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LICENCIATURA EM DIREITO

ANO LECTIVO: 2022/2023


DIREITOS REAIS – 3.º ANO – TURMA B
REGÊNCIA: PROFESSOR DOUTOR ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO E JOSÉ LUÍS RAMOS
SUBTURMAS: 12, 15 E 16

Caso Prático N.º 1

(Princípios dos Direitos Reais)

Considere a seguinte hipótese:

Von, alemão, proprietário de um imóvel em Lisboa decide doá-lo a Bernard, francês,


seu primo, mediante celebração de escritura pública, registando o seu facto
aquisitivo, no ano de 2015.
Na escritura pública, uma das clausulas dispõe que Bernard não poderia constituir
contratos de natureza real ou pessoal que permitissem o gozo de imóvel por
terceiros.
Entretanto Bernard, que residira no imóvel desde 2015, decide constituir um
usufruto vitalício oneroso do imóvel, a favor a de Carlos, no ano de 2018. Foi
celebrado, para o efeito, escritura pública, não tendo havido registo do facto
aquisitivo.
Em janeiro de 2019, Carlos que se deslocara à Suíça para umas férias na neve, vê o
imóvel de Lisboa ser assaltado por Dário, que arromba o imóvel, passando a residir
no mesmo.
Carlos decide reagir judicialmente contra Dário, tendo este respondido que Carlos
nada poderia fazer para ele sair do imóvel, uma vez que não era o proprietário
daquele imóvel e que não tinha qualquer direito registado a seu favor.
Entretanto o imóvel sofre um grande incêndio que o destrói na sua totalidade, por
causa imputável a Elsa, que detestava Carlos.
Quid juris ?
Neste caso estamos perante uma doação nos termos do artigo 940º do código
civil. De acordo com o artigo 947º a doação de coisas imóveis só é válida se for
celebrada por escritura pública ou por documento particular autenticado.
Neste caso como o contrato foi celebrado por escritura pública, então é válido.
Segundo o artigo 954º A doação tem como efeitos essenciais: a) A
transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito; b) A
obrigação de entregar a coisa;
Deste modo Bernard passa a ser o titular do direito de propriedade do imóvel
de lisboa.
De acordo com o artigo 1305º O proprietário goza de modo pleno e exclusivo
dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem, dentro
dos limites da lei e com observância das restrições por ela impostas.

Nos direitos reais existe um princípio de publicidade. De acordo com este


princípio os factos jurídicos relativos aos direitos reais devem ser dados a
conhecer ao público em geral. A publicidade pode realizar-se por várias formas.
A melhor forma é através do registo.

Princípio da tipicidade/principio do numerus clausus: Este princípio


encontra-se previsto no artigo 1306º CC, que proíbe a constituição de
restrições ao direito de propriedade ou de figuras parcelares (direitos reais
menores) desse direito fora dos casos previstos na lei.
o negócio de constituição de um direito real não previsto produz efeitos
obrigacionais, se dele nascer uma pura restrição ao direito de propriedade de
outrem.

Princípio da prevalência/prevalência: o primeiro direito real que se constituir


prevalece sobre os outros direitos reais
Não houve registo então não se beneficiou do efeito consolidativo do registo
(artigo 5º/1 Código do registo perfial)

Resolução em aula:
Aplica-se o princípio da consensualidade
A transmissão de propriedade aplica-se o artigo 875º, não se pode aplicar a
regra geral do artigo 219º
Na doação há uma forma especial que impõem que a doação seja celebrada
por escritura publica
Remissão do 879º do 954º
Artigo 2º/1 alínea a) do registo predial estão sujeitos a registo os factos
constitutivos.
Artigo 8º/ A do registo predial
Tínhamos de ir ver se esta disposição das clausulas era válida ou não.
Aplicava-se o princípio da tipicidade (artigo 1306º): conforma os direitos reais.
Não é possível criar ex-novo, as partes apenas podem constituir por expplo um
direito de propriedade, usufruto..etc. As partes não podem alterar o conteúdo
injuntivo típico de cada um dos tipos legais: as normas injuntivas que
caracterizam determinado direito real de gozo não estão na autonomia das
partes
Como se sabe se uma norma é imperativa ou supletiva? O interprete tem de
analisar o título e ver se aquela norma é supletiva ou imperativa
A norma central da propriedade é o artigo 1305º. Abrange duas realidade:
 Tem a ver com transmissão (através da venda., doação, permuta)
 Tem a ver com a oneração em que o direito real pode ser onerado
(hipoteca, direito real menor, usufruto)
Ele estava a tirar o poder de disposição do B com aquelas cláusulas, não
sendo permitido ao A fazer isso. Assim, esta clausula viola o princípio da
tipicidade. A lei determina que qualquer restrição impõe que essa disposição
tenha eficácia obrigacional. Contudo a doutrina ainda desenvolve outras coisas:
Mc defende a conversão legal. Esta parte do contrato deixa de ter natureza
real e passa a ter natureza obrigacional. O contrato é válido, a propriedade
trasmite-se, mas esta cláusula deixa de ter eficácia herga homnes (a terceiros).

Artigo 1439º
Artigo 1305º o proprietário pode onerar o seu direito real
Princípio da elasticidade: Os direitos reais de gozo podem ser comprimidos.
Quando eles se estinguem voltam à sua máxima plenitude.
Passam a existir dois direitos (o direito de propriedade de B e o usufruto de c).
Durante a vigência do usufruto o B que antes tinha todos os seus poderes (uso,
fruição e disposição), o proprietário vai ter apenas os poderes de disposição. O
poder de uso e fruição passavam a estar na esfera jurídica do usufrutuário.
Neste caso o B nunca mais iria poder usa e fruir da mesma pois o usufruto era
vitalício.
Se o C morresse antes de C o usufruto extinguia-se (artigo 1476º (alinea a) e o
direito de b voltaria à sua máxima extensão, voltando a ter os seus poderes de
udos, fruição e disposição

Princípio da publicidade: pode ser feito através:


 Da posse
 Do registo
Neste caso concreto o facto aquisitivo do usufruto tem de ser objeto de registo.
A não existência de registo não obsta a que se crie um direito real na esfera
jurídica do C (princípio da consensualidade
O registo tem um efeito meramente consolidativo, exceto na hipoteca (que já é
constitutivo).
Artigo 2º/1 alínea a) do registo predial
Artigo 8º-A do registo predial

Princípio da absolutidade: os direitos reais são dotados de absolutidade (tem


eficácia herga homnes).
Para essa eficácia o facto aquisitivo tem de ser registado?
Se o C tivesse registado ele gozava de presunção de titularidade, e deste
modo não tinha de provar que era o usufrutuário. Neste caso ele não tinha essa
presunção.
Mesmo assim o C está protegido através da ação de reivindicação (artigo
1311º). O artigo 1315º permite a defesa de outros reais de gozo. Assim,
usufrutuário podia lançar a mão desta ação de reivindicação teria de formular
dois pedidos
 Reconhecimento do seu direito
 Restituição da propriedade
O D adquiriu a posse através do esbulho (artigo 1188º) . Assim vai ser
considerado possuidor. Vai assim haver uma sobreposição de posses
Neste caso o C podia ainda defender-se através da ação de restituição da
posse 1278º/1 porque tem legitimidade ativa. Também não havia problema de
caducidade 1282º.
Procedimento cautelar: para que a posse lhe fosse restituída. forma de tutela
Em suma: A pretensão de Dário não tinha qualquer fundamento.

Princípio da inerência: o direito real está ligado à coisa o direito não pode
subsistir se a coisa perecer.
Artigo 1476º/alínea d)extinção do usufruto por perda da coisa
O direito real podia ser transmutadoo usufrutuário podia receber uma
indeminização (artigo 1480º e 1481º).
Artigo 1478º se a destiuição for só em parte

II

Carlos poderia constituir a favor de terceiros um direito real ex novo, no


âmbito da sua autonomia privada relativo a um imóvel da sua
titularidade, por considerar que o catálogo legal não tutelava,
integralmente, os seus interesses.
Não se pode criar reais ex novo
Princípio da tipicidade/principio do numerus clausus: Este princípio
encontra-se previsto no artigo 1306º CC, que proíbe a constituição de
restrições ao direito de propriedade ou de figuras parcelares (direitos reais
menores) desse direito fora dos casos previstos na lei.

Carlos poderia transmitir o direito de propriedade de um prédio que irá construir a


2022, a Daniel?
Temos aqui uma exceção ao principio da consensualidade (o direito real
não se vai transmitir logo).
O princípio da especialidade refere que para se poder constituir um direito
real, as coisas corpóreas sobre o qual o mesmo incide têm de se encontrar
determinadas, ter existência presente e ser autónomas de outras coisas. Deste
modo podemos dividir este princípio em 3 sub-principios:
 Sub-principio da determinação/concretização: exige que, para que
possa ocorrer a constituição do direito real, a coisa sobre o qual este direito
incide tem de se encontrar determinada. Só se constitui o direito real a partir
do momento em que as coisas sejam determinadas.
 Sub-principio da atualidade: exige que a coisa tenha existência presente
para que possa ser objeto de direitos reais. Ao contrário da prestação que
pode ser relativa a coisas futuras (399º), as coisas têm que ter existência
presente para poder ser objeto dos direitos reais. Um direito s coisas futuras
não constitui um direito real, mas antes um direito de crédito, apenas se
podendo transmitir o direito quando a coisa é adquirida pelo alienante
(408º/2). Assim, um direito a coisas futuras não constitui um direito real. Da
mesma forma, não existe um direito um direito real sobre coisas passadas.

 Sub-prinicpio da totalidade/autonomização: estabelece que para existir


um direito real, o mesmo não poderá incidir apenas sobre partes de uma
coisa, tendo que incidir sobre coisas autónomas. Assim não se poderá
constituir um direito real relativamente a coisas ligadas materialmente a
outras, exigindo-se a sua prévia separação (artigo 408º/2)

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