este painel em 2018 continua na parede do palacete ligado à
coisa principal e então podemos considerar que é uma coisa não autónoma, logo não obedece
à caraterística da especialidade e portanto este contrato produz efeitos meramente
obrigacionais, porque a transferência do efeito real foi diferida para o momento da separação
(408º nº2), só quando fosse retirado o painel em setembro é que haveria a transferência da
propriedade para o B. Até lá o A continua a ser o proprietário do painel.
Quanto ao objeto contrato A – C, é o palacete, é uma coisa imóvel (204º nº1 alínea a), esta
coisa imóvel obedece às caraterísticas dos direitos reais, pois é uma coisa presente, é uma
coisa certa autónoma e determinada. Isto significa que, atendendo ao princípio da
consensualidade (408 nº1) este contrato a conjugar com o 879º reúne todas as condições para
a transmissão da propriedade.
Como se trata de um contrato que tem por objeto uma coisa imóvel, tem de obedecer a forma
sob pena de nulidade, este contrato tem de respeitar a forma lega, é necessário que seja
celebrado por escritura publica ou documento particular autenticado, no caso é-nos dito que
foi celebrado por escritura publica, logo não há qualquer vicio formal. Sendo um contrato
validamente celebrado o C torna-se proprietário do palacete por mero efeito do contrato.
O facto de ele não ter registado não afeta a aquisição do direito de propriedade. O B apesar de
não ter registado a sua aquisição e embora se trate de um facto sujeito a registo, este registo
não afeta à partida o seu direito de propriedade, porque a regra do nosso ordenamento
jurídico, é a do registo só tem efeito consolidativo, só vem reforçar um direito que se adquiriu
por via negocial.
Entre A e D existe a venda de coisa alheia decorre da falta de legitimidade da parte de A pois o
A já não é o proprietário, o C é que seria. Se é uma venda de coisa alheia o negócio é nulo nos
termos 220º do CC, não produz os efeitos volitivos finais, pois quem continua a ser o
proprietário é C. Mas o comprador de boa fé adquire um direito de oponibilidade relativa, que
é um direito adquirido por força da lei.
Excecionalmente o registo pode ter um efeito aquisitivo, nós estamos perante a relação típica
triangular, temos uma dupla alienação sob o mesmo bem feita por autor comum que vai
transmitir direitos incompatíveis entre si, o C tem o direito de propriedade adquirido por força

20
do contrato de compra e venda e o D adquiriu o direito de oponibilidade relativa por força do
892º.
É o artigo 5º nº4 que poderá vir a transformar o direito de oponibilidade de D num direito
absoluto.
É necessário que a segunda aquisição de D tenha sida feita a título oneroso, e é necessário que
D esteja de boa fé.
O registo terá então um efeito aquisitivo, permitindo que D adquira um direito de propriedade
em desconformidade com as regras do direito substantivo porque ele vai adquirir por força de
um negócio jurídico invalido, ele vai fazer prevalecer o seu direito em relação a C.
O C que é em regra sendo proprietário teria o poder de sequela, de seguir a coisa, esta tem
uma exceção que é o artigo 5º nº4, ele tem o ónus de registar, não o fazendo pode perder a
coisa, e perde o direito de proprietário.
Em relação ao D ele é o proprietário de tudo, em relação ao B em setembro de 2018, o D não
esta obrigado a entregar nada ao B, já não é viável retirar o painel de azulejos, logo B poderá
intentar uma ação de responsabilidade contratual, o B poderá acionar o A por este ter
impossibilitado culposamente o cumprimento do contrato.
Em conclusão o D é proprietário de tudo e B pode acionar o A e pedir uma indemnização.

Caso Prático 2

Em 2014 Alexandra celebrou um contrato com Diogo nos termos do qual este poderia colher
metade de todas as maçãs que viessem a nascer no terreno daquela até ao ano de 2024. Em
janeiro de 2020 Alexandra vendeu esse mesmo prédio a Catarina que não permite agora que
Diogo recolha as maçãs. Diogo consulta-a para saber se a nova proprietária terá razão.
Que resposta daria a Diogo?

22/03/2022 – Dra. Luísa


A posse corresponde a um determinado conteúdo funcional de poderes. Esta posse tanto pode
existir como uma espécie de projeção de um direito real e por isso vive enquanto tal à sombra
desse direito real. Essa posse também pode ter uma existência autonomizada de um direito
real. A posse pode ser de facto uma posse sem estar ligada a um direito real, ela pode aspirar a
um direito real, mas ela ainda não deu aso à constituição desse direito real que ela aspira. A
posse enquanto tal, não prescinde de dois elementos constitutivos: o elemento material ou
corpóreo e o elemento subjetivista. A posse enquanto instituto, a posse autónoma, esta posse
é uma posse que resulta da combinação destes dois elementos. Um não vive sem o outro no
contexto da posse.
Do ponto de vista doutrinal encontram-se várias posições, dizendo que o legislador consagrou
a posição objetivista da posse, enquanto outros dizem que foi a subjetivista da posse.
Ambos não prescindem da corelação entre a prática de atos materiais e a intenção, a intenção
está lá intrínseca na prática dos atos materiais.
Em termos práticos, o nosso legislador consagrou uma perspetiva que de todos os modos, o
legislador consagrou determinada tutela a fenómenos que não encontramos posse. Por ex: o
depositário.
São situações em que objetivamente o legislador por uma questão de segurança jurídica
estende proteção possessória.

A distinção entre possuidor e detentor é relevante porque a posse considerada


autonomamente, é um status que não sendo um direito real em sentido próprio é um status

21
que pode conduzir à aquisição de um direito real, mas para isso é preciso que o sujeito seja
possuidor pois caso não seja nunca representa que esteja a atuar enquanto titular de um
direito real. a distinção entre detentor e possuidor é fundamental, porque a primeira nunca da
lugar a possibilidade aquisitiva que o legislador traz consigo.

Artigo 1253º

No artigo 1253º temos vários casos, o primeiro permite perceber que há um elemento
intencional que tem de estar na posse, e as outras duas alíneas têm a ver com situações
distintas de pura tolerância.
Aqueles que agem em representação do verdadeiro possuidor, estes também são possuidores
em nome de outrem, ou seja, são detentores. Este artigo é fundamental para esclarecer
quaisquer dúvidas relativamente à distinção entre detentor e perfeito possuidor, só o
possuidor é que no exercício de uma posse poderá alcançar um determinado direito real.
Um estádio de possuidor exercido durante um período de tempo e com determinadas
características é um estádio que pode alcançar a titularidade do direito real corresponde,
aquele que o agente se representa na sua mente. Isso corresponde a um estádio de posse que
o direito protege.
Um estádio possessório pode relativamente a um direito real pode representar-se num
determinado momento como posse causal, na medida em que tem como subjacente um
determinado direito real mas essa posse pode mover-se, sair desse enquadramento e na
realidade representar uma espécie de contra direito relativamente ao direito real de onde ela
acaba por provir encaminhado-se assim nesta qualidade de “contra direito” para a criação de
um novo direito, porque a posse é aquela que se encaminha para a constituição de um direito
real que corresponda a essa posse. A posse na sua trajetória pode advir de uma espécie de
contradição ou de atuação contraria ao próprio direito de onde emerge e representar a
semente da aquisição de um direito real correspondente.

A posse é uma mera projeção, não tem autonomia pois aquilo que prevalece é o direito real à
sombra do qual ela existe.
Em termos jurídicos por uma questão de defesa da posse, o legislador tem uma solução
relativamente à necessidade de ainda se permitir ao possuidor que é dono, ir no encalço de
recuperar a sua posse que lhe foi retirada, o legislador estabelece que ainda quando a posse é
desapossada, há um período da posse do desapossado e da posse do que desapossou.
O que acontece aqui é que quando há desapossamento, as duas posses, ainda coexistem no
tempo durante 1 ano que é o que permite ao possuidor originário ainda se arrogar o estatuto
de possuidor e exigir a recondução da coisa à sua posse.
Na verdade, é fundamental que não se perca de vista que a posse é uma coisa e o direito real é
outra.

Estamos a falar de posse, não estamos a falar de direito real de propriedade.


A posse seja não só à sombra do direito real, mas também pode ser uma continua força de
subversão e contestação do próprio direito real. a posse pode vir em determinadas situações
pode vir subverter o direito real, pode vir a dar originem à aquisição de um determinado
direito real correspondente à projeção que o possuidor faça dela.
A posse é suscetível de ser separada do direito real.

22
Estamos a falar da mesma posse? A posse que resulta do B que furtou a bicicleta é a mesma
posse? A posse corresponde a um estádio de facto que está ligado à situação concreta ligada
pelo agente. este fenómeno sucessório só se coloca no domínio dos direitos reais. A posse
corresponde a uma determinada estrutura, mas a posse exercida pelo dono da bicicleta não é
a posse que foi na mão do individuo que furtou a bicicleta, este desapossou o titular do direito
de propriedade, mas desapossou criando a sua própria posse, portanto não é uma única posse
por isso é que o regime nos permite falar de coexistência de posses.
Eu não posso ter sob a mesma bicicleta dois direitos de propriedade individuais porque são
incompatíveis entre si.

A posse enquanto estádio tem uma enorme proteção e esta proteção advém do facto do
legislador partir de um pressuposto, de uma forma limiar, o legislador parte do pressuposto de
que a posse é um bem no presento e um sinal de um direito futuro. A posse efetivamente
protege uma titularidade que se evidencia e que, portanto, há de consolidar-se, e também
porque na realidade ela traduz o sinal de que no futuro através dela vai surgir em sentido
próprio, um verdadeiro direito real.
A posse pode fundar situações de grande conveniência na vida prática: a posse pode ser objeto
de sucessão, pode alguém que morre, ao morrer a morte tem efeitos jurídicos e, portanto, os
sucessíveis são chamados à sucessão do falecido logo sucedem nas relações jurídicas que ele
deixa pendentes.
A posse pode efetivamente implicar a sua continuidade na pessoa dos sucessores do falecido.
Ela não desaparece com a morte do possuidor, aqueles que lhe sucedem podem beneficiar-se
dessa mesma posse.

Por exemplo: alguém a quem morre o pai que era lavrador e que era alguém que semeava e
colhia em determinados terrenos, este senhor falece, e ele já cultivava há mais de 20 anos,
estes terrenos não são propriedade daquele que faleceu, ele era um puro possuidor desses
terrenos, quem lhe suceder vai também suceder nesta posse exercida pelo falecido, isto pode
ser importante porque se a posse precisa de uma determinada dimensão temporal para dar
aso à constituição do direito real correspondente, então o tempo de posse decorrido antes de
ele o assumir.

A sucessão é um fenómeno importante por causa do fator tempo.

Um outro fenómeno paralelo a este, que é o fenómeno da acessão da posse, que esta previsto
no 1256º.

Distinção entre sucessão e acessão

A sucessão tem sempre a ver com uma sucessão mortis causa. Tem sempre a ver com o fator
morte. Já a acessão também implica some da posse, a acessão, é também um fenómeno
equivalente, mas não para o caso de morte, mas sim para o caso de por exemplo: negócio inter
vivos, quando isto acontece e que se implique um direito real, a posse deste direito real pode
ser somada à posse do atual titular. Por ex: eu compro um imóvel com um terreno, quem me
vende a casa diz-me “que há um direito de passagem tanto pelo terreno ali a cima e portanto,
nós passamos ali para aí há 30 anos, por isso este prédio beneficie desta passagem embora
não haja nada a dizê-lo”.

23
Se porventura eu que adquiri o imóvel for confrontada por uma atuação do dono desse
terreno a impedir-me de passar, eu tenho proteção possessória, tenho a meu favor o
fenómeno possessório quando eu adquiri aquele prédio, ao praticar atos sob esse prédio eu
adquiro posse sob esse prédio.
A minha posse que é agora atual, após a transmissão, então eu posso somar a minha posse à
posse de quem me vendeu, e assim cumprir o requisito temporal e reclamar uma determinada
proteção para essa posse.
Aquele que possui tem de manter com carater de regularidade a chamada atuação
correspondente à posse. Aquele que possui é aquele que pratica atos de posse.

O que é preciso para adquirir posse?

A posse pode ser adquirida sob forma originária, por exemplo o desapossamento, este
representa a prática repetida e que se espera como os atos materiais com vista ao exercício do
direito. A aquisição originaria da posse advém pela prática repetida. A posse adquire-se por
ato próprio, eu posso adquirir a posse por transmissão, mas também a posso adquirir por ato
próprio.
O fenómeno da perda da posse que pode ser por desapossamento ou por qualquer uma das
situações do artigo 1267º.

28/03/2022 – Dra. Diana

Em 2014 Alexandra celebrou um contrato com Diogo nos termos do qual este poderia colher
metade de todas as maçãs que viessem a nascer no terreno daquela até ao ano de 2024. Em
janeiro de 2020 Alexandra vendeu esse mesmo prédio a Catarina que não permite agora que
Diogo recolha as maçãs. Diogo consulta-a para saber se a nova proprietária terá razão.
Que resposta daria a Diogo?

Resolução:
Temos aqui um conflito entre o direito da Catarina, que é um direito de propriedade, a
alienação do terreno a Catarina foi formalmente válida. Temos que qualificar qualquer um dos
direitos para perceber qual irá prevalecer.
A catarina tem um direito de propriedade que é um direito real, de gozo. Quanto ao Diogo,
não temos aqui a constituição de um direito real, porque os direitos reais obedecem ao
princípio da taxatividade. Ao direito de Diogo de colher as maçãs não configura um direito real
nem sob metade de todas as maças que viessem a nascer, muito menos sob o terreno quando
o terreno ainda pertencia a Alexandra. O direito de Diogo é um direito de natureza
obrigacional, há 2 caminhos a seguir, por um lado poderíamos invocar que as partes tiveram
intenção de atribuir eficácia real ao direito de Diogo, nomeadamente, para assegurar que esse
direito se pudesse manter perante um direito real constituído posteriormente. Por outro lado,
as partes, não tiveram intenção de constituir um direito real, apenas pretendiam que na esfera
jurídica de Diogo se constituísse um direito de crédito. Esta segunda solução é resolvida muito
simplesmente.
Atendendo à característica da prevalência dos direitos reais que está relacionada com a
eficácia absoluta destes direitos, no confronto do direito de crédito de Diogo e o direito de
propriedade de Catarina, prevalece o direito da Catarina.

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Se dissessem que a Alexandra e o Diogo tinham intenção de lhe atribuir um direito real,
contudo, o problema é o princípio da taxatividade. Temos aqui então uma solução da tentativa
de criação de um direito real, fora nos casos previstos na lei, em que o legislador determina
que toda a restrição aos direitos reais que não esteja prevista na lei, terá natureza meramente
obrigacional. O legislador vem facilitar o caminho e permite a conversão do negócio jurídico
em deterimento da nulidade, para salvaguardar uma eventual vontade das partes que esta
subjacente ao negócio, invés de considerar o negocio nulo pela violação do principio da
taxatividade, o legislador admite a validade deste negócio atribuido-lhe eficácia obrigacional.
O Diogo por este caminho, teria apenas um direito de crédito, o que significa o direito a colher
as maçãs apenas vigoraria enquanto Alexandra fosse proprietária do terreno.
O Diogo pode exigir uma obrigação por incumprimento contratual, caso estejam preenchidos
os requisitos da responsabilidade civil.

Distinção entre posse e detenção

Considere as seguintes hipóteses, analisando para cada uma delas, se estamos perante posse
ou detenção:
1. O A celebra com B um contrato de compra e venda que tem por objeto um imóvel com
o objetivo de ocultar a propriedade dos seus credores. Em concordância com B, este
passa de imediato a habitar o imóvel.
2. O A celebra com B um contrato de compra e venda que tem por objeto um
apartamento, o contrato foi celebrado por documento particular e o B passou de
imediato a habitar o imóvel.
3. A celebra com B um contrato de compra e venda de um automóvel sob coação moral a
quem o entregou de imediato.
4. A celebra com B um contrato de compra e venda de um imovem em virtude de coação
física, de seguida B arrenda o imóvel a C que desconhecia o que se passara.

 Na primeira hipótese, temos um contrato de compra e venda que tem por objeto um
imóvel, temos simulação absoluta, ou seja, é um negócio nulo. Sendo nulo, o B não se
torna proprietário. para efeitos possessórios, para que haja posse de acordo com a
conceção objetivista é necessário a verificação cumulativa de 2 requisitos: por um
lado, o corpos, que é o elemento material ou objetivo que se traduz no poder de facto
sob a coisa. É necessário também o animus possidendi que é elemento subjetivo que
se traduz na vontade ou intenção de exercer o poder de facto
(COMPLETAR – FOTO)
 Na segunda hipótese, este contrato é nulo devido ao vicio de forma, para efeitos
possessórios, o B tornou-se possuidor pois ele tem o poder de facto soba coisa, e alem
de ter o poder de facto ele tem a intenção de agir como se fosse o titular do direito
real em causa, nomeadamente o direito de propriedade. O vicio formal vai afetar as
características dessa posse. Se se olhar para o artigo 1259º este vem nos dizer o que é
a posse titulada.
 Na terceira hipótese, para efeitos possessórios o B em virtude da celebração do
contrato torna-se possuidor pois tem o poder de facto sob o automóvel e tem
intenção de atuar como se fosse o titular do direito de propriedade. A coação não
retira a posse, terá apenas implicações a novel de características da posse
nomeadamente o artigo 1261º nº1.

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 Na quarta hipótese, o C é mero detentor, tem apenas o poder de facto sob o
apartamento.

29.03.2022
Detentor exerce atos materiais sobre a coisa mas atue sem intenção de se apropriar da coisa em
termos reais, o espírito de atuação no sentido de ser titular de um status.
Detenção por aposição á posse, a detenção não dá lugar á posse a não ser que tenha havido
inversão do titulo.
A inversão do titulo é enquadrável numa temática para compreensão da posse, que é a do modo
de aquisição da posse. Art 1253 indica situações em que pode acontecer situações em que age
por permissão do titular do direito real = tolerância ou porque está a exercer atos materiais em
algo que está na posse de outrem. O arrendatário pode tomar arrendamento de alguém que não é
proprietário, dar de arrendamento é ato de administração ordinário por conseguinte o
usufrutuário pode dar de arrendamento.
O arrendatário é ao abrigo do contrato de arrendamento é detentor da coisa, frui a coisa corpórea
sem intenção de agrura qualquer direito real sobre ela.

Corpus de atuação elemento objetivo a diferença nasce no elemento psicológico o possuidor


atua com atos materiais convencido que é o titular, o detentor pratica atos materiais sem que se
esteja a assumir como titular do direito real sobre essa coisa.
Criação de um momento em que se deixa de ser detentora mas sim possuidor pratico atos
corpóreas animada na detenção em tornar titular do direito real, havendo neste caso inversão do
titulo.

A posse escapa das mãos - Dr. Orlando Carvalho tinha firmação seria a posse pode até ser
contra direito ao mesmo tempo que traz consigo a semente de um novo direito, por ex.: caso do
aluno da UNI com bicicleta parada à porta da uni é dono da bicicleta tem direito real de
propriedade sobre a bicicleta, mas um dia vê que a bicicleta foi furtada -> ponto de vista realista
ele é o proprietário da bicicleta mas é possuidor da bicicleta? Ainda é porque o legislador em
caso deste género por causa da proteção da posse inicial cria aqui uma ficção em que durante
um prazo do 1 ano as duas posses mantém-se de modo a permitir que o 1o consiga a restituição
da sua posse. A posse é uma espécie de antítese do direito, eles visa actuar contratual
contrariamente ao direito real e ela própria em si mesma vai caminhar no sentido em vir dar
lugar ao nascimento de um novo direito real sobre a bicicleta, a posse em muitas situações
representa uma atuação de crise contrario ao próprio direito e contem em si a semente para a
criação de um novo direito real. A posse é entidade complexa do ponto de vista jurídica, posse
formal que não realidade é protegida pelo legislador.

Como é que a posse se adquire?

Divide-se em 2 modalidade:

1. Derivada -> art 1263 al.B) vende vem a alguém ao vender essa outra pessoa passa a ser

proprietário e possuidor mas acordam que o vendedor ainda permanece com direito de
usar a

coisa durante determinado tempo transmitente pratica atos corpóreos.

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2. Originária > o direito que adquire-se nasce na esfera jurídica sem intervenção de
ninguém.

Esta aquisição pode-se dar em relação à posse, a posse pode ter genética originária, ora
é importante o art 1263 al.)a)/c) / d) (não é exaustivo as modalidade de aquisição da
posse não são as únicas à mais) temos 4 hipóteses de aquisição da posse.

4 Caracteres para aquisição de um direito real


A.Posse titulada - fundada num qualquer modo legitimo de adquirir.

Posse não titulada - baseado num modo de adquirir que não é legitimo, por ex.: furto.

B.Posse de boa fé Posse de má fé

C.Posse pública Posse oculta

D.Posse pacífica Posse violenta

Artigos 1258 e ss há duas razoes:


1o estes caracteres A e B se definem no momento da aquisição da posse e são permanentes que
se geneticamente se mostram no seu inicio e predominam pelo tempo de exercício da posse, a
posse implica a a manutenção da pratica repetida de atuação. Esses caracteres são caracteres que
no modo que se manifestam perduram dizemos nós que são caracteres instáveis uma posse pode
começar por ser oculta e a dada altura passa a ser publica, assim como uma posse pode ser
violenta adquirida com violência e dada altura passa a ser uma posse pacifica. Estes caracteres
C e D combinam com o A e B mas não têm carácter de permanência dos primeiros e tem:
2o implicação fundamental está especificada na lei mas que rapidamente compreende-se art
1297 toda a posse que seja violenta ou oculta ou as duas coisas é uma posse que não conta para
a aquisição do direito por usucapião este artigo é fundamental por traz 2a nota dos caracteres em
que

se existem numa posse impedem a posse de fazer percurso temporal em ordem do usucapião, o
possuidor à posse é possuidor mas como é oculta ou violenta ou as ambas é penalizada de essa
posse poder chegar através de usucapião a aquisição do direito.

Caractere A art1259 CCn.o1 “adquirir o direito em concreto” o legislador à posse e a posse


adquire- se pela pratica reiterada de atos, pela tradição material da coisa, inversão do títulos,
nestas classificações á pressuposto que à posse, o que vamos discutir é se ela posse tem titulo.
São duas questões diferentes o pressuposto é de que há posse mas agora estamos a caracterizar.

A posse até pode ter titulo se fundar num modo legítimo de adquirir o direito e por ex.: se se
tiver na base modos legitimo a verdade é que a aquisição da posse não depende do direito do
transmitente, pode haver venda de um objeto e a correspondente entrega do objeto, o direito real
sobre o objeto transferiu-se mas pode acontecer que quem vendeu possa não ter direito de a
vender, ainda assim transmitiu posso porque entregou a coisa, apesar de o negocio não ter o
direito para transmitir, mesmo que este contrato não transmita o direito real a posse foi
transmitia e é titulada. Contrato de compra e venda é meio idónea para transmitir um direito
real.

Independente da validade substancia do negocio o vendedor induzir o comprador em erro quer


dizer que o contrato é invalido por causa de vicio da vontade, logo o contrato é anulável, se a

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coisa foi entregue houve transmissão e há posse, em abstracto baseia-se num modo legitimo de
adquirir um direito o contrato que esteve na origem disto tudo é inválido por anulabilidade mas
a posso se transmite posse há, tem titulo é independente da validade de transmissão de um
direito real. O legislador deu importância á problemática da invalidade formal doutrinalmente
devemos questionar.
Esta norma art 1259 diz nos n.o2 que se resume de titulo putativo é aquele titulo que só existe
na cabeça do agente, o titulo não se presume o titulo tem de ser quando se invoca a posse para
efeito de aquisição do direito real por usucapião tem de ser provado por aquele que o invoca.
Se a posse do possuidor tiver titulo o legislador presume que ele está de boa fé, não tem que
alegar e provar a boa fé, porque o ter titula alinha com a boa fé, vantagem resolve logo dois
caracteres, ao contrario se não tiver titulo o legislador presume a má fé, a não titulação alinha
com a má fé. Isto está no art 1260 necessário entender divergência do regime no caso de
presunção de boa fé esta presunção é relativa, ou seja, é ilidível mediante prova em contrário, no
caso de essa posse ter titulo pode contra alegar que o agente não está de boa fé mas aqui há
problema de presunção. O ónus da prova passa a ser daquele que invoca em contrario. Se
porventura não há titulo e o agente presume- se de má fé tem o ónus de ter trabalho de alegação
e prova para demonstrar que afinal está de boa fé.
Art1260 n.o3 aqui o caso muda de figura esta má fé não admite prova do contrário, é uma
presunção absoluta, pode ter titulo mas como foi adquirida com violência a presunção de boa fé
cai e fica a presunção de má fé e essa ele não consegue ilidir só consegue contrariar se a
violência cessar.
Posse publica ou oculta não são analisados em abstrato, a publicidade tem caracter especial no
exercício da posse, não é necessário o conhecimento de todas as pessoas, só do diretos
implicados, no caso desta posse contrair intenções de outrem interessados. No conceito de
publicidade é que não obstante o megafone a mensagem chegue aqueles que teriam o direito de
contestar, contra invocar outro tipo de titularidade.
Art1297 a posse oculta está em ponto morte não conta para efeitos de aquisição do direito por
usucapião.
Relativamente questão do conceito de violência é posse adquirida sobre coação seja física art
1261.

19/04/2022 – Dra. Luísa

Isto prende-se com o significado da posse em sentido formal. A aquisição por via de usucapião
coloca-se quando a posse se reveste por uma determinada autonomia. Os carateres da posse
mais o fator tempo, dão lugar à possibilidade de aquisição do direito real através da figura do
usucapião. O usucapião é o resultado de uma equação: posse + fator tempo = pode dar lugar a
aquisição do direito real.

A posse depende do fator tempo em 2 componentes distintas, a posse para conduzir ao


usucapião tem de apresentar determinados carateres e eles têm de estar numa espécie de
jogo entre eles. Eles alinham 2 a 2. Se houver título há boa fé presumida, por exemplo. O
tempo é estabelecido pelo legislador para cada tipo de coisa, se forem coisas imóveis um
tempo é um, se forem coisas móveis o tempo é outro.
Se houver título, e boa, e pacificidade e publicidade, o tempo é mais curto.
O fator tempo nominalmente, é esse que resulta do jogo entre os carateres. Esse tempo
depois traduz-se noutro tempo em concreto porque esse tempo na análise concreta da
situação não é linear.
Eu posso estar perante uma situação em que a decorrência do prazo está perante suspensões.

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A contagem do prazo depende da situação em concreto e dos fatores de interrupção quer do
decurso quer do termo na contagem do prazo. O fator tempo na posse, tem duas
componentes, primeiro o fator tempo que resulta da lógica das regras que estão nos artigos
1293º e ss, temos de ver no jogo dos quatro carateres, ver qual é o tempo necessário em
abstrato para poder adquirir por usucapiao relativamente àquele bem. Para chegarmos ao
momento de aquisição por usucapião temos de considerar toda a circunstancia se o decurso
desse prazo é continuo ou não.
O fator tempo é considerado em dois patamares distintos. Esta norma do 1292º que nos
remete para a prescrição é importante pois permite-nos chegar a conclusão sobre qual é o
momento da possibilidade de aquisição de um direito real por via de usucapião.

Caso Prático

Em 2005 através de um negócio simulado que ocultava um depósito, B adquiriu de A, um


anel valioso que constituía uma herança de família. Em 2007, A exigiu a B a devolução do
anel, mas este recusou, alegando que o anel era seu e que se A recorresse aos tribunais, ele
B destruiria o anel. Em 2009, A veio a falecer e dias depois, B doou o anel a C tendo, contudo,
acordado, que B continuaria a usar o anel. Em 2010, surge D a reivindicar judicialmente o
anel a C, com base nos seguintes factos: o de ser herdeiro universal de A e ainda que à data
da morte de A, ele ter 15 anos de idade.

Resposta:
 Formas de aquisição da posse
 Carateres da posse
 Quem poderá ter ganho de causa.

Em 2005 B adquiriu de A um anel valioso de família, A é possuidor e B é detentor, porque o


contrato que ele quis fazer foi um deposito, B nunca seria possuidor pois este não é um
negócio que lhe confira posse. A posse transfere-se por atos materiais ou simbólicos, mas isso
não implica no caso, transmissão da coisa na qualidade de posse porque ele não se assumiu
como possuidor sendo que é um mero detentor.
Em 2007, o A exigiu-lhe o anel, contudo o B diz-lhe que o anel é seu, e que caso este colocasse
alguma ação judicial contar ele, ele estragaria o anel, o B inverte o título aqui, porque o A vem
exigir-lhe o anel que é dele e ele diz que o anel é seu, ele está a inverter o título de forma
explícita. Ele inverte o título deixa de ser detentor e passa a ser possuidor. Quanto ao facto da
ameaça de destruir o anel, temos aqui uma situação de coação, com a inversão do título é
preciso qualificar esta posse dele.
Esta posse apresenta os seguintes carateres: é uma posse não titulada presumida de má fé
pela presunção do nº1 e nº2 do 1260º, é uma posse violenta pois é conseguida por via de
coação (1261º), será pública em princípio pois ele continuou a usar o anel.
Em 2009, o A vem a falecer, e dias depois o B doou o anel a C convencionando-se que
continuaria a usá-lo, nesta situação, temos um contrato translativo que implica que se
transmitiu a propriedade como diz o legislador, que haver titulo ou não, é algo que não
depende da validade substancial do negocio, o que ele quis foi doar ao C, ou seja, para efeitos
de transmissão, o C adquiriu a posse na circunstancia do constituto possessório. Ele
efetivamente torna-se possuidor poe esta via, pois quem continua a deter o anel é o B.
Em boa verdade, aqui o C, de boa fé presumindo-se, ele adquire a posse e a posse dele
caracteriza-se como uma posse titulada, presumida de boa fé, pública e pacifica, isto é

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importante porque temos um D a aparecer a reivindicar do C o anel, dizendo que o anel é seu.
Para vermos se o C tem hipótese de ser defendido temos de fazer uma avalização do fator
tempo, segundo os artigos 1293º e ss, temos de ver qual é o prazo que é em abstrato para que
o C possa adquirir por usucapiao, o anel é uma coisa móvel não sujeita a registo (1299º). Em
abstrato o C precisa de 3 anos para adquirir por usucapião o anel.
Relativamente ao D que instaurou uma ação contra o C, dizendo que é proprietário e os
argumentos são: que é o único herdeiro do falecido A e também invoca que à data da morte
de A tinha 15 anos. Neste caso temos de aplicar as regras da prescrição. A prescrição significa o
percurso do tempo que não para, só pode ser afetada por fenómenos de interrupção ou
suspensão. A interrupção e suspensão têm regimes diferentes.
As normas dos artigo 318º a 322º são muito importantes na contagens destes prazos, há
circunstancias concretas que podem determinar que a contagem tem de seguir determinadas
regras.
O nosso C adquiria por usucapião em 12, em teoria. Vamos agora ver se seria assim.
O D diz que sendo filho de A e tendo este falecido passaria a ser o dono do anel, logo em 2009
ele passa a ter o direito de propriedade sob o anel, mas ele tinha 15 anos, o tempo para o C
estará a correr ou não? Não.
A lei diz-nos a propósito da suspensão a favor de menores, segundo o artigo 320º, o legislador
pretende proteger o menor de qualquer representante legal que não olhe pelos seus
interesses, tem mais um ano, chamamos nós a isto, a suspensão do termo, pois este acaba por
ser arrastado mais um ano.
Pode colocar-se a suspensão do curso, aí há duas situações a considerar: há a situação do
menor ter ou não ter representante legal, se ele tiver, de facto o prazo corre, não se suspende.
Só há suspensão se ele não tiver representante legal. Mas se ele tiver representante legal, o
prazo vai contando.

Fazendo o cálculo para o caso de ele não ter representante legal: em 2009 tornou-se
proprietário do anel, mas ele tinha 15 anos, não tendo representante legal, nesse caso contra
ele vai suspender-se até ele fazer 18 anos + 1 (segundo o artigo 320º). Se ele em 2009 tinha 15
anos, ele para fazer 18 tem de ter mais 3 anos, só em 2012 é que deixa de ser incapaz, logo o
prazo de C para adquirir por usucapião, até 2012 os 3 anos que ele precisa estão parados. Em
2012 o menor tem mais um ano de benefício, ou seja, só a partir de 2013 é que começa a
contar o prazo para o C, logo o C só pode adquirir por usucapião no caso do menor não ter
representante legal, só o pode fazer em 2016.

Fazendo o cálculo para o caso de ele ter representante legal: neste caso está a correr prazo,
não há suspensão do curso, vai haver uma suspensão do termo. Em 2012 ele faz 18 anos, mas
como é um problema de maioridade, o legislador dá o benefício de mais um ano, e o prazo de
3 anos de C passa a 4, logo só em 2013 é que ele pode adquirir por usucapião.

21/04/2022 – Dra. Diana (reposição)

Teste – sai até à contagem dos prazos.

Caso Prático

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Em novembro de 2000, A proprietário de um relógio de ouro vendeu-o a B a quem o
entregou de imediato. Porem tal venda teve apenas como objetivo afastar o referido relógio
do alcance dos credores de A, não tendo ambos menor intenção em celebrar o negócio. Em
novembro de 2001 o C aproveitou um momento de distração de B e furtou-lhe o referido
relógio. Em novembro de 2002, C sob coação moral doou o referido relógio a D a quem o
entregou de imediato. Em novembro de 2003, D vendeu verbalmente o relógio a E, sabendo
da situação de coação moral de D se mantem, caracterizando as posições possessórias diga
quem e quando poderá adquirir direitos reais sob o relógio por usucapião.

Resposta: O caso remete-nos para a matéria da posse que esta regulada nos artigos 1251º e ss
do código civil, a posse que é um direito real de gozo com natureza provisória. Só pode existir
posse em relação a direitos reais de gozo e que tenham por objeto coisas corpóreas, é o caso
do nosso caso prático pois está em causa saber quem vai adquirir o direito real de propriedade
e o objeto deste direito é o relógio que é uma coisa móvel.
Para que exista posse, à luz da nossa ordem jurídica, conjugando o artigo 1251 e 1253º é
necessário o preenchimento do requisito objetivo (corpus) e que se traduz no poder de facto
que se tem sob a coisa e alem desse poder de facto é necessário o requisito subjetivo que é a
vontade de atuar como se fosse o titular do direito correspondente (animus).
Para saber-se quem poderá adquirir por usucapião, é nos dito que o A era proprietário do
relógio, o negócio A – B é um contrato de compra e venda e este teve como único objetivo
afastar o relógio dos credores de A, estamos aqui perante uma simulação absoluta, não há
intenção em celebrar qualquer negócio, esta tem como consequência a nulidade, este negócio
não produz qualquer tipo de efeito volitivo final, sendo que esta está regulada no artigo 240º
do CC. Para efeitos da posse a simulação absoluta, neste caso para estes efeitos, a simulação
absoluta é um vicio substancial que não permite a constituição da posse porque fata um dos
requisitos que são cumulativos, falta o requisito do animus pois o B embora tenha o poder de
facto sob o objeto não tem a intenção de agir como se fosse o proprietário do relógio. O B
torna-se apenas mero detentor (1253º alínea a)).
Seguidamente, o C aproveitando um momento de distração de B furtou-lhe o relógio, sendo
que C torna-se então, possuidor porque passa a exercer o poder de facto sob o relógio e tem
também a intenção de agir como se fosse proprietário do relógio (animus). Há então posse em
relação a C. Trata-se de uma aquisição originaria da posse que é o esbulho que se trata da
privação total ou parcial da posse de um objeto por ato de outrem, é uma aquisição originaria
pois até agora o único que tinha a posse era o A, o C não tinha qualquer posse. Não se trata de
uma posse violenta pois o furto não implica violência, só o roubo. Esta posse é pacifica, mas
dentro das características da posse, esta posse é uma posse não titulada pois o furto não é um
modo legitimo de adquirir direitos reais sendo uma posse não titulada, presume-se de má fé
(1259º, 1260º).
Em relação ao negócio C – D temos então uma doação, mas que acontece só porque o D
exerceu coação moral sob C. o relógio foi entregue de imediato a D. O D torna-se possuidor
porque passa a ter o poder de facto sob o relógio (corpus) e alem disso tem a intenção de agir
como se fosse o titular do direito real correspondente (animus).
Esta posse é uma posse titulada, a doação é um modo legitimo de transmitir direitos reais
nomeadamente o direito de propriedade, é uma doação que tem por objeto uma coisa móvel
neste caso existe ou a entrega da coisa ou a celebração por documento particular. Aqui houve
a entrega da coisa.
A coação moral no artigo 1260º nº3 conjugado com o 1261º, o 1261º quando nos fala da posse
pacifica ou violenta no nº2 diz-nos que a posse adquirida por coação física ou moral é
considerada uma posse violenta e então presume-se sempre de má fé. O D é então possuidor
titulado, mas é possuidor de má fé.
É uma aquisição derivada por tradição real explicita (art.1263º alínea b)).

31
Por fim, relativamente ao contrato entre D – E, o E torna-se possuidor pois ele teve intenção
de atuar como se fosse proprietário da coisa, há o poder de facto sob a coisa e há também o
animus, como se trata de um contrato de compra e venda que tem por objeto um bem móvel,
há liberdade de forma, assim não fica afetado o título, trata-se de uma posse titulada. é uma
posse titulada então presume-se de boa fé, não havendo também aqui qualquer indicação,
podemos presumir que se trata de uma posse pública e pacífica e é uma posse derivada por
tradição. Isto significa que o E é o último da cadeia de todos os negócios, que é o possuidor de
boa fé que estaria apto a adquirir por usucapião. A usucapião que é o efeito principal da posse
e que está regulado no artigo 1287º e ss do CC, neste caso enquanto existir coação moral o
prazo de usucapião no pode começar a correr (1297º). Contudo, nos estamos perante uma
situação especial em que a coisa possuída passou para E que estava de boa fé antes de ter
cessado a violência e que a título excecional pode beneficiar de um regime favorável. De
acordo com o 1300 nº2 (coisas móveis) há a possibilidade que não obstante a situação de
violência, poder-se adquirir direitos reais se se estiver de boa fé no prazo de 4 anos desde a
constituição da posse ou no caso de 7 se a posse não for titulada. Este artigo permite que o
nosso E como estava de boa fé e tinha uma posse titulada, excecionalmente possa adquirir a
propriedade sob o relógio por via de usucapião passados 4 anos desde a constituição da sua
posse. A partir de novembro de 2007 ele pode convocar a usucapião para adquirir o relógio.

Caso Prático 2

Em janeiro de 1975, o Gustavo vendeu a Hugo um prédio rustico por documento particular
pretendendo ambos ocultar um comodato. Em janeiro de 1977 o Hugo arrendou o prédio a
Ivone. Em janeiro de 1979, o Hugo doou o prédio a Ivone por escritura pública. Em janeiro de
1981 a Ivone vendeu o prédio a João por escritura pública sabendo que o Gustavo faleceu
em 1991 e que lhe sucedeu Luísa nascida a 31 de outubro de 1981 com representante legal,
diga caracterizando as posições possessórias, quem e quando poderá adquirir por usucapião
direitos reais sob o imóvel.

Resposta: Na primeira situação o Gustavo vendeu a Hugo o prédio rústico por documento
particular e pretenderam ocultar um comodato, o G era o proprietário do imóvel, o grande
problema deste contrato é do ponto de vista substancial, temos aqui uma simulação relativa
regulada nos artigos 240º e ss, o negócio simulado é o contrato de compra e venda, este é
sempre nulo, o negócio dissimulado é o contrato de comodato, estamos perante uma
simulação relativa pois existe também existe um dissimulado que é o comodato. O negócio
dissimulado tem de ser analisado de forma autonoma.
O contrato de comodato é um contrato que tem natureza meramente obrigacional e a
simulação relativa não vai permitir a constituição da posse quando falte um dos requisitos para
a sua constituição, no nosso caso embora o Hugo até possa ter o poder de facto sob o imóvel,
mas como pretendia celebrar um contrato de comodato ele não tem o animus, falta ao Hugo a
intenção de exercer esse poder de facto como se fosse o titular desse direito real, nesse caso o
Hugo é um mero detentor ou possuidor precário (1253 alínea a)).
Entretanto, em 1977 o Hugo arrendou o prédio a Ivone, ao celebrar este contrato de
arrendamento o Hugo ele está a agir como se fosse o possuidor, estamos perante a inversão
do título da posse, é uma aquisição momentânea apenas para poder transmitir a posse. Em
relação ao Hugo esta posse, é uma posse não titulada, pois a inversão de título de posse não é
um modo legitimo para adquirir um direito real, sendo uma posse não titulada é uma posse

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que se presume de má fé, presume-se uma posse publica e pacifica. Esta posse vale apenas
para que ele possa transmitir a posse ou alguma coisa à Ivone.
A Ivone por força deste contrato de arrendamento, este contrato tem natureza meramente
obrigacional, logo temos uma situação de mera detenção atua apenas como detentora
precária porque só tem o poder de facto sob o imóvel, não tem a vontade de atuar como
proprietária pois o contrato de arrendamento é um contrato de natureza meramente
obrigacional.
Em 1979, o Hugo celebra a doação por escritura publica, o Hugo torna-se também possuidor
por inversão do título de posse, em relação à Ivone quando celebra o contrato de doação a
Ivone torna-se possuidor, pois tem o poder de facto e se ela aceitou a doação logo ela tem
intenção de agir como se fosse a titular do prédio, logo ela tem o animus. A Ivone era mera
detentora, mas pelo acordo com o Hugo ela torna-se possuidora. Esta posse de Ivone é uma
posse titulada, pois está cumprida a forma, logo é um modo legitimo de aquisição de direitos
reais. Sendo uma posse titulada, é também uma posse que se presume de boa fé, é uma posse
formal pois a posse de Ivone não é acompanhada da titularidade do respetivo direito. É uma
posse que se presume de boa fé, é também uma posse publica e pacifica nada sido dito em
contrário.
E sendo Ivone possuidora, ela vende o prédio ao João em 1981 por escritura pública, o João
torna-se possuidor, pois este tem a intenção de atuar como se fosse o titular do direito de
propriedade. Alem disso, esse contrato de compra e venda como foi celebrado por escritura
publica não sofre de nenhum vicio formal, logo é uma posse titulada, temos uma posse que
sendo titulada se presume de boa fé.
Sendo o João o último da cadeia de negócios, ele esta então em condições de poder adquirir
por usucapião, (1987º) este é o principal efeito da posse.
Há uma posse que é titulada, posse de boa fé, logo a contagem dos prazos pode-se iniciar, não
há qualquer indício sobre o registo. Numa situação normal em que temos por objeto um
imóvel, e se está de boa fé, numa situação normal o prazo normal seria de 15 anos, sendo o
bem imóvel. (1296º). Este diz-nos que se a posse for de boa fé a aquisição pode ocorrer ao
final de 15 anos.
Logo o João 15 anos depois poderia adquirir por usucapião. Janeiro de 1981 + 15 anos = 1996
poderia adquirir por usucapião.
Mas temos aqui um problema, entretanto o Gustavo que era o proprietário faleceu em 1991,
e, deixou Luísa que era a sua sucessora, isto vai levar a que haja a suspensão do termo da
contagem do prazo do usucapião, impede esse acontecimento que o prazo se complete
(1292º) – (320º), nesta situação o prazo fica condicionado à verificação desse termo.
Neste caso é necessário que Luísa atinja a maioridade, ou seja a contagem de usucapião só
poderá acontecer após 1 ano a contar da data em que a Luísa atingiu a maioridade, dá-se a
oportunidade de Luísa reivindicar a propriedade, se ela não o fizer, o João esta em condições
de arguir a usucapião.
A 31 de outubro de 2000 João estaria em condições de poder invocar a usucapião.

10/05/2022 – Dra. Luísa – 2ª frequência

Análise dos direitos reais em sentido próprio enquanto direitos reais de gozo – em termos de
direito das coisas, tratam-se de direitos reais de gozo.

O legislador não dá uma definição de direito de propriedade, este adotou o artigo 1305º para
se limitar a definir o conteúdo do direito de propriedade.
O direito de propriedade é absoluto, quem é titular de um direito destes, estes têm um direito
absoluto sob a coisa, por definição é absoluto para sempre salvos os casos expressos na lei.
Essas limitações não são só de natureza privada, a expropriação e a requisição são duas
33
grandes limitações pois por via da expropriação, há uma declaração de utilidade publica que se
impõe ao meu direito de propriedade e que me impõe a abrir mão da coisa.
A expropriação é definitiva e a requisição é temporária.

No caso das alienações de prédios rústicos de área inferior à da unidade de cultura daquela
zona, o vizinho tem direito de preferência na compra.

17/05/2022 – Dra. Luísa

Direito de propriedade

O legislador dá uma noção dizendo que o proprietário é alguém que tem um poder absoluto
sobre aquilo que é seu. O proprietário é aquele que dispõe ou onera dentro dos limites
estabelecidos por lei. O direito de propriedade não comporta outro tipo de limitações ao
conteúdo sem serem aquelas que o legislador prevê. A natureza real implica algo que
acompanha a própria coisa independentemente do seu titular e não traduz eficácia erga
omnes. As limitações constituídas por exemplo por contrato são válidas, mas apenas têm
natureza obrigacional.
O direito de propriedade é aquele que esta sempre na sombra de qualquer outro direito real.
há sempre um proprietário. Na sombra de qualquer direito real menor há sempre um direito
de propriedade de alguém.
O direito de propriedade pode ser protegido de várias formas – a ação de reivindicação é um
meio próprio e absoluto para a proteção de um direito de propriedade, mas é preciso ter em
atenção de que há outras formas para proteger sem ser com a ação de reivindicação, mas há
outras como por exemplo: a proteção do proprietário e da sua propriedade por via de tutela
cautelar, há variadas providencias cautelares suscetíveis de proteger a propriedade. Por
exemplo: uma providencia cautelar comum instaurada para a proteção de qualquer forma de
direito de propriedade. Estas modalidades permitem a proteção da propriedade, mas não são
reivindicantes, mas são formas indiretas de proteger o titular do direito sob a coisa.

Limitações ao direito de propriedade

Temos as limitações de natureza pública e limitações privatística.

A propriedade traz consigo muita conflitualidade. O legislador estabelece regras de


convivência entre proprietários, ou seja, há limitações de natureza legal no que diz respeito ao
exercício de poderes de proprietário. No que toca aos bens imoveis, esses limites são aqueles
que vêm nos artigos 1344º e ss do CC, o que esta no código é a estrutura básica das limitações.
A primeira nota que nos orienta em quaisquer das limitações, quer se trate de um prédio
rustico ou uma edificação, o legislador estabelece como critério regra relativamente aos
poderes funcionais de propriedade, quer se trate de um prédio urbano ou rustico, os poderes
de propriedade estendem-se pelo subsolo, solo e espaço aéreo. O proprietário é senhor
absoluto do solo, subsolo e espaço aéreo dentro de uma linha vertical imaginaria. Sendo certo

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que ainda dentro das áreas que fazem parte do conteúdo funcional do proprietário, podem
haver limitações, mas têm de estar devidamente documentadas. De qualquer modo mesmo
numa situação vulgar relativamente ao exercício dos poderes de propriedade sob aquilo que é
seu, há uma serie de limitações concretas que o legislador descrimina. Por exemplo no artigo
1346º - este artigo engloba situações de fumos...

Análise do artigo 1346º

A propósito desta norma (1346º) o legislador fala que o proprietário de um imóvel pode opor-
se à emissão de fumos, ruídos... provenientes de prédio vizinho, a jurisprudência tem
entendido que este tipo de emissões pode ser proveniente de um prédio não confinante
embora esteja nas imediações, ou seja, um prédio vizinho. Quando se fala de prédio vizinho
pode ser um prédio na rua paralela.
Este artigo prevê duas situações distintas: há violação do direito de propriedade por emissão
deste tipo de factos quer no caso de tais factos implicarem um prejuízo sério para o prédio que
se queixa e esse é um fundamento, mas isto é limitado porque esse prejuízo sério para esse
prédio, tem de ser um prejuízo que afete o uso desse mesmo prédio.
Esta norma contempla também que independentemente do prejuízo para o uso do prédio que
se queixa pode ser fundamento de invocação quando os factos emitidos pelo prédio vizinho
não advenham da utilização normal do prédio de onde advêm. Estas limitações têm 2
hipóteses distintas, elas jogam em campos diferentes, uma hipótese tem a ver com o prédio
prejudicado e a outra hipótese tem a ver com o prédio que prejudica.

Análise do artigo 1347º

Este artigo fala das instalações prejudiciais. Essas instalações prejudiciais podem ter um efeito
direto num prédio que é objeto da titularidade do direito real. o legislador dividiu isto em 2
normas para depois concluir pela questão da responsabilização.
O legislador vem dizer que primeiro a regra geral, qualquer proprietário não pode edificar nem
manter no seu prédio, obras ou instalações ou guardar substâncias perigosas se for de recear
que possam ter sob o prédio vizinho efeitos lesivos, tem de ser um receio objetivável. O
legislador diz que situações como estas são situações que podem ser impedidas à luz do nº1
do artigo 1347º, se houver algum tipo de dano há responsabilidade indemnizatória por esse
mesmo dano, essa responsabilidade é uma responsabilidade objetiva, ou seja, não depende de
culpa.
Há uma segunda hipótese, o facto de uma atividade estar legalizada não é condição
inabalável, ou seja, o que esta neste artigo 1347º sobrepõe-se à própria legalização, isto está
confirmado no nº2. Não obstante da legalização se ocorrer algum dano, o proprietário vizinho
tem o direito a exigir a sua retirada ou inutilização além de acrescer a responsabilidade civil. O
prédio no que diz respeito ao artigo 1347º esta sempre sujeito a estas limitações. Este tipo de
limitação também é bastante frequente na nossa vida pratica.

1348º - Limitação relativamente a escavações.

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23/05/2022 – Dra. Diana

Questão teórico-prática
O direito de propriedade define-se pelo direito pelo qual se confere ao respetivo titular em
exclusivo a totalidade das faculdades de aproveitamento de determinada coisa corpórea ou
animal para fins privados.
A partir desta afirmação indique e explicite as características do direito de propriedade.

Resposta: O direito de propriedade tem 4 características essenciais: o cariz ilimitado ou


indeterminação; a exclusividade; a elasticidade e o tendencial caracter perpétuo. O cariz
ilimitado está relacionado com o facto de se encontrar na esfera jurídica do proprietário um
conjunto ilimitado de faculdades de uso, fruição e disposição que este pode exercer dentro
dos limites da autonomia privada. Ao proprietário são permitidas todas as formas possíveis de
exercer as faculdades reais. Quanto à característica da exclusividade, decorre do facto de o
proprietário puder exercer as suas faculdades sobre a coisa em exclusão de todos os outros
sujeitos, portanto, sob a mesma coisa só pode existir um direito de propriedade. Quanto à
elasticidade, por força desta característica, é possível onerar o direito de propriedade por
direitos reais menores sob a mesma coisa, sem que isso determine a extinção do direito de
propriedade. A propriedade vê as suas faculdades comprimidas na medida do necessário ao
exercício de outro direito, mas extinguindo-se o direito real menor, a propriedade vai voltar a
adquirir a plenitude das suas faculdades.
Durante muito tempo, o direito de propriedade era visto como um direito perpétuo porque
por regra não estava sujeito à prescrição, caducidade ou extinção por não uso. No entanto,
atualmente, porque a lei no artigo 1307º admite a propriedade temporária, é hoje entendido
apenas como um direito tendencionalmente perpétuo.

Caso Prático 1

Afonso, é proprietário de um prédio urbano que mandou construir em 2012. Em junho de


2017, o Rafael passou a habitar como proprietário a moradia vizinha e desde então que tem
convidado os seus familiares para conhecer a sua casa, motivo que o leva a fazer grandes
sardinhadas preparadas no grelhador instalado no jardim. Afonso, que é uma pessoa muita
sossegada e detesta o cheiro da sardinha assada pretende que Rafael apenas realize estas
festas no mês de setembro quando ele se encontrar de férias. Rafael por sua vez, argumenta
que como proprietário pode dar as festas que quiser.
Quem tem razão nesta disputa?
A sua solução seria idêntica caso Rafael tivesse construído uma chaminé que dirigisse os fumos
diretamente para o prédio de Afonso?

Resolução:

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24/05/2022 – Dra. Luísa (INCOMPLETA)

A ruína de construção – 1350º

Nos termos do 1344º o proprietário, se houver uma ruína dentro do seu prédio, mas que não
ameace os prédios vizinhos ela pode prevalecer lá. Este artigo só se aplica quando essa ruína
ameaça a propriedade dos outros. Só quando interfira com terceiros é que pode implicar
responsabilização.

O escoamento natural das águas 1365º

Trata-se essencialmente de água só que há um contexto de água diferente, o artigo 1351º tem
a ver com uma lógica de que por força da gravidade a água flui dos pontos mais altos para os
pontos mais baixos, o legislador estabeleceu que sem que seja provocado pelo homem a água
tem uma tendência de escoar naturalmente de um plano superior para um plano inferior. Esta
norma não se aplica só a prédios adjacentes, mas também podem ser aplicados a prédios que
estejam na vizinhança. O curso natural das águas sejam elas quais foram que têm tendência
pender de um plano superior para um plano inferior têm de puder seguir esse curso. Os
prédios inferiores têm de aguentar com a queda natural das águas e com aquilo que as águas
trouxerem consigo.
Isto funciona como uma limitação ao direito de proprietário, nem o proprietário do prédio
inferior pode impedir esse escoamento natural, nem o proprietário do prédio superior pode
tornar mais difícil esse tipo de escoamento. Não pode haver nem agravamento nem
impedimento por parte dos respetivos proprietários.

Outra coisa diferente é o estilicídio – estes fenómenos acontecem gota a gota por exemplo:
os ar condicionados. O legislador preocupa-se com isto e depois não é só o incómodo, é que se
nada se fizer relativamente a esse gotejamento, aquele de cujo prédio que esta a provir esse
gotejamento pode ter um direito relativamente a esse estilicídio.

Quanto aos muros

Há muros que são de sustentação de terras e há outros que são apenas divisores.
No caso dos sustentadores de terras, este tipo de murros se houver título que defina de quem
é muito bem, se não houver título a presunção que se estabelece é que o muro é pertencente
das terras que este sustenta.
Relativamente aos muros de divisão, estes muros o legislador até lhes chama muros de
meação, porque quanto a estes também há uma presunção de que estes muros são detidos
em regime de contitularidade por ambos os prédios, e então, presume que há contitularidade
pela metade, metade é do prédio A e metade é do prédio B.
O código regula algumas situações relativamente à construção.

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(FALTA AULA DIA 30/05/2022)

31/05/2022 – Dra. Luísa

Co propriedade enquanto modalidade do direito de propriedade

A copropriedade traduz-se numa variante do direito de propriedade. A copropriedade tem a


ver com um direito de propriedade que é titulado por mais de uma cabeça. Isto traduz uma
ficção legal, é o legislador a ficcionar que sob determinada coisa é exercido um poder de
domínio que é de mais que uma pessoa. A verdade é que no que diz respeito à copropriedade
há doutrina que afirma entender que a natureza jurídica desta implica um fecho de direito
reais sob a mesma coisa, cada um dos cotitulares é titular de um direito real e outra parte da
doutrina diz que considerando que há um único direito real exercido sob a mesma coisa
titulado sobre mais que uma titularidade.
Mesmo numa situação de copropriedade, esta está sujeita ao mesmo tipo de limitações legais
que está o direito de propriedade normal. O facto de se tratar de copropriedade não altera o
seu status jurídico.
Pelo facto de se tratar de contitularidade há um problema de que é preciso atender à
formação de vontade, o legislador tem de ficcionar como é que a vontade se forma.

Aqui internamente coloca-se a questão de administrar a coisa e em que termos – vamos


verificar que o legislador traz para aqui as regras da administração nas sociedades civis, isto
posto vamos desenvolver a questão do regime da copropriedade.

Regime da copropriedade

O regime jurídico da copropriedade interfere com o regime jurídico da execução. No caso da


copropriedade nenhum dos contitulares pode arrogar-se ter partes especificada da coisa
comum. Aquilo que cada um detem é uma quota ideal, isto é, aquilo que compete a cada um
dos contitulares. O regime da copropriedade utilizado em situações em que a copropriedade
resulta da lei.
Se por exemplo duas pessoas casadas em separação de bens estas podem comprar algo em
copropriedade e nesse caso é obrigatório especificar os bens sujeitos a registo e qual a quota
ideal de cada um.
Os poderes que o contitular mais pequeno pode exercer sob a coisa são os mesmos que o
contitular mais forte pode exercer, esta contitularidade definida através de quota ideal tem
estas características.
Não se falando dos poderes de oneração e disposição, porque nesses casos é diferente, aí é
preciso formar uma vontade para que esses atos sejam praticados.
O nº2 do 1403º significa o referido acima.
O facto de haver contitularidade traz algumas complicações, o legislador consagrou um direito
de preferência expresso a favor dos contitulares, no caso de alienação da quota, o contitular
terá que dar preferência nessa alienação aos seus compartes. Mesmo que ele queira alienar a

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externo, os compartes vêm primeiro (1409º). Esta consignação desta preferência legal é uma
imposição, há sempre exercício de preferência e de ação de preferência, se a preferência não
for atribuída o lesado pode instaurar em tribunal a ação e fazer o depósito do preço se não a
ação não avança.

No que diz respeito aos contratos, há circunstâncias verificadas as quais é admissível que haja
uma alteração e então uma das partes pode desvincular-se, o legislador estabeleceu
relativamente à copropriedade que nestes casos, este estabeleceu que ninguém é obrigado a
permanecer na indivisão, quem esta numa relação de copropriedade tem o direito a exigir a
divisão e a sair da relação de copropriedade. Para se satisfazer toda a gente, é possível
estabelecer uma clausula de indivisão temporária.
Esta clausula pode ser feita no prazo máximo de 5 anos podendo ser feita a renovação. Trata-
se de uma possibilidade para amenizar o princípio de que ninguém é obrigado a permanecer
na indivisão. - Artigo 1412º e 1413º

Quanto à questão da formação da vontade para a administração do bem – o legislador


estabeleceu a aplicação das regras que são aplicadas às sociedades civis (1407º). A vontade
forma-se em assembleia e essa mesma vontade obedece à regra da maioria. Mas o legislador
diz que isto não chega, nos casos da copropriedade para que a vontade se forme, tem de haver
uma dupla maioria, tem de ser maioria por cabeça nos termos do 985º nº4 e também maioria
do capital investido.
Para que a deliberação passe é preciso ter mais do que 50%.

Propriedade Horizontal

Este regime da copropriedade está presente também num outro direito real que é o direito de
propriedade horizontal – este não tem um significado literal porque eu posso ter direito de
propriedade horizontal em altura, e também em verdadeiramente horizontal.
A propriedade horizontal verifica-se na maioria dos casos verifica-se em construção em altura,
mas também existe em construções na linha horizontal que é o caso do artigo 1438º. É o caso
das casas geminadas – elas aproveitam entre si estruturas comuns.
No contexto de um plano de urbanização pode-se ter num determinado lote propriedade
horizontal e noutro já não se tem.
Esta figura da propriedade horizontal tem muito interesse em termos económicos e por isso
toda a gente é afetado por este regime.
Enquanto construção do legislador a propriedade horizontal simboliza uma simbiose entre
propriedade tradicional e copropriedade. Copropriedade esta com características muito
particulares.
O que define a propriedade horizontal? Tem a ver com a existência de frações autónomas
entre si de um determinado prédio, estas frações que estando a constituir esse prédio, sendo
elas também prédios considerados imoveis desde que pertençam a titulares diferentes e
tenham em cada uma delas uma saída direta para uma parte comum do prédio ou para a via
pública.

O regime jurídico da propriedade horizontal reflete que os dois direitos são incindíveis, ou seja,
não é possível ao dono da fração autónoma pretender fazer negócio sob a fração separando a
fração das partes comuns, está impedido nos termos da lei de separar um direito do outro.

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Não é possível também ao proprietário pretender alienar o seu direito de propriedade sob a
estrutura como forma de se eximir ao pagamento das despesas de manutenção.
Estabeleceu o legislador que apesar de haver uma relação de copropriedade não é admissível
o direito de preferência entre os titulares das ações (1423º)

Isto da propriedade horizontal traduz esta combinação entre os dois direitos: o da propriedade
tradicional e o da copropriedade.
Por facilidade de disposição convencionou-se que em relação a propriedade vertical é toda
aquela que não foi contruída em propriedade horizontal.
Se a propriedade vertical tiver condições para se tornar em propriedade horizontal isso pode
acontecer.
A propriedade horizontal depende sempre de um título constitutivo, ela tem de ser objeto de
um documento onde ela é constituída e explicada ate ao último pormenor, identifica o prédio,
o valor de cada fração, o capital... etc
O título executivo tem de estar registado, tem de ser levado ao registo predial.

Direito das Coisas – 2ª frequência


10/05/2022 – Dra. Luísa – 2ª frequência

Análise dos direitos reais em sentido próprio enquanto direitos reais de gozo – em termos de
direito das coisas, tratam-se de direitos reais de gozo.

O legislador não dá uma definição de direito de propriedade, este adotou o artigo 1305º para
se limitar a definir o conteúdo do direito de propriedade.
O direito de propriedade é absoluto, quem é titular de um direito destes, estes têm um direito
absoluto sob a coisa, por definição é absoluto para sempre salvos os casos expressos na lei.
Essas limitações não são só de natureza privada, a expropriação e a requisição são duas
grandes limitações pois por via da expropriação, há uma declaração de utilidade publica que se
impõe ao meu direito de propriedade e que me impõe a abrir mão da coisa.
A expropriação é definitiva e a requisição é temporária.

No caso das alienações de prédios rústicos de área inferior à da unidade de cultura daquela
zona, o vizinho tem direito de preferência na compra.

17/05/2022 – Dra. Luísa


Direito de propriedade
O legislador dá uma noção dizendo que o proprietário é alguém que tem um poder absoluto
sobre aquilo que é seu. O proprietário é aquele que dispõe ou onera dentro dos limites
estabelecidos por lei. O direito de propriedade não comporta outro tipo de limitações ao
conteúdo sem serem aquelas que o legislador prevê. A natureza real implica algo que
acompanha a própria coisa independentemente do seu titular e não traduz eficácia erga
omnes. As limitações constituídas por exemplo por contrato são válidas, mas apenas têm
natureza obrigacional.

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O direito de propriedade é aquele que esta sempre na sombra de qualquer outro direito real.
há sempre um proprietário. Na sombra de qualquer direito real menor há sempre um direito
de propriedade de alguém.
O direito de propriedade pode ser protegido de várias formas – a ação de reivindicação é um
meio próprio e absoluto para a proteção de um direito de propriedade, mas é preciso ter em
atenção de que há outras formas para proteger sem ser com a ação de reivindicação, mas há
outras como por exemplo: a proteção do proprietário e da sua propriedade por via de tutela
cautelar, há variadas providencias cautelares suscetíveis de proteger a propriedade. Por
exemplo: uma providencia cautelar comum instaurada para a proteção de qualquer forma de
direito de propriedade. Estas modalidades permitem a proteção da propriedade, mas não são
reivindicantes, mas são formas indiretas de proteger o titular do direito sob a coisa.

Limitações ao direito de propriedade


Temos as limitações de natureza pública e limitações privatística.

A propriedade traz consigo muita conflitualidade. O legislador estabelece regras de


convivência entre proprietários, ou seja, há limitações de natureza legal no que diz respeito ao
exercício de poderes de proprietário. No que toca aos bens imoveis, esses limites são aqueles
que vêm nos artigos 1344º e ss do CC, o que esta no código é a estrutura básica das limitações.
A primeira nota que nos orienta em quaisquer das limitações, quer se trate de um prédio
rustico ou uma edificação, o legislador estabelece como critério regra relativamente aos
poderes funcionais de propriedade, quer se trate de um prédio urbano ou rustico, os poderes
de propriedade estendem-se pelo subsolo, solo e espaço aéreo. O proprietário é senhor
absoluto do solo, subsolo e espaço aéreo dentro de uma linha vertical imaginaria. Sendo certo
que ainda dentro das áreas que fazem parte do conteúdo funcional do proprietário, podem
haver limitações, mas têm de estar devidamente documentadas. De qualquer modo mesmo
numa situação vulgar relativamente ao exercício dos poderes de propriedade sob aquilo que é
seu, há uma serie de limitações concretas que o legislador descrimina. Por exemplo no artigo
1346º - este artigo engloba situações de fumos...

Análise do artigo 1346º


A propósito desta norma (1346º) o legislador fala que o proprietário de um imóvel pode opor-
se à emissão de fumos, ruídos... provenientes de prédio vizinho, a jurisprudência tem
entendido que este tipo de emissões pode ser proveniente de um prédio não confinante
embora esteja nas imediações, ou seja, um prédio vizinho. Quando se fala de prédio vizinho
pode ser um prédio na rua paralela.
Este artigo prevê duas situações distintas: há violação do direito de propriedade por emissão
deste tipo de factos quer no caso de tais factos implicarem um prejuízo sério para o prédio que
se queixa e esse é um fundamento, mas isto é limitado porque esse prejuízo sério para esse
prédio, tem de ser um prejuízo que afete o uso desse mesmo prédio.
Esta norma contempla também que independentemente do prejuízo para o uso do prédio que
se queixa pode ser fundamento de invocação quando os factos emitidos pelo prédio vizinho
não advenham da utilização normal do prédio de onde advêm. Estas limitações têm 2
hipóteses distintas, elas jogam em campos diferentes, uma hipótese tem a ver com o prédio
prejudicado e a outra hipótese tem a ver com o prédio que prejudica.

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Análise do artigo 1347º
Este artigo fala das instalações prejudiciais. Essas instalações prejudiciais podem ter um efeito
direto num prédio que é objeto da titularidade do direito real. o legislador dividiu isto em 2
normas para depois concluir pela questão da responsabilização.
O legislador vem dizer que primeiro a regra geral, qualquer proprietário não pode edificar nem
manter no seu prédio, obras ou instalações ou guardar substâncias perigosas se for de recear
que possam ter sob o prédio vizinho efeitos lesivos, tem de ser um receio objetivável. O
legislador diz que situações como estas são situações que podem ser impedidas à luz do nº1
do artigo 1347º, se houver algum tipo de dano há responsabilidade indemnizatória por esse
mesmo dano, essa responsabilidade é uma responsabilidade objetiva, ou seja, não depende de
culpa.
Há uma segunda hipótese, o facto de uma atividade estar legalizada não é condição
inabalável, ou seja, o que esta neste artigo 1347º sobrepõe-se à própria legalização, isto está
confirmado no nº2. Não obstante da legalização se ocorrer algum dano, o proprietário vizinho
tem o direito a exigir a sua retirada ou inutilização além de acrescer a responsabilidade civil. O
prédio no que diz respeito ao artigo 1347º esta sempre sujeito a estas limitações. Este tipo de
limitação também é bastante frequente na nossa vida pratica.

1348º - Limitação relativamente a escavações.

23/05/2022 – Dra. Diana

Questão teórico-prática
O direito de propriedade define-se pelo direito pelo qual se confere ao respetivo titular em
exclusivo a totalidade das faculdades de aproveitamento de determinada coisa corpórea ou
animal para fins privados.
A partir desta afirmação indique e explicite as características do direito de propriedade.

Resposta: O direito de propriedade tem 4 características essenciais: o cariz ilimitado ou


indeterminação; a exclusividade; a elasticidade e o tendencial caracter perpétuo. O cariz
ilimitado está relacionado com o facto de se encontrar na esfera jurídica do proprietário um
conjunto ilimitado de faculdades de uso, fruição e disposição que este pode exercer dentro
dos limites da autonomia privada. Ao proprietário são permitidas todas as formas possíveis de
exercer as faculdades reais. Quanto à característica da exclusividade, decorre do facto de o
proprietário puder exercer as suas faculdades sobre a coisa em exclusão de todos os outros
sujeitos, portanto, sob a mesma coisa só pode existir um direito de propriedade. Quanto à
elasticidade, por força desta característica, é possível onerar o direito de propriedade por
direitos reais menores sob a mesma coisa, sem que isso determine a extinção do direito de
propriedade. A propriedade vê as suas faculdades comprimidas na medida do necessário ao
exercício de outro direito, mas extinguindo-se o direito real menor, a propriedade vai voltar a
adquirir a plenitude das suas faculdades.
Durante muito tempo, o direito de propriedade era visto como um direito perpétuo porque
por regra não estava sujeito à prescrição, caducidade ou extinção por não uso. No entanto,
atualmente, porque a lei no artigo 1307º admite a propriedade temporária, é hoje entendido
apenas como um direito tendencionalmente perpétuo.

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Caso Prático 1
Afonso, é proprietário de um prédio urbano que mandou construir em 2012. Em junho de
2017, o Rafael passou a habitar como proprietário a moradia vizinha e desde então que tem
convidado os seus familiares para conhecer a sua casa, motivo que o leva a fazer grandes
sardinhadas preparadas no grelhador instalado no jardim. Afonso, que é uma pessoa muita
sossegada e detesta o cheiro da sardinha assada pretende que Rafael apenas realize estas
festas no mês de setembro quando ele se encontrar de férias. Rafael por sua vez, argumenta
que como proprietário pode dar as festas que quiser.
Quem tem razão nesta disputa?
A sua solução seria idêntica caso Rafael tivesse construído uma chaminé que dirigisse os fumos
diretamente para o prédio de Afonso?

Resolução:
A propriedade embora seja o mais amplo dos direitos reais conhece algumas limitações
impostas pelo legislador (1305º) em especial estas limitações têm como finalidade evitar
conflitos de vizinhos. Uma dessas limitações está prevista no artigo 1346º nos termos do qual
o proprietário está impedido de emitir cheiros ou elementos de carácter incorpóreo ou
corpóreo que possam provocar um prejuízo substancial para o uso do imóvel vizinho ou que
não resultem da utilização normal do prédio. São requisitos que parecem ser alternativos.
Posto isto, o Afonso pode impedir a utilização do prédio de Rafael se provar que uma destas
duas circunstâncias se verifica. Contudo, parece-nos que no caso prático face as circunstâncias
do mesmo, será difícil provar que estão preenchidos os requisitos do 1346º, por um lado, não
se pode afirmar que convidar familiares para uma sardinhada ainda que todos os fins de
semana seja uma utilização anormal de um prédio destinado a habitação. Também se requere
que esta análise da utilização normal do prédio seja aferida objetivamente atendendo aos fins
que foram atribuídos a esse prédio. Por outro lado, ainda que o Afonso deteste o cheiro de
sardinha isso não é motivo suficiente para afirmar que a emissão dos fumos implica um
prejuízo substancial para o seu prédio. O artigo 1346º nomeadamente a verificação dos seus
requisitos pressupõe que se faça uma análise objetiva do uso do imóvel e só poderia dar tal
condição como verificada se o imóvel de Afonso por causa dos cheiros se tornasse inabitável
independentemente da situação particular do seu proprietário. Portanto não interessa que o
Afonso não goste do cheiro da sardinha, o que interessa é que a emissão dos cheiros do prédio
de Rafael seja suficiente e atentatória da utilização do imóvel para fins habitacionais.

A sua solução seria idêntica caso Rafael tivesse construído uma chaminé que dirigisse os
fumos diretamente para o prédio de Afonso?
Aqui não se pode aplicar o 1346º porque a restrição do direito de propriedade pressupõe que
as emissões atinjam o prédio vizinho naturalmente, mas há aqui uma interferência por parte
humana que colide com o direito de propriedade de Afonso e que nos leva a falar de uma das
características do direito de propriedade, sendo este um direito absoluto há um dever geral de
abstenção que onera todos os sujeitos colocados perante este direito real. confrontado com
esta agressão Afonso poderia intentar uma ação de modo a obter o reconhecimento da
inexistência de um qualquer direito que legitime a atuação de Rafael e a condenação deste
quer a eliminar a situação material que criou nomeadamente destruindo a chaminé quer
também ser condenado a não praticar qualquer outro ato lesivo do seu direito de propriedade.
Nesta ação o Afonso terá de provar o seu direito de propriedade que o poderá fazer de

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diversas formas nomeadamente recorrendo à presunção oferecida pelo registo (artigo 7º do
CRPredial) quer provando a aquisição originaria do seu direito de propriedade.

Caso Prático 2
O Vítor é proprietário de um prédio urbano situado na Lourinhã, agora que está reformado
tem-se dedicado ao estudo dos dinossauros da península ibérica e está convencido de que há
um esqueleto de um dinossauro no seu quintal, decidindo iniciar escavações para comprovar a
sua hipótese. Alem disso, deu início às obras de edificação de um pequeno museu no qual
planeia instalar o esqueleto para que possa ser dedicado a toda a população. Acontece que
Sandra, proprietária do prédio vizinho receia que o entusiasmo de Vítor venha a provocar
danos na estrutura da sua moradia, além disso, foi também contactada por Vítor no sentido de
a informar de que este colocará alguns andaimes no prédio dela para a construção do museu.
Sandra procura o melhor conselho para saber se pode impedir o vizinho de concretizar as suas
intenções.

Que lhe responderia?


O Vítor sendo proprietário do prédio está legitimado para realizar as escavações (1305º +
1344º) porém o seu direito de propriedade está restringido para tutela das edificações
vizinhas. De acordo com o artigo 1348º o proprietário tem a faculdade de fazer no seu prédio
escavações, mas não o pode fazer de modo a que prive os prédios vizinhos do apoio necessário
para evitar qualquer deslocação de terra. Isto quer dizer, que o Vítor terá de tomar todas as
medidas necessárias para evitar qualquer risco que possa afetar o prédio de Sandra. Mesmo
que tome todas essas medidas, ainda assim o Vítor será responsável por qualquer dano que se
venha a concretizar sob a moradia de Sandra (1348ºnº2). Por outro lado, podemos dizer que
como Sandra estava receosa que se verificasse algum dano na sua moradia, nada a impedia de
intentar contra Vítor uma ação para prevenção contra o dano.
Quanto à questão da colocação dos andaimes, a Sandra está obrigada a suportar a colocação
dos andaimes no seu prédio nos termos do artigo 1349º nº1 embora este artigo nos diga que a
reparação ou levantamento de edifício permite que se coloquem andaimes no prédio vizinho
bem como permite fazer por ele a passagem de materiais ou praticar atos análogos.
De qualquer modo, este mesmo artigo prevê a indemnização ao dono do prédio vizinho por
qualquer dano resultante desta passagem ou colocação dos andaimes que acaba por ser
forçada.

Caso Prático 3
O Alberto é proprietário do prédio risco X, no qual há mais de 20 anos construiu uma pequena
represa de modo a reservar as águas pluviais que depois aproveita para a rega. Tem chovido
muito neste inverno, e não foi possível a Alberto reter toda a água que acabou por escorrer
com alguma força da corrente até ao prédio inferior pertencente a José. Este reclama uma
indemnização pelos danos sofridos na sua plantação de alfaces, invocando que a construção
da represa retirou a Alberto a possibilidade de deixar escoar as águas para os prédios
inferiores e criou nos proprietários destes a legitima expectativa de que as asseguraria na
retenção das águas.

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Terá razão o José?
A solução está no 1351º, nos termos do qual, os prédios inferiores estão sujeitos a receber as
águas que escorrem dos prédios superiores bem como a terra, entulho...etc. Desde que essas
águas e independentemente da sua origem cheguem naturalmente e sem obra do homem ao
prédio inferior. Isto significa que no nosso caso, o José está obrigado a receber as águas que
pela sua abundância transbordem da represa e que naturalmente vão percorrer todo o terreno
até que cheguem ao seu prédio. Aqui o 1351º nº1 embora se refira à existência de uma obra
do homem, esta obra que ele fala e que impediria a aplicação deste preceito teria de ter por
fim o direcionamento das águas de forma diferente do natural. O facto de Alberto ter
construído a represa e há mais de 20 anos não escoarem as águas para os prédios inferiores
não afasta de Alberto a faculdade de deixar escoar naturalmente a água para os prédios
inferiores porque esta é uma faculdade inerente ao direito de propriedade que não se
extingue pelo não uso, está relacionado com a característica do caracter tendencionalmente
perpétuo do direito de propriedade.

24/05/2022 – Dra. Luísa (INCOMPLETA)


A ruína de construção – 1350º
Nos termos do 1344º o proprietário, se houver uma ruína dentro do seu prédio, mas que não
ameace os prédios vizinhos ela pode prevalecer lá. Este artigo só se aplica quando essa ruína
ameaça a propriedade dos outros. Só quando interfira com terceiros é que pode implicar
responsabilização.

O escoamento natural das águas 1365º


Trata-se essencialmente de água só que há um contexto de água diferente, o artigo 1351º tem
a ver com uma lógica de que por força da gravidade a água flui dos pontos mais altos para os
pontos mais baixos, o legislador estabeleceu que sem que seja provocado pelo homem a água
tem uma tendência de escoar naturalmente de um plano superior para um plano inferior. Esta
norma não se aplica só a prédios adjacentes, mas também podem ser aplicados a prédios que
estejam na vizinhança. O curso natural das águas sejam elas quais foram que têm tendência
pender de um plano superior para um plano inferior têm de puder seguir esse curso. Os
prédios inferiores têm de aguentar com a queda natural das águas e com aquilo que as águas
trouxerem consigo.
Isto funciona como uma limitação ao direito de proprietário, nem o proprietário do prédio
inferior pode impedir esse escoamento natural, nem o proprietário do prédio superior pode
tornar mais difícil esse tipo de escoamento. Não pode haver nem agravamento nem
impedimento por parte dos respetivos proprietários.

Outra coisa diferente é o estilicídio – estes fenómenos acontecem gota a gota por exemplo:
os ar condicionados. O legislador preocupa-se com isto e depois não é só o incómodo, é que se
nada se fizer relativamente a esse gotejamento, aquele de cujo prédio que esta a provir esse
gotejamento pode ter um direito relativamente a esse estilicídio.

Quanto aos muros

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Há muros que são de sustentação de terras e há outros que são apenas divisores.
No caso dos sustentadores de terras, este tipo de murros se houver título que defina de quem
é muito bem, se não houver título a presunção que se estabelece é que o muro é pertencente
das terras que este sustenta.
Relativamente aos muros de divisão, estes muros o legislador até lhes chama muros de
meação, porque quanto a estes também há uma presunção de que estes muros são detidos
em regime de contitularidade por ambos os prédios, e então, presume que há contitularidade
pela metade, metade é do prédio A e metade é do prédio B.
O código regula algumas situações relativamente à construção.

Questão Ruína de construção art1350


Nos termos do art1344 o proprietário tem pleno poderes sobre aquilo que é seu. Havendo ruína
dentro do seu prédio e não causar danos nos demais pode continuar ali a ruína. A norma 1350 só
se aplica quando a ruína ameace a segurança e integridade dos outros. Fora destes casos não é
necessário e exigível que o proprietário tome medidas.

Escoamento natural das águas comparando o art1351 com 1365


Em ambos os casos trata-se essencialmente de agua, só que é um contexto de agua diferente. O
art1351 tem haver com uma lógica que é, o legislador naturalmente retira conclusões que é : as
aguas correm num plano inferior a lei da física. Adequando essa verdade em termos de regras e
sendo certo que a agua é bem fluido, não é totalmente controlável e que portanto por força da
gravidade flui dos pontos mais altos para os baixos, então o legislador estabeleceu no art1351
que sem que seja pela mão do homem, provocado pelo homem, a agua tem tendência de escoar
naturalmente e não tem necessariamente haver com prédios adjacentes ( colado a outro) pode
aplicar-se a prédios que estão na vizinhança em planos diferentes.

A regra que é natural estabelecida pelo legislador, o curso natural das aguas que tem tendência a
pender num plano superior a inferior tem de puder seguir esse curso, não é possível a um
determinado prédio impedir esse curso. Os prédios inferiores têm que aguentar com a queda
natural das aguas e com aquilo que as aguas trouxerem, (folhas, madeiras, etc) no seu leito os
prédios que são obrigados a receber a passagem dessas aguas têm de aguentar.
Isto funciona como limitação ao direito da propriedade em termos de que nem o proprietário do
prédio inferior pode impedir a sua deslocação nem o do prédio superior pode tornar mais difícil
esse tipo de escoamento. Não pode haver nem agravamento nem impedimento por parte dos
respetivos proprietários.
Este art1351 refere-se ao escoamento natural.

Outra coisa diferente é o escoamento de agua gota a gota, chamando a isto gotejamento. Se não
se fizer pode acontecer que decorridos os prazos legais para constituição de servidão de
estilicidio aquele de que cujo o prédio está a provir o gotejamento pode pedir servidão. É uma
realidade normativa diferente da primeira, esta decorre da intervenção humana.

2 notas de fenómenos de natureza cultural: é o caso do direito de tapagem art1356. Em


Portugal fazemos parte de cultura mediterrânea. Este direito de delimitação é algo temporal.
Paralelamente ao direito de tapar há direito de demarcar que é menos intenso. Na zonas rurais
encontramos horizonte de prédios mas que não são da mesma pessoa. As delimitações entre os
prédios não são feitas com muros sendo apenas com marcos que podem ser por ex.: pontões de
pedra colocadas em determinados pontos e até podem ser plantas arvores podem funcionar
como factor de demarcação. Há uma ressalva que legislador faz quando a demarcação é feita

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com plantas, o legislador estabelece que isso não permite prescindir a colocação de marco de
divisão em madeira ou pedra ou rede para assim determinar os limites da propriedade = direito
de demarcação ligado á dimensão cultural em delimitar aquilo que é seu.

A questão das portas das varandas ou janelas no CC temos lei geral, mas quem faz edifício uma
obra implantada num terreno tem que obedecer a muito mais porque as coisas podem complicar
sendo necessário complementar aspetos havendo assim um DL 599 regulamento geral das
edificações urbanas com especificações que têm de ser cumpridas nos projetos sob pena de não
serem aprovadas pelo município = licenças de construção é o 1º titulo que habilita alguém a
edificar e só depois de edificação feita temos a licença de utilização para o fim pretendido a
entidade verifica se a construção respeita as condicionantes = licença de habitação.

No CC podemos considerar regulamentação básica para o efeitos destas edificações, uma casa
em principio tem portas, janelas, varandas tem espaço de logradouro e tudo isto está sujeito a
regras relativamente á questão de proteção das relações de boa vizinhança, o legislador diz que
não é possível a um proprietário abrir portas que deitem direitamente para o seu vizinha sem ter
ressalvado pelo menos uma distância de 1.50 menos. A ideia é proteger um bocado a
privacidade do prédio vizinho e não onde as janelas são abertas art1360.

Uma ressalva que o legislador aqui faz que é: pergunta-se todas as aberturas implicam esta
limitação? Não nem todas pois estabeleceu-se critério que continua em vigor no sentido de
determinar quaisquer são aberturas que podem ser qualificadas como janelas. Tudo é janela? No
tempo da construção mais sólida, regime românico superado pelo regime gótico esta construção
tem razão de ser é uma construção anda entre século IX e XII de grande instabilidade de
movimentação dos povos e guerras. O tipo de construção era solida e fechada para permitir
atividades defensivas, tempo da construção românica que não tem janelas mas só aberturas para
circulação de ar e entradas para pontos de luz (igreja de são Gonçalo em Amarante).
O legislador estabeleceu que esta limitação relativamente ás aberturas só verifica quando se
encontrem janelas não sendo assim não há limitação de 1.50 metros. O critério utilizado para
esta definição é de que será janela se uma cabeça poder passar através dela. Também aqui pode
haver a possibilidade de constituição de servidão de vistas por causa de aberturas que deitem ao
prédio vizinho em contravenção, se esta servidão for constituída n.º2 1362 o vizinho que era
aquela que beneficiava da proteção de 1.50 metro só pode levantar edifício desde que deixe o
espaço mínimo, quer isto dizer que constituído o direito de servidão de vistas o vizinho que
tinha o direito de se opor se quiser edificar terá de deixar distância de 1.50 metros.

Relativamente à plantação de arvores na extrema dos prédios art1366 limitação na medida em


que há arvores que não podem ser plantas porque não são próprias para zonas urbanas, e se
porventura se estiverem a incomodar o art1366 estabelece um direito potestativo.

Quanto a muros art1370 a 1375 os muros não têm todos a mesma natureza, á muros que são
sustentação de terra e á muros que são meramente delimitadores. Isto juridicamente é
importante porque no caso de muros de suporte de terras que são por ex.: muros armados
(pedras) este tipo de muros havendo titulo que defina quem é o muro mas se não houver titulo a
presunção que a lei estabelece é de que o muro é pertencente das terras que está a sustentar = é
uma presunção relativa.
Já sobre os muros de divisão estes muros o legislador chama de meação porque também quanto
a estes estabelece presunção que é de que estes muros são detidos em regime de co-titularidade
de ambos os prédios. Implicações que isto tem: pode A edificar em cima do juro? Sim até ao
limite da sua metade. E como se passa em termos de manutenção? Sendo o muro comum ou
havendo titulo que diga que pertence a A nesse caso não há meação mas havendo a presunção
relativa é metade de cada um as despesas será dividida entre os dois.

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30.05.2022 Dr.Diana

Acessão do âmbito do direito de propriedade

Formas de aquisição do direito de propriedade


 Originária
 Derivada
Art1316 encontramos os modos de aquisição do direito de propriedade nomeadamente: o
contrato, a sucessão por morte, a usucapião, a ocupação, a acessão especifica.
Momento em que se adquire a propriedade consoante o modo de aquisição art1317 conjugado
com 1316.

Relativamente a ocupação de coisa e animais art1318 e ss este artigo 1318 começa por
especificar que coisas podem adquiridas pro ocupação nomeadamente os animais, e outras
coisas móveis que nunca tiveram dono ou que foram abandonadas, perdidas ou escondidas pelos
seus proprietários.

Desta forma, costuma-se a apontar 3 elementos para aquisição por ocupação:


Requisito pessoal - o ocupante deve ter uma pessoa com capacidade de gozo, embora não se
exija capacidade negocial de exercício.

Requisito formal - impõe que seja tomada a posse da coisa, neste requisito formal alguma
doutrina entende que deve existir um animus ocupandi, ou seja, quem toma a coisa tem
vontade/intenção de se tornar o dono de fazer sua a coisa. No entanto não é pacifica a questão
da doutrina, há quem entenda que basta encontrar o objeto e ter capacidade de gozo.

Requisito real - a coisa que será objeto de ocupação deve ser uma coisa sem dono, e em sentido
amplo compreende as coisas que nunca tiveram dono ou ainda as coisas que foram abandonadas
e deixaram de ter dono. Dentro ainda deste requisito tem que estar em causa uma coisa móvel,
porque as coisas imóveis sem dono pertencem ao estado art1345. Dentro deste requisito real
tem de estar coisa suscetível de apropriação privada

A natureza jurídica do abandono a doutrina tem entendido que este se deve considerar um ato
jurídico e por isso, vão ser aplicadas com as devidas adaptações as regras relativas aos negócios
jurídicas art295.
Em concreto art1319 relativo á questão de caça e pesca, remete para legislação especial o
regime da caça e da pesca embora não deixe de situar estas coisas no âmbito da ocupação,
significa em termos gerais, as coisas caçadas ou pescadas são consideradas coisas sem dono e a
sua propriedade é suscetível de ser adquirida por ocupação.

Relativamente aos animais selvagens art1320, constituem uma categoria intermedia nem são
animais selvagens no estado de liberdade total, nem são animais domésticos são animais que
embora possam viver num estado de liberdade natural têm o hábito de se recolher em guaridas
construídas pelo homem, isto significa, que no momento em que estão abrigados nessas
guaridas passam a pertencer ao proprietário das guaridas e só deixam de ser propriedade se
saírem das guaridas.

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O nosso código prevê a hipótese de estes animais irem para a guarida de outro dono e
distinguem as seguintes situações: se o dono não poder reconhecer os animais são adquiridos
pelo proprietário da guarida onde se instalaram, se o dono perder reconhecer individualmente
poderá recupera-los desde que não cause dano ao dono da nova guarida, por fim se o animais
forem atraídos para nova aguarda por fraude ou manobra que o dono fez neste caso esses
animais continuam a pertencer ao dono da guarida abandonada, devem ser restituídos a esse
dono e se não for possível esse dono tem direito ao triplo desse valor, sanção que a lei estatele
àquele que tentou atrair.

O art1322 a questão dos enxames de abelhas o proprietário tem direito de perseguir e capturar
em prédio alheio respondendo pelos danos que causar, se o enxame não for capturado no prazo
de 2 dias, o proprietário do prédio onde se encontra pode ocupa-lo ou consentir que outro o
ocupe art1322.
Quanto aos animais e coisas móveis perdidas art1323 neste artigo diz-nos que quem encontrar
animal ou outra coisa móvel perdida é obrigado a restituir ou avisar o dono se o conhecer se não
souber a quem pertence é obrigado a anunciar o achado pelo modo mais conveniente
nomeadamente atendendo ao valor da coisa e às possibilidades locais ou avisar as autoridades,
tratando-se de animais o artigo diz ainda que quando possível quem achar o animal pode
recorrer ou deve aos meios de identificação acessíveis através de medico veterinário. Uma vez
feito o anúncio do animal ou coisa perdida e este não for reclamado dentro de 1 ano a contar do
anúncio quem achou o animal ou a coisa pode fazer sua essa mesma coisa ou o animal. Se por
acaso a coisa for restituída o achado tem direito a uma indemnização do prejuízo que posa ter
tido e das despesas que possa ter realizado. Finalmente diz o artigo que o achado goza do direito
de retenção e se a coisa se perder ou se destruir só responde se tiver acuado com dolo ou culpa
grave.

Tratando-se de animal o artigo permite que o achador pode reter o animal em caso de fundado
receio de que o mesmo seja vitima de maus tratos por parte do proprietário.
A ocupação de coisa perdida só ocorrerá se publicitado o achado, o dono não a reclamar dentro
de 1 ano basicamente o artigo tenta compatibilizar os interesses do dono e de quem o achou
entendendo-se que se não houver reclamação de um prazo de 1 ano à presunção de abandono.

Quanto à questão especifica do tesouro art 1324 que é entendido como coisa móvel, valiosas,
escondida que deixou de ter dono tem regime no art1324 aquele que achar o tesouro e não se
podendo determinar o dono, torna-se proprietário de metade do achado e a outra metade
pertence ao proprietário da coisa móvel ou imóvel onde o tesouro estava escondido.

Outra forma de aquisição da propriedade é acessão está regulado noa art1325 e ss,
encontrando-se a noção no art1325 que nos diz que acontece quando uma coisa que é
propriedade de alguém se une e incorpora noutra que não lhe pertence.

A acessão pode acontecer por duas vias:


1. Natural -> ocorre quando a união ou incorporação, resulta exclusivamente das forças
da natureza. Regra geral no art1327 ocorrendo a cessão natural pertence ao dono da
coisa todo que esta crescer por efeito da natureza. No art1328 a situação que se chama
aluvião é o incremente dos prédios confinantes com quaisquer corrente de agua, de tudo
aquilo que por ação das aguas se lhes unir ou neles for depositado. Além do aluvião têm
a abusão é incremento de um terreno que é produzido por plantas ou qualquer outro
objeto que bruta violentamente tenha sido arrancado por força da natureza e aí tenha

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sido arrojado. Art1330 mudança de leito o nosso código determina que se um rio mudar
de leito o antigo proprietários conservam o direito que tinham sobre o leito abandonado
bem como o dono do prédio invadido pelas aguas conserva a propriedade do terreno
ocupado. A mesmas situação se impõe se a corrente se dividir em 2 ramos ou braços em
qualquer destas hipóteses estamos a falar sempre de situações em que este leito, rio, não
pertença ao domínio público. Formação de ilhas e a questão do lagos e lagos nos arts
seguintes.

1. Industrial -> implica uma intervenção humana, ocorre quando por facto do homem se
confundem objetos pertencentes a dono diferentes ou quando alguém aplica trabalho
próprio a materiais pertencentes a outra pessoa confundido o resultado desse trabalho
com propriedade alheia.

2.

A acessão industrial pode ser:


Mobiliária - a união de uma coisa que era de propriedade de alguém mas utiliza materiais de
outra pessoa, esta intervenção pode ocorrer de boa ou má fé, se se desconhece que está a lesar
direito de outrem de outrem à boa fé se se agir contrariamente á má fé
Ou
Imobiliária - união de um terreno, de obras sementeiras, plantações feitas em terreno alheio
consoante de esteja de boa ou má fé
Conforme a natureza das coisas.

Caso Prático
Patrícia é uma orgulhosa proprietário de um pitbull. Em outubro de 2019 sendo a quinta
de patrícia atingida de um violento incêndio decide soltar o cão esperançosa que pudesse
salvar. Dias depois Cesar veterinário de profissão encontra cão perdido e desorientado e
ferido, cuidou dele e acabou por se afeiçoar ao animal. Patrícia depois de muito procurar
acabou pro encontrar o cão em casa de César e reclama a sua devolução ao que este se
opõe declarando ser o novo proprietário. Será que César tem razão?

Resposta:
Identificado que se trata de um questão relativa aos modos de aquisição do direito de
propriedade, nomeadamente parece ser uma aquisição por ocupação regulado nos termos do
art1318 e ss do CC, pode ser objeto de ocupação toda a coisa móvel ou os animais, para que esta
forma de aquisição originária porque o direito de propriedade se adquire pelo estabelecimento
de uma relação direta entre o sujeito adquirente e a coisa ou animal, reconhecida pela lei, sem
necessidade de qualquer intervenção do anterior proprietário. Para que acha a aquisição do
direito de propriedade por ocupação é necessário a verificação dos requisitos: pessoal, formal e
real. Pessoal só se exige a capacidade negocial de gozo, e embora não se tenha dado pode-se
presumir que o césar teria capacidade de gozo, alem desta capacidade gozo a lei diz que em
relação ao requisito real é suscetível de ocupação a coisa ou animal que foi abandonado, perdido
ou que nunca teve dono. Essa coisa tem que ser uma coisa móvel incluindo aqui os animais e

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tem que estar dentro do comércio jurídico, neste caso temos um animal que pode ser objeto de
ocupação é um animal que estava perdido embora tivesse dono, e falta apenas a questão do
requisito formal que se entende como uma verdadeira posse da coisa ou animal que acaba por
acontecer por parte de césar e também se verifica embora com divergência doutrinal o césar tem
intenção a vontade de fazer sua a coisa encontrada, portanto temos preenchidos os requisitos da
ocupação com capacidade de gozo, temos uma coisa o animal e temos ainda o animus ocupandi
e a posse.
Em termos abstratos César podia reunir os requisito para se tornar proprietário no entanto o
art1323 diz-nos que para tutela do proprietário há uma obrigação de restituir o animal perdido
ou notificar o achamento caso seja reconhecido o seu dono, não sabendo quem seja o dono a lei
n.º2 manda tornar publico o achamento através de anúncio seja na internet ou cartazes ou então
notificando à policia. No nosso caso, César encontra o animal não sabendo quem era o dono,
tendo a obrigação de anunciar, era veterinário ponderando esta questão, sendo a coisa perdida
ou animal recorrendo aos meios de identificação acessíveis. Cesar tendo ou não ship não fez
qualquer anúncio e ficou com o animal, houve incumprimento por parte de césar nos seus
deveres nomeadamente de anunciar o animal perdido o que lhe impede de adquirir o direito de
propriedade porque a lei estabelece um limite desta aquisição que só poderá ocorrer após 1 anos
do anuncio publicado, significando que patrícia pode exigir ao césar a entrega do animal
nomeadamente intentado contra ele ação de reivindicação art1311 que seria julgada procedente.
César teria sempre direito a indemnização pelos prejuízos sofridos bem como compensação
pelas despesas que possa ter tido.
A questão de ter retido o animal, o Cesar poderia alegar o direito de retenção da coisa se
suspeita-se que o animal era vitima de maus tratos. Em suma a patrícia continua a ser
proprietário do animal terá direito À entrega do animal sem prejuízo da indemnização e
pagamento de despesas.

Caso Prático
Carla empresaria é proprietária de um terreno e permitiu um abril de 2008 que o seu
empregado bruno nele construí-se pequena casa para habitar. Em março e 2019 a Carla
despediu o Bruno e pretende agora demolir aquela construção, ao que Bruno se opõe
afirmando ser dele a casa mas também o terreno onde foi construído. Terá razão?

Resposta:

Identificando se estavam perante questão de aquisição de direito de propriedade aprece estar em


casa a figura de acessão que também é forma de aquisição originária de direito de propriedade
que pressupõe a união de coisas pertencentes a proprietários diferentes passando a existir uma
única coisa neste caso, a união resulta de intervenção humana nomeadamente de trabalho
humano sobre coisa imóvel e por isso falamos em acesso industrial imobiliária art1326. Em
concreto está em casa o art1340 uma vez que se trata de uma construção na qual se aplicaram
materiais próprios em terreno alheio e de boa fé, Bruno foi autorizada o construir a casa no
terreno de Carla, nesta situação de acordo com o art1340 para saber quem é o proprietário da
casa e do terreno teremos que atender ao valor que esta incorporação trouxe para o terreno. Se o
valor acrescentado for superior o autor da incorporação adquire o terreno pagando o valor que
este tinha antes da obra sementeira ou plantação. Se o valor se manter igual haverá licitação
entre o dono do terreno e o autor da incorporação não acrescentando valor esta é adquirida pelo
dono do terreno que terá de indemnizar o autor. Ou a construção fez aumentar o valor do terreno
e nesse caso, a doutrina entende que este aumento é sempre para o dobro. Este aumento poderia

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ser pouco significativo mas houve aumento, não tendo acréscimo aí abre-se licitação entre dono
e o autor para ver quem fica como proprietário do terreno.
Colocávamos as 3 possibilidade Bruno estava de boa fé, utiliza materiais próprias passaria a ser
proprietário da casa e do terreno se da sua construção aquele terreno aumentou de valor, se não
houve aumento teria que se fazer a licitação e se pelo contrario houve uma despolarização nesse
caso a Carla ficava com a propriedade que havia ser construída mas tinha sempre que
indemnizar bruno pelos valores que acha despendido na construção da habitação.

31/05/2022 – Dra. Luísa

Co propriedade enquanto modalidade do direito de propriedade

A copropriedade traduz-se numa variante do direito de propriedade. A copropriedade tem a


ver com um direito de propriedade que é titulado por mais de uma cabeça. Isto traduz uma
ficção legal, é o legislador a ficcionar que sob determinada coisa é exercido um poder de
domínio que é de mais que uma pessoa. A verdade é que no que diz respeito à copropriedade
há doutrina que afirma entender que a natureza jurídica desta implica um fecho de direito
reais sob a mesma coisa, cada um dos cotitulares é titular de um direito real e outra parte da
doutrina diz que considerando que há um único direito real exercido sob a mesma coisa
titulado sobre mais que uma titularidade.
Mesmo numa situação de copropriedade, esta está sujeita ao mesmo tipo de limitações legais
que está o direito de propriedade normal. O facto de se tratar de copropriedade não altera o
seu status jurídico.
Pelo facto de se tratar de contitularidade há um problema de que é preciso atender à
formação de vontade, o legislador tem de ficcionar como é que a vontade se forma.

Aqui internamente coloca-se a questão de administrar a coisa e em que termos – vamos


verificar que o legislador traz para aqui as regras da administração nas sociedades civis, isto
posto vamos desenvolver a questão do regime da copropriedade.

Regime da copropriedade
O regime jurídico da copropriedade interfere com o regime jurídico da execução. No caso da
copropriedade nenhum dos contitulares pode arrogar-se ter partes especificada da coisa
comum. Aquilo que cada um detem é uma quota ideal, isto é, aquilo que compete a cada um
dos contitulares. O regime da copropriedade utilizado em situações em que a copropriedade
resulta da lei.
Se por exemplo duas pessoas casadas em separação de bens estas podem comprar algo em
copropriedade e nesse caso é obrigatório especificar os bens sujeitos a registo e qual a quota
ideal de cada um.
Os poderes que o contitular mais pequeno pode exercer sob a coisa são os mesmos que o
contitular mais forte pode exercer, esta contitularidade definida através de quota ideal tem
estas características.
Não se falando dos poderes de oneração e disposição, porque nesses casos é diferente, aí é
preciso formar uma vontade para que esses atos sejam praticados.
O nº2 do 1403º significa o referido acima.

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O facto de haver contitularidade traz algumas complicações, o legislador consagrou um direito
de preferência expresso a favor dos contitulares, no caso de alienação da quota, o contitular
terá que dar preferência nessa alienação aos seus compartes. Mesmo que ele queira alienar a
externo, os compartes vêm primeiro (1409º). Esta consignação desta preferência legal é uma
imposição, há sempre exercício de preferência e de ação de preferência, se a preferência não
for atribuída o lesado pode instaurar em tribunal a ação e fazer o depósito do preço se não a
ação não avança.

No que diz respeito aos contratos, há circunstâncias verificadas as quais é admissível que haja
uma alteração e então uma das partes pode desvincular-se, o legislador estabeleceu
relativamente à copropriedade que nestes casos, este estabeleceu que ninguém é obrigado a
permanecer na indivisão, quem esta numa relação de copropriedade tem o direito a exigir a
divisão e a sair da relação de copropriedade. Para se satisfazer toda a gente, é possível
estabelecer uma clausula de indivisão temporária.
Esta clausula pode ser feita no prazo máximo de 5 anos podendo ser feita a renovação. Trata-
se de uma possibilidade para amenizar o princípio de que ninguém é obrigado a permanecer
na indivisão. - Artigo 1412º e 1413º

Quanto à questão da formação da vontade para a administração do bem – o legislador


estabeleceu a aplicação das regras que são aplicadas às sociedades civis (1407º). A vontade
forma-se em assembleia e essa mesma vontade obedece à regra da maioria. Mas o legislador
diz que isto não chega, nos casos da copropriedade para que a vontade se forme, tem de haver
uma dupla maioria, tem de ser maioria por cabeça nos termos do 985º nº4 e também maioria
do capital investido.
Para que a deliberação passe é preciso ter mais do que 50%.

Propriedade Horizontal

Este regime da copropriedade está presente também num outro direito real que é o direito de
propriedade horizontal – este não tem um significado literal porque eu posso ter direito de
propriedade horizontal em altura, e também em verdadeiramente horizontal.
A propriedade horizontal verifica-se na maioria dos casos verifica-se em construção em altura,
mas também existe em construções na linha horizontal que é o caso do artigo 1438º. É o caso
das casas geminadas – elas aproveitam entre si estruturas comuns.
No contexto de um plano de urbanização pode-se ter num determinado lote propriedade
horizontal e noutro já não se tem.
Esta figura da propriedade horizontal tem muito interesse em termos económicos e por isso
toda a gente é afetado por este regime.
Enquanto construção do legislador a propriedade horizontal simboliza uma simbiose entre
propriedade tradicional e copropriedade. Copropriedade esta com características muito
particulares.
O que define a propriedade horizontal? Tem a ver com a existência de frações autónomas
entre si de um determinado prédio, estas frações que estando a constituir esse prédio, sendo
elas também prédios considerados imoveis desde que pertençam a titulares diferentes e
tenham em cada uma delas uma saída direta para uma parte comum do prédio ou para a via
pública.

O regime jurídico da propriedade horizontal reflete que os dois direitos são incindíveis, ou seja,
não é possível ao dono da fração autónoma pretender fazer negócio sob a fração separando a

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fração das partes comuns, está impedido nos termos da lei de separar um direito do outro.
Não é possível também ao proprietário pretender alienar o seu direito de propriedade sob a
estrutura como forma de se eximir ao pagamento das despesas de manutenção.
Estabeleceu o legislador que apesar de haver uma relação de copropriedade não é admissível
o direito de preferência entre os titulares das ações (1423º)

Isto da propriedade horizontal traduz esta combinação entre os dois direitos: o da propriedade
tradicional e o da copropriedade.
Por facilidade de disposição convencionou-se que em relação a propriedade vertical é toda
aquela que não foi contruída em propriedade horizontal.
Se a propriedade vertical tiver condições para se tornar em propriedade horizontal isso pode
acontecer.
A propriedade horizontal depende sempre de um título constitutivo, ela tem de ser objeto de
um documento onde ela é constituída e explicada ate ao último pormenor, identifica o prédio,
o valor de cada fração, o capital... etc
O título executivo tem de estar registado, tem de ser levado ao registo predial.

1421º - fala daquilo que são partes comuns.

06/06/2022 – Dra. Diana

Sai no teste: rever os conceitos da posse e sai até à aula da dr. Luísa.
Teste: 1 pergunta teórica e 1 caso prático (um caso com várias alíneas)

O usufruto
Este é um direito real de gozo que consiste no direito de gozar temporariamente e plenamente
sob uma coisa ou um direito alheio sem alterar a sua forma e a sua substância (1439º). Quais
são as características principais deste direito? A temporalidade (art.1439º e 1443º). O
usufruto é um direito temporário que no caso das pessoas singulares não pode exceder a
duração da vida do usufrutuário e no caso das pessoas coletivas tem um limite máximo de 30
anos, outra característica deste direito é a pessoalidade (1443º e 1476º nº1 alínea a). O
usufruto é um direito inerente à pessoa do seu titular que pode ser trespassado nos termos do
artigo 1444º, no entanto, embora se admita o trespasse, atendendo à característica da
pessoalidade, o trespasse só vai persistir enquanto o usufruto durar. Outra característica é a
plenitude do gozo do bem ou do direito (1439º e 1444º) o usufruto compreende as
faculdades de uso e fruição conforme o artigo 1446º, na verdade o usufrutuário tem
tendencionalmente os mesmos poderes que competem ao proprietário com a exceção da
disposição sobre o objeto que incide o usufruto. As únicas faculdades concedidas ao
usufrutuário é trespassar o bem em causa, este trespasse pode ocorrer nas situações do
1444º, no caso de morte do usufrutuário extingue-se o usufruto. O gozo do bem ou do direito
tem de ser exercido dentro dos limites de observância de forma e da substância do objeto
usufruído e também nos limites do respeito do limite económico do objeto.
Ocorrem muitas situações de usufruto que por exemplo quer por testamento ou mesmo em
vida é constituído o usufruto de um imóvel. Olhando para o 1440º, ele diz-nos quais são as
formas de constituição de usufruto. De acordo com este, este pode ser constituído por
contrato, testamento, usucapião, ou resultar de disposição legal. Relativamente à usucapião,

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pode haver posse relativa a um usufruto. Por exemplo: eu e o Joaquim ocupamos uma
propriedade, eu atuo como proprietária e o Joaquim como usufrutuário, sabendo que aquela
propriedade não era nossa, ao fim de 20 anos podemos invocar a propriedade.
Quanto ao contrato , o usufruto constituído por contrato pode dar-se por translação: o A
transmite a B o usufruto do imóvel ficando com a propriedade de raiz. Ou pode acontecer a
constituição de usufruto por contrato por dedução, neste caso o A transmite a propriedade de
raiz, mas vai reservar para si o usufruto daquele imóvel.
Não existe qualquer disposição que remeta a possibilidade em concreto da constituição de um
direito de usufruto.
Quanto ao testamento , é possível a constituição de usufruto por via de testamento, a deixa
é um legado.
O usufruto pode incidir sob coisas ou direitos (1463º e ss) são alguns exemplos de usufrutos de
direitos.
Quais são os direitos e deveres do usufrutuário?
Quanto aos direitos – um direito do usufrutuário é o gozo pleno da coisa ou do direito
sendo que pode usar a coisa, fruir e administra-la livremente. Todos estes poderes que são
concedidos ao usufrutuário, não são ilimitados, têm uma relação com o proprietário da coisa
ou do direito, nomeadamente o usufrutuário deve exercer estas faculdades como faria um
bom pai de família, respeitando o destino económico da coisa sob pena de ter de responder
pelo mal uso da coisa nos termos do 1482º. O usufrutuário tem também o direito a incluir no
objeto do usufruto certos acréscimos em virtude de obras, melhoramentos e novas plantações
da iniciativa do proprietário (1471, e 1473º). O usufrutuário tem também direito de transferir
os seus poderes para as indemnizações que possam ser devidas em caso de destruição ou
perda da coisa (1480º). O usufrutuário tem também direito a essa indemnização, tem também
o direito a ser indemnizado no momento da cessação por despesas de produção em curso
(art.1447º), tem também o direito a ser indemnizado pelo valor das reparações extraordinárias
que procedeu licitamente, isto significa que em regra é o usufrutuário que tem de suporta-las.
O usufrutuário tem o direito de constituir servidões ativas e passivas nos termos do 1460º, as
servidões passivas ao contrário das ativas cessam com a extinção do usufruto, isto quanto aos
direitos.
Quanto aos deveres – o usufrutuário tem o dever de relacionar os bens declarando o estado
em que se encontram e mencionando o seu valor quando se tratem de bens móveis (1468º
nº1 alínea a); tem o dever de prestar caução para garantir que da restituição dos bens quer de
eventuais deveres de indemnizar por danos provocados aos mesmos (1468º nº1 alínea b). Este
dever de prestar caução pode ser dispensado, este dever pode ser dispensado no título
constitutivo do usufruto e não se aplica ao alienante com reserva do usufruto (1469º) nos
demais casos, a falta de caução é sancionada com a imposição de vários deveres em função da
natureza do objeto nos termos do 1470º. Um outro dever de usufrutuário é fazer bom uso da
coisa ou do direito usufruído, de acordo com o critério do bom pai da família. O
incumprimento deste dever, é sancionado nos termos do 1482º no sentido em que se o mau
uso da coisa se tornar consideravelmente prejudicial para o proprietário este pode exigir que
os bens lhe sejam entregues ou que sejam aplicadas as medidas aplicadas em caso de
incumprimento da obrigação de prestar caução.
Outro dever é suportar as despesas de administração (1472º nº1) no entanto, a lei estabelece
que o usufrutuário se pode eximir desta obrigação por meio de renuncia ao usufruto , outro
dever é o de realizar as reparações ordinárias, são aqueles que são consideradas
indispensáveis à conservação da coisa (1472º); tem ainda o dever de consentir na realização de
obras ou melhoramentos (1471º), tem a obrigação de informar o proprietário da necessidade
de reparações extraordinárias e também deve informar o proprietário de qualquer facto de
que possa resultar danos para o proprietário (1473º/1475º) tem também o dever de suportar

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impostos e outros encargos anuais sob os rendimentos da coisa (1474º) e tem o dever de
restituir a coisa findo o usufruto (1483º)
Quais são os modos de extinção do usufruto?
Encontram-se consagrados no 1476º, desde logo a morte do usufrutuário, o decurso do prazo
no caso do usufruto não vitalício, a reunião do usufruto e da propriedade na mesma pessoa, o
não exercício do usufruto durante 20 anos, a renuncia ao usufruto e também a perda total da
coisa usufruída.

Direito de uso e habitação


O direito de uso é o direito de se servir de coisa alheia incluindo os seus frutos na medida das
necessidades do titular e da sua família. O direito de habitação é o direito de se servir de casa
de morada de família alheia incluindo os seus frutos, na verdade o regime do uso e habitação é
um regime que é obtido em grande medida através da remissão para o regime do usufruto. O
artigo 1485º remete para o usufruto quanto à constituição, extinção e ao regime e o 1490º faz
uma remissão em geral. O direito de uso e habitação são uma espécie de usufrutos de segunda
categoria porque o uso e a fruição são limitados à medidas necessidades do titular e da sua
família.
Quais são as principais características deste direito?
1. A pessoalidade – apenas as pessoas singulares podem ser titulares destes direitos,
tem caracter pessoal em função das necessidades do titular; o âmbito familiar, este
direito está previsto para satisfazer uma necessidade do titular e da família sendo que
esta família é uma família em sentido alargado.
2. Intransmissibilidade – este direito não pode ser trespassado, estes direitos não são
suscetíveis de transmissão, também não podem ser penhorados.

Obrigações inerentes ao uso e habitação


Se o usuário consumir todos os frutos do prédio ou ocupar o edifico, ficam a seu cargo as
despesas de habitação e impostos e encargos anuais como se fosse um usufrutuário. Se o
usuário só consumir parte dos frutos ou só ocupar parte do edifício terá de contribuir para
aquelas despesas na proporção da sua fruição.
Quanto aos modos de constituição do uso e habitação
Estes vão coincidir com os modos do usufruto com exceção da usucapião.
Relativamente à extinção deste direito , a morte, o decurso do tempo, o não exercício durante
20 anos (as mesmas causas do usufruto). Ele é constituído em função das necessidades da
constituição desse direito.

Servidões Prediais
Encontra-se a noção de servidão no artigo 1443º, por exemplo: A e B são titulares de dois
prédios vizinhos, o prédio de A dá acesso à via publica e o de B não, B tem direito a constituir
uma servidão de passagem para também ter esse acesso.
Há neste artigo uma espécie de coisificação, a lei fala no encargo imposto a um prédio, os
prédios são uma coisa imóvel, esta noção centra-se no prédio serviente e não no prédio
dominante, o foco da servidão deveria ser o titular do direito do prédio dominante e não o
titular do direito passivo.

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A doutrina tem apontado como noção de servidão predial o direito do titular de um direito real
sob um prédio a utilizar um prédio alheio para melhor aproveitamento do prédio dominante,
existem algumas regras essenciais que se deve ter em consideração para a constituição de uma
servidão predial. Para que haja uma servidão predial é necessário que ocorra o
aproveitamento do prédio dominante isto significa que à contrário se não houver este
aproveitamento (objetivo) não pode ser constituída a servidão predial nos termos 1543º nem
qualquer direito com caracter real.
Outra característica para que haja uma servidão predial é que o prédio dominante e o prédio
serviente têm que preencher a donos distintos. O conteúdo da servidão pode ser qualquer
utilidade que o titular do direito real sob o prédio dominante retire do prédio alheio para
aproveitamento do prédio dominante.

Quanto às características das servidões prediais

1. A inseparabilidade dos prédios a que pertencem – as servidões não podem ser


separadas dos prédios a que pertencem, se a utilidade de uma passagem passar a ser
apropriada por outro sujeito que não o titular do prédio dominante passa a ser
constituída também uma servidão em relação a este sujeito. O direito e o dever em
que a mesma é constituída é atribuído em função da titularidade dos prédios
dominantes e servientes.
2. A indivisibilidade – se o prédio serviente se dividir a servidão não se destrói,
simplesmente passa a incidir sob todas as partes divididas necessárias à servidão.
3. Atipicidade do conteúdo (1544º) –
4. A ligação objetiva do proveito ao prédio dominante (1543º /1544º) -

Servidões de passagem (1550º) é uma servidão de passagem para pessoas, estas servidões
podem ser em benefício de um prédio entravado ou para aproveitamento de águas. A servidão
de vistas (1363º) é constituída normalmente por usucapião.
As servidões legais podem ser constituídas por força da lei, mas não é automática porque a
lei o que faz é conferir um direito potestativo à constituição da servidão. Caso o titular do
prédio serviente se recuse a colaborar com titular do prédio dominante e, portanto, não puder
ser constituída essa servidão de forma voluntaria, pode ser vinculada por sentença judicial ou
decisão administrativa (1547ºnº2).
No caso da servidão de aproveitamento de águas , não se deve falar de uma
indemnização, mas apenas de uma compensação pelas águas retiradas do prédio serviente. Se
dois prédios têm o mesmo dono, por isso em regra não pode ser constituída uma servidão.
Direitos e obrigações do titular de um prédio dominante:
 Direito a usar o prédio serviente para melhor aproveitamento do seu prédio
 Direito de fazer obras no prédio serviente, mas a lei estabelece limites a estas obras,
no sentido em que não pode tornar a servidão mais onerosa;
 Faculdade de exigir a mudança de modo ou do tempo da servidão se daí o dono do
prédio dominante retirar vantagens e não resultar um prejuízo para o dono do prédio
serviente.

Obrigação que recai sob o titular do prédio dominante:

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 Suportar a mudança do local da servidão e mudança do tempo e modo da servidão.

Teste: posse, compropriedade, direito de propriedade

07/06/2022 – Dra. Diana

Caso Prático
O João é proprietário do Hotel Sol e celebrou um contrato com o Jaime proprietário do Hotel
Arco Iris nos termos do qual os hospedes do seu Hotel poderiam usar as piscinas do Parque
Aquático e as respetivas áreas de apoio que lá estão instaladas. Dividindo as despesas de
manutenção entre os dois. Há cerca de 4 meses, o Jaime doou o hotel à sua irmã Cecília que
decidiu construir um muro no acesso que liga os dois prédios e proibiu que os hospedes
instalados no hotel Sol usassem as áreas de lazer do hotel arco iris. O João consulta-o para
saber se pode reagir e com que fundamento, o que lhe responderia considerando que o
contrato entre ele e Jaime foi celebrado por mero documento particular em 2002.
Resposta:
Para saber se o João pode reagir contra a Cecília, em primeiro lugar temos de qualificar o
contrato que foi celebrado entre este e Jaime. Este contrato tinha como intenção constituir
uma servidão predial, ou seja, nos termos do 1543º pretendia-se estabelecer um encargo
sobre o Hotel Arco Iris, em benefício do Hotel Sol. Há um objetivo de retirar utilidade do prédio
que pertencia a Jaime. Acontece, porém, que este contrato como nos é dito foi celebrado por
documento particular, como está em causa a constituição de um direito real de gozo que tem
por objeto um imóvel, por força do artigo 939º do CC, este manda-nos remeter para o 875º,
aplica-se as regras sempre que se trate de compra e venda. Como foi celebrado por mero
documento particular há aqui falta de forma, e dado isto, a consequência é a nulidade artigo
220º, não produz qualquer tipo de efeitos, embora a intenção fosse criar uma servidão predial
real, em virtude da falta de forma, este contrato não criou qualquer direito real, não há aqui a
constituição da servidão predial.
Embora haja a falta de forma, na prática durante 20 anos o João comportou-se como se fosse
o titular de um direito de servidão predial, o seu prédio beneficiou da piscina, do parque
aquático, das instalações da parte de Jaime, portanto o João durante 20 anos teve o poder de
facto e a intenção de agir como se fosse o titular do direito real de servidão (1251º). O João
poderá reagir perante Cecília desde logo tendo à sua disposição os meios de tutela possessória
nomeadamente à ação de restituição da posse que é um meio adequado para reagir ao
esbulho possessório (1268º) isto é aqui o esbulho iria-se traduzir no ato pelo qual a Cecília o
impediu de exercer a sua posse em termos de servidão.
Acontece que este meio não será de grande utilidade pelo menos a longo prazo porque basta à
Cecília provar que é nova titular do direito de propriedade sob o prédio arco iris, para libertar
esse prédio dos poderes materiais exercidos por João, por isso a melhor solução para João
seria intentar a ação de reivindicação, apoiada na aquisição por usucapião do direito de
servidão.
Quanto à usucapião, que esta prevista no 1287º permite que alguém que durante certo lapso
de tempo, atuou como se fosse o titular do direito de propriedade ou outros direitos reais de
gozo possa invocar a aquisição do respetivo direito por via da usucapião desde que a sua posse
obedece a certas características, desde logo a usucapião não é automática, tem de ser
invocada e neste caso extrajudicialmente pelo João ou então na ação de reivindicação e nessa

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ação iria invocar a usucapião. Para que haja aquisição por usucapião é necessário que a posse
seja pública e pacífica e tem de ter decorrido um certo lapso de tempo estabelecido pela lei
para a invocação. Esta posse do João, como vimos que o contrato como sofria de falta de
forma, embora em abstrato o contrato fosse um meio adequado para a constituição de um
direito real à servidão predial, como não cumpre os requisitos é uma posse não titulada e
presume-se de má fé, é uma posse pacífica e há uma aquisição pública da posse, só as
servidões aparentes é que podem ser objeto de aquisição por usucapião. Temos assim uma
posse não titulada, de má fé, pública e pacifica que nos termos da lei permite a aquisição por
usucapião no prazo de 20 anos, a não ser que o João pudesse ilidir o prazo da má fé. (1296º)
Neste caso invocando a posse, reunidas as condições necessárias para ele intentar a ação de
reivindicação nos termos do artigo 1315º o João pode pedir ao tribunal o reconhecimento do
seu direito real adquirido nos termos que explicamos e consequentemente pedir a restituição
da coisa. Uma vez que o que está aqui em causa é o exercício da servidão predial, a restituição
da coisa deve ser interpretada no sentido do levantamento de todos os obstáculos que
impedem o exercício do direito por parte do João. Sendo esta ação julgada procedente o João
tendo adquirido o direito à servidão predial continuará a puder beneficiar do prédio e o direito
de propriedade de Cecília não fica prejudicado porque apenas está onerado com a servidão.
Caso Prático 2
Hugo, José e Luís decidiram adquirir em conjunto um automóvel que combinaram usar em
meses alternados entre maio e outubro. Depois de um pequeno acidente rodoviário o Hugo
pretende mandar reparar o automóvel, mas não consegue entrar em contacto com os
restantes comproprietários, pode ainda assim ordenar a reparação?

Resposta:

Hugo, José e Luís são titulares em comum do direito de propriedade (1403º). A questão
principal do caso diz respeito à legitimidade para praticar um ato de administração ordinária
que no caso é mandar reparar o automóvel depois de um pequeno acidente. O artigo 1407 nº1
remete para o 985º que de acordo com o nº1 deste artigo, na falta de convenção em contrario
todos os comproprietários tem igual poder para administrar, isto significa que no nosso caso
como não temos qualquer dado quanto a um acordo, o Hugo não tem obrigação de contactar
os restantes comproprietários antes de tomar a decisão de mandar reparar o automóvel, ele
pode por sua livre iniciativa andar reparar o automóvel, reparado este os encargos são
suportados na proporção das quotas dos comproprietários (1405º e 1411º) que na falta de
acordo em contrario estas quotas presumem-se quantitivamente iguais (1403ºnº2). Como esta
em causa uma obrigação real pode o comproprietário que não quiser participar nas despesas
renunciar à sua parte no direito de propriedade (1411º).
Quanto à questão da repartição do uso do automóvel em meses alternados, de acordo com o
artigo 1406º que estabelece o regime do uso da coisa comum, está estabelecido que qualquer
dos comproprietários pode servir-se da coisa desde que não empregue para fim diferente
daquele a que a coisa se destina e desde que não prive os demais comproprietários do uso a
que tem direito. Neste caso, nada impede que estabeleçam o uso da coisa de forma alternada
como o fizeram, nada indicia que será usada para fins distintos nem que os outros ficam
prejudicados.
Caso Prático 3
Teresa, Tatiana e Talita compraram há cerca de 1 ano um apartamento situada no rés do
Chão de um prédio sujeito ao regime da propriedade horizontal. Um destes dias, à entrada do
prédio Teresa encontrou dina administradora do condomínio que a informou de que estava em

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dívida o valor de 6300€ por causa de despesas relacionadas com a manutenção dos
elevadores e das limpezas das escadas do prédio. Não querendo estar em falta, a Teresa
pagou imediatamente a quantia exigida por dina e pede agora que Tatiana e Talita, cada uma
lhe entregue 210 euros, correspondente a quota de que cada uma é titular. Estas recusam-se a
fazê-lo, alegando que nunca usam o elevador e as escadas.

Resposta

De acordo com a interpretação literal dos artigos, em primeiro lugar temos de


identificar que a Teresa, a Tatiana e a Talita são comproprietárias do imóvel.
Atendendo aos factos do caso prático será necessário atender ao regime de
propriedade horizontal com o regime de compropriedade. Sendo que temos vários
comproprietários cada um é titular de uma quota ideal do direito de propriedade,
exercem em conjunto todos os direitos em relação ao imóvel 1405º, e separadamente
os comproprietários participam nos encargos da coisa em proporção das suas quotas.
A questão é saber se estes comproprietários de uma fração autónoma num prédio
constituído em regime de propriedade horizontal terão de contribuir para as despesas
das escadas e elevadores. De acordo com o artigo 1424º nº1 se nada constar em
contrário do título constitutivo as despesas necessárias à conservação e fruição das
partes comuns do edifício e o pagamento de serviços de interesses comuns são
suportados pelos condóminos na proporção das suas frações sendo este valor
determinado em percentagem por referência ao valor total do prédio 1418º nº1. Em
relação às escadas é certo que configuram uma parte comum 1421º nº1 alínea c),
porem o legislador acrescenta que só serão consideradas comuns se servirem a 2 ou
mais condóminos e de acordo com 1424º as despesas relativas aos diversos lances de
escadas que sirvam exclusivamente alguns dos condóminos ficam a cargo dos que
delas se serviam.
Atendendo a que o prédio das 3 se situa no rés do Chão e partindo do pressuposto que
na é necessária a utilização das escadas, fazendo uma interpretação literal destes
artigos, não poderia ser exigido o pagamento para as despesas das escadas.

Quanto aos elevadores também são considerados parte comum, há uma regra própria
para os elevadores que está consagrada no 1424º nº4 que nos diz que nas despesas
dos elevadores só participam os condóminos cujas frações por eles possam ser
servidas.

7.06.2022 Dr.Luísa (não sai no teste)

Propriedade horizontal - lei 8/2022 de 10 de janeira esta lei altera vários artigos do CC (tirar
esta lei na procuradoria geral da republica) + DL268/94.
Acórdão n.º4 de 2022 de 10 de maio vem a propósito de um aspeto que é titulo constitutivo
da propriedade horizontal, se o destino que consta no titulo constitutivo quanto à fração que
está a ser usada na atividade do alojamento local se o destino for habitação não é possível que
se explora o alojamento local.

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Direito de uso e habitação é um direito personalizado, como juristas é intuito personna,
depende das necessidades do usuário ou da sua família. Trata-se de direitos de fruir
determinada coisa que não é daquele que não verdade está a usar.

Servidões é de todos os direitos reais um que na verdade não é direito de um titular mas
configura-se com um direito constituído sobre um prédio em beneficio de outro.

Direito de Superficie
Implica um titular. Capacidade para imaginar a figura, porque o direito de superfície implica
que coexistam sobre uma mesma coisa que será um terreno, ou um edifício, por referencia a
esse terreno duas propriedades distintas, a do dono do terreno e a propriedade do titular do
direito de superfície.
De outros direitos reais de natureza menor, aqui encontramos definição legal porque se trata
de direitos que têm menor amplitude e por isso é possível ao legislador dar definição.

O direito de superfície consiste na faculdade de construir ou manter de forma perpetuo ou


temporária uma obra em terreno alheio ou fazer plantações em terreno alheio = temos de
estar em terreno de outrem onde terceiro pretende construir ou plantar.

Primeira advertência a fazer -> diz-se que pode consistir no direito de fazer plantações, no
contexto do legislador em plantações é em grandes áreas de plantação e portanto isto dá lugar
a determinado tipo de relação jurídica especificas. Este direito de superfície pode ser usado
noutros contextos.
Constituição de um direito de superfície para constituir parque subterrâneo é um direito de
superfície.
É possível construir propriedade superficiária sobre um edifício alheio se isso acontecer
teremos a concorrência de um regime de propriedade horizontal. Nesse caso se a obra for
implantada em cima não de terreno mas de outra edificação, então aí aplica-se as regras de
propriedade horizontal, ex.: terreno está implantada um estrutura que é propriedade de um
colégio particular ligado a esse pavilhão há construção de uma outra entidade conexionada
mas que negoceia com os donos do colégio a possibilidade de estender a obra por cima do
pavilhão. Se o negocio interessar podem entre si desde que legalmente a edificação seja
possível então pode acontecer face ao negócio no sentido de o vizinho estender a construção
da sua obra sobre a plataforma desse pavilhão.

Pode ser constituído por: contrato, por testamento (o superficário é um legatário) e até pode
ser por usucapião que é modalidade possível desde que sejam aparentes para constituir o
direito de servidão predial.
O direito de uso e habitação não é suscetível de ser adquirido por usucapião pois é um direito
personalizado.
Os outros direitos incluindo o usufruto e a superfície se pode adquirir por usucapião.

Qual é o pressuposto que é típico do direito de superfície que não se encontra em nenhum
outro direito real?
É o preço que é constitutivo na constituição do direito de superfície.
O direito de usufruto ao se constituir deve haver relação dos bens que constituam o usufruto
além disso a lei estabelece regra que é a de que o proprietário pode exigir caução ao

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usufrutuário. Se o usufrutuário morrer extingue-se o usufruto. No caso como é um direito de
gozar plena e temporariamente o direito alheio sem lhe alterar a substância e destino
económico art1479 completada com a art1446. Só há um caso em que a lei expressamente diz
que o proprietário não pode exigir caução que é o caso do usufruto que está previsto no
art1469, este caso é do proprietário que aliena a coisa mas que reserva para si o usufruto, aí
nesse caso o proprietário nave exige caução porque a lei assim o diz, porque de resto pode
exigir caução nos termos do art1468 al.b).
Na verdade o art1530 no ato de constituição do direito de superfície- a fixação de um preço é
um elemento constitutivo da constituição deste direito de superfície mas á outro elemento a
ter presente ainda. O direito de superfície ainda está numa situação frágil, estando nessa
situação porque tem que haver prazo para ser feita a obra não o sendo feito é causa de
extinção do direito de superfície não tendo prazo funciona o prazo supletivo legal de 10 anos
art1536 al.a)a edificação em concreto é determinante para a existência desta propriedade
deste direito de superfície.

Por outro lado a lei estabelece um direito do dono (proprietário) do solo que é um direito
próprio deste regime de superfície tendo o decurso do prazo o proprietário do solo adquirir a
propriedade da obra ou da plantação = torna-se o proprietário daquela propriedade
superficiária.

Direito real de habitação periódica


Foi criado por um diploma legal antigo DL 275/93 de 5 agosto. Este direito real não tem nada
haver com este DHD.
Este direito dos criado a pensar na dinamização de espaços para utilização de férias este
direito real corresponde a uma figura time sharings ou seja, partilha de tempo.
O tempo negociado nestas frações é organizado em semanas de férias, então as pessoas
negoceiam naquela fração que corresponde às semanas de um determinado mês. Durante
essa semana a pessoa titular do direito de habitação periódica tem o direito de gozo daquela
fração.

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